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TÍTULO

BERÇÁRIO: A IMPORTÂNCIA DO (a) PEDAGOGO (a) NESTA FASE DA


EDUCAÇÃO INFANTIL
Guilherme Rodrigues da Silva
RESUMO
O artigo a ser apresentado traz como pauta a importância do profissional da
pedagogia atuando no ambiente de berçário, com a perspectiva de propiciar
aos bebês cuidados especializados lançando mão das ferramentas de ensino-
aprendizagem que a pedagogia detém. Ao longo do trabalho são levantadas
algumas questões que demonstram uma dicotomia dentro da Educação Infantil,
pois enquanto as leis atuais já apontam para a necessidade de um profissional
da pedagogia nessa fase da educação infantil, observa-se que as faculdades
não apresentam em sua ementa curricular disciplinas que contemplem e que
preparem o profissional para atuarem de forma consciente e espontânea com
essa faixa etária.
Palavras-chave:Berçário. Pedagogo. Atuação profissional.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho surge de um resultado de anos de uma prática


voltada para a educação infantil em que foi observada a ausência do interesse
por parte do profissional da pedagogia em atuar nessa fase da educação.
Partindo de um contexto histórico todo permeado de interesses sócio-
políticos, o surgimento e a evolução das creches se deram de forma gradativa
conforme os interesses e a consciência de infância foram-se expandindo.
Desse modo, a importância de se oferecer um espaço que seja adequado para
o processo de ensino aprendizagem das crianças foi-se fazendo cada vez mais
necessário para que as crianças tenham uma mediação em seu
desenvolvimento de forma consciente e equilibrada.
Nesse contexto, o berçário, podendo ser considerado o alicerce da
educação infantil, está cada vez mais recebendo um olhar diferenciado por
parte das instituições de educação infantil, porém não igualmente pelo
profissional que lá atua. Observa-se a falta de interesse acadêmico para
discutir o tema, para difusão de ações em educação voltadas para o
desenvolvimento do bebê.
Apresenta-se como justificativa para o estudo a relevância da
presença e atuação do profissional habilitado, primeiramente pelo fato de que o
direcionamento das atividades realizadas com essa faixa etária deve ser
consciente e educativo, e também por existir a exigência pelas Leis que regem
a Educação Infantil.

Desse modo, observando na prática, existe pequeno interesse por


parte do profissional habilitado em atuar nesse campo, fazendo com que exista
uma rotatividade de profissionais, o que deixa a execução das atividades
pedagógicas comprometidas.

Diante do exposto, o objetivo do presente estudo é instigar no


profissional da pedagogia o interesse em se apropriar dessa área do
conhecimento e como contrapartida, gerar conhecimento e oferecer aos bebês
um atendimento condizente com suas necessidades e interesses, cumprindo-
se as leis que regem da educação infantil.

2. DESENVOLVIMENTO

2. HISTÓRIA DO BERÇÁRIO NO MUNDO E NO BRASIL

Historicamente falando, as instituições de Educação Infantil nem sempre


tiveram um papel sócio-educacional. Na Europa, no final do século XVIII “... a
creche propunha-se a atender (guardar) crianças de 0 a 3 anos durante o
período de trabalho das famílias.”(SANCHES, 2003 ,p. 63), ou seja, ela
surge com o único propósito de receber as crianças filhas de famílias
trabalhadoras afim de apoiar o nascente capitalismo e a urbanização.

Com a saída da mulher para o mercado de trabalho, as instituições


foram surgindo como uma forma de suprir os cuidados dispensados pelas
mães às crianças.
Segundo Sanches (2003), a palavra creche tem origem na França e
significa manjedoura e sempre esteve vinculada a um serviço oferecido a
população de baixa renda, sendo oferecida em tempo integral e a pré-escola
num tempo semelhante ao da escola.

Sanches (2003) afirma que,

A pediatria, novo ramo da medicina, sugere normas e regras desde o


período da gestação, como maneira de garantir o pleno
desenvolvimento físico, mental e moral da criança. Aos médicos cabe
ensinar às mães como cuidar dos filhos, culpabilizando-as pela
incompetência e altos índices de mortalidade infantil.”(SANCHES,
2003, p. 64)
Sendo assim,

O atendimento a infância foi profundamente influenciado pela


perspectiva médico higienista, como parte de um projeto maior de
saneamento, necessário a um país que se queria civilizado e
moderno” (SANCHES, 2003, p.65)

Para Oliveira (2005)

Entendidas como “mal necessário”, as creches eram planejadas como


instituição de saúde, com rotinas de triagem, lactário, pessoal auxiliar
de enfermagem, preocupação com a higiene do ambiente. Por trás
disso buscava-se regular todos os atos da vida, particularmente dos
membros das camadas populares (OLIVEIRA, 2005, p. 100)

Em nosso país o processo de industrialização gerava mão de obra, tanto


masculina quanto feminina, ou seja, a mulher necessitou sair do seio exclusivo
da família e deixar de ter o único papel de mãe do lar para assumir o papel de
mão de obra industrial. A mulher foi fortemente incentivada a assumir o papel
de trabalhadora uma vez que, com a revolução industrial, a necessidade de
mão de obra era grande.

Desse modo, a criança necessitava de um espaço para “ficar” enquanto


sua família trabalhava. A visão de espaço infantil era puramente
assistencialista. Acreditava-se que as crianças sendo “guardadas” por
instituições ligadas ao comércio seriam melhor alimentadas e assistidas, desse
modo estariam livres de doenças e cresceriam saudáveis para se tornarem
adultos produtivos. “O pressuposto era que, atendendo bem o filho do
operário, este trabalharia mais satisfeito e produziria mais” (SANCHES,
2003,p. 64)

O Estado, somente na década de 40, desenvolve política assistencial


de caráter global, equipando as instituições oficiais de atendimento à
infância com pessoal “qualificado” na área da saúde” (SANCHES,
2003, p. 65)

Sanches (2003) afirma que, com a Consolidação das Leis Trabalhistas


(CLT) em 1943 é que surgem os berçários com o objetivo de atender os filhos
dos trabalhadores no período de lactação, sendo assim a primeira intervenção
nas questões de creche. Tais instituições continuavam a ser dirigidas e
influenciadas pela classe médica. Dentro desses preceitos, “as creches não
tinham a preocupação com a educação das crianças.(KISHIMOTO (1986) Apud
SANCHES (2003).

Em meados da década de 60, diminuem as exigências quanto as


instalações físicas e propostas mais simplificadas são aceitas,
contando com a participação da comunidade. Havia dificuldades em
manter o atendimento à infância nos moldes definidos pelo Estado.
Os órgãos internacionais temiam a explosão de idéias
revolucionárias, a exemplo de Cuba, decorrentes da falta de
assistência às populações pauperizadas. (SANCHES. 2003, p. 67)

A participação das mulheres foi de suma importância para a mudança de


paradigma relacionada às creches, e em 1979, no Primeiro Congresso da
Mulher Paulista houve uma reunião de associações feministas e clubes de
mães da periferia e teve como pauta a reivindicação por creches gratuitas e
próximas dos locais de trabalho.

Nota-se o quanto é recente a história das instituições infantis no que diz


a mudanças e evolução nos conceitos que a regem, e somente em 1988 com a
promulgação da constituição brasileira é que as creches foram confirmadas
como “instituição educativa, um direito da criança, uma opção da família e um
dever do Estado (artigo 208, inciso IV)” (SANCHES. 2003, p.69), o que é
confirmado pela nova LDB de 1996 (artigo 30/I/II).
A história das creches está associada a fatos e acontecimentos que
marcaram sua trajetória. Os objetivos iniciais de sua idealização deixaram
marcas que ainda são sentidas na atualidade, o que está relacionado à visão
de criança que ainda se tem, e a maneira que se dá o direcionamento político
pedagógico de tais espaços.

3. ALGUMAS TEORIAS DE APRENDIZAGEM E SEUS CONCEITOS

Toda prática pedagógica exige o domínio e a compreensão mais


profunda das linhas de pensamento acerca da aprendizagem e dos conceitos
nelas descritos por aqueles que as idealizaram.

Serão descritos de forma simples e objetiva, a maneira com que três dos
principais pensadores na educação trouxeram sua contribuição para uma
melhor compreensão dos processos de aprendizagem humana e
especificamente infantil: Jean Piaget; Henry Wallon e Lev Semionovick
Vygotsky, considerando que o último traz à linha de pensamento a qual serão
referenciadas as indagações acerca do tema deste estudo.

“Piaget foi, sem dúvida, o pioneiro do enfoque construtivista à


cognição humana. Suas propostas configuram uma teoria construtivista
do desenvolvimento cognitivo humano. ” (MOREIRA, 2015: 95)

Em seus estudos, Piaget divide em quatro períodos o desenvolvimento


geral cognitivo, que são eles: sensório-motor; pré-operacional; operacional-
concreto e operacional formal.

“O período sensório-motor vai do nascimento até cerca de dois


anos de idade. Logo após o nascimento, a criança apresenta uns poucos
comportamentos do tipo reflexo, tais como sucção, preensão, choro e
atividade corporal indiferenciada.” (MOREIRA, 2015 : 96)

Moreira afirma que “...a criança neste estágio, não diferencia o seu
eu do meio que a rodeia: ela é o centro e os objetos existem em função
dela” (MOREIRA, 20015 : 96)
De acordo com Moreira,

“O período seguinte é o pré-operacional, que vai dos dois aos seis


sete anos. Com o uso da linguagem, dois símbolos e imagens mentais,
inicia-se uma nova etapa do desenvolvimento mental da criança ]...[ A
criança continua em uma perspectiva egocêntrica, vendo a realidade
principalmente como ela a afeta.” (MOREIRA, 2015 : 97)

O terceiro estágio de desenvolvimento segundo Piaget e apontado por


Moreira (2015), mostra que,

“A idade de 7 a 8 anos assinala, em geral, o início do período


operacional-concreto, que se estende até 11 ou 12 anos. Nesse período,
verifica-se uma descentração progressiva em relação à perspectiva
egocêntrica que caracterizava a criança até então” (MOREIRA, 2015 : 97)

Dentro dessa ótica, Moreira afirma segundo Piaget que, “o pensamento


da criança, agora mais organizado, possui características de uma lógica
de operações reversíveis. (MOREIRA, 2015 : 98)

O quarto e último período é chamado Período das operações formais.

“A principal característica desse período é a capacidade de


raciocinar com hipóteses verbais e não apenas com objetos concretos. É
o pensamento proposicional, por meio do qual o adolescente, ao
raciocinar, manipula proposições. O ponto de partida é a operação
concreta; porém o adolescente transcende este estágio: formula os
resultados das operações concretas sob a forma de proposições e
continua a operar mentalmente com eles ]...[ o período das operações
formais prolonga-se até a idade adulta. (MOREIRA, 2015 : 98)

Seguindo a sequencia, será citada a teoria Psicogenética, Concepção


Dialética do desenvolvimento infantil, apresentada por Henri Paul Hyacinthe
Wallon( 1879 – 1962), francês que direcionou seus estudos para a infância e
que era notadamente Interacionista. Segundo Galvão (2008), seu intuito era
compreender como o psiquismo infantil se desenvolvia, e teve como referência
metodológica as bases fornecidas pelo materialismo histórico-dialético, levando
a compreensão do desenvolvimento humano também como um processo
dialético.

Para Wallon, “os conflitos podem ser reconhecidos, não como a


negação, mas ao contrário como o fundamento dos processos que
tendem ao mais completo desenvolvimento da pessoa ou do
conhecimento” (GALVÃO, 2008:09)

A teoria Walloniana, de acordo com GALVÃO (2008), afirma ser o


homem, desde que nasce, orientado por uma necessidade íntima, essencial de
convívio com o outro, ou seja, é um ser social que se desenvolve a partir das
relações com o outro.

É importante citar que Wallon não estuda a criança como um ser


fragmentado, mas como um ser completo e constituinte do meio sócio cultural
em que vive. A emoção, o ato motor e a inteligência são campos funcionais que
se apresentam, na infância, diferenciados e imaturos.

Segundo GALVÃO (2008) para Wallon, os três campos funcionais


que são a emoção (afetividade), a psicomotricidade (movimento) e a
inteligência estão interligados, apontando que, quando há uma predominância
de um ou de outro, caracteriza-se sumariamente, o desenvolvimento da
criança.

Apresenta-se agora a teoria inaugurada por Lev Semionovick Vygotsky


(1896-1934), que após o estudo das várias teorias, apresentou-se como a mais
adequada para o apoio deste estudo enquanto referencial.

Em sua teoria, Vygotsky afirma que a criança começa a adquirir


conhecimento anteriormente à experiência escolar. Dentro dessa concepção,
Vygotsky nos apresenta exemplos que podem facilitar nossa compreensão,
descrito um desses exemplos a seguir:

[...] as crianças começam a estudar aritmética na escola, Mas muito


antes elas tiveram alguma experiência com quantidades- tiveram que
lidar com operações de divisão, adição, subtração e determinação de
tamanho.”(Vygotsky,1994,p.110)
Vygotsky traz em sua teoria um avanço no que diz respeito à
diferenciação entre o aprendizado pré-escolar e o escolar, que era tratado para
vários outros autores como a simples diferenciação através da sistematização,
a pré-escolar não era sistematizada enquanto que a escolar sim. Para
Vygotsky essa diferenciação vai além disso.

Para Vygotsky (1998), a criança é um ser pensante, capaz de vincular


sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a escola
um espaço e um tempo onde esse processo é vivenciado, onde o processo de
ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre sujeitos, desse
modo, não é suficiente ter todo o processo orgânico e biológico apresentado
pela espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo, no caso a criança, não
participar de práticas direcionadas e locais que permitam a aprendizagem.

Diante disso, o autor apresenta um novo conceito, que para ele é de


suma importância ao se falar de desenvolvimento e aprendizagem, o conceito
da Zona do Desenvolvimento Proximal (ZDP). Dentro dessa teoria,
aprendizagem e desenvolvimento da criança formam um combinado, e para
melhor estudo, Vygotsky apresenta dois níveis de desenvolvimento, o nível de
desenvolvimento Real e o Potencial.(VYGOTSKY. 1998)

O nível de desenvolvimento Real é “...o nível de desenvolvimento das


funções mentais da criança que estabeleceram como resultado de certos
ciclos de desenvolvimento já completados (VYGOTSKY, 1998,p. 112).
Sendo assim, pode-se dizer que a Zona de Desenvolvimento Real (ZDR) é, na
verdade, as capacidades da criança, tudo o que nela está amadurecido e que
ela pode executar sozinha.

Já o nível de desenvolvimento Potencial, seria então, tudo o que a


criança poderá aprender. A partir desse dado, podemos então definir a ZDP
como

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real]...[ e o nível de


desenvolvimento potencial, determinando através da solução de
problemas sob a orientação de um adulto ou em elaboração com
companheiros mais capazes.” (Vygotsky, 1998,p.112)
É então, a distância entre o que a criança já executa sozinha e o que ela
poderá executar futuramente com o auxílio de terceiros, a conhecida Mediação.

A Zona do Desenvolvimento Proximal é um dos pontos principais da


teoria vygotskiniana, é daí que partem todos os seus pressupostos de
desenvolvimento e aprendizagem, que se relacionam interagindo num todo. Em
sua teoria, o desenvolvimento e a aprendizagem infantil dão-se a partir daquilo
que ela é capaz de desenvolver sozinha e também naquilo que ela executa
com auxílio, justificando assim sua posição em afirmar que, para ele, os testes
psicológicos são válidos desde que se analisem o que a criança pode fazer
com auxílio, e o que ela não é capaz de fazer sozinha.

Para Vygotsky (1998), o processo de aprendizagem deve ser olhado por


uma ótica prospectiva, ou seja, não se deve focalizar o que a criança aprendeu,
mas sim o que ela está aprendendo, desse modo, a função de um educador
escolar seria então a de favorecer a aprendizagem servindo de mediador entre
a criança e o mundo.

É nesse cenário de uma proposta condizente com o que pensamos


sobre o verdadeiro papel do educador dentro do processo de ensino-
aprendizagem nos cenários de creches, mais especificamente o berçário, é que
nos pautamos no sócio interacionismo por entender que é a partir das relações
que a criança poderá percorrer a zona de aprendizagem, através da mediação
que fará o educador entre o que ela apresenta de conhecimento e o que ela
adquirirá após sua intervenção.
4 – BERÇÁRIO – A IMPORTÂNCIA DO (a) PEDAGOGO (a) NESTA FASE
DA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Educação Infantil é, sem sombra de dúvidas, o alicerce de todo o


aprendizado da criança e de todo indivíduo na fase adulta. O berçário,
seguindo a mesma linha de raciocínio, deve ser considerado o alicerce da
Educação Infantil.

Não diminuindo os méritos do saber popular, que por séculos foi


responsável pelos cuidados oferecidos aos bebês de modo geral. Os
familiares como as avós, tias e madrinhas, que tinham a responsabilidade
de cuidar e educar as crianças na ausência dos pais, sempre ofereceram
o possível para que tais crianças pudessem crescer de forma saudável,
porém, com o avanço dos estudos acerca da educação infantil, percebeu-
se que a primeira infância é momento crucial na aprendizagem do
indivíduo merecendo assim, um olhar e um cuidado especializado dentro
das instituições de Educação Infantil.

Com o olhar voltado para o berçário, percebe-se que as atividades de


vida diária (AVD’s) como o banho, a troca de fralda, as mamadas, as
brincadeiras de cócegas, o “sumiu, achou”, a empunhadura da mamadeira sem
apoio, as mordidas, dentre tantas outras, são todas atividades que geram
conhecimento e desenvolvimento, sejam eles pedagógicos, sociais/emocionais
ou psicomotores, como por exemplo a imagem corporal, que é

[...] um sistema aberto em sua relação com o mundo, e novas


experiências levam a novas significações. Assim podemos dilatar
nosso mundo. ]...[ a imagem corporal trás em si, potencialmente, a
consciência de si mesmo como um indivíduo único ]...[ está , assim,
na raiz do processo de formação da própria identidade
(GONÇALVES, 1994, p.109).

E desse modo, entende-se que um profissional capacitado e com olhar


científico/educacional pode fazer a diferença na hora de oferecer o estímulo
adequado no momento em que a atividade acontece.

O cuidar associado ao educar parece não se apresentarem claramente


aos profissionais que atuam em tal agrupamento, uma vez que se percebe uma
grande rotatividade dos profissionais nesse campo de atuação.

Entender que,

“...o educador tem papel fundamental, pois é ele que na sua relação
cotidiana com as crianças e pela sua sensibilidade, identifica
necessidades, desejos, fortalece relações, promove atividades
significativas de aprendizagem e administra, pelo planejamento, o uso
pedagógico ]...[ numa relação em que as vivências de aprendizagem são
uma via de mão dupla.” (Orientações Curriculares para a Educação
Infantil – RJ, 2010, p. 12),

implica numa consciência de que as atividades de vida diária não são apenas
cuidados mecânicos e sem propósito pedagógico, mas sim, fazem parte de
todo o processo de amadurecimento do bebê.

Como se vê, o conhecimento sistematizado é naturalmente encontrado


para os grupos da pré-escola, e naturalmente não existem atividades e um
currículo pré-estabelecido para as atividades com bebês, isso porque não se
pode separar o cuidar do educar nessa fase da vida.

O cuidar e o educar são os pilares para a Educação Infantil citados no


Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), e juntamente
com o brincar, formam a base do desenvolvimento infantil, em que,

A instituição de educação infantil ]...[ cumpre um papel socializador,


propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio
de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de
interação.” (RCNEI, 1998 VOL. 01, p. 23)

Ainda referenciando o RCNEI, podemos citar o trecho a seguir que deixa


implícita a necessidade de um profissional que esteja habilitado e qualificado
para desempenhar o papel de mediador do conhecimento ao qual os bebês
estarão expostos, vejamos:

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados,


brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que
possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis
de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude
básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças,
os conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste
processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das
capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades
corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de
contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.” (RCNEI,
1998 vol. 01, p.23)

Um profissional que seja capaz de observar cada ação, cada


comportamento e cada gesto da criança como sendo parte do todo de seu
desenvolvimento age como um colaborador oferecendo os estímulos
adequados para que esse bebê possa compreender-se e compreender melhor
o meio que o cerca.

Na verdade o bebê é um ser ativo e agente de seu próprio


desenvolvimento que, já ao nascer, apresenta certa organização
comportamental e algumas condições para perceber e reagir às
situações, sobretudo aos parceiros diversos que formam seu meio
humano. Além disso, não apenas cada criança se modifica nesse
processo, mas também os adultos e as demais crianças que com ela
interagem têm a oportunidade para se desenvolverem.” (OLIVEIRA,
2005, p.136-137)

Compreender de forma sistemática os comportamentos apresentados


pelas crianças é um dos pontos cruciais quando se lida com essa faixa etária
uma vez que,

Os bebês nascem com estruturas pré-adaptadas para iniciar, manter


e terminar interações com parceiros humanos e realizam, desde o
nascimento, verdadeira atividade de pesquisa do real, o qual
constantemente põe a prova. Os bebês procuram modular seus
meios de expressão, mesmo os mais rudimentares (gritos,
gesticulações), para obter a satisfação de suas necessidades
fisiológicas, afetivas e cognitivas.” (OLIVEIRA, 2005,p. 137)

Não basta apenas que o profissional tenha uma certificação de


Pedagoga (o), é importante que esse profissional seja consciente da
importância de sua atuação dentro do berçário. Na obra Pedagogia da
Autonomia de Paulo Freire (1996), ele afirma em seu capítulo três que,
“ensinar é uma especificidade humana” e que “ensinar exige segurança,
competência profissional e generosidade”. Afirma ainda que,

O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que
não se esforce para estar a altura de sua tarefa não tem força moral
para coordenar as atividades de sua classe.” (FREIRE, 1996,p. 92)

Como se vê, em todos atos e fatos está acontecendo o processo de


ensino/aprendizagem. “A motricidade, a afetividade, a inteligência e a
cognição são faces de um mesmo processo de construção
coletiva.”(OLIVEIRA, 2005,p. 140). Quando se retiram as fezes de um bebê
está-se identificando a região pélvica para ele, e com isso mediando estímulos
para que esse bebê desenvolva seu esquema corporal. Também ao se repetir
o gesto de banhar um bebê, quando se nomeiam a ele as parte do seu corpo
enquanto é ensaboado se oferece estímulo suficiente para que esse bebê
perceba e internalize onde está seu pé, sua mão, sua cabeça, compreendendo
não só seu esquema corporal, como também noções de lateralidade, etc..

Desse modo,

De acordo com as novas concepções, as instituições de educação


infantil devem privilegiar a organização de contextos de atividades
que levem todas as crianças ao desenvolvimento da inteligência e da
capacidade de criar expectativas, esperanças, fatos, artefatos,
princípios, conceitos, etc. (OLIVEIRA, 2005,p. 141)

Ainda referenciando as Instituições de Graduação em Pedagogia,


observando a grade curricular da instituição a qual fazemos parte, observamos
que não há disciplinas voltadas para o estudo dessa faixa etária, com o intuito
de preparar o profissional que irá atuar com os bebês. É claro que isso exige
especialização na área, aprofundamento e vontade de fazer parte do pequeno
grupo que olha o berçário, conforme dissemos no início, como o alicerce da
educação infantil. Mas porque não instigar essa vontade? Acreditamos que isso
deveria ser feito nas salas de aula, durante a graduação.

Compreender a importância da infância em todos os aspectos sociais é


um ponto crucial para que a pedagogia possa lançar mão de suas técnicas,
princípios, métodos e estratégias para mediar os processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos indivíduos.

Observa-se empiricamente que o berçário é o local que menos se


discute, o verdadeiro por que da exigência de um profissional da pedagogia
atuando ali, diretamente com as crianças de 0 a 24 meses.

Ao buscar as leis que regem toda a educação infantil, observa-se que,


desde a publicação, em 1998, do Referencial Curricular para a Educação
Infantil, o cuidado em inserir/apresentar a exigência para a formação em nível
superior atuando na Educação Infantil considerando-se a faixa etária de 0 a 6
anos, ou seja, abrangendo o berçário.

O Referencial Curricular para a Educação Infantil, como já mencionado,


fora publicado em 1998 d apresenta a preocupação com a formação de tal
profissional e aponta que,

“Embora não existam informações abrangentes sobre os


profissionais que atuam diretamente com as crianças nas creches e pré-
escolas do país, vários estudos têm mostrado que muitos destes
profissionais ainda não têm formação adequada, recebem remuneração
baixa e trabalham sob condições bastante precárias. ]...[ nas creches
ainda é significativo o número de profissionais sem formação escolar
mínima cuja denominação é variada: berçarista, auxiliar de
desenvolvimento infantil, babá, pajem, monitor, recreacionista, etc.”
(RECNEI, 1998, p.39)

Observando esse pequeno trecho extraído do RECNEI, percebe-se que


as leis da educação ainda deixam brechas para que o profissional que atua no
campo da Educação Infantil ainda seja sem a formação de nível superior e
deixa assim, a abertura para que, as instituições de educação infantil dêem
prioridade àquele profissional de nível médio de ensino uma vez que a
remuneração de tal profissional seja bem menos onerosa.

A lei que rege a educação infantil no município de Goiânia (Resolução


120 de 07/12/2016) traz em seu capítulo IV – Dos profissionais da Educação,
no Art. 39 o seguinte texto:

“Art.39 – O professor referência da Educação Infantil deverá ter


formação em Pedagogia, admitida ainda, como formação mínima, a
oferecida em nível médio, na modalidade normal.” (Conselho Municipal de
Educação Goiânia.)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, em seu


processo de construção, apresentou vários textos que cujos trechos onde citou
o a formação do profissional de educação infantil a mesma abertura que se vê
na resolução 120. O texto do substitutivo de Jorge Hage traz no capítulo VIII no
§ 9 o texto:

“§ Os educadores que atuarão nas creches e pré-escolas serão


formados em cursos de nível médio ou superior. (SAVIANI, 1994, P.87)

E ainda no texto da Nova LDB sancionada em 20/12/96, a lei 9.394, não


faz nenhuma referência à formação do profissional a atuar na área em questão.
Mesmo após a sua última atualização em março de 2017 – Lei 13.415, o
profissional a ser habilitado para atuar na educação infantil continua sendo
aberto para o nível médio de ensino.

“Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica o


que nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos
reconhecidos são: (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009)

I – Professores habilitados em nível médio ou superior para a


docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio;
(Redação dada pela Lei nº 12.014 de 2009)” (Lei 13.415, 2017)

Nas instituições de ensino superior, o que nota-se partindo da instituição


a qual se faz parte, a grade curricular para o curso de Pedagogia não fortalece
a formação de um profissional que seja preparado e instigado a atuar nessa
área a medida que não oferece disciplinas que possam dar esse primeiro
passo, que sejam formativas no sentido de promover a formação de um
profissional plenamente consciente da grande importância da educação infantil
e mais especificamente do berçário em todo o processo de desenvolvimento do
indivíduo de maneira geral.

Nos bancos das faculdades, no cotidiano pode-se perceber que a


Educação Infantil possui pouco ou quase nenhum espaço no rol dos interesses
acadêmicos, seja para a produção literária, seja para atuação direta, o que
dizer então do berçário nesse contexto?

No contexto da educação escolarizada, as condições para o professor


atuar como recurso de desenvolvimento para a criança dependem
muito das características e necessidades dela e dos significados que
um e outro representam a situação vivida, geralmente muito pouco
concordantes. No mais das vezes, tais condições referem-se à
capacidade do professor de estabelecer relações com as crianças
pelo uso de diferentes canais expressivos e lingüísticos.” (OLIVEIRA,
2005,p. 139)

Os apontamentos apresentados no presente estudo vem para estimular


o leitor a uma reflexão mais aprofundada do verdadeiro papel do profissional da
pedagogia atuando no agrupamento de berçário e para que esse papel seja
reconhecido e firmado legalmente dentro das leis que regem a educação
infantil.

3. CONCLUSÃO

Ao mergulhar no “mundo” da Educação Infantil, percebe-se quão rico de


conhecimento ele se faz. Tal conhecimento é, na verdade, o dia-a-dia, o
cotidiano daquele e daquela que imergem na individualidade e na coletividade
que a infância oferece.

Olhar para o novo com olhos de desafio é sempre renovador e


construtivo no sentido de perceber o que esse “novo” nos quer mostrar.

Partindo de toda análise histórica, filosófica que permeiam o


desenvolvimento da educação infantil, e em especial as creches/berçários, é
possível notar que esta é uma área ainda pouco explorada e reconhecida pelo
grau de impacto que a mesma pode oferecer ao indivíduo ao longo de toda sua
vida.

Trata-se de olhar para os bebês não puramente como um ser vulnerável


e totalmente dependente de cuidados mecânicos e metódicos, e sim de
observar e refletir sobre toda a carga de estímulos que se oferece numa
“simples” troca de fraldas ou num aparentemente “banho básico” que ocorre
inúmeras vezes ao longo dessa fase que pode ser considerada até aos dois
anos de idade.

Diante de todo o estudo ficam as indagações:

Porque tão pouco espaço no meio acadêmico?


Porque pequeno reconhecimento do profissional da pedagogia atuando
nessa área dentro das leis que regem a educação infantil?

O fato é que, durante o desenvolvimento do presente estudo, nota-se


que o berçário é uma fase da educação infantil onde não existem citações
legais e pedagógicas que o valorizem conforme se deveria.

A produção acadêmica é ainda pequena diante da complexidade que


envolve a faixa etária em questão, desse modo, a atuação do profissional da
pedagogia se mostra sem valor e sem interesse por parte da (o) pedagoga (o)
em se apropriar desse campo do conhecimento.

Partindo das teorias de educação, pode-se afirmar que, o processo de


ensino aprendizagem que ocorre dentro desse agrupamento é complexo e ao
mesmo tempo simples um vez que são as atividades cotidianas é que vão
oferecer o estímulo adequado ao bebê nessa fase da vida.

E então, levanta-se mais uma indagação: Porque tão pouco interesse


por parte do profissional da pedagogia em assumir essa fase da educação
infantil?

O presente trabalho surgiu dessa observação durante toda prática


pedagógica, como um “alerta” de que o berçário necessita de um olhar
ampliado para que seja melhor assistido e que os bebês sejam olhados de
forma reflexiva por parte do profissional provocando mudanças, quem sabe, de
mentalidade num raio que atinja, desde o professor passando pela instituição
formadora do mesmo até chegar às leis que regem a educação infantil.

Trata-se de um pequeno passo, de uma semente plantada que pode


germinar e gerar bons frutos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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