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YARA RODRIGUES DE LA

IGLESIA

BEBÊS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: DA INVISIBILIDADE
AO PROTAGONISMO

FACULDADE SÃO BRAZ

CURITIBA/PR – 2018

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Sumário

Introdução ........................................................................................ 03
Aula 1 – A creche e seus significados ............................................... 04
Aula 2 – De que bebê estamos falando? ........................................... 18
Aula 3 – O brincar do bebê ............................................................... 31
Aula 4 – Organização da rotina ......................................................... 45
Referências ...................................................................................... 59

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Introdução

Seja muito bem-vindo à disciplina de Bebês na Educação Infantil: da


diversidade ao protagonismo!
Nosso objetivo aqui é fazer algumas reflexões a respeito da educação e do
cuidado dos bebês e das crianças pequenas em contextos coletivos de
Educação Infantil. Para que possamos aprofundar esses conceitos em nossas
aulas, buscaremos estabelecer uma conexão para além do virtual, mas para que
isso ocorra, é fundamental que você se comprometa com as atividades
propostas ao final de cada aula.
Estamos seguros de que essa disciplina auxiliará no seu percurso
formativo. É com essa certeza que desejamos uma excelente leitura. Lembre-se
de que em educação a distância o educando é o sujeito de sua própria
aprendizagem.
Para facilitar a ampliação dos seus conhecimentos, não deixe de explorar
as outras ferramentas do curso, como as videoaulas e o ambiente virtual de
aprendizagem.
Bons estudos!

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Aula 1 – A creche e seus significados

Prezado estudante, seja bem-vindo a nossa primeira aula. Iniciaremos


nosso estudo sobre os bebês na educação infantil, fazendo uma breve
retrospectiva histórica do conceito de infância. Em seguida, abordaremos o
surgimento das primeiras creches no Brasil, que favorecerá a compreensão das
questões educacionais atuais.
Encerraremos com uma reflexão sobre a indissociabilidade entre o educar
e o cuidar na educação infantil, principalmente, com os bebês e as crianças
pequenas, nosso foco de estudo. Teremos um tempo maior analisando quais
são os procedimentos utilizados na troca de fraldas dos bebês e das crianças
pequenas, em espaços coletivos de educação. Na análise dessa trajetória,
procuramos inserir a discussão sobre o lugar que ocupam os bebês e as crianças
pequenas em nossa sociedade contemporânea.

Breve trajetória histórica

Em um livro de 1960, traduzido no Brasil como História Social da Criança e


da Família, o autor Philippe Ariès afirma que antes do século XVII a infância não
era um conceito reconhecido. Foi só em algum momento entre o século XVII e
XX que o termo “criança” começou a ter seu significado atual. De acordo com o
autor, na sociedade medieval, com a idade de 7 anos, as crianças agiam e eram
tratadas como pequenas versões dos adultos à sua volta.
Sendo assim, o conceito de criança como uma fase distinta é
relativamente novo, tendo surgido por volta do século XVII, juntamente com a
redução na mortalidade infantil e com as mudanças no sistema educacional e na
família. Durante a maior parte da história humana era comum que grande parte
das crianças não sobrevivesse até a idade adulta – 7 em cada 10 crianças
morriam até os 3 anos de idade. Esta alta taxa de mortalidade foi uma das razões
pelas quais as crianças foram tratadas com certa indiferença emocional.

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Quando as taxas de sobrevivência aumentaram, os pais
começaram a tratar as crianças com mais carinho e
envolvimento emocional (ARIÈS, 1978).

Curiosidade

De acordo com Áries (1981), a relação criança-infância foram se


transformando a partir da difusão de novos pensamentos e condutas da Igreja
Católica. Estas novas condutas fizeram com que surgissem novos modelos
familiares que ressaltavam a importância do laço de sangue, sendo que, no
século XVIII, a Igreja Católica passou a acusar quem matasse crianças de
praticar bruxaria.
No final do século XIX, a vida de muitas crianças ainda era dominada pela
pobreza e pela doença. No entanto, a ideia de criança como um sujeito que
necessitava de cuidados específicos já havia sido aceita por parte da população,
abrindo caminho para futuras políticas implantadas no decorrer do século XX.
Durante este século, cada vez mais as crianças eram vistas como uma
responsabilidade do Estado. Esta mudança no paradigma do século XX foi
refletida em alguns dos marcos legais no campo dos direitos.

Como surgiram as creches no Brasil?

Todos os documentos estudados são unânimes em afirmar que a creche


foi criada nos países industrializados com o objetivo de atender às crianças
pequenas para que suas mães pudessem trabalhar.
Segundo Kishimoto (1988, p. 23), “diferenciando-se de países
industrializados, o Brasil dá início à organização das primeiras creches no
começo do século (século XX), com uma clientela composta basicamente de
filhos de indigentes e órfãos”.

A implantação das instituições voltadas ao atendimento da


infância no Brasil, sobretudo das creches, sempre esteve
Importante associada à ideia de pobreza, culpa, favor e caridade.

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Figura 1: Crianças em horário de lazer na creche

Fonte: © Wikimedia Commons (2018)

Para entendermos esse fenômeno educativo, é importante


compreendermos que as creches não foram criadas em um vazio social, elas
sofreram e sofrem influência de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais.
A forma precária de atendimento às crianças pequenas nesse período era
especialmente filantrópica e destinada aos filhos de mulheres em situação de
pobreza.

Filantrópica: que se refere à caridade; que desenvolve ou


faz caridade.
Dicionário Online de Português.
Vocabulário

As creches foram criadas e mantidas por entidades de natureza


filantrópica, quase que exclusivamente por entidades religiosas, especialmente

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pela igreja católica. O Estado não participou na implantação, funcionamento e
fiscalização inicial das instituições de atendimento infantil.
O comprometimento dos governos com a criação e manutenção dessa
Instituição iniciou após a reivindicação de grande parcela da população que
necessitava desse tipo de serviço. A mortalidade infantil elevada, desnutrição
generalizada e acidentes domésticos passaram a despertar sentimentos de
preocupação dos governos. Enquanto as famílias abastadas pagavam uma
babá, as que se encontravam em situação de pobreza viam como única
alternativa deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa instituição que deles
cuidassem.

Figura 2: Aula de educação infantil em creche

Fonte: © Flickr (2018)

A creche era um local que oferecia atendimento caritativo aos


desamparados e teve suas origens no próprio processo de criação dessa
Instituição. Para as crianças mais pobres, a creche se caracterizava pela
vinculação aos órgãos de assistência social; para as das classes mais
abastadas, outro modelo se desenvolveu no diálogo com práticas escolares
(Parecer CNE/CEB nº: 20/2009). A proposta de assistencialismo, que marcou a
origem das creches, gerou a vinculação dessas instituições às Secretarias de
Assistência Social e não às Secretarias de Educação.

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Você sabia, que foi somente a partir da Constituição
Federal de 1988, que foi garantido o direito à educação
para crianças de 0 a 3 anos na creche? Foi a partir da

Curiosidade Constituição que procurou-se romper com a ideia de que a


creche é somente um espaço de cuidado e guarda para
filhos de pessoas que viviam em situação de pobreza.

Enquanto as constituições anteriores viam o atendimento à infância


somente na condição assistencialista, a Constituição de 1988 dá o primeiro
passo em direção à superação dessa condição. Por causa desse documento, o
atendimento em creches e pré-escolas fica subordinado à Secretaria de
Educação e não mais às Secretarias de Assistência Social.
Essa mudança dá início a uma proposta mais integrada, em que o educar
e o cuidar assumem um caráter de dissociabilidade, ressaltando o caráter público
e educativo em detrimento ao caráter assistencialista característico desses
espaços.
“O reconhecimento do atendimento em creches como
um direito educacional das crianças brasileiras foi uma
conquista da mobilização da sociedade civil, em
especial das mulheres, que nos anos 1980 foram à
luta organizando unidades de atendimento e cobrando
o Poder Público.”
No link a seguir, você vai poder assistir ao
Saiba mais documentário “Lugar de criança – A Sociedade Civil
e a Luta pelo Direito à Creche” o qual retrata a luta
de mães em busca de vagas em creches na cidade de
São Paulo.
https://www.youtube.com/watch?v=LHvz4ivG5nw

Atualmente, com a participação cada vez maior das mulheres no mercado


de trabalho e as mudanças nos arranjos familiares, a expansão da Educação

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Infantil no Brasil tem ocorrido de forma crescente. A Educação Infantil enquanto
espaço que atende crianças de 0 a 5 anos busca se desvencilhar das raízes que
a constituíram.
A seguir, continuaremos nosso recorrido histórico, analisando brevemente
o que nos aponta a legislação.

O que dizem os documentos oficiais?

Foi através da Declaração dos Direitos da Criança, aprovada pela


Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1959, que a infância se tornou uma
questão fundamental em programas de cooperação internacional e começaram
a ser vistas como detentoras de direitos. Esse foi o tratado de direitos humanos
mais amplamente ratificado no mundo e a base sobre a qual repousam as
políticas sociais voltadas à infância.

Leia os principais tópicos abordados na Declaração dos


Direitos da Criança acessando o link a seguir.
http://www.portaldafamilia.org/datas/criancas/direitosdacr
Saiba mais ianca.shtml

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes


e Base da Educação Nacional 9.394/96 (LDBEN), a Educação Infantil foi
incorporada à Educação Básica, passando a ser regulamentada pelos órgãos
educacionais. A educação de crianças pequenas passa a ser um direito da
criança e um dever do Estado. A LDBEN de 1996 define que a função das
instituições de Educação Infantil é cuidar e educar as crianças de forma
indissociada.
A partir da Constituição Federal de 1988, foi garantido o direito à educação
para crianças de 0 a 3 anos na creche, procurando romper com a ideia de que
seja só um espaço de cuidado para filhos de mães trabalhadoras, o que foi
reforçado com a LDB nº 9.394/96, que instituiu a Educação Infantil como primeira
etapa da Educação Básica. Atualmente, a Educação Infantil é a primeira etapa

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da Educação Básica e se configura como um direito constitucional a todas as
crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade.

A educação infantil será oferecida em:

 creches, ou entidades
equivalentes, para crianças de até
três anos de idade;
 pré-escolas, para as
crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
anos de idade. (Redação dada
pela Lei nº 12.796, de 2013).
Figura 3: Educação Infantil

Fonte: © Flickr (2018)

De acordo com as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (2009),


as creches e pré-escolas se constituem, portanto, em estabelecimentos
educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de zero a
cinco anos de idade por meio de profissionais com a formação específica
legalmente determinada, a habilitação para o magistério superior ou médio,
refutando assim funções de caráter meramente assistencialista, embora
mantenha a obrigação de assistir às necessidades básicas de todas as crianças.

A integração necessária entre educar, cuidar e brincar

Para iniciarmos nossa reflexão, é fundamental nos perguntarmos, o que


o que significa cuidar? Muitas pesquisas destacam que, quando se fala em
integrar cuidado e educação, a questão que se coloca é como transformar
momentos de cuidado em momentos de educação.

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Será possível educar sem cuidar?
Ou cuidar sem educar?
Reflita

Empregamos o conceito de cuidado defendido por Boff (2005, p. 29) de


que “cuidar traz em si dois significados, o primeiro tem a ver com o desvelo, da
atenção para com o outro, e a segunda, a preocupação com o outro porque nos
sentimos envolvidos afetivamente”.
Um cuidar que envolve atenção estabelece contato, escuta de forma
sensível e interessada as necessidades, os desejos e os interesses dos bebês
e das crianças. Essas ações de cuidado estão impregnadas de intencionalidade
e permeadas pelas ações pedagógicas de um profissional da educação infantil
que planeja, observa e avalia sua prática. Nesse sentido, o cuidar e o educar
são práticas indissociáveis.

Será que isso ocorre realmente nas ações pedagógicas dos profissionais da
educação infantil?

É possível constatar duas formas de caracterização dos diferentes tipos


de trabalhos realizados em creches e em pré-escola. De um lado, temos um
trabalho voltado aos cuidados com um enfoque mais assistencialista; de outro,
um trabalho denominado educativo. O cuidado está voltado a uma população
mais empobrecida e ligadas às atividades de assistência e à educação para uma
população mais abastada, seguindo o modelo de trabalho escolar das escolas
de ensino fundamental.
Essa compreensão da educação infantil, supostamente é uma prática que
já foi superada, pois, atualmente, temos uma legislação que compreende a
criança pequena como um sujeito de direitos, com direitos a apender e a
desenvolver-se de forma integral nos espaços de educação infantil.

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Sabemos que muitas práticas, superadas no discurso, ainda permanecem
vivas nas propostas de trabalho de muitos educadores. Oliveira (2005) sinaliza
que ainda hoje na educação infantil existe uma forte influência higienista, que
valoriza a priorização de cuidados de saúde e assistencialismo às populações
em vulnerabilidade social, provocando ainda hoje, uma oscilação nas práticas de
educar e cuidar.
Segundo Maranhão (2010), o professor de bebês e de crianças pequenas
tem que se apropriar de conhecimentos e desenvolver competências sobre o
processo de desenvolvimento humano e conhecer os aspectos legais e éticos
do processo de cuidar e educar em ambiente coletivo.

Para saber mais sobre a indissociabilidade do educar e


cuidar, leia o artigo: Saúde e bem-estar das crianças: uma
meta para educadores infantis em parceria com familiares
e profissionais de saúde, de Damaris Gomes Maranhão,
disponível no link a seguir:
Saiba mais
http://portal.mec.gov.br/programa-curriculo-em-movimento-
sp-1312968422/consultas-publicas?id=15860

Uma pesquisadora muito estudada nessa área de conhecimento é a


pediatra austríaca Emmi Pikler, fundadora do Instituto Pickler-Lóczy, em
Budapeste, na Hungria. Seu trabalho, que no início consistia em uma instituição
para órfãos e abandonados, tornou-se centro de formação e referência na prática
da educação do zero aos 03 anos.
Na Abordagem de Emmi Pikler, encontramos alguns princípios que
norteiam a prática educativa com os bebês, promovendo crescimento e
desenvolvimento integral e saudável. Essa autora sinaliza que os cuidados
fisiológicos dirigidos aos bebês, como, por exemplo, a troca de fraldas, pode ser
uma grande oportunidade de promover o vínculo afetivo entre a criança pequena
e a professora.
Diferentes autores afirmam que, ao nascer, o bebê ainda se sente parte
da mãe, não tem noção da sua individualidade e precisa de um adulto de

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referência que garanta a sua sobrevivência e valorize a sua existência
oferecendo os cuidados adequados. Emmi Pikler chama essas ações de
cuidados privilegiados.

Como esse ato de cuidado pode ser, também, um ato educativo?

A seguir, descreveremos uma ação muito comum dentro de espaços da


Educação Infantil, principalmente com bebês e crianças pequenas: a troca de
fraldas. É importante destacar que educar e cuidar são muito mais que ações,
são formas de organizar e compreender o tempo e o espaço da Educação
Infantil; são formas de entender quem é o bebê e a criança pequena.
Trocar fraldas, para a maioria dos profissionais da educação infantil, é um
ato mecânico e que pode ser realizado sem qualquer tipo de planejamento. O
maior desafio do profissional é o de planejar e organizar esse momento com uma
intencionalidade educativa, que deve estar contemplada dentro da proposta
curricular da instituição de educação infantil. O cuidado envolve momentos de
aprendizado, brincadeira e tomada de consciência do próprio corpo e do corpo
do outro.

A definição e o aperfeiçoamento dos modos, como a instituição organiza


essas atividades, também são partes integrantes de sua proposta curricular
e devem ser realizadas sem fragmentar ações que são indissociáveis. Ao
conceber o caráter indissociável do cuidado e da educação, fica claro que a
responsabilidade de todas as ações junto às crianças é do professor.
(Parecer CNE/CEB nº 20/09, que define Parâmetros Curriculares Nacionais
de Educação Infantil).

Os momentos de cuidado devem ser planejados como uma experiência


sensorial e afetiva, estabelecida entre o bebê e o profissional da educação
infantil. Inspirados na abordagem de Emmi Pikler e na tentativa de proporcionar
um desenvolvimento integral dos bebês e das crianças, elencamos alguns
princípios que necessitam nortear as ações que envolvem a troca de
fraldas:
 Usar o tempo que for necessário para que o bebê aproveite a experiência.
 Utilizar gestos delicados.

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 Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual.
 Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai
acontecer.
 Sempre pedir a colaboração, mesmo quando o bebê ainda é bem
pequeno.
 Observar e acompanhar cada pequena descoberta e conquista da
criança.

Figura 4: Troca de fralda em bebê

Fonte: © Pixabay (2018)

A seguir, serão destacados como esses princípios são constituídos e as


principais concepções que norteiam as práticas dos educadores durante a troca
de fraldas.

Usar o tempo que for necessário para que o bebê aproveite a experiência

É fundamental organizar esse momento, planejando um tempo necessário


para interação individual com cada criança. Muitos profissionais acreditam que
o momento da troca de fraldas deve ser rápido, porque entendem essa ação
como uma perda de tempo. Essa concepção fundamenta-se na ideia de que o
cuidado não é um conteúdo pedagógico, no entanto, a troca de fraldas deve fazer

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parte da proposta educativa e ser entendida como um conteúdo da educação
infantil, incutido de sentido educativo.

Utilizar gestos delicados

O planejamento deve promover momentos em que os profissionais possam


tocar na criança com calma e delicadeza, fortalecendo a relação e
potencializando o vínculo afetivo. Nunca pegue uma criança inesperadamente
em seus braços de forma que ela seja pega de surpresa, pois isso pode gerar
angústia e medo. Em muitas situações, o profissional precisa reaprender a tocar
o corpo da criança com delicadeza. O toque deve ser suave e coordenado, como
se fosse uma coreografia. A criança precisa sentir que o profissional tem uma
intencionalidade, que o ritual de troca de fraldas tem início, meio e fim.

Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual

Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual. A troca de fralda pode
ser uma oportunidade do bebê e da criança pequena se sentirem únicos e
especiais. Durante a jornada da educação infantil, o professor tem muitas
demandas, impossibilitando que preste atenção exclusiva a uma única criança.
Portanto, poder dedicar alguns momentos particulares a uma criança, faz dela
um ser singular em meio ao coletivo. Manter o contato visual assegura que o
professor se mantenha presente no momento atual e focado na ação que está
realizando.

Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai
acontecer

Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai
fazer, porque as palavras usadas transferem os sentimentos do adulto para a
criança. Portanto, se o profissional sentir qualquer emoção negativa em relação
a troca de fraldas é importante procurar ajuda para falar sobre esses

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sentimentos. Em algumas pessoas, a troca de fraldas pode produzir sentimentos
ambíguos.
Outro aspecto a destacar, é a necessidade de o professor pedir a
colaboração do bebê, mesmo quando ainda é bem pequeno. Essa ação facilita
que a criança se sinta uma companheira ativa durante o processo, o professor
pode solicitar, por exemplo, que o bebê estique a perna, que dobre o joelho, que
prove a temperatura da água. É bem importante nomear as partes do corpo,
descrevendo o que vai acontecer com ele e ajudar o bebê a expressar o que
está sentindo.
O bebê e a criança pequena precisam ser informados do que será feito com
o seu corpo. O profissional da educação infantil precisa anunciar e pedir a
autorização para tirar a roupa da criança e para tocar em seu corpo. Essa relação
de cuidado e respeito possibilita que o bebê e a criança assumam um papel ativo
e colaborativo nos cuidados de seu próprio corpo, aprendendo a respeitá-lo, ao
mesmo tempo que constroem relações de respeito com o corpo dos demais.

Observar e acompanhar cada pequena descoberta e conquista da criança

Os bebês desde que nascem têm um desejo enorme de conhecer e


explorar o mundo ao seu redor. Cada conquista representa uma alegria e uma
nova descoberta. A troca de fraldas pode ser uma grande oportunidade de
aprender a conhecer, explorar e nomear as partes do corpo.

Eu vi, eu vi, eu vi um jacaré, será que ele queria pegar o meu pé?
Eu vi, eu vi, eu vi uma formiga, será que ele queria pegar a minha barriga?
Eu vi, eu vi, eu vi um leão, será que ele queria pegar a minha mão?
Eu vi, eu vi, eu vi uma coelha, será que ele queria pegar a minha orelha?
Eu vi, eu vi, eu vi um piolho, será que ele queria pegar o meu olho?
Eu vi, eu vi, eu vi um camelo, será que ele queria pegar o meu cabelo?
Eu vi, eu vi, eu vi uma perdiz será que ela queria pegar o meu nariz?

(Cultura popular)

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Conclusão da aula

É de fundamental importância compreender a trajetória histórica da


creche no contexto brasileiro, essa compreensão nos possibilita entender muitas
práticas que continuam arraigadas no nosso fazer pedagógico. Tentar romper
com essa visão assistencialista e de “guarda” da criança pequena, nos permite
dar início a uma proposta mais integrada, em que o educar e o cuidar assumem
um caráter de indissociabilidade.
É verdade que o cuidado e a educação são ações pedagógicas
indissociáveis que precisam ser problematizadas e continuamente refletida em
seus aspectos fundamentais do fazer pedagógico. No entanto, quando essas
ações são entendidas de forma integral, nos possibilitam promover uma ação
pedagógica respaldada em uma visão integrada acerca do desenvolvimento
infantil, respeitando as peculiaridades de cada bebê e de cada criança. Mesmo
que o cuidar seja parte integrante da educação, exige conhecimentos,
habilidades, sensibilidade e escuta do profissional que trabalha com a primeira
infância.

Atividades de Aprendizagem

Como você faria para aproveitar e valorizar os momentos de cuidados


individualizados para uma interação com cada criança em particular, sem
desconsiderar as necessidades das outras crianças do grupo?

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Aula 2 – De que bebê estamos falando?

Seja bem-vindo a nossa segunda aula, a qual daremos seguimento ao


estudo dos bebês na educação infantil. Iniciaremos refletindo sobre quem é o
bebê.
Nossa análise se fundamentará na
perspectiva da neurociência, como uma
maneira de entender o comportamento, as
aprendizagens, inclusive a saúde física do
bebê, baseando-se no funcionamento do
sistema nervoso.
De acordo com os estudos realizados
pelos neurocientistas, o afeto, os cuidados
qualificados e as experiências que o bebê e a
criança pequena vivenciam na primeira
infância, influenciam não somente no
funcionamento, mas na própria arquitetura do
cérebro, o que pode contribuir para sua maior
Figura 5: Bebê em creche
eficiência.

Fonte: © Pixabay (2018) O mesmo ocorre do lado negativo: a falta


de estímulos, estímulos prejudiciais ou
inadequados trarão efeitos negativos para a arquitetura, a estrutura e o
funcionamento cerebral. Encerraremos nossa segunda aula, discutindo alguns
conceitos importantes sobre a inserção da criança pequena na instituição da
educação infantil.
Bom estudo!

18
De que bebê estamos falando?

“A infância revela o homem, como a manhã revela o dia.”


(Paraíso Reconquistado – John Milton)

É importante abordarmos, ainda que de forma resumida, alguns conceitos


da neurociência para explicarmos o desenvolvimento do bebê.
Você sabe o que significa neurociência? Se não, você provavelmente já
escutou esta palavra, correto?

A neurociência é um campo do conhecimento que tem


como objetivo entender o funcionamento do sistema
nervoso, tanto em nível funcional como estrutural. É uma
Importante área que tenta saber como o cérebro se organiza.
(Lent, 2002 – adaptado)

Os conhecimentos referentes ao funcionamento do sistema nervoso são


bastante recentes. Durante séculos, uma das visões mais populares de como
funcionaria a mente dos bebês afirmava que a mente poderia ser descrita
como uma “tábula rasa” – uma folha de papel em branco. Segundo essa teoria,
o bebê poderia ser moldado de acordo com os desejos dos adultos. Há pouco
tempo que o conceito de tábula rasa foi questionado, surgindo outras formas de
entender o desenvolvimento humano.
As últimas décadas de pesquisa indicam que, muito provavelmente, essa
visão é equivocada ou, pelo menos, precisa ser questionada. As principais
pesquisas sobre o desenvolvimento infantil sob a ótica da neurociência surgiram
no fim da década de 90. Deram um passo fenomenal, recentemente, com a
evolução dos exames de imagem, que permitiram entender melhor o que se
passa no cérebro de crianças muito pequenas.
Há até pouco tempo, não era acessível e apenas generalizado o
conhecimento da enorme atividade e complexidade do cérebro do bebê, além de
que as conexões neuronais aumentavam intensamente durante esse período.

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De acordo com o Dr. Cláudio Guimarães dos Santos, neurocientista da
Universidade Federal de São Paulo, os neurônios são células características
do sistema nervoso central com a capacidade de estabelecer conexões entre
si quando recebem estímulos advindos do ambiente externo ou do próprio
organismo. Ou seja, essas conexões neuronais são realizadas por
predeterminação genética, mas também como resultado das experiências
vividas pelo bebê e são responsáveis por tudo o que somos: por nossa
personalidade, modo de agir, pela forma que nosso corpo vai adquirindo no
transcorrer da vida.

Figura 6: Neurônios

Fonte: © Pixabay (2018)

Nesse sentido, destacamos que o cérebro do bebê é esculpido pelas


experiências dele e do ambiente em que ele vive. Isso significa que o cérebro é
construído no decorrer de nossas vidas e a partir das experiências que
vivenciamos. Assim, como uma casa necessita de uma fundação forte para
manter as paredes e o teto, um cérebro precisa de uma boa base que dê suporte
a todo o desenvolvimento futuro.

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Como que o bebê constrói uma base cerebral sólida? O
que significa isso?
Reflita

De acordo com os especialistas, a experiência vivida pelas crianças


durante os primeiros anos de vida tem um impacto duradouro na arquitetura do
cérebro em desenvolvimento. Segundo os neurocientistas, é através das
relações positivas entre o bebê e os seus cuidadores, entendidos aqui como os
pais, professores e outros adultos significativos, que se constrói a base para
futuras aprendizagens.
As primeiras experiências criam uma fundação para aprender tudo na
vida, como comportamento, saúde física e mental, além de fornecer o andaime
para os circuitos e habilidades mais avançadas ao longo do tempo.
De acordo com a neurocientista Natalia Cuminale, da Universidade de
Cambridge (EUA), o bebê, ao nascer, tem somente 15% de suas conexões
neuronais desenvolvidas, durante os três primeiros anos desenvolverão em
torno de 80%. Essas conexões são criadas com uma velocidade surpreendente
nos primeiros três anos de vida.

Será que os bebês conseguem construir uma base cerebral sólida, quando
vivem em espaços coletivos de educação infantil?

As pesquisas, conduzidas em sua maioria nos Estados Unidos, mas


também em alguns países europeu, sobre os efeitos da creche, não mostram
diferenças significativas entre crianças educadas em família e crianças
provenientes da creche, nem em sentido positivo, nem em sentido negativo.
(BRONFENBRENNER, 1986a).
Não é tão simples assim.
A partir da análise dos resultados da pesquisa Primeiríssima infância –
Creche – Necessidades e Interesses de Famílias e Crianças, realizada em 2017

21
pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), em parceria com o Ibope
Inteligência, chegou-se à conclusão de que para ter uma creche de qualidade é
preciso cuidado, estímulo e afeto. Cuidado indissociável do processo educativo,
considerando o desenvolvimento integral da criança.
A maneira de organizar e compreender uma proposta educativa que
atenda às necessidades de cuidado, estímulo e afeto varia de acordo com os
recursos, a concepção pedagógica, a formação do professor, entre outros
aspectos. No entanto, é possível fazer algumas generalizações, assinalando
alguns princípios, que podem favorecer a construção de uma base cerebral
sólida nos bebês e nas crianças que frequentam espaços coletivos de educação
infantil.
 Organização de uma rotina que possibilite ao bebê participar de forma
ativa.
 Relação (adulto/bebê) calorosa e responsiva, que demonstre interesse,
paciência e aceitação pelo bebê.
 Preparação de um ambiente seguro e instigante.
 Construção de espaços e tempos para o bebê brincar em liberdade:
brinquedos não estruturados.

A seguir, serão descritos os princípios, que podem favorecer a construção


de uma base cerebral sólida nos bebês e nas crianças que frequentam espaços
coletivos de educação infantil.

Organização de uma rotina que possibilite ao bebê participar de forma ativa

O bebê conhece o mundo pelo seu corpo, todo o conhecimento é obtido por
meio das experiências sensoriais que chegam ao sistema nervoso central na
forma de estímulos sensoriais provenientes dos cinco órgãos dos sentidos
(visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais o bebê explorar o mundo
por meio de seus órgãos sensoriais, maior será o número de experiências e mais
acentuado será o seu desenvolvimento, tanto no aspecto motor, como no
intelectual, emocional e comportamental.

22
No entanto, a exploração do bebê é muito mais efetiva quando o professor
faz a mediação entre ele e o mundo ao seu redor. É fundamental o docente
mantenha uma relação próxima de afeto e carinho com o bebê para poder
reconhecer e atender as necessidades de interação deste.

Imaginemos uma partida de tênis, em que o jogador atira


a bola para o companheiro do outro lado da rede. Esse
jogador, se quiser continuar com a partida, necessita
esperar que o seu companheiro lhe devolva a bola, ou seja,
para que os dois jogadores mantenham a partida de tênis,
devem estar totalmente focados, atentos e, acima de tudo,
sincronizados, caso contrário não vão conseguir mantê-la.
Imaginemos uma situação corriqueira que poderia ser de
grande interação entre o professor e o bebê dentro do
espaço da educação infantil. O bebê sorri e balbucia
mostrando o pé. O professor nomeia aquilo que percebe que
ele está tentando comunicar.
— Você quer que eu te coloque as meias?
— Entendi. Você gosta que eu toque os teus pés,
Reflita verdade?
O bebê dá sinais corporais que está gostando do toque
e oferece o outro pé.
— Humm, você quer que eu coloque a meia no outro pé
também?
O professor continua a interação fazendo referência às
ações que está realizando.
— Veja, Arthur, sua meia é vermelha e vai aquecer os
seus pés, deixá-los quentinhos. Pude perceber que estão
gelados.
O professor também pode introduzir novos conceitos
nomeando o que está em volta do bebê.

23
— Olha, dentro do armário tem outras peças de roupa do
Arthur: casacos, calças, moletons, gorros e luvas.

Essas interações são fundamentais e contribuem para a aprendizagem e o


desenvolvimento dos bebês. No entanto, essas pequenas interações nem
sempre acontecem, porque o professor alega que não tem tempo ou tem outras
coisas mais importantes que fazer. A falta de conhecimento da importância
dessas interações positivas e responsivas faz com que elas deixem de
acontecer. Não adianta o professor ser afetuoso se, na hora em que o bebê inicia
uma interação esperando uma reação, ele não interage.

Relação (adulto/bebê) calorosa e responsiva, que demonstre interesse,


paciência e aceitação pelo bebê

Quanto menor a criança, mais estabilidade ela necessita, ela precisa de


adultos que sejam referência emocional para ela. Quando falamos em referência
emocional, não queremos dizer que é necessário beijar e abraçar a criança a
todo o momento. A relação é de respeito profundo e não de excesso de
intimidade, isto é, uma relação em que o adulto reconhece as múltiplas formas
de comunicação da criança pequena. Muitos profissionais apontam que, a maior
dificuldade em trabalhar com os bebês refere-se, exatamente, na dificuldade de
organizar uma rotina que respeite e atenda a essas necessidades individuais,
dentro de um espaço coletivo.
Uma das possíveis estratégias que o profissional poderia valer-se para
individualizar o trabalho, dentro de um espaço coletivo, seria organizar os bebês
e as crianças em pequenos grupos, mantendo um educador como referência de
cada grupo. Suponhamos que trabalhem três profissionais para atender dezoito
bebês, cada professor poderia ser a referência de um grupo de seis bebês. Seria
sempre a mesma profissional que tomaria conta da criança nos momentos da
troca, da refeição e do sono, os quais são tão importantes para consolidar um

24
relacionamento mais íntimo e significativo. Essa poderia ser uma forma de
organização que possibilitaria uma interação mais próxima e individualizada.

Como o bebê expressa uma necessidade?

Importante

De diversas maneiras, como, por exemplo: por meio da apatia; de erguer


os braços em direção ao educador; passividade; resistência à alimentação ou ao
sono; mordidas; comportamentos regressivos; e a linguagem mais comum, o
choro.
O bebê foi programado
geneticamente para chorar em situações
de dor, fome, sono ou quando com
qualquer desconforto físico ou emocional.
Nesse sentido, o choro deve incomodar o
adulto porque traduz uma necessidade
não satisfeita e existe como um
Figura 7: bebê chorando mecanismo adaptativo. Sem ele, nossa

Fonte: © Flickr (2018) espécie não teria sobrevivido.

O mais importante, nesse sentido, é compreendermos que o choro é uma


linguagem importante de comunicação. Por meio dessa linguagem, o bebê
comunica que algo está acontecendo com ele, pode ser fome, frio, medo,
aborrecimento, excesso de estímulo, cansaço, dor, entre outros. Jamais
devemos entender o choro como algo pessoal. O bebê não chora para nos
aborrecer, ele tenta comunicar algo, pois essa é a linguagem que ele tem
disponível no seu repertório para se relacionar com o mundo.
Quanto menor a criança, mais estabilidade ela necessita, ela precisa de
adultos que sejam referência emocional para ela. Quando nos referimos a uma

25
relação calorosa, entendemos uma relação em que a criança aceite ser cuidada
nos momentos de intimidade física e consolada nos momentos em que comunica
mal-estar; mesmo não tendo com esse alguém o relacionamento exclusivo que
caracteriza o relacionamento com a mãe.
O professor da educação infantil tem uma relação calorosa e afetiva com
o bebê, mas não ocupa o lugar da mãe, porque os saberes desse profissional
são outros.
Mesmo que a ação pedagógica com os bebês e com as crianças bem
pequenas exija uma docência basicamente fundamentada na relação e na
interação humana, o lugar que ocupa o profissional da educação infantil é
diferente do papel que desempenha a família. Sobre esse tema discutiremos na
aula seguinte.

Preparação de um ambiente seguro e instigante

O bebê precisa de um ambiente aconchegante, confortável e que


possibilite o movimento livre, criando condições ideais para oportunizar trocas,
que favoreça a comunicação entre eles. Diferentes estudiosos do
desenvolvimento infantil, afirmam que o bebê necessita de espaços relaxados,
organizados de forma simples e aconchegante e o contato com adultos afetivos
e responsivos. Um ambiente planejado para acolher e satisfazer as suas
necessidades, tanto no que se refere às necessidades básicas (sono, fome, frio),
como afetivas (colo, contato visual, toque).
Outro aspecto a salientar é a aquisição de materiais adequados à faixa
etária, privilegiando tecidos, caixas, elementos naturais, potinhos de encaixar e
empilhar, objetos sonoros dispostos ao alcance dos bebês e das crianças.
A instituição de educação infantil não precisa se preocupar em comprar
brinquedos caros, modernos, tecnológicos e que estão na moda, tampouco
brinquedos que acendam luzes, façam ruídos estrondosos e se movam
sozinhos. Esses objetos foram produzidos por uma compreensão equivocada e
consumista das necessidades dos bebês e das crianças pequenas, baseada na
concepção de que o bebê necessita ser estimulado constantemente.

26
Confiança na capacidade do bebê se desenvolver

O especialista em psicologia do desenvolvimento e educação na primeira


infância, Aldo Fortunati, no poema Por uma ideia de criança, relata exatamente
como deve ser esse processo. Confira!

Por uma ideia de criança rica,


na encruzilhada do possível,
que está presente
e que transforma o presente em futuro.
Por uma ideia de criança ativa,
guiada, na experiência,
por uma extraordinária espécie de curiosidade
que se veste de desejo e de prazer.
Por uma ideia de criança forte,
que rejeita que sua identidade seja
confundida com a do adulto, mas que oferece
a ele nas brincadeiras de cooperação.
Por uma ideia de criança sociável,
capaz de se encontrar e se confrontar
com outras crianças
para construir novos pontos de vista e conhecimentos.
Por uma ideia de criança competente,
artesã da própria experiência
e do próprio saber
perto e com o adulto.
Por uma ideia de criança curiosa,
que aprende a conhecer e a entender
não porque renuncie, mas porque nunca deixa
de se abrir ao senso do espanto e da maravilha.
(Aldo Fortunati, 2009)

27
Inserção do bebê na educação infantil

Uma boa inserção pode ser uma experiência agradável e significativa para
a criança, sua família e para os educadores. O momento da entrada do bebê no
âmbito institucional, comumente é conhecido pelo termo adaptação. Nós
optamos por utilizar o termo inserção porque “a palavra inserção traz para o
processo de entrada na instituição a ideia de que o bebê também age na situação
vivida, também transforma o entorno à medida que é transformado” (Reis, 2013,
p. 02).
Nesse sentido, o bebê se insere em um novo contexto de forma ativa,
transformando e sendo transformado por ele. Cabe ressaltar que a entrada de
cada nova criança à instituição produz intensas mudanças, que podem gerar
conflitos e tensões momentâneas. Nessa lógica, o processo de inserção traz
consigo muitos desafios e precisa ser entendido como um momento delicado.

A inserção é um momento delicado para quem?

Importante

Para o bebê que em muitas situações é a primeira vez que se separa da


mãe, pai, irmãos, avós, tias, ou de quem está exercendo a função materna; para
a família que em muitas situações é a primeira vez que deixa o bebê aos
cuidados de alguém que não pertence ao âmbito familiar; e para o professor que
está cheio de dúvidas e ansiedade sobre quem será essa família.
Alguns dos questionamentos e inseguranças do professor são:
 Como será essa criança?
 Será que vou conseguir criar vínculos?
 Como vou organizar minha jornada para atender às necessidades
individuais do bebê, dentro do contexto coletivo?
A inserção é um momento delicado para a tríade mãe, bebê e professor.
Cada um deles precisa de tempo e apoio para conseguir criar vínculos afetivos

28
e estabelecer uma relação de confiança e respeito entre si. O objetivo maior da
instituição deve ser o de criar condições para que essa tríade trabalhe de forma
conjunta, apoiando-se mutuamente.
Veja a seguir um exemplo de uma proposta metodológica de inserção da
criança na creche, descrita por Nadia Bulgarelli e Laura Restuccia Saitta (1981),
no livro Comunicazione Interpersonale e Inserimento del Bambino all’Asilo Nido,
ainda não traduzido para o português, mas que significa “Comunicação
Interpessoal e Inserção da Criança à Creche”.

 Manter a rotina que a criança pequena tem em casa. Manter os rituais


para dormir e comer.
 Deixar a criança permanecer com os objetos transicionais ou objetos
de apego, jamais retirar da criança sem a sua autorização. Algumas
crianças usam objetos e ficam apegados a elas, tais como: paninhos,
chupetas, brinquedos.
 Valorizar a identidade da criança e escolher junto a ela seu cabideiro,
colocando seu nome e garantindo que aquele lugar ficará disponível
para ela todos os dias para que possam guardar suas coisas.
 Não ficar ansiosa para que a criança ajuste sua rotina a do grupo muito
rapidamente.
 Conversar com a criança a respeito dos sentimentos dela, contar o que
vai acontecer com ela, ajudar a criança a expressar os sentimentos
dela.
 A inserção das crianças deve ser feita progressivamente, duas crianças
por subgrupo, por semana.
 Normalmente uma semana é necessária para que algum familiar
permaneça junto à criança na creche, sendo seu tempo de
permanência gradualmente reduzido.
 A professora deve procurar manter uma rotina estável sem muitas
variações para que a criança vá dominando cada vez mais a rotina.

29
Essas são algumas orientações descritas por Nadia Bulgarelli e Laura
Restuccia Saitta (1981) que podem ser muito úteis para garantirmos uma
inserção segura e com menor impacto negativo possível ao bebê. Lembrando,
que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) apregoa que o papel da educação infantil
é complementar à ação da família.

Conclusão da aula

Realizar um trabalho complementar à educação dada pela família é


compreender primeiramente qual é a educação familiar. O professor jamais deve
se opor ou disputar o lugar que a família ocupa na vida do bebê e da criança
pequena, e, para isso, é fundamental considerar e respeitar as diferentes
culturas familiares.

Atividades de Aprendizagem

1. As pesquisas na área da neurociência nos mostram como as


interações e o afeto são fundamentais, o que você pensa a respeito
disso?
2. Qual a sua opinião a respeito da entrada de bebês cada vez menores
na educação infantil?

30
Aula 3 – O brincar do bebê

Bem-vindo a nossa terceira aula.


Iniciaremos refletindo sobre o brincar enquanto direito da criança.

Você sabia que o brincar está


previsto e garantido na
legislação brasileira?

Figura 8: Crianças brincando em


escola de educação infantil

Fonte: © Pixabay (2018)

O brincar é um elemento indispensável para criança, inclusive alguns


autores indicam que o brincar é o trabalho da criança, enquanto outros sugerem
que é no ato de brincar que a criança se apropria da cultura em que está inserida,
adaptando-se a ela ao mesmo tempo em que a transforma.
E o bebê, será que ele brinca? Diferentes pesquisadores sugerem que o
conhecimento do bebê é construído por meio das suas experiências sensoriais
(visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais experiências lúdicas,
criativas, que envolvam a exploração com autonomia, maior serão suas
aprendizagens e mais acentuado será o seu desenvolvimento. Portanto, nas
instituições de educação infantil, criar espaços seguros e desafiadores é
fundamental para o desenvolvimento integral do bebê.

31
O brincar como direito infantil e fenômeno cultural

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os


piruás com os paulistas, descobri que esses ignoram o que seja.
Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é
palavra inexistente [...] Piruás são aquelas pessoas que, por
mais que o fogo esquente. Recusam-se a mudar [...] A sua
presunção e o seu medo são dura casca de milho que não
estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar
alegria para ninguém. Terminando o estouro alegre da pipoca,
no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada.
Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas que estouram, são
adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é
uma grande brincadeira (ALVES, R., 2008, p. 21).

Embora o brincar esteja presente desde o início da trajetória de vida da


criança, em nossa sociedade, a ideia do brincar ainda está associada àquilo que
carece de seriedade e utilidade, assumindo frequentemente o significado de
oposição ao trabalho, tanto no contexto da escola quanto no cotidiano familiar.
O brincar foi e ainda é considerado por algumas pessoas ou instituições como
pura perda de tempo.
Nem mesmo a vasta literatura produzida nas últimas décadas, afirmando a
importância do brincar nos processos de desenvolvimento e de aprendizagem,
foi capaz de modificar as ideias e práticas que reduzem o brincar a uma atividade
de menor importância. Porém, se considerarmos que o brincar é a maneira pela
qual as crianças organizam o seu tempo, ou seja, suas vidas, precisamos
reconhecer que falamos de direitos humanos. Brincar é antes de tudo, um
direito da criança, direito garantido em lei.
A Constituição Federal em seu artigo 227 afirma que “é dever da família,
da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade o direito à vida, à alimentação, à educação, ao lazer [...]” (Brasil,
1998). Igualmente, o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA (Brasil, 1990)
preconiza no seu art. 16, parágrafo IV “o direito à liberdade compreende os
seguintes aspectos: [...] brincar, praticar esporte e divertir-se”.
Nossa Constituição garante aos bebês e às crianças como sujeitos de
direitos e, como tal, devem ser respeitadas em suas necessidades e

32
especificidades. O Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016) preconiza
que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão organizar e
estimular a criação de espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o brincar e o
exercício da criatividade em locais públicos e privados onde haja circulação de
crianças.
O brincar é entendido como um direito, no entanto, sabemos que
principalmente nas Instituições de Educação Infantil ele ainda carece de
legitimidade. De acordo com Assis (2010, p. 7), embora a brincadeira seja muito
valorizada pela criança, os professores a consideram como “um recurso de
aprendizagem de conteúdos escolares ou simplesmente uma forma de ocupar o
tempo livre”.
O primeiro aspecto a ser considerado para garantirmos o brincar enquanto
direito da criança é o reconhecimento do seu tempo livre como legítimo,
permitindo que as crianças, em diferentes espaços educativos e contextos
sociais, sejam incentivadas a brincar.

Nesse sentido, o brincar deve estar desvinculado


de qualquer utilidade ou rendimento posterior. Brincar
produz prazer, transporta a um tempo e a um lugar único
onde a criança pode dominar por ser sua criação. A
brincadeira constitui o reino do possível, do aceitável e do
Importante
modificável, por esta razão, existe uma finalidade em si
mesma.

A brincadeira, para Leontiev (2001, p. 120), “é o caminho da tomada de


consciência da atitude humana em face dos objetos, isto é, das ações humanas
realizadas com eles”. Vygotsky (1994) compreende o brincar como uma
atividade social da criança, cuja natureza e origem específica seriam elementos
fundamentais para o desenvolvimento cultural, ou seja, o brincar como
compreensão da realidade. Por meio do brincar a criança desenvolve a
consciência do mundo que a rodeia, apropriando-se da sua cultura.

33
Quando nos referimos ao brincar como apropriação da cultura, é importante
entendermos o que isso significa. Para o sociólogo e pesquisador norte-
americano Willian Corsaro (2009), as crianças são, ao mesmo tempo, produto e
produtora de cultura, pois elas não apenas reproduzem ou imitam o mundo dos
adultos, mas dele se apropriam criativamente, dando-lhe sentido. O brincar faz
parte dessa intensa forma de produção infantil, que o autor denomina como
culturas da infância. As culturas infantis são, portanto, “um conjunto estável de
atividades ou rotinas, artefatos, valores e ideias que as crianças produzem e
partilham em interação com seus pares” (Corsaro, 2009, p. 34).
As culturas infantis são as formas que as crianças constroem de se
expressar em diferentes linguagens. Quando nos referimos a linguagens,
entendemos como a maneira que usamos para comunicar-nos e expressar-nos,
toda e qualquer forma de comunicação inventada pela humanidade, portanto
uma construção social. Nesse sentido, entendemos a linguagem de uma forma
ampla, que vai além da linguagem verbal, envolvendo todas as formas de
comunicação humana, tais como: a pintura, desenho, poesia, fotografia,
brincadeiras, danças, expressões corporais ou gestuais, entre outras.

Figura 9: Criança brincando

Fonte: © Pixabay (2018)

A linguagem da criança com o mundo é o brincar. Jogos e brincadeiras de


todos os tempos são passados de geração a geração pelos adultos e crianças,

34
no entanto, a criança não é um agente passivo, ela é a protagonista dessa ação.
Ela transforma os jogos e brincadeiras, produzindo coisas novas, criando uma
cultura lúdica.

Cândido Portinari foi um artista que dedicou sua vida ao


registro da cultura de seu povo e de seu país. Nasceu em
Brodowski, cidade do interior paulista, em 1903. Na
Fazenda Santa Rosa, onde morava, observava os colonos
trabalhando na roça e, assim, pintava coisas e pessoas do
interior, exaltando a gente que produz e trabalha pelo país.
Portinari adorava pintar crianças brincando e dizia: “Sabem
por que eu pinto tanto meninos em gangorra e balanço?
Para botá-los no ar, feito anjos”. Portinari pintava crianças
Curiosidade brincando em árvores, participando de jogos de futebol e
de festas de São João. Todas essas imagens trazem a
lembrança da vida rural do artista. Espantalhos, pipas, luas
e estrelas são elementos recorrentes que refletem o apego
à cultura rural e à paisagem do interior. (Retirado do
caderno de orientação Assim se Brinca, do projeto
Paralapracá do Instituto C&A, p. 12).

O brincar é próprio da criança, ela nasce com desejo de brincar, com uma
potência para brincar, mas também é uma coisa que se aprende. Se não
ensinarmos algumas formas de brincar que aprendemos, as crianças nunca
conhecerão essas brincadeiras, jogos e canções.

O youtuber Luccas Neto gravou um vídeo ensinando


crianças as brincadeiras antigas. Confira e conheça
algumas brincadeiras que podem ser utilizadas na
Mídias educação infantil.
https://www.youtube.com/watch?v=xYzmfgs2bKQ

35
A criança aprende a brincar pelas interações sociais e, por isso, suas
brincadeiras estão impregnadas de valores, hábitos, formas e conhecimentos do
seu grupo social. O papel do professor, nesse sentido, é o de ampliar esse
repertório da criança, criando espaços, tempos e materiais que possibilitem as
interações e o brincar livre.
Será que as crianças estão brincando na educação infantil? Como podemos
possibilitar o brincar? No caderno de experiências do “Projeto Paralapracá: uma
experiência assim se brinca, do instituto C&A, os autores propõem alguns
indicadores que nos possibilitam analisar como o brincar está sendo organizado
nas instituições de educação infantil:

 Os brinquedos estão disponíveis às crianças em todos os momentos.


 Os brinquedos são guardados em locais de livre acesso às crianças.
 Os brinquedos são cuidados pelas crianças.
 Os brinquedos são reciclados pelas crianças e educadores.
 As rotinas da creche são flexíveis e reservam períodos longos para as
brincadeiras livres das crianças.
 As famílias recebem orientação sobre a importância das brincadeiras para
o desenvolvimento infantil.
 As salas onde as crianças ficam estão arrumadas de forma a facilitar
brincadeiras espontâneas e interativas.
 Os adultos também propõem brincadeiras às crianças.
 Os espaços externos permitem as brincadeiras das crianças.
 As meninas também participam de jogos que desenvolvem os
movimentos amplos: correr, jogar, pular.
 Demonstramos o valor que damos às brincadeiras infantis participando
delas sempre que as crianças pedem.

36
Para saber mais sobre esse material acesse o caderno de
orientação assim se brinca projeto Paralapracá do Instituto
C&A.
http://paralapraca.org.br/wp-
Saiba mais content/uploads/caderno_orientacao_assim_se_brinca.pdf

E o bebê brinca?

Faz doce, sinhá!


Faz doce, sinhá Maria!
Quem quiser aprender a dançar
Vá na casa do seu Juquinha!
Quem quiser aprender a dançar
Vá na casa do seu Juquinha!
Ele pula, ele roda.
Ele faz requebradinha.
(Da abóbora faz melão, cantiga popular)

De acordo com Piaget (1974), os bebês precisam desenvolver a


capacidade de reconhecer a existência de um mundo externo a eles. O autor
sugere que quando a criança nasce ela não tem muita noção de estar no mundo,
de que é apenas um objeto nesse mundo, portanto, se confunde com o próprio
mundo. O bebê está fortemente vinculado a sua mãe, ele não se concebe
separado, precisa desenvolver a concepção de que o mundo se constitui de
objetos independentes.

Como o bebê constrói essa noção de separação?

37
Um dos aspectos essenciais para que o bebê construa a sua percepção de
mundo, é ter a autonomia de explorar esse mundo.
Para os bebês, o brincar está intrinsicamente relacionado a explorar o
mundo. O bebê conhece o mundo através de seu corpo, todo o conhecimento é
obtido por meio das experiências sensoriais (visão, audição, tato, olfato e
gustação). Quanto mais o bebê explorar o mundo, maior será o número de
experiências e mais acentuado será o seu desenvolvimento, tanto no aspecto
motor, como no intelectual, emocional e comportamental. Esta força de
exploração do bebê e da criança está ligada à vitalidade da vida, à potência da
criança, ao desejo que ela tem de conhecer o mundo e interagir com ele, dando-
-lhe sentido.
Segundo a Abordagem Pikler, é importante que o bebê se sinta seguro para
experimentar livremente seus movimentos e os objetos para brincar. Isso
significa, como já vimos na aula anterior, que é fundamental o vínculo afetivo
entre o bebê e o professor. Criar e manter uma relação calorosa e responsiva
que demonstre interesse, paciência e aceitação pelo bebê. Esse aspecto é
fundamental para possibilitar que o bebê se sinta seguro em explorar a sala e os
brinquedos ao redor. Se o bebê se sentir seguro e confiante, ele participará de
forma ativa, explorando com todos os sentidos o ambiente ao seu redor.

Para saber mais sobre o que é a Abordagem Pikler,


acesse o link a seguir:
http://liberdadeparaosbebes.com.br/blog/as-quatro-
dimensoes-da-abordagem-pikleriana-e-sua-relacao-
Vocabulário
dinamica/

A preparação de um ambiente seguro e instigante também é fundamental


para o brincar livre e significativo. Brincar a partir de sua própria iniciativa,
movimentando-se com liberdade, em um ambiente organizado e seguro, com
brinquedos adequados é o que possibilita a construção da autonomia pelo bebê.

38
Qual é o papel do professor nesse brincar livre?

O papel do professor é fundamental, sem ele, o brincar livre seria impossível.


O professor faz a mediação, apresentando o mundo ao bebê. Muitos
professores não sabem o que fazer enquanto as crianças brincam, refugiando-
se na realização de outras atividades, ditas produtivas. O professor que acredita
na importância do brincar observa os bebês brincando e faz desta ocasião para
reelaborar suas hipóteses e definir novas propostas de trabalho. É o professor
aquele que organiza o tempo, o espaço e os materiais, possibilitando que o bebê
possa explorar o mundo com independência e encantamento, que respeita o seu
ritmo e que não interfere desnecessariamente.

Figura 10: Professora intermediando brincadeira de bebê

Fonte: © <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1589/por-que-e-fundamental-que-as-
turmas-de-bercario-tenham-um-professor>. Acesso em: 23/07/2018, às 11h12 (fins
pedagógicos).

Sabemos que o trabalho com os bebês e as crianças muito pequenas dentro


das instituições de educação infantil constitui-se em um desafio para muitos
professores. Como já mencionamos anteriormente, o bebê conhece o mundo

39
através de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por meio das experiências
sensoriais (visão, audição, tato, olfato e gustação). Se por um lado o professor
compreende que o bebê precisa explorar, experimentar e, assim, conhecer o
mundo; por outro lado, muitas vezes não sabe como organizar ações que
possibilitem a exploração e a experimentação de maneira segura e desafiadora.
Nesse sentido, descrevemos algumas ações que julgamos adequadas para o
desenvolvimento integral do bebê, utilizando o brincar como linguagem.
O cesto dos tesouros é uma proposta que tem como objetivo estimular a
exploração sensorial do bebê. Ela foi criada por Goldschmied e Jackson (2006),
especialistas em cuidados e educação na primeira infância. De acordo com os
autores, o cesto dos tesouros, se for bem planejado, potencializa as
aprendizagens por meio das descobertas que o bebê e a criança faz por si
própria.
As autoras sugerem que “o cesto de tesouros bem abastecido, oferecido por
um adulto atento, pode proporcionar experiências que são interessantes e
absorventes, capacitando o bebê a buscar uma aprendizagem vital para a qual
ele está pronto e ansioso”. (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006, p.115).
O professor precisa selecionar objetos com diferentes cores, texturas,
cheiros e sabores a fim de montar o cesto de tesouros, organizando o espaço de
forma que as crianças tenham livre acesso aos materiais que serão colocados
no centro da sala de referência, permitindo que os bebês se aproximem
livremente e escolham o objeto que quiserem para explorar.
O papel do professor será o de observar e monitorar as crianças garantindo
que todos possam participar, sem interferir nas escolhas. A exploração deverá
ser permitida durante o tempo que o professor considerar que as crianças
estiverem interessadas na proposta. Essa proposta pode ser ofertada aos bebês
várias vezes, durante vários dias, até que o professor perceba que eles perderam
o interesse pelos objetos do cesto. Quando não houver mais interesse pelos
objetos, o professor pode substituí-los e voltar a propor o cesto.
Os itens sugeridos para o cesto de tesouros são:
 Objetos naturais: limão, maça, caroço de abacate.

40
 Objetos feitos de materiais naturais: tapetinho de ráfia, pincel de
pintura.
 Objetos de madeira: apito de bambu, colher de pau.
 Objetos de metal: molho de chaves, sinos, caneca de metal.
 Objetos feitos de couro, têxteis, borracha e pele: bola de golfe, bola
de tênis.
(GOLDSCHMIED, JACKSON, 2006, p. 114).

Por meio dos brinquedos e brincadeiras os bebês e as crianças também


podem vivenciar diferentes linguagens, como: musicais, poéticas, literárias, entre
outras. Essas experiências possibilitam a criança compreender a cultura na qual
está inserida, adaptando-se criativamente, dando-lhe sentido. As experiências
com as linguagens oral, corporal, musical, plástica, entre outras, também
precisam ser planejadas e intencionalmente pensadas nas propostas
pedagógicas das instituições de educação infantil
A professora Marcia Gobbi (2010, p. 12) sugere que “a canção é importante
como brincadeira e como conhecimento cultural”. Nós apresentamos nossa
cultura para o bebê que está chegando a esse mundo para que ele possa se
apropriar desses valores e ideias criativamente, dando-lhe sentido ao mundo que
o cerca. Para isso, o professor deve estar atento às oportunidades de
brincadeiras que surgem das letras das canções
É fundamental planejar as brincadeiras musicais que serão realizadas com
antecedência. A música “A Dona Aranha subiu pela parede” pode se tornar uma
brincadeira divertida.

Letra da música A Dona Aranha subiu pela parede:


“A dona aranha subiu pela parede. Veio a chuva forte e a
derrubou. Já passou a chuva, o sol já vai surgindo e a dona

Vocabulário aranha continua a subir. Ela é teimosa e desobediente.


Sobe, sobe, sobe e nunca está contente”.

41
Outra canção que os bebês e as crianças pequenas gostam muito é a
música “Indiozinho”. É uma canção curta, simples, onde a letra sugere o
movimento que deve ser feito com os dedos.

Letra da música Indiozinho:


1, 2, 3, indiozinhos, 4, 5, 6 indiozinhos, 7, 8, 9, indiozinhos
10 num pequeno bote. Iam navegando pelo rio abaixo.
Vocabulário

Canções que brinquem de esconder e achar os bebês também estão entre


as brincadeiras prediletas. É importante utilizar canções com letra adequada
e com temas do universo infantil e escolher canções curtas. Para auxiliar
nas canções, alguns instrumentos podem ser desenvolvidos e recriados no
cotidiano de creches, por exemplo, chocalhos feitos com diferentes potes e
materiais que produzem variados tipos de sons.
Outro aspecto muito importante na ampliação do repertório dos bebês e
das crianças pequenas é a leitura e a contação de histórias que podem criar
momentos de vínculo e afeto entre o professor e a criança, além de contribuir
para o desenvolvimento da linguagem. A contação de histórias e a leitura podem
ser dois grandes aliados do professor na criação de espaços lúdicos, criativos e
prazerosos. A escolha de bons livros é fundamental, o fato do bebê não entender
totalmente o vocabulário, não significa que podemos ler e contar qualquer coisa
a ele.

42
Figura 11: Contação de história para bebês

Fonte: © Flickr (2018)

Diferentes autores enfatizam a importância do trabalho com o texto literário


e da experiência dos bebês com a literatura. Para Fanny Abramovich, grande
escritora de literatura infantil e juvenil, ler histórias para os bebês e as crianças
[...] é poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens,
com a ideia do conto ou com o jeito de escrever de um autor e, então, pode ser
um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento”.

Conclusão da aula

Finalizamos esse tema sobre o brincar reafirmando, como muitos


estudiosos do brincar, que a brincadeira faz parte da essência de ser criança, é
intrínseca à infância, é cultural e é um direito. Brincar é a coisa mais importante
que uma criança pode fazer, por isso que ela estrutura seu tempo em torno dos
jogos e brincadeiras. Muitos autores sugerem que as coisas importantes da vida

43
aprendemos enquanto bricávamos, inclusive, a maneira de nos comportar na
sociedade.
Não poderíamos encerrar esse tema sem mencionar, também, que o
bebê conhece o mundo através de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por
meio das experiências sensoriais, portanto, o bebê necessita de liberdade de
movimento, espaços seguros e aconchegantes para se desenvolver.

Atividades de Aprendizagem

1. Por que o brincar se constitui como um direito da criança? Se você quiser


saber mais a respeito do brincar, acesse o site
<http://territoriodobrincar.com.br/>. Lá, você vai encontrar longa-
metragem, biblioteca, brincadeiras, vídeos, entre outros. Leia o material
disponível e procure identificar as relações do brincar como experiência
cultural.

44
Aula 4 – Organização da rotina

Apresentação da aula

Prezado estudante. Bem-vindo a nossa quarta aula. Iniciaremos refletindo


sobre o planejamento como uma forma de organizar o tempo, espaço, materiais
e relações. Será que o planejamento é importante para a organização da rotina,
ou é uma mera formalidade burocrática da escola? No decorrer desse conteúdo
abordarmos os elementos constitutivos das rotinas, propostos por Maria
Carmem Barbosa, tais como: a seleção e a proposição das atividades, a
organização do ambiente, a seleção e oferta de materiais e o uso dos tempos.
No último tópico abordaremos a ação pedagógica com os bebês e com as
crianças bem pequenas.

Planejamento

Gostaria de iniciar nossas reflexões sobre o planejamento, contando uma


história, ou melhor, transcrevendo um trecho do livro da Alice no País da
Maravilhas.

Para onde vai essa estrada? (Alice)


— Pra onde você quer ir? (Gato)
— Não sei, estou perdida... (Alice)
— Ora... pra quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve... (Gato)
CARROLL, L. Alice no País das Maravilhas.

O que significa planejar?

Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro


para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências
múltiplas e significativas para/com o grupo de crianças (OSTETTO, 2000, p.

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177). Não podemos empreender uma viagem se não sabemos aonde queremos
ir, como a personagem Alice.
Para o profissional que está perdido, qualquer caminho serve. Não
podemos assentar nossa prática pedagógica num espontaneísmo ingênuo, a
criança precisa liberdade para criar, imaginar, explorar, fantasiar, no entanto,
essa liberdade somente é possível se garantirmos espaços, tempos e mateiras
previamente selecionados e organizados. A autonomia de movimento, a
liberdade de exploração e a garantia do brincar jamais devem ser entendidos
como uma prática espontaneísta.
Planejamento pedagógico também é atitude crítica do educador diante de
seu trabalho docente. Por isso, não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como
tal, permite ao educador pensar, revisando, buscando novos significados para a
sua prática docente (OSTETTO, 2000, p. 177).
Um dos aspectos essenciais, que refletem uma atitude crítica do professor
é a compreensão que o pedagógico perpassa todas as ações: limpar, lavar,
trocar, alimentar, colocar para dormir. Tudo isso é pedagógico, não existe
conteúdos melhores ou piores. Quando se planeja a jornada que o bebê e a
criança pequena irão passar na creche, tudo o que for proposto, todas as
mediações que serão realizadas, todas as ações que serão propostas são
pedagógicas.
Atualmente muitos profissionais creem que questões pedagógicas dizem
respeito a trabalhos específicos, como: pintar, colar, aprender os números, entre
outros. O sono, a alimentação, a escovação de dentes, o trocar fraldas, o amarrar
o tênis, tudo isso é conteúdo da educação infantil, portanto, devem englobar o
planejamento.
Segundo Vigotsky (1988), a criança se desenvolve no e com o mundo
numa relação dialética mediada pela atividade, pelos símbolos e pelas outras
pessoas. De acordo com essa perspectiva, planejar é organizar o tempo, o
espaço e materiais, desafiando os bebês e as crianças a construírem relações
significativas entre elas e a cultura que estão inseridas.

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O papel do professor é fazer a mediação entre o legado cultural construído
pela humanidade, desafiando a criança a novas descobertas, ao conhecimento
e a transformação da sua cultura.
Mas, então, o que se planeja? Planeja-se a organização do espaço do
tempo dos materiais e das relações. Planeja-se a rotina.

De acordo com o dicionário online de Português,


rotina é uma sequência dos procedimentos, dos costumes
habituais. Modo como se realiza alguma coisa, sempre da
mesma forma: rotina matinal. Itinerário, caminho habitual,
que se faz todos os dias.
Se assumirmos somente essa definição de
Importante
rotina, corremos o risco de compreendermos esse
modo de ser e de organizar nossas vidas como algo
inquestionável.

Segundo Barbosa (2000, p. 62), “uma das características das rotinas


pedagógicas é o fato de elas conterem a ideia de repetição, de algo que resiste
ao novo e que recua frente a ideia de transformar”. Assim sendo, a rotina tem
um caráter de padronização, todos os dias as coisas acontecem da mesma
forma, no mesmo horário.
O perigo de uma rotina rígida e autoritária é que pode se distanciar das
necessidades dos bebês e das crianças. Nosso desafio na educação infantil é o
de problematizar essa rotina. Se por um lado, os costumes habituais, aquilo que
se faz todos os dias, devem ser entendidos como parte da rotina, por outro lado,
“as rotinas são produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no dia a
dia, tendo como objetivo a organização da cotidianeidade” (BARBOSA, 2006).
Se as rotinas são produtos culturais, cabe aos profissionais da educação
questioná-las, modificá-las ou substituí-las se perceberem que no seu fazer
cotidiano não funcionam mais. Kramer (1993), que pesquisa a infância e dedica-
se à formação de professores, vai além e sugere que as rotinas impostas às

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crianças devem ser sempre apresentadas para que elas compreendam os
porquês de certas regras, aprendendo também a modificá-las ou criar novas.
A rotina é importante e deve existir, porém, devem ser discutidas,
elaboradas e criadas por todos os interlocutores envolvidos na sua execução.
Nesse sentido, entendemos que a rotina é construída e reproduzida para
organizar e controlar a vida cotidiana. Nessa perspectiva, é possível refletir sobre
novas maneiras de organizar o tempo, o espaço, os materiais e os grupos, e, ao
mesmo tempo, pensar sobre a formas como são proporcionados os encontros
entre as crianças.

Fonte: © Pixabay (2018)

Organização do tempo, espaço e materiais

O ambiente

Ambientes intencionalmente preparados contribuem para o


desenvolvimento e aprendizagens dos bebês. Os ambientes não são neutros,
eles estão organizados e preparados de acordo com nossa concepção de
criança e educação. Desta forma, a disposição, presença ou ausência de

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materiais e objetos sempre dizem algo sobre o que pensam as pessoas que
organizam e cuidam desses lugares.
Você sabia que espaço e ambiente são entendidos como dois elementos
diferentes, mas que se compõe? No livro A qualidade em Educação Infantil, a
autora Forneiro explica essa questão. Para ela, o espaço refere-se ao espaço
físico, ou seja, o local para a atividade caracterizado pelos objetos, pelos
materiais didáticos, pelo mobiliário e pela decoração. Enquanto o ambiente
refere-se ao conjunto do espaço físico e às relações que se estabelecem nele
(os afetos, as relações interpessoais entre as crianças, entre as crianças e
adultos, entre as crianças e a sociedade em seu conjunto). (FORNEIRO, 1998,
p. 232).
De acordo com Horn (2013), “os espaços de berçário giram em torno de
quatro princípios importantes: proporcionar um ambiente organizado e ao
mesmo tempo flexível; proporcionar conforto, segurança e ao mesmo tempo
desafios; proporcionar a interação com as diferentes linguagens e proporcionar
o bem-estar das crianças”.
O espaço da educação infantil, nos remete a que criança estamos
falando, a que sujeito queremos formar, a como acontecem as relações dentro
da instituição. Como mencionamos, não existem ambientes neutros, os
ambientes são possibilidades ou limitações; eles nos revelam que lugar ocupam
os bebês e as crianças no processo pedagógico.
 São sujeitos criativos, ricos em potencial, intérpretes do mundo e
protagonistas de suas histórias?
 São pequenos seres em estado de transição, incompletude e
dependência?
 Existem marcas dos bebês e das crianças na instituição?
 A sala de referência dos bebês e das crianças pequenas potencializa as
explorações, os desafios e possibilita a descoberta de novas sensações,
odores, formas, cores e sons?
 As paredes retratam os processos de criação dos bebês e das famílias?

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Trata-se de um ambiente adequado com adultos responsivos, que colhem
os bebês nas suas necessidades e possibilitam o desenvolvimento de
habilidades para estes se expressarem adequadamente, interpretarem e
regularem suas emoções, bem como, para entenderem as emoções dos outros.
O ambiente conta a história da turma, ele retrata a caminhada, os
vínculos estabelecidos, as conquistas celebradas e as aprendizagens
construídas, por outro lado, pode nos revelar a falta de norte, as angústias, o
despreparo do profissional, inclusive, a pouca importância atribuída ao professor.
No caderno de orientação Assim se organiza o ambiente, do Projeto
Paralapracá, do Instituto C&A, os autores sugerem algumas considerações na
organização dos ambientes:
 Acessibilidade/Autonomia: espaços que permitam as crianças a
realizarem tarefas sozinhas de forma independente.
 Identidade: ambientes organizados com objetos trazidos de casa pelas
crianças, tais como: brinquedos, livros, fotos etc. e objetos
confeccionados por elas na escola.
 Movimento: ambientes com espaços amplos e seguros para a livre
movimentação das crianças.
 Estimulação dos sentidos: ambientes que provoquem a curiosidade e
a experimentação de diferentes sensações através das cores, formas,
sons, aromas, sabores e texturas.
 Interação: espaços coletivos de relações entre crianças e adultos,
possibilitando a troca de experiências e a vivência de diferentes
desafios.
 Segurança: ambientes e móveis adequados ao número e ao tamanho
das crianças, iluminados, arejados e higienizados; materiais
resistentes e de fácil limpeza; tomadas e fios elétricos fora do alcance
das crianças.

O ambiente é um educador à disposição tanto da criança quanto do adulto.


Mas só será isso se estiver organizado de um certo modo. Só será isso se estiver

50
equipado de uma determinada maneira (NERI e VECCHI, p. 19 apud ZABALZA,
1998, p. 241).

Os materiais

Por materiais queremos indicar tudo aquilo com o que se faz algo, que
serve para produzir, para inventar, para construir, deveríamos falar de tudo o que
nos rodea, desde a água até a terra, das pedras aos animais, do corpo às
palavras; incluindo as plantas e as nuvens. E, portanto, os vestidos, os
brinquedos, os livros. Porque tudo isso pode ser material para construir, nas
mãos de uma criança que vive em um ambiente onde inventar é lícito e bem mais
desejável (Tonucci, 2008).
Essa compreensão ampla sobre o que são materiais é extremamente
pertinente quando tratamos de bebês e crianças pequenas. Se observarmos os
bebês, podemos entender perfeitamente como ele interage com o mundo. O
bebê brinca com o corpo inteiro, cheira, toca, apalpa, prova, escuta o novo ruído
e interage com tudo o que lhe cerca. Ele fica encantado com a pedra, com a
água, com a tampa da panela, com a esponja, com a grama, com a terra. O bebê
descobre o mundo através de seus órgãos sensoriais.
Nesse sentido, os materiais que devem compor os ambientes da instituição
que atendem às crianças pequenas devem ser criteriosamente selecionados,
oportunizando às crianças o estar no chão, o arrastar-se, o engatinhar, o estar
com os outros e interagir com esses diferentes materiais. A organização desses
espaços e desses materiais são importantes mediadores da aprendizagem e
devem propiciar desafios, descobertas e possibilidades para que os bebês e as
crianças pequenas possam estabelecer variadas interações.
Um estudo da organização dos espaços internos, produzido pelo Ministério
da Educação, na consultoria da professora Maria da Graça Souza Horn, traz
algumas alternativas para a organização das salas de referência, do solário, sala
de repouso, fraldário dos bebês e das crianças bem pequenas. A seguir, segue
uma relação de materiais sugeridas pela professora Maria da Graça Souza Horn.

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Móbiles que se movimentem com facilidade, berços ou catres de tamanho
adequado ao espaço disponível, objetos de conforto como bonecos e bichos de
pano (laváveis).

Materiais para o desenvolvimento dos sentidos


 Bolas e caixas grandes de madeira.
 Sacos de pano pequeno com ervas aromáticas.
 Terra com ervas aromáticas em espaços onde as crianças brincam.
 Bolas de tecidos diversos.

Materiais que produzem som


 Latas ou caixas bem fechadas com objetos que produzam som.
 Sinos.
 Diferentes tipos de papel para amassar.
 Instrumentos musicais.

Materiais feitos de materiais naturais


 Cestos.
 Rolhas.
 Materiais naturais da região.
 Conchas.

Materiais para o jogo simbólico


 Panelas.
 Pratos.
 Xícaras.
 Talheres.
 Copos.
 Bonecos.
 Roupas para vestir bonecos.
 Pedaços de tecido.
 Objetos para brincar de limpar (panos, rodos, vassouras, baldes).

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Objetos para entrar
 Caixas.
 Cabanas.
 Túneis.

Materiais para empurrar


 Carrinhos.
 Carrinho de mão.
 Bichos de puxar.
 Rodas de madeira para girar

Livros
 Livros de pano.
 Livros de borracha.
 Livros de papel de literatura, poesia, parlendas, rimas, entre outros.

Materiais grafoplásticos
 Tintas com anilina comestível.
 Tinta guache.
 Massa caseira para modelar.
 Pincéis de diferentes espessuras.
 Rolos para pintar.
 Giz de cera de espessura grossa.
 Papéis de diferentes tipos e tamanhos.

Se você quiser conhecer o estudo na íntegra e aprofundar


os seus conhecimentos a respeito da organização dos
ambientes, acesse o link a seguir:
Saiba mais http://agendaprimeirainfancia.org.br/arquivos/educ_infantil_
organizacao_espaco_interno_proinfancia_produto02.pdf

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Os usos dos tempos

Desde que nascem, os bebês necessitam compreender e se adaptar ao


mundo, tudo é novo e desconhecido para eles. Será que estamos dando o tempo
que as crianças precisam ou estamos acelerando esse processo?
Um dos aspectos fundamentais, quando se trabalha com bebês e crianças
pequenas é a necessidade de criar rotinas que atendam às necessidades
biológicas (fome, frio, sono), emocionais (acolhimento, de segurança, de
presença) e relacionais (estímulos, de participação, de relações com os demais).

É fundamental respeitar o ritmo do bebê e da criança pequena, que


naturalmente é diferente do ritmo do adulto. Não podemos criar rotinas que
atendam à necessidade da instituição, desconsiderando as necessidades das
crianças. A rotina deve atender às necessidades do bebê.

A hora do sono, da alimentação, das trocas de fraldas, por exemplo,


devem ajustar-se às necessidades das crianças. Nenhuma criança deve ser
privada ou obrigada a dormir e comer, por exemplo. Obrigar uma criança a fazer
isso, consiste em grave violação de direitos.

O papel do professor

Precisamos de um professor que às vezes seja o diretor, às vezes o


criador do cenário, que às vezes seja a cortina e o fundo, e às vezes
aquele que sopra as falas. Um professor que seja igualmente doce e
rígido, que seja o eletricista, que distribui as tintas e que até pode ser o
público – o público que observa, que às vezes bate palmas, às vezes
fica em silêncio, cheio de emoção, que às vezes julga com ceticismo, e
outras aplaude com entusiasmo (MALAGUZZI apud RINALDI, 2006, p.
89).

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O que diz a legislação sobre a formação de docentes
para atuar na Educação infantil?

Importante

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível


superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal (Lei nº
9.94/96 - Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).
A partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação
Nacional (LDB) 9394/1996, será que o profissional da educação infantil passou
a ter uma identidade de professor? O que significa ser professor de bebês e
crianças pequenas? Podemos dar aulas a bebês, seguindo o modelo tradicional?
O que se propõe em muitos momentos como prática docente na Educação
infantil é uma imitação do Ensino Fundamental. Podemos assumir que o bebê é
um aluno? Se você acha que não podemos dar aula a um bebê, seguindo essa
lógica do Ensino Fundamental, então, como se dá essa ação pedagógica?
Essas e outras muitas questões acerca dos bebês e da docência na creche têm
estado cada vez mais em nossas problematizações e discussões,
principalmente, porque o contexto atual exige.
Será que a docência para os pequenos é uma profissão que precisa ser
inventada? Como estudamos nas aulas anteriores, a creche entendida como
uma instituição educativa é bastante recente em nosso país. Estamos trilhando
os primeiros passos rumo à construção de um espaço educativo para os bebês.
De acordo com Roldão (2000, p. 2), para que haja desenvolvimento
profissional dos docentes das crianças pequenas, devemos propiciar
contextos capazes de contribuir para o reconhecimento de sua função
social, a construção de um saber próprio que lhes permita tomar decisões e

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refletir sobre sua a atividade docente, a troca entre os colegas da mesma
profissão e o pertencimento a uma comunidade profissional.
Ser professor de bebês é uma especialidade diferente dos demais
profissionais da educação. A ação pedagógica com os bebês e com as crianças
pequenas exige uma docência basicamente fundamentada na relação e na
interação humana. Portanto, os profissionais necessitam de uma formação
específica. A essência desse trabalho precisa ser alicerçada em um
conhecimento profundo das especificidades de uma criança pequena. É
necessário que quem trabalhe com a pequena infância tenha uma postura de
pesquisador do universo infantil.
Ter competência teórica é muito importante para que o profissional
consiga fundamentar a sua prática cotidiana. No entanto, somente a
competência teórica parece não ser suficiente para sustentar a prática docente
com os bebês. Além das competências técnicas que servem de base para a
ação, é importante que o profissional que trabalha com bebês tenha capacidade
de escuta e de observação, porque os bebês se revelam de forma sutil.
A capacidade de conectar-se com o bebê é fundamental para poder
organizar os tempos e os espaços, de forma a atender às suas necessidades.
Os bebês dependem de adultos responsivos, que os acolham nas suas
necessidades e que os possibilitem desenvolverem habilidades para se
expressarem adequadamente, interpretarem e regularem suas emoções.

Fonte: © Pixabay (2018)

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Nesse sentido, Oliveira‐Formosinho (2002, p. 48) apresenta algumas
dimensões da ação profissional que permitem caracterizar a singularidade
profissional dos professores da Educação Infantil, as quais elencamos, a seguir:
1) as características da criança pequena como: globalidade,
vulnerabilidade e dependência da família;
2) das características das tarefas desempenhadas pelos professores,
das quais resulta uma interligação entre educação e cuidados;
3) da necessidade de estabelecer uma rede de interações alargadas
com as crianças, as famílias e os diferentes profissionais das
instituições;
4) da integração e interação, “entre o conhecimento e a experiência,
entre as interações e a integração, entre os saberes e os afetos”.

Para Barbosa (2010), “a profissão de professora na creche não é, como


muitos acreditam, apenas a continuidade dos fazeres maternos, mas uma
construção de profissionalização que exige bem mais que competência teórica,
metodológica e relacional”.

Conclusão da aula

Durante nossas aulas, discutimos questões pertinentes aos bebês e às


crianças pequenas. Você pôde perceber que as ações pedagógicas organizadas
em espaços coletivos, como a creche, são muito mais que cuidados dentro de
um paradigma higienista. Cuidar e educar bebês e crianças pequenas exige uma
expertise que se adquire por meio de uma sólida formação inicial, com uma
formação em serviço continuada que permita ao profissional rever sua própria
biografia e oportunize um aprofundamento teórico.
Por outro lado, a profissão de professor de bebês exige um
reconhecimento social e econômico, de políticas públicas que reconheçam e
valorizem a complexidade da profissão.

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Ser professor de bebê é acolher, sustentar e desafiar as crianças para
que elas participem de um percurso de vida compartilhado, de forma ativa e com
encantamento. Como professor, o planejamento é fundamental na organização
das rotinas estabelecidas. Organizar os tempos, espaços e materiais é um dos
caminhos para poder constituir uma prática pedagógica com intencionalidade
educativa.

Atividades de Aprendizagem

1. Falamos nesta aula da organização do tempo, espaço e mateiras. Você


acredita que existe participação das crianças na organização dos
espaços?
O que revelam as paredes das salas de referências das escolas que
você conhece?

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Referências

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