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IGLESIA
BEBÊS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: DA INVISIBILIDADE
AO PROTAGONISMO
CURITIBA/PR – 2018
1
Sumário
Introdução ........................................................................................ 03
Aula 1 – A creche e seus significados ............................................... 04
Aula 2 – De que bebê estamos falando? ........................................... 18
Aula 3 – O brincar do bebê ............................................................... 31
Aula 4 – Organização da rotina ......................................................... 45
Referências ...................................................................................... 59
2
Introdução
3
Aula 1 – A creche e seus significados
4
Quando as taxas de sobrevivência aumentaram, os pais
começaram a tratar as crianças com mais carinho e
envolvimento emocional (ARIÈS, 1978).
Curiosidade
5
Figura 1: Crianças em horário de lazer na creche
6
pela igreja católica. O Estado não participou na implantação, funcionamento e
fiscalização inicial das instituições de atendimento infantil.
O comprometimento dos governos com a criação e manutenção dessa
Instituição iniciou após a reivindicação de grande parcela da população que
necessitava desse tipo de serviço. A mortalidade infantil elevada, desnutrição
generalizada e acidentes domésticos passaram a despertar sentimentos de
preocupação dos governos. Enquanto as famílias abastadas pagavam uma
babá, as que se encontravam em situação de pobreza viam como única
alternativa deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa instituição que deles
cuidassem.
7
Você sabia, que foi somente a partir da Constituição
Federal de 1988, que foi garantido o direito à educação
para crianças de 0 a 3 anos na creche? Foi a partir da
8
Infantil no Brasil tem ocorrido de forma crescente. A Educação Infantil enquanto
espaço que atende crianças de 0 a 5 anos busca se desvencilhar das raízes que
a constituíram.
A seguir, continuaremos nosso recorrido histórico, analisando brevemente
o que nos aponta a legislação.
9
da Educação Básica e se configura como um direito constitucional a todas as
crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade.
creches, ou entidades
equivalentes, para crianças de até
três anos de idade;
pré-escolas, para as
crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
anos de idade. (Redação dada
pela Lei nº 12.796, de 2013).
Figura 3: Educação Infantil
10
Será possível educar sem cuidar?
Ou cuidar sem educar?
Reflita
Será que isso ocorre realmente nas ações pedagógicas dos profissionais da
educação infantil?
11
Sabemos que muitas práticas, superadas no discurso, ainda permanecem
vivas nas propostas de trabalho de muitos educadores. Oliveira (2005) sinaliza
que ainda hoje na educação infantil existe uma forte influência higienista, que
valoriza a priorização de cuidados de saúde e assistencialismo às populações
em vulnerabilidade social, provocando ainda hoje, uma oscilação nas práticas de
educar e cuidar.
Segundo Maranhão (2010), o professor de bebês e de crianças pequenas
tem que se apropriar de conhecimentos e desenvolver competências sobre o
processo de desenvolvimento humano e conhecer os aspectos legais e éticos
do processo de cuidar e educar em ambiente coletivo.
12
referência que garanta a sua sobrevivência e valorize a sua existência
oferecendo os cuidados adequados. Emmi Pikler chama essas ações de
cuidados privilegiados.
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Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual.
Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai
acontecer.
Sempre pedir a colaboração, mesmo quando o bebê ainda é bem
pequeno.
Observar e acompanhar cada pequena descoberta e conquista da
criança.
Usar o tempo que for necessário para que o bebê aproveite a experiência
14
parte da proposta educativa e ser entendida como um conteúdo da educação
infantil, incutido de sentido educativo.
Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual. A troca de fralda pode
ser uma oportunidade do bebê e da criança pequena se sentirem únicos e
especiais. Durante a jornada da educação infantil, o professor tem muitas
demandas, impossibilitando que preste atenção exclusiva a uma única criança.
Portanto, poder dedicar alguns momentos particulares a uma criança, faz dela
um ser singular em meio ao coletivo. Manter o contato visual assegura que o
professor se mantenha presente no momento atual e focado na ação que está
realizando.
Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai
acontecer
Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai
fazer, porque as palavras usadas transferem os sentimentos do adulto para a
criança. Portanto, se o profissional sentir qualquer emoção negativa em relação
a troca de fraldas é importante procurar ajuda para falar sobre esses
15
sentimentos. Em algumas pessoas, a troca de fraldas pode produzir sentimentos
ambíguos.
Outro aspecto a destacar, é a necessidade de o professor pedir a
colaboração do bebê, mesmo quando ainda é bem pequeno. Essa ação facilita
que a criança se sinta uma companheira ativa durante o processo, o professor
pode solicitar, por exemplo, que o bebê estique a perna, que dobre o joelho, que
prove a temperatura da água. É bem importante nomear as partes do corpo,
descrevendo o que vai acontecer com ele e ajudar o bebê a expressar o que
está sentindo.
O bebê e a criança pequena precisam ser informados do que será feito com
o seu corpo. O profissional da educação infantil precisa anunciar e pedir a
autorização para tirar a roupa da criança e para tocar em seu corpo. Essa relação
de cuidado e respeito possibilita que o bebê e a criança assumam um papel ativo
e colaborativo nos cuidados de seu próprio corpo, aprendendo a respeitá-lo, ao
mesmo tempo que constroem relações de respeito com o corpo dos demais.
Eu vi, eu vi, eu vi um jacaré, será que ele queria pegar o meu pé?
Eu vi, eu vi, eu vi uma formiga, será que ele queria pegar a minha barriga?
Eu vi, eu vi, eu vi um leão, será que ele queria pegar a minha mão?
Eu vi, eu vi, eu vi uma coelha, será que ele queria pegar a minha orelha?
Eu vi, eu vi, eu vi um piolho, será que ele queria pegar o meu olho?
Eu vi, eu vi, eu vi um camelo, será que ele queria pegar o meu cabelo?
Eu vi, eu vi, eu vi uma perdiz será que ela queria pegar o meu nariz?
(Cultura popular)
16
Conclusão da aula
Atividades de Aprendizagem
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Aula 2 – De que bebê estamos falando?
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De que bebê estamos falando?
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De acordo com o Dr. Cláudio Guimarães dos Santos, neurocientista da
Universidade Federal de São Paulo, os neurônios são células características
do sistema nervoso central com a capacidade de estabelecer conexões entre
si quando recebem estímulos advindos do ambiente externo ou do próprio
organismo. Ou seja, essas conexões neuronais são realizadas por
predeterminação genética, mas também como resultado das experiências
vividas pelo bebê e são responsáveis por tudo o que somos: por nossa
personalidade, modo de agir, pela forma que nosso corpo vai adquirindo no
transcorrer da vida.
Figura 6: Neurônios
20
Como que o bebê constrói uma base cerebral sólida? O
que significa isso?
Reflita
Será que os bebês conseguem construir uma base cerebral sólida, quando
vivem em espaços coletivos de educação infantil?
21
pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), em parceria com o Ibope
Inteligência, chegou-se à conclusão de que para ter uma creche de qualidade é
preciso cuidado, estímulo e afeto. Cuidado indissociável do processo educativo,
considerando o desenvolvimento integral da criança.
A maneira de organizar e compreender uma proposta educativa que
atenda às necessidades de cuidado, estímulo e afeto varia de acordo com os
recursos, a concepção pedagógica, a formação do professor, entre outros
aspectos. No entanto, é possível fazer algumas generalizações, assinalando
alguns princípios, que podem favorecer a construção de uma base cerebral
sólida nos bebês e nas crianças que frequentam espaços coletivos de educação
infantil.
Organização de uma rotina que possibilite ao bebê participar de forma
ativa.
Relação (adulto/bebê) calorosa e responsiva, que demonstre interesse,
paciência e aceitação pelo bebê.
Preparação de um ambiente seguro e instigante.
Construção de espaços e tempos para o bebê brincar em liberdade:
brinquedos não estruturados.
O bebê conhece o mundo pelo seu corpo, todo o conhecimento é obtido por
meio das experiências sensoriais que chegam ao sistema nervoso central na
forma de estímulos sensoriais provenientes dos cinco órgãos dos sentidos
(visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais o bebê explorar o mundo
por meio de seus órgãos sensoriais, maior será o número de experiências e mais
acentuado será o seu desenvolvimento, tanto no aspecto motor, como no
intelectual, emocional e comportamental.
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No entanto, a exploração do bebê é muito mais efetiva quando o professor
faz a mediação entre ele e o mundo ao seu redor. É fundamental o docente
mantenha uma relação próxima de afeto e carinho com o bebê para poder
reconhecer e atender as necessidades de interação deste.
23
— Olha, dentro do armário tem outras peças de roupa do
Arthur: casacos, calças, moletons, gorros e luvas.
24
relacionamento mais íntimo e significativo. Essa poderia ser uma forma de
organização que possibilitaria uma interação mais próxima e individualizada.
Importante
25
relação calorosa, entendemos uma relação em que a criança aceite ser cuidada
nos momentos de intimidade física e consolada nos momentos em que comunica
mal-estar; mesmo não tendo com esse alguém o relacionamento exclusivo que
caracteriza o relacionamento com a mãe.
O professor da educação infantil tem uma relação calorosa e afetiva com
o bebê, mas não ocupa o lugar da mãe, porque os saberes desse profissional
são outros.
Mesmo que a ação pedagógica com os bebês e com as crianças bem
pequenas exija uma docência basicamente fundamentada na relação e na
interação humana, o lugar que ocupa o profissional da educação infantil é
diferente do papel que desempenha a família. Sobre esse tema discutiremos na
aula seguinte.
26
Confiança na capacidade do bebê se desenvolver
27
Inserção do bebê na educação infantil
Uma boa inserção pode ser uma experiência agradável e significativa para
a criança, sua família e para os educadores. O momento da entrada do bebê no
âmbito institucional, comumente é conhecido pelo termo adaptação. Nós
optamos por utilizar o termo inserção porque “a palavra inserção traz para o
processo de entrada na instituição a ideia de que o bebê também age na situação
vivida, também transforma o entorno à medida que é transformado” (Reis, 2013,
p. 02).
Nesse sentido, o bebê se insere em um novo contexto de forma ativa,
transformando e sendo transformado por ele. Cabe ressaltar que a entrada de
cada nova criança à instituição produz intensas mudanças, que podem gerar
conflitos e tensões momentâneas. Nessa lógica, o processo de inserção traz
consigo muitos desafios e precisa ser entendido como um momento delicado.
Importante
28
e estabelecer uma relação de confiança e respeito entre si. O objetivo maior da
instituição deve ser o de criar condições para que essa tríade trabalhe de forma
conjunta, apoiando-se mutuamente.
Veja a seguir um exemplo de uma proposta metodológica de inserção da
criança na creche, descrita por Nadia Bulgarelli e Laura Restuccia Saitta (1981),
no livro Comunicazione Interpersonale e Inserimento del Bambino all’Asilo Nido,
ainda não traduzido para o português, mas que significa “Comunicação
Interpessoal e Inserção da Criança à Creche”.
29
Essas são algumas orientações descritas por Nadia Bulgarelli e Laura
Restuccia Saitta (1981) que podem ser muito úteis para garantirmos uma
inserção segura e com menor impacto negativo possível ao bebê. Lembrando,
que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) apregoa que o papel da educação infantil
é complementar à ação da família.
Conclusão da aula
Atividades de Aprendizagem
30
Aula 3 – O brincar do bebê
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O brincar como direito infantil e fenômeno cultural
32
especificidades. O Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016) preconiza
que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão organizar e
estimular a criação de espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o brincar e o
exercício da criatividade em locais públicos e privados onde haja circulação de
crianças.
O brincar é entendido como um direito, no entanto, sabemos que
principalmente nas Instituições de Educação Infantil ele ainda carece de
legitimidade. De acordo com Assis (2010, p. 7), embora a brincadeira seja muito
valorizada pela criança, os professores a consideram como “um recurso de
aprendizagem de conteúdos escolares ou simplesmente uma forma de ocupar o
tempo livre”.
O primeiro aspecto a ser considerado para garantirmos o brincar enquanto
direito da criança é o reconhecimento do seu tempo livre como legítimo,
permitindo que as crianças, em diferentes espaços educativos e contextos
sociais, sejam incentivadas a brincar.
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Quando nos referimos ao brincar como apropriação da cultura, é importante
entendermos o que isso significa. Para o sociólogo e pesquisador norte-
americano Willian Corsaro (2009), as crianças são, ao mesmo tempo, produto e
produtora de cultura, pois elas não apenas reproduzem ou imitam o mundo dos
adultos, mas dele se apropriam criativamente, dando-lhe sentido. O brincar faz
parte dessa intensa forma de produção infantil, que o autor denomina como
culturas da infância. As culturas infantis são, portanto, “um conjunto estável de
atividades ou rotinas, artefatos, valores e ideias que as crianças produzem e
partilham em interação com seus pares” (Corsaro, 2009, p. 34).
As culturas infantis são as formas que as crianças constroem de se
expressar em diferentes linguagens. Quando nos referimos a linguagens,
entendemos como a maneira que usamos para comunicar-nos e expressar-nos,
toda e qualquer forma de comunicação inventada pela humanidade, portanto
uma construção social. Nesse sentido, entendemos a linguagem de uma forma
ampla, que vai além da linguagem verbal, envolvendo todas as formas de
comunicação humana, tais como: a pintura, desenho, poesia, fotografia,
brincadeiras, danças, expressões corporais ou gestuais, entre outras.
34
no entanto, a criança não é um agente passivo, ela é a protagonista dessa ação.
Ela transforma os jogos e brincadeiras, produzindo coisas novas, criando uma
cultura lúdica.
O brincar é próprio da criança, ela nasce com desejo de brincar, com uma
potência para brincar, mas também é uma coisa que se aprende. Se não
ensinarmos algumas formas de brincar que aprendemos, as crianças nunca
conhecerão essas brincadeiras, jogos e canções.
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A criança aprende a brincar pelas interações sociais e, por isso, suas
brincadeiras estão impregnadas de valores, hábitos, formas e conhecimentos do
seu grupo social. O papel do professor, nesse sentido, é o de ampliar esse
repertório da criança, criando espaços, tempos e materiais que possibilitem as
interações e o brincar livre.
Será que as crianças estão brincando na educação infantil? Como podemos
possibilitar o brincar? No caderno de experiências do “Projeto Paralapracá: uma
experiência assim se brinca, do instituto C&A, os autores propõem alguns
indicadores que nos possibilitam analisar como o brincar está sendo organizado
nas instituições de educação infantil:
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Para saber mais sobre esse material acesse o caderno de
orientação assim se brinca projeto Paralapracá do Instituto
C&A.
http://paralapraca.org.br/wp-
Saiba mais content/uploads/caderno_orientacao_assim_se_brinca.pdf
E o bebê brinca?
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Um dos aspectos essenciais para que o bebê construa a sua percepção de
mundo, é ter a autonomia de explorar esse mundo.
Para os bebês, o brincar está intrinsicamente relacionado a explorar o
mundo. O bebê conhece o mundo através de seu corpo, todo o conhecimento é
obtido por meio das experiências sensoriais (visão, audição, tato, olfato e
gustação). Quanto mais o bebê explorar o mundo, maior será o número de
experiências e mais acentuado será o seu desenvolvimento, tanto no aspecto
motor, como no intelectual, emocional e comportamental. Esta força de
exploração do bebê e da criança está ligada à vitalidade da vida, à potência da
criança, ao desejo que ela tem de conhecer o mundo e interagir com ele, dando-
-lhe sentido.
Segundo a Abordagem Pikler, é importante que o bebê se sinta seguro para
experimentar livremente seus movimentos e os objetos para brincar. Isso
significa, como já vimos na aula anterior, que é fundamental o vínculo afetivo
entre o bebê e o professor. Criar e manter uma relação calorosa e responsiva
que demonstre interesse, paciência e aceitação pelo bebê. Esse aspecto é
fundamental para possibilitar que o bebê se sinta seguro em explorar a sala e os
brinquedos ao redor. Se o bebê se sentir seguro e confiante, ele participará de
forma ativa, explorando com todos os sentidos o ambiente ao seu redor.
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Qual é o papel do professor nesse brincar livre?
Fonte: © <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1589/por-que-e-fundamental-que-as-
turmas-de-bercario-tenham-um-professor>. Acesso em: 23/07/2018, às 11h12 (fins
pedagógicos).
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através de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por meio das experiências
sensoriais (visão, audição, tato, olfato e gustação). Se por um lado o professor
compreende que o bebê precisa explorar, experimentar e, assim, conhecer o
mundo; por outro lado, muitas vezes não sabe como organizar ações que
possibilitem a exploração e a experimentação de maneira segura e desafiadora.
Nesse sentido, descrevemos algumas ações que julgamos adequadas para o
desenvolvimento integral do bebê, utilizando o brincar como linguagem.
O cesto dos tesouros é uma proposta que tem como objetivo estimular a
exploração sensorial do bebê. Ela foi criada por Goldschmied e Jackson (2006),
especialistas em cuidados e educação na primeira infância. De acordo com os
autores, o cesto dos tesouros, se for bem planejado, potencializa as
aprendizagens por meio das descobertas que o bebê e a criança faz por si
própria.
As autoras sugerem que “o cesto de tesouros bem abastecido, oferecido por
um adulto atento, pode proporcionar experiências que são interessantes e
absorventes, capacitando o bebê a buscar uma aprendizagem vital para a qual
ele está pronto e ansioso”. (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006, p.115).
O professor precisa selecionar objetos com diferentes cores, texturas,
cheiros e sabores a fim de montar o cesto de tesouros, organizando o espaço de
forma que as crianças tenham livre acesso aos materiais que serão colocados
no centro da sala de referência, permitindo que os bebês se aproximem
livremente e escolham o objeto que quiserem para explorar.
O papel do professor será o de observar e monitorar as crianças garantindo
que todos possam participar, sem interferir nas escolhas. A exploração deverá
ser permitida durante o tempo que o professor considerar que as crianças
estiverem interessadas na proposta. Essa proposta pode ser ofertada aos bebês
várias vezes, durante vários dias, até que o professor perceba que eles perderam
o interesse pelos objetos do cesto. Quando não houver mais interesse pelos
objetos, o professor pode substituí-los e voltar a propor o cesto.
Os itens sugeridos para o cesto de tesouros são:
Objetos naturais: limão, maça, caroço de abacate.
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Objetos feitos de materiais naturais: tapetinho de ráfia, pincel de
pintura.
Objetos de madeira: apito de bambu, colher de pau.
Objetos de metal: molho de chaves, sinos, caneca de metal.
Objetos feitos de couro, têxteis, borracha e pele: bola de golfe, bola
de tênis.
(GOLDSCHMIED, JACKSON, 2006, p. 114).
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Outra canção que os bebês e as crianças pequenas gostam muito é a
música “Indiozinho”. É uma canção curta, simples, onde a letra sugere o
movimento que deve ser feito com os dedos.
42
Figura 11: Contação de história para bebês
Conclusão da aula
43
aprendemos enquanto bricávamos, inclusive, a maneira de nos comportar na
sociedade.
Não poderíamos encerrar esse tema sem mencionar, também, que o
bebê conhece o mundo através de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por
meio das experiências sensoriais, portanto, o bebê necessita de liberdade de
movimento, espaços seguros e aconchegantes para se desenvolver.
Atividades de Aprendizagem
44
Aula 4 – Organização da rotina
Apresentação da aula
Planejamento
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177). Não podemos empreender uma viagem se não sabemos aonde queremos
ir, como a personagem Alice.
Para o profissional que está perdido, qualquer caminho serve. Não
podemos assentar nossa prática pedagógica num espontaneísmo ingênuo, a
criança precisa liberdade para criar, imaginar, explorar, fantasiar, no entanto,
essa liberdade somente é possível se garantirmos espaços, tempos e mateiras
previamente selecionados e organizados. A autonomia de movimento, a
liberdade de exploração e a garantia do brincar jamais devem ser entendidos
como uma prática espontaneísta.
Planejamento pedagógico também é atitude crítica do educador diante de
seu trabalho docente. Por isso, não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como
tal, permite ao educador pensar, revisando, buscando novos significados para a
sua prática docente (OSTETTO, 2000, p. 177).
Um dos aspectos essenciais, que refletem uma atitude crítica do professor
é a compreensão que o pedagógico perpassa todas as ações: limpar, lavar,
trocar, alimentar, colocar para dormir. Tudo isso é pedagógico, não existe
conteúdos melhores ou piores. Quando se planeja a jornada que o bebê e a
criança pequena irão passar na creche, tudo o que for proposto, todas as
mediações que serão realizadas, todas as ações que serão propostas são
pedagógicas.
Atualmente muitos profissionais creem que questões pedagógicas dizem
respeito a trabalhos específicos, como: pintar, colar, aprender os números, entre
outros. O sono, a alimentação, a escovação de dentes, o trocar fraldas, o amarrar
o tênis, tudo isso é conteúdo da educação infantil, portanto, devem englobar o
planejamento.
Segundo Vigotsky (1988), a criança se desenvolve no e com o mundo
numa relação dialética mediada pela atividade, pelos símbolos e pelas outras
pessoas. De acordo com essa perspectiva, planejar é organizar o tempo, o
espaço e materiais, desafiando os bebês e as crianças a construírem relações
significativas entre elas e a cultura que estão inseridas.
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O papel do professor é fazer a mediação entre o legado cultural construído
pela humanidade, desafiando a criança a novas descobertas, ao conhecimento
e a transformação da sua cultura.
Mas, então, o que se planeja? Planeja-se a organização do espaço do
tempo dos materiais e das relações. Planeja-se a rotina.
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crianças devem ser sempre apresentadas para que elas compreendam os
porquês de certas regras, aprendendo também a modificá-las ou criar novas.
A rotina é importante e deve existir, porém, devem ser discutidas,
elaboradas e criadas por todos os interlocutores envolvidos na sua execução.
Nesse sentido, entendemos que a rotina é construída e reproduzida para
organizar e controlar a vida cotidiana. Nessa perspectiva, é possível refletir sobre
novas maneiras de organizar o tempo, o espaço, os materiais e os grupos, e, ao
mesmo tempo, pensar sobre a formas como são proporcionados os encontros
entre as crianças.
O ambiente
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materiais e objetos sempre dizem algo sobre o que pensam as pessoas que
organizam e cuidam desses lugares.
Você sabia que espaço e ambiente são entendidos como dois elementos
diferentes, mas que se compõe? No livro A qualidade em Educação Infantil, a
autora Forneiro explica essa questão. Para ela, o espaço refere-se ao espaço
físico, ou seja, o local para a atividade caracterizado pelos objetos, pelos
materiais didáticos, pelo mobiliário e pela decoração. Enquanto o ambiente
refere-se ao conjunto do espaço físico e às relações que se estabelecem nele
(os afetos, as relações interpessoais entre as crianças, entre as crianças e
adultos, entre as crianças e a sociedade em seu conjunto). (FORNEIRO, 1998,
p. 232).
De acordo com Horn (2013), “os espaços de berçário giram em torno de
quatro princípios importantes: proporcionar um ambiente organizado e ao
mesmo tempo flexível; proporcionar conforto, segurança e ao mesmo tempo
desafios; proporcionar a interação com as diferentes linguagens e proporcionar
o bem-estar das crianças”.
O espaço da educação infantil, nos remete a que criança estamos
falando, a que sujeito queremos formar, a como acontecem as relações dentro
da instituição. Como mencionamos, não existem ambientes neutros, os
ambientes são possibilidades ou limitações; eles nos revelam que lugar ocupam
os bebês e as crianças no processo pedagógico.
São sujeitos criativos, ricos em potencial, intérpretes do mundo e
protagonistas de suas histórias?
São pequenos seres em estado de transição, incompletude e
dependência?
Existem marcas dos bebês e das crianças na instituição?
A sala de referência dos bebês e das crianças pequenas potencializa as
explorações, os desafios e possibilita a descoberta de novas sensações,
odores, formas, cores e sons?
As paredes retratam os processos de criação dos bebês e das famílias?
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Trata-se de um ambiente adequado com adultos responsivos, que colhem
os bebês nas suas necessidades e possibilitam o desenvolvimento de
habilidades para estes se expressarem adequadamente, interpretarem e
regularem suas emoções, bem como, para entenderem as emoções dos outros.
O ambiente conta a história da turma, ele retrata a caminhada, os
vínculos estabelecidos, as conquistas celebradas e as aprendizagens
construídas, por outro lado, pode nos revelar a falta de norte, as angústias, o
despreparo do profissional, inclusive, a pouca importância atribuída ao professor.
No caderno de orientação Assim se organiza o ambiente, do Projeto
Paralapracá, do Instituto C&A, os autores sugerem algumas considerações na
organização dos ambientes:
Acessibilidade/Autonomia: espaços que permitam as crianças a
realizarem tarefas sozinhas de forma independente.
Identidade: ambientes organizados com objetos trazidos de casa pelas
crianças, tais como: brinquedos, livros, fotos etc. e objetos
confeccionados por elas na escola.
Movimento: ambientes com espaços amplos e seguros para a livre
movimentação das crianças.
Estimulação dos sentidos: ambientes que provoquem a curiosidade e
a experimentação de diferentes sensações através das cores, formas,
sons, aromas, sabores e texturas.
Interação: espaços coletivos de relações entre crianças e adultos,
possibilitando a troca de experiências e a vivência de diferentes
desafios.
Segurança: ambientes e móveis adequados ao número e ao tamanho
das crianças, iluminados, arejados e higienizados; materiais
resistentes e de fácil limpeza; tomadas e fios elétricos fora do alcance
das crianças.
50
equipado de uma determinada maneira (NERI e VECCHI, p. 19 apud ZABALZA,
1998, p. 241).
Os materiais
Por materiais queremos indicar tudo aquilo com o que se faz algo, que
serve para produzir, para inventar, para construir, deveríamos falar de tudo o que
nos rodea, desde a água até a terra, das pedras aos animais, do corpo às
palavras; incluindo as plantas e as nuvens. E, portanto, os vestidos, os
brinquedos, os livros. Porque tudo isso pode ser material para construir, nas
mãos de uma criança que vive em um ambiente onde inventar é lícito e bem mais
desejável (Tonucci, 2008).
Essa compreensão ampla sobre o que são materiais é extremamente
pertinente quando tratamos de bebês e crianças pequenas. Se observarmos os
bebês, podemos entender perfeitamente como ele interage com o mundo. O
bebê brinca com o corpo inteiro, cheira, toca, apalpa, prova, escuta o novo ruído
e interage com tudo o que lhe cerca. Ele fica encantado com a pedra, com a
água, com a tampa da panela, com a esponja, com a grama, com a terra. O bebê
descobre o mundo através de seus órgãos sensoriais.
Nesse sentido, os materiais que devem compor os ambientes da instituição
que atendem às crianças pequenas devem ser criteriosamente selecionados,
oportunizando às crianças o estar no chão, o arrastar-se, o engatinhar, o estar
com os outros e interagir com esses diferentes materiais. A organização desses
espaços e desses materiais são importantes mediadores da aprendizagem e
devem propiciar desafios, descobertas e possibilidades para que os bebês e as
crianças pequenas possam estabelecer variadas interações.
Um estudo da organização dos espaços internos, produzido pelo Ministério
da Educação, na consultoria da professora Maria da Graça Souza Horn, traz
algumas alternativas para a organização das salas de referência, do solário, sala
de repouso, fraldário dos bebês e das crianças bem pequenas. A seguir, segue
uma relação de materiais sugeridas pela professora Maria da Graça Souza Horn.
51
Móbiles que se movimentem com facilidade, berços ou catres de tamanho
adequado ao espaço disponível, objetos de conforto como bonecos e bichos de
pano (laváveis).
52
Objetos para entrar
Caixas.
Cabanas.
Túneis.
Livros
Livros de pano.
Livros de borracha.
Livros de papel de literatura, poesia, parlendas, rimas, entre outros.
Materiais grafoplásticos
Tintas com anilina comestível.
Tinta guache.
Massa caseira para modelar.
Pincéis de diferentes espessuras.
Rolos para pintar.
Giz de cera de espessura grossa.
Papéis de diferentes tipos e tamanhos.
53
Os usos dos tempos
O papel do professor
54
O que diz a legislação sobre a formação de docentes
para atuar na Educação infantil?
Importante
55
refletir sobre sua a atividade docente, a troca entre os colegas da mesma
profissão e o pertencimento a uma comunidade profissional.
Ser professor de bebês é uma especialidade diferente dos demais
profissionais da educação. A ação pedagógica com os bebês e com as crianças
pequenas exige uma docência basicamente fundamentada na relação e na
interação humana. Portanto, os profissionais necessitam de uma formação
específica. A essência desse trabalho precisa ser alicerçada em um
conhecimento profundo das especificidades de uma criança pequena. É
necessário que quem trabalhe com a pequena infância tenha uma postura de
pesquisador do universo infantil.
Ter competência teórica é muito importante para que o profissional
consiga fundamentar a sua prática cotidiana. No entanto, somente a
competência teórica parece não ser suficiente para sustentar a prática docente
com os bebês. Além das competências técnicas que servem de base para a
ação, é importante que o profissional que trabalha com bebês tenha capacidade
de escuta e de observação, porque os bebês se revelam de forma sutil.
A capacidade de conectar-se com o bebê é fundamental para poder
organizar os tempos e os espaços, de forma a atender às suas necessidades.
Os bebês dependem de adultos responsivos, que os acolham nas suas
necessidades e que os possibilitem desenvolverem habilidades para se
expressarem adequadamente, interpretarem e regularem suas emoções.
56
Nesse sentido, Oliveira‐Formosinho (2002, p. 48) apresenta algumas
dimensões da ação profissional que permitem caracterizar a singularidade
profissional dos professores da Educação Infantil, as quais elencamos, a seguir:
1) as características da criança pequena como: globalidade,
vulnerabilidade e dependência da família;
2) das características das tarefas desempenhadas pelos professores,
das quais resulta uma interligação entre educação e cuidados;
3) da necessidade de estabelecer uma rede de interações alargadas
com as crianças, as famílias e os diferentes profissionais das
instituições;
4) da integração e interação, “entre o conhecimento e a experiência,
entre as interações e a integração, entre os saberes e os afetos”.
Conclusão da aula
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Ser professor de bebê é acolher, sustentar e desafiar as crianças para
que elas participem de um percurso de vida compartilhado, de forma ativa e com
encantamento. Como professor, o planejamento é fundamental na organização
das rotinas estabelecidas. Organizar os tempos, espaços e materiais é um dos
caminhos para poder constituir uma prática pedagógica com intencionalidade
educativa.
Atividades de Aprendizagem
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Referências
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