A Organização Mundial da Saúde (OMS) Para os meninos, o pico de crescimento
define adolescência o período entre os 10 e 20 coincide com a fase adiantada do anos incompletos. Entretanto, o Estatuto da desenvolvimento dos genitais e pilosidade Criança e do Adolescente (ECA) define pubiana, momento em que também ocorre adolescentes entre 12 e 18 anos. O começo da desenvolvimento acentuado de massa magra e adolescência é marcado pelo início da muscular. A OMS recomenda para estudos de puberdade, e o final da adolescência, tanto na rastreamento populacional, a utilização de dois teoria como na prática, não permite critérios eventos de maturação para cada sexo, um inicial rígidos . como marcador do estirão do crescimento e outro A adolescência diz respeito à passagem da indicando que a velocidade máxima de infância para a idade adulta, enquanto a crescimento já ocorreu. Para o sexo feminino, o puberdade refere-se às alterações biológicas que marcador inicial do estirão do crescimento é a possibilitam o completo crescimento, presença do broto mamário (estágio M2 de desenvolvimento e maturação do indivíduo, mamas) e, para indicar que a velocidade máxima assegurando a capacidade de reprodução e já ocorreu, a menarca. Já para os meninos o preservação da espécie. O crescimento e marcador inicial do estirão é o aumento da desenvolvimento são eventos programados genitália (estágio G3) e para indicar a velocidade geneticamente, porém, fatores inerentes ao máxima, o estágio quatro ou cinco de genitália indivíduo e fatores ambientais podem induzir e/ou a mudança da voz. Para avaliação dos modificações neste processo. A puberdade, adolescentes a respeito do crescimento e considerada uma etapa inicial ou biológica da desenvolvimento puberal é necessário saber, com adolescência, caracteriza-se pela ocorrência de precisão a altura; o peso; e a maturação sexual dois tipos de mudanças no sistema reprodutivo (BRASIL, 2008). sexual . A atenção à saúde do adolescente tem sido Em primeiro lugar, as características sexuais um desafio para a Organização dos Serviços de primárias que nas “meninas” referem-se às Saúde, por tratar-se de um grupo social em fase alterações dos ovários, útero e vagina; e nos de grandes e importantes transformações “meninos”, testículos, próstata e glândulas psicobiológicas articuladas a um envolvimento seminais, sentem marcantes mudanças social e ao redimensionamento da identidade e estruturais. Em segundo lugar, acontece o dos novos papéis sociais que vão assumindo desenvolvimento das características sexuais (AYRES; FRANÇA JÚNIOR, 1996). secundárias: nas “meninas”, o aumento das Com as transformações ocorridas nessa fase mamas, aparecimento dos pelos pubianos e surgem diversas características e peculiaridades, axilares; nos “meninos”, o aumento da genitália, como alterações na relação de dependência com pênis, testículos, bolsa escrotal, além do a família, escolha de um projeto de vida, inserção aparecimento dos pelos pubianos, axilares, no mercado de trabalho, além de importantes faciais e mudança do timbre da voz. mudanças físicas e mentais, articuladas a uma Paralelamente à maturação sexual são reorganização de identidade e papéis sociais. Em observadas outras mudanças biológicas, como as decorrência dessas características, que podem alterações no tamanho, na forma, nas dimensões acarretar grandes mudanças no comportamento e na composição corporal (quantidade da massa dos adolescentes, percebe-se o quanto essa fase muscular e tecido adiposo) e na velocidade de deve ser valorizada e tratada de modo especial, crescimento, que é o chamado estirão puberal . pois é um grupo de grande vulnerabilidade, com A composição corporal do adolescente oscila distinta exposição a fatores de risco que podem em função da maturação sexual. A idade da resultar em algum tipo de agravo (Patrício et al, menarca representa o início da desaceleração do 2009). crescimento que ocorre no final do estirão puberal, e o maior acúmulo de tecido adiposo. população adolescente vive uma condição social A maioria dos problemas de saúde que que é única: uma mesma geração; num mesmo acometem essa população está diretamente momento social, econômico, político e cultural do relacionada a questões que podem ser país e do mundo. Ou seja, a modalidade de ser prevenidas em nível primário, como gravidez na adolescente e jovem depende da idade, da adolescência, aumento do consumo de álcool e geração, da moratória vital, da classe social dos outras drogas, causas externas, como acidentes marcos institucionais e de gênero presentes em automobilísticos, homicídios e suicídios, infecções dado contexto histórico e cultural (MARGULIS; sexualmente transmissíveis (IST), dentre outros URRESTI, 1996; ABRAMO, 2005). (PATRÍCIO et al, 2009). Nas últimas décadas, houve uma importante Neste sentido, a consulta de enfermagem deve modificação demográfica relacionada à queda ser fundamentada no processo de interação, da mortalidade infantil e da fecundidade, ao investigação, diagnóstico, educação e aumento da expectativa de vida e aos intervenção, baseada em uma relação de movimentos migratórios e de urbanização. Houve, confiança e empatia, onde o enfermeiro deve ainda, uma desaceleração no ritmo de manter uma postura de compreensão e atenção a crescimento da população adolescente com a todas as informações, queixas e necessidades expectativa de que este segmento continue que levaram o adolescente a procurar esse crescendo. Mesmo com a desaceleração no ritmo atendimento (PATRÍCIO et al, 2009). de crescimento dessa população, hoje, a geração No que tange à privacidade e confidencialidade de adolescentes e jovens entre 10 a 24 anos de deve-se seguir o artigo Art. 52, que prevê manter idade é significativa, representando, no censo de sigilo sobre fato de que tenha conhecimento em 2010, um total de 51.402.821 pessoas – 36,89% da razão da atividade profissional, exceto nos casos população brasileira (BRASIL, 2017). previstos na legislação, ou por determinação Adolescentes constituem um grupo judicial, ou com o consentimento escrito da populacional que exige novos modos de pessoa envolvida ou de seu representante, ou solidificar a saúde. Seu ciclo de vida responsável legal. Conforme o §2º, o fato sigiloso particularmente saudável evidência que os deverá ser revelado em situações de ameaça à agravos em saúde decorrem, em grande medida, vida e à dignidade, na defesa própria ou em de modo de fazer “andar a vida”, de hábitos e atividade multiprofissional, quando necessário à comportamentos, que, em determinadas prestação da assistência (COFEN, 2017). conjunturas, os vulnerabilizam. As vulnerabilidades Nesse sentido, o art. 11, do Estatuto da Criança produzidas pelo contexto social e as e do Adolescente, assegura o atendimento desigualdades resultantes dos processos integral à saúde da criança e do adolescente, por históricos de exclusão e discriminação intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), determinam os direitos e as oportunidades de garantindo o acesso universal e igualitário às adolescentes e jovens brasileiros. Cada sujeito ações e aos serviços para promoção, proteção e nas suas dimensões biológica, psicológica e recuperação da saúde (BRASIL, 1990). sociocultural constitui uma unidade indissociável. Considerando Nota Técnica n. 04, da Nesse contexto, a atenção a adolescentes e Coordenação Geral de Saúde do Adolescente e jovens deve pautar-se na integralidade. Esse do Jovem, sobre o atendimento de adolescentes paradigma imprime o respeito a diversidade e a desacompanhados de pais ou responsáveis: certeza de que, para a promoção de uma vida Recomenda-se às equipes e profissionais de saudável, é preciso, antes de tudo, a inclusão de saúde: todos (BRASIL, 2017). 1. a) sempre encorajar o adolescente a envolver A elaboração de políticas públicas voltadas a família no acompanhamento dos seus para o atendimento dos adolescentes vem se problemas, já que os pais ou responsáveis têm tornando prioridade no Brasil, devido ao aumento a obrigação, legal, de proteção e orientação dessa população e também pela ineficiência dos de seus filhos ou tutelados; programas implantados na realização de 2. b) que a quebra do sigilo, sempre que atividades de promoção de saúde e prevenção possível, seja decidida pela equipe de saúde de agravos (Patrício et al., 2009). juntamente com o adolescente e fundamentada no benefício real para pessoa assistida; c) no caso de se verificar que a comunicação ao adolescente poderá causar maior dano, a quebra do sigilo deve ser decidida somente pela equipe de saúde com as cautelas éticas e legais já mencionadas (BRASIL, 2017). Ponderando as orientações publicadas pelo Ministério da Saúde, nos casos que o adolescente procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) sem o acompanhamento dos pais, ele tem o direito de ser atendido sozinho. No entanto, a equipe poderá negociar com ele a presença dos pais ou responsáveis, se for o caso. A entrevista inicial poderá ser feita apenas com o adolescente, ou junto com a família. De qualquer forma, é importante possuir um momento a sós com o adolescente, que será mais de escuta, propiciando uma expressão livre, sem muitas interrogações, evitando-se observações precipitadas (BRASIL, 2018). A partir da atenção integral à saúde pode-se intervir de forma satisfatória na implementação de um elenco de direitos, aperfeiçoando as políticas de atenção a essa população. Assim, na perspectiva ética, é importante que o profissional de saúde informe ao paciente, inicialmente, os limites que regem o serviço com relação à confidencialidade. Da mesma forma, é importante que a família compreenda que a comunicação e o encaminhamento das questões como adolescente podem ficar prejudicados se houver quebra deste sigilo (BRASIL, 2008). Desse modo, é importante considerar todas as possíveis estratégias para inserção dos adolescentes nas Unidades Básicas de Saúde e sua adesão às ações de prevenção de agravos e de promoção da saúde.
Acompanhamento longitudinal do desenvolvimento físico, cognitivo, auditivo e de linguagem da criança egressa de UTI Neonatal: contribuições da enfermagem inserida em equipe interdisciplinar
Contributo de Fatores Individuais, Sociais e Ambientais para A Decisão de Prosseguir Uma Gravidez Não Planeada Na Adolescência: Um Estudo Caracterizador Da Realidade Portuguesa