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Rio de Janeiro
2016
O BANDOLIM HOJE: QUESTÕES INTERPRETATIVAS E NOTACIONAIS
Por
CDD: 787.84
RESUMO
This work studies mandolin's presence in contemporary music and also musical
notation and performance issues wich arise from the dialog between composers and
mandolin players. The data were collected through scrutiny of the avaiable
bibliography, a survey of one hundred musical pieces composed in the twentieth or
twenty-first century which use the mandolin (in different ensembles, dates and from
several geographical origins), as well as through analysis of mandolin methods from
various historical periods. The research revealed that the mandolin has a weak
presence in contemporary music. Based on the results obtained, considerations were
raised aiming to improve the knowledge of composers about the mandolin and to
allow a more accurate performance by the players. This paper includes a suggestion
of a standard musical notation for the mandolin and guidelines for its performance.
1. APRESENTAÇÃO...................................................................................…....... 09
1.1 Introdução …......................................................................................... …....... 09
1.2 Objeto de estudo …......................................................................................... 10
1.3 Objetivos da pesquisa …................................................................................. 10
1.4. Revisão de literatura …........................................................................ …....... 10
1.4.1 História ….................................................................................…...... 10
1.4.2 Métodos …......................................................................................... 12
1.4.3 Edições .............................................................................................. 13
1.4.4 Trabalhos acadêmicos …................................................................... 14
2. O BANDOLIM …............................................................................................... 15
2.1 Organologia …................................................................................................. 15
2.2 Breve Histórico …............................................................................................ 17
2.3 O bandolim nos séculos XX e XXI …............................................................... 21
2.3.1 Bandolim no Brasil …......................................................................... 24
2.3.2 Repertório …...................................................................................... 27
2.3.3 Questões harmônicas ….................................................................... 28
2.3.4 Questões rítmicas ….......................................................................... 33
2.4 Inferências sobre o cenário atual do bandolim …............................................ 40
4. CONCLUSÕES …............................................................................................. 50
1. APRESENTAÇÃO
1.1 INTRODUÇÃO
Para tanto, o trabalho traçará um histórico do bandolim (com especial atenção para
sua presença na música contemporânea) e levantará propostas de notação para o
instrumento, além da comparar propostas de interpretação de diferentes épocas. A
partir desse cenário, faremos uma sugestão de notação básica, a ser adotada no
curso de graduação em bandolim da Escola de Música da UFRJ e sugerida a
compositores interessados.
1.4.1 HISTÓRIA
Escrito pelo bandolinista inglês Philip James Bone (1873-1964) e lançado em 1914,
The guitar and mandolin: biographies of celebrated players and composers for these
instruments consistiu por muito tempo no mais abrangente material sobre
compositores e instrumentistas relacionados ao bandolim e ao violão. O livro traz
aproximadamente 300 biografias de músicos que já estavam mortos em 1914, pois o
autor considerava que não cabia aos contemporâneos avaliar a importância de seus
colegas. Algumas biografias trazem à luz personagens que tiveram destaque em
suas épocas e foram posteriormente esquecidos.
A mais sólida referência histórica sobre o bandolim está na dupla de livros Early
mandolin (1989) e Classical mandolin (1995), respectivamente de James Tyler e
Paul Sparks e de Paul Sparks. Cobrindo desde os ancestrais medievais e
renascentistas até o início da década de 1990, os autores abordam não só questões
históricas como analisam repertório, métodos, instrumentos e técnica de cada
período.
1.4.2 MÉTODOS
no Projet Pédagogigue (2005), elaborado por Juan Carlos Muñoz para o grupo
Artemandoline, de Luxemburgo.
A esse material veio se juntar Brazilian choro (2010), livro bilíngue (inglês e
português) escrito pela norte-americana Marilynn Mair e o brasileiro Paulo Sá. Trata-
se de um método para bandolim focado nas questões estilísticas do choro, como
acentuação, células rítmicas características, repertório etc.
1.4.3 EDIÇÕES
Um importante guia no início da pesquisa foi Orchestral and chamber excerpts for
mandolin (2007), organizado por Joseph Brent. Neste livro, o bandolinista norte-
14
2. O BANDOLIM
2.1 ORGANOLOGIA
Instrumento da família dos cordofones (aqueles cujo som é produzido pela vibração
de cordas), o Bandolim tem origens que remontam ao século XII. Apesar da
existência de antepassados orientais mais antigos, como o ud e a tambura, foi da
gittern medieval que se desenvolveram as modernas famílias de cordas dedilhadas.
De seu nome deriva tanto a cítara (através de cittern, cítola), como a guitarra
(através de gyterne, quinterne). Apesar de poucas informações sobre repertório e
afinação, a gittern é importante não só pelo viés morfológico mas, principalmente,
pelo organológico. De várias adaptações e evoluções que o instrumento sofreu, as
mais relevantes para a genealogia do bandolim são a mandore francesa e as
espanholas bandúrria e vandola (que em terras portuguesas teve o “v” trocado pelo
“b”). Mas foi na Itália que chegou à sua forma mais reconhecida, derivando da
mandola, instrumento rastreável em documentos do século XVI. O nome italiano,
mandolino, vem do formato semelhante a uma amêndoa (em italiano, mandorla) da
mandola, e o sufixo diminutivo “ino”. (MOURA, 2011)
Características do instrumento3
4 Estabelecido que o instrumento usa cordas duplas, sempre afinadas em uníssono, vamos nos referir
daqui em diante a cada dupla de cordas apenas como “corda”, para efeito de objetividade.
5 Daqui em diante usaremos o nome usual, em português corrente.
18
Toda essa música foi composta para o Mandolino, o modelo milanês afinado em
quartas e tocado com os dedos. Logo, o idiomatismo do instrumento e o uso de
cordas soltas se perdem na transposição para um instrumento atual, como veremos
a seguir.
Produto claro desse contexto são as peças para bandolim solista de Beethoven
(Ludwig van Beethoven. Bonn, Alemanha 1770 – Viena, Áustria 1827). Compostas
por volta de 1796, em sua juventude, quatro obras chegaram aos dias atuais:
Sonatina em Dó maior, Sonatina em Dó menor, Adágio em Mi bemol maior e Tema e
variações em Ré maior. Associadas a um período do compositor em Praga, essas
peças têm caráter de música doméstica, destinadas aos salões da sociedade e
acompanhadas por instrumento de tecla. Pelo menos uma das peças é dedicada a
Josephine Clary (que logo se tornaria condessa Clam-Gallas). Bandolinista e cantora
amadora, foi aluna de Johann Baptist Kucharz, bandolinista virtuoso que regeu a
primeira apresentação de Don Giovanni (Praga, 1787) e tocou o bandolim na ária
Deh vieni alla finestra.
Foi novamente da Itália que, na segunda metade do século XIX e início do século
XX, veio um impulso no repertório para bandolim. Instrumento popular entre
amadores, que se reuniam em orquestras e grupos chamados de Circoli manolinisti,
foi se aperfeiçoando em construção e técnica. O interesse do público e de
compositores levou ao desenvolvimento de vários instrumentos relacionados, como
a bandola, o bandolocelo e o liuto, que se uniam ao bandolim em trios, quartetos e
formações maiores. Luthierias como a Embergher e a Calace foram responsáveis
por um salto de qualidade na construção dos bandolins e são referência até hoje.
Viena, Áustria 1900 – Palm Springs, EUA 1991) e Anton Webern (Anton Friedrich
Wilhelm von Webern. Viena, Áustria 1883 – Salzburgo, Áustria 1945). Krenek (de
origem tcheca), foi casado com Anna Mahler, filha de Gustav Mahler, e incluiu o
bandolim na ópera Karl V e na Kleine Symphonie. Webern usa o instrumento nas
suas importantes Cinco peças para orquestra, inserindo o bandolim no atonalismo
vienense.
Em 1980 é fundado o grupo holandês Nieuw Ensemble, que conta em sua formação
com um naipe de cordas dedilhadas (bandolim, violão e harpa). Além de se destacar
por suas interpretações de peças de Luciano Berio, Luigi Nono, György Kurtág entre
outros europeus importantes, também promove aproximações com o trabalho de
compositores de outras culturas, como chineses e brasileiros.
escreveu ainda um Concerto para Bandolim e Cordas, estreado e gravado por Joel
Nascimento, a quem o concerto foi dedicado.
Entre os compositores ligados ao grupo que escreveram para bandolim estão: Paulo
Rios (Choro de Estamira op 21, Musica Peba nº2 op 32, Paie y), Alexandre
Espinheira (Olos Milodnab, Oxowusí), Vinícius Amaro (Gigitanas nº 0,5, Mandinga
nº2) e Jean Menezes da Rocha (O conforto apesar do tombo).
Brasília tem forte tradição de choro e é a cidade de origem de uma nova geração de
músicos, da qual o bandolinista Hamilton de Holanda (Rio de Janeiro, 1976) é o
maior destaque. Apesar de sua projeção internacional como instrumentista popular,
Hamilton é formado em Composição na Universidade de Brasília e autor de um
Concerto para bandolim e orquestra.
Na UnB, Hamilton de Holanda foi aluno de Jorge Antunes (Rio de Janeiro, 1942),
figura historicamente relevante na produção de música contemporânea. Antunes usa
o bandolim em suas composições Speculum Brasilis (que já foi interpretada por
Holanda) e Brasil de pé atrás: quatro movimentos de pé. Em seu livro Sons novos
para o piano, a harpa e o violão, procura sistematizar a notação e interpretação de
técnicas estendidas para instrumentos de corda e destaca que “quase todos os
modos de execução aqui estudados para o violão, se aplicam também a outros
instrumentos da mesma família: cavaquinho, bandolim […] etc.” (ANTUNES, 2004,
p. 130)
2.3.2 REPERTÓRIO
Figura 4: ária Deh vieni alla finestra, da ópera Don Giovanni, de W. A. Mozart (c. 1-
8)
7 O tremolo (repetição de uma nota, soando como uma sustentação) é o efeito mais característico da escola
30
notas graves em stacatto), trio ou quartet style (tremolo em três ou quatro cordas,
respectivamente) e o uso de scordatura (afinação diferente das cordas do
instrumento), além do desenvolvimento do uso de blocos harmônicos e a inserção
de virtuosísticos arpejos que possibilitam que o bandolim se faça compreender
harmonicamente com eficiência, mesmo sem instrumentos acompanhadores (Figura
5).
Figura 5: Prelúdio nº1, para bandolim solo, de Raffaele Calace (c. 15-30).
Esse período coincide com a crise da música tonal mas não reflete esse momento
histórico. Da mesma forma, essas inovações não tiveram o devido impacto fora do
círculo de compositores bandolinistas. Podemos supor que não havia uma
proximidade entre os compositores de vanguarda e esse movimento, em muitos
aspectos amador. (Figura 6)
Figura 6: IV das Cinco peças para orquestra, de Anton Webern (parte do bandolim).
Figura 11: Gigitanas nº0,5 (Frenesia (miniatura)), de Vinícius Amaro (c. 16-21).
33
Segundo Joel Lester, no início do século XX o ritmo sofreu uma revolução tão
profunda quanto a harmonia e a tonalidade. O processo da chamada emancipação
da dissonância, característico do fim do século XIX e início do XX, foi acompanhado
por uma libertação do conceito de pulso regular e uma desestabilização do sistema
métrico na música. Os compositores nunca foram tão específicos em relação a
indicações de tempo. Além de precisas determinações metronômicas, foram
utilizadas variações de tempo meticulosamente definidas. (LESTER, 1989)
Ainda segundo o autor, na ópera Wozzeck, Alban Berg lança mão de sistemas de
proporção de tempo para facilitar a transição entre trechos. Já o norte-americano
Charles Ives utiliza um sistema semelhante, aliado à poliritmia. Elliott Carter, outro
compositor norte-americano, levou adiante o uso de poliritmia ligada a mudanças
fracionárias de tempo e utilizou a modulação métrica (uma mudança de tempo, e
34
Figura 12: O Rouxinol, Marcha chinesa (trecho), Igor Stravinsky (Orchestral and
chamber excerpts for mandolin, Lulu).
Figura 13: Agon, Gailliarde (trecho), Igor Stravinsky (Agon, Boosey & Hawkes).
Arnold Schoenberg, cujo uso do bandolim já foi mostrado na Figura 9, volta a utilizar
o instrumento em Vier Stücke op. 27 (1925) para coro misto, bandolim, clarinete,
violino e violoncelo, baseada no mesmo texto que Mahler utilizou em sua Canção da
Terra. Observando a parte do bandolim, percebemos que Schoenberg agrupa as
36
notas não de acordo com a proposição da estrutura métrica, mas pelo que Winold
chama de gesto rítmico, indo além da unidade métrica e mesmo ultrapassando
barras de compasso (Figura 14).
Figura 14: Vier Stücke op. 27 (trecho), Arnold Schoenberg (Orchestral and chamber
excerpts for mandolin, Lulu).
Ancient voices of children, de 1970, faz parte de um ciclo de música vocal de George
Crumb (Charleston, 1929) baseado no poeta espanhol Federico García Lorca.
Segundo o compositor, os instrumentos para esta peça (que inclui voz, oboé,
bandolim, harpa, piano elétrico e percussão) foram escolhidos por suas
potencialidades timbrísticas e recursos especiais são usados para aumentar sua
expressividade. No caso do bandolim, os pares de corda precisam ser afinados com
um quarto de tom de diferença em Dances of the ancient earth e em Ghost dance é
tocado com uma palheta de metal e utilizando um tubo de vidro (técnica conhecida
como slide ou bottle-neck). Além dessas técnicas, destacamos a ausência de barras
de compasso na peça inteira, fazendo com que a interpretação seja baseada no
gesto rítmico, se apoiando também no texto (Figura 16).
38
Figura 16: Ancient voices of Children, Ghost Dance, George Crumb. (Ancient voices
of Children, C. F. Peters Corporation)
Em 1997, Elliott Carter (Manhattan, 1908 – Nova Iorque, 2012) dedicou a peça
Luimen ao Nieuw Ensemble. Luimen apresenta o que Winold classifica como
Padrões duracionais não usuais no ambiente de estruturas métricas do Período da
Prática Comum. Em um compasso quaternário, o compositor sobrepõe subdivisões
como na Figura 17 (o sistema superior corresponde ao bandolim e o inferior ao
violão).
Figura 17: Luimen (trecho), Elliott Carter (Orchestral and chamber excerpts for
mandolin, Lulu).
40
Na maior parte do repertório analisado, fica claro que o bandolim é usado para
evocar um sentimento nostálgico, da música popular de serenatas (sejam elas
italianas, brasileiras ou austríacas), ligado ao seu passado de instrumento
doméstico, próprio para saraus e serenatas e à estigmatização da técnica do
tremolo onipresente.
3. INTERPRETAÇÃO E NOTAÇÃO
3.1 DIVERGÊNCIAS
Enquanto algumas publicações procuram criar sua própria bula, outras têm o
cuidado de procurar uma linguagem comum. Giuseppe Pettine em seu Duo Primer
avisa que “prefiro essa notação entre tantas outras porque a maioria da música para
bandolim está escrita com ela”8 (PETTINE, 1909, p. 3).
A editora alemã Schott inclui em suas publicações para bandolim uma completa
“Explicação dos símbolos para Bandolim”, independentemente de quais sejam
usados na peça em particular. Outras editoras não são tão cuidadosas. A compilação
Mel Bay presents Mandolin Classics (1986) reúne um bem selecionado repertório
composto para bandolim em ordem cronológica e com informações biográficas dos
compositores. No entanto, no prefácio se esquiva de uma orientação consistente
com instruções como “essas escolhas pertencem ao indivíduo e expressam sua
individualidade”, “muitos dos grandes tocam 'errado'” e, finalmente, “se uma técnica
funciona bem para você, provavelmente está certa para você”9 (1986, p. 4). Ainda
mais confusa é a Master anthology of mandolin solos (2000) (livro acompanhado de
dois cds) da mesma editora que reúne 55 peças apresentadas por 49 intérpretes
(muitas vezes composições próprias) e cada colaborador parece usar seu próprio
8 “I use this signs in preference of all the others because the greatest quantity of the mandolin music is marked
with them”.
9 “Such things properly belong to the individual, who can then express his individuality through distinctive
choices”
“Many of the greats do it 'wrong'”
“If a technique works well for you, it is probably right for you.”
43
Figura 18: notação de tremolo no século XVIII. Sugerida por Michel Corrette (1772).
A era do tremolo
Grande parte do repertório desses grupos amadores era adaptado de peças vocais
de sucesso da época. Além disso, o referencial de instrumento de corda do período
é o violino. Assim, com a necessidade de conseguir maior sustentação de som, foi
preciso “buscar subsídios técnicos no universo do violino e adaptar um pouco do
46
brilho violinístico à realidade do bandolim” (SÁ, 2005, p. 69). O tremolo passa a ser
parte essencial da técnica bandolinística, sendo executado com precisão e
preocupação com o número exato de palhetadas em cada nota.
Enquanto alguns autores da época sugerem que somente notas mais curtas do que
uma semínima não sejam tocadas com tremolo, outros usam a ligadura para indicar
seu uso. Mas em certo momento o recurso é tão consolidado como o “natural” do
instrumento, que chega a se usar o stacatto como uma notação para apontar em
que notas não fazer o tremolo (Figura 19).
Figura 19: notação de tremolo no período romântico italiano, citada por Paul Sparks
em Classical Mandolin (1995)
Estudiosos como Paul Sparks e Juan Carlos Muñoz consideram que a sonoridade
exagerada da escola italiana, com o tremolo onipresente, foi responsável por um
declínio do bandolim, tanto no seu conceito entre compositores e público quanto no
tocante à preocupação técnica com uma sonoridade mais trabalhada. “Todos deviam
fazer tremolo mas não se preocupavam com a beleza do som, com a forma de
frasear uma determinada passagem, ou com articulação”12. (MUÑOZ, 2005, p10.).
Contemporaneidade
Figura 21: notação brasileira de tremolo. Sugerida por Afonso Machado no Método
do bandolim brasileiro.
Seja como ornamento, forma de simular uma nota longa ou colorido timbrístico, o
tremolo é um recurso importante historicamente, presente em todos os períodos e
gêneros associados ao bandolim. No entanto, a notação ainda é confusa e não
padronizada.
conseguir um legato.
O documento procura usar uma linguagem clara, ser objetivo e focar em aspectos
específicos do instrumento. Seu propósito é facilitar o entendimento entre
compositores e instrumentistas, propondo um consenso na notação e na
interpretação e apresentando os recursos do bandolim. A versão final da proposta
será disponibilizada na forma de um livro digital.
50
4. CONCLUSÕES
Carlos Almada (Carlos de Lemos Almada - Paraíba do Sul, 1958) é professor adjunto
da Escola de Música da UFRJ, doutor e mestre em Música pela UNIRIO. Como
compositor teve diversas obras apresentadas em edições da Bienal de Música
Brasileira Contemporânea, bem como registradas em CD´s pela gravadora Ethos
Brasil. Atua também na música popular como arranjador, com inúmeros trabalhos
gravados recentemente. É pesquisador com vários artigos publicados em periódicos
acadêmicos, tendo apresentado comunicações nos quatro últimos congressos da
ANPPOM, a partir de suas pesquisas. É autor dos livros Arranjo (Editora da
Unicamp, 2001), A estrutura do choro (Da Fonseca, 2006), Harmonia funcional
(Editora da Unicamp, 2009) e Contraponto em Música Popular (Editora da UFRJ,
2013).
Entre 1998 e 2012 publicou pela editora americana MelBay uma série de 12 livros
sobre música popular brasileira, dentre os quais Brazilian Mandolin (2003), escrito
em parceria com Flávio Henrique Medeiros. A obra apresenta 18 peças de diferentes
gêneros brasileiros, utilizando progressivamente recursos do instrumento (como
mudanças de posição, tremolo, arpejos etc) além de uma apresentação do
instrumento no Brasil e a biografia de bandolinistas de destaque. A ligação de Carlos
Almada com o bandolim vem da adolescência, quando, pelo interesse em choro,
chegou a tocar amadoristicamente o instrumento. O compositor utiliza o bandolim
em diversas peças, conforme citado neste trabalho, principalmente por sua
proximidade com a Camerata de Cordas Dedilhadas da UFRJ.
Son Lemos (Francisco Wellison Rabelo Lemos – Morada Nova, 1987) é licenciado
em Música pela Universidade Federal do Ceará e cursa o Bacharelado em Bandolim
51
pela UFRJ desde 2015, também estudou com bandolinistas como Jorge Cardoso e
Carlinhos Patriolino. Além de se apresentar profissionalmente como bandolinista, é
professor de violão, percussão e musicalização infantil. Son Lemos vem se
destacando recentemente pelo trabalho de divulgação da obra de Luperce Miranda,
virtuose pioneiro do bandolim brasileiro.
A questão da articulação já tinha sido trazida à tona por Paulo Sá, no artigo de 2012
Palheta e articulação no bandolim: uma contextualização para compositores,
arranjadores e instrumentistas. Nele, o autor destaca a articulação como um dos
aspectos pouco conhecidos pelos compositores contemporâneos que escrevem
para bandolim.
Não por acaso, tanto Carlos Almada quanto Son Lemos chegaram ao bandolim
através do interesse pelo choro, o que acreditamos ser um padrão para músicos
brasileiros. Conforme já notado, a música popular não tem como objetivo uma
notação precisa, logo é comum a falta de familiaridade dos bandolinistas de prática
popular com uma indicação mais precisa em aspectos normalmente deixados à
escolha do intérprete, como ornamentação, articulação, tremolo, dinâmica,
mudanças de timbre etc.
52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMADA, Carlos; MEDEIROS, Flávio. Brazilian Mandolin. Pacific: Mel Bay, 2003.
ANTUNES, Jorge. Sons novos para o piano, a harpa e o violão. Brasília: Sistrum
Edições Musicais, 2004.
AONZO, Carlo et al. Master antology of mandolin solos. Pacific: Mel Bay, 2000.
BRENT, Joseph (Org.). Orchestral and chamber excerpts for mandolin. Lulu,
2007.
CALACE, Raffaele. Metodo per mandolino. Napoli: Edição do autor, sem data.
CHEREDNIK, Ross; EDISON, Ken (org). Mel Bay presents Mandolin Classics.
Pacific: Mel Bay, 1986.
ESCHILIMAN, Ted. Getting into jazz mandolin. Pacific: Mel Bay, 2008.
MAIR, Marilynn; SÁ, Paulo. Brazilian choro. Pacific: Mel Bay, 2010.
SPARKS, Paul. The classic mandolin. Nova Iorque: Oxford University Press, 1995.
SPARKS, Paul; TYLER, James. The early mandolin. Nova Iorque: Oxford University
Press, 1989.
violinos 1 e 2, viola,
violoncelo e
contrabaixo.
Allant...vers Takashi Ogawa 1960 Japão 1996 Bandolim e violão
Akrostichon- Unsuk-Chin 1961 Coréia do 1991 Flauta, oboé, clarinete,
Wortspiel Sul percussão, bandolim,
harpa, piano, violino,
viola, baixo e soprano
solista
Ancient voices of George Crumb 1929 EUA 1970 Soprano, garoto
children soprano, oboé,
bandolim, harpa, piano
elétrico e percussão
Aphorismen Marlo Strauss 1957 Alemanha Bandolim solo
Be-bop tango Frank Zappa 1940-1993 EUA Originalmente escrita
para sintetizador, re-
orquestrada para grupo
de câmara por Ali
Askin.
Boîte à musique Alexandros 1965 Grécia Bandolim I e II,
Markeas bandola, violão e
contrabaixo
Brasil de pé Jorge Antunes 1942 Brasil 2010 Flauta, clarinete-baixo,
atrás: quatro bandolim, violão,
movimentos de harpa, percussão,
pé violino, viola,
violoncelo e
contrabaixo.
Burlesken Marlo Strauss 1957 Alemanha Bandolim solo
Butterfly Luca Iacono Itália Ottavino e bandolim.
Cabriolar Azael Neto 1986 Brasil 2013 Bandolim e violão ou
60
piano
Cantilena Júlio Reis 1863-1933 Brasil 1926 Bandolim e piano
(data
prováv
el)
Caracole Régis Campo 1968 França 2004 Bandolim solo
Carillon, Hans Werner 1926-2012 Alemanha 1974 Bandolim, violão e
récitatif, masque Henze harpa
Charmand op. Dimitri Nicolau 1946-2008 Grécia Bandolim, violão e
95 harpa
Chorata nº1,nº2 Carlos Almada 1958 Brasil 2015 Cavaquinho, bandolim,
e nº3 requinto, viola caipira,
violão e violão sete
cordas
Choro de Paulo Rios Filho 1985 Brasil 2009 Soprano, clarinete-
Estamira baixo, bandolim,
violão, percussão (dois
pratos, dois wood-
blocks, dois bongôs,
dois atabaques),
soprano, violino (com
uso da voz), viola,
violoncelo e
contrabaixo
Ciclorama Pauxy-Gentil 1963 Brasil 1991 Bandolim e violão
Nunes
Cinco salmos Claudio Spies 1925 Chile Soprano, tenor e grupo
instrumental
Citrons éclatés Ivan Bellocq 1958 França 2012 Bandolim solo
du silence
Concerto para 8 Roberto Gerhard 1896-1970 Espanha
61
glockenspiel, teclados,
celesta, duas harpas,
bandolim, violinos I e
II, violas, violoncelos e
contrabaixos (com
corda Dó grave)
percussão.
Juvénile Marc Eychenne 1933 Argélia 2000 Quatro bandolins,
symphonie bandola, violão e
contrabaixo
Kleine Sonatine Fritz Pilsl 1933 Bandolim e violão
La ronde André Bon 1946 França 2010 Quatro bandolins, duas
bandolas, dois violões
e contrabaixo.
Le grande György Ligeti 1923-2006 Hungria 1975- Ópera com três flautas,
macabre 1977 picollo, três oboés,
oboé d'amore, corne
inglês, três clarinetes,
três fagotes, quatro
trompas, quatro
trompetes, um
trompete baixo, três
trombones, tuba baixo,
três gaitas cromáticas,
cravo, celesta, piano,
piano elétrico, órgão
elétrico, órgão Regal,
harpa, bandolim, três
violinos, duas violas,
seis violoncelos, quatro
baixos (dois com corda
Si), tímpano e três
percussionistas
(incluindo xilofone,
buzinas de carro,
caixas de música,
campainhas, tamborim,
64
baixo, triângulo,
chichote, woodblock,
claves, castanholas,
apitos diversos, folha
de papel, sacola de
papel, sons de pato,
leão e outros)
Les 7 péchés Daniel Hue 1949 França 2010 Bandolim solo
capitaux
Luimen Eliott Carter 1908-2012 EUA 1997 trompete, trombone,
vibraphone, bandolim,
violão e harpa
Mandoline David Lahuerte 1970 França Bandolim I e II,
Project bandola, violão,
contrabaixo
Marinier Xavier Camino 1964 México Bandolim (ou pipa),
violoncelo e violão
Miguel Paulo Sá 1962 Brasil 1999 Bandolim solo
Moses und Aron Arnold 1874-1951 Áustria 1930- Ópera com três flautas
Schoenberg 1932 (segunda e terceira
dobradas por picollo),
três oboés, corne
inglês, três clarinetes
(terceiro dobrado por
clarinete sopranino),
clarinete-baixo, três
fagotes (terceiro
dobrado por contra-
fagote), quatro
trompas, três
trompetes, três
65
trombones, tuba-baixo,
percussão diversa, dois
bandolins, celesta,
piano, harpa e cordas.
Multiples Pierre Boulez 1925-2016 França 1970 Flauta, oboé, trompete,
trombone, percussão,
harpa, celesta, piano,
basset horn, címbalo,
bandolim, violão,
violas e violoncelo
Música Peba Paulo Rios Filho 1985 Brasil 2011 Flauta, oboé, clarinete,
bandolim, violão,
piano, percussão,
violino, violoncelo,
contrabaixo.
Nos tempos do Ricardo 1939 Brasil 1996 Violão, bandolim,
bonde Tacuchian acordeão, piano,
guitarra baixo e
percussão leve.
Nov Christian Lauba 1952 Tunísia 2013 Bandolim solo
O conforto Jean Menezes da 1987 Brasil Flauta, clarinete,
(apesar do Rocha saxofone, violino,
tombo) violoncelo e bandolim.
Olos milodnab Alexandre 1972 Brasil 2013 Bandolim solo
Espinheira
Omaggio a Javier Jacinto 1968 Espanha 2003 Flauta, violão,
Berio bandolim, marimba,
violino e violoncelo
On Gaku Gordon Kerry 1961 Austrália 1987 Bandolim solo
Opus twelve Joel Hobbs 1963 EUA 2012- Ciclo de peças
2013 incluindo bandolim
66
violinos I, II e III,
violoncelo,
contrabaixo.
O compositor indica
que o tar pode ser
substituído por violão
ou bandolim (como é
mais frequente)
Pinsez Hiroya Miura Japão 2002 Bandolim, piano,
clarinete e violoncelo
Pli selon pli Pierre Boulez 1925-2016 França 1959– Soprano, flauta, oboé,
1962 clarinete, clarinete-
baixo, fagote,
saxofone, trompa,
trompete, trombones,
trombone baixo, sete
percussionistas, piano,
harpa, violão,
bandolim, violino,
viola, violoncelo,
contrabaixo
Porta retratos Cristiano 1977 Brasil 2011 Dois bandolins, violão,
Nascimento violino I e II, viola,
violoncelo e
contrabaixo.
Primavista Celso Ramalho 1976 Brasil 2010, Bandolim solo.
revisa
da/am
pliada
em
2015
68
Solar dust – Ian Shanana 1962 Austrália 1988 Bandolim solo (com
Orbits and amplificação, se
Spirals necessário)
Sonatina para Roberto Macedo 1959 Brasil 2012 Bandolim e piano
bandolim e
piano
Sonata para Ernesto 1970 Brasil 2014 Bandolim e piano
Bandolinho e Hartmann
Piano
Sonate Marc Eychenne 1933 Argélia 1988 Bandolim e piano
Speculum Jorge Antunes 1942 Brasil 2005 Bandolim, clarinete,
Brasilis – piano, quarteto de
Música cordas, Synthi A,
eletroacústica e Mac G4/GRM-Tools,
chorinho luzes, imagens e cd
com sons eletrônicos
pré-gravados
Spider web Cédric 1978 Bandolim I e II,
Despalins bandola, violão,
mandocello e
contrabaixo
Sting Michael 1958 Austrália 1987 Bandolim solo
Smetanin
Suíte Dimitri Cervo 1968 Brasil 2016 Flauta, oboé, clarinete,
concertante bandolim solista,
violinos I e II, violas,
violoncelo e
contrabaixo
Suíte Família Pedro Madeira 1988 Brasil 2014 Bandolim, cavaquinho,
violão sete cordas,
violino I e II, viola,
72
contrabaixo
Suíte Retratos Radamés 1906-1988 Brasil 1957- Bandolim solista
Gnatalli 1958 acompanhado de grupo
de choro (violões,
cavaquinho e pandeiro)
e orquestra de cordas
Tai chi Vincent Beer- 1982 França Bandolim I e II,
Demander bandola, violão,
contrabaixo e
percussão (pau de
chuva, prato, caixa,
crotales, glockenspiel,
triângulo, woodblock e
sino de vento)
Tombeau à R. Vincent Beer- 1982 França 2003 Bandolim solo
Calace Demander
Trio Hans Werner Harpa, violão e
Henze bandolim
Two mechanical Antonio Celso 1962 Brasil 2009 Flauta, piccolo, oboé,
birds and a Ribeiro clarinete, bandolim,
melancholic violão, harpa, piano,
cage violino, viola,
violoncelo, contrabaixo
e percussão (pratos, hi-
hat, tam-tam grande,
bumbo, glockenspiel)
Vintage Alice David del 1937 EUA 1972 Soprano (amplificada),
Tredici orquestra de câmara e
grupo folk (incluindo
bandolim, banjo tenor,
acordeão e saxofones)
73
Von heute auf Arnold 1874-1951 Áustria 1928 Vozes, duas flautas,
morgen op. 32 Schoenberg dois oboés, quatro
clarinetes, dois fagotes,
três saxofones, duas
trompas, dois
trompetes, três
trombones, tuba,
percussão, bandolim,
violão, harpa, piano,
celesta e cordas
Zirma Jean 1982 Brasil 2014 Bandolim e violão
Goldenbaum
74
1. Cordas e afinação
Corda mi ①
Corda lá ②
Corda ré ③
Corda sol ➃
O modelo padrão do bandolim tem quatro pares de cordas duplas afinadas em intervalos de
quinta (cada par em uníssono) a partir do sol abaixo do dó central, com extensão de
aproximadamente três oitavas e uma quarta, podendo variar conforme o modelo do
instrumento.
No Brasil é possível encontrar o bandolim de dez cordas, com um par de cordas grave a mais,
afinado em dó. Instrumentos construídos inspirados em modelos barrocos usualmente
apresentam outro número de cordas e afinação, além de demandarem abordagens técnicas
75
específicas.
1.1 Scordatura
A afinação padrão pode ser alterada segundo necessidades da peça, devendo a afinação
proposta ser indicada no cabeçalho, em pentagrama ou textualmente. Além de afinações em
alturas convencionais é possível o uso de intervalos menores que um semitom entre cada par
ou mesmo em “desafinações” intencionais (Ver 8. Técnicas estendidas). É opção do
compositor se a escrita no pentagrama é feita onde o instrumentista deve tocar ou como
realmente soará na afinação modificada.
FIGURA 2: sustentação
1.3 Harmonia
O bandolim permite que mais de uma nota seja tocada simultaneamente, em cordas contíguas,
respeitando as características de sua afinação. Por exemplo, o sol mais grave não pode nunca
ser tocado junto com o si uma terça acima, pois estão na mesma corda. Ou ainda, se
quisermos montar a tríade maior no estado fundamental isso será possível apenas em Ré ou
Lá, uma vez que a terça menor entre a segunda e a terceira nota da escala exigirá uma corda
solta. Se tentarmos um modelo sem cordas soltas dessa mesma tríade o resultado é muito
pouco prático. A abertura de dedos necessária seria praticamente impossível, exceto nos
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extremos mais agudos do braço (onde a distância entre as casas é menor) ou por músicos com
dedos anormalmente grandes.
2. Mão esquerda
Corda solta 0
Dedo indicador 1
Dedo médio 2
Dedo anelar 3
Dedo mínimo 4
Primeira, segunda posição... I, II ...
Pestana C
Harmônico natural
Harmônico artificial
µ
Vibrato
O som do bandolim é produzido pela ação conjunta dos dedos da mão esquerda no braço do
instrumento com a palheta manipulada pela mão direita (com exceção das cordas soltas, que
dispensam o uso da mão esquerda).
Posições
A colocação da mão esquerda no braço do bandolim é mapeada em Posições. A primeira
posição (dedo indicador na segunda casa do instrumento, médio na quarta, anelar na quinta e
mínimo na sétima) alcança mais de duas oitavas e engloba as cordas soltas. Quando o dedo 1
(indicador) passa para a região antes ocupada pelo dedo 2 (médio) estamos na segunda
posição e assim por diante.
A boa escolha das Posições (e da digitação) pode facilitar a execução de trechos mais
complexos. No entanto, a obtenção de uma boa sonoridade nas Posições mais agudas é mais
custosa. Assim, a definição da Posição tem critérios não só da técnica mas estéticos, por
definir o timbre de um região específica do instrumento.
Pestana
Como em outros instrumentos de cordas, é possível pressionar mais de um par de cordas do
bandolim com um dedo da mão esquerda (normalmente o indicador) colocado
perpendicularmente sobre o braço do instrumento. Pela proximidade das cordas do bandolim,
é possível executar até mesmo uma pestana de dois pares de cordas com a ponta do dedo.
Harmônicos
Os harmônicos naturais são conseguidos tocando levemente um dedo da mão esquerda em
pontos específicos da corda (notadamente acima do 12º traste), enquanto a mão direita faz a
corda soar da forma convencional. Para o harmônico artificial é necessário pressionar uma
nota com um dedo da mão esquerda, enquanto um dedo da mão direita toca a corda doze
trastes acima e a palheta atinge a mesma corda. O compositor pode notar o harmônico em seu
som real ou no ponto do braço onde é produzido.
Vibrato
Não é um elemento usual na linguagem bandolinística. Embora não seja impossível de
realizar, é pouco perceptível, devido à alta tensão das cordas.
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Golpe de palheta de cima para baixo
Golpe de palheta de baixo para cima
.
Golpe de palheta de cima para baixo
ferindo apenas uma corda
.
Golpe de palheta de baixo para cima
ferindo apenas uma corda
___
Movimento contínuo para baixo
___
Movimento contínuo para cima
A mão direita é responsável pela manipulação da palheta, que produz o som ao atacar as
cordas. Apesar de pouco usual, é possível tocar apenas uma das cordas do par. Nesse caso é
necessário cuidado, pois esse recurso dificulta a precisão e velocidade na interpretação.
A palheta pode variar de tamanho, formato, flexibilidade e material (sendo o plástico o mais
comum hoje). Todas essa variações, assim como a da pressão com que a mão aperta a palheta
e o ângulo com a qual ela fere as cordas, modificam o timbre. Usualmente essas escolhas são
feitas pelo intérprete mas nada impede que o compositor faça sua indicação.
Da mesma forma que nos instrumentos de arco, a altura em que a palheta toca as cordas em
relação ao cavalete e ao braço podem ser indicadas com os usais sul tasto e sul ponticello.
4. Articulação
Stacatto .
Pizzicato pizz.
Tocar com dedo da mão direita com dedo
(no lugar da palheta)
Tocar com dedo da mão esquerda m.e.
Dito fermo +
1) Como de regra nos instrumentos de corda, a manipulação da articulação pode ser feita no
gesto de pressionar e levantar o dedo da mão esquerda no braço do instrumento. No caso da
corda solta, para interromper o som é necessário abafar a nota com a mão (esquerda ou
direita).
FIGURA 6
3) Notas em cordas diferentes podem ser sobrepostas com a permanência dos dedos no braço
do instrumento. Muitas vezes esse efeito está implícito em um arpejo mas pode ser indicado
pela ligadura ou pela notação de dito fermo, que determina que o dedo não deve ser levantado.
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4) No caso de notas de valor curto na mesma corda, a ligadura pode ser realizada golpeando a
primeira nota com a palheta e não golpeando a segunda, apenas levantando o dedo (exemplo
1) ou atacando a nota seguinte (exemplo 2).
5) O tremolo (ver 5. Tremolo) pode ser usado para ligar notas. No entanto, é importante
diferenciar a notação do tremolo da ligadura, uma vez que o tremolo pode ser ou não ligado e
a ligadura pode ser executada pelo tremolo ou de outras formas como visto acima.
Pizzicato
O pizzicato no bandolim é obtido encostando levemente a mão direita nas cordas, próximo ao
cavalete, numa simulação do efeito dos instrumentos de arco. Tocar o bandolim com os dedos
da mão direita produz um efeito que não se aproxima do pizzicato.
Também é possível tocar uma corda (preferencialmente grave) com um dedo da mão
esquerda, num resultado também semelhante ao pizzicato.
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5. Tremolo
Tremolo
Tremolo trem.
O bandolim tem sua sonoridade fortemente associada ao uso do tremolo. Conseguido com a
rápida repetição de uma ou mais notas através do ataque da palheta alternada, o recurso pode
ser utilizado para simular a sustentação de uma nota, como ornamento ou para realizar um
legato.
Também sua notação varia de acordo com a época. Na música popular o seu uso é de livre
escolha do intérprete, sem obrigatoriedade de notação em partitura. Para a escrita
contemporânea, sugerimos a haste hachurada ou a indicação textual. A ligadura é
especialmente dúbia por não diferenciar o tremolo de outras formas de conseguir um legato
(ver 4. Articulação).
Século XVII
Nesse período, o tremolo é considerado um recurso secundário, não característico do
repertório composto para o bandolim. Os autores da época consideram que uma vez que o
instrumento não é capaz de sustentar o som por muito tempo, a música escrita para ele não
utilizará notas longas. O som do bandolim é comparado ao do cravo e da harpa.
O tremolo é usualmente uma escolha do bandolinista e a notação não é precisa, muitas vezes
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Século XIX
O bandolim, de volume limitado e pouco apto aos expressivos legatos românticos, precisou se
adaptar para retomar seu espaço na preferência de compositores e público durante o período
Romântico. É nesse momento que o tremolo passa a ser parte essencial da técnica
bandolinística, sendo executado com precisão e preocupação com o número exato de
palhetadas em cada nota.
Enquanto alguns autores do período sugerem que somente notas mais curtas do que uma
semínima não sejam tocadas com tremolo, outros usam a ligadura para indicar seu uso. Mas
em certo momento o recurso é consolidado como o “natural” do instrumento, ao ponto de o
stacatto ser utilizado para apontar em que notas não fazer o tremolo.
Brasil
No Brasil, os bandolinistas populares (ligados principalmente ao choro) desenvolveram um
tremolo mais lento e expressivo, usualmente acompanhado de variação de dinâmica e não
preenchendo o tempo total de notas longas. Sua função é mais de ornamentação do que de
ligação das notas.
Duo Style
O Duo Style é uma técnica que mistura notas em tremolo com notas não-tremoladas, na
tentativa de simular vozes distintas.
6. Ornamentação
A alta tensão das cordas do bandolim dificulta (embora não impeça) que notas subsequentes
sejam tocadas com um mesmo golpe de palheta. Usualmente cada nota precisa de um
movimento correspondente da mão direita. Assim, ornamentos rápidos demandam uma
coordenação precisa dos movimentos e habilidade do executante.
Segunda menor
É típico do choro o uso de intervalo de segunda menor abaixo do som da corda solta como
ornamento. Embora escrito como uma apojatura, seu efeito é conseguido tocando as duas
notas ao mesmo tempo e tirando rapidamente o dedo da nota mais grave.
Pela afinação do instrumento, esse tipo de ornamentação só pode ser realizado em três notas
(sendo mais característico em Mi e Lá):
7. Dinâmica
8. Técnicas estendidas
O uso de técnicas estendidas (não usuais na técnica tradicional dos instrumentos) é uma
característica da música contemporânea. Sua notação não é padronizada e está
necessariamente sujeita à explicação do compositor.
9. Tablatura
A tablatura é uma forma de notação para instrumentos de corda onde as linhas indicam as
cordas e números as casas a serem tocadas (sendo a corda solta representada pelo zero) e pode
incorporar ou não indicações de ritmo. Embora mais utilizada como um recurso didático, a
tablatura pode ajudar a esclarecer dúvidas como digitações, mudanças de posições, e uso de
cordas soltas.