Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Na presente seção, abordaremos uma análise conceitual das crianças de rua e outras
palavras-chave consideradas relevantes, com o objetivo de responder à nossa
questão de pesquisa. Ao estudarmos um fenômeno social contemporâneo,
reconhecemos que a pesquisa nos levará a uma atividade cognitiva que se caracteriza
por um processo sistemático, flexível e de investigação, contribuindo para a
explicação e compreensão dos fenômenos sociais (Coutinho, 2018).
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (CDC), em seu artigo
1º, define criança como todo ser humano menor de 18 anos, com medidas de proteção
específicas contra violência, negligência e exploração, conforme os artigos 32º e 36º.
No entanto, essa proteção é frequentemente negada em várias circunstâncias, como
evidenciado pela situação das crianças de rua.
De acordo com a UNICEF (1989), crianças de rua são aquelas menores de 18 anos
que vivem em condições precárias, sem supervisão adequada e em situação de
vulnerabilidade, muitas vezes vítimas de abusos, negligência ou exploração por parte
de grupos criminosos ou autoridades policiais locais.
Daniel (2012) destaca que a pobreza, a falta de acesso à educação e aos cuidados
de saúde adequados colocam as crianças em maior risco de exploração, contribuindo
para a elaboração da CDC, que visa a proteção integral das crianças.
Dumbo (2012) salienta que a conduta delituosa dos menores em Angola começa
cedo, muitas vezes envolvendo pequenos delitos dentro da família, na escola ou nos
mercados informais, onde grupos agressivos costumam subtrair objetos e alimentos
de vendedores. Estatísticas mencionadas pelo Segundo-Comandante Geral da
Polícia Nacional de Angola, citadas por Dumbo (2012), revelam um aumento
significativo de crimes envolvendo menores, destacando-se furtos, agressões, roubos
e violações sexuais, com uma grande proporção de autores menores de 15 anos.
Existem distintos grupos de crianças e jovens nas ruas de Luanda, desde aqueles que
passam 24 horas por dia na rua por falta de família e casa, até aqueles que retornam
para abrigos ou familiares à noite. Há também os que residem permanentemente nas
ruas, envolvendo-se em atividades informais para sobreviver, como lavagem de carros
e mendicância (Roca, 2000).
Rua e Pobreza
Refletindo sobre a situação dos jovens que vivem nas ruas, Sebastião (2013) destaca
que a rua atua como um elemento desestruturante, afastando os jovens de suas
famílias e do ambiente escolar, o que resulta em um processo de exclusão e
separação. Os valores compartilhados pelos grupos de pertencimento nas ruas muitas
vezes contrastam com os valores familiares e escolares. Esse distanciamento
influencia profundamente o percurso de vida desses jovens, levando muitos deles a
se envolverem em atividades criminosas, como furtos, roubos e agressões, como
mencionado por Chazal (s/d).
O valor da família como um grupo social primário é reconhecido pelo Estado angolano,
conforme estabelecido no Código da Família de Angola (CFA). Esse documento
determina que a família é fundamental para a organização da sociedade e deve
contribuir para a educação e desenvolvimento de seus membros, promovendo uma
nova moral social baseada na igualdade de direitos e deveres, respeito à
personalidade de cada um e solidariedade entre seus membros (CFA).
Comportamento antissocial
Negreiros (2001, p.7) destaca que nas sociedades contemporâneas, "as
manifestações de agressividade e violência tornam-se cada vez mais frequentes.
Quando tais comportamentos são observados em jovens, é quase inevitável
questionar por que isso acontece e o que pode ser feito para reduzir sua probabilidade
de ocorrência".
A teoria do crime, conforme discutida por Da Silva (2015), envolve quatro elementos
essenciais: o fato humano, típico, ilícito e culpável. A delinquência, por sua vez, pode
ser definida em termos jurídico-penais como o indivíduo que cometeu atos pelos quais
foi condenado pelos tribunais (Negreiros, 2001). Afonso (2019) amplia esse conceito,
incluindo incivilidades como grafites, degradação urbana e pessoas alcoolizadas
vagando pelas ruas, que contribuem para um clima de insegurança e representam
comportamentos antissociais, mesmo que não constituam infrações penais.
Delinquência juvenil
A delinquência juvenil, que pode manifestar-se de diversas formas, como furto, roubo,
fraude e violência, é considerada uma forma de desvio social, pois viola as normas
estabelecidas e é sancionada pela lei. Fatores como a disponibilidade de automóveis
e armas, a violência veiculada pelas redes sociais e uma socialização familiar menos
consistente contribuíram para o aumento da delinquência juvenil na Europa e na
América do Norte nas últimas décadas.
Para Tavares (2016), a delinquência juvenil em Angola tornou-se cada vez mais
evidente e preocupante, especialmente devido à pobreza entre os mais
desfavorecidos. Apesar das medidas implementadas pelo governo para melhorar as
condições de vida, a delinquência juvenil persiste, com crimes como roubo de veículos
e assaltos a residências com violência física, muitas vezes resultando em mortes
brutais. De acordo com Medina (2008, citado em Dumbo, 2012), a delinquência juvenil
refere-se a indivíduos entre 12 e 16 anos de idade sujeitos à jurisdição de tribunais de
menores.
Desvio
O conceito de desvio, conforme descrito por Cusson (2007) e Becker (1963), refere-
se a comportamentos e situações que não estão em conformidade com as
expectativas, normas ou valores de uma sociedade e, portanto, são passíveis de
condenação ou sanção. O desvio não é uma característica intrínseca do
comportamento em si, mas sim uma consequência da aplicação de regras e sanções
por parte dos outros a um infrator. Nesse sentido, alguém se torna desviante quando
recebe o rótulo de desviante, e o comportamento desviante é aquele que é rotulado
como tal pelas pessoas.
Por fim, de acordo com Giddens (2009), seria um equívoco considerar o crime e o
desvio de forma totalmente negativa. Uma sociedade que reconhece a diversidade de
valores e preocupações humanas deve encontrar maneiras de incluir os indivíduos ou
grupos cujas atividades não estão em conformidade com as normas seguidas pela
maioria.
Violência
O texto oferece uma visão abrangente sobre a violência, abordando diferentes formas,
contextos históricos e causas subjacentes.