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Belo
Horizonte
3
2020
Larissa Machado Silveira
Belo
Horizonte
2020
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 3
2 OBJETIVOS 5
2.1.Objetivo geral 5
2.2 Objetivos específicos 5
3 JUSTIFICATIVA 7
4 REFERENCIAL TEÓRICO 13
5 METODOLOGIA 17
6 CRONOGRAMA 20
REFERÊNCIAS 21
1 INTRODUÇÃO
2.1.Objetivo geral
Analisar a mudança na orientação política na América do Sul que sucedeu o fim da Onda Rosa a
partir de 2016 e as suas implicações sobre o funcionamento e posterior processo de esvaziamento
da UNASUL.
c) Mapear a mudança na orientação política nos países da América do Sul a partir de 2016 e
as alterações na postura dos novos governos em relação à UNASUL para identificar como
as suas noções de desenvolvimento e cooperação regional se mostraram conflitantes com
a agenda e o desenho institucional UNASUL.
1
[...] persistent and connected sets of rules (formal and informal) that prescribe behavioral roles, constrain
activity, and shape expectations.
2
[...] actors adjust their behavior to the actual or anticipated preferences of others, through a process of policy
coordination.
organizações internacionais “são a forma mais institucionalizada de realizar a cooperação
internacional” (HERZ; HOFFMANN, 2004, p.9) e a delimitação da sua área de atuação é
definida a partir dos interesses estatais, uma vez que eles que as criam para maximizar os seus
objetivos. A promoção de bens públicos como serviços universais de saúde e educação de
qualidade, por exemplo, são objetivos estatais comuns expressos no Tratado Constitutivo da
UNASUL que podem ser considerados custosos e que, a partir da cooperação entre os países
sul-americanos, poderia ter seus custos reduzidos para cada país individualmente.
As organizações internacionais (OIs), para além de aumentar a eficiência no alcance de
propósitos comuns, apresentam outras características que as diferem das demais formas de
instituições. Ao formalizar as suas atribuições, as OIs estabelecem com clareza a sua forma de
operação e as normas de interação a serem adotadas entre os Estados-membros. Elas se tornam
um fórum estável e centralizado para discussão de temas comuns, contando com um aparato
administrativo especializado, que aumenta a capacidade e eficiência na elaboração de projetos e
coordenação de políticas em determinadas áreas temáticas (ABBOTT; SNIDAL, 1998; HERZ;
HOFFMANN, 2004). No caso da UNASUL, foram criados, entre 2011 e 2014, diferentes
Conselhos Setoriais no interior da organização, que lidavam com áreas temáticas específicas de
forma mais aprofundada, sendo eles: o Conselho de Defesa; de Saúde; Eleitoral; de Ciência,
Tecnologia e Inovação; de Cultura; de Desenvolvimento Social; de Economia e Finanças; de
Educação; de Infraestrutura e Planejamento; Sobre o Problema Mundial das Drogas; em Matéria
de Segurança Cidadã, Justiça e Coordenação de Ações contra o Crime Organizado Transnacional
(ANTUNES, 2020).
O modelo institucional e de tomada de decisão a ser adotado por uma organização
internacional também se relaciona com a maneira como as preferências estatais são articuladas.
Quando a delegação se dá de forma supranacional, a OI é capaz de ter mais autonomia frente aos
Estados, que abrem mão de parte de sua autonomia. Por outro lado, as organizações
internacionais baseadas em instâncias intergovernamentais dão maior autonomia aos
Estados-membros em seu interior, como no caso da UNASUL. Apesar de contar com uma
Secretaria-Geral, composta por funcionários internacionais que não eram vinculados a nenhum
Estado, a UNASUL necessitava do consenso entre os governos de cada país (através do CCCEG)
para ter as suas normativas adotadas. Assim, percebe-se que, mesmo diante do fomento à
cooperação regional, a soberania estatal era fator de extrema importância para os países
sul-americanos
que articularam a UNASUL, optando, desta maneira, por um modelo institucional
intergovernamental de decisões tomadas a partir do consenso.
No entanto, conforme o processo de esvaziamento da UNASUL parece sugerir, alterações
políticas domésticas podem gerar grandes impactos no curso de ação dos Estados, incluindo a sua
escolha por participar ou não de determinadas organizações internacionais. Neste sentido, Helen
Milner (1997) trouxe contribuições para a teoria institucionalista ao analisar de forma mais
detalhada as implicações da política interna na condução da política externa dos Estados. Ao
enfatizar a importância da análise de fatores domésticos, Milner não deixa de considerar o Estado
como um ator relevante no sistema internacional, apenas reconhece que o curso de ação adotado
por ele tem relação direta com os desdobramentos da sua política doméstica, desconstruindo,
dentro da abordagem institucionalista, a ideia do Estado como ator unitário.
Contando com a contribuição dos Jogos de Dois Níveis desenvolvidos por Putnam (1988),
que considera que os líderes estatais atuam e buscam alcançar seus objetivos nas esferas
internacional e doméstica de forma simultânea, Milner (1997) argumenta que a natureza e a
possibilidade dos acordos cooperativos dependem em várias medidas das consequências
distributivas que eles são capazes de gerar domesticamente. Segundo a autora, os Estados são
compostos de diversos atores que têm preferências distintas acerca dos cursos de ação a serem
adotados, o que faz da política doméstica não uma hierarquia, onde um único ator toma a decisão
final, mas uma poliarquia, em que os atores lutam pelo poder político de decisão. Assim, para
entender como se dá a interação entre a política doméstica e os arranjos cooperativos adotados na
política externa, Milner (1997) salienta a necessidade de analisar a distribuição de preferências no
âmbito doméstico:
[...] os interesses representam os objetivos fundamentais dos atores, que variam pouco. Os
interesses dos atores econômicos envolvem aumentar sua renda, enquanto os atores políticos se
preocupam majoritariamente em maximizar as suas chances de retenção de cargos políticos. Em
determinado assunto, esses interesses genéricos não fazem distinção entre atores políticos ou
econômicos. O que os diferencia são suas preferências políticas que derivam dos interesses. As
preferências referem-se à escolha específica da política que o ator acredita que irá maximizar sua
renda ou chances de reeleição [...] Embora todos os atores políticos possam compartilhar o mesmo
interesse, suas preferências políticas variam de acordo com sua situação política, por exemplo, a sua
filiação partidária, características do seu eleitorado e assim por diante. […]. Os interesses são a base
estável sobre a qual as preferências dos atores acerca da política a ser adotada varia […] (MILNER,
3
1997, p.15, tradução nossa) .
3
[…] actor’s interests represent their fundamental goals, which change little. The interests of economic actors involve
maximizing income, whereas those of political actors largely concern maximizing the chances for retaining political
Desta maneira, Milner (1997) explicita a ideia de que, no plano doméstico, diferentes
ideias acerca do que deve ser feito para alcançar o interesse nacional coexistem e são alvos de
disputas entre os atores políticos, o que tem consequências para o desenvolvimento de diferentes
arranjos cooperativos no âmbito internacional. Diferentes negociações de cooperação têm início a
partir de considerações internas, assim como diversos acordos cooperativos não têm sucesso por
conta de desdobramentos domésticos. Uma vez que os grupos sociais internos podem afetados de
diferentes maneiras pelos acordos cooperativos firmados pelo seu Estado, alguns serão contra,
enquanto outros se posicionarão a favor da promoção de políticas cooperativas. Os líderes
políticos capazes de alterar o curso da política externa de um país, diante deste contexto, tomam
suas decisões com base nos grupos sociais que exercem pressão sobre eles, bem como nas
consequências eleitorais que suas escolhas podem trazer.
Neste sentido, é possível estabelecer uma relação entre as preferências políticas dos atores
domésticos e as estratégias adotadas internacionalmente pelos seus Estados. Durante o período da
Onda Rosa, a convergência de uma orientação progressista característica dos governos de
esquerda e centro-esquerda, que chegaram ao poder a partir do respaldo popular, se refletiu em
preferências políticas convergentes para os projetos regionais de cooperação, culminando na
articulação da UNASUL. A preferência por uma cooperação regional pautada em questões
sociais e com enfoque na redução de assimetrias estava em consonância com as características
partidárias e do eleitorado dos governos da época. A atual guinada à direita e ao conservadorismo
na maior parte dos países da região, no entanto, parece se refletir na reorientação das preferências
políticas, com alterações no cálculo de utilidade para acordos cooperativos no nível regional por
meio de organizações como a UNASUL.
Deste modo, levando em consideração os possíveis ganhos advindos da cooperação entre
os Estados e as possíveis implicações de reorientações políticas domésticas na condução dos
projetos de cooperação na América do Sul, a pergunta de pesquisa deste presente projeto é: “qual
o papel do fim da Onda Rosa e da ascensão de regimes conservadores de direita na América
do Sul a partir 2016 no processo de esvaziamento da UNASUL?”.
office. On one issue, these generic interests do not distinguish among political actors or economic ones. What
differentiates them is their policy preferences, which derive from the interests. Preferences refer to the specific police
choice that the actor believes will maximize either their income or chances to reelection […]. Although all political
actors may share the same interest, their policy preferences will vary according to their political situation, for
example, their party affiliation, constituency characteristics, and so on. […]. Interests are the stable foundation on
which actors‘ preferences over policy shift […].
5 METODOLOGIA
2021/1 2021/2
Etapas/ano/meses
2020
Fev. Mar Abr Mai Jun. Ago Set. Out Nov Dez.
. . o . . .
Levantamento bibliográfico e
documental sobre a cooperação
regional para os governos da
Onda Rosa
Levantamento
documental sobre
atribuições e arranjo
institucional da UNASUL
Mapeamento da ascensão de
governos conservadores de
direita na América do Sul e
levantamento documental de
suas prerrogativas de
cooperação regional
Levantamento documental
sobre paralisia da UNASUL
Análise de conteúdo e
análise documental do
material coletado
Relatório Preliminar
Relatório Final
REFERÊNCIAS
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