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Cristina Pecequilo, "Política Externa Brasileira: do Eixo Combinado ao

Desbalanceado (2003-2021)" (2021) pecequilo_c


quarta-feira, 13 de dezembro de 2023 16:20 ombined-...

Introdução
• As políticas externas de Temer (2016-2018) e Bolsonaro (2019-2022) se destacam como um período de diferenciação com relação às estratégias adotadas por Lula (2003-2010) e Rousseff
(2011-2016).
• As percepções sobre a política externa brasileira variam consideravelmente, com algumas visões positivas: houve sucesso do Brasil em reduzir desigualdades econômicas e políticas nos governos do
PT, reposicionando o país como uma nação emergente em um sistema internacional multipolar. Por outro lado, há avaliações negativas que apontam políticas falhas devido a ambições excessivas e
falta de recursos, corrupção que minou esforços e acusações de agressividade na relação com os EUA, resultando em um isolamento do Brasil no mundo ocidental.
• A autora busca entender as dinâmicas contemporâneas das tendências conflitantes da PEB, relacionando-as a personalidades políticas, coalizões, modelos de desenvolvimento e mudanças
estruturais domésticas e internacionais.
○ Diretrizes duradouras: a coexistência pacífica, o pragmatismo, o multilateralismo, a não interferência e o respeito à lei e a noção de autonomia defendida como resultado de oportunidades
sistêmicas e ações de agentes que desejam alterar os termos da inserção do país na ordem internacional.
○ Três períodos verdadeiramente autonomistas da história brasileira: Getúlio Vargas (1930-1945), a Política Externa Independente (1961-1964) e a agenda do pragmatismo responsável
(1974-1979) durante o Regime Militar (1964-1985).
• O artigo propõe uma análise qualitativa e reflexiva dividindo-se em partes: O Eixo Combinado (2003-2010), Recuo e Reaproximação (2011-2018), Encruzilhada (2019-2021) e Conclusão.

O Eixo Combinado (2003-2010)


• Nesse período, destaca-se a liderança presidencial de Lula, reconhecido por sua diplomacia ativa, afirmativa e assertiva. Esse período é descrito como um momento de mudança estratégica tanto no
âmbito interno quanto externo do Brasil, sendo caracterizado por paradigmas como a autonomia por meio da diversificação, o eixo combinado da política externa ou como uma ponte entre poderes
antigos e novos.
• Internamente, o governo Lula buscou corrigir desequilíbrios socioeconômicos por meio de políticas de bem-estar social, ampliando o acesso a bens, serviços e espaços antes limitados às classes
privilegiadas. Programas como Bolsa Família, Fome Zero, Farmácia Popular, educação básica e universitária com políticas de ação afirmativa e financiamento pelo Prouni se tornaram referências
globais, integrando esforços da ONU, como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e a Agenda 2030.
○ Apesar das políticas sociais, o modelo econômico manteve traços da agenda neoliberal dos anos 1990, com falta de regulação, poucas barreiras comerciais, variações cambiais e altas taxas de
juros. O país, porém, não revertia vulnerabilidades como a desindustrialização e a reprimarização da economia.
• Externamente, o Brasil fortaleceu tanto a Cooperação Sul-Sul quanto a Cooperação Norte-Sul, reposicionando-se como uma nação do Sul Global. Aproveitando o vácuo de poder dos EUA decorrente
da Guerra Global contra o Terror e seu foco na Eurásia, o Brasil buscou um soft balancing, estabelecendo alianças estratégicas políticas, econômicas, sociais e culturais, não necessariamente
militares. Essas alianças se manifestaram regionalmente na América do Sul, globalmente no G-20 da OMC e na formação dos BRICS em 2009.
○ A influência do Brasil se estendeu para a África, Ásia e Oriente Médio visando reforçar coalizões e apoio à candidatura brasileira para o Conselho de Segurança da ONU como membro
permanente. Economicamente, o foco estava na expansão de exportações e na atuação de multinacionais brasileiras, apoiadas pelo BNDES, o que fez parte de um pacto interno que favorecia
elites financeiras e empresariais.
○ O governo de Lula se destacou pela formação dos BRICS e pelo papel do Brasil em eventos esportivos mundiais. No entanto, a política externa brasileira sofreu tensões, especialmente em
questões como o acordo nuclear com o Irã, que gerou desacordos políticos com os EUA e expôs o Brasil a críticas sobre direitos humanos e apoio a governos autoritários.
• Houve críticas crescentes à política externa, com acusações de alinhamento com rogue nations, desrespeito aos direitos humanos e à democracia, além de corrupção endêmica, tornando o Brasil alvo
de desconfiança e críticas tanto por ser considerado forte demais para impor sua vontade quanto por ser considerado fraco por não liderar efetivamente.
• O período finalizou com acusações de distanciamento perigoso dos EUA e o Partido dos Trabalhadores (PT) como principal responsável por políticas consideradas 'antiamericanas'. As políticas não
foram revolucionárias, mas sim de reforma e equilíbrio suave que naturalmente confrontaram interesses e redistribuíram poder e renda.

Recuo e Reaproximação (2011-2018)


• Após a presidência de Lula, durante o mandato de Dilma Rousseff, houveram destacados desafios e mudanças na política externa brasileira.
• A autora faz uma análise sobre a herança deixada por Lula em termos de coalizões internacionais e legados positivos, mas o governo de Rousseff enfrentou dificuldades em conduzir a mesma
estratégia. Caracteriza-se esse período como de recuo, em que a política externa mantém a lógica do eixo combinado, mas enfrenta falta de vontade política, liderança instável e piora nas condições
internacionais, afetando as receitas domésticas.
○ A primeira fase, de 2011 a 2012, buscou acomodação em direitos humanos e nas relações bilaterais Brasil-EUA. No entanto, agendas como a Unasul e os BRICS foram deixadas de lado. O
governo também enfrentou reações adversas das elites econômicas devido a mudanças nas políticas econômicas.
▪ O ano de 2013 foi um ponto de virada, com protestos em várias cidades brasileiras por várias razões, incluindo aumento nas tarifas de transporte e exigências por transparência e boa
governança. Esse período culminou na queda de Dilma em 2016, apesar de sua reeleição em 2014. A política externa foi usada para tentar recuperar prestígio e recursos.
○ A segunda fase foi marcada pelo escândalo de espionagem revelado por Edward Snowden, levando ao cancelamento da visita de Dilma aos EUA. Outras disputas envolveram questões de
privacidade digital e o conceito de Responsabilidade ao Proteger (RwP). Mudanças na liderança do Ministério das Relações Exteriores ocorreram, resultando em um 'recomeço' nas relações
bilaterais com os EUA.
• O governo de Michel Temer, após o impeachment de Dilma em 2016, marcou o afastamento do eixo combinado, alinhando-se mais aos EUA e à agenda do Norte, adotando uma postura de
reaproximação. A política externa foi repensada, com um foco maior em alianças tradicionais, menos engajamento no eixo Sul-Sul e uma visão mais comercial das relações internacionais.
• A entrada do governo de Jair Bolsonaro em 2019 continuou algumas prioridades estabelecidas por Temer, como o uso da Base de Alcântara pelos EUA, o acordo Embraer-Boeing, as negociações
Mercosul-UE e a busca pela entrada na OCDE. Esses pontos foram tratados com diferentes graus de êxito e desafios, destacando-se a importância de acordos como o Mercosul-UE e os desafios em
acordos como o Embraer-Boeing, que enfrentaram problemas após sua concepção.
• A política interna brasileira também desempenhou um papel crucial, com estratégias e jogadores políticos influenciando a continuidade das coalizões no poder. O período foi marcado por intensa
polarização política, com críticas a políticas públicas sociais e estratégias de oposição cada vez mais radicais.

Encruzilhada (2019-2021)
• Entre janeiro de 2019 e setembro de 2021 no Brasil, sob o governo de Jair Bolsonaro, destacam-se mudanças e desafios significativos na política externa brasileira.
• Houve uma mudança na direita do país com o ressurgimento de elites oligárquicas, o fortalecimento das Forças Armadas e da Igreja como forças políticas conservadoras. A política externa passou por
duas fases distintas: 2019-2020 e a partir de janeiro de 2021, refletindo mudanças no ambiente político interno e nos EUA.
• Aspectos e dimensões da administração Bolsonaro:
○ A dimensão política-social-cultural foi caracterizada por pilares conservadores, como a proximidade com os EUA, alianças com nações de direita e uma postura antiglobalista, anticomunista e
religiosa. Essa fase priorizou a relação Brasil-EUA, alinhamentos conservadores e a busca por benefícios em acordos como a adesão à OCDE e o acordo bilateral Brasil-EUA. No entanto, os
benefícios esperados não se concretizaram.
○ No aspecto estratégico-diplomático, houve uma postura antimultilateralista e contra regimes internacionais, resultando em mudanças históricas na posição do Brasil sobre não-interferência e
multilateralismo. O país passou a apoiar os EUA em várias frentes, como contra os regimes de gênero e migração, enfraquecendo o apoio a acordos ambientais e criticando abertamente países
como Venezuela e Cuba.
○ No aspecto econômico, o governo Bolsonaro procurou fortalecer práticas neoliberais, promovendo reformas como privatizações e reformas administrativas, políticas, trabalhistas e
previdenciárias. Essas medidas tiveram sucesso, mas geraram desconforto com parceiros econômicos importantes, como China e Oriente Médio.
• As tentativas de alianças bilaterais e acordos, como o Mercosul-UE e a entrada na OCDE, encontraram obstáculos significativos, especialmente com os EUA sob Trump e após Biden assumir a
presidência. A relação com a UE também foi tensionada por questões ambientais e de direitos humanos.
• A relação com a China foi afetada por críticas abertas ao regime chinês, impactando as negociações sobre vacinas, 5G, joint ventures e comércio. Isso teve consequências na gestão da pandemia,
especialmente nas relações China-Brasil e nos esforços multilaterais. O Brasil se alinhou aos EUA e recusou participar de discussões da ONU e da Organização Mundial da Saúde sobre acesso a vacinas
e combate à COVID-19.
• O momento político nos EUA, sob Trump, havia sido muito importante para as posturas adotadas por Bolsonaro. Desde a eleição de Biden até eventos como a invasão do Capitólio, a autora aponta
que a instabilidade política nos EUA impactou as relações bilaterais e globais, influenciando a posição do Brasil, principalmente em relação à China.
○ O discurso do presidente Bolsonaro na ONU em setembro de 2021 reforçou o alinhamento político-social-cultural e estratégico-diplomático com sua base conservadora, abordando temas
como soberania, vacinação, direitos humanos e ambientais. No entanto, apesar do discurso, pressões internas e externas podem influenciar as futuras negociações e a política externa do Brasil.

Conclusão
• A política externa brasileira passou por mudanças significativas, indo de um eixo combinado para um desequilíbrio atual, influenciada por lutas políticas internas e transformações internacionais.
• Governos anteriores buscaram autonomia, preservação de políticas, ou alianças pró-EUA, afetando a credibilidade e pragmatismo do país.

Página 1 de Política Externa Brasileira


• Governos anteriores buscaram autonomia, preservação de políticas, ou alianças pró-EUA, afetando a credibilidade e pragmatismo do país.
• O futuro político e a possibilidade de uma política externa independente dependem da dinâmica das coalizões internas, especialmente diante da crescente polarização e desafios internacionais,
como a rivalidade EUA-China e a pandemia. A busca por reformas sociais e uma política externa mais equilibrada pode determinar o futuro da inserção internacional do Brasil.

Página 2 de Política Externa Brasileira

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