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Nos últimos 30 anos, o Brasil vem liderando os esforços de integração na América

Latina, como pressupõe o parágrafo único dos princípios das Relações Internacionais do país
da Constituição Federal de 1988. Desde sua redemocratização, o Brasil se aproximou dos seus
parceiros regionais com o intuito de criar laços comerciais, políticos e valores comuns entre
os países da América do Sul e da América Latina.
Os avanços na integração do continente foram nítidos desde que o país superou a
lógica da rivalidade com os seus vizinhos e passou a enxergar que juntos poderiam ser mais
fortes. De acordo com Antonio José Ferreira Simões isso só foi possível com a
redemocratização do país
O fator que explica a ruptura com o passado de rivalidade e a busca de um futuro de
amizade e integração é a democracia. Apenas quando as sociedades puderam
expressar-se livremente, quando as respectivas sociedades civis passaram a influir
sobre os destinos de seus países, foi possível deixar de lado os vetustos preconceitos
derivados de uma geopolítica míope. (SIMÕES, 2011, p. 44)

De lá para cá, o Brasil liderou as criações do Mercado Comum do Sul (Mercosul), da


União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Comunidade dos Estados da América Latina
e do Caribe (Celac), além de outras iniciativas.
No entanto, durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), o país deixou de lado as
iniciativas que ele mesmo construiu ao se afastar de instituições como a Unasul e dar um
caráter mais comercial ao Mercosul.
Novas oportunidades
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para o seu terceiro mandato, o Brasil tem
mais uma vez a oportunidade de estreitar os seus laços com a região e de relançar o país no
cenário internacional. Entretanto, Lula enfrentará novos obstáculos para que o país volte a ser
o principal fiador da integração do continente, como a maciça presença da China tanto no
nosso país como nos demais países da América Latina.
Se no passado, o país conseguiu internacionalizar suas empresas com a realização de
obras por todo o continente, hoje o trabalho seria mais difícil, já que, com a Operação Lava
Jato, as grandes construtoras brasileiras foram afetadas e tiveram seus escândalos de
corrupção exportados para os demais países da região, como foi o caso do Peru, onde o ex-
presidente Alejandro Toledo foi acusado de receber propinas da Odebrecht.
Por essa razão, a política externa brasileira para a América do Sul se pauta por uma
visão pragmática de viabilização de negócios e investimentos, mas também está
imbuída de visão política e estratégica de longo prazo, que não perde de vista a
necessidade de garantir que a prosperidade alcance nossos parceiros da região, para

que todos possam crescer (SIMÕES, 2011, p. 35)


No entanto, o país tem ativos importantes para reforçar sua inserção política no
cenário internacional para além dos investimentos em infraestrutura. Novamente, o país se
coloca na vanguarda da agenda ambiental, ao voltar a fazer da defesa da Amazônia um dos
pilares de sua política externa.
Em menos de um ano de governo Lula, o país já conseguiu reunir os países
amazônicos - Venezuela, Bolívia, Colômbia, Guiana, Equador, Peru, Suriname e Venezuela -
na IV Reunião dos Presidentes dos Estados do Tratado de Cooperação Amazônica, onde foi
adotada a declaração de Belém, que, segundo o ministério das Relações Exteriores brasileiro,
“estabelece uma nova agenda comum de cooperação regional em favor do desenvolvimento
sustentável da Amazônia”.
Em consequência da reativação dos compromissos do Brasil com a agenda ambiental,
o novo governo também conseguiu reativar o repasse de países desenvolvidos para o Fundo
Amazônia, para o qual os governos da Noruega, Suíça, Alemanha e Estados Unidos já
realizaram doações.
Um outro ativo importante do país é fazer parte dos Brics, grupo que acabou de
mostrar sinal de força ao anunciar a sua primeira expansão que teve uma fila de países
candidatos. Como membro do grupo, o país consegue ter mais peso em suas demandas como,
por exemplo, a flexibilização do uso do dólar como moeda nas trocas comerciais, já que essa
também é uma demanda da China.
A proximidade com esse país asiático também pode ser interessante para que o Brasil
consiga barganhar com os Estados Unidos no contexto de guerra comercial e rivalidade
geopolítica entre as duas maiores economias do mundo.
Com a sua liderança no continente e a supracitada presença da China na América do
Sul, o Brasil talvez possa conseguir repetir a “equidistância pragmática” adotada no período
anterior à Segunda Guerra Mundial, onde conseguiu extrair vantagens das duas potências à
época, antes de escolher o seu lado no conflito.
Além dos elementos citados acima, o país ainda conta com um amplo histórico de
liderança no cenário internacional que pode ser utilizado para aumentar a nossa relevância
política, tais como: ser o segundo país que mais participou como membro não permanente do
Conselho de Segurança da ONU, ter vocação para a paz e o diálogo nos conflitos
internacionais e ter liderado ou coordenado missões da ONU como a do Haiti (MINUSTAH)
e a do Líbano (UNIFIL).
Levando em conta o exposto acima, o Brasil, como uma potência regional e média,
deve apostar no aprofundamento das suas relações regionais, sejam elas dentro da América do
Sul, ou nos demais fóruns internacionais, pois somente com o multilateralismo, o país vai
conseguir exercer liderança e influência nos principais assuntos da arena internacional.
BIBLIOGRAFIA E MATERIAL DE APOIO

SIMÕES, Antonio José Ferreira. Integração: sonho e realidade na América do Sul - Brasília -
FUNAG, 2011. 116 p.
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?
codteor=596632&filename=LegislacaoCitada%20PL%203963/2008#:~:text=4%C2%BA
%20A%20Rep%C3%BAblica%20Federativa%20do,VII%20%2D%20solu
%C3%A7%C3%A3o%20pac%C3%ADfica%20dos%20conflitos%3B
https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/cupula-da-
amazonia
https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/relacoes-internacionais/copy_of_missoes-de-paz/
historico-da-participacao-brasileira-em-missoes-da-onu
https://www.fundoamazonia.gov.br/pt/transparencia/doacoes/

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