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Introdução
• A política externa do presidente Lula em seu primeiro governo (2002-2006) reflete as posições tradicionais do Partido dos Trabalhadores (PT) desde sua formação nos anos 1970.
○ Lula, em seu discurso de posse como presidente, enfatizou a necessidade de mudança em relação ao governo de Fernando Henrique Cardoso, destacando a importância da esperança e da
mudança na sociedade brasileira.
• Um dos principais aspectos da política externa de Lula foi a ênfase nas negociações comerciais internacionais e na busca por coordenação política com países em desenvolvimento e emergentes,
como a Índia, África do Sul, China e Rússia.
○ Com a Índia e a África do Sul, o governo brasileiro estabeleceu relações estratégicas por meio do IBAS (Índia, Brasil, África do Sul) ou G-3.
○ Com a Rússia e a China, o objetivo foi ampliar os intercâmbios comerciais, tecnológicos e militares.
▪ A relação com a China gerou algumas críticas, especialmente de setores afetados pela concorrência considerada desleal. Embora a China tenha se tornado um importante parceiro
comercial do Brasil, o crescimento das importações superou o das exportações, o que levantou preocupações. A China não apoiou a reivindicação do Brasil por uma vaga no Conselho
de Segurança das Nações Unidas, devido às relações da China com o Japão, e não se tornou parceira nas negociações não-agrícolas da Rodada Doha da OMC.
▪ Com a Rússia, buscou apoio para a entrada do país na OMC. Esse acordo estava relacionado à manutenção do acesso das carnes brasileiras ao mercado russo e demonstra como a
política externa é influenciada por fatores econômicos e estratégicos.
• Embora tenham ocorrido mudanças de ênfase e novas opções na política externa brasileira, não houve uma ruptura significativa com os paradigmas históricos. Tanto os governos de FHC quanto o
de Lula buscaram desenvolver economicamente o país, preservando uma certa autonomia política.
○ A questão da autonomia política foi central no debate sobre a política externa brasileira ao longo da história, com diferente s abordagens, como a busca de amizade com os Estados Unidos e
uma estratégia de 'autonomia pela participação'.
○ Os governos de FHC e Lula são representantes de tradições diplomáticas brasileiras distintas, com diferenças nas ações, prefe rências e crenças, mas com o objetivo comum de desenvolver
economicamente o país e preservar certa autonomia política.
• Sobre o artigo:
○ O objetivo é analisar se houve mudanças significativas na política externa brasileira sob a presidência de Lula, examinando a extensão e o conteúdo dessas mudanças.
○ Adota uma abordagem metodológica construtivista, considerando o peso das ideias na formulação da política externa e como as interpretações e ideologias dos lí deres, como Lula,
influenciam as percepções sobre os constrangimentos e as possibilidades da ordem internacional.
○ Os materiais da pesquisa se concentraram em documentos, discursos, trabalhos acadêmicos e matérias jornalísticas relacionadas à política e xterna brasileira, a fim de avaliar a hipótese de
mudanças substantivas na política externa sob a administração de Lula.
Um Balanço Final
• A política externa de Lula apresenta elementos de "mudança dentro da continuidade" ou "ajustes e mudanças de programa." Isso significa que, embora tenha havido mudanças nas ideias e
estratégias para lidar com questões de política externa, essas mudanças não foram essencialmente diferentes das abordagens históricas do Brasil nesse domínio.
• A política externa de Lula manteve o princípio de que a política externa é um instrumento para promover o desenvolvimento econômico e garantir a autonomia do país. Lula buscou parcerias
estratégicas no Sul Global para fortalecer a posição do Brasil nas negociações internacionais. No entanto, os autores reconhecem que existem limitações estruturais, como custos econômicos, falta
de recursos diplomáticos e a dificuldade de coordenar ações entre diferentes países na esfera internacional.
○ Os autores sugerem que a estratégia de 'autonomia pela diversificação' podem render frutos a longo prazo, consolidando os obj etivos históricos de desenvolvimento e diminuição da
assimetria de poder internacional, com um maior peso dos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. Eles concluem que as mudanças na política externa de um país como o Brasil devem
ser analisadas levando em consideração a variabilidade de comportamento inerente às potências médias, que buscam equilibrar s eus interesses em diferentes áreas temáticas e não
necessariamente buscam uma ruptura com os países ricos.
○ A política externa de Lula é vista como uma tentativa de encontrar um equilíbrio entre buscar autonomia e promover o desenvolvimento econômico , mantendo relações com as nações mais
poderosas, e isso depende da capacidade de distinguir questões específicas de objetivos mais amplos. A abordagem de 'autonomi a pela diversificação' não é dominante, mas é uma tendência
significativa entre os formuladores de políticas e líderes políticos brasileiros com uma visão de mundo não alinhada com a he gemonia e o unilateralismo.
Quadro Resumo
Temas importantes da A ideia de 'Autonomia pela Participação' do Governo FHC A ideia de 'Autonomia pela Diversificação' do Governo Lula
Agenda da PEB
ALCA Apesar de não considerá-la prioritária para o Brasil, FHC tinha uma postura Passou-se a negociar de forma mais dura, argumentando-se que as negociações só
mais favorável à ALCA. A estratégia era atrasar as negociações e apenas assinar prosseguiriam se as demandas brasileiras fossem atendidas.
o acordo se fosse favorável ao país.
Combate à Fome Tema não presente na agenda brasileira durante a administração FHC. O tema ganhou destaque nos pronunciamentos internacionais do governo Lula,
Internacional principalmente no início de seu mandato. Tentou-se a inserção formal na agenda
internacional, com resultados discutíveis.
CSNU Desejava-se uma vaga de membro permanente no CSNU, mas a diplomacia O ministro Celso Amorim expressou com mais firmeza o desejo do país de obter um
brasileira não investiu muitos esforços nesta empreitada. FHC chegou a assento permanente no Conselho de Segurança. A energia diplomática despendida
declarar que preferia aprofundar a integração regional e fazer parte do G -7 do foi considerável. Os custos da liderança brasileira no Haiti seriam uma tentativa de
que do Conselho. provar à comunidade internacional que o país tem condições de fazer parte do
Conselho.
Cooperação Sul-Sul A administração FHC privilegiou as relações com países desenvolvidos, A aproximação com os países do Sul ganhou destaque no governo Lula. Defendeu-
principalmente com a União Europeia e os Estados Unidos. A aproximação com se uma relação mais duradoura com os países em desenvolvimento, motivada por
grandes países do Sul visava benefícios materiais, principalmente em setores visões de mundo e pelas raízes ideológicas do Partido dos Trabalhadores,
comerciais. No final do segundo mandato, o governo buscou ampliar relações parcialmente coincidentes com a tendência existente em parte da diplomacia.
com a China, Índia, Rússia e África do Sul. No caso do contencioso das patentes Institucionalizou-se a parceria entre Índia, Brasil e África do Sul, abrangendo uma
farmacêuticas contra os Estados Unidos, o Brasil aproximou -se da Índia e da série de temas, como segurança, comércio, intercâmbio tecnológico, com
África do Sul, mas não institucionalizou a parceria durante o seu governo. resultados ainda incertos. Na administração Lula, ganhou destaque a formação do
G-20, grupo de países em desenvolvimento que visam a liberalização do comércio
agrícola. Tal tipo de coalizão tem o objetivo de reduzir as assimetrias.
Estados Unidos A administração FHC pautou-se pela lógica da participação ativa na formulação Reconhecendo a importância dos Estados Unidos como o país mais rico e poderoso
de regimes internacionais, nas quais os norte-americanos tinham papel do globo, a política externa de Lula busca aprofundar as relações com grandes
relevante. O presidente brasileiro desenvolveu relações pessoais com o nações em desenvolvimento, e com algumas da União Europeia, visando reduzir as
presidente Clinton. No final da administração FHC, já na administração George assimetrias de poder com a potência norte-americana. A busca de fortalecimento
W. Bush e especialmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o do Mercosul e as negociações entre o Mercosul e a União Europeia também
presidente passou a criticar o unilateralismo norte-americano. Buscou-se nesta procuram ampliar o poder de barganha do país ao diversificar as opções
fase novas parcerias comerciais com grandes nações em desenvolvimento para estratégicas. Nesse contexto, o governo Lula buscou evitar confrontos com os
contrabalançar o poderio comercial norte-americano. Estados Unidos.
Integração Latino-americana O tema da integração regional sul-americana, sobretudo o Mercosul, é central O governo Lula mantém o interesse pelo Mercosul, acentuando fortemente o peso
na agenda brasileira desde a redemocratização do país em 1985. Na do projeto da Comunidade Sul-americana de Nações (Casa). Há uma ênfase
administração FHC, o processo de integração regional era visto como um retórica em que desenvolve-se a IIRSA. A integração estaria no topo da agenda do
instrumento com o qual o Brasil poderia disputar um espaço político e país. Na administração Lula, busca-se manter equilíbrio nas relações com os países
econômico maior no mundo. da região para capitalizar a aparente convergência em relação à integração e evitar
agravar situações potencialmente conflituosas.
Liderança Brasileira O governo FHC acreditava que a liderança não se proclama, ela deve ser A administração Lula colocou não ostensivamente o tema no debate político
exercida. Nesse sentido, o tema não recebia muito destaque em sua gestão. brasileiro. O desejo de obter um papel de destaque na região e entre os países em
desenvolvimento foi introduzido e, em parte, tem se constatado uma maior
cobrança por parte dos países sul-americanos em relação ao Brasil
OMC De todos os fóruns de negociações comerciais em que o Brasil participa, a OMC As negociações na OMC são consideradas fundamentais para o Brasil. Há a
foi a que recebeu maior atenção da administração FHC, principalmente por se tentativa de assumir uma liderança mais pronunciada em coalizões Sul-Sul para
acreditar que nesta instituição a assimetria de poder era reduzida pelo respeito alterar as relações de poder dentro da instituição.
às regras internacionais acordadas pelos Estados participantes.