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Política externa Lula

Introdução
Inegável é o fato de que os anos 90 deram forma à nova maneira de agir
da política externa brasileira, na medida em que esta deixou de estar em segundo plano
na temática do país para então ser marcada por uma consequente busca de credibilidade
através da intensificação das relações diplomáticas, com a intenção de se obter ao país
uma imagem conveniente. Em que pese a alteração de governo seja algo que dê causa a
novos anseios e esperanças, atrelado ao referido acontecimento também está o receio de
que a mudança vá de encontro à evolução almejada.
A promessa de uma revolução dá causa a vitórias e tragédias. Em se tratando de
alterações políticas, essa evolução pode traduzir-se em uma transição bem executada
que mantenha o foco na ideação precedente se notável a sua eficácia. Assim é que se
torna viável o plano de constante ascendência da nação, ao invés do estabelecimento de
uma crise institucional que por vezes é o que advém da mudança.
Tão relevante quanto a diplomacia presidencial, é a diplomacia compreendida no seu
sentido figurado de habilidade para conduzir relações interpessoais. No contexto
analisado, os presidentes FHC e Lula demonstraram maestria também nesse sentido,
pois mesmo concorrentes em eleições anteriores e donos de concepções conflituosas
acerca do outro, quando necessário foram capazes de colocar os interesses nacionais à
frente, o que foi essencial à mantença do triunfo brasileiro no cenário internacional
somando a sucesso já existente às demandas recorrentes.

A disparidade entre as figuras dos chefes de Estado que protagonizavam a transição de


governos no ano de 2003, em que pese levantassem questionamentos quanto ao rumo do
país – que passava da coordenação de um sociólogo a um metalúrgico – na verdade deu
causa à combinação capaz de oferecer àqueles mandatos o suporte necessário ao chefe
de Estado. Através da diversificação de vivências de seus protagonistas, que reuniu a
vivência internacional do intelectual com a experiência de vida do lutador de classes, o
país permaneceu em constante ascendência.

Durante suas atuações, fato é que a busca pela redemocratização era intenção comum a


ambos. A continuação por Luiz Inácio Lula da Silva daquilo que Fernando Henrique
Cardoso iniciou era algo primordial à conquista pretendida. E por isso é que podemos
continuar a apreciação do desenvolvimento da política externa brasileira e o exercício
da diplomacia presidencial pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A cooperação Sul-Sul do governo de Luiz Inácio Lula da Silva
À política externa executada pela Chefia de Estado que esteve à frente da República
Federativa do Brasil entre os anos de 2003 até 2011 é atribuído o período de maior
altivez da diplomacia brasileira, notadamente pelo fato de esta ter inserido o país no
cenário externo pela primeira vez de maneira ativa conferindo ao país maior
reconhecimento frente à comunidade internacional devido ao desempenho elevado
lastreado no princípio da cooperação internacional. Desta feita, passaremos a explorar
os agentes que contribuíram ao destaque brasileiro no cenário externo.

Luiz Inácio Lula da Silva


O 35º Presidente responsável por conduzir a República Federativa do Brasil entre os
anos de 2003 e 2011, Luiz Inácio Lula da Silva, caracterizava-se pela atives social.
Tendo feito da metalurgia desde cedo a sua profissão, considerando que vislumbrou
ainda na adolescência o chão de fábrica como sendo o local propício ao encontro
daquilo que necessitava à sua subsistência – tendo em vista a realidade social na qual
estava inserida a sua família que vinda do nordeste brasileiro, assim como muitas àquela
época, ansiava por melhores condições de sobrevivência-, ali passou a maior parte de
sua vida e foi onde obteve sua formação.

Quando do cumprimento de seu mandado como Presidente da República, Luiz Inácio


Lula da Silva dispunha de certo histórico na administração pública como Deputado
Federal. No entanto, sobressaia-se de fato por seu considerável desempenho e
representatividade aquém da logística governamental, habilidade adquirida em grande
parte devido ao seu engajamento com a representatividade social.

Considerado “negociador habilidoso”, como refere sua Biografia (Instituto Lula,


Online), foi levado à liderança sindical e teve sua experiência inicial com as
dificuldades da classe trabalhadora. Devido à sua potente atuação nos movimentos de
classe, acabou por tornar-se referência em oposição política no país e a partir disto se
deu a fundação do Partido dos Trabalhadores, do qual foi seu primeiro presidente e
tinha como lastro principal a redemocratização do país. Igualmente, exerceu
significativa atuação na Central Única dos Trabalhadores, entidade de representação
sindical brasileira que prima pela “defesa dos interesses da classe trabalhadora”
conforme esclarece seu Breve Histórico, (CUT, Online). Ademais, teve importante
papel no Instituto Cidadania, propulsor de algumas das mais significativas políticas
públicas implementadas. Ainda, esteve à frente do primeiro grande comício das Diretas
Já.
Os dois mandatos do Chefe de Estado antepuseram programas que viabilizassem a
melhor distribuição de rendas à nação, o acesso dos menos abastados a programas de
crédito, o oferecimento de maiores salários aos trabalhadores, a geração de mais
empregos à população, a oportunização de melhor qualidade de vida aos indivíduos, o
aumento do acesso à educação da nação, a promoção de maiores oportunidades de
moradia às pessoas, a criação de melhor infraestrutura aos cidadãos e o aprimoramento
das condições de saneamento no país para o público.
Finda a sua incumbência como Presidente da República, a aprovação por parte da
população era sinônimo da boa governança. Desta feita, em que pese a desconfiança que
recaia sobre o novo governo advinda do cenário internacional – destaque a
investidores-, o que se dava pelo fato de a figura do Chefe de Estado brasileiro a ocupar
a presidência da República Federativa do Brasil estar atrelada a alguém desprovido de
diploma de ensino superior que acabou por receber justamente o diploma de Presidente
da República, a atuação de Luiz Inácio Lua da Silva foi marcada por intenso
crescimento econômico e exemplar execução da diplomacia presidencial que foram
responsáveis por desmistificar a preconcepção.

Posicionamentos iniciais
Empossado o novo Presidente da República, o Chefe de Estado à sua maneira, tinha
planos para o desenvolvimento nacional. A ambição que se centrava principalmente no
desenvolvimento interno e tinha como um de seus instrumentos a atuação no plano
externo acabou por culminar no período de maior altivez da política externa brasileira.

A adoção da nova postura brasileira entre os anos de 2003 até 2011 frente à atuação
externa, tinha por objetivo alterar caracterização da nação. A intenção era não mais ser
reconhecida como a soberania que primava pela execução da política externa brasileira
através das relações diplomáticas na sua vertente cordial e coadjuvante percebida até
então. O foco principal era apresentar a pátria à comunidade internacional na condição
de Estado em desenvolvimento protagonista e propulsor do progresso da sua região,
além de potencial cooperador internacional.
Para tanto, em que pese a desconfiança disseminada na seara internacional sobre como o
novo Presidente conduziria o país considerando sua limitada formação, Luiz Inácio Lula
da Silva deu a primeira demonstração de sua assertiva liderança quando do anúncio dos
nomes integrantes dos seus ministérios que contava com representantes competentes nas
suas atribuições. A experiência do Embaixador Celso Amorim nomeado Ministro de
Relações Exteriores que ficou à frente do gabinete durante praticamente todo o governo
de Luiz Inácio Lula da Silva foi a diretriz principal responsável pela evolução brasileira
como soberania internacional que apresentava ao mundo uma nova faceta do país a qual
primava por políticas sociais pragmáticas.
A política externa altiva e ativa pretendida pelo Chanceler, a qual apresentava ao país a
dinâmica da atuação internacional para a perfectibilazação da mudança idealizada pelo
governo recentemente empossado, oportunizaria ao país a constituição de parcerias
estratégicas e a promoção da expansão dos interesses nacionais. Desta forma podemos
perceber que o reconhecimento obtido foi consequência da motivação necessária
cumulada ao método apropriado, ambos orientados pelo mentor adequado, rede esta não
vislumbrada em outro momento da história da política externa.

Na ótica presidencial, o Serviço Exterior seria ainda a maneira de apresentar ao mundo


o conceito da mudança tantas vezes referido ao longo das eleições, o qual oportunizaria
ao Brasil o experimento de uma nova e revolucionária forma de governar que ia de
encontro à atuação dos governos pretéritos e representava o encorajamento brasileiro
elevando ao nível de Estado a necessidade de reparos percebidos pela ótica do operário.
Reconhecido por sua governança atenta às necessidades do povo, a qual engendrava
maneiras para satisfazer desde as necessidades básicas do cidadão como a fome, até
aquelas mais distantes à época como o ensino superior, durante o seu discurso de posse
a importância dada à nação foi referida pelo Presidente quando este deixou claro que
“nossa política externa refletirá também os anseios de mudança que se expressaram nas
ruas” (2003, p. 9).
Ainda, o discurso presidencial exalta a diplomacia brasileira em perspectiva diferente da
predominante na fala proferida. De um lado, a representação do país como sujeito
visionário ávido por vantagens na ampliação das relações internacionais. De outro,
ainda, o reconhecimento da nação brasileira com sua potente receptividade nacional e
coabitação vitoriosa vislumbrada entre as diversas origens que estão instaladas no país.

Embora da fala presidencial pudesse depreender-se grandiosa receptividade à


cooperação internacional e admissão de novas experiência, a importância do respeito à
manutenção da hegemonia nacional era inegociável. Ficara claro que as tratativas não
poderiam dar causa à continência da soberania interna sendo que tal limite era essencial
ao sucesso do sistema político referido. Nesse sentido, refere o Presidente que “A
democratização das relações internacionais sem hegemonias de qualquer espécie é tão
importante para o futuro da Humanidade quanto a consolidação e o desenvolvimento da
democracia no interior de cada estado”, (2003, p. 11).
Houve ainda especial consideração em relação às questões de segurança do plano
externo, como as demandas atreladas ao crime organizado, terrorismo e os
persistentes conflitos instalados no Oriente Médio. Foi referida a importância das
organizações multilaterais orientadas à preservação da paz e da segurança
internacionais, bem como, a cooperação internacional para o enfrentamento
dos conflitos existentes. O Presidente reiterou a ambição brasileira de aquisição de
assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unida ao referir que
“defenderemos um Conselho de Segurança reformado, representativo da realidade
contemporânea com países desenvolvidos e em desenvolvimento das várias regiões do
mundo entre os seus membros permanentes” (2003, p. 11).
Considerando-se o progresso da economia como um dos alicerces pertinentes à
prosperidade nacional, desde o início do governo houve reconhecimento quanto à
necessidade das negociações internacionais para valorização e crescimento do país em
desenvolvimento que buscava lugar no cenário da globalização. Evidente era a quem
ouvia as palavras do presidente naquele dia 1º de janeiro que uma de suas prioridades
seria o revigoramento da América do Sul, o que se pretendia através de
empreendimentos conjuntos e estímulos de intercâmbios nas mais variadas vertentes de
maneira igualitária entre os seus países componentes, tudo com vistas à criação de uma
identidade comum à região.

Sem, no entanto, deixar de dar a devida importância aos demais países protagonistas do
âmbito internacional que seriam importantes cooperadores do desenvolvimento interno,
e também aqueles com quem se pretendia colaborar para o desenvolvimento. O Chefe
de Estado mencionou em seu discurso a consideração dedicada a nações como Estados
Unidos, China, Índia, Rússia e África do Sul, sendo que a referida intenção pode ser
compreendida como integrante da pretensa visão de “estimular os incipientes elementos
de multipolaridade da vida internacional contemporânea” (2003, p. 10-11).

Ante o exposto, temos que o período de altivez da diplomacia brasileira, que é conferida
ao governo que esteve à frente do país entre os anos de 2003 e 2011, é consequência de
intensa construção anunciada desde o primeiro instante de atuação. Desde então ficou
claro que o mandatário pretendia “transformar o Brasil naquela Nação com a qual a
gente sempre sonhou: uma Nação soberana, digna, consciente da própria importância no
cenário internacional e, ao mesmo tempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com justiça
todos os seus filhos”, (2003, p. 2).

E para tanto, contava com a ajuda mútua das nações componentes do cenário externo,
auxílio este traduzido no princípio da cooperação da internacional, integrante das
relações internacionais e constantemente vislumbrado na diplomacia internacional.
Desta forma, em que pese a tradição de oposição ao governo anterior, considerando que
seu plano de governo contava também com a eficiência de relações diplomáticas ativas,
Luiz Inácio Lula da Silva deu continuidade à execução do plano de atuação da política
externa brasileira no cenário internacional implementado por Fernando Henrique
Cardoso, reconhecidamente salutar à nação.

Estratégia aplicada
A política externa brasileira vislumbrada durante o governo de Luiz Inácio Lula da
Silva foi centralizada na demanda pela diversificação de parceria comerciais e políticas
e fundamentada na representatividade e reforma social. A construção do período
primava, conforme referiu o seu Chanceler (2003) em aula ministrada no Instituto Rio
Branco, precipuamente a unificação do espaço econômico regional com vistas à
estabilidade política da América do Sul.
Tal intenção estava diretamente relacionada ao progresso nacional, assim como o
compromisso com o multilateralismo na construção da paz devido à violência
dos conflitos existentes à época, o que trazia à tona a necessidade de direcionamento de
maiores atenções da comunidade internacional na luta contra ameaças existentes à paz e
segurança internacionais. Nesse sentido, havia estímulo também quanto a existência de
uma agenda comercial afirmativa que viabilizasse ao país o crescimento dos fluxos de
comércio internacional, tendo em vista tratar-se de país com
tamanha estrutura produtiva. Sendo enfatizado, ainda, o estabelecimento de parcerias
diversificadas com países desenvolvidos e em desenvolvimento, tudo com viés da
mantença das relações com as nações desenvolvidas e colaboração com as situadas em
processo de desenvolvimento.
Para tanto, embasada pela intenção nacional de apresentação do país na comunidade
internacional mais como agente ativo ao invés da passividade vislumbrada
anteriormente, a atuação brasileira inicialmente se deu com vistas à criação de relações
com as nações que em momentos anteriores o país havia preterido, na intenção de
constituir a sua rede de cooperação. Tal manobra fortaleceu a chamada Cooperação Sul-
Sul, caracterizada pela cooperação entre os países em desenvolvimento do Sul Global -
subdesenvolvidos- nos âmbitos econômico, político e técnico, com vistas a “colaborar e
compartilhar conhecimento, habilidades e iniciativas de sucesso em áreas específicas,
como desenvolvimento agrícola, direitos humanos, urbanização, saúde, mudança
climática etc”, conforme referido pelas Nações Unidas (Nações Unidas Brasil, Online),
o que o Brasil fez com a criação do G-3 -IBAS- e G-20 Comercial. Sob a perspectiva da
nova política externa brasileira, a América Latina, principalmente a América do Sul,
recebeu especial atenção no contexto das relações diplomáticas, na medida em que o
governo se dedicava ao fortalecimento da região com vistas a construção de relações
equilibradas com os demais blocos.

A atuação política de Luiz Inácio Lula da Silva caracterizada como


neodesenvolvimentista é originaria  da vinculação da visão de progresso à necessidade
de se lidar com as demandas relacionadas à globalização da economia e políticas de
distribuição de renda, na intenção de resgatar a dívida social brasileira decorrente do
processo histórico de desenvolvimento do país objeto dos movimentos sociais da época,
o que acabou por resultar no aumento dos indicadores econômicos do país e foi pauta
fortemente defendida pelo Presidente no serviço exterior, considerando a relativização
das demandas sociais no cenário externo. Ante o exposto, de maneira evidente podemos
constatar que a estratégia política vislumbrada na chefia de estado do período
caracteriza-se pela ruptura com as relações diplomáticas precedentes que primavam por
colaborações norte-sul, para adoção da nova dinâmica nas relações internacionais
consistentes na busca de estabelecimento de relações com países em desenvolvimento
em todos os continentes.

Considerações Finais
A diplomacia como instrumento de atuação da política externa brasileira viabiliza a
construção das relações necessárias à aquisição de experiências dos mais diversos
campos e com soberanias das mais diversas regiões, os quais são responsáveis diretos
sobre a evolução e desenvolvimento da sociedade que ao direito recai a
responsabilidade de reger. A política externa desenvolvida pelo Chefe de Estado
brasileiro é a principal direção que desenvolverá a relação da nação com a comunidade
internacional, e estabelecerá tanto as matérias a serem percorridas como os limites
pertinentes, sendo, portanto, a figura do Presidente da República a que mais interessa ao
direito internacional, pois será ele o responsável direto por gerenciar os mecanismos de
atuação, implementar as modificações pertinentes e representar as necessidades
nacionais.

O Presidente Fernando Henrique Cardoso prezou pelo fortalecimento das relações


diplomáticas tradicionais com soberanias desenvolvidas – eixo norte-sul – e foco no
desenvolvimento econômico do país, conduta responsável pela reinserção brasileira no
cenário externo, que vinha de um governo omisso na comunidade internacional. Por sua
vez, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu causa à ruptura do modelo tradicional de
exercício da diplomacia, na medida em que priorizou o estabelecimento de relação com
as nações subdesenvolvidas – eixo sul-sul – e antepôs a necessidade do
desenvolvimento social como pauta de debates na comunidade externa.

O enrobustecimento da imagem brasileira no cenário internacional é construção do


governo de Luiz Inácio Lula da Silva, onde se observou uma ação voltada à mantença
das relações existentes oriunda da diplomacia presidencial exercida pelo seu antecessor,
e houve incomparável empenho no que concerne ao desenvolvimento regional, além de
intensa dedicação à inclusão de matérias atinentes ao desenvolvimento social nas pautas
de debates internacionais. Tendo tudo isso em vista, pode-se chegar à conclusão de que
o competente desenvolvimento da política externa brasileira está diretamente atrelado
ao desenvolvimento interno do país, na medida em que a conduta adequada importa na
aquisição de mecanismos salutares ao desenvolvimento nacional, ferramentas estas que
ao direito internacional cabe a receptividade, bem como a adequação de sua atuação
frente à necessidade de mudança.

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