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Resumo:
O objetivo deste artigo é debater a possibilidade de mesclar o conceito de soft power e
relacionando este com ações paradiplomáticas, examinando a possibilidade de se
desenvolver uma Política Externa Brasileira (PEB) a partir destes dois paradigmas. Na
primeira parte, o conceito de soft power é descrito com base em Valença e Carvalho
(2014), e exemplos e casos de soft power brasileiros são citados como base para a
discussão da capacidade do Brasil em trabalhar nesta linha. Na segunda parte, os
conceitos de paradiplomacia discutidos por Zeraoui (2016) e alguns exemplos nacionais
são apresentados. Na terceira e última parte os dois conceitos são comparados quanto
aos seus objetivos e uma discussão sobre sua possível eficácia a partir de um
planejamento coordenado em nível de Estado é sugerido como linha de ação viável para
a PEB.
1. Introdução
Ora, vê-se que o caso atual em que há ação direta de contato dos governos locais
com empresas internacionais para vacinas e equipamentos de saúde, delegações
regionais convidadas por países estrangeiros para visitas em centros de tecnologia,
saúde e empresas e negociações diretas como casos onde, por um lado, há a ação
paradiplomática dos agentes internos, e por outro, ações de soft power capitaneadas por
instituições com suporte dos governos nacionais e internacionais no enfrentamento da
pandemia como as ações da Fiocruz alardeadas pelo governo federal e das relações
entre os governadores com o laboratório chinês fabricante da Coronavac e o governo
russo por causa da vacina Sputnik.
Em síntese, estas interações geradas pelos órgãos estaduais e países estrangeiros
direta ou indiretamente por causa do desenvolvimento e distribuição de vacinas
apresenta características de paradiplomacia e soft power. O descontrole e falta de
alinhamento entre o governo federal e estaduais, mesmo que gerado por motivos
políticos de construção de plataforma eleitoral para 2022 não diminui a importância do
assunto. Muito pelo contrário, é ferramental da paradiplomacia estas interações entre
líderes em busca de projeção política, muitas vezes usando a máquina do Estado (ou
estado) para se alavancar nacional e internacionalmente.
Neste caso, levanta-se a possibilidade das esferas federais (MRE e Itamaraty)
coordenarem ações junto aos governos locais a fim de suprir necessidades de seus
estados e, em consonância, capitalizar suas agendas políticas. Por outro lado,
instituições não-governamentais nas áreas de C&T, Saúde e Defesa podem alavancar a
imagem e identidade não só do Brasil, mas de seus respectivos estados e grupos
culturais com suporte e influência dos criadores de política internacional. Esta é a
proposta para uma PEB que leva em conta a multiplicidade de agentes e relações na
pós-modernidade, das condições econômicas e políticas do Brasil para a execução de
estratégias de persuasão no cenário internacional e da visão de desenvolvimento e
autonomia almejada ao longo da PEB, com uma imagem de país pacifista, não-belicista
e não-intervencionista.
Por fim, este artigo não exclui sobremaneira a necessidade de se estudarem as
estratégias de hard power brasileiras e como estas podem ser desenvolvidas em
equilíbrio com as de soft power. Este trabalho não nega aquelas em detrimento destas,
mas faz uma ressalva de que estas podem gerar resultados efetivos, com maior rapidez,
menor custo e sem afetar negativamente a imagem do país no mundo. Outro ponto não
contemplado neste artigo é como seriam desenhadas estas estratégias de alinhamento,
deixando para futuros trabalhos esta tarefa.
Referências
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