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PARADIPLOMACIA EM PARAUAPEBAS: EXPLORANDO NOVAS

FRONTEIRAS NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS MUNICIPAIS

Paulo H. Cavaléro1

RESUMO
O presente ensaio aborda a temática das “Novas Fronteiras nas Relações
Internacionais Municipais” concentrando-se de maneira específica na análise da
paradiplomacia na cidade de Parauapebas. Este trabalho almeja, como fulcro
principal, a investigação da Paradiplomacia como impulsionadora do
desenvolvimento regional. O texto delineia alguns aspectos pertinentes à
realidade de Parauapebas, realiza uma análise da paradiplomacia local por meio
do acesso a financiamentos para projetos e discorre sobre a paradiplomacia
financeira, estabelecendo-a como um ponto focal para futuras possibilidades. A
indagação central que norteia este artigo é: A Paradiplomacia está sendo bem
aproveitada no município de Parauapebas? Conclui-se, a partir deste estudo, que
a paradiplomacia encontra-se circunscrita, uma vez que os recursos provenientes
de empréstimos obtidos junto a organismos financeiros internacionais se
concentram em um único projeto voltado para o saneamento básico, no contexto
do desenvolvimento regional. Diante desse cenário, destaca-se a necessidade de
uma abordagem mais abrangente, notadamente voltada para a
internacionalização, a fim de atrair investimentos, fomentar o desenvolvimento e
promover o turismo na região.

Palavras chave: Paradiplomacia, Governos subnacionais, Parauapebas.

INTRODUÇÃO

Em uma sociedade internacional globalizada e contemporânea comporta-se uma


variedade de atores internacionais, a qual, inevitavelmente, constitui-se uma
série de interconexões. As relações nestas redes estão inseridas os agentes das
unidades subnacionais – estados e municípios. Neste aprofundamento de
globalização e aproximação internacional ocorrido com a falta do paradigma
bipolar da Guerra Fria, tem induzido mudanças de paradigmas nas Relações
Internacionais. Evidencia-se, neste novo cenário, uma lacuna de novos atores

1Bacharel em Relações Internacionais, Especialista em Gestão Pública, MBA em Economia e


Finanças.
para atuação, os quais constituem-se como tema desta pesquisa, tendo como
foco o município de Parauapebas no Estado do Pará, região norte do Brasil.

Com a globalização, as fronteiras geográficas entre os Estados estreitam-se,


como resultado as pessoas se deslocam mais facilmente. A interdependência
dos mercados internacionais, a criação de blocos econômicos, redes de cidades,
as Organizações Não Governamentais – ONGs, todas essas linhas na teia
mundial formam, claramente, o grau de complexidade dessas novas relações.

Esse novo formato de relação internacional demonstra que os Estados nacionais


perdem na sua tradicional centralidade, não sendo mais uma unidade singular
na iniciativa social e governamental. As interações atravessam cada vez mais as
fronteiras, surgindo como fenômeno político-social a Paradiplomacia. Diante o
exposto, o objetivo deste artigo é a análise do papel exercido pela
Paradiplomacia nas Relações Internacionais, em evidencia o município de
Parauapebas, no estado do Pará, a partir da constatação de que os entes
subnacionais vêm compartilhando interesses na condução da política externa
dos Estados. Dessa forma, pretendemos:

i. Compreender o desenvolvimento regional do município de Parauapebas


através da Paradiplomacia;
ii. Analisar as melhorias através de projetos de cooperação internacional;

iii. Analisar os investimentos externos no município;

iv. Verificar as possibilidades futuras com a paradiplomacia.

A Paradiplomacia, enquanto fenômeno em desenvolvimento, assume papel


crucial nesta nova dinâmica das Relações Internacionais. A principal contribuição
deste trabalho é analisar o fenômeno dentro da esfera municipal em
Parauapebas.
A PARADIPLOMACIA PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO
MUNICÍPIO DE PARAUAPEBAS

A paradiplomacia é uma realidade pouco debatida nos entes subnacionais e


também em pesquisas universitárias no Brasil. Novos atores estão em cena e as
mudanças dessa área conservadora vem revelando estes. O foco não se deve
mais ao Itamaraty e os Estados, as possibilidades estão também voltadas para
os Municípios e suas urgências mais focadas na sua realidade.

[...] hoje, visto que, em função da nova lógica internacional,


verifica-se uma tendência crescente da inserção internacional
dos governos subnacionais propulsionada por fatores como o
fenômeno da internacionalização da economia, a urbanização
acelerada e os processos de integração regionais, entre outros.
Os governos subnacionais, termo recorrentemente trazido no
texto, referir-se-á tanto aos governos locais, os mais próximos
dos cidadãos, ou seja, os municípios, no caso do Brasil, como
aos governos regionais, que correspondem à instância
imediatamente superior a esta (RIBEIRO, 2009, p. 17).

A paradiplomacia, conceito utilizado pela primeira vez por Panayotis Soldatos


(1990) para definir o fenômeno da intensificação dos contatos e relações entre
poderes locais ao redor do mundo, une os entes subnacionais (governos
estaduais e municipais) através de novas perspectivas, onde buscam a
cooperação para o desenvolvimento em paralelo aquele oferecido pelos
governos centrais. Este é um processo de internacionalização fomentado pela
parceria em diversos temas socioeconômicos, culturais e ambientais, facilitando
a troca de experiencias e inserção ao mercado global. O foco na agenda externa
pode trazer maior participação em feiras e eventos internacionais, esquemas de
cooperação técnica, acordos entre cidades, desenvolvimento de ferramentas
locais para uma boa governança.
Conforme a consolidação da definição de alguns autores, a paradiplomacia –
podendo também ser encontrada na literatura como cooperação descentralizada
ou diplomacia federativa – consiste em uma série de iniciativas em busca do
surgimento de novos cenários políticos, econômicos e sociais a nível global.
Diante do novo cenário que surge após a segunda guerra mundial e o fim da
guerra fria, levanta-se novos horizontes entre os entes subnacionais através de
novas cooperações e a necessidade de desenvolvimento em paralelo aquele
oferecido pelos governos centrais, de fato, a diplomacia como conhecemos. A
paradiplomacia é uma alternativa à diplomacia tradicional representada pelo
governo central (RIBEIRO, 2009).

Os Estados-Nações surgem com a Paz de Westfália, também conhecida como


os Tratados de Münster e Osnabruque, em 1648, encerram a Guerra dos Trintas
Anos e inaugura um novo e moderno sistema internacional, trazendo a
concepção de soberania e o de Estado-Nação, iniciando-se o Direito
Internacional clássico e bases de estudos das Relações Internacionais.
Considerando os Estados os únicos atores nas relações internacionais, muito foi
debatido no meio acadêmico e diplomático em busca de uma solução para os
governos subnacionais no âmbito externo. Entretanto, é importante notarmos a
evolução deste entendimento ao longo da dinâmica política, principalmente com
o retorno dos sistemas democráticos de governo (ISER, 2013).

Há um entendimento – e uma prática política – de que os


governos subnacionais podem atuar internacionalmente no
âmbito de sua autonomia federativa, ou seja, no campo balizado
de suas competências constitucionais expressas, sendo elas
exclusivas ou comuns, desde que não contrariem o interesse
nacional ou invadam a seara da alta política (high politics), ou
seja, o núcleo duro das relações internacionais do Estado.
Pode-se tomar como parâmetro as relações diplomáticas e
consulares, o reconhecimento de Estado e de governo, e o
campo da defesa (RODRIGUES, 2008, p. 1017).
Em âmbito nacional, com a busca pela prática com a atuação das cidades
perante a diplomacia descentralizada, torna-se complexa a partir de 2002,
quando surgem associações nacionais de cidades, a exemplo da Frente Nacional
de Prefeitos (FNP), a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Associação
Brasileira de Municípios (ABM) dentre outros, além do entendimento ampliado
sobre o tema através do Itamaraty, criando a Assessoria de Cooperação
Internacional Federativa em 2003, e da Subchefia de Assuntos Federativos
(SAF), no âmbito da Secretaria das Relações Institucionais em 2004 (VIGENAVI,
2004 e 2005).

As principais referências teóricas utilizadas nesta pesquisa foram os estudos de


Soldatos (1990), Maia (2012), Vigenavi (2004 e 2005) e Ribeiro (2009). Também
foram consultados trabalhos de autores como de Fonseca (2013), Iser (2013),
Matsumoto (2011), Brandl (2013), dentre outros.

No presente artigo, utilizamos como metodologia a pesquisa empírica, com a


estratégia qualitativa. Além dos autores supracitados, procedeu-se com
consultas de leis, documentos, conteúdos e coleta de dados primários em sítios
institucionais na internet, com destaque para IBGE, Prefeitura de Parauapebas e
Ministério da Economia.

A CIDADE DE PARAUAPEBAS

Parauapebas é um dos 144 municípios do estado do Pará, na região Norte do


país. Município de destaque mundial devido sua posição de maior reserva
mineral do mundo. A região foi elevada à categoria de município com
denominação de Parauapebas, pela Lei Estadual nº 5.443, de 10 de maio de
1988. Com população estimada de 218.787 pessoas (IBGE, 2021), podemos
citar alguns dados: escolarização (6 a 14 anos) de 95,8% (IBGE, 2010); IDGM
(Índice de desenvolvimento humano municipal) de 0,715 (IBGE, 2010);
Mortalidade infantil de 12,42 óbitos por mil nascidos vivos (IBGE, 2019); com
uma área de 6.885,794 km² (IBGE, 2020). Em 2019, o salário médio mensal era
de 2.8 salário mínimos com proporção de pessoas ocupadas em relação à
população total de 27,3% (IBGE, 2019).

Ao buscar os índices econômicos do município, podemos destacar um em


especial: o percentual das receitas oriundas de fontes externas, 80,9% (IBGE,
2015). Não atoa temos esse índice; se analisarmos bem o contexto em qual
Parauapebas se enquadra, veremos no topo da lista a maior empresa da América
Latina e uma das empresas mais valiosas da bolsa de valores brasileira, B3.
Estamos falando da mineradora global, Vale. Com sede no Brasil e atuando em
cerca de 30 países. Em Carajás, no município de Parauapebas, é onde a
mineradora Vale mantem sua maior operação. O minério de Carajás é
considerado o minério de ferro de melhor qualidade do mundo. As rochas
encontradas nesta região são formadas, em média, por 67% de teor de minério
de ferro – o teor mais alto do planeta. As minas ocupam cerca de 3% da Floresta
Nacional de Carajás. Os 97% restantes, estão inclusos em área de proteção
ambiental responsável pelo instituto ICMBio e Ibama (VALE, 2020).

O município de Parauapebas é uma grande potência em exportar minérios de


ferro e seus concentrados. Em 1988, estabelecida pela constituição, a
Compensação Financeira de Exploração Mineral (CFEM), é uma contrapartida
financeira paga pelas empresas mineradoras à União, aos Estados, DF e
Municípios pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos
territórios. A base de cálculo da CFEM é a receita bruta nas operações de venda,
deduzindo-se apenas os tributos que incidem sobre a comercialização. Não
sendo permitido, portanto, a dedução das despesas com frete e seguro. Diante
exposto, o valor arrecadado no ano de 2020, foi de R$1.534.894.165,49 (ANM,
2020).

Sobre os minérios, de acordo com o Ministério da Economia, os dados


divulgados pelo Comex Stat, um sistema para consultas e extração de dados do
comércio exterior brasileiro, no ano de 2020, seu principal destino é a República
Popular da China, com 77% do total da exportação do insumo. Malásia aparece
em segundo lugar no ranking com 9,7% da exportação; seguido de Japão, com
3,1%; Coréia do Sul, com 2,3%; Países Baixos – Holanda, com 1,6% e Omã,
com 1,5%. Em 2020, Parauapebas foi o 1º no ranking de exportações do Estado
do Pará, com participação nas exportações do Estado em 38,6%, com acumulo
de US$7.819,8 Milhões. No ranking de exportações brasileiro o município
conseguiu a 3º colocação (MDIC, 2020).

O cenário de 2021 seguiu em ritmo positivo. O acumulado do ano mostra um


resultado maior em relação aos números vistos no ano anterior. De janeiro a
dezembro, Parauapebas exportou US$12.353,23 Milhões, um aumento de
58,0% comparado ao ano anterior. Novamente, em 2021, Parauapebas foi o 1º
colocado no ranking de exportações com 42,1% de participação nas exportações
do Estado do Pará e o 3º no ranking de exportações do Brasil. Seus principais
destino continua sendo a República Popular da China, com 75% das
exportações; seguido da Malásia, com 9,4%; Japão, com 4,0%, Omã, com 2,0%;
Coreia do Sul com 1,9%; Países Baixos, com 1,5% e França com 1,5%. Seus
principais produtos exportados são: minérios de ferro e seus concentrados,
incluídas as pirites de ferro ustuladas (cinzas de pirites) (MDIC,2021).

Em 2022, no período de janeiro a maio, as exportações vieram abaixo. Em


comparação com o mesmo período do ano anterior (2021), ouve uma redução
de -39,2%. O total de exportações já estão em torno de US$2.719,13 Milhões de
dólares americanos. Ao analisarmos a participação nas exportações do Estado
do Pará, a cidade de Parauapebas detém 31,6% neste período, mantendo-se,
apesar da queda na exportação, o primeiro lugar no ranking de exportações do
Estado do Pará e terceiro no ranking brasileiro. Ao observarmos os destinos,
ainda temos a República Popular da China como primeira no ranking de
exportações, com participação de 69%; seguida pela Malásia, com 9,2%; Japão,
com 5,2%; Países Baixos, com 2,6%; Omã, com 2,2%, França, com 2,2%; Coreia
do Sul, com 2,0; Espanha, com 1,3% (MDIC, 2022).
AS MELHORIAS ATRAVÉS DE PROJETOS DE COOPERAÇÃO E OS
INVESTIMENTOS EXTERNOS NO MUNICÍPIO

Ao andar pelos principais bairros da cidade, podemos visualizar grandes obras


de macrodrenagem nos Igarapés que ‘cortam’ a cidade. No período de inverno a
cidade sofre com muitos pontos de alagamentos e buracos em quase todos os
bairros, centrais e periféricos. Por muitos anos esses pontos são críticos e
previsíveis, causando transtornos no trânsito e comércio local. A coleta de esgoto
também é um ponto crítico. Atualmente, Parauapebas coleta 20% de esgoto e
trata apenas 8%, espera-se, ao fim das obras, uma cobertura de ao menos 65%
de coleta e tratamento de esgoto. Com o sistema de esgotamento sanitário, o
município busca ampliar o atendimento adequado em mais 10 bairros. As
moradias que se encontram em áreas de riscos e áreas afetadas pelas obras do
programa está estimada em 850 famílias reassentadas em unidades
habitacionais. Com o programa, estima-se mais de 3.000 empregos gerados
durante a execução (PROSAP, PARAUAPEBAS, 2020).

Ao analisar este cenário, entra em atividade, em 2020, o Programa de


Saneamento Ambiental, Macrodrenagem e Recuperação de Igarapés e Margens
do Rio Parauapebas (Prosap), com meta de melhoras em infraestrutura e
saneamento básico. Este é um projeto aprovado, em 2019, e financiado em
parte, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Temos, então, o
case de sucesso do município com investimento externo concretizado.

A dedicação à preservação ambiental é manifesta no projeto por meio da


instauração do Sistema de Gestão Ambiental e Social, acompanhado de um
meticuloso Plano de Gestão Ambiental e Social. Incluem-se nesse contexto
programas de Educação Ambiental e Sanitária, concebidos com iniciativas e
metodologias destinadas a propiciar uma instrução ambiental local, promovendo
a conscientização dentro da comunidade. Ademais, contempla-se a restauração
de áreas degradadas e a perpetuação das zonas de preservação permanente a
serem implementadas, assegurando, assim, a sua salvaguarda (PROSAP,
PARAUAPEBAS, 2020).
O Programa de Saneamento Ambiental, Macrodrenagem e Recuperação de
Igarapés e Margens do Rio Parauapebas (Prosap), é um projeto de grandes
proporções para a melhoria e qualidade de vida da cidade. Este projeto foi
financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), através do
projeto nº BR-L1508, aprovado em 27 de novembro de 2019, com um custo total
estimado em US$87.500.000. O financiamento de contrapartidas do país está
em torno de US$17.500.000, além do empréstimo pelo banco estimado em US$
70.000.000,00 (BID, 2020).

AS POSSIBILIDADES FUTURAS COM A PARADIPLOMACIA PARA O


DESENVOLVIMENTO REGIONAL EM PARAUAPEBAS

Culturalmente rico, o município é uma região que podemos fazer uma imersão
na cultura dos índios da etnia Xikrins, onde abriga diversas aldeias indígenas.
Parauapebas conta com quatro aldeias indígenas e 14 comunidades em seu
território: Ôôdjá, Djudjêkô, Kateté e a Pokro (Secretaria de Turismo,
PARAUAPEBAS, 2021).

Observa-se que o poder para exploração do turismo ainda é muito tímido. A


região detém a maior jazida de minérios de ferro do mundo, junto a jazida de
pedras ametistas. Conhecida mundialmente como uma das regiões mais ricas
por sua biodiversidade, a Floresta de Carajás possui cerca de 1,2 milhão de
hectares de florestas preservadas (ICMBIO, 2021). Na região o visitante
encontrará o maior parque de cavernas ferríferas do mundo, com mais de 1.000
cavernas catalogadas, mais de 600 espécies de aves já catalogadas, além de
trilhas, mirantes, savana, parque, zoobotânico e cachoeiras, esta conhecida
como Rota Carajás. Outras rotas são divulgadas através do site institucional;
Rota das Águas, o visitante conhecerá lagos, estâncias e balneários, com direito
a trilhas e degustação da culinária regional e gastronomia rural. Irá deparar-se
com a venda das gemas e joias extraídas em uma das maiores jazidas de pedras
ametistas do Brasil. O turismo de aventura também está sendo, aos poucos,
implantado na rota turística da cidade. (Secretaria de Turismo, PARAUAPEBAS,
2022).

Outra política pública inserida na região, é a formação de artesãos de biojoia,


através do projeto “Biojoias”. Criado com o intuito de promover o
desenvolvimento sustentável de Parauapebas. As biojoias são artesanatos
produzido de forma sustentável, com uso de insumos naturais encontrados em
abundância na Floresta de Carajás.

Em abril de 2022, a cidade sediou o 3º Seminário de Governança para o Turismo,


um evento nacional realizado pela Confederação Nacional de Municípios – CNM
e Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial – OCBPM. O vento
reuniu autoridades empresarias, empresários e lideranças do trade turístico do
país para debate sobre a governança no setor e indicar Parauapebas na rota
turística do Brasil e do mundo.

A inserção no âmbito internacional emerge como uma alternativa aconselhável,


pois, como é sabido, a cooperação efetiva resulta em conquistas palpáveis. Um
aspecto que demanda nossa atenção é a composição dos quadros funcionais da
municipalidade em questão: notavelmente ausentes são profissionais
especializados nas esferas do comércio exterior e das relações internacionais,
mesmo diante da presença de mais de 10 mil servidores em sua folha de
pagamentos (Secretaria de Administração, PARAUAPEBAS, 2022). Para que o
município de Parauapebas possa trilhar uma senda semelhante a outras
localidades, sugere-se a instauração de uma Secretaria de Assuntos
Internacionais ou a criação de uma Coordenadoria Especial de Relações
Internacionais, incumbidas de abordar temáticas relevantes para a efetiva
internacionalização. Diversos aspectos se delineiam como promissores focos de
investimento e colaboração com outros entes ao redor do globo.

Um ponto importante da paradiplomacia em países emergentes é o foco


econômico:
A primeira camada corresponde às questões econômicas. Neste
contexto, governos subnacionais visam desenvolver uma
presença internacional com o objetivo de atrair investimentos
estrangeiros, atraindo empresas nacionais para a região, e
visando novos mercados para exportações. Essa camada não
tem uma dimensão política explícita, nem se preocupa com
questões culturais. principalmente uma função da competição
econômica global. O exemplo prototípico aqui são os estados
americanos cuja atividade internacional consiste essencialmente
da prossecução dos interesses econômicos (LECOURS, 2008,
tradução nossa).

Tratando-se do foco econômico, podemos citar alguns pontos principais: i)


promoção de exportações ou turismo estrangeiro (paradiplomacia comercial); ii)
captação de recursos financeiros externos (paradiplomacia financeira); iii)
atração de investimentos externos diretos (IED); e iv) absorção e transmissão de
conhecimentos e tecnologia pela via da cooperação técnica (paradiplomacia
cooperativa) (MAIA, 2012, p. 146).

A Paradiplomacia financeira é a iniciativa própria e autônoma de um governo


subnacional no sentido de negociar e contratar diretamente a captação de
recursos externos ofertados por fontes internacionais, oficiais ou privadas, e/ou
governamentais estrangeiras com vistas a complementar suas necessidades de
financiamento de investimento público. Através dela, busca-se: i) assegurar
recursos externos para financiar projetos de investimento público (a “regra de
ouro” do empréstimo externo; ii) obter recursos externos a custos menores do
que no mercado interno e a prazos maiores de amortização; iii) angariar recursos
adicionais para “fugir” da restrição orçamentária dada pelas receitas próprias e
transferências fiscais do governo central; iv) ter acesso a melhores práticas para
a formulação de políticas e a gestão de projetos a partir da cooperação técnica
e financeira dos organismos internacionais (MAIA, 2012, p.150).
No Brasil, os governos subnacionais ora têm autonomia para a captação de
recursos externos. Entretanto, o processo tornou-se estritamente regulamentado
pelo governo federal, a partir de finais da década de 1980, quando passou a
exigir o cumprimento de uma extensa lista de formalidades. Na prática o
processo exclui a possibilidade de o ente subnacional tomar empréstimos
externos sem obter a autorização do Senado Federal e a garantia da República
para a celebração de contrato de empréstimo com os organismos internacionais
ou bilaterais de cooperação financeira (MAIA, 2012, p.296-299).

Regulamentado pela Secretaria do Tesouro Nacional por meio da Portaria STN


9/2017, o Manual para Instrução de Pleitos (MIP) estabelece os procedimentos
de instrução dos pedidos de análise dirigidos ao Ministério da Economia
(verificação de limites e condições e análise da concessão de garantia).
Pretende-se, assim, orientar os técnicos dos entes da Federação pleiteantes no
adequado fornecimento das informações necessárias para a análise da proposta
(Tesouro Nacional, MDIC, 2017).

Em acordo com o Manual para Instrução de Pleitos (MIP, 2021) que estabelece
os procedimentos de instrução dos pedidos de verificação de limites e condições
para contratação de operações de crédito e para obtenção e concessão de
garantia dirigidos ao Ministério da Economia, a preparação do projeto passível
de financiamento externo somente tem início após a aprovação da respectiva
carta consulta pela Comissão Interministerial de Financiamentos Externos
(Cofiex). De acordo com o ciclo específico de cada Agente Financiador, este
realiza missões técnicas junto ao ente subnacional candidato a mutuário com
vistas a detalhar a proposta. Concluída essa etapa, o Agente Financiador elabora
as minutas contratuais e as encaminha à Secretaria de Assuntos Econômicos
Internacional - SAIN, do Ministério da Economia que, na qualidade de órgão
coordenador da negociação, as distribui à Secretaria do Tesouro Nacional
(STN/ME), Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN/ME), ao proponente
mutuário e ao órgão executor (MDIC, 2021).
Tratando-se do tema da cooperação em internacionalização dos municípios,
existem várias entidades com intuito de incentivar, orientar e fortalecer a
autonomia dos Municípios. A discussão em conselhos e comitês precisa estar
presente na agenda da gestão local. A representação da cidade de Parauapebas
junto aos diversos entes de representação em âmbito nacional, fortalece a busca
por políticas públicas junto ao Governo Federal e parcerias internacionais em
entes globais representativos de entes subnacionais. O fortalecimento da gestão
municipal através de pesquisas, cooperação técnica e apoio jurídico, também
são um dos fatores determinantes para atuar junto aos organismos e
associações nacionais e internacionais.

Dentre as associações internacionais temos as principais:

• United Cities and Local Governments – UCLG;


• Federación Latinoamericana de Ciudades, Municipios y
Asociaciones de Gobiernos Locales – FLACMA;
• Federación Lationoamericana de Ciudades;
• Alianza Eurolatinoamericana de Cooperación entre Ciudades – AL-
LAS;
• ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade;
• Centro Iberoamericano de Desarrollo Estratégico Urbano – CIDEU;
• Mercociudades e tantas outras.

Em âmbito nacional temos exemplos como a Confederação Nacional de


Municípios – CNM, a Frente Nacional de Prefeitos – FNP etc. Todas mantem
projetos que visão garantir a participação dos municípios no pacto federativo e
atuam com parceiros internacionais, fomentando a internacionalização dos
municípios brasileiros.

Vislumbrando possibilidades futuras com a paradiplomacia para o


desenvolvimento regional de Parauapebas, candidatar-se em fazer parte das
redes de cidades e organismos internacionais, é recomendável, com o objetivo
de conhecer práticas e de trocar conhecimentos em áreas prioritárias como
saúde, educação, economia, tecnologia e infraestrutura, utilizando o
reconhecimento internacional de práticas exitosas, além de acesso a
financiamentos estrangeiros. Estabelecer e implementar compromissos
internacionais, como o caso das ações voltadas para o alcance da Agenda 2030
e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a Nova Agenda Urbana, o Pacto
Global de Prefeitos pelo Clima e Energia etc. Tudo isso, enfim, deverá seguir
agendas e prioridades estabelecidas em harmonia aos anseios locais, servindo
como mais uma ferramenta para resolver problemas identificados pela gestão
pública local.

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, assinada


em 2015 pelo Brasil e outros 192 países-membros da
Organização das Nações Unidas (ONU), é um plano de ação
que estabelece 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) e 169 metas para acabar com a pobreza e a fome em
todos os lugares; combater as desigualdades dentro e entre os
países; construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas;
proteger os direitos humanos e promover a igualdade de gênero
e o empoderamento das mulheres e meninas; e assegurar a
proteção duradoura do planeta e seus recursos naturais. Ela
também estabelece compromissos de criar condições para um
crescimento sustentável, inclusivo e economicamente
sustentado, prosperidade compartilhada e trabalho decente para
todos, tendo em conta os diferentes níveis de desenvolvimento
e capacidades nacionais. Sendo assim, os ODS tratam de
temas cruciais para os Municípios e dependem da atuação
municipal para o seu alcance (CNM, 2022).

As premiações e reconhecimentos regionais e internacionais é outro tema


importante. Estes estão sendo difundidos e usados como selos de certificação
de boas práticas em nível municipal, como bem pontua a Confederação Nacional
de Municípios, em sua análise para à atuação internacional dos municípios.
Diversas possibilidades em diferentes temáticas podem variar de incentivos
financeiros até a difusão da prática em meios de comunicação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o tema delineado, conclui-se que a cidade de Parauapebas, recentemente


começou sua experiência de internacionalização. A busca pela valorização da
mão de obra local, como demonstrado, através de políticas públicas para o
desenvolvimento no mercado de biojoias e turismo. O Município não dispõe em
seu quadro de servidores e assessores um cargo de especialista em comercio
exterior, tão pouco, para relações internacionais, mesmo com os dados
demonstrando que a maior parte da sua arrecadação advém do mercado de
exportação. Atualmente o governo local passou a perceber as oportunidades e o
seu potencial para o desenvolvimento, além da troca de experiencias que podem
ser resultantes com os impactos da cooperação internacional.

A Paradiplomacia está sendo bem aproveitada no município de Parauapebas? A


presente pesquisa observou que a paradiplomacia está limitada em um único
projeto de infraestrutura e saneamento básico. Diante o exposto, observa-se a
paradiplomacia no município encontra-se em seu estágio inicial - é
compreensível se lembrarmos que a cidade tem, apenas, 34 anos de fundação -
entretanto, com uma possibilidade de crescimento que se destaca pelas suas
belezas e riquezas naturais bem conservadas e protegidas, possibilitando vir a
ser um grande polo turístico na região norte do Brasil. Existe um longo percurso
que se inicia com uma gestão responsável, dedicada e técnica.

REFERÊNCIAS

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