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1º Seminário Nacional de Pós-Graduação em Relações Internacionais

12 e 13 de julho de 2012; Finatec, Brasília-DF.

Workshop Doutoral
Área temática: Política Externa

O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E A


POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL PARA A AMÉRICA DO SUL: O CASO DA
CONSTRUÇÃO CIVIL.

Patrícia Mara Cabral de Vasconcellos


Doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) no curso de Relações Internacionais.

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O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E A
POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL PARA A AMÉRICA DO SUL: O CASO DA
CONSTRUÇÃO CIVIL.

Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar a relação entre o processo de
internacionalização de empresas brasileiras e a política externa do Brasil para a
América do Sul, pautando a análise, em especial, na atuação das empresas
transnacionais de construção civil do Brasil. A proposta pretende elucidar os
interesses e objetivos brasileiros, no discurso e na prática, no momento em que as
empresas transnacionais são percebidas como possíveis instrumentos políticos e
econômicos para a consecução de interesses nacionais. Para tal, enfatiza-se o
modo como as empresas transnacionais se relacionam com os governos e as
relações de poder que se estabelecem. Preliminarmente, conclui-se que através da
internacionalização de suas empresas, o Brasil visualiza uma forma de expandir sua
influência política e econômica na América do Sul, consolidando a imagem de
potência regional. Dessa forma, as empresas assumem um papel importante na
política externa brasileira, refletindo valores e imagens positivas e negativas do
Estado, da mesma forma que uma esfera tradicional da diplomacia.
Palavras-chave: Internacionalização, Empresas, Política Externa, Brasil.


1
O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E A
POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL PARA A AMÉRICA DO SUL: O CASO DA
CONSTRUÇÃO CIVIL.1
Patrícia Mara C. Vasconcellos2

INTRODUÇÃO

A bibliografia sobre o processo de internacionalização de empresas, de


modo geral, tem frisado o aspecto econômico desta dinâmica. Destacam-se estudos
sobre a motivação e as dificuldades das empresas em realizar a sua
internacionalização (Dunning, 1976 e 1988; Lee e Caves, 1998; Caves, 1982;
Johanson e Vahlne, 1977 e 1990); estudos sobre os impactos dos fluxos de
investimento direto estrangeiro no Brasil (Laplane et al, 2001; Sarti e Laplane, 2002;
Nonnenberg e Mendonça, 2003; Chudnovsky, 2001); e revisões sobre as políticas
públicas implantadas pelo Estado para incentivar a internacionalização, neste caso,
analisam-se, em especial, os desembolsos realizados pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico Social – BNDES (Além e Cavalcanti, 2005; Sobeet,
2004). Pouca atenção é dada ao significado político dos fluxos de investimento
brasileiro direto (Iglesias e Veiga, 2002; Hiratuka e Sarti, 2011) e, no mais, a maior
lacuna bibliográfica refere-se ao aspecto político do processo de internacionalização
de empresas, ou seja, como a soberania e os interesses dos Estados são afetados e
intermediados pelas empresas transnacionais.
Nesse trabalho não se pretende separar a análise econômica da análise
política. Entende-se que os aspectos são complementares, entretanto, carece-se de
um entendimento aprofundado sobre as relações políticas entre empresas
transnacionais3 e Estado, em especial, no que se refere à política externa.
A internacionalização de empresas é descrita como uma estratégia político-
econômica que eleva o nível de competitividade das empresas no mercado mundial
colaborando para o crescimento econômico do país. Em geral, a política de

1
Trabalho preparado para apresentação no 1º Seminário Nacional de Pós-Graduação em Relações
Internacionais, Brasília/DF, 12 e 13 de julho de 2012.
2
Doutoranda do curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). Apoio
financeiro: Capes. Email: pmcvasconcellos@gmail.com
3
Neste trabalho empresas ou corporações transnacionais ou multinacionais são tratadas como
sinônimos.
2
internacionalização de empresas insere-se no planejamento macroeconômico e
industrial do Estado. A empresa busca uma expansão no mercado internacional e o
Estado, por sua vez, deseja promover o desenvolvimento econômico.
A função do governo nesse processo, todavia, não é consenso (Brasil,
2009). Em que medida o Estado influi e intervém na dinâmica econômica, agindo
como facilitador no processo de internacionalização das empresas é fator que deve
ser investigado em cada caso. Em conseqüência, o Estado ao priorizar um setor ou
liberar recursos para determinadas empresas expressa seus interesses na dinâmica
do mercado e política mundial, ou seja, para o Estado, a internacionalização é uma
escolha que reflete a sua diretriz política e econômica.
No caso do Brasil, de acordo com Correa e Lima (2008), o processo de
internacionalização das empresas brasileiras inicia-se com o processo de abertura
econômica. Antes deste fato, ou seja, na década de 1980, o processo de
internacionalização não era significativo. De modo mais contundente, é a partir da
criação do Mercosul, em 1994, que se inicia um contexto favorável para a
internacionalização das empresas com a premissa de integração regional. Assim, o
desafio é relacionar de modo claro a internacionalização das empresas aos objetivos
e interesses do Estado brasileiro. A política estratégica denominada de “novo
desenvolvimentismo” indicar uma resposta para a questão.
Nessa perspectiva, a internacionalização das empresas de construção do
Brasil é ressaltada. Atualmente, entre os investimentos brasileiros no exterior e, em
especial, na América do Sul, destaca-se o realizado por intermédio das empresas de
engenharia brasileiras devido a sua relação com o processo de integração regional.
Desse modo, desde 2000, quando a Iniciativa para a Integração de Infraestrutura
Regional Sul-Americana (IIRSA) foi aprovada pelos doze países da região, os
investimentos vinculados à iniciativa contribuíram para a consolidação das empresas
de construção nos mercados vizinhos. O objetivo da política externa brasileira de
aproximação física com os países vizinhos, envolta por um discurso regional, é
realizado por meio do financiamento e atuação das empresas brasileiras. Assim, a
atuação dessas empresas vincula-se de imediato ao interesse brasileiro de
promover a integração regional, bem como consolidar a sua liderança no continente.
As empresas de engenharia brasileiras iniciaram a internacionalização de
suas atividades na década de 1970, tendo como principal mercado a América Latina.
3
Atualmente, a atuação dessas empresas em empreendimentos na região aponta
para controvérsias da política externa brasileira. Primeiramente, verifica-se a
hipótese de que o Brasil estabelece uma relação de dependência indireta através
dos financiamentos, promovendo um alto custo político para que os Estados
quebrem ou não firmem determinados acordos com o Brasil, contrastando com o
discurso de uma governança regional sem hegemonia. Segundo, entende-se que é
possível observar uma hierarquia de valores em que a decisão política e a ação
econômica se sobrepõem aos impactos socioambientais. Neste caso, aponta-se que
a atuação das empresas privadas mascara a responsabilidade do Estado sobre as
possíveis conseqüências dos empreendimentos, fazendo com que o Brasil não seja
diretamente vinculado a perspectiva de desenvolvimento não sustentável.
Para elucidar tais considerações, são apontados alguns estudos de caso,
como a construção de hidrelétricas no Equador, Peru e Bolívia, bem como a
construção de rodovias na Bolívia e Peru e outros empreendimentos de engenharia
civil realizados por empresas brasileiras (Odebrecht, OAS e outras). Através dos
casos selecionados busca-se uma breve reflexão sobre pelo menos cinco questões:
(1) em que medida os interesses brasileiros são coincidentes com os interesses das
corporações transnacionais e qual o papel dessas empresas na Política Exterior do
Brasil, (2) quais as estratégicas e objetivos brasileiros na promoção da
internacionalização de suas empresas (3) quais são os mecanismos de influência
política entre Estados e empresas (4) até que ponto as ações dessas empresas
podem ser interpretadas como ações do Estado e (5) se é, realmente, possível
perceber uma hierarquia de valores entre as decisões políticas, econômicas, sociais
e ambientais e, em sendo possível, se existe a possibilidade de compatibilizar os
valores dos grupos envolvidos (população local, Estado anfitrião e empresários).
Dessa forma, a seguir apresenta-se uma breve discussão teórica sobre a
dinâmica de poder entre Estados e empresas transnacionais. Posteriormente, uma
contextualização da internacionalização das empresas brasileiras e o vínculo com a
política externa do Brasil. Por fim, expõem-se algumas das contradições da atuação
das empresas de construção civil na América do Sul. Inicialmente, entende-se que o
Brasil tem utilizado a internacionalização das empresas como um agente diplomático
que busca e defende seus interesses nacionais de desenvolvimento.

4
ESTADO, EMPRESAS TRANSNACIONAIS E PODER.

A problemática política que envolve a relação entre empresas transnacionais


e Estados não é nova, ainda que a análise teórica não tenha sido aplicada
extensamente a realidade brasileira ou sul-americana. O tema da
internacionalização das empresas inicia a sua discussão na área de relações
internacionais questionando-se a centralidade das análises que colocavam o
Estado-nação como ator principal ou único do sistema internacional.
A emergência de novos atores, entre eles, as corporações multinacionais,
conduz o debate sobre o papel e a influência destes no sistema internacional. Com
esse enfoque teórico destacam-se a análise de três atores: Robert Keohane, Robert
Gilpin e Susan Strange. A discussão inicia-se na década de 1970 e 1980 e fomenta
o debate sobre as mudanças na economia e na política internacional. Na bibliografia
brasileira recente, 2006, a tese de Sarfati discute o poder estrutural e o poder brando
das empresas multinacionais. Uma breve análise das proposições dos autores
citados pode indicar perspectivas teóricas que ajudem a explicar a função das
empresas transnacionais brasileiras na política estatal e na economia internacional.
Nesse sentido, a análise de Strange (Stopford e Strange, 1991; Strange,
1992) sobre a formação de uma diplomacia triangular é interessante. Para a autora,
as mudanças estruturais do sistema econômico internacional, em especial, a
crescente interdependência, o aumento da competição global, a maior mobilidade de
recursos financeiros e a rápida mudança tecnológica, alteraram a relação entre
Estados e corporações multinacionais fazendo com que surgissem duas novas
formas de diplomacia. Além da diplomacia tradicional entre os Estados, tem-se a
diplomacia realizada entre as empresas e a diplomacia entre as empresas e o
Estado.
A diplomacia entre Estado e empresas, segundo Strange, refere-se ao
processo de negociação para que as empresas aloquem suas operações no
território do Estado. Assim, as empresas procuram mercados que ofereçam
melhores fatores de produção e os Estados com o objetivo de criarem riqueza em
seus territórios a incentivam a estarem alocadas nele. Para Strange, a escolha do
país anfitrião é uma estratégia da empresa que influencia a dinâmica da economia
global.
5
Na perspectiva atual brasileira, visualiza-se uma hipótese diferente da
apontada por Strange. Na diplomacia Estado-Empresa, os governos, também,
incentivariam suas empresas a se alocarem em território alheio com o objetivo de
exercer influência por meio do mercado (economia) associando a expansão das
empresas com seus interesses de política externa. Para além de fatores de
produção atrativos, a escolha do país anfitrião dependeria da estratégia do Estado,
portanto, não da empresa, através dos incentivos dados pelo Estado nacional para
que suas empresas se instalassem em um determinado país e não em outro. A
mudança de foco no poder de decisão – passando das Corporações Multinacionais
para o Estado Nacional – recoloca o Estado na centralidade das decisões
econômicas. Com relação ao país anfitrião cria-se uma interdependência no plano
econômico (Estado-Estado), através das empresas nacionais, aumentando os
custos político-econômicos da divergência de posicionamento entre os países.
No caso da diplomacia entre empresas, de acordo com a definição
apresentada pela autora, estas passam a atuar de forma similar a diplomacia estatal.
Realizam alianças, temporárias ou permanentes, combinando capacidades em
busca de seus interesses. As cinco principais empresas brasileiras na área de
construção – Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e
OAS – concorrem entre si, mas, é fato comum a associação entre elas através de
um consórcio para a execução das obras e reserva de mercado.
Outra questão apontada por Strange refere-se ao o papel das empresas
multinacionais no desenvolvimento dos países. O aumento da interdependência das
economias nacionais mudou a percepção dos governos sobre as empresas
multinacionais. Antes havia uma visão negativa e ideológica de que as empresas
estrangeiras eram prejudiciais aos interesses nacionais de desenvolvimento. A partir
dos anos 1980, a visão torna-se pragmática e entende-se que as empresas possam
oferecer aos países menos desenvolvidos um estímulo ao desenvolvimento sem
prejudicar a economia local (Stopford e Strange, 1991).
Na mesma perspectiva, Gilpin (2001) aponta que as corporações multilaterais
se tonaram um fator chave da globalização da economia mundial e que houve uma
mudança na relação entre empresas e desenvolvimento. O autor reconhece que
inicialmente as empresas exploravam e subjugavam os povos nativos, no entanto,
afirma que, posteriormente, as empresas multinacionais passaram a colaborar,
6
através do capital e da tecnologia, com o desenvolvimento econômico dos países
menos desenvolvidos. No prisma do Estado brasileiro, a visão sobre as corporações
multinacionais parece indicar a mesma mudança de opinião. No discurso, a atuação
no exterior das empresas brasileiras de construção civil é responsável por promover
o desenvolvimento regional.
As afirmações de que as corporações multinacionais representam uma alta
concentração de poder econômico e político, capaz de prejudicar os governos de
países menores, significa tratar as empresas como uma ameaça exagerada (Gilpin,
2001). As empresas multinacionais, para Gilpin, têm aumentado a sua função na
economia global, mas o Estado permanece com as condições de gerenciar as
políticas macroeconômicas que são fundamentais para traçar o desenvolvimento
nacional.
Keohane e Ooms (1971), por sua vez, apresentam as diferentes formas em
que é possível perceber a influência da empresa multinacional na soberania do
Estado e nas suas relações intergovernamentais. Os autores questionam os modos
pelos quais as atividades das empresas multinacionais podem afetar o poder relativo
dos países. A resposta relaciona-se com a capacidade do Estado em controlar as
decisões e suportar a adaptação a mudança.
No mesmo sentido, Sarfati (2006) ressalta que os conceitos de sensibilidade
e vulnerabilidade apresentados por Keohane e Nye podem ser aplicados na relação
de poder das empresas multinacionais frente ao poder do Estado e nas relações de
dependência e interdependência entre eles. Sobre essa questão Magdoff afirma que
“as empresas multinacionais com sede nos Estados Unidos são instrumentos
decisivos do imperialismo americano, que se difunde tanto através do governo como
das empresas” (Magdoff apud Keohane e Ooms, 1971:233). O imperialismo é
resultado da dependência econômica dos outros países com relação aos Estados
Unidos e, também, controle das matérias primas nos países menos desenvolvidos.
Além disso, as empresas (filiais no país estrangeiro) podem ser usadas para exercer
pressão econômica com finalidade política. Trata-se de usar as relações
transnacionais como relações estratégicas. Assim, a empresa multinacional torna-se,
claramente, instrumento de política externa.

7
A visão de Sarfati (2006),é que as empresas multinacionais utilizando-se do
poder estrutural4 e do poder brando podem afetar a balança de poder entre os
Estados. As empresas tornam o país mais competitivo e este pode influenciar ou
modificar as regras dos negócios internacionais de acordo com seus interesses.
Keohane e Ooms (1971) ainda destacam a possibilidade de conflito entre
governos devido a atividades das empresas. As relações Brasil e Equador, no caso
da construção da hidrelétrica de San Francisco pela empresa Odebrecht, ilustra a
afirmação feita pelos autores.
Dessa forma, através dos conceitos das novas formas de diplomacia, da
leitura de Gilpin sobre a função das multinacionais no desenvolvimento dos países e
da relação de poder e interdependência apresentada por Keohane indica-se os
desafios da análise da relação política entre empresas e Estados, apontando, ainda
que superficialmente, as hipóteses do caso brasileiro.

BRASIL E INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS: UM INSTRUMENTO PARA A


POLÍTICA EXTERNA.

A internacionalização das empresas dos países em desenvolvimento é um


fenômeno relativamente novo, datado a partir da década de 1980 (Brasil, 2009). No
caso brasileiro, antes deste período, o processo de internacionalização não era
significativo. As empresas brasileiras que buscaram a internacionalização na década
de 19705, como foi o caso das construtoras brasileiras, foram motivadas por
mecanismos de mercado (restrições no mercado interno; reserva de mercado).
No período seguinte, a ausência de um processo macroeconômico estável é
um dos fatores que, segundo Iglesias e Veiga (2002), explica o baixo grau de
investimentos brasileiros no exterior. Com o Plano Real (1994) as condições
macroeconômicas desfavoráveis estavam mantidas, mas a liberalização econômica,
a estabilização alcançada com o Plano e o processo de integração regional com a
formação do Mercosul tornam-se fatores de incentivo à internacionalização das

4
A definição de poder estrutural apresentado por Sarfati é baseado na concepção apresentada por
Strange (1988)
5
No período de 1960 a 1980, o processo de internacionalização das empresas brasileiras é
centralizado no processo de expansão da Petrobrás, das instituições financeiras (bancos) e nas
empresas construtoras.
8
empresas. Contudo, sugere-se que é a partir do governo Lula, em 2002, que
mercado e Estado parecem alinhados em torno de objetivos complementares
relacionados com a internacionalização de empresas. Assim, o Estado passa a
incentivar a internacionalização de setores-chave, de acordo com seus interesses
nacionais.
A política denominada de “novo-desenvolvimentismo”, própria do período do
governo Lula, segundo Oliva (2010), insere uma perspectiva de mudança uma vez
que é diferente do modelo neoliberal, que preceitua um modelo de Estado mínimo,
mas é, também, diferente da concepção do nacional-desenvolvimentismo, que
devido a um alinhamento com as forças de mercado hegemônicas, gerou um padrão
excludente de crescimento e acumulação. Em outras palavras, o “novo-
desenvolvimentismo” propõe uma nova combinação entre Estado e mercado, em
que ambos, são caracterizados como fortes (Sicsú; Paula; Michel, 2007). Neste
caso, a busca pelo desenvolvimento norteia as formulações da política externa, com
um caráter essencialmente autônomo e inclusivo, mas ao mesmo tempo, consciente
de um mercado interdependente e global.
O novo desenvolvimentismo aponta para uma política externa na qual o Brasil
busca exercer uma liderança no cenário internacional diversificando relações
econômicas e comerciais, propagando uma ideologia de desenvolvimento vinculado
a não-hegemonia (democratização das relações), primazia da defesa dos aspectos
sociais (inclusão) e preservação ambiental. Diante de tais objetivos inserem-se as
empresas transnacionais e os bancos públicos, ou seja, o processo de
internacionalização das empresas como um instrumento dos interesses do Estado.
Contudo, o processo de internacionalização apresenta dificuldades. A forma
como o Estado vai saná-las, ao promover políticas públicas que incentivem o
processo, depende do modelo político adotado pelo Estado. Dois modelos se
destacam (Brasil, 2009). Em um deles, o Estado é visto como indutor do processo,
no outro, como facilitador. A diferença é que no primeiro há intervenção ativa do
Estado no processo de internacionalização, elegendo setores estratégicos de
atuação. No segundo caso, visa-se criar marcos regulatórios favoráveis à
internacionalização sem definir qualquer setor como estratégico. O Brasil busca um
modelo que ressalte as características da governança, de onde se desprende que a
política a ser seguida pelo Estado brasileiro ainda não está totalmente definida
9
(Brasil, 2009). Entretanto, baseando-se nos preceitos da política novo-
desenvolvimentista, acredita-se que o Estado brasileiro esteja agindo como indutor
do processo de internacionalização.
De modo geral, as estratégias adotadas pelo Brasil para a promoção da
internacionalização de suas empresas referem-se à promoção de acesso a linhas de
financiamento, em especial via o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
Social (BNDES) e Banco de Brasil e ao fomento de instrumentos que minimizem os
riscos no exterior, como por exemplo, acordos internacionais e apoio informacional e
técnico.
O apoio a internacionalização das empresas brasileiras foi enfatizado em
2002 quando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES)
aprovou uma linha de financiamento específica para incentivar a atuação das
empresas brasileiras no mercado internacional via exportação. Naquele ano, o
Estatuto do BNDES foi alterado visando autorizar o financiamento de projetos de
investimento direto no exterior. Em 2005, foram aprovadas as normas de
financiamento de Investimento Direto Estrangeiro (IDE). As empresas beneficiárias
destas normas são aquelas de capital nacional que atuam em atividades industriais
ou na área de engenharia com estratégia de internacionalização em longo prazo
(Fiocca, 2006).
A viabilidade de financiamento pelo BNDES é um fator que tem sido
preponderante para a consolidação das empresas brasileiras de construção na
América do Sul. A empresa OAS, por exemplo, nas tentativas de ingressar no
mercado do Paraguai foi questionada pelos interlocutores locais sobre as
possibilidades de financiamento utilizadas pela empresa, a qual respondeu que as
obras da empresa na região, em geral, contam com o apoio do BNDES (Brasemb,
20116). Este fato revela a importância do financiamento, constituindo-se como um
ponto positivo para a entrada das empresas brasileiras no mercado regional.
Com o objetivo de diversificar e facilitar as fontes de recursos para os
financiamentos, em 2009, o BNDES abriu um escritório em Montevidéu, em agosto,
com o intuito de reforçar as operações do Brasil com os países vizinhos e uma

6
Correspondência diplomática – Brasemb Assunção para Exteriores em 17/10/2011. Assunto: Brasil-
Paraguai. Promoção comercial. Investimentos. Missão de representantes da OAS. Assunção, 04 e
05.10.2011.
10
subsidiária em Londres que foi inaugurada em novembro. De acordo com Novoa
(2009), essas iniciativas significam um processo em que se almeja compatibilizar
política externa com política de integração regional por meio do processo de
expansão de capitais (Novoa, 2009, p.197). Dessa forma, explicitam-se os
interesses brasileiros.
Como dito inicialmente, o processo de internacionalização para as empresas
que buscam competir no mercado global torna-se necessário para dinamizar as
atividades da empresa evitando perda de competitividade. Dito de outra forma, a não
realização da internacionalização pode acarretar impactos negativos na
sobrevivência da empresa. Para o país, a internacionalização da empresa significa
que suas empresas estão em posição de relevância no mercado, o que contribui
com o acesso a recursos e mercados, bem como se vincula a uma política de
estruturação econômica (Corrêa e Lima, 2008). Para o Brasil, a atuação das
empresas brasileiras em mercados externos torna-se fundamental para consolidar
sua influência no processo de governança global, solidificar sua liderança na
América do Sul e promover a dinâmica da integração regional. Na prática, no
entanto, o processo se mostra mais complexo, revelando suas contradições.

A ATUAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL NA


AMÉRICA DO SUL.

As empresas de engenharia brasileiras iniciaram suas atividades de


internacionalização na década de 1970. A empresa Mendes Júnior, por exemplo, foi
a primeira a exercer atividades no exterior, construindo a hidrelétrica de Santa
Isabel, na Bolívia, em 1969. A Odebrecht constrói, em 1979, a hidrelétrica de
Charcani V, em Arequipa, Peru. A empresa Camargo Corrêa participa da
construção e montagem, em 1978, da usina de Guri, na Venezuela. A empresa
Gueiroz Galvão constrói a barragem de Paso San Severino, no Uruguai, em 1984.
No mesmo ano, a empresa Andrade Gutierrez inicia sua atuação internacional
construindo a rodovia Epena-Impfondo-Dongou, no Congo e a rodovia Cochabamba-
Chimaré e Yapacani-Guabirá, na Bolívia.
As obras de infraestrutura, realizadas em território brasileiro nas décadas
anteriores, permitiram que as empresas brasileiras adquirissem know-how em
11
grandes obras, estando, portanto, capacitadas a competir no mercado externo. No
final do regime militar, na década de 1970, com o crescente endividamento do
Estado, processo inflacionário e a incapacidade de continuar a financiar grandes
obras públicas, as empresas percebem o mercado doméstico não é atrativo, ou seja,
há uma desaceleração do mercado doméstico, e as empresas vêem-se
pressionadas a buscar o mercado externo. Este é um dos fatores que impulsiona o
investimento externo brasileiro (Iglesias e Veigas, 2002).
Em 2008, de acordo com a pesquisa da Fundação Dom Cabral7, das vinte
maiores multinacionais brasileiras por ativos no exterior, três eram do ramo de
construção: a Odebrecht, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez. Todavia, a
atuação das empresas não ocorre sem problemas e sem que valores sejam
questionados. Contradições da política externa brasileira podem ser percebidas por
este prisma – referente, de modo geral, ao principio do desenvolvimento
socioambiental e ao princípio democrático com respeito às minorias.
Como uma das medidas governamentais que auxilia no fomento da
internacionalização das empresas brasileiras indica-se a promoção da marca Brasil.
A marca Brasil cria uma relação de identidade entre a população que recebe os
produtos ou serviços das empresas brasileiras com o Estado brasileiro. Em uma
relação positiva, a imagem do Brasil no exterior se fortalece como país potência com
capacidade de acesso a mercados e tecnologia. Entretanto, a imagem do Brasil é
abalada quando seus produtos são caracterizados como violadores de direitos
ambientais e direitos humanos. Este é, por vezes, o caso da construção de grandes
empreendimentos realizados por empresas de engenharias brasileiras.
A ausência de participação da população nas decisões, estudos de impactos
socioambientais considerados insatisfatórios, violação dos direitos da população
local e condução irregular do projeto das obras ilustram os exemplos sobre a
atuação das empresas brasileiras de construção civil.
No Peru, por exemplo, um dos motivos pelos quais a hidrelétrica de
Paquitzapango teve os estudos de viabilidade paralisados foi a ausência de
mecanismos de consulta à população local. O mesmo ocorre com as hidrelétricas
de Inambari (Peru) e Tambo 40 (Peru). A expectativa era que as obras da
hidrelétrica de Inambari tivessem início em 2012, todavia, no dia 13 de junho de
7
Ver: Hiratuka e Sarti (2011).
12
2011, considerando as reivindicações dos moradores da região, o governo peruano
cancelou a licença preliminar para execução do projeto hidrelétrico. Entre os fatores
alegados pela população local e líderes indígenas, afirma-se que a usina afetaria a
biodiversidade de uma reserva nacional, sendo que 410 km2 seriam alagados,
afetando aproximadamente 14 mil pessoas – entre elas diversas aldeias indígenas
da etnia Ashaninka8.
A hidrelétrica de Tambo 40, também, é questionada pela população local. Os
dados sobre os impactos ambientais são controversos: os povos indígenas da região
estimam que a hidrelétrica inundaria uma área de 73 mil hectares de floresta e
deslocaria aproximadamente 14 mil pessoas e a empresa Odebrecht afirma que
seriam 12 mil hectares inundados e 1.360 pessoas atingidas9. A construção da
hidrelétrica de Cachuela Esperanza (Bolívia) é questionada nos mesmos moldes da
hidrelétrica de Inambari.
Na Bolívia, a construção da rodovia que passaria por dentro da Terra
Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Parque Tipnis) gerou afirmações por parte
de lideres do movimento indígena boliviano de que o Brasil não respeitava os
direitos da população local ao apoiar e financiar uma estrada que violava preceitos
ambientais e sociais10. Depois de forte pressão do movimento indígena, o projeto
inicial foi modificado alterando-se o trajeto da rodovia. Durante todas as
reivindicações, entretanto, o Brasil manteve-se apático afirmando que o projeto
respeitava as leis ambientais e que era importante para o desenvolvimento da
região11.
No Equador, a falha de funcionamento nas turbinas da hidrelétrica de San
Francisco inflamou discurso de irresponsabilidade das empresas com relação ao
cumprimento dos requisitos iniciais do projeto. Alega-se que as turbinas instaladas
foram diferentes das que constavam no projeto original e que as mesmas não
resistiram e sofreram danos causados pelos sedimentos do rio12. O episódio

8
MIOTTO, Karina. Inambari vai ter que esperar. O EcoAmazonia. 16/06/2011.
9
Revista Ecoturismo, 01/12/2011.
10
Valor Econômico. Índios declaram Guerra a “estrada brasileira” na Bolívia. 09/08/2011.
11
Gazeta do Povo. Brasil defende diálogo na Bolívia para construção de estrada na Amazônia.
26/09/2011.
12
LANDIVAR, Natalia. Os padrões de comportamento das “transnacionais” no Equador: extra-
territorializando a responsabilidade do Estado brasileiro. In: Instituto Rosa Luxemburg Stiffung et
(org.). Empresas Transnacionais Brasileiras na América Latina: um debate necessário. São
Paulo: Expressão Popular, 2009, 248p.
13
provocou a expulsão13 da empresa Odebrecht do país e um conflito diplomático
entre o Brasil e o Equador.
Para além da América do Sul, as mesmas contradições parecem estar
presentes na atuação das empresas brasileiras na África. O projeto de hidrelétrica
de Mphanda Nkuwa, em Mocambique, prossegue sem consulta formal e legítima a
população local. O projeto da hidrelétrica sofre críticas dos ambientalistas quanto a
danos ambientais e prejuízos econômicos a população. A localização da obra é
questionada por ser uma área sujeita a terremotos14. O governo e os proponentes,
no entanto, afirmam que a obra respeitará os estudos de impactos ambientais.
Fatos como os apontados, em que todas as obras são de responsabilidade de
empresas brasileiras, demonstram a fragilidade do Estado estrangeiro frente às
demandas do capital e revela o comprometimento da imagem do Brasil e de seus
objetivos de política externa em duas regiões prioritárias: América do Sul e África.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral, visualiza-se que através da internacionalização de suas


empresas, o Brasil objetiva expandir sua influência política e econômica na América
do Sul consolidando a imagem de país potência regional. Dessa forma, as empresas
assumem um papel importante na política externa brasileira, refletindo valores e
imagens positivas e negativas do Estado.
O incentivo a internacionalização das empresas brasileiras na América do Sul
revela a importância econômica e política da região para o Brasil. De acordo com a
pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (2008), a atuação das empresas
brasileiras concentra-se em três mercados América do Sul e Central, América do
Norte e Europa, respectivamente. Para as construtoras brasileiras, a América do Sul
é o principal mercado.
Assim, a nova diplomacia exercida pelo Brasil, em especial, a partir de 2002,
instrumentaliza as suas empresas multinacionais para alcançar seus objetivos
nacionais. As empresas são agentes diplomáticos do Estado, pois o representam em

13
A empresa Odebrecht foi expulsa do Equador em outubro de 2008.
14
Valor Econômico. Camargo vence contrato de US$ 3,2 Bilhões. Valor Econômico Online,
24/01/2008
14
suas ações, discursos e valores. A dinâmica da internacionalização é respalda pelos
bancos públicos, particularmente, o BNDES. As possibilidades de financiamento e
parcerias revelam os setores chave de interesse estatal e evidenciam a perspectiva
da integração regional e da liderança do Brasil no processo.
Contudo, nem sempre a atuação das empresas e dos investimentos
brasileiros no exterior é visto de modo positivo. A diplomacia brasileira através de
suas empresas é, muitas vezes, contraditória. O discurso de desenvolvimento
sustentável e respeito aos direitos humanos é colocado à prova diante de obras de
infraestrutura que atingem populações tradicionais, como as realizadas na Bolívia e
no Peru. A visão romântica do processo de integração é substituída pelo objetivo de
inserção no capitalismo.
Compatibilizar os valores econômicos e sociais mostra-se difícil e no
momento da escolha o Estado brasileiro tem se posicionado na defesa do
desenvolvimento imediato. Conseqüentemente, o discurso sobre o imperialismo
brasileiro na região se revigora. A internacionalização de empresas brasileiras é
visto como a busca da hegemonia do Brasil no seu meio. Assim, a relação entre
desenvolvimento e empresas transnacionais retrocede a primeira imagem relatada
por Strange e Gilpin, em que as empresas subjugam a população local e, em
alguma medida, prejudicam o desenvolvimento nacional do país anfitrião.
Desse modo, reconhece-se que no caso brasileiro das construtoras civis, a
partir de 2002, a diplomacia entre Estado e empresas adquire novo caráter. Neste
período, o Estado brasileiro busca controlar as “regras do jogo” aliando o mercado à
sua política externa, o que insere uma nova perspectiva na relação do Brasil com os
países da América do Sul.

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