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Paradiplomacia como

Leticia Bonilha Cardoso

Graduanda em
Relações Internacionais

Oportunidade para o na Universidade Cruzeiro


do Sul.

Desenvolvimento de Prof.ª Dra. Adriana


Aparecida Furlan

Cidades do Interior Doutora em Geografia Física


pela Universidade de São

de São Paulo
Paulo (USP).
E-mail: adriana.furlan@
cruzeirodosul.edu.br

Resumo
O presente Artigo tem como objetivo a pesquisa do termo para-
diplomacia, assim como suas aplicações no cenário internacional e
sua importância para municípios e regiões brasileiras. A pesquisa
busca compreender, por meio de Metodologia Bibliográfica, a história
mundial da paradiplomacia e seus atores principais, com o intuito de
propagar e entender como os municípios, principalmente os do inte-
rior do Estado de São Paulo, podem utilizar a paradiplomacia como
Política Pública para atracão de investimentos e de desenvolvimento
social. A pesquisa também se propõe ao estudo da formulação da
estratégia internacional para municípios como um guia, para que
possam desenvolver a Paradiplomacia de acordo com a Cartilha
compartilhada pela Confederação Nacional de Municípios – CNM.

Palavras-chave: Paradiplomacia; Cooperação Internacional;


Municípios; Estado de São Paulo.

Abstract
This Article aims to research the term paradiplomacy as well as
its applications in the international scenario and its importance
for Brazilian cities and regions. The research seeks to understand
through bibliographic means worldwide history of paradiplomacy
and its main actors, in order to propagate and understand how
municipalities, mainly in the countryside of São Paulo State, can use
paradiplomacy as a public policy to attract investment and social
development. The research also proposes to study the formulation
of an international strategy for municipalities as a guide to the
development of paradiplomacy according to the booklet shared by
National Confederation of Municipalities – CNM.

Keywords: Paradiplomacy; International Cooperation; Cities;


São Paulo State.
Edição Especial | Outubro de 2022

Introdução Sucessivamente, é apresentada a cronologia


da paradiplomacia na Europa, no Brasil e no
Paradiplomacia é um termo que vem ga- Estado de São Paulo, com o intuito de compre-
nhando popularidade e espaço no campo das ender sua evolução e marcos importantes em
Relações Internacionais. sua história.
E o que essa palavra realmente significa? Concluindo a pesquisa, observamos projetos
A definição do termo paradiplomacia, se- desenvolvidos pela Confederação Nacional de
gundo Panayotis Soldatos, acadêmico que a Municípios e enumeramos estratégias desenvol-
cunhou em seu estudo, é “atividade internacio- vidas para que a paradiplomacia seja aplicada.
nal realizada por atores subnacionais dando
suporte, complementando, corrigindo, dupli- Definição do Termo
cando ou desafiando a diplomacia dos esta-
Paradiplomacia, Principais
dos” (PANAYOTIS SOLDATOS, 1990, p. 17), isto é,
na paradiplomacia, é possível que municípios, Textos e Estudiosos
regiões e atores subnacionais tenham relações O termo paradiplomacia foi desenvolvido a
comerciais e de cooperação com entidades partir da palavra em Inglês parallel diplomacy,
estrangeiras, paralelamente com as ações cunhada, primeiramente, por Panayotis Soldatos,
diplomáticas do Estado. em 1990, em seu livro An Explanatory Framework
Dentro do escopo da paradiplomacia, Pro- for the Study of Federal States as Foreign Policy
jetos e Políticas Públicas relacionados à pro- Actors, traduzido para o Português como Um
moção comercial, atração de investimentos Marco Explicativo para o Estudo dos Estados
externos e cooperação são desenvolvidos para Federais como Atores de Política Externa.
que cidades possam ter mais autonomia e aces- Contudo, antes de Panayotis, em 1988, o pri-
so a oportunidades de capital internacional, meiro livro de estudo para casos de cooperação
tecnologia e cultura. internacional liderados por governos subesta-
Atualmente, a paradiplomacia, além de tra- tais foi escrito pelos estudiosos Ivo Duichacek,
zer benefícios para seus municípios e governos Daniel Latouch e Garth Stevenson.
locais, pode desenvolver papel importante nos No livro, os autores buscaram reunir casos
desafios de escala mundial que estão sendo para a realização de análises comparativas
enfrentados por governantes de todo o globo, nas quais atores subnacionais desenvolveram
metas globais ambiciosas, como os Objetivos projetos e políticas públicas para obter acesso
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), desen- a fontes estrangeiras de riquezas e tecnologia.
volvido pela Organização das Nações Unidas
Além disso, os estudiosos se propuseram a
(ONU) e ratificado por 193 países, que requerem
entender os impactos da paradiplomacia na
e necessitam da atuação de governos locais e
política externa e no comércio exterior e, por
estaduais para serem atingidas.
isso, o título do livro traduzido para o Portu-
Esse trabalho foi desenvolvido para con- guês como Soberania Perfurada e Relações
tribuir com o conhecimento sobre a paradi- Internacionais: Contratos Trans Soberanos
plomacia, especialmente, no estado de São de Governos Subnacionais.
Paulo, utilizando a Metodologia de Pesquisa
Francisco Aldecoa e Michael Keating, em 1999,
Bibliográfica e Documental.
escreveram o livro Paradiplomacy in Action: The
Primeiramente, o Artigo busca compre- Foreign Relations of Subnational Governments,
ender o conceito do termo paradiplomacia, traduzido para o Português como Paradiplo-
seus principais estudiosos e textos acadê- macia e relações internacionais: teoria das
micos desenvolvidos. estratégias internacionais das regiões diante

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da globalização, no qual oferecem uma visão Além dos autores citados, diversos outros
geral sobre a paradiplomacia e sistematizam estudiosos brasileiros e internacionais contribu-
casos enquanto avaliam a autonomia subna- íram para o estudo da paradiplomacia em dife-
cional e os regimes internacionais como União rentes dimensões e com enfoques diversificados.
Europeia (UE) e o Tratado Norte-Americano de
Temas abordados sobre casos específicos da
Livre Comércio (NAFTA).
atuação da paradiplomacia como, por exemplo,
Stéphane Paquin, doutor em Ciências pela a cooperação técnica internacional, a utilização
Universidade Po Paris e Diretor do Grupo de da paradiplomacia para o benefício do meio
Pesquisa e Estudos (GERIQ), enquanto escre- ambiente e a paradiplomacia para promoção
via essa pesquisa, publicou diversos livros e econômica entre cidades ajudam a compreen-
artigos sobre o tema e, entre eles, Paradiplo- der o escopo da paradiplomacia em diferentes
macia e relações internacionais: teoria das áreas e sistematizar suas oportunidades para
estratégias internacionais das regiões diante atores subnacionais.
da globalização, em 2004, e Dominando a glo-
balização: governança e estratégia dos novos
História da Paradiplomacia
­subestados, 2005.
As cidades e as regiões têm desempenhado
Infelizmente, no meio acadêmico, até o mo-
papel central econômica, política e cultural-
mento da escrita desta pesquisa, não temos
mente na História da Sociedade humana.
consenso sobre qual termo é o mais conveniente
para explicar as ações de governos subnacio- Contudo, os primeiros traços de cooperação
nais no Sistema Internacional. entre governos subestatais como conhece-
mos hoje iniciaram-se a partir de 1867, quando
O termo Paradiplomacia, desenvolvido por
colônias britânicas apontaram seus generais
Panayotis Soldatos, é utilizado com frequên-
para as cidades de Londres e Paris (TAVARES,
cia e escolhido para este trabalho, mas outros
2017, p. 20).
termos foram desenvolvidos por autores e são
reconhecidos em diferentes países. A cidade de Quebec no Canadá é referência
histórica em acordos e parcerias internacionais.
Entre eles, podemos citar os seguintes: “di-
plomacia regional”, “microdiplomacia”, “pro- Quebec inaugurou, em 1911, um escritório de
todiplomacia”, “cooperação descentralizada” comércio representativo na Grã-Bretanha e
e “diplomacia federativa”. se relacionava com frequência com governos
estadunidenses e franceses.
Brian Hocking, em seu livro Localizing
­Foreign Policy: Non-Central Governments No ano de 1913, foi fundada, na cidade de
and ­Multilayered Diplomacy , publicado no Ghent, Bélgica, a União Internacional de Au-
ano de 1993, critica o termo paradiplomacia toridades Locais (IULA), Associação que até
e prefere se referir à multi-level diplomacy hoje desenvolve conferências e trabalhos com
ou diplomacia catalítica. atores subnacionais ao redor do mundo.

Conforme o texto escrito por Stéphane Após a Segunda Guerra Mundial, porém,
Paquin, em janeiro de 2020, na visão de Hocking, época em que cidades na Europa haviam sofrido
a diplomacia não pode ser vista como um pro- financeiramente e em necessidade de capital
cesso segmentado entre atores dentro da mes- e desenvolvimento, foi que houve uma grande
ma estrutura estatal. intensificação de ações e projetos envolvendo
cooperação entre cidades de diferentes países.
A diplomacia deve ser percebida como um
sistema que mescla atores de diferentes níveis de Nesse período, era muito comum a realização
governo e ministérios e, por isso, em sua opinião, de acordos como os de twinings ­agreements­,
é preferível o uso do termo multi-level diplomacy. que são mais conhecidos como acordos de

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­ idades-irmãs no Brasil e América Latina.


c Segundo a autora, a Primeira República foi
Os twinings agreements foram criados para marcada com grande participação dos Estados
encorajar trocas de conhecimento, e se ex- Federativos no Mercado global.
pandiram ao longo dos anos para trocas de
Na época da Primeira República, pela Cons-
comércio e turismo (CLARK, 2009, p. 4). tituição de 1891, era permitido que os Estados
De acordo com o livro Paradiplomacia: pudessem decidir suas próprias taxas de ex-
cidades e estados como atores globais, publi- portações e se consentia, também, que os es-
cado em 2016, existiam mais de 125 networks tados emitissem títulos no Mercado Financeiro
multilaterais e fóruns que reúnem governos internacional, favorecendo grandemente as
subnacionais para discutir diversos assun- relações econômicas entre o Brasil e outros
tos globais. países do mundo, em especial, com os Estados
Unidos e com países da Europa.
Entre eles, estão o Conselho Mundial das
Cidades Unidas e Governos Locais (UCLG), Contudo, na Era Vargas, houve maior cen-
Organização de Cidades Árabes (ATO), Asso- tralização de poder do governo brasileiro sobre
ciação de Cidades e Regiões para Reciclagem as atuações dos estados.
e Gestão Sustentável de Recursos (ACR+), Mer- A Reforma Constitucional de 1926 vedava os
cocidades, Rede de Pesquisa e Inovação das empréstimos no exterior sem autorização do
Regiões Europeias (ERRIN), Fundo Global para ­Senado Federal e alterava “de quatro para quinze
o Desenvolvimento de Cidades (FMDV). as situações nas quais se tornava legítima a inter-
No Brasil, a paradiplomacia tem uma longa venção federal nos estados” (SILVA, 146, p. 2010).
história. Além da mudança de estilo de governo na
Ironildes Bueno da Silva, em sua Tese de Era Vargas, a crise financeira de 1930, com seu
Doutorado intitulada Paradiplomacia Con- impacto global, influenciou o declínio da parti-
temporânea: Trajetórias e Tendências da Atu- cipação de atores subnacionais brasileiros no
ação Internacional dos Governos Estaduais cenário internacional.
do Brasil e EUA, descreve os eventos históricos A seguir, podemos perceber quanto decaiu a
da paradiplomacia no Brasil, desde a Primeira porcentagem recolhida de impostos de expor-
República (1889-1930), até os dias atuais. tação dos estados no período de 1914 a 1942.

70%
60%
60%

50%

40%

30%

20%

10%
4%
0%
1914-1916 1940-1942
Figura 1 – Brasil: porcentagem do Imposto de Exportação na arrecadação dos estados
Fonte: Adaptada de SILVA 2010, apud MUSACCHIO;; FRITSHER, 2009; ARRETCHE, 2005

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Vemos maior atuação da paradiplomacia as importações, US$ 38,26 bilhões (32,6% do


no Brasil a partir da Nova República, quando total nacional).
os estados pioneiros do Rio de Janeiro e do Rio
O estado conta com o maior Porto Marítimo
Grande do Sul criaram organismos para tratar
e o maior Aeroporto, respectivamente, Santos
de assuntos internacionais (MORAIS, 2011, p. 53).
e Guarulhos.
No ano de 1997, houve a criação da Assessoria
Rodrigo Tavares, ex Chefe do Gabinete de
de Relações Federativas (ARF) na composição
Relações Exteriores do Governo do estado de
funcional do Itamaraty que, em 2003, foi subs- São Paulo, entre 2011 e 2014, argumenta que o
tituída pela Assessoria Especial de Assuntos estado de São Paulo foi internacional desde
Federativos e Parlamentares (AFEPA). de sua fundação.
Em 2004, foi criado o Foro Consultivo dos A colonização do estado, iniciada em 1532,
Municípios, Estados Federados, Províncias e com a fundação da cidade de São Vicente, teve
Departamentos do Mercosul (FCCR). participação ativa de portugueses e, por sua
O Fórum foi instalado em janeiro de 2007, como história, São Paulo contou com a imigração de
um espaço de participação direta dos gover- milhares de italianos e japoneses entre tantas
nos subnacionais na estrutura institucional do outras pessoas de nacionalidades diferentes.
Mercosul para fortalecer a integração regional. O estado se tornaria importante centro eco-
Participam desse Foro dez representantes do nômico com a expansão da cafeicultura, no
governo municipal brasileiro com uma estrutura final do século XIX.
de três comitês temáticos: integração fronteiri- Imigrantes chegaram dos quatro cantos do
ça, integração produtiva e cidadania regional. mundo para trabalhar nas lavouras e, mais
Em resumo, concordando com o trabalho tarde, no crescente Parque Industrial da cidade.
Paradiplomacia Contemporânea, de Ironildes Ferrovias ajudaram a levar tecnologia e
Bueno da Silva, embora o governo nacional expandir o comércio de commodities para as
brasileiro tenha-se movido da sua posição re- cidades no interior.
cuada sobre a atuação de atores subnacionais
internacionalmente, a modernização ocorrida Em meados da década de 1890, mais da me-
é ainda tímida, podendo ser entendida como tade dos habitantes da cidade era formada
uma modernização conservadora. por imigrantes.
Em 1901, o estado de São Paulo assinou com
História da Paradiplomacia o governo japonês um contrato de imigração,
no Estado do São Paulo que é considerado um dos primeiros contra-
tos paradiplomáticos e que, por consequência,
O estado de São Paulo é composto por 645 trouxe milhares de japoneses ao estado e até o
municípios, sendo o estado mais populoso do dia de hoje, São Paulo detém a maior diáspora
­Brasil, com 46,6 milhões de habitantes (IBGE, de japoneses no mundo.
2021), e o terceiro estado mais populoso da
A primeira Secretaria de Relações Inter-
América Latina.
nacionais do estado foi criada em 1991, pelo
É a 21ª maior economia do mundo (US $ 603,4 governo Luiz Fleury, com o objetivo de:
bilhões), com base em dados do Banco Mundial,
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Assessorar o governador em seus contatos
(IBGE) e da Fundação Seade, tendo PIB maior externos em matéria financeira, comercial,
que o de países como Argentina e Áustria. cultural, científica, técnica e tecnológica
com entidades privadas estrangeiras, com
Segundo o Instituto de Economia Agrícola
organismos i­nternacionais e com agências
(IEA), no acumulado de janeiro a julho de 2021, as
especializadas de governos estrangeiros.
exportações do estado de São Paulo s ­ omaram
(SÃO PAULO, 1991)
US$ 29,40 bilhões (18,2% do total nacional), e

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Contudo, em 1996, com dificuldades de imple- Define-se cidade como grande aglomeração
mentação, a Secretaria foi fechada retomando de pessoas em uma área geográfica circuns-
atividades somente em 2005, sob o governo de crita, com inúmeras edificações, que desen-
Geraldo Alckmin. volve atividades sociais, econômicas, indus-
triais, comerciais, culturais e administrativas
Diversos acordos, protocolos, termos e car-
(MICHAELIS, 2021).
tas de intenções foram criados pela Secretaria
com diversos países, e estão disponíveis para Fazer a pergunta onde você nasceu vai além
consulta em seu website: <http://www.relacoe- de somente seu país de origem, mas entra em
sinternacionais.sp.gov.br/>. níveis de região, de estado e também de cidade.
O estado de São Paulo tem grandes cidades, Segundo a autora Ana Fani Alessandri Carlos,
tanto em termos populacionais quanto de ge- em seu livro O Lugar no Mundo, “São os lugares
ração de renda, como a cidade de Guarulhos, que o homem habita dentro da cidade que dizem
Sorocaba e Campinas, no interior de São Paulo, respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida,
que tem uma história de acordos com países e onde se locomove, trabalha, passeia…”.
entidades internacionais.
Assim, a realidade vivida na cidade é de
A cidade de Campinas, por exemplo, com PIB grande importância para os cidadãos, pois é
em torno de US$ 60 bilhões, desenvolveu acor- por meio dela e de suas experiências que são
dos de cidades-irmãs com 13 municipalidades criados laços entre habitante-lugar.
internacionais, incluindo: Assunção – Paraguai,
Além das cidades serem um espaço social
Auroville – Índia, Malito – Itália e San Diego –
importantíssimo para os cidadãos, elas contam
EUA (Secretaria de Cooperação Internacional
com um peso econômico grande para ospaíses.
– Campinas).
Um estudo gerado pelo McKinsey Global Insti-
Ademais, Sorocaba, também realiza acordos
tute mostra que um conjunto de seiscentas cida-
de cidades-irmãs para desenvolver a coope-
des com top ranking de PIB geram 60% do Produto
ração tecnológica e cultural, sendo algumas as
Interno Bruto (PIB) do mundo (DOBBS et al., 2011).
seguintes localidades internacionais relaciona-
das: Sha’ar Hanegev, Israel, Anyang, Coreia do O mesmo estudo demonstra que cidades
Sul, Wuxi, República Popular da China (2008), como Tóquio e Nova Iorque detém maior PIB
Nanchang e República Popular da China. que países como Espanha e Turquia.

Contudo, embora a história do estado de São Conhecendo a importância e o potencial que


Paulo e de seus municípios mostre sua partici- as cidades têm no cenário internacional e domés-
pação internacional, é difícil a medição total da tico, é requisitada cada vez mais a atuação de
participação do estado, principalmente, pela prefeitos e dos governadores em políticas para o
quantidade de municípios e pela complexidade avanço e a contribuição da atuação de cidades.
das atividades.
Ademais, atores não estatais, regionais e
É importante e necessário o desenvolvimento municipais mostram-se grandes aliados na
de ferramentas de pesquisa e estudos, como o resolução de problemas, sendo capazes de
deste Artigo, para que os trabalhos realizados agir em problemas como falta de saneamento
por cidades sejam disponibilizados com facili- básico, apoio ao desenvolvimento de energias
dade e assim propagados. renováveis e captação de investimento para
melhorar a vida e a saúde de seus cidadãos.

Importância das Cidades A evolução da participação de cidades no


cenário internacional é de extrema importân-
e da Paradiplomacia
cia, sempre visando ao crescimento econômi-
Por que a paradiplomacia deve ser desen- co, aos avanços tecnológicos e à cooperação
volvida por cidades? entre países.

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Pluri Discente

Estratégia para Algumas perguntas estabelecidas pelos au-


tores da Cartilha compartilhada pelo CNM que
Municípios Desenvolverem auxiliam os municípios na criação do plano es-
a Paradiplomacia tratégico são: “Qual é a motivação institucional
de meu governo para estabelecer relações in-
Em 2008, a Confederação Nacional de Mu-
ternacionais? Estaria meu município preparado
nicípios (CNM) publicou uma Cartilha chamada
para iniciar um processo de internacionaliza-
Atuação Internacional Municipal: Estratégias
ção? Quais são os resultados que esperamos
para Gestores Municipais Projetaram Mundial-
obter? Quais serão os indicadores que avaliam
mente sua Cidade.
essa atuação? Quanto se espera investir nas
Na Cartilha, a CNM, uma grande contri- relações?” (MATSUMOTO et al., 2008, p. 77).
buidora e propulsora do desenvolvimento de
É importante que um plano estratégico de
municípios brasileiros, desenvolve um passo a
Relações Internacionais contenha:
passo da internacionalização, para que mu-
nicípios a utilizem como guia ao desenvolver 1. A contextualização e a justificativa do
ações internacionais. Projeto;

Neste trabalho, iremos compartilhar as prin- 2. Os objetivos e os resultados esperados;


cipais informações e estratégias desenvolvidas
3. Os indicadores de sucesso do Projeto;
para que atores subnacionais brasileiros pos-
sam gozar e utilizar as oportunidades encon- 4. Os riscos que existem e os mecanismos de
tradas globalmente a seu favor. mitigação previstos;
A estratégia desenvolvida pela CNM é com- 5. Os recursos materiais que se pretende
posta pela formulação da estratégia interna- aplicar;
cional de municípios, que é estabelecida a partir
6. Recursos humanos e vínculos organiza-
da criação de um plano estratégico de Relações
cionais possíveis (2008).
Internacionais (MATSUMOTO et al., 2008, p. 77).
A contextualização e a justificativa do Projeto
Para que a estratégia seja realizada, é ne-
são obtidas a partir da definição de objetivos que
cessário o desenvolvimento da estratégia de
são realizados em análises diagnósticas munici-
Relações, a capacitação dos técnicos, a criação
pais em que o município responde a perguntas-
do Projeto de Lei e a comunicação da estratégia
-chave de entendimento e avalia suas pretensões
para a comunidade e os responsáveis.
futuras e acontecimentos do passado.
Conforme dito no parágrafo anterior, o de-
Nunca se pode esquecer de realizar a medição
senvolvimento da internacionalização de mu-
dos indicadores de sucesso do Projeto, validando
nicípios segundo a Cartilha da CNM se inicia
as intenções e os resultados pretendidos.
com a criação do Plano Estratégico de Relações
Internacionais. Mecanismos de mitigação podem ser realiza-
dos por meio de treinamentos, de pesquisas e do
Para a construção de um plano eficaz, é ne-
correto acompanhamento do Projeto, utilizando
cessário o diagnóstico de internacionalização,
Metodologias Ágeis, em casos de situações não
contendo uma análise de visão para o futuro,
esperadas para o mais rápido ajuste.
instrumentos de realização da estratégia e
previsão de recursos financeiros. O estabelecimento de financiamento para
Projetos e Políticas Públicas desenvolvidas é de
As informações necessárias para desenvol-
extrema importância para que o Projeto ocorra
ver o correto diagnóstico e traçar um plano bem
de maneira que se permita a sua execução.
definido se encontram em atividades realizadas
anteriormente pelo município, tendências do fu- Os principais agentes para captação de
turo e avaliações de oportunidades e ameaças. recursos financeiros são: Agências bilaterais,

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Agências multilaterais, ONGs internacionais, Estudantes de Relações Internacionais, Co-


Governos locais e Empresas privadas. mércio Exterior, Economia e Administração po-
dem ser de grande valia para municipalidades
Conforme a Cartilha compartilhada, existem
dois tipos de recursos: financeiros e técnicos. com algum tipo de falta de conhecimento ou
necessidade de auxílio.
Tais potenciais financiadores também de-
senvolvem Projetos que necessitam de cidades Em adição, mecanismos de mitigação de ris-
para serem executados. cos devem ser desenvolvidos para que o Projeto
se concretize com o máximo nível de sucesso.
O Programa para o Meio Ambiente desen-
volvido pelas Nações Unidas oferece diversas
oportunidades de financiamento para atores Considerações Finais
que contribuam para o bem da Sociedade e,
Em conclusão, a iniciativa de pesquisa pro-
sendo assim, é importante estar atento a Meios
movida pela Universidade Cruzeiro do Sul per-
de Comunicações de Organizações interna-
mitiu o aprofundamento e o estudo do termo
cionais e Agências bilaterais para estar a par
de novos Projetos e possíveis financiamentos. paradiplomacia, junto aos seus principais textos
e estudiosos.
O próprio município, a partir da criação de
Políticas Públicas, tem a possibilidade de trans- Foi apresentada, de forma sucinta, a his-
ferir recursos para que a estratégia de Relações tória da paradiplomacia no mundo, no Brasil
Internacionais seja realizada e que a cidade e no estado de São Paulo, auxiliando-nos a
cumpra seus objetivos. compreender sua trajetória e principais atores
internacionais.
Conforme desenvolvido pela Cartilha Confe-
deração Nacional dos Municípios – CNM, dentro Em adição, com o objetivo de levar conheci-
da coleção Atuação Internacional Municipal, mento e novas possibilidades para municípios
com o título de Estratégias para Gestores Mu- utilizarem a paradiplomacia, buscamos o en-
nicipais Projetarem Mundialmente sua Cidade, tendimento de estratégias para que cidades
para que uma internacionalização seja dura- possam traçar seu Plano Estratégico de Rela-
doura e eficaz, é necessário um aperfeiçoamento ções Internacionais e gozar dos benefícios da
contínuo por meio do monitoramento e da ava- paradiplomacia.
liação de Projetos e Políticas Públicas realizadas. Embora o campo da paradiplomacia seja
Realizar relatórios que comprovem ativida- relativamente novo na Área das Relações In-
des feitas de maneira clara e objetiva como ternacionais, seu potencial para atores subna-
Relatórios de Balanço de Contas, principais cionais, cidadãos e profissionais formados em
resultados atingidos mensalmente, Atas de Relações Internacionais se mostra significativa-
reuniões, cópia de correspondências trocadas, mente grande e, com pesquisas e informações
gravações e fotografias são importantes para de qualidade, podemos melhorar e auxiliar a
manter o conhecimento e a avaliação de ações propagação de conhecimento nessa Aérea de
que estão sendo realizadas. estudo tão especial que é a paradiplomacia.
O Projeto, com a estratégia final desenvol-
vida pelos municípios, deve conter todos os Referências
objetivos apresentados, pessoas responsáveis
por seu cumprimento, descrição de atividades CEZÁRIO, G. de L. et al. As Áreas Internacionais
que serão realizadas e a duração do Projeto. dos Municípios Brasileiros: Observatório da Co-
operação Descentralizada: Etapa 1. Brasília/DF:
Diversos profissionais e agências especia-
Confederação Nacional de Municípios, 2011. 120p.
lizadas podem auxiliar na criação e na exe-
cução do Projeto de Relações Internacionais FEIJÓ, R. Z. Internacionalização de Cidades.
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Pluri Discente

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