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SAPIENTIA N º
46 ANO 11 – DEZEMBRO/2023
EMBAIXADORA
EUGÊNIA BARTHELMESS
A crise da ordem liberal e a Entre Desafios e Mediação: Direito Internacional Humanitário
emergência do Sul Global A Postura do Brasil na e Direito de Guerra
Guerra Israel-Hamas
(Marcos Cordeiro Pires) (Karina Stange Calandrin) (Mayara Teixeira Ribeiro Magalhães)
C U R S O S A P I E N T I A . C O M . B R
EXPEDIENTE
Direção Geral
Priscila Zillo Sobral
Coordenadora e Editora-Chefe
Fernanda Magnotta
Revisão
Tg3 Design e Conteúdo
Agradecimentos
Eugênia Barthelmess
Ivo Lopes Yonamine
Karina Stange Calandrin
Marcos Cordeiro Pires
Mayara Teixeira Ribeiro Magalhães
Paulo Matiazi
Rodrigo Teixeira
Yasmin Abril Monteiro Reis
Endereço
Av. Queiroz Filho, 1560 - Vila Hamburguesa,
São Paulo - SP - Brasil - CEP: 05319-000
R E V I S T A S A P I E N T I A . C O M . B R
EDITORIAL
Nesta edição, iniciamos nossa revista com uma entrevista com a embaixadora
Eugênia Barthelmess, que compartilhou conosco um pouco de sua trajetória
profissional e falou sobre a relação Brasil x Ásia.
Já em Espaço Aberto, o tema abordado foi a disputa estratégica entre EUA e China
e como o Brasil está posicionado no tabuleiro geopolítico do século XXI.
Por fim, não se esqueça de conferir as Iniciativas Sapientia, com tudo que aconteceu
por aqui nos últimos meses, e as indicações especiais dos nossos professores em
Sapientia Indica.
Boa leitura!
Equipe Sapientia
Sapientia Aedificat
ADVERTÊNCIA
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ENTREVISTA DE CAPA
Embaixadora
Eugênia Barthelmess
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SOBRE DIPLOMACIA
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ESPAÇO ABERTO
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PROFESSOR
SAPIENTIA COMENTA
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INICIATIVAS SAPIENTIA
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CHARGE
Metas de 2024
Paulo Matiazi
ENTREVISTA
Eugênia
embaixadora
Barthelmess
Nessa edição de nossa Revista temos o prazer de receber, para uma conversa
exclusiva, a embaixadora Eugênia Barthelmess. A embaixadora é uma diplomata
de carreira no serviço exterior brasileiro, tendo ingressado no mesmo no início de
1989. Ela é a embaixadora do Brasil em Cingapura desde fevereiro de 2020. Antes
de sua chegada em Cingapura, ela ocupava o cargo de diretora para a América do
Sul no Ministério das Relações Exteriores do Brasil desde 2013.
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ENTREVISTA
Acervo pessoal
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Acervo pessoal
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ENTREVISTA
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ENTREVISTA
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ENTREVISTA
de comércio, transportes, finanças, serviços, maiores, como Egito, Coreia do Sul, Reino
ciência, tecnologia e inovação. Unido ou Rússia.
congeladas, 57% da carne bovina congelada e CBMM, Weg – mantêm sedes em Singapura.
50,8% da carne suína congelada que consome. Grandes empresas de Singapura – Olam,
Em 2022, o Brasil exportou 600 milhões de Wilmar, Bracell, Shopee, Sembcorp, Keppel,
dólares em carnes para Singapura, o que é bem ST Engineering – atuam no Brasil. Os dois
mais do que para tradicionais compradores grandes fundos soberanos de Singapura, GIC
de carne brasileira com populações muito e Temasek, ambos com imensa capacidade de
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ENTREVISTA
Acervo Pessoal
investimento, têm escritórios no Brasil. Se há Eu noto que há um interesse cada vez maior
um centro mundial de inovação e tecnologia no Brasil por Singapura, tanto de parte do
onde vale a pena promover a presença setor público quanto da iniciativa privada.
brasileira, esse centro é Singapura. Pude criar Apenas ao longo deste ano de 2023, a
na embaixada um setor de ciência e tecnologia Embaixada organizou ou apoiou 25 missões
que tem sido muito bem sucedido. Em 2022 brasileiras a Singapura, de delegações
trouxemos três startups brasileiras, e em 2023, parlamentares, de governos estaduais ou
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ENTREVISTA
esteve em Brasília em abril de 2023, no que desse gênero entre o Mercosul e um país
foi a primeira visita desse nível desde 2013. asiático, são cada vez mais promissoras
Acervo Pessoal
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ENTREVISTA
para a Ásia. Regressou à Ásia, melhor de 660 milhões de pessoas (três vezes a
anos em que esteve excepcionalmente consumidor cada vez mais afluente, com PIB
ancorado no Atlântico Norte, na região que que equivale a três vezes o PIB do Brasil.
comercial do Brasil desde 2009 e principal Brasil, caminhando para ser o segundo.
Asiático, é desde 1992 uma área de livre com essa região tão afluente. O apoio de
comércio que reúne Singapura e outros Singapura, que é o país com maior PIB
nove parceiros (Brunei, Camboja, Filipinas, nominal per capita do bloco, foi fundamental
Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Tailândia e para a obtenção desse nível de formalização
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ENTREVISTA
– e nem tão novas. Impressiona-me sempre, realidades. É preciso que essa limitação não
por exemplo, o enorme silêncio que cerca contamine a nossa própria capacidade de
hoje, nas publicações ocidentais, a entrada formulação de políticas. Não será a eterna
em vigor da Parceria Econômica Regional leitura de publicações como o “Economist”,
Abrangente (RCEP). É como se esse acordo, o “Foreign Affairs” ou o “Wall Street Journal”,
que abarca 30% do PIB mundial e 30% da que há 50 anos vêm alertando seus assinantes
população mundial, e que reúne pela primeira sobre o iminente declínio econômico da
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ENTREVISTA
China, que nos proporcionará uma visão atual, baseado em radical multiplicação do
realista do atual cenário internacional. número de funcionários e hierarquia muito mais
Tampouco é escassa a literatura especializada fluida. A chancelaria indiana prefere, como
de qualidade que poderia nos ajudar a a nossa, restringir a quantidade de pessoal,
preencher o isolamento informacional que fazendo de cada diplomata um ator polivalente e
pareceria prevalecer. Entre nós, destacam-se extremamente atarefado. São opções possíveis.
os trabalhos da professora Fernanda Magnotta, Conheço, como tantos colegas meus, a
da FAAP; do professor Dawisson Belém experiência de negociar, em Bruxelas,
Lopes, da UFMG; do professor Guilherme com delegações da Comissão Europeia
Casarões, da FGV. Na Ásia, para mencionar amparadas por número importante de
apenas um autor de Singapura, a obra do advogados e assessores técnicos, enquanto
embaixador Kishore Mahbubani é de leitura do lado brasileiro somos um ou dois. Tive
obrigatória: “The Asian 21st Century”, que a oportunidade, em Brasília, em 2016, de
reúne ensaios recentes desse experimentado conduzir com o Representante Especial
diplomata, é de acesso gratuito on-line. para América Latina da chancelaria chinesa,
acompanhado de delegação numerosa,
Revista Sapientia - Considerando que a negociação extremamente formal e inflexível,
senhora já serviu em importantes postos que no entanto, com o passar das horas,
desses vários locais, como a senhora foi evoluindo para solução aceitável aos
compararia, do ponto de vista do exercício da dois lados.
função, o processo de negociações com os pares
nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia?
Uma coisa é certa: negociando com
contrapartes asiáticos, europeus ou
Embaixadora Barthelmess - A pergunta é
norte-americanos, os diplomatas brasileiros
interessantíssima. Cada serviço diplomático
tenderão na grande maioria dos casos a estar
tem um estilo, um modus faciendi próprio.
em minoria – mas será a equipe brasileira
No Itamaraty, seguimos uma escola mais
a que tenderá a extrair da negociação os
propriamente europeia de funcionamento da
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melhores resultados.
chancelaria, com grande profissionalização
e respeito à hierarquia. Há um artigo clássico
Revista Sapientia - Em relação à tese da
em que o embaixador George Kennan explica
senhora “Brasil e União Europeia: A Construção
como se deu, ao final da Segunda Guerra, a
de uma Parceria Estratégica”, como avalia
transição do Departamento de Estado entre o
a relevância dessa parceria no contexto
modelo anterior, europeu na forma, e o formato
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ENTREVISTA
atual das relações internacionais e como ela primeiro momento, o México chegou a ser
pode influenciar futuras colaborações entre cogitado como esse parceiro com capacidade
esses atores? para dialogar de igual para igual com a UE.
A decisão final recaiu no entanto sobre o
formal entre o Brasil e a União Europeia não comerciais multilaterais; o projeto brasileiro
partiu do Brasil, mas do lado europeu. A então de integração da América do Sul; a liderança
Comissão Europeia – que era como o embrião papel fundamental que o Brasil desempenha
único país-chave junto ao qual sustentar mais G4, o G8+5 ou o G-20; o fato de que o Brasil
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ENTREVISTA
com seis dos Estados-membros (Alemanha, ou insights que obteve sobre a forma como
França, Reino Unido, Portugal, Espanha e a parceria estratégica entre Brasil e União
Itália); o interesse do Brasil por parcerias no Europeia tem se transformado ao longo
mundo em desenvolvimento (IBAS, Cúpulas do tempo?
América do Sul-África e América do Sul-Países
Árabes); e a valorização dos BRICs pela UE,
Embaixadora Batherlmess - Participei
naquele momento, como nova fronteira de
da negociação da primeira reunião de
expansão econômica.
nível presidencial entre o Brasil e a União
Europeia, que aconteceu em Lisboa em 2007
Ao estabelecer com grandes atores e durante a qual foi formalizada a parceria;
emergentes (China, Rússia, Índia, Brasil, e das negociações da segunda cúpula (Rio
África do Sul) essas complexas estruturas de Janeiro, 2008), quando foi adotado um
institucionais de articulação que são as ambicioso Plano de Ação Conjunto; da terceira
Parcerias Estratégicas, a União Europeia (Estocolmo, 2009); e da quarta (Brasília, 2010).
procurava, àquela altura, consolidar
uma presença internacional própria, por Das resistências iniciais, formuladas
oposição ao protagonismo dos Estados principalmente pela Espanha, que percebia
Unidos como porta-voz do “Ocidente”. na escolha do Brasil como interlocutor
Minha avaliação é de que esse objetivo privilegiado uma diminuição de seu status
europeu específico não se concretizou. como mediadora do diálogo europeu
Independentemente disso, há evidente com a América Latina – mas também,
interesse, tanto para a UE como para o curiosamente, pelo próprio Itamaraty – a
Brasil, em manter ativa, e inclusive a dotar dinâmica evoluiu de forma rápida e positiva.
de novo fôlego, a complexa rede de canais Multiplicaram-se os canais de contato político
de comunicação estabelecida ao amparo e estabeleceu-se rede de diálogos setoriais
da Parceria Estratégica. A União Europeia, que passou a funcionar de forma eficiente,
enorme projeto bem-sucedido de integração como costuma acontecer quando as áreas
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ENTREVISTA
a ceder lugar à retórica mais burocrática. dólares, que é o principal investidor estrangeiro
A sétima e última das cúpulas Brasil-União no Brasil. Se os canais remanescentes da
Europeia realizou-se em Bruxelas, em 2014. Parceria Estratégica – o Diálogo Político de
Alto Nível (ministerial) e os Encontros de Altos
brasileira que tiveram início a partir de então proximamente a ser complementados pela
continuidade dos contatos no mais alto nível. a União Europeia, o Brasil só teria a ganhar
ter presente que 2024 será, novamente, um pilar de comércio, um pilar político, e
ano de eleição presidencial nos Estados um pilar de cooperação. Abandonadas as
Unidos, com os riscos que isso acarreta negociações da Alca e afastada em 2005 a
para a relação Bruxelas-Washington. perspectiva de consolidação de um oligopólio
Estamos falando, ao mesmo tempo, de um norte-americano no continente, desapareceu
protagonista com mais de 500 milhões de um importante elemento de interesse
habitantes e PIB de mais de 18 trilhões de europeu no sucesso da negociação. A
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ENTREVISTA
No decorrer da longa negociação, a imbatível caso dos Estados Unidos, que já não podem,
parceiros do Mercosul no setor agrícola foi qualquer novo arranjo internacional de livre
um problema constante para a União Europeia. comércio, o que sem dúvida os enfraquece,
protecionismo europeu – dado que a questão pode ser não um fim, mas o começo de algo.
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ENTREVISTA
apreciado universalmente por sua tradição entre a percepção interna e a realidade externa.
conciliatória e capacidade de negociação O Brasil é grande e é como país grande que
e mediação. deve falar e que deve ser ouvido. Aspirantes
ao CACD e diplomatas no início da carreira
devem preparar-se para estar em condições
Ao contrário do que gostaria de fazer crer um
de – descartando as preocupações de atores
certo cânone que circula entre nós, o Brasil não
aos quais a visibilidade e o protagonismo do
padece de qualquer “déficit de poder” no cenário
Brasil não convêm – representar os interesses
global. Em nosso país, observamos o caso raro
de um país de enorme relevância regional e
de uma classe bem-pensante que postula
global e utilizar as ferramentas da política
uma percebida inferioridade da capacidade
externa para prosseguir no caminho do
brasileira de influência em relação a outros
desenvolvimento interno.
atores internacionais. Os próprios diplomatas
brasileiros não são impermeáveis, por vezes, a
essa ilusão. Trata-se de uma curiosa decalagem
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Acervo Pessoal
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SOBRE DIPLOMACIA
A crise da
ordem liberal
e a emergência
do Sul Global
por Marcos Cordeiro Pires - Possui graduação em História (1990),
mestrado em História Econômica (1996), doutorado em História Econômica,
todos pela Universidade de São Paulo (2002) e Livre Docência em Economia
Política Internacional pela Unesp (2013). É professor na Unesp - Faculdade
de Filosofia e Ciências - Campus de Marília, nos cursos de graduação em
Relações Internacionais e pós-graduação em Ciências Sociais e no Programa
de Pós-Graduação em Relações Internacionais ‘‘San Tiago Dantas’’ (Unesp/
PUC-SP/Unicamp).
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SOBRE DIPLOMACIA
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SOBRE DIPLOMACIA
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SOBRE DIPLOMACIA
Neste contexto, é preciso considerar que não é Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COPs)
mais possível impor interesses e valores a outros mudaram de patamar. Em 2009, durante a
COP 15, em Copenhagen, os chefes de Estado
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com os valores ocidentais. A retirada das ação conjunta. A isso se junta a Conferência
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SOBRE DIPLOMACIA
Sul Global. Em agosto de 2023, foi anunciada financeira e impulsionar o comércio por meio
a expansão do Grupo BRICS. Etiópia, Arábia do uso de moedas locais, além de incluir
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SOBRE DIPLOMACIA
dois gigantes das finanças globais, como a Pequim, em 20 de novembro, para pressionar
Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Israel por uma trégua e a permissão de envio
Esta nova ampliação dará ao grupo uma de ajuda humanitária para os palestinos. O
estatura produtiva para apoiar a transição maior envolvimento da China em assuntos
energética, além de possuir ampliar os meios globais é uma novidade interessante.
para fomentar o desenvolvimento de outros
países do Sul Global, como o Novo Banco de Por fim, em meio a um maior protagonismo dos
Desenvolvimento e o Banco de Investimentos países do Sul Global, é necessário enfatizar que
em Infraestrutura da Ásia. O anúncio da todos as nações buscam o desenvolvimento
não adesão aos BRICS feita pelo novo para oferecer melhores condições de vida
governo argentino não altera esta tendência. ao seu povo. Não existe uma hierarquia de
culturas e civilizações. Nenhum modelo
É importante ressaltar que este alargamento universal se adapta a todas as realidades e
vai ao encontro das iniciativas chinesas só pode ser sustentado pela força. Por isso, o
em matéria de Desenvolvimento Global, hegemonismo e a homogeneização do mundo
Segurança Global e Civilização Global, que devem ser refutados. O jardim da humanidade
estão a tornar-se um novo paradigma para é composto por mil flores, que lhe conferem
a construção de uma ordem internacional uma beleza única. Uma nova ordem mundial
inclusiva e multipolar. A Iniciativa da Nova Rota deve permitir a cooperação internacional
da Seda está criando um novo paradigma de para que cada nação possa construir um
investimentos para o desenvolvimento, levando modelo econômico e social que garanta
os Estados Unidos a criar a Development Finance aos seus cidadãos prosperidade, segurança
Corporation (DFC) para concorrer com os e estabilidade.
financiamentos chineses.
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ESPAÇO ABERTO
Disputa estratégica
entre EUA e China:
como o Brasil está posicionado no
tabuleiro geopolítico do século XXI?
por Yasmim Abril Monteiro Reis - É mestranda no Programa de Pós-graduação
em Segurança Internacional e Defesa da Escola Superior de Guerra (PPGSID/ESG).
Assistente de Pesquisa voluntária no subgrupo de Biodefesa e Segurança Alimentar
do Laboratório de Simulações e Cenários da Escola de Guerra Naval (LSC/EGN) e
colaboradora no INCT-INEU/OPEU. www.cursosapientia.com.br
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ESPAÇO ABERTO
Além disso, sublinha-se ainda que, entre os séculos XVII e XVIII, imigrantes
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ESPAÇO ABERTO
norte-americana em 1776 devido à insatisfação Em vista disso, durante o século XIX, os EUA
da população local habitante das 13 colônias. tinham uma política tanto externa quanto de
segurança regional focada na América Latina.
Unido, os Estados Unidos começaram o projeto declinou, no entanto, com o avanço imperialista
de formação territorial, a qual denominou-se dos EUA, sobretudo, para Europa e Ásia.
formação de uma nação entre os séculos XVIII EUA se direcionou para a Europa, nos anos
e XIX. Anos após sua independência, James seguintes, em razão das Grandes Guerras no
país, e junto a sua ascensão à Casa Branca surgiu os EUA buscaram reforçar sua segurança
a Doutrina Monroe (1823). Essa doutrina nasceu energética por meio dos recursos naturais
com o discurso do presidente Monroe, feito no existentes naquela região. Apesar disso, vale
momento, os Estados Unidos reivindicaram a quase que total para Ásia, teve o período da
liderança e influência sobre todo o “hemisfério Guerra Fria (1946-1991). Nesse intervalo, os
ocidental” para si, com a finalidade de findar EUA se voltam para a região da América Latina,
(Teixeira, 2014). Sublinha-se aqui, que disputa entre EUA e a antiga União Soviética:
“hemisfério ocidental” (western hemisphere, a Crise dos Mísseis em Cuba, em 1962. Diante
Desse modo, essa Doutrina ficou conhecida dos EUA, algumas medidas foram tomadas
Ao mesmo tempo, nesse contexto histórico, o como o apoio a regimes militares na região,
como os que vigoravam no Brasil (1964),
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ESPAÇO ABERTO
Isso significa que, naquele momento, o do internacional favorável aos seus interesses
imediato pós-Guerra Fria, não havia potência nacionais. Concomitantemente, porém, outro
contestadora à ordem ocidental preconizada evento de grande relevância e impacto
pelos EUA, país então sem rival à altura em estava acontecendo: a ascensão chinesa.
termos de recursos, principalmente militares.
Para Teixeira Júnior (2020, p. 9), “é possível Nozaki, Leão e Martins (2011, p. 195)
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afirmar que nos últimos 30 anos, o padrão de argumentam que “a compreensão dos
distribuição de poder global (polaridade) acontecimentos mais relevantes da passagem
mudou: de bipolar na guerra fria para de do século XX ao XXI passa, necessariamente,
polaridade indefinida nos anos 1990 e, por uma reflexão acerca do colapso da União
estruturando-se na atualidade em um padrão das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e
multipolar”. Os EUA assumem, dessa forma, pela ascensão da China”. Dessa maneira, nota-se
uma posição dentro da distribuição de poder que há uma nova competição entre as grandes
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ESPAÇO ABERTO
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E
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S OD A P O L Í T I C A E X T E R N A
Referências:
NOZAKI, William Vella; LEÃO, Rodrigo Pimentel Ferreira; MARTINS, Aline Regina
Alves. A ascensão chinesa e a nova geopolítica e geoeconomia das relações sino-russas.
In: A China na nova configuração global: impactos políticos e econômicos. Brasília:
Ipea, p. 195-234, 2011.
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PERSPECTIVAS DA POLÍTICA EXTERNA
Entre Desafios
e Mediação:
A Postura do Brasil na
Guerra Israel-Hamas
por Karina Stange Calandrin - Doutora e mestre em Relações Internacionais
pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp, PUC-SP).
Foi pesquisadora visitante do departamento de Peace and Conflict Management
da Universidade de Haifa em Israel e do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de São Paulo (IRI-USP). Atualmente, realiza pesquisa de pós-doutorado
no IRI-USP e é também professora do curso de Relações Internacionais na
Universidade de Sorocaba (UNISO).
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PERSPECTIVAS DA POLÍTICA EXTERNA
Vale ressaltar que, mesmo diante da condenação dos ataques do Hamas, o Brasil adota uma
posição singular em relação à classificação do grupo como terrorista. Enquanto países como
Israel, Estados Unidos e a União Europeia rotulam o Hamas como uma organização terrorista,
o Brasil, alinhado com a determinação da ONU, não o inclui nessa categoria, diferenciando-o
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PERSPECTIVAS DA POLÍTICA EXTERNA
de entidades como Boko Haram e Al-Qaeda. seu empenho e envolvimento direto nos
Essa distinção tem gerado debates internos, contatos com líderes mundiais, revelando
sobretudo entre membros do Partido dos detalhes das negociações. Em contrapartida,
Trabalhadores (PT), que se manifestaram aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro
contra a classificação do Hamas como buscam creditar ao atual presidente o sucesso
grupo terrorista. O presidente Lula, embora no resgate do grupo, gerando uma narrativa
tenha condenado os ataques do grupo, de disputa que transcende os limites do
apelou à comunidade internacional por conflito em si. A participação do ministro das
uma intervenção humanitária urgente e um Relações Exteriores, Mauro Vieira, evidencia
cessar-fogo imediato. Essa ação se destaca, a relevância política do resgate, enfatizando
especialmente pela presidência provisória o papel central do governo Lula na condução
do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. das negociações. O recente encontro entre
Bolsonaro e o embaixador de Israel no
O governo brasileiro, ainda, demonstrou Brasil, Daniel Zohar Zonshine, que não tinha
agilidade e eficácia ao conduzir o processo relação com os brasileiros em Gaza, também
de repatriamento de brasileiros em Israel e acrescentou uma dimensão adicional a essa
na Faixa de Gaza, destacando-se pela rápida trama política, refletindo a dinâmica intrincada
mobilização do Ministério das Relações que envolve o Brasil, Israel e a Palestina.
Exteriores e pelo uso estratégico de aviões
da Força Aérea Brasileira (FAB). Em meio A atuação do Brasil nesse cenário internacional,
ao conflito entre Israel e o grupo Hamas, o embora enfrentando desafios decorrentes de
governo brasileiro agiu de forma proativa para impasses entre os Estados Unidos, Rússia e
assegurar a segurança e o retorno dos cidadãos China no Conselho de Segurança, representa
brasileiros afetados pela escalada de violência uma oportunidade para o país demonstrar
na região, sendo um dos primeiros países a sua habilidade em trabalhar pelo consenso e
realizar uma operação da mesma natureza. diálogo em questões globais. Essa
iniciativa contribui para a construção
de uma imagem positiva do Brasil no
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Brasil no cenário internacional. Essa disputa durante a gestão anterior de Jair Bolsonaro.
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PERSPECTIVAS DA POLÍTICA EXTERNA
classificar o Hamas como grupo terrorista e por Nas recentes declarações do presidente Luiz
suas declarações que equipararam os papéis de Inácio Lula da Silva, ele comparou a operação
Israel e do Hamas no conflito. A discussão em militar de Israel na Faixa de Gaza aos ataques
torno da resposta de Israel e da caracterização do grupo Hamas, caracterizando ambos como
dos eventos como atos de terrorismo ou “atos terroristas”. Essa situação assemelha-se
crimes de guerra adiciona uma camada ao episódio anterior em que o presidente Lula
de complexidade à análise desse cenário. equiparou o conflito entre Rússia e Ucrânia,
provocando controvérsias e recebendo
A mudança no discurso de Lula, sugere uma evidencia a busca por um papel mais ativo
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PERSPECTIVAS DA POLÍTICA EXTERNA
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PERSPECTIVAS DA POLÍTICA EXTERNA
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PROFESSOR SAPIENTIA COMENTA
Direito Internacional
Humanitário e
Direito de Guerra
por Mayara Teixeira Ribeiro Magalhães - Advogada. Mestra em Saúde Coletiva:
Políticas e Gestão pela Faculdade de Medicina da Unicamp. Pós-graduada em Processo
Civil pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Pós-Graduada em Processo Penal pela Escola Paulista da Magistratura. Especialista em
Direito e Gestão pela Escola Nacional da Advocacia. Possui graduação em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
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PROFESSOR SAPIENTIA COMENTA
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PROFESSOR SAPIENTIA COMENTA
O Direito Internacional Humanitário deve ser com outros Estados. Com isso, recorrer
analisado sob a perspectiva de parte integrante à força traduzia o atributo supremo de
do Direito Internacional Público. Em que pese exercício da sua própria soberania estatal.
a discussão doutrinária a esse respeito, não
deve prosperar a ideia de que se trata de um A estruturação do Direito de Guerra
ramo apartado. Trata-se de uma vertente como uma vertente importante do Direito
importante a ser apreciada e que estabelece, Internacional Humanitário trouxe o debate
através do conjunto de regras, as normas e consolidação sobre o que era, ou não, uma
que irão reger as relações entre Estados em guerra justa, ou seja, uma guerra legítima
tempos de paz; e, ainda, normas que delimitam perante a comunidade internacional.
as relações estatais em conflitos armados.
A história do direito da guerra determina toda período da coletividade, e, não seria diferente
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PROFESSOR SAPIENTIA COMENTA
Carta das Nações Unidas, a solução de conflitos toda conduta nas situações de conflito armado.
por meio de enfrentamentos armados, em regra, Ao se propor a reger as situações em que se
deixa de ser uma possibilidade aos Estados. usa a força armada, este direito tem dois ramos
que correspondem aos seus dois objetivos:
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PROFESSOR SAPIENTIA COMENTA
Referências:
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
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INICIATIVAS SAPIENTIA
Iniciativas
sapientia
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INICIATIVAS SAPIENTIA
Queridos sapientes,
Chegamos ao fim de mais um ano e, como sempre, ele foi recheado de novidades e
conteúdos relevantes para a diplomacia por aqui. Com isso, que tal lembrarmos de
alguns dos acontecimentos mais marcantes do Sapi em 2023?
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Sapientia
indica
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SAPIENTIA INDICA
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SAPIENTIA INDICA
Lembro que são apenas alguns exemplos e recomendo demais que se explore a página
da FUNAG.
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SAPIENTIA INDICA
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SAPIENTIA INDICA
revolução propiciou o terreno fértil para os “filósofos profanos”, ou seja, os pensadores que passaram
a se ocupar não da ética, política, estética, teologia ou outras preocupações filosóficas tradicionais,
mas sim com a reprodução econômica da sociedade. Permitiu que eles lançassem as bases de uma
nova ciência, uma vez que a realidade concreta, com o desenvolvimento do mercado, havia retirado
as relações econômicas dos laços comunitários das sociedades mais simples e as colocado na esfera
social propriamente dita.
Nesta esfera social, os indivíduos vêem as variáveis econômicas (produção, preços, juros etc.) como
resultado de interações entre muitos outros indivíduos, e, portanto, fora de um controle planejado
do que, como, quanto e para quem produzir. Esta exterioridade do objeto, das relações sociais
econômicas, frente aos indivíduos, empreendida pela própria evolução histórica, foi fundamental
para que fosse possível construir os conceitos e teorias que buscariam explicar tais fenômenos e
suas regularidades, abrindo espaço para a nova ciência.
Capítulos como “O mundo maravilhoso de Adam Smith”, que retrata o otimismo do pai da Ciência
Econômica, no final do século XVIII, com a sociedade que surgia sobre os escombros das relações
feudais e na esteira da Revolução Industrial, e “Os sombrios pressentimentos do pároco Malthus e
David Ricardo”, que retrata o pessimismo do século XIX com o rápido crescimento populacional e a
possibilidade de uma estagnação do progresso econômico (o “estado estacionário”, que ressurge no
século XX no famoso modelo de Solow), são excelentes registros de como os conceitos e teorias da
economia estão intrinsecamente ligados à realidade e aos problemas concretos de seu tempo. A obra
trata ainda de Stuart Mill, os socialistas utópicos, Karl Marx, Thorstein Veblen, Alfred Marshall, John
M. Keynes e Joseph Schumpeter, os maiores pensadores e os que influenciam as ideias econômicas
até hoje. Por tudo isto, indico fortemente a leitura desta obra magistral de Heilbroner, especialmente
para os que não tiveram formação em economia, pois encontrarão no livro, além de um excelente
complemento dos seus estudos, uma forma leve e instigante de aprender as teorias econômicas que
contrasta com a frieza, aridez e falta de contexto dos manuais de economia.
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Boa leitura!
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Metas de 2024
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