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Introdução
• Estados secundários e não-nucleares - como Brasil, México, Nigéria, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul e Turquia - enfrentam um 'dilema da graduação' sempre que tomadores de decisão
precisam escolher entre diferentes estratégias internacionais:
○ Em termos de desenvolvimento, entre um modelo autônomo ou dependente.
○ Em termos de segurança, entre 'seguir a maré' ou buscar equilíbrio.
○ Ao construir uma política multilateral, entre alianças tradicionais ou inovativas e flexíveis.
○ Em termos geopolíticos e na cooperação para o desenvolvimento, entre uma ênfase Norte-Sul ou Sul-Sul.
• A maneira como os tomadores de decisão escolherão depende de suas habilidades cognitivas e inclinações ideológicas.
○ Para melhor estudar o dilema da graduação na política externa, é preciso incorporar variáveis relacionadas a percepções, interpretações e as escolhas políticas das elites de cada país. Elas
desempenham um papel relevante na autopercepção e na construção de identidade na área da política externa.
○ Políticas externas mais autonomistas tendem a chamar mais atenção para confrontos com potências estabelecidas e públicos conservadores.
• Três componentes que os tomadores de decisão se deparam diante de um dilema de graduação:
○ O escopo de suas ambições internacionais, a capacidades material do país, e as permissibilidades do sistema.
○ As possíveis contradições relacionadas às expectativas domésticas e internacionais.
○ A incerteza associada com resultados não-antecipados e a percepção de países terceiros nas decisões da política externa.
• Os autores farão uma análise da política externa de Lula e Dilma, que restabeleceram múltiplas dualidades na agenda internacional brasileira: monetarismo vs estruturalismo; americanismo vs
globalismo; aquiescência vs autonomia.
○ Cada uma dessas dicotomias reflete divergências da política externa brasileira desde o século XIX.
○ Os liberais preferem uma política externa mais associada aos EUA (monetaristas e cosmopolitanos). Os desenvolvimentistas, nacionalistas e terceiro-mundistas preferem alianças com o Sul
e maior diversificação das relações brasileiras (estruturalistas, globalistas e autonomistas).
○ Os autores pretendem ir além dos binarismos. Partem da ideia de que a política externa muda de acordo com cada governante, e que não há consenso entre as elites brasileiras para o
padrão de política externa a ser seguido.
▪ Essas divergências são mais acentuadas quando os governantes tem mais ambição pela graduação, como nos governos de Lula e Dilma.
○ O artigo explora três temas:
▪ A habilidade limitada de mudanças sistemáticas e da literatura sobre transição de poder ao explicar as ambições e ações dos Estados secundários não-nucleares no que diz respeito a
redefinir suas posições internacionais.
▪ O conceito de graduação dentro da estrutura analítica dos autores.
▪ O dilema da graduação brasileiro.
Ambição Ambição
Proeminência Subordinação
Função Criador de regras Graduação Diplomacia de nicho
Função Receptor de regras Diplomacia de ponte Não-graduação
Solidariedade primária
Sul Norte
Dimensão Integração Graduação Dependência
regional Interação Diplomacia borboleta Associação
• Somente um foco geopolítico no Sul combinado com uma estratégia de integração regional caracteriza um país no processo de graduação.
• Uma política externa focada no Norte com perspectiva de integração leva à dependência, e.g. o México.
• Uma política externa focada no Norte com perspectiva de interação leva à associação, e.g. a relação entre Turquia e Estados Unidos.
• A 'diplomacia borboleta' combina a decisão de dar prioridade ao Sul com a dificuldade política de associação com a região, e.g. a África do Sul. Este país procura primariamente se associar a
outros países africanos, além de outros como Brasil, Índia e China.
○ Um dos riscos da estratégia de borboleta é a possível percepção dos vizinhos da tentativa de construção de um domínio. Assim, temos duas possibilidades:
▪ Perspectivas para o Sul → Visão geopolítica → Integração regional → Graduação
▪ Perspectivas para o Sul → Pragmatismo econômico → Interação regional → Domínio regional
• O dilema da graduação tem características especiais para os países emergentes dos exemplos:
○ Estes países são secundários na hierarquia internacional. Seus líderes precisam aceitar que não é possível antecipar as contradições potenciais que podem surgir no curso da graduação, o
que atribui incerteza ao processo, relacionada à possibilidade de contestação dos poderes estabelecidos, ou ao não-reconhecimento dos vizinhos regionais.
○ Ao não possuírem poder de veto, estes países utilizam as instituições para mudar normas e regras. O dilema se refere à dificuldade do uso das instituições multilaterais para promover
mudanças na ordem internacional assimétrica.
○ Quando há assimetria na ordem regional, os líderes tem o dilema de terem que usar uma estratégia de proeminência internacional ao mesmo tempo em que dão atenção aos bens públicos
regionais sem serem percebidos como um poder dominante.
○ Os tomadores de decisão na área da política externa, quando confrontados com o dilema da graduação, devem considerar custos econômicos, políticos e sociais. Altos níveis de
desigualdade econômica e estratificação social obrigam os tomadores de decisão a justificarem seus métodos e objetivos para o público, sobre o porquê buscam proeminência regional e
global. O dilema aqui se refere dá pois o público pode se tornar insatisfeito com os custos da ajuda do país a outros países menos desenvolvidos.
Conclusão
• O objetivo dos autores no artigo era entender como países secundários e não-nucleares buscam mudar seu status internacional de forma pacífica, e quais estratégias usam para alcançar essa
posição.
• A política externa que busca a graduação pode resultar em dilemas.
• Na medida em que a presença internacional do Brasil não era uniforme em todos os tópicos em que propunha defender na agenda internacional, novas coalisões de suporte e oposição foram
formadas. Cada uma correspondeu a uma leitura particular das possibilidades e restrições do sistema.
• Essas observações refletem pontos-chave da estrutura analítica dos autores: não-linearidade e abrangência do processo de graduação.
○ Para os autores, países que passam pelo processo de graduação podem assumir um curso de ação específico para um contexto, que varia em trajetória, intensidade, áreas de atuação, e que
cujas estratégias estão sujeitas a interrupção ou retração.
• Os autores usaram cinco exemplos das estratégias brasileiras ao todo: caso boliviano (Petrobrás); caso paraguaio (Itaipu); financiamentos do BNDES; ciclo comercial do G20; caso Snowden. Em
todos esses casos as condições de sucesso estavam presentes: capacidades materiais; vontade política; suporte eleitoral; reconhecimento pelos pares. Dessa forma, nesses casos, o Brasil avançou
na rota da graduação.
○ No entanto, a coesão com as elites estratégicas estava ausente na maioria dos casos.
○ Nos casos da segunda rodada do G20, do lançamento do RwP e da mediação com a Turquia acerca do programa nuclear iraniano, havia completa ausência de coesão com as elites
estratégicas, fazendo com que o sucesso do Brasil fosse muito menor ao confrontar estes dilemas de graduação.
• No caso do Brasil, as capacidades materiais, a vontade política e a coesão entre as elites estratégicas são cruciais para a mudança de trajetória internacional e a confrontação efetiva dos dilemas
de graduação.