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Lawfare
21st Century Wars: Considerations for Hybrid Wars and Lawfare
Mariléia Tonietto 1
Universidade Federal do Paraná (Curitiba, Paraná, Brasil)
marileiatonietto@yahoo.com.br
http://lattes.cnpq.br/2895281470238580
Larissa Ramina 2
Universidade Federal do Paraná (Curitiba, Paraná, Brasil)
raminalarissa@gmail.com
0000-0003-3359-9358
RESUMO:
O artigo trata das estratégias utilizadas pelos Estados Unidos com o fim de manter e
expandir sua hegemonia conquistada no pós-guerra fria. Aborda a ideia de guerra
híbrida e discorre acerca do lawfare ou guerra jurídica, práticas estas que imprimem
novas feições aos conflitos geopolíticos globais, consistentes em estratégias de
intervenção nos Estados soberanos, distintas das utilizadas nos embates bélicos
convencionais. A partir desses conceitos, analisa o emprego de tais práticas de guerra no
cenário contemporâneo. Destaca-se a América Latina, em países cujas políticas de
Estado não se alinhavam aos interesses dos externos. Notadamente o Brasil atuou com
protagonismo dos militares, mas também do sistema judiciário, além do alinhamento
com políticas neoliberais e subserviente aos Estados Unidos, a militarização da política,
movimento essencialmente oposto ao fortalecimento do Estado democrático de direito.
O ponto em comum observado no âmbito dessa estratégia de guerra - que se presta a
definir o espectro ideológico dos governantes que assumirão o comando de cada Estado
alvo, suas estratégias também se orientam para as disputas eleitorais – é o combate à
Como citar este artigo: TONIETTO, Marileia; RAMINA, Larissa. Guerras do Século XXI:
Considerações sobre Guerras Híbridas e Lawfare. Revista Brasileira de Pesquisa Jurídica, Avaré, v.2,
n.3. p. 37-55, set./dez. 2021. DOI: 10.51284/rbpj.02.tmrl
1
Mestra em Sociologia pela UFPR - Universidade Federal do Paraná, pesquisadora do Grupo de
Pesquisa INTER – Abordagens Críticas ao Direito Internacional.
2
Professora de Direito Internacional da UFPR – Universidade Federal do Paraná. Pós-Doutorado em
Direito Internacional pela Université de Paris Ouest Nanterre La Défense. Doutora em Direito
Internacional pela USP – Universidade de São Paulo. Coordenadora do Programa de Iniciação
Científica e Iniciação Tecnológica Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPR.
Attribution-NonCommercial
ShareAlike 4.0 International
(CC BY-NC-SA 4.0)
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corrupção. Sob tal fundamento, e contando com o aparato do sistema de justiça local,
tornam-se inelegíveis lideranças políticas, vilipendiam-se reputações e corrompem-se
democracias não consolidadas.
ABSTRACT:
O artigo treats of strategies used by the United States as a goal of maintaining and
expanding its conquered hegemony, not post-cold war. It addresses the idea of hybrid
warfare and disagreements about lawfare or legal warfare, these practices that imprint
new feições in global geopolitical conflicts, consistent with intervention strategies in
sovereign States, different days used in conventional war attacks. Starting from two
conceits, I analyze or undertake such non-contemporary war practices. Latin America
stands out, in countries whose State policies are not aligned with external interests.
Notably, Brazil has two military leaders, but also the judicial system, in addition to
being aligned with neo-liberal policies and subservient to the United States, to the
militarization of politics, a movement essentially opposed to or strengthening the
democratic state of direct rule. Or, as a common point of view, there is no scope for the
war strategy - which lends itself to defining the ideological spectrum of the two rulers
who assume or command each State, their strategies are also geared towards electoral
disputes – or fighting corruption. On this foundation, and counting as an apparatus of
the local justice system, political leaders become inelegible, vilify their reputations and
corrupt unconsolidated democracies.
1. Introdução
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Estratégias traçadas pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial destinadas a
implementar políticas neoliberais em países subdesenvolvidos. Na América Latina, se consolidaram no
final da década de 1980 e na década de 1990.
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3. Guerras híbridas
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Leiner (2020, p. 188) define cismogênese “como um processo de diferenciação nas normas de
comportamento individual resultante da interação cumulativa dos indivíduos. (...) Temos não apenas de
considerar as reações de A ao comportamento de B, mas ir adiante e considerar como estas afetam o
comportamento posterior de B e o efeito disso sobre A.”
5
Para entender a relação de Olavo com o bolsonarismo, ver: GORTÁZAR, Naiara Galagarra. EL PAÍS.
Olavo de Carvalho, o onipresente oráculo do bolsonarismo. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/14/politica/1555201232_670246.html Acesso em: 20 de maio de
2021.
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foram tão somente efeitos colaterais da guerra híbrida, uma “guerra que, enfim, depende
de conceitos, ideias e processos mentais para se efetivar” (LEINER, 2020, p. 192).
Na obra intitulada “Guerras Híbridas: das revoluções coloridas aos golpes”,
Andrew Korybko (2018) desvela as estratégias utilizadas na implementação desse novo
modelo de guerra desenvolvido pelos Estados Unidos. Para tanto, debruça-se sobre os
eventos estruturais havidos na Síria e na Ucrânia. Chamada pelo autor de 'caos
estruturado', a guerra híbrida apresenta-se como um pacote híbrido excepcional de
dominação intangível e tangível das variáveis do campo de batalha, constituindo-se
tanto numa estratégia quanto numa arma de guerra. Em seu âmbito, e consideradas um
de seus pilares, são operadas as chamadas revoluções coloridas, eventos fabricados, no
sentido de inexistir espontaneidade em seu processo de formação. Tal como campanhas
de publicidade, as revoluções coloridas são produzidas de antemão à sua implementação
mediante disseminação de informações que veiculam ideias contrárias a determinado
governo de forma a produzir consenso de parcela da população a ponto de desencadeá-
las. A massa de indivíduos envolvida em tais eventos não tem consciência do papel que
desempenha, sendo meramente usada para imprimir legitimidade ao golpe posto em
curso.
Ainda segundo o autor, as revoluções coloridas devem seus fundamentos
básicos às técnicas de psicologia das massas e sofreram influência decisiva da obra
intitulada “Propaganda”, publicada por Edward Bernays em 1928, cujo entendimento é
de que as relações públicas resultam da associação dos princípios da publicidade e da
projeção à população em massa, não por acaso, ambos presentes na comunicação da
mensagem das revoluções coloridas. Para Bernays, um pequeno número de pessoas é
capaz de orientar a forma de pensar das massas, conclusão advinda do estudo
sistemático da psicologia das massas que evidenciou a potencialidade do controle
intangível da sociedade por manipulação dos motivos que mobilizam o indivíduo em
grupo, mas que diferem dos que estimulam o indivíduo isoladamente. Nesse contexto,
as redes, a tecnologia da informação e os meios de comunicação figuram como
elementos centrais (KORYBKO, 2018).
Korybko (2018) discorre pormenorizadamente acerca das estruturas que
sustentam as revoluções coloridas e dos métodos de interferência estrangeira para
infiltrar-se nas redes sociais com o fim de criar a chamada “mente colmeia” e
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Nomenclatura proposta no trabalho citado.
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não só com a crise de 2008, com seu epicentro nos Estados Unidos, na hegemonia do
capital financeiro, mas também com o acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos
em meados de 2009 para usar sete bases militares colombianas. O acordo resultou de
uma estratégia dos Estados Unidos de aumentar sua presença militar na região, de
enfrentar a União Européia, China e Rússia através do controle da América Latina, além
de proteger dutos para garantir o futuro abastecimento de Petróleo (RAMINA et al,
2020).
Acerca de um caso concreto, Oliveira (2020) aborda a aplicabilidade do
conceito de lawfare como modelo de análise de investigação do Acordo de
Salvaguardas Tecnológicas (AST) Brasil/Estados Unidos com relação ao Centro de
Lançamento de Alcântara (CLA), firmado em 2019. Define esse neologismo como
sendo a expressão do uso instrumental de instituições e de normas jurídicas com o
propósito de obtenção de vantagem de caráter militar sem que se lance mão de qualquer
meio bélico tradicional. Afirma que o direito tem sido largamente utilizado nos conflitos
contemporâneos para planejar e executar operações militares nos mais diversos âmbitos,
de forma a legitimar e legalizar hostilidades em instâncias nacionais ou internacionais e,
ainda, interferir na opinião pública.
O autor considera, ainda, que a dinâmica de atuação do lawfare é abrangente,
por ser capaz de movimentar diversas áreas jurídicas e ser aplicável em variados tipos
de instituições, ultrapassando os limites do direito internacional e especificamente do
direito internacional humanitário. Outro aspecto de destaque diz respeito ao menor custo
relativamente a recursos humanos, materiais e políticos que o uso desse mecanismo
jurídico movimenta. Mostra-se estratégico e instrumental, aplicável, portanto, no âmbito
do Direito Internacional em fóruns internacionais bem como nos respectivos direitos
internos em fóruns nacionais.
A partir dos estudos desenvolvidos, o autor, embora aponte a ressalva da
necessidade de aprofundamento teórico e metodológico relativos aos estudos sobre
lawfare, conclui haver evidências da prática de lawfare no AST entre Brasil e Estados
Unidos relativamente ao uso do CLA. Por meio de mecanismos jurídicos, os Estados
Unidos teriam praticado cerceamento tecnológico com o fim de restringir o poder
militar brasileiro, ao negar acesso à tecnologia de foguetes, que são potenciais vetores
de armas de destruição em massa.
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5. Considerações finais
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Referências
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KORYBKO, Andrew. Guerras híbridas: das revoluções coloridas aos golpes. São
Paulo: Expressão Popular, 2018. Disponível em:
https://www.expressaopopular.com.br/loja/wp-content/uploads/2020/05/guerras-
hibridas.pdf. Acesso em: 15 nov. 2020.
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13 abr. 2021.
SILVA FILHO, José Carlos Moreira da. Teses Reacionárias e Guerras Jurídicas: o
combate à corrupção como pretexto para a derrubada e o bloqueio de governos
populares na América Latina do século XXI. Artigo apresentado em debate em abril
2019. Disponível em https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2019/04/teses-
reacionarias-e-guerras-juridicas-por-jose-carlos-moreira-da-silva-filho/. Acesso em: 12
mai. 2021.
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