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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SOCIOECONÔMICO


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CURSO DE
GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Disciplina: Formação Econômica Brasileira II


Professor: Fábio Pádua dos Santos
Alunas: Nathália Telles
Data: 07/11/2023
Relatório 1

A palestra “Imperialismo, disputas geopolíticas e guerra no século XXI” foi


ministrada pelo professor associado do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutor Carlos Eduardo Martins. Compondo o
segundo dia do evento “XVII Colóquio Brasileiro em Economia Política do Sistema Mundo”,
a exposição de Martins trouxe uma perspectiva acerca do imperialismo na
contemporaneidade, com ênfase no papel dos Estados Unidos na conjuntura global no século
XXI, tal qual sua singularidade para com a geopolítica vigente e os conflitos em curso.

Conforme exposto, a ascensão dos Estados Unidos à hegemonia pós-Segunda Guerra


Mundial trouxe consigo uma reavaliação da teoria do imperialismo, desafiando a visão
tradicional vinculada aos processos de colonização. Nesse contexto, a teoria da dependência
emergiu como uma abordagem que articulava o imperialismo à construção de Estados
soberanos, mantendo a dominação econômica como elemento central.
Arrighi, por sua vez, revisou a teoria do imperialismo, argumentando que a
interpretação tradicional realizada por Lenin representava o declínio da hegemonia britânica,
alegando que o direcionamento do sistema pelo capital rentista era apenas uma das
manifestações possíveis, com ênfase na existência do imperialismo informal vigente na
contemporaneidade. No contexto do pós-guerra, a geopolítica adotada pelos EUA
fundamentava-se em duas principais sustentações teóricas: o equilíbrio de poder e a defesa do
liberalismo e da democracia.
Tendo em vista a bipolaridade em curso, o Estado cunhou uma abordagem de longo
prazo para a confrontação com a União Soviética, com foco em elementos econômicos e
ideológicos, relegando o componente militar a uma função secundária e estratégica,
direcionada a pontos críticos onde o avanço do socialismo poderia ameaçar o equilíbrio de
poder. No entanto, a intervenção no Vietnã, na sequência, surgiu como resultado de debates
internos nos Estados Unidos, onde os intervencionistas buscavam conter a propagação do
socialismo na Ásia, lançando as bases para uma análise que distinguia o realismo do
idealismo na política externa norte-americana.
Contudo, a estratégia de acumulação de capital baseada no neoliberalismo adotada
pelos EUA a partir dos anos 1970 não conseguiu manter seu poder inquestionável, devido às
pressões internas da classe trabalhadora. Isso levou a uma mobilização sindical, estudantil e
universitária, ligada aos direitos, ao movimento anti-imperialista e à oposição à guerra,
principalmente devido às perdas de vidas na Guerra do Vietnã.
O crescente endividamento público dos EUA durante o conflito e a incapacidade de
conter a ascensão da China, que adotou uma estratégia de fortalecimento tecnológico e
científico, levaram os EUA a reavaliar sua abordagem. Assim, o Estado passou a
compreender que a estratégia baseada na financeirização e no poder militar unilateral os
expunha consideravelmente. Era necessário romper com o imperialismo formal e sua ênfase
na violência para buscar uma nova estratégia de contenção da China, centrada no controle das
massas terrestres intercontinentais em prol do domínio das ilhas peninsulares. Ademais, em
meio ao rearranjo da balança de poder, a China galga rumo as suas ambiciosas metas
desenvolvimentistas e tecnológicas, enquanto os Estados Unidos experimentam um declínio
da mais alta hierarquia do Sistema Internacional.
Buscando relacionar o conteúdo desenvolvido ao longo da disciplina de Formação
Econômica do Brasil II, é possível notar que a narrativa construída a partir dos Estados
Unidos está entrelaçada com o histórico de intervenções, mesmo que de teor não militar,
vivenciado no país, por exemplo, no golpe Militar. Nesse contexto, os EUA estiverem
presentes como incentivadores e patrocinadores da tomada de poder pelos militares, aja vista
que tinham interesse em deter as supostas ameaças comunistas na América Latina, aqui
representadas, segundo eles, por João Goulart. Ainda, após a adoção do regime ditatorial, as
políticas econômicas adotadas, alinhadas com o modelo econômico de mercado preferido
pelos Estados Unidos, induziram a contratação de empréstimos substanciais no exterior,
advindas de instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial,
resultando no aumento significativo da dívida externa do país.
Ademais, a palestra de Martins, bem como as contribuições dos professores e colegas
presentes, possibilitou uma reflexão ainda mais profunda acerca do lugar em que o Brasil se
encontra nessa possível transição hegemônica vivenciada no contexto atual e qual será o
alinhamento do país no reequilíbrio das forças que regem a concerto internacional,
contribuindo, assim, para a melhor compreensão dos possíveis cenários que o futuro reserva
ao país.

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