1.) KENNEDY: Com base em “força econômica = força militar” explique por que a Grande Guerra foi uma guerra total e as consequências disso para as nações beligerantes
A partir do final do século XIX, a Inglaterra, banqueira e tomadora de empréstimos dos
mercados mundiais até então, vai perdendo espaço para a atuação norte-americana, de maneira que o sistema internacional passa de “anarquia ordenada” para “caos sistêmico”, provocando uma instabilidade que resultou em uma guerra total: a Primeira Guerra Mundial. A partir da análise de Kennedy, podemos considerar três fatores que contribuíram para a deflagração da guerra e que a caracterizaram como uma guerra total. O primeiro deles diz respeito ao desenvolvimento industrial acelerado das potências europeias e asiáticas, estimulado principalmente pela corrida armamentista, que ocorreu durante o período da Paz Armada (1890-1914), [provocando mudanças na base produtiva militar industrial]. O segundo está relacionado a elementos geopolíticos e estratégicos, que influenciaram nas reações individuais das nações envolvidas no confronto, ao passo em que o terceiro refere-se à política de alianças que se estabeleceu durante o período de guerra. Este último fator assegurava que a guerra não seria momentânea, pois as alianças garantiram uma combinação de recursos variados para ambos os lados envolvidos no conflito, de forma que seus poderes se contrabalancearam. Para o autor, durante a Primeira Guerra Mundial a relação entre a economia e a estratégia estava se tornando mais forte (força militar = força econômica) de maneira que tal relação, aliada à escala industrial que a batalha adquiriu, resultou em uma preferência à técnica, com invenções bélicas letais que compreendenderam as principais nações até então. As consequências da guerra para as potências envolvidas vão muito além das milhões de mortes constatadas. Devido ao progresso que conquistaram e ao consequente esgotamento que as mesmas alcançaram com o decorrer do evento, a Inglaterra perdeu espaço para os Estados Unidos, que ficaram ainda mais próximos de ocupar a posição hegemônica do sistema internacional. A Rússia enfrentou uma intensa guerra civil que resultou na formação da URSS. A Alemanha, por meio do Tratado de Versalhes, acabou como responsável pela guerra, enfrentando penosas perdas territoriais, restrições e indenizações. Foi criada também a Liga das Nações, que pretendia reorganizar as relações internacionais no pós-Guerra, mas que não foi forte o suficiente para evitar um Segunda Guerra Mundial. 2.) ARRIGHI: Descreva as duas fases de expansão dos ciclos de acumulação sistêmica e exemplifique com relação à Inglaterra ou aos EUA.
Segundo Arrighi, a economia capitalista mundial das nações hegemônicas (Inglaterra e
posteriormente os Estados Unidos) se expandiu e compreendeu todo o globo, de maneira que as nações abarcadas passaram a representar redes de acumulação cada vez mais autônomas em relação às hegemonias. Sendo assim, estas últimas se depararam com uma situação em que precisavam liderar não apenas os processos de gestão do Estado e da guerra de seus domínios, mas também nos de acumulação de capital. Desta maneira, o autor identifica ciclos sistêmicos de acumulação pelos quais as nações que já foram hegemônicas passaram, que consistiram em duas fases consecutivas de expansão: material e financeira. Na primeira, a potência em questão apresenta uma produção em grande escala, de modo que adquire uma base material inicial, acumulando capital. Na segunda, a mesma passa a extrair investimentos da base material, transferindo-os para a base financeira. Para exemplificar, podemos nos utilizar da hegemonia norte-americana. Sua ascensão teve início com a derrocada da Inglaterra, a partir do final do século XIX. O mundo entrou em um novo caos sistêmico (Primeira Guerra Mundial), no qual os Estados Unidos puderam apresentar o seu grande poderio econômico-militar, prestando auxílio à grande parte das potências envolvidas no conflito. No entanto, a solução ao caos sistêmico não havia sido encontrada, de forma que tem início a Segunda Guerra Mundial, onde os norte-americanos puderam demonstrar, mais uma vez, sua força material. Consequentemente, temos a consolidação da hegemonia estadunidense com o Sistema de Bretton Woods, o FMI, o Banco Mundial, a ONU e o GATT. A expansão das indústrias americanas às outras nações, uma vez que os países europeus passavam consideráveis dificuldades econômicas devido à Segunda Guerra Mundial e à descolonização da África e da Ásia, ilustra a fase de expansão material. Já a fase de expansão financeira, segundo Arrighi, pode ser identificada a partir da década de 1970, com a globalização. Os Estados Unidos estariam, dessa maneira, iniciando seu processo de decadência hegemônica, abrindo espaço para a China. 3.) WALLERSTEIN: Por que a noção de Terceiro Mundo continua tão atual OU qual o problema que deu origem à noção de Terceiro Mundo e que segue irresolvido na atualidade.
De acordo com Wallerstein, para compreender a noção de Terceiro Mundo é necessário
considerar o período em que o mundo se encontrava na data de sua origem: a Guerra Fria. Do final da Segunda Guerra Mundial até fins da década de 1990, os Estados Unidos apresentaram-se como a potência hegemônica. No entanto, tal fato não anula a existência de potenciais contestações à sua hegemonia, característica do intervalo referente à Guerra Fria, em que o mundo se dividiu em dois grandes blocos adversários: o socialista, liderado pela URSS, e o capitalista, liderado pelos Estados Unidos. Observa-se, nesse contexto, a descolonização das colônias europeias (1945-1977) e uma maior autonomia das nações periféricas em relação às nações centrais, que foi acompanhada pelo processo de substituição de importações liderado pelos Estados (sobretudo na América Latina) e pelo nacionalismo, que providenciou movimentos de independência de diversas colônias. A invenção do conceito de Terceiro Mundo, desse modo, foi responsável por lembrar a existência desses países que despertaram para uma maior liberdade durante a Guerra Fria - mas que sofriam com as consequências de anos de dominação - às nações desenvolvidas, principalmente URSS e Estados Unidos. Entre 1960 e 1970, o conceito fez muito sentido, mas, a partir da década de 1980, passa a ocupar o segundo plano. O mundo que se construiu sob a hegemonia norte-americana é ideologicamente liberal, mas materialmente regulado, de modo que a realidade representada pelo conceito de Terceiro Mundo continua presente e pendente até os dias de hoje: um sistema capitalista polarizado, composto por graves e diversas desigualdades. 4.) ARRIGHI E WALLERSTEIN: Quais são as implicações da consolidação da hegemonia chinesa para o Brasil e para os EUA e qual país reúne mais vantagens geográficas caso essa consolidação realmente ocorra. GERAL) Quadro sintético dos aspectos mais relevantes do curso, citar um autor de cada módulo apresentando suas principais ideias e de que modo o curso mudou sua forma de entender a formação do sistema internacional.
→ Aspectos mais relevantes do curso e autores:
● Eurocentrismo - DUSSEL, MÓDULO I: Dussel discorre sobre o mito da modernidade, baseado na visão eurocêntrica desta última, que apresenta às civilizações modernas a missão de desenvolver os povos mais primitivos. Para tal, o uso da violência e o sofrimento desses povos primitivos aparece como inevitável e a “falta de modernidade” como culpa. O eurocentrismo aparece, portanto, como um disfarce que oculta as vítimas da modernidade. Ao analisar a concepção eurocêntrica que também permeia o pensamento hegemônico atual, Dussel considera alguns aspectos relacionados à origem europeia que se apresentam como limitantes, como, por exemplo, a manipulação conceitual e racista pela qual passou sua “origem bárbara”. O autor analisa também os dois conceitos de modernidade. O primeiro, já mencionado, é eurocêntrico e o segundo conceito diz respeito a um sentido mundial. Dessa forma,utilizando-se da colonização da América e de sua consequente acumulação de riquezas, conhecimento e experiências, a Europa coloca-se em um nível superior e indicativo de modernidade. No entanto, aqueles que ocupam a outra face da modernidade - a face que ainda não é moderna e, portanto, precisa se modernizar - enfrentam graves consequências. ● Razões da ascensão europeia - KENNEDY, MÓDULO II: De acordo com Kennedy, o continente europeu se estruturou, principalmente, com base na economia de mercado, no pluralismo político-militar e na liberdade intelectual, aspectos limitados muitas vezes em outras nações devido à centralização do poder. A competição existente dentro da Europa estimulou os desenvolvimentos econômico e tecnológico (armas de guerra e navios) e também foi necessária para garantir o equilíbrio de poder interno. Portanto, a maior vantagem europeia, em relação às outras civilizações, era ter menos desvantagens. Kennedy nos apresenta em seu texto uma análise da estrutura política e econômica vigente na Europa do século XV. Havia no continente uma dinâmica impulsionada pelos avanços econômicos e tecnológicos, interagindo com a estrutura social e geográfica, que serão expostos a seguir. Em relação aos aspectos físico e geográfico, o autor argumenta que a Europa sempre foi politicamente fragmentada, devido à geografia do território europeu, que minimizou a possibilidade de surgimento de monopólios políticos. Soma-se à tal fato a diversidade climática da região, que proporcionou a produção de uma variedade de mercadorias, responsáveis por instigar a utilização de rios como meio de transporte e, consequentemente, desenvolver o comércio marítimo europeu. [Vale ressaltar que sempre houve na Europa príncipes e senhores locais dispostos a tolerar os comerciantes e o comércio em si, enxergando-os como necessários para se chegar ao mais alto grau de riqueza.] Em relação aos avanços tecnológicos, Kennedy observa a existência de diversos centros de poder econômico e militar no continente, fundamentais tanto para manter o equilíbrio de poder interno, quanto para garantir a ascensão militar europeia. A competição dentro do continente gerou o desenvolvimento de uma corrida armamentista. ● Pares conceituais - ARRIGHI, MÓDULO II e III: → Dominação e hegemonia; → Caos sistêmico e anarquia ordenada; → Territorialismo e capitalismo; → Expansão material e expansão financeira; De acordo com os conceitos de Arrighi, podemos entender a dominação como uma imposição por meio da força e da coerção, com ausência de legitimidade. A hegemonia, por outro lado, se apresenta como a dominação acompanhada do consentimento, de forma que possui certo grau de legitimidade. Já em relação à anarquia e ao caos sistêmico, compreende-se que a primeira diz respeito à ausência de um governo central, ao passo em que o segundo se refere à ausência total de organização. O autor utiliza, além dos conceitos descritos anteriormente, dois conceitos relacionados à lógica de dominação: lógica territorialista e lógica capitalista. A primeira identifica como poder o tamanho das extensões territoriais e populacionais de um governante, considerando o capital como um instrumento para a expansão de tais extensões. A segunda identifica o poder de um governante como o controle que exerce sobre os recursos econômicos, encarando as aquisições territoriais como subproduto da acumulação de capital. Entre os séculos XVI e XVII, por exemplo, o mundo europeu passou por um período de caos sistêmico, uma vez que o sistema de governo medieval dominante até então entrou em decadência e não havia nação hegemônica. Durante esse período, a Espanha dos Habsburgos tentou, por meio da lógica territorialista, da dominação e da manutenção do sistema medieval, controlar as outras nações. Entretanto, as nações buscavam maior autonomia, de forma que a imposição de tal sistema de governo era incompatível com seus ideais. É nesse cenário que aparecem as Províncias Unidas que, por meio da lógica capitalista, da defesa da autonomia nacional e desenvolvimento do modo de produção capitalista, acabam conquistando a posição hegemônica findando o período de caos sistêmico e iniciando o período de anarquia ordenada. Arrighi identifica também ciclos sistêmicos de acumulação pelos quais as nações que já foram hegemônicas passaram, que consistiram em duas fases consecutivas de expansão: material e financeira. Na primeira, a potência em questão apresenta uma produção em grande escala, de modo que adquire uma base material inicial, acumulando capital. Na segunda, a mesma passa a extrair investimentos da base material, transferindo-os para a base financeira. → Agregações do curso: O curso foi essencial para se obter mais clareza na compreensão da formação do sistema internacional. Por meio dos autores e conceitos citados anteriormente, consegui transformar e desenvolver diversas concepções que possuía a respeito das principais potências mundiais, além de seu surgimento, progresso e relações com as outras nações. Compreendi melhor o funcionamento do sistema capitalista de produção e suas consequências em escala global. Ficou mais evidente a força que os países hegemônicos possuem quando se trata de aspectos ideológicos, influenciando, por exemplo, tanto na cultura quanto na interpretação histórica de determinado país. Enfim, o curso foi gratificante, uma vez que gerou desconstruções em minhas perspectivas.
Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições