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GLOBALIZAÇÃO, REDES E SUAS INTERFACES SOCIAIS E

ECONÔMICAS

UNIDADE I

Organização do espaço mundial considerando os aspectos


históricos e geopolíticos do mundo no século XX

Apresentação do Curso

Neste curso, vamos tratar das redes da globalização de forma diferente.


Nosso objetivo não é apenas tratar conteúdos de interesse sobre o tema, já
bem conhecido por você, mas sim propor outra abordagem que valorize outras
linguagens e formas de mediação didática relativa aos efeitos da globalização.
O que pretendemos é chamar a atenção para o fato de que a globalização é
um processo econômico e social que estabelece interdependência entre os
países. Observamos que esse processo cria vínculos entre as pessoas, os
governos e as empresas, que utilizam vários mecanismos para espalhar
diferentes aspectos culturais e econômicos pelo mundo.

Pós-Segunda Guerra; Guerra Fria; organizações políticas, econômicas e


militares; colapso do socialismo; novas fronteiras

O processo conhecido como globalização expande as fronteiras dos


séculos, na tentativa de mesclar povos e culturas; entretanto, não está
relacionado ao processo global; na verdade, global e globalização não se
referem a relações entre nações, mas a forças supranacionais que, sem ter
compromissos maiores com suas bases territoriais de origem, condicionam por
toda parte o funcionamento das sociedades nacionais. Considerando os
aspectos históricos do pós-guerra, o primeiro passo é citar o desfecho da
Segunda Guerra Mundial, que desencadeou uma nova organização no espaço
mundial, resumida ao embate entre EUA e URSS (União Soviética) – mais do
que potências, regimes econômicos que impunham suas forças para arrebatar
Estados-nações.

Nesse período tornou-se necessária a reconstrução da economia


mundial, presidida pelas inovações institucionais consignadas no acordo de
Bretton Woods, entre as quais se destacam o FMI, o Banco Mundial e o GATT.
Um traço típico daquele período era a concepção de que a nova ordem
econômica mundial haveria de funcionar como parte integrante de uma nova
ordem política internacional cuja organização de cúpula seria a ONU.

SAIBA MAIS - Bretton Wood – 1944

Tratava-se de criar regras e instituições formais de ordenação de um sistema monetário


internacional capaz de superar as enormes limitações que os sistemas então
conhecidos (o padrão-ouro e o sistema de desvalorizações cambiais competitivas)
tinham imposto não apenas ao comércio internacional, mas também à própria
operação das economias domésticas. Buscava-se, assim, definir regras comuns de
comportamento para os países participantes que, se poderiam por um lado contribuir
para que atingissem níveis sustentados de prosperidade econômica como nunca havia
sido possível antes, exigiriam, por outro lado, que abrissem mão de pelo menos parte
da sua soberania na tomada de decisões sobre políticas domésticas, subordinando-as
ao objetivo comum de conquista da estabilidade macroeconômica (CARVALHO, 2004).

A Guerra Fria demonstrou uma nova dinâmica de conflitos e impulsionou


a produção industrial, principalmente das indústrias bélicas e automobilísticas,
coincidindo com a descolonização do território africano. O mundo partido agora
apresenta inúmeros conflitos, ligados ou não à Guerra Fria, mas quase todos
com armamentos russos, israelenses e norte-americanos.

Logo após a Segunda Guerra e o desenrolar da Guerra Fria, organismos


militares são concretizados, fortalecidos pelo processo de tensão entre as
potências. A OTAN unificou a base capitalista ocidental, em que Europa
Ocidental, EUA e Canadá aproximaram suas relações militares no intuito de
precaver problemas futuros na Guerra Fria ou pós-Guerra Fria.

Mesmo tendo surgido notórias divisões entre os membros da aliança


militar ocidental, os sócios dos Estados Unidos que integram a OTAN
– entre eles Alemanha, França e Itália – apoiaram a operação militar
empreendida por Estados Unidos e Grã-Bretanha no Afeganistão. É
como se a Europa e os Estados Unidos tivessem se unido com a
finalidade de “recolonizar” e “repartir” uma vasta região que se
estende desde a Europa do Leste e os Bálcãs até a fronteira
ocidental da China. Alemanha e Estados Unidos definiram “esferas de
influência” e essa “repartição” deve ser entendida historicamente,
pois, em muitos sentidos, é semelhante ao acordo que as potências
europeias assinaram na conferência de Berlim, no século XIX, sobre
a divisão e a conquista territorial da África. Também a política colonial
nos portos chineses nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial
foi cuidadosamente articulada de comum acordo, pelas mesmas
potências imperialistas (CHOSSUDOVSKY, 1999, p. 27).

Posteriormente, o final da Guerra Fria inaugurou outro período de


grande alteração da dinâmica do espaço mundial, já que o socialismo não
acompanhou as inovações do capitalismo e as políticas adotadas pelo governo
socialista não proporcionaram seu verdadeiro objetivo; houve aí a necessidade
da continuada atualização dos mapas e dos atlas: o surgimento de novos
países, a incorporação de enclaves e as independências vêm de meados dos
anos 1980 e culminaram com um aspecto rizomático de surgimento de novos
territórios estatais nos anos 1990 e que viabilizaram a expansão do capital por
territórios que anteriormente eram economias planificadas. Nesse contexto,
deve-se destacar:

1. O início da Glasnost, por Mikhail Gorbachev, em 1985;


2. A derrubada do Muro de Berlim, em 1989, que passou a ser adotada
como marco do fim da Guerra Fria;
3. A independência da Letônia e da Estônia, em 1991;
4. O desmanche da URSS e a criação da Federação Russa, em 1991;
5. O desmanche da Iugoslávia, iniciado com a independência da Eslovênia,
em 1991, e delongado com diversos confrontos internos, que assumiram
conotação de conflito étnico, como a Guerra da Bósnia, entre 1992 e
1995, até o plebiscito que resultou na independência de Montenegro;
6. A divisão da Tchecoslováquia em dois novos países: República Tcheca
e Eslováquia, em 1993;
7. A devolução de Hong Kong à China pelo Reino Unido, em 1997, e de
Macau por Portugal, em 1999;

O fim do mundo bipolar, com a derrocada do socialismo, e o início da


multipolaridade proporcionou um mundo globalizado e conturbado pela
violência como forma normal de resolver diferenças (vide os numerosos
massacres e guerras "civis" dos últimos anos, que muitas vezes superam a
média diária de perdas de vidas da Segunda Guerra Mundial). Essa
desatenção poderia ser explicada, de forma parcial, como resultado do
fracasso das Nações Unidas, o qual por sua vez pode ser atribuído ao papel
secundário e burocrático outorgado à organização durante a Guerra Fria. Mas,
em relação às dificuldades para institucionalizar um espaço público global,
parece-nos mais importante destacar sua incompatibilidade com as visões
políticas dominantes e, em particular, com a vigência do conceito de soberania
nacional e com o uso praticamente "exclusivo", por parte dos Estados, de
qualquer representação pública no cenário internacional. Mas o turbilhão de
duas guerras mundiais entre os Estados mais poderosos do planeta provocou o
quase esquecimento dessa ideia, mantendo intocado (paradoxalmente) o papel
dos responsáveis pelo caos passado (os Estados) como organizadores e
supervisores da ordem mundial.

A instrumentalidade das estratégias espaciais e locacionais da


acumulação do capital e do controle social está sendo revelada com
mais clareza do que em qualquer época dos últimos cem anos.
Simultaneamente, há também um crescente reconhecimento de que
o operariado, bem como todos os outros segmentos da sociedade
que foram periferializados e dominados, de um modo ou de outro,
pelo desenvolvimento e reestruturação capitalistas, precisam procurar
criar contraestratégias espacialmente conscientes em todas as
escalas geográficas, numa multiplicidade de locais, a fim de competir
pelo controle da reestruturação do espaço (SOJA, 1993, p. 210).
Em termos, a globalização discute tempo/espaço, no âmbito do
sistemamundo, na pós-modernidade e à luz dos conceitos de nação, mercado
mundial e lugar. Tornada paradigma para a ação, a globalização se reflete nos
Estados-nação exigindo um protecionismo que em tese contradiz a demanda
"livre e global" apregoada pelos liberais de plantão. Porém, ao olhar para o
lugar, para onde as pessoas vivem seu cotidiano, identifica-se o lado perverso
e excludente da globalização, em especial quando os lugares ficam nas áreas
pobres do mundo. Ao reafirmá-lo, a globalização econômica não consegue
impedir que aflorem os outros, resultando em conflitos que muitos tentam
dissimular como competitividade entre os Estados-nação e/ou corporações
internacionais, sejam financeiras ou voltadas à produção. A globalização é
fragmentação ao expressar no lugar os particularismos étnicos, nacionais,
religiosos e os excluídos dos processos econômicos com objetivo de
acumulação de riqueza ou de fomentar o conflito (RIBEIRO, 2001).

O mundo contemporâneo globalizado refere-se à articulação de


dinâmicas que fortalecem a formação de um sistema de Estados-nação, de um
sistema internacional e, de modo paradoxalmente complementar e
contraditório, da transnacionalidade, dado que é essa a condição atual da
espacialidade. Esses processos, porém, não se interpõem como obstáculos às
espacialidades originais e, por isso, a visão é muitas vezes turva sobre a
geografia que permanece. Ela é mescla, é acumulação de tempos desiguais
(SANTOS, 1982).

SAIBA MAIS - ONU – 1945

A Organização das Nações Unidas tem como objetivos principais salvaguardar a paz
mundial, proteger os direitos humanos, fomentar direitos iguais para todos os povos e
melhorar os padrões de vida no mundo. Há dois níveis básicos de decisões dentro da
ONU: a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança. A primeira conta com a
participação de todos os membros; uma decisão é tomada com o aval da maioria de
pelo menos dois terços. O segundo é constituído por quinze membros; desses, cinco
possuem atuação ininterrupta e dez com participação rotativa. Os membros
permanentes detêm poder de veto; são eles: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido,
França e China. Com a fundação da ONU, foram criados, conjuntamente, organismos
internacionais especializados. Dentre os principais estão: FMI (Fundo Monetário
Internacional), Bird (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento), GATT
(Acordo Geral de Tarifas e Comércio), OIT (Organização Internacional do Trabalho), FAO
(Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e Unesco (Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

Portanto, as transformações ocorridas durante o século XX foram


marcantes na dinamização do espaço mundial; novos países surgiram, novas
tendências econômicas foram postas em prática e, assim, o mundo se mantém
em constante transformação, econômica, política e cultural.
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