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Trabalho Final

História das Relações Internacionais III

Prof. Henrique

Aline Mazzero, RA: 202010396

2º ano

Campinas, 17 de maio de 2023


O dramático colapso do regime soviético e a nova ordem do Sistema Internacional no
mundo contemporâneo.

Objetivo do trabalho: relacionar a queda do muro de Berlim ao colapso do bloco socialista


no período final da guerra fria e falar sobre a mudança de estrutura no sistema internacional.

Com o término da Segunda Guerra Mundial, que se desenrolou mais precisamente na


metade do século XX, a organização do Sistema Internacional dispôs em seu meio, uma
grande mudança de paradigmas entre o mundo ocidental (representados pelos Estados
Unidos) e oriental (representados pela União Soviética), destacando-se de forma ampla a
sólida divisão que se formou entre esses dois distintos partidos. Ademais, as controvérsias
que permeiam sobre a discussão presentes neste artigo, do porquê da experiência de
construção de um sistema alternativo ter decaído depois de décadas de funcionamento, —
que, por sua vez, foram perdendo espaço para o gigante sistema capitalista que tomava cada
vez mais espaço no mundo — são pautas que até hoje intrigam e causam grande reflexão
entre estudiosos. E nesse caso, a questão vigente nesta conjuntura, não se refere aos países do
leste europeu, onde a implantação do sistema comunista se deu de forma impositiva, como
resultado da Segunda Guerra Mundial, mas trata-se aqui da URSS, onde sua implantação se
deu como resultado da grande revolução de outubro, e que por esse motivo, há que se fazer
considerações e reflexões sobre o tema, sem que elas sejam reduzidas de maneira simplista
aos embates da Guerra Fria. Substancialmente, o colapso do socialismo real precisa ser
entendido em sua complexidade, envolvendo fatores relacionados com sua configuração e seu
modo de funcionamento, mas também com fatores externos, relacionados com a oposição à
sua existência e à sua influência sobre o resto da humanidade.

Portanto, cabe ao presente artigo, expor no primeiro momento o entrelaçar e também


a delimitação do impacto histórico que a URSS exerceu, mesmo de forma breve, no século
XX conforme apresentado nas obras de Hobsbawm (1995). Previamente, as reflexões
iniciam-se com a formação que assumiu o sistema socialista, após a Revolução de Outubro, e
as condições que levaram a ela. Em outros termos, cabe refletir sobre como se conjugam
esses fatores internos e externos para que se possa caracterizar o sistema e assegurar-lhe a
trajetória de êxitos e fracassos em sua evolução e em seu desaparecimento. Não obstante, faz-
se necessário entender as controvérsias que cercaram o funcionamento da URSS ao longo de
toda a sua existência, em que inclusive observa-se uma certa subestimação da ordem histórica
que condicionaram a sua formação e funcionamento. Sendo assim, para instaurar essa
argumentação, iniciá-lo-ei no tema que permeia a Revolução de Outubro que ocorreu num
período não só marcado por agitações operárias em todo o mundo e na própria Rússia, como
ainda pela guerra mundial em que se envolveu a Rússia czarista. Esse acontecimento, por sua
vez, permitiu aos líderes revolucionários russos considerar a sua revolução como parte e
primeiro elo da revolução mundial, mesmo que ainda assim a Rússia não fizesse parte da
constelação dos países desenvolvidos, nos quais se daria a revolução — ideias que partem do
princípio marxista — e ao mesmo tempo, levarem em conta os problemas trazidos pela
guerra, o descontentamento com a falta de suprimentos e alimentos às tropas, formadas assim
por grandes contingentes de camponeses, estes, por sua vez, sedentos por terra.

Contudo, bem como se entende, a revolução esperada no resto do mundo não ocorreu,
e a construção do socialismo internacionalmente cedeu lugar à uma problemática construção
— sendo este o principal alvo da guerra do mundo capitalista — que se instaura em um único
país, emergindo assim o pensamento da batalha contra a ameaça socialista.
Concomitantemente, no verão de 1961, quando a guerra fria adentrava seus dias mais
quentes, Berlim amanhecia dividida. Neste período, o arame farpado podia ser visto por
qualquer berlinense que tentasse cruzar a fronteira entre a República Democrática Alemã e a
República Federal da Alemanha, que agora eram separadas não só por suas relações políticas
e diplomáticas, mas também sociais. A cidade se encontrava dividida por um muro, assim
como o restante do mundo. A divisão física denominada como “Muro de Berlim”, vistas aos
olhos ocidentais como “Muro da Vergonha”, marcou tempos de divergência no âmbito
econômico-social, em que duas grandes potências lutavam por sua hegemonia perante o
restante do mundo. Partindo desse raciocínio, a construção do Muro nada mais foi que uma
representação da ideia de “conflito ideológico", onde havia ausência de confrontos bélicos
primeiro-mundistas, uma vez que a concepção do muro teve o intuito de obstruir a migração
do lado Oriental (socialista) — marcada por uma grande insatisfação econômica — para o
lado Ocidental (capitalista) — tentando os orientais com seus lindos progressos econômicos.
Construído nos tempos de apogeu e triunfo da União Soviética, o Muro de Berlim fez parte
do cenário mundial e da Guerra Fria por quase três décadas, separando dois setores
totalmente antagônicos. Sob essa análise, fica incontestável o motivo crucial que levou à
queda da grande estratégia soviética, que por sua vez evidenciava o futuro colapso que viria
assombrar os dias da URSS, dado que as insatisfações sociais do oriente juntamente das
manifestações, protestos e das diversas tentativas de fuga somado com uma crise econômica
trazia cada vez mais insatisfações no oriente.
Em seguimento, ao percorrer a cronologia histórica do contexto da Guerra Fria,
percebe-se que tanto EUA quanto URSS utilizava-se de uma retórica apocalíptica da guerra,
para expandir os interesses mais prementes de seus governantes. Para isso, alguns autores
foram intrínsecos para evidenciar um paradigma intersistêmico, em que há a questão das
diferenças entre as duas formações econômico-sociais, Halliday é o que apresenta de forma
objetiva a questão da Guerra Fria neste quesito. Mais adiante, acima deste então novo conflito
ideológico que, como citado anteriormente, será conhecido por sua divisão político-
econômica, há quem entenda que seu início foi marcado no pós-Primeira Guerra Mundial, em
1922, com a Fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que já se mostrava
como o maior bloco de ameaça aos EUA desde a Guerra Civil Russa, iniciada em 1918, com
um bloqueio econômico-diplomático que os Estados Unidos sofreram, mais conhecido como
Cordon Sanitaire. Há também, em contrapartida, quem considere que a Guerra Fria teve seu
início no período pós-Segunda Guerra Mundial, mais precisamente após os atentados
nucleares a Hiroshima e Nagasaki — acontecimento este que teve como finalidade
demonstrar o poder dos EUA sobre a URSS, para limitar a divisão territorial estabelecidas no
acordo de Yalta. Conjuntamente, ambos os processos convêm para o desenrolar das tensões,
mas o estopim para que ocorresse a rivalidade aconteceu com quando os Estados Unidos
alcançaram sua verdadeira hegemonia ao final da Segunda Guerra. Após essa conquista dos
norte-americanos, percebe-se que de forma gradual o poder socialista começava a ficar cada
vez mais minado e sem forças para se sustentar.

A primeira situação que poderia culminar em um balanço no poder da URSS, adveio


na década de 50, quando Stalin enviou uma proposta de reunificação alemã a Adenáuer, que
foi imediatamente recusada. A condição era que houvesse eleições livres e uma única
Alemanha, retirando toda e qualquer aliança militar. Outra condição era que o Ocidente
renunciasse a antigos territórios da Prússia, todos esses acontecimentos, juntamente com a
Europa dividida por conta da nova moeda comercial que os EUA, juntamente com a França e
a Grã-Bretanha haviam implantado - conhecida como Marco Alemã - acabavam minando as
estratégias de Stalin para com o seu governo socialista. Em 1953, com a morte de Stalin, o
quadro do partido da URSS começou definitivamente a definhar, e entre uma série de bons
mares que Khrushchóv teve em seu mandato, logo tudo se transformaria em águas turbulentas
para os próximos líderes do partido. O início se dá em 1962, ponto este em que evidencia
uma intensa tensão entre as duas superpotências gerada a partir da Crise dos Mísseis em
Cuba, sucedida posteriormente na conhecida détente, onde os dois blocos econômicos
desfrutaram de um longo período de pacifismo, que permaneceu até quase o fim da Guerra.
No entanto, conforme os anos foram sobrevindo, as crises internas da URSS foram sendo
cada vez mais alarmantes. Após a crise do Vietnã, os soviéticos não poderiam ficar um passo
atrás no plano internacional e este foi, então, o grande deslize para a sua derrota. A corrupção
e a falta de suprimentos básicos para abastecimento da população e a descrença no socialismo
juntamente de uma crise econômica que se agrava profunda e aceleradamente deixavam o
colapso da União cada vez mais próximo. Em 1986, o desastre nuclear de Chernobyl deixou
ainda mais evidente a fraqueza socialista, mostrando, também, que os dias da União Soviética
estavam definitivamente contados. No mesmo ano, como uma forma desesperada por
reconstrução e ajustes no modo econômico-social com o intuito de restaurar os padrões de
sucesso obtidos no início do conflito, Gorbachev (sucessor de Brejnev) implantou medidas
conhecidas como Perestroika e Glasnost — uma jogada estratégica que diferia aos moldes dos
ideais socialistas.

Foi então que em 1989, as manifestações em Berlim acabaram ficando incontroláveis.


A revolta por parte de uma população extremamente insatisfeita com a situação que se
agregava cada vez mais era somada a um governo saturado pelas tentativas fracassadas de
repressão às mesmas, levando a um pensamento que por muitos ainda era inconcebível: “a
URSS estava prestes a desaparecer” (REIS FILHO, 2002, p.175). Por muito que estava sendo
passado, em 1989, as manifestações tomam outro patamar com milhares de alemães orientais
tentando migrar a qualquer custo para o Ocidente, e assim, no início de setembro, as
fronteiras da República Democrática Alemã com a Tchecoslováquia foram reabertas e a
migração rumo ao Ocidente foi desenfreada. O muro, então, desmorona. O maior símbolo da
Guerra Fria, a hipocrisia do século. Em uma nova forma de manifesto, no dia 10 de
novembro, os cidadãos de Berlim deram ao Muro seu merecido fim. Picaretas, machados,
barras de ferro e quaisquer outros meios de depredação foram utilizados para fazer o divisor
ir ao chão. Os dirigentes e estrategistas da URSS se viam em colapso com o seu maior plano
estrutural indo ao chão. Sentiam-se tão impotentes quanto os norte-americanos após a
construção. O ponto crucial da situação era que caso não houvesse uma medida para
apaziguar a fúria do povo oriental, hora ou outra a divisão acabaria. Os soviéticos
transformaram a sua medida imediata - construção do Muro - em seu próprio fim.

O então filósofo norte-americano, Fukuyama, faz uma análise que reflete a realidade
do Sistema Internacional após anos da queda do muro de Berlim. Com o início do século XXI
e do Terceiro Milênio, o mesmo afirma como “Fim da História”, sendo este o resultado de
transformações que culminam em uma globalização teleológica. A histórica queda do muro
de Berlim simbolizando o fim da divisão bipolar da ordem econômica vigente foi comparada
ao fim do absolutismo, ocorrido dois séculos antes e fruto da queda da Bastilha. No entanto,
foi o choque das civilizações, de Huntington, que marcaram a década seguinte, pós-guerra
fria. Essa perspectiva pode ser bem exemplificada com os inúmeros ataques terroristas
ocorridos, assim como pelo surgimento de lideranças políticas que representavam uma
postura não democrática e a crise financeira, o aumento do desemprego e da recessão
internacional. Tais fatos não foram condizentes com as perspectivas existentes na década
anterior ante o desenvolvimento da globalização. As medidas pós-desarmamento
estabelecidas entre o governo de Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev em 1987 resultaram no
fim da guerra fria e na maior aproximação das superpotências. Por conseguinte, em 1989
cessaram-se todas as economias socialistas existentes nos países do leste europeu que
pertenciam à URSS, e dois anos depois, extinguiu-se a própria União Soviética com o
desmantelamento de seus estados.

Por fim, as considerações que pode-se notar no novo Sistema Internacional é uma alta
ascensão do capitalismo em todo o mundo, culminando por um bom tempo na hegemonia
norte-americana e em sua grande influência. O que se pode concluir, paralelamente às crises e
conflitos, é que as profundas transformações na economia e tecnologia, de âmbito sócio
demográfico, continuarão ocorrendo e poderão apontar para direções surpreendentes. Desta
forma, molda-se um novo mundo, que sem dúvidas apresenta um novo indício de estabilidade
conforme o decorrer dos acontecimentos históricos.
Bibliografia:

Pomeranz, Lenina. A Queda Do Muro de Berlim. Reflexões Vinte Anos Depois.

file:///C:/Users/aline/OneDrive/Documentos/DP%C2%B4S/Hist%C3%B3ria%20das

%20Rela%C3%A7%C3%B5es%20Internacionais%20III/13781-Texto%20do

%20artigo-16757-1-10-20120517.pdf.

Domingos, Charles, et al. “V. 11 N. 3 (2020): Edição 31 - Temporalidades, Belo

Horizonte, Vol. 11, N.3 (Set./Dez. 2019) | Temporalidades.” Periodicos.ufmg.br, 6

Feb. 2019, periodicos.ufmg.br/index.php/temporalidades/issue/view/839/114.

Accessed 19 May 2023.1

Universidade do Sul de Santa Catarina Tadeu Bernardes Marques Filho Ordem do

Sistema Internacional vinte anos após a queda do muro de Berlim. [s.l: s.n.].

Disponível:<https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/

10684/1/105063_Tadeu.pdf>. Acesso em: 21 maio. 2023.

1 (Domingos et al.)

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