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Norte-Sul
O fim da URSS
Nesta altura, a dinâmica política desencadeada pela perestroika tornara-se já
incontrolável, conduzindo, também, ao fim da própria URSS. Mosaico de povos, culturas
e religiões que só uma mão de ferro tinha conseguido manter unidos, o extenso território
das Repúblicas Soviéticas desmembra-se, sacudido por uma explosão de reivindicações
nacionalistas e confrontos étnicos.
O processo começa nas Repúblicas Bálticas, anexadas por Estaline durante a Segunda
Guerra Mundial. Em 1988, a Estónia assume-se como Estado soberano no interior da
URSS, com direito de emitir passaportes próprios e a vetar as leis aprovadas no
Parlamento soviético. Em 1990, a Lituânia vai mais longe e afirma o seu direito de deixar
a União. O mesmo acontece com a Letónia.
Confrontado com estas dissidências, Gorbatchev, que nunca tivera em mente a destruição
da URSS ou do socialismo, tenta parar o processo pela força, intervindo militarmente nos
Estados Bálticos (início de 1991). Esta atuação retira o líder soviético da vanguarda
reformista e o apoio dos mais ousados passa para um ex-colaborador de Gorbatchev,
Boris Ieltsin. Eleito, como independente, presidente da República da Rússia em junho de
1991, Ieltsin reforça o seu prestígio em agosto ao encabeçar a resistência a um golpe de
Estado dos saudosistas do Partido, que pretendiam retomar o poder e parar as reformas
em curso (19 a 21 de agosto). Pouco depois, no rescaldo do golpe, o novo presidente
toma a medida extrema de proibir as atividades do partido comunista.
No outono de 1991, a maioria das repúblicas da União declara a sua independência. Em
21 de dezembro, nasce oficialmente a CEI (Comunidade dos Estados Independentes), à
qual aderem 12 das 15 repúblicas que integravam a União Soviética. Quatro dias depois,
ultrapassado pelos acontecimentos e vencido no propósito de manter unido o país,
Mikhail Gorbatchev abandona a presidência de uma URSS, que, efetivamente, já
desaparecera.
● Os setores de atividade
Marcadamente pós-industrial, a economia americana apresenta um claro predomínio do
setor terciário, que ocupa 75% da população ativa e é responsável por cerca de 80% do
PIB. Em conformidade, a América é, hoje, o maior exportador de serviços do mundo,
sobretudo na área dos seguros, transportes, restauração, cinema e música.
Este predomínio do terciário não significa, porém, a atrofia dos setores agrícola e
industrial, que ocupam um lugar cimeiro no conjunto das economias desenvolvidas.
Altamente mecanizadas, sabendo rentabilizar os avanços científicos, as unidades
agrícolas e pecuárias americanas têm uma elevadíssima produtividade. De tal forma que
as grandes empresas não desdenham o investimento na agropecuária, como é o caso da
Boeing, que também se dedica à criação de gado, e da Coca-Cola, proprietária de
vinhedos e pomares de citrinos. Assim, os Estados Unidos são os maiores exportadores
de produtos agrícolas do mundo, só superados pela União Europeia no seu conjunto.
Pelo seu dinamismo, a agricultura americana alimenta ainda um conjunto vasto de
indústrias, desde a produção de sementes e maquinaria agrícola até à embalagem,
comercialização e transformação dos seus produtos. Este verdadeiro complexo
agroindustrial que envolvia, no início do século XXI, mais de 20 milhões de
trabalhadores, tornou-se o centro de gigantes multinacionais.
Desde há muito na vanguarda da inovação, a indústria americana sofreu, no último
quartel do século passado, uma reconversão profunda. Os setores tradicionais, como a
siderurgia e o têxtil, entraram em declínio e, com eles, caiu também a importância da
zona nordeste, o Manufacturing Belt, até aí o coração da indústria americana.
Esta zona, que se mantém o centro financeiro da América (Nova Iorque, Chicago),
alberga ainda as sedes sociais das grandes empresas e algumas das mais prestigiadas
universidades americanas. No entanto, o declínio da velha indústria e a deslocalização de
alguns ramos para as regiões do Sul relegou-a para o segundo lugar da hierarquia
industrial, em favor do Sun Belt, uma extensa faixa sudoeste assim chamada em virtude
do seu clima agradável.
Em crescimento acelerado desde os anos 60, a região do Sun Belt beneficia de uma
situação geográfica privilegiada para os contactos com o Pacífico e a América Latina, e
do dinamismo das indústrias de alta tecnologia que aí se instalaram.
● O dinamismo científico-tecnológico
Numa época em que as grandes indústrias de base recuam perante as novas tecnologias, a
capacidade de inovar é determinante para o desenvolvimento e o prestígio de um país.
Liderando a corrida tecnológica, os Estados Unidos asseguram, na viragem do século
XXI, a sua supremacia económica e militar.
Tal como nos tempos da Guerra Fria, os Estados Unidos são, hoje, a nação que mais
gasta em investigação científica. Para além dos centros que dele diretamente dependem,
o Estado Federal tem um papel decisivo no fomento da pesquisa privada, quer através do
seu financiamento (em 50%), quer das gigantescas encomendas de sofisticado material
militar e paramilitar.
O avanço americano fica, também, a dever-se à criação precoce de parques tecnológicos -
os tecnopolos -, que associam universidades prestigiadas, centros de pesquisa e empresas,
que trabalham de forma articulada. Um dos mais famosos situa-se em Silicon Valley, na
Califórnia, e foi o berço da Internet.
A liderança americana na área científica atrai às suas universidades investigadores de
todo o mundo e espelha-se no elevado número de prémios Nobel que o país já recebeu
(270 nos campos da Medicina, Física e Química)..
● A hegemonia político-militar
No início dos anos 90, o fim da Guerra Fria trouxe ao mundo a esperança de uma época
nova, de paz e cooperação entre as nações. Dessa esperança se fez eco o presidente dos
Estados Unidos, George Bush (pai), ao defender a criação de uma nova ordem mundial
orientada pelos valores que, em 1845, tinham feito nascer a ONU.
É invocando esta nova ordem que as Nações Unidas aprovam uma operação militar
multinacional com o fim de repor a soberania do Kuwait, pequeno país petrolífero do
Golfo Pérsico, invadido, em agosto de 1990, pelo vizinho Iraque.
A libertação do Kuwait (conhecida por Guerra do Golfo) iniciou-se em janeiro de 1991 e
exibiu, perante o mundo que a seguiu “em direto” pela televisão, a superioridade militar
dos Estados Unidos. Este primeiro conflito pós-Guerra Fria inaugurou “oficialmente” a
época da hegemonia militar americana. O fim da URSS deixou os Estados Unidos sem
rival de vulto na cena político-militar e o poderio americano afirmou-se
inequivocamente.
Verdadeira hiperpotência, os Estados Unidos têm sido considerados os “polícias do
Mundo”, em virtude do papel preponderante e ativo que têm desempenhado na
geopolítica do mundo. Assim:
● multiplicaram a imposição de sanções económicas como recurso para punir os
“infratores”, quer se trate de violação dos direitos humanos, repressão política,
suporte de organizações terroristas quer de agressões militares. Em 1998, 75 países
do mundo sofriam ou estavam ameaçados por este tipo de sanções;
● reforçaram o papel da OTAN, que, com o fim do comunismo na Rússia e a
dissolução do Pacto de Varsóvia, teria, à partida, perdido a sua razão de existir.
Contrariando a sua vocação defensiva, a OTAN atribuiu a si própria, desde 1991, a
função de velar pela segurança da Europa, recorrendo, sempre que necessário, à
intervenção militar armada. No fim do século, a organização alargou-se, com a
entrada de antigos países do Pacto de Varsóvia;
● assumiram um papel militar ativo, encabeçando numerosas intervenções armadas
pelos motivos mais díspares, desde as causas puramente humanitárias, como foi o
caso da operação “Devolver a Esperança”, levada a cabo na Somália, entre 1992 e
1994, até ao combate ao terrorismo, que motivou a intervenção no Afeganistão, em
2001, ou à destituição de regimes repressivos que, alegadamente, constituem uma
ameaça à paz mundial.
Este último motivo serviu de suporte à polémica invasão do Iraque, que, em 2003,
derrubou o regime de Saddam Hussein. Com uma ofensiva militar rápida e bem
sucedida, esta intervenção abriu, no entanto, um foco de grande instabilidade e violência.
Confrontada com a inconsistência das razões invocadas para o desencadear da guerra,
com o crescente radicalismo das fações locais e com a manifesta incapacidade em
cumprir o objetivo de consolidar, no Iraque, um governo democrático, a administração
Bush foi perdendo prestígio no país e no Mundo.
Em dezembro de 2008, a eleição do presidente Barack Obama parece ter aberto uma
nova etapa da História do país. Embora honrando os compromissos anteriormente
assumidos, Obama envidou esforços para reduzir a presença militar americana no
estrangeiro, preparando a retirada do Iraque e do Afeganistão, que se concluiu em 2011 e
2013, respetivamente. A Casa Branca iniciou também uma política de redução das Forças
Armadas que, segundo alguns analistas, poderá conduzir ao declínio da hegemonia
militar americana.
A União Europeia
Nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, no âmbito do Plano
Marshall, nasceu a primeira aliança económica europeia - a OECE. Seguiram-se outras
formas de união económica entre as quais a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço -
CECA, constituída pela França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, com
o objetivo de organizarem em comum a gestão dos recursos de carvão e ferro, mas
também de contribuir para a elevação do nível de vida dos habitantes dos
Estados-Membros.
A 25 de maio de 1957, o sucesso económico da CECA ao lado da fragilidade revelada
pela Europa Ocidental em questões de política internacional motivaram a celebração do
Tratado de Roma, com o objetivo de alargar e aprofundar o mercado comum, pela união
aduaneira dos Estados-membros.
Nos termos deste tratado, era também criada mais uma comunidade de interesses, a
EURATOM - Comunidade da Energia Atómica Europeia, e ficava instituída a
Comunidade Económica Europeia.
Dando prioridade à integração aos países com elevada taxa de emprego nos setores de
serviços e indústrias e mais reduzida na agricultura, a Europa dos Seis acabou por se
abrir à integração de novos países. Em 1973, aderem o Reino Unido, a Irlanda e a
Dinamarca e a Europa económica passa a ser conhecida como Europa dos Nove.
O Tratado de Roma previa que qualquer Estado Europeu poderia requerer a sua adesão à
Comunidade Económica Europeia, bastando-lhe, para isso, cumprir determinados
critérios de adesão, que incluíam um sólido equilíbrio financeiro, um considerável
desenvolvimento económico e social e, condição prioritária, o reconhecimento dos
direitos humanos e a consolidação da democracia pluralista.
Por conseguinte, é só após o triunfo da democracia, meados da década de 70, que os
países da Europa do Sul (Portugal, Espanha e Grécia) passam a reunir a condição
fundamental para requererem a respetiva adesão. A Grécia vê a sua adesão reconhecida
em 1981, e, em 1986, são a Espanha e Portugal que passam a integrar a agora Europa dos
Doze.
➔ Os acordos de Schengen
Schengen é o nome de uma cidade luxemburguesa onde os governos da França, da
Alemanha, da Bélgica, do Luxemburgo e da Holanda decidiram, em junho de 1985, criar,
entre si, um espaço sem restrições à circulação de pessoas. Para o efeito, era proposta a
criação de uma fronteira externa única e a abolição de todos os controlos fronteiriços
internos (terrestres, marítimos, aéreos) e o estabelecimento de medidas para a
salvaguarda da segurança dos cidadãos.
Esta cooperação intergovernamental evoluiu e confirmou-se à medida que outros países
da Comunidade Europeia iam aderindo aos princípios acordados. Deste modo, em 1997,
aquando a assinatura do Tratado de Amesterdão, o espaço Schengen já abrangia todos os
países da União Europeia, com exceção da Irlanda e do Reino Unido, mais a Islândia e a
Noruega, que não integravam a União.
Por isso, segundo este tratado, as decisões adotadas desde 1985 pelos membros do
espaço Schengen, bem como pelas estruturas de trabalho criadas, passariam a constituir
mais um fundamento institucional da União Europeia, com efeitos a 1 de maio de 1999.
Concretamente, ficavam abrangidos pelos acordos:
● as condições de entrada dos estrangeiros no espaço Schengen e de circulação pelas
fronteiras internas dos Estados-membros;
● a harmonização de políticas relativas à concessão de vistos de entrada e de asilo;
● o reforço da cooperação entre os sistemas judiciários e policiais dos países
membros, visando o combate ao terrorismo e ao crime organizado.
➔ O Tratado de Nice
Assinado em dezembro de 2000, para entrar em vigor a fevereiro de 2003, foi a 4ªrevisão
operada no ordenamento jurídico comunitário desde o Ato Único Europeu de 1986.
Entre as muitas novidades relativas à organização e funcionamento das instituições
comunitárias, releva do Conselho Europeu reunido em Nice o Anexo I do tratado final
que acolhe o Protocolo sobre a Ampliação da União Europeia. Esta ampliação
concretizar-se-à com o alargamento da União Europeia aos países do Leste da Europa, já
tentado na cimeira de Amesterdão.
Por conseguinte, após a adesão da Finlândia, Áustria e Suécia, em 1995, formou-se a
Europa dos 25, com a integração dos países da antiga “cortina de ferro”: República
Checa, Eslováquia, Eslovénia, Polónia, Hungria, Estónia, Letónia, Lituânia e dois
pequenos países “ocidentais”, Malta e Chipre, a 1 de maio de 2004, uma das datas mais
gloriosas da União Europeia.
A 1 de janeiro de 2007, o processo de consolidação de uma comunidade europeia tem
novos desenvolvimentos, com a adesão de mais dois países do Leste - a Roménia e a
Bulgária. É a Europa dos 27. E a 1 de julho de 2013, a Croácia tornou-se o 28ª país da
União Europeia.
➔ A União Europeia e as dificuldades da construção de uma Europa política
Apesar da morosidade do processo e de muitos impasses que tiveram de ser superados, a
consolidação do “1º pilar” da União Europeia passou a ser uma realidade incontestável,
sobretudo a partir de 1 de janeiro de 2002, com a entrada em circulação da nova moeda.
Todavia, a consolidação dos outros dois pilares, correspondentes à união política e
diplomática, tem passado por dificuldades de muito difícil resolução, prevendo-se, ainda,
como muito longo e difícil o caminho a percorrer.
➔ Da concorrência à cooperação
Apesar do seu enorme êxito, os Novos Países Industrializados (os NPI) da Ásia
confrontavam-se com dois problemas graves: o primeiro era a excessiva dependência
face às economias estrangeiras, quer em termos financeiros e nergéticos, quer, sobretudo,
na esfera comercial: dois terços das exportações dirigiam-se aos países ocidentais, o que
significava que qualquer contração destes mercados se refletiria no seu crescimento; o
segundo era a intensa rivalidade que os separava, já que concorriam com os mesmos
produtos, nas mesmas zonas.
Quando a economia ocidental abrandou, nos anos 70, os países asiáticos foram induzidos
a procurar mercados e fornecedores mais próximos da sua área geográfica. Voltaram-se,
então, para os membros da ASEAN, organização económica que aglutinava alguns países
do Sudeste Asiático.
Nascida em 1967, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) agrupava a
Tailândia, a Malásia, as Filipinas e a Indonésia, países cujas economias se encaixavam
perfeitamente na do Japão e nas das quatro novas potências: eram ricos em
matérias.primas, nos recursos energéticos e nos bens alimentares de que os cinco
necessitavam.
Agarrando a oportunidade, as duas partes deram início a uma cooperação regional
estreita: o Japão, a Coreia do Sul e Taiwan iniciaram a exportação de bens manufaturados
e tecnologia para os países do Sudeste e começaram a investir fortemente na exploração
das suas reservas petrolíferas. Obtiveram, em troca, os produtos primários que
pretendiam.
Este intercâmbio permitiu a emergência de uma segunda geração de países
industrializados na Ásia: a Tailândia, a Malásia e a Indonésia, sobretudo, desenvolveram
a sua produção, apoiada numa mão de obra ainda mais barata, em virtude do seu maior
atraso.
Na última década, a ASEAN tem demonstrado um dinamismo notável, mostrando-se
capaz de enfrentar os desafios económicos do século XXI. Os Estados do “arco do
Pacífico” tornaram-se, deste modo, um polo económico articulado, com elevado volume
de trocas inter-regionais. A Austrália, a Nova Zelândia, os Estados Unidos e o Canadá
integraram-se nesta zona económica através da APEC, que aglutinava, em 2014, 21
países.
O crescimento asiático alterou a balança da economia mundial, até aí concentrada na
tríade EUA, Europa, Japão. Teve, no entanto, custos ecológicos e sociais muito altos: a
Ásia tornou-se a região mais poluída do mundo e a sua mão de obra permaneceu,
maioritariamente, pobre e explorada. Numa perspetiva ocidental, faltam, também, as
liberdades cívicas que boa parte dos regimes, de índole autoritária, não foi ainda capaz de
instituir.
➔ A questão de Timor
Quando, em 1949, a Holanda concedeu a independência à Indonésia, a parte leste da ilha
de Timor não se integrou no novo país. Era, desde o século XVI, um território
administrado pelos portugueses e, para os portugueses, ainda não tinha chegado o tempo
da descolonização.
Em 1974, a Revolução dos Cravos agitou também Timor-Leste, que se preparou para
encarar o futuro sem Portugal. Na ilha, onde não tinham ainda surgido movimentos de
libertação, nasceram três partidos políticos: a UDT (União Democrática Timorense), que
defendia a união com Portugal num quadro de autonomia; a APODETI (Associação
Popular Democrática Timorense), favorável à integração do território na Indonésia; e a
FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente), com um programa
independentista, ligado aos ideais de esquerda.
O ano de 1975 foi marcado pelo confronto entre os três partidos, cuja violência Portugal
não conseguiu conter. Demasiado absorvido pela descolonização dos grandes territórios
africanos, o nosso país acabou por se retirar de Timor sem reconhecer, formalmente, a
legitimidade de um novo governo.
Em 7 de dezembro desse mesmo ano, reagindo contra a tomada do poder pela
FRETILIN, o líder indonésio Suharto ordena, em nome da sua cruzada anticomunista, a
invasão do território.
Face ao sucedido, Portugal corta, de imediato, relações diplomáticas com Jacarta e apela
às Nações Unidas, que condenam inequivocamente a ocupação e continuam a considerar
Timor-Leste um território não autónomo, sob administração portuguesa.
Os factos, porém, contrariavam estas decisões. Os Indonésios, que impuseram o seu
poder através do terror, anexaram formalmente Timor-Leste, que, em 1976, se tornou a
sua 27º província.
Apesar de consumada, a anexação de Timor permaneceu ilegítima à luz do direito
internacional e do entendimento da maioria dos seus habitantes. Refugiados nas
montanhas, os guerrilheiros da FRETILIN encabeçaram a resistência contra o invasor,
que se viu obrigado a aumentar sucessivamente o contingente militar estacionado no
território.
Quis o acaso que uma das muitas ações de repessão sobre os timorenses fosse filmada
por operadores de televisão estrangeiros que se encontravam em Díli: a 12 de novembro
de 1991, as tropas ocupantes abrem fogo sobre uma multidão desarmada que
homenageava, no cemitério de Santa Cruz, um independentista assassinado. O massacre
fez 271 mortos e várias centenas de feridos.
As imagens correm o mundo e despertam-no para a questão timorense, até aí remetida
para os debates políticos. No ano seguinte, a prisão do líder da Resistência, Xanana
Gusmão, é amplamente noticiada. Com a ajuda dos media, Timor mobiliza a opinião
pública mundial e, em 1996, a causa ganha ainda mais força com a atribuição do Prémio
Nobel da Paz ao bispo de Díli, D.Ximenes Belo, e ao representante da Resistência
timorense no exterior, Ramos Horta.
No fim da década, pressionada pelo mundo em geral e pelos seus parceiros da ASEAN,
em particular, a Indonésia aceita que o povo timorense decida o seu destino através de
um referendo, que fica marcado para o dia 30 de agosto de 199. Entretanto,
encapotadamente, dá o seu apoio à organização de milícias armadas que iniciam ações de
violência e de intimidação no território.
O referendo, supervisionado por uma missão das Nações Unidas, a UNAMET, deu uma
inequívoca vitória à independência, mas desencadeou uma escalada de terror por parte
das milícias pró-indonésias. A UNAMET foi obrigada a evacuar os seus elementos e o
povo timorense viu-se à mercê da destruição, torturas, assassinatos e deportações
efetuadas pelas milícias, com a cumplicidade das autoridades indonésias.
Uma onda de indignação e de solidariedade percorreu o mundo e conduziu ao envio de
uma força de paz multinacional, patrocinada pelas Nações Unidas. Sob a proteção dessa
força, martirizado e destruído, o território encaminhou-se, finalmente, para a
independência. A 20 de maio de 2002, nasce oficialmente a República Democrática de
Timor-Leste. Pouco depois, Timor torna-se o 191º membro das Nações Unidas.
A independência não trouxe, porém, a paz e a prosperidade desejadas. Em 2006, uma
gravíssima crise político-militar colocou Timor novamente no centro das atenções do
mundo, que tantas esperanças pusera no futuro desse pequeno país. Perante uma onda de
violência aparentemente incontrolável, a ONU destacou uma nova missão de paz no
território cujo mandato inicial, de 6 meses, se prolongou até ao fim de 2012. Só nessa
altura, Timor foi considerado capaz de prosseguir, de uma forma autónoma, a sua
caminhada rumo à estabilidade e ao progresso.