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Luanda, 2023
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Luanda, 2023
SUMÁRIO
Dedicatória
Agradecimentos
Lista de Siglas
Resumo
Abstract
Introdução………………………………………………………………….……..…9
Conclusão…………………………………………………………………...….............28
Referências Bibliográficas……………………………………………………………..30
DEDICATÓRIA
Ao meu irmão, Destino João Gomes e sua esposa, Verónica Panzo, por me terem acolhido,
instruído e educado.
Aos meus amigos de infância do Bairro Caóio que sempre despertaram aspirações em mim
no mundo da ciência.
Ao meu amigo, Elias Calui, que me indicou uma fonte de receita para sobrevivência no
mundo académico.
Ao estimado professor, Simão Lungyeki Makiadi, por ter aceitado orientar este trabalho,
pelos esclarecimentos sobre a temática.
A inigualável e compreensível esposa, Antónia Diniz, pelo incentivo e força que me foi
concedido nos momentos difíceis.
A política colonial gaullista adoptou, entre 1944 e 1958, várias reformas que provocaram
rupturas nas sociedades coloniais, introduzindo novos mecanismos legislativos e jurídicos
que atropelaram a tradição colonial francesa estabelecida, e obrigaram os nacionalistas das
colónias francesas a obterem as independências de forma oposta às políticas gaullista. A
independência da Guiné Francesa é, um dos exemplos da negação das reformas do general
de Gaulle.
The politic colonial Gaullist adopted between 1944-1958 sevels reforms that provoked
kneecap on society colonialism. The introduse news mecanisms legislative and legal that
knock down in other Sid, on mission civilization of France granted on scope of colonial
project, other Sidwere reforced the aspirations emancipate and reachment of independence of
colonizated populations of Africa in general and of Ocidental Africa (AOF) in particular
object of the work, with specific vienw in the Guiné-Conacri.
O enfoque desta pesquisa privilegia entender de que modo a intervenção política de Charles de
Gaulle aniquilou as iniciativas nacionalistas africanas e retardou todo o processo de
emancipação e independência das colónias Francesas, integradas após a guerra na União
Francesa e posteriormente na comunidade Francesa. O trabalho tem como finalidade analisar
estas movimentações apontadas e estabelecer a sua influência no espaço colonial da África
Ocidental Francesa. Para o entendimento relativo ao tema, destacam-se, na literatura os
trabalhos de Levron (1976), M’bokolo (2007), Pacaut e Bouju (1979). Cornevin (1979),
UNESCO (2010), Ki-Zerbo (2002), Keita (2021), Amaral (2000), Yagnye (2015), Makiadi
(2022), Grimberg (1969), Carvalho (1994), Ferro (2002), Poerner (1966), Visentini (2007),
Yazbek (1983), Pellegrini (2012), Sónia (2014).
O presente trabalho almeja avaliar a hipótese de que a política colonial gaullista condicionou as
iniciativas independentistas das colónias francesas e procurou guiar e controlar todo o processo
de emancipação política até a conquista das independências. Espera-se que este trabalho possa
contribuir na discussão histórica que as reformas de Charles de Gaulle introduziram na relação
França-África.
Para tecer as nossas considerações sobre esta problemática, o nosso trabalho está
estruturado em dois capítulos. O primeiro abordará à personalidade de Charles de Gaulle e
a sua política colonial na AOF, enquanto o segundo terá por foco o caso específico da
Guiné-Conacri e, consequentemente, da sua independência em 1958.
CAPÍTULO I. A Política Colonial De Charles de Gaulle na África Ocidental
Francesa (AOF)
Do seu nome completo Charles André Joseph Marie de Gaulle, ele nasceu na região
industrial de Lille (Norte da França), ou seja, no chamado Flandres Francês, ao 22 de
Novembro de 1890. Foi o terceiro dos cinco filhos de Henri de Gaulle, um professor de
História e Literatura em uma Faculdade Jesuíta que, mais tarde, criou a sua própria escola e
Jeanne Maillot, empresária do ramo têxtil. Assim, ele cresceu em uma família de fiéis
católicos, nacionalistas e tradicionais, mas também bastante progressistas.
O seu pai, Henri, descendia de uma longa linhagem de aristocrata da Normandia e Borgonha,
enquanto a sua mãe, Jeanne, pertencia a uma família de ricos empresários de Lille. A origem
social de De Gaulle é de gente folgada. Na idade adulta, casou-se com Yvone de Gaulle
(1921-1970) com quem teve um filho, Philippe, e duas filhas, Anne e Elisabeth de Gaulle.
Em 1969, renunciou ao seu cargo presidencial após de perder um referendo no qual propôs
mais descentralização. Ele morreu em 9 de Novembro de 1970 na sua residência em
Colombey-Les-Deux-Églises, deixando as suas memórias presidenciais inacabadas.
A sua carreira militar começou quando, aos 20 anos de idade, ingressou na famosa Academia
Militar de Saint-Cyr. Serviu em combate na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) durante a
qual foi ferido três vezes e feito prisioneiro em Verdum em 1916. Após esta guerra,
leccionou, em 1921, História Militar em Saint-Cyr. Em 1924 formou-se na Escola de Guerra,
tendo no ano seguinte (1925) sido convidado a integrar o gabinete do General Philippe
Pétain.
Esta última obra foi publicada na véspera da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na qual
combateu como coronel desde 1937 e comandou a Quarta Divisão Blindada. Em 17 de Maio
de 1940, parou o avanço alemão em Montcornet e Abbeville em 28 de Maio do mesmo ano.
Neste mesmo mês e ano, foi nomeado brigadeiro-general e subsecretário de guerra pelo
Primeiro-Ministro Paul Reynaud.
Assim, De Gaulle entrou também na política. Os seus primeiros passos nessa arena política
ocorreram em Agosto de 1944 quando regressou para Paris libertado. Em 13 de Novembro,
foi nomeado presidente do governo provisório pela Assembleia Constituinte e restabeleceu a
autoridade do poder central. Os julgamentos históricos de Marechal Philippe Pétain e Pierre
Laval, acusados de colaboradores dos Alemães, tiveram então lugar.
Como o político nunca abandona a política, De Gaulle foi de novo o homem da República
Francesa (RF). Em Maio de 1958, quando os militares franceses estacionados na Argélia se
rebelaram contra o Governo de Paris e a Guerra Civil ameaçou eclodir, De Gaulle foi
indigitado como único capaz de salvar a França.
De acordo com o programa do CNR, ele promoveu uma revisão drástica da Constituição. A
nova carta foi aprovada em Setembro de 1958, enquanto ele foi eleito em 21 de Dezembro
de 1958, Presidente da 5ª República Francesa (RF).
No plano da política colonial francesa, houve também mudanças desde a lei-quadro chamada
Defferre (do nome do seu instigador Gaston Defferre, ministro socialista), bem como à luz
1
Marcel, PACAUT e Paul, BOUJO, O Mundo Contemporâneo 1945-1975. Lisboa, Editora Estampa 1979, p,
264.
da nova carta. A lei Defferre de 1956 previa já a emancipação tanto da AOF como da AEF e
Madagáscar. Sugeriu a instauração do sufrágio universal, a criação do colégio eleitoral e o
crescimento do poder legislativo em cada território colonial. Com De Gaulle, um passo
suplementar foi dado ao propor por referendo a criação da Comunidade Francesa (CF) em
1958. Neste quadro, as colónias que o desejariam, podiam optar pela autonomia interna,
devendo, contudo, deixar sob a tutela da França a política externa, economia e defesa. A CF
deveria substituir a União Francesa (UF), uma organização política que de 1946 a 1958,
regulou as relações da França com o seu império colonial. Na AOF, todos os territórios
colonizados pela França aceitaram, por referendo realizado em 25 de Setembro de 1958,
fazerem parte dessa Comunidade Francesa, com a excepção da Guiné-Conacri, objecto deste
estudo.
No entanto, todas essas mudanças foram motivadas pelas revoltas e guerras nacionalistas em
prol da independência nas colónias. O caso mais referenciado é a Revolução Argelina ou
Guerra da Argélia. Foi um movimento de libertação nacional da Argélia liderado pela Frente
de Libertação Nacional (FLN) contra o domínio francês que decorreu de 1954 a 1962, ano da
independência.
Iniciou-o em Janeiro de 1966. Dois anos depois, enfrentou, em Maio de 1968, a chamada
«crise de Maio» levada a cabo pelos estudantes e operários. Greves e manifestações
antigovernamentais abalaram o país e levaram De Gaulle a dissolver o Parlamento. Em
1969, ele perdeu o referendo sobre as reformas administrativas. Por isso, renunciou ao cargo,
sendo substituído pelo seu ex-primeiro-ministro Georges Pompidou.
O Gana ou Wagadu, tal como ensina o professor Boubakar Keita ― foi o primeiro deste
grupo de formações políticas originais e bem estruturados, banhadas pelo rio Senegal e Ní-
ger, que de acordo os três tipos de fontes que descrevem a sua origem e evolução 3, foi uma
civilização fundada pelo povo Soninquê entre os séculos IV – V. Com uma organização po-
lítica baseada numa monarquia e a existência de um poder militar a altura, os seus sobera-
nos utilizavam vários títulos: Fari, Tunka, Gana, Kaya-magam, eram os chefes políticos e
espirituais, na medida em que presidiam os rituais e sacrifícios dedicados à jiboia sagrada, o
´´Wagadu Bida protectora do Gana``. Nomeavam os altos funcionários e altas patentes do
exército e decidiam os assuntos da justiça, mas os seus poderes eram controlados pelo con-
selho dos anciãos onde estavam representados, os diversos grupos Soninkés4.
2
DIOP, Cheik Anta, A Unidade Cultural da África Negra.Luanda, EdiçõesMulemba e Edições Pedagogo, 2014.
P.61.
3
A historiografia do Gana dispõe de três grupos fundamentais de fontes sobre a sua constituição, evolução e
formação política: As Tradições Orais, os Autores Árabes e a Arqueologia.
4
KEITA, Boubakar, História da África Negra. Luanda, Texto Editores, 2009. P. 170.
fama no exterior, atiçou muito cedo a cobiça de soberanos estrangeiros que, segundo Makiadi Si-
mão:
Aparentemente, a riqueza do reino teria sido a base da sua destruição movida por povos inve-
josos, nomeadamente os Almorávidas que em 1076 invadiram o país, tomando a sua capital
(Kumbi Saleh). Reduzido ao único Wagadu original, o Estado-Nação ganense já não tinha o
tamanho nem a capacidade de resistir às investidas das potências que iam se erguer sobre as
suas ruínas. Foi sucessivamente vassalado pelo Império de Sosso e do Mali5.
Os beberes do deserto liderados por Abou Bakr, um dos principais chefes almorávidas foca-
dos em destruir o povo Soninquê e recuperar toda a sua riqueza acumulada não conseguiram
manter a unidade do reino que foi se desintegrando cada vez mais, ficando reduzido ao único
Wagadu original, vassalado pelo Império Sosso e do Mali.
Nos estudos de Boubakar Keita é, possível perceber que o soberano sosso, Sumaoro Kanté
tinha empreendido uma luta para se pôr fim ao avanço dos Almorávidas e do Islão, iniciativas
que visavam restaurar a união dos reinos mandengues, que estavam totalmente divididos. As
lutas do soberano sosso, resultaram no controlo do Gana em 1203 e causaram a fuga de todos
os soberanos herdeiros do reino dos Konaté, que se instalaram e fundaram a cidade de Kissi-
dugu na floresta da Guiné-Conacri, deixando as terras sem populações e actividades comerci-
ais desestabilizadas. Acrescenta o autor:
Foi nestas condições que começou a surgir, pouco a pouco uma certa consciência de
pertença a uma mesma comunidade explorada, ameaçada, e violentada pelo Sosso
que seria reforçada por um dos sobreviventes da família real Konaté ― Sundiata ― a
quem um conjunto de líderes mandengues tinha pedido para tomar a direcção de uma
coligação contra Sosso6
De acordo a esta fonte conseguesse averiguar que a luta contra o Sosso de Sumaoro Kanté
vencido na batalha de Krina, permitiu a emergência do Mali como formação política com
Sundiata Keita em 1233, como chefe dos reinos da região unidos em confederação.
Por outro lado, nos escritos do historiador Simão Makiadi salientasse que Tradicional e admi-
5
SIMÃO, Makiadi, Império do Gana. Apontamento das Aulas. Departamento de História, UAN-FCS, 2022.
6
Ibid.PP. 1886-1887
nistrativamente, este Estado-Nação pré-colonial estavam organizados em 30 clãs, dos quais 17
de homens livres, na sua maioria camponeses e pagavam, sem falta, tributos sobre as suas
colheitas. Cinco clãs marabus eram chefes religiosos e funcionários, enquanto cinco outros
eram artesãos e, enfim, quatro clãs de bardos (poetas). O poder estatal era mais centralizado
do que no período ganês. O país era dividido em três círculos (províncias), por sua vez dividi-
dos em cantões e estes em aldeias. Esta divisão territorial teria vindo de Sundiata que estabe-
leceu a capital em Niani, onde nasceu. Situava-se bem mais a Sul da antiga capital do Gana
para se proteger dos possíveis ataques dos inimigos, os famosos nómadas do deserto7.
Ibn Battuta (1304-1377), cronista marroquino, que percorreu o país em 1352, louvou as segu-
ranças que beneficiavam os comerciantes. De facto, o comércio, o de ouro em particular, foi a
base da prosperidade do Império. E foi, durante o período maliano, que, na bacia do Níger,
grandes cidades tais como Djenne (ou Djené ou, ainda, Jene), Tombuctu e Gao conheceram o
seu desenvolvimento, assim como as capitais do Império: Dieriba e Niani. Porém, ´´O Impé-
rio Manden entrou em declínio no século XV. No entanto manteve
sua atividade expansionista, sobretudo em direção ao sul, onde[…]
fundaram vários centros comerciais, sendo um dos mais importantes Begho, no
território bron ou akan, particularmente rico em ouro``8.
Foi nestas sucessivas lutas que os Estados Pré-colonial, declinavam-se dando origem a outras
formações políticas desestruturadas durante longos anos de resitência a penetração, instalação
e exploração dos territórios africanos.
7
SIMÃO, Makiadi, Império do Mali. Apontamento das Aulas. Departamento de História, UAN-FCS, 2022.
8
NIANI, Djibril. O Mali e a segunda expansão mandem. In: História Geral da África. IV. África do século XII ao
XVI. São Carlos: UNESCO Representação no Brasil, 2010. P.135. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000325.pdf Acessado em 9/12/2022.
Em 1893, através da força os franceses ocuparam Djene e Tombucto que constituiram centros
brilhantes da civilização africana. Acosta de Marfim em 1899 tornou-se colónia francesa,
assim como, Daomé no mesmo ano.
Nascia neste espaço a África Ocidental Francesa (AOF) em 16 de Junho de 1895 através da
união do Senegal, Sudão Francês (Mali), Guiné-Conacri, Côte d´Ivoire (Costa do Marfim),
Daomé (Benim), Alto Volta (Burkina Faso) e Níger, formado por agrupamento de colónias que
constituíam a referida AOF, com uma superfície de 4.700.000 k . Com sede em St. Louis
(1895) e mais tarde (1902) em Dakar (Senegal). O território possuía um governador geral que
respondia ao ministro das Colónias em França e que governava por decreto durante boa parte
da ocupação colonial. No final da Segunda Guerra Mundial e no quadro das indeminizações
impostas à Alemanha, o território do Togo e dos Camarões passaram a pertencer à França e
foram inclusos na referida AOF. As duas novas possessões eram geridos por Alto Comissário
da República. Ou seja, nestes territórios, a França submetia a sua administração à Sociedade
das Nações (SDN), através de um relatório anual.
Acrescenta o autor que, Segundo o crítico Mawuna Koutonin10, se as línguas inglesa, france-
sa e portuguesa forem proibidas em África, essa elite perderia tudo, inclusive a si própria. Se a
importação de bens de consumo (leite, café, sabão, etc.) forem da mesma maneira proibidas,
ela lutaria contra os promotores dessa interdição, já que ela prefere tudo o que não é local. Em
suma, esse grupo social não prefere falar as línguas africanas, não se veste como Africanos,
não come como Africanos e o seu modo de vida é muito mais europeu do que africano11.
Durante a Segunda Guerra Mundial a França começa a planear por iniciativa de Charles
Gaulle, um novo modelo de relacionamento com as suas colónias africanas. O marco desta
ruptura é a Conferência de Brazzaville que reuniu a França e os terrotórios ultramarinos do seu
império colonial. Foi organizada a 30 de janeiro de 1944 pelo Comité Français de Libertação
Nacional (CFLN) e presidida pelo Charles de Gaulle. Os referidos territórios coloniais foram
representados pelos seus governadores e administradores para debater sobre os principios de
uma nova polítitica africana da França.
9
MAKIADI, Simão. Assimilação. Apontamento das aulas. Departamento de História, UAN-FCS, 2022.
10
Ler a sua reflexão intitulada «Elites Africanas», retomada pelo historiador e professor Paulo Júnior na
plataforma-WhatsApp do DEI de História da FCS-UAN, em 4 de Janeiro de 2022.
11
Idem.
Foi assim tido como salvador da França desmembrada e da Nação em desmoronamento``12.
Os Africanos que constituíam a força necessária para a libertação e reconquista da
autonomia francesa foram novamente excluídos e sufocados com discursos discriminatórios:
´´na grande França não há povos a libertar nem discriminação a abolir...``. Afasta-se
qualquer possibilidade de constituição de governos autónomos nas colónias. Dentre as várias
recomendações saídas dessa conferência, destacam-se.
Foi nestas resoluções, que De Gaulle empreendia as primeiras mudanças políticas nas
colónias africanas, mecanismo de manter o poder imperial e reconstruir a metrópole
destruída pela devastação da guerra.
A queda massiva do prestígio das potências ocidentais, sobretudo da França, vencida pelos
Alemães, levou-o a adoptar este conjunto de princípios para salvaguardar e evitar o desastre
total do grande império. Igualmente, estabeleceu reformas jurídico-legais e administrativas
em todas as esferas mais importantes da vida dos nativos: ´´autorização desse reunir no seio
das associações socioprofissionais, de formar partidos políticos, inclusão dos nativos nos
conselhos (órgãos de administração colonial), abolição do trabalho forçado`14`.
Uma nova particularidade ocorrida no seio das colónias, foi a concessão da cidadania
francesa a maior parte dos nacionalistas, antes reservada somente aos habitantes das quatro
primeiras comunas colonizadas do Senegal (Dakar, Gorée, Rufisque, Saint-Louis) e
admissão de alguns africanos evoluídos na assembleia nacional de Paris em representação
dos seus territórios. No campo administrativo, houve novas remodelações dos territórios que,
12
Boubakar, KEITA, Apontamentos das aulas, Os Grandes Conjuntos Coloniais. Luanda, Departamento de
História, FCS, UAN, 2018.
13
Mariana, CORNEVIN, História da África Contemporânea da Segunda Guerra Mundial aos nossos dias.
Paris, Edições Sociais, 1999, pp, 52-53.
14
KEITA, Boubakar. As independências nas colónias da África Ocidental Francesa. Apontamento das aulas.
Epartamento de História, UAN-FCS, 2017.
passaram a constituir novas jurisdições administrativas: ´´a jurisdição administrativa do
Níger; a jurisdição administrativa do Côte d´Ivoire e Dahomey; a jurisdição administrativa
da Mauritânia; aJurisdição administrativa do Senegal, Sudão Francês, Alto Volta, Guiné-
Conacri e Dakar como a capital``15:
.
Todas estas reformas, protagonizadas inicialmente por De Gaulle, demonstram que s as
possessões francesas de África, haviam conquistado níveis satisfatórios de maturidade
política para a ascensão das independências, o que não ocorreu. As reformas gaullistas
procuraram dificulta e aniquilar as espectativas africanas da descolonização, apoiadas pela
ex-URSS e EUA que fortemente se opunha à colonização. Redefiniu-se novas medidas nas
relações metrópole-colónias, que aprofundaram divergências, conflitos no seio das
organizações políticas, aplicando o princípio de dividir para melhor governar.
15
Boubakar, KEITA, Apontamentos das Aulas: A Luta Pela Independência Nas Colónias Francesas. Luanda,
Departamento de História, FCS, UAN, 2018.
16
Mariana, CORNEVIN, História da África Contemporânea da Segunda Guerra Mundial aos nossos dias.
Paris, Edições Sociais, 1999, pp, 91-92.
17
Boubakar, KEITA, Apontamentos das Aulas: A Luta Pela Independência Nas Colónias Francesas, Luanda,
Departamento de História, FCS, UAN, 2018.
Desestruturada pela guerra, a República de De Gaulle renegou todo processo evolutivo dos
nativos, quer seja da autonomia interna, quer da independência. Os interesses gaullistas
paralisaram as relações iniciais previstas no projecto colonial. Os nacionalistas passaram a
ser mais vigiados, devidas as suas iniciativas independentistas. Invés da ascensão autónoma
e a independência, tal como no território vizinho do Gana, independente desde 1957,
reforçou-se as imposições, a interferência e a maior dependência das colónias à metrópole .
18
Elikia, M´BOKOLO, África Negra, História e Civilização do Século XIX aos Nossos Dias. Paris, Edições
Colibri, 2007.
CAPÍTULO II. O CASO ESPECÍFICO DA GUINÉ-CONACRI
Mapa 1: A Guiné-Conacri
O francês é utilizado como língua veicular e oficial do território. São também faladas outras
línguas, como Mandinga. A maior parte da população professa a religião islâmica (86,2%) e
uma minoria (9,7%) a religião cristã. A capital Conacri é a maior cidade. Outras cidades
mais importantes são:
Fruto destes investimentos, a Guiné, no período em estudo, constituía-se num pequeno polo
industrial, formado pelas micro e macro indústrias, que empregavam elevadíssima mão-de-
obra. Além da extração mineira, foram «criadas oficinas de mecânica, fábricas, garagens de
móveis…»19. O surgimento das zonas fabris se traduziu no alargamento das vias rodoviárias
que, de alguma forma, aceleraram a comunicação e a evolução das sociedades rurais.
19
Mariana, CORNEVIM, História da África Contemporânea, da Segunda Guerra Mundial aos Nossos
Dias. Paris, Edições Sociais, 1979, pp, 56-57.
A luta pela independência contra o colonialismo francês foi levada a cabo pela Associação
Sindical dos Trabalhadores da Guiné e o Partido Democrático da Guiné (PDG), liderado por
Sekou Touré. A luta de libertação foi reforçada com a vitória nas eleições territoriais de
1957, onde o PDG ganhou 56 das 60 cadeiras e terminou com o referendo de 1958, abrindo
o caminho para a independência do país. O que nos leva na visitação da sua História.
Entre os anos de 1881 a 1890 para salvaguardar a independência do território e o seu estilo de
vida, enfrentou as intervenções militares francesas que pretendiam ampliar o seu domínio pela
força. A estratégia de resistência activa adoptada por Samori Touré foi mais violenta do que
nas outras regiões da África Ocidental. Ao optar por uma estratégia de confronto, submeteu o
seu império unificado à resistência armada. Em 1882, na fase ascendente do império mandin-
ga, o poderoso exercito criado por Touré, devidamente armado e bem treinado, teve o primei-
ro confronto com os franceses. Em 1885 com a ocupação de Bure pelos franceses, fonte im-
portante de ouro para a economia mandinga, Samori Touré, por meio de um vasto movimento
de tenazes resolveu desalojar os franceses pela força e com a fuga precipitada dos franceses
Bure foi facilmente retomado.
Em 1886 Touré assinou com os franceses um tratado que o obrigou a recuar as tropas para
margem direita do Níger e manter uma aliança. Mas ao perceber-se que os franceses encora-
javam a dissidência e a rebelião nas regiões subjugadas, procurando ainda impedir que ele se
rebastece de armas com os seus aliados britânicos da Serra Leoa, quebrou a aliança em 1888 e
preparou o seu exercito com armas modernas durante os três anos seguintes para o combate
contra os franceses.
No fim do segundo conflito mundial, com o interesse pela África pelas duas grandes potências
(EUA, ex-URSS) opostas ao colonialismo, os movimentos intelectuais, políticos, sociais e
culturais beneficiaram deste anticolonialismo, aceleraram e multiplicaram-se a partir de 1945.
É neste contexto de reivindicações que em 1947 o PGD nascia como um movimento
nacionalista capaz de refutar o sistema colonial odioso, que afectava a paz e a segurança do seu
20
GUEYE, M´Baye et elii. Iniciativas e resistência africanas na África Ocidental, 1880-1914. In: História Geral da
África. VII. África sob dominação colonial, 1880-1935. São Carlos: UNESCO Representação no Brasil, 2010.
PP.142-143. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000325.pdf Acedido em 18
de Janeiro de 2023.
território, combatido pela Central Sindical dos Trabalhadores da Guiné liderada por Sekou
Touré,22 a única organização civil que inicialmente lutava pela emancipação deste país.
Nós não aceitamos que nos impunham uma constituição, que nos outorguem uma
carta”. Em particular nós rejeitamos (…) que menosprezem a nossa personalidade e
nos integram na Republica Francesa com desprezo pelos nossos direitos soberanos que
as Repúblicas coloniais, entre as quais a França, reconheceram na carta de São
Francisco.23
22
De 1944 a 1952, Sekou Touré, nascido em 1922, teve uma actividade exclusivamente sindical bem-sucedido.
Foi nomeado Secretário Geral do PDG em 1952. Em 1956, foi eleito deputado da Guiné à Assembleia Nacional
da França.
23
Mariana, CORNEVIM, História da África Contemporânea, da Segunda Guerra Mundial aos Nossos
Dias. Paris, Edições Sociais, 1979, P, 95.
24
Apôs a libertação da França em 1945 Charles de Gaulle foi eleito por unamidade das três formações políticas
com maiores acentos Parlamentares (comunistas, socialistas e MRP), presidente do governo provisório.
25
GRIMBERG, Carl. Histórial Universal 20: o mundo contemprâneo. Publicações Europa-América, 1969, P.60.
Conselho da União francesa, elevando o poder a uma única assembleia que, elege o
presidente da república. De Gaulle26 favorável a um regime de equilíbrio de poderes que
realizaria uma democracia de tipo presidencial, auxiliado pelos radicais e o Movimento
Republicano Popular (MRP) opuseram-se ao texto constitucional que foi rejeitado a 5 de
Maio de 194627.
Para manter o poder imperial ´´a França formava deste modo com os povos do ultramar, uma
união fundada sobre a igualdade dos respectivos direitos e deveres, sem distinção de raça
nem religião``30. Os Estados Gerais eram opostos à nova forma de relacionamento e,
sobretudo, ao colégio eleitoral que não atribuí aos nativos a liberdade de dirigirem os seus
próprios Estados e tratarem dos seus assuntos sem a ingerência metropolitana. Ao contrário
da concessão da autonomia e da independência, clamada pelos nacionalistas, a França renova
ser ´´fiel à sua missão tradicional, de conduzir os povos de que ela tomou o encargo à
liberdade de se administrarem a si próprios e de gerirem democraticamente os seus
próprios assuntos […]``31.
26
Na véspera dos debates constitucionais ´´De Gaulle anuncia ao conselho de ministros que decidiu
irrevogavelmente demitir-se das suas funções. Foi formado uns novo governo provisório (26/1/1946) ``.
27
Marcel, PACAUT e Paul, Boujo, O Mundo Contemporâneo 1945-1975. Lisboa, Editora Estampa 1979, pp,
266-267.
28
Lamine Gueye, Senghor e Boigny…
29
Que passa dos 141 para 160 lugares. Enquanto o partido comunista (PC) se mantém para 146 lugares, a Secção
Francesa da Internacional Operária (SFIO) passa de 134 para 115 lugares.
30
Mariana, CORNEVIM, História da África Contemporânea, da Segunda Guerra Mundial aos Nossos
Dias. Paris, Edições Sociais, 1979, p, 93.
31
Boubakar, KEITA, Apontamentos das Aulas: A Luta pela independência nas colónias Francesas. Luanda,
Departamento de História, FCS, UAN, 2018.
desta nova entidade, os deputados africanos militantes do RDA desempenharam um papel
importante na luta de elaboração de leis que melhorassem a condição social dos nativos.
Algumas destas leis foram publicadas, em 1947:
Apoiada por diversas correntes de libertação e pelos países árabes, a Frente de Libertação
Nacional (FLN) começou em 1954 a guerra de libertação, situação que perturbava os
colonos e dizimava milhares de indivíduos. A impotência da metrópole e dos sucessivos
governos levou-os a perder o apoio das massas sociais e, em 1958, a situação degrada-se,
tendo os Franceses da Argélia apoiados pelo exército ´´ameaçam os parlamentares de levar
32
Um primeiro que agrupa os cidadãos de Estado civil francês (cidadãos metropolitanos) e outro por africanos,
dentre os quais saíram os representantes destes e daquele território.
33
De Léon Blum 1946 à Félix Gaillard 1958.
34
a cabo um golpe de força (…) que já se desencadeara em Argel`` . O presidente francês
35
René Coty a pela o regresso ao poder político do general De Gaulle.
Charles de Gaulle que, por via do RPF criava mecanismos de regressar ao poder, aceita o
apelo do presidente Coty e dissolve a Assembleia. Prepara uma nova Constituição que é
aprovada em referendo por esmagadora maioria em Setembro de 1958, substituindo assim a
União Francesa (UF) pela Comunidade Francesa (CF).
No dia 20 de Agosto de 1958, De Gaulle deixa Paris e peregrina as terras de África com
objectivo de influênciar as decisões políticas, apresentando às comunidades locais as
vantagens da aceitação da Constituição, caracterizada por uma cooperação política,
económica, financeira e uma orientação do Estado autónomo até a ascensão da
independência conduzida dentro da Comunidade Francesa (CF). Porém, apresentou também
as desvantagens da rejeição, caracterizada pela ascensão de uma independência «… fictícia
dada a sua pobreza».
A campanha eleitoral teve êxito nas demais colónias africanas36 onde o chefe do governo
francês passou. Apesar da força que as organizações sociais, políticas e religiosas tinham
disseminado na consciência colectiva sobre a independência e as expectativas criadas no seio
das camadas sociais, os líderes políticos devido à escassez de quadros, de recursos
34
Jacques, LEVRON, História da França. Fribourg-Geneva, Editions Minerva S.A, 1976, p, 119.
35
Rene Coty sucedeu Vicent Auriol em 1953, cargo que exerceu até 1958.
36
Ouabangui-Chari (RCA), Côte d´Voaire (Costa do Marfim), Congo Brazzaville.
financeiros, de instituições de gestão, entre outros, foram obrigados a mobilizar os seus
membros a aceitar a carta magna gaullista. Quase todos os territórios francófonos
participaram da Comunidade Francesa, cuja sua evolução para a «personalidade individual»
foi feita dentro desta instituição.
A Guiné-Conacri foi o único Estado africano que, no decorrer da campanha para adopção do
novo texto Constitucional, contradiz os fundamentos do sistema colonial odioso, combatido
desde as lutas de resistência até as guerras de libertação. Por outro lado, a escassez de
recursos humanos qualificados e instituições capazes de gerir o país, não levaram o PDG de
Sekou Touré a mobilizar as populações a aceitarem a nova reforma gaullista e deixar cair por
terra todos os esforços dos nacionalistas que lutavam para a independência do país. A
vontade de transformar a Guiné em um Estado independente ouvia-se assim nas afirmações
de Sekou Touré contra a política do general De Gaulle: nós preferimos a pobreza na
liberdade do que a riqueza na escravidão``37.
37
Maria, CORNEVIM, História da África Contemporânea, da Segunda Guerra Mundial aos Nossos Dias.
Paris, Edições Sociais, 1979, p, 177.
desenvolvimento socioeconómico do país, a Guiné de Ahmed Sekou Touré a rejeitarem o
texto de De Gaulle com ´´95% de Não``.
O conjunto dos documentos consultados para construção desta narrativa histórica permite
confirmar a hipótese de que a política colonial gaullista condicionou as iniciativas
independentistas das colónias francesas e procurou guiar e controlar todo o processo de
emancipação política até a conquista das independências
A Segunda Guerra Mundial acelerou a adopção de uma nova política colonial nas possessões
francesas – política gaullista- que retardou as tendências da descolonização e procurou
controlar e guiar o processo das independências. As políticas internacionais, consagradas na
Carta da ONU, auxiliaram a mobilização das consciências num espírito anti-gaullista e
reforçou as comunidades a refutarem o sistema colonial e, sobretudo, os princípios gaullistas.
Porém, a política colonial empreendida pelo general De Gaulle com base na Comunidade
Francesa, apesar de ser aceite em muitos territórios africanos, para outros não era bem-vinda.
Repercutiu-se num conjunto de acontecimentos que ameaçaram as relações iniciais concebidas
no Projecto Colonial e estimulou a dinamização da África Francesa para à independência.
A participação dos Africanos nas duas Guerras Mundiais, o advento das novas potências
emergentes (ex-URSS e EUA, anticolonialistas), a Lei-Quadro, a guerra nos Camarões e na
Argélia, tiveram efeitos políticos, sociais e ideológicos, que influenciaram positivamente a
Guiné de Sekou Touré, a dizer «Não» ao De Gaulle e alcançar a independência de forma
oposta à metrópole.
38
Boubakar, KEITA, Apontamentos das Aulas: Os Grandes Conjuntos Coloniais. Luanda, Departamento de
História, FCS, UAN, 2018.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS