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Maria Hilda Baqueiro Paraiso - Universidade Federal da Bahia Londrina
Maria Nilza da Silva - Universidade Estadual de Londrina
7 É composta por vinte e dois volumes divididos em duas séries. A primeira, consti-
tuída por 15 volumes, diz respeito à área geográfica abrangida pela primitiva diocese
de S. Tomé, do rio de André, a sul do Cabo das Palmas, até ao Cabo das Agulhas. A
segunda série é composta por sete volumes referentes ao território da diocese de
Cabo Verde, desde o rio Gâmbia até ao Cabo das Palmas, compreendendo assim toda
a Costa Ocidental Africana, a sul da atual República da Gâmbia, sendo esta, portanto,
a seção que tem ligação com o recorte espacial proposto por esta pesquisa.
118 Raissa Brescia dos Reis | Taciana Almeida Garrido de Resende | Thiago Henrique Mota (orgs.)
nascido na Antuérpia no dia 25 de fevereiro de 1585. Os seus escritos
constituem uma significativa fonte porque mostram detalhadamente
as estratégias comerciais dos mercadores holandeses na costa atlân-
tica da África. Esse relato se diferencia dos outros por ter sido escrito
em forma de diário. Em conjunto com as outras descrições, tornou-se
possível o mapeamento do comércio euro-africano no Gâmbia.
8 A escolha de nações como marcador identitário para designar os povos que estão
presentes neste trabalho se deu a partir das fontes. Estas usam o termo tanto para
designar o local europeu de origem quanto às localidades africanas, não carregan-
do, portanto, um sentido pejorativo para tratar das organizações políticas africanas.
Determinou-se o uso de itálico para evitar uma possível confusão do leitor com o
sentido moderno do termo.
9 BARRY. Senegambia and the Atlantic Slave Trade p. 5. Tradução nossa: The Gam-
bia River is the divide between northern and southern Senegambia. It is also a mag-
net for all the zone’s populations.
10 BARRY. Senegambia and the Atlantic Slave Trade p .18. Tradução nossa: The
Gambia valley owes its importance to its geographical location, excellent for traders
heading south into the forest belt along the Southern Rivers waterways, north to the
Senegal River, and east toward the Niger Bend.
Estudos sobre África Ocidental 119
tos que existem em um lado e inexistem no outro, como, por exemplo,
a noz de cola, sal, arroz e milheto. Essa constatação vai ao encontro do
que afirma o historiador Boubacar Barry,
11 BARRY. Senegambia and the Atlantic Slave Trade. p. 18. Tradução nossa: The
Gambia river was commercially important. Downstream, Wuli was a terminus for
trade routes ranging east into the Manding heartland, and north to the Upper Sene-
gal River valley in turn linked with the Soninke network. A major reason for its impor-
tance was the trade in cola and cotton cloth, key commodities in exchanges between
the forest belt to the south and the savanna to the east and north.
12 ALMADA, A. Tratado Breve dos rios de Guiné do Cabo Verde dês do Rio Sanagá
até os Baixos de Santa Ana. Porto: Tipografia comercial portuguesa. Largo de São
João Novo nº 12. 1841, p. 283-234.
13 BARRY. Senegambia and the Atlantic Slave Trade p. 18.
120 Raissa Brescia dos Reis | Taciana Almeida Garrido de Resende | Thiago Henrique Mota (orgs.)
cações, construídas em forma de canoas, que permitiam a navegação
fluvial e da costa oceânica. Além dos mandingas, as fontes e a historio-
grafia sugerem que outros povos faziam o comércio regional utilizan-
do-se delas, como os bainuk e os biafadas.
Uma resultante desta vasta utilização comercial do Gâmbia é
a pluralidade de povos que passaram e se instalaram na região. Assim,
é arriscado pensar em uma descrição etnográfica estável para a região
do rio Gâmbia na longa duração histórica. De fato, no período escolhi-
do para esta pesquisa, as fontes sugerem a presença de três principais
povos vivendo às margens do rio: os mandingas,1 mais numerosos, es-
tabelecidos tanto na margem norte quanto na sul;2 os jalofos estavam
estabelecidos na foz e na margem norte do rio;3 e os fulas, estabeleci-
dos em vários pontos ao longo do vale do rio.4
Os mandingas são originários do Império do Mali, cujo centro
se localizava na região entre a nascente do Rio Senegal e o Alto Níger.
Essa formação política tem origem, segundo as tradições orais,5 por
volta de 1230. O herói fundador do Império foi Sundjata Keita.6 Em-
bora não seja a intenção desta pesquisa discutir a história da forma-
ção política do Mali, é importante dizer que a partir de sua fundação
houve uma expansão gradual em direção ao oeste, e o Mali estendeu
seu poder até a região da Senegâmbia. Uma das rotas de expansão do
Império do Mali o levou ao Gâmbia. A presença desse povo é bastante
acentuada, de forma que, em 1621, Jobson os denominou “senhores e
comandantes do local”7.
1 São vários os etnônimos para esta etnia: mandinga, mandinka, malinké, maninka.
Para maior fluidez do texto e por ser o nome mais utilizado nas fontes portuguesas
no período, utiliza-se no corpo da pesquisa apenas a primeira opção.
2 Escolhe-se esta divisão entre margem norte e margem sul por ser a forma de di-
visão que aparece nas fontes.
3 São vários os etnônimos para esta etnia: Jalofo, Wolof, Djolofs. Para maior fluidez
do texto e por ser o nome mais utilizado nas fontes portuguesas no período, escol-
he-se utilizar no corpo da pesquisa apenas a primeira opção.
4 São vários os etnônimos para esta etnia: Fula, Fulbe, Pular, Peul. Para maior flu-
idez do texto e por ser o nome mais utilizado nas fontes portuguesas no período,
escolhe-se utilizar no corpo da pesquisa apenas a primeira opção.
5 A este respeito ver NIANE, D. T. Sundjata ou a Epopeia Mandinga. São Paulo:
Ática, 1982.
6 Sundajata, Mari-Djata, Mari-Diata.
7 GAMBLE, D; HAIR, P. H. The Discovery of River Gambra (1623) by Richard Jobson.
Estudos sobre África Ocidental 121
Embora o Império do Mali tenha começado seu lento declí-
nio no século XVI, no período em que este artigo se concentra (1580-
1630), estas localidades mandingas, mesmo gozando de certa autono-
mia política, ainda eram tributárias do centro do Império. Alberto da
Costa e Silva diz que “a unidade que Sundjata dera aos mandingas vai
custar a perder-se [...] e sobre um território bem mais amplo que o tra-
dicional, pois não se perderam as áreas colonizadas pelos Malinquês
nos rios Gâmbia e Casamansa”8.
Richard Jobson deu indícios de que os mandingas do Gâmbia
ainda tinham relação com um poder maior no interior, ao dizer: “estes
pequenos reis que eu disse, com quem eu tanto vi, conversei, comi e
bebi em seis diferentes lugares, que têm o título de Mansa, que em
sua linguagem é o nome próprio para o rei, todos têm como referência
um grande rei que vive longe daqueles lugares”9 sem, contudo, citar
quem era este rei ao qual os outros deviam obediência. A hipótese é
que era o momento em que a principal estrutura de mando mandinga
mudava para o Kaabu, e não mais o Mali, sinalizando a decadência do
Império malinês.
No primeiro quartel do século XVII, os mandingas eram isla-
mizados e a expansão deste povo era conduzida não só pelo aspecto
político, mas também pelo comercial e pelo religioso. Toby Green afir-
ma que “comércio e religião eram peças chaves ao novo poder man-
dinga”10. Os dois últimos pontos eram exercidos por um agente em
comum, o Bixirin, Marabu ou Cassiz. Este, além de religioso, era um
importante agente comercial, que se beneficiava das redes comerciais
islâmicas para disseminar sua fé, que iam até regiões que ainda não
eram islamizadas.
Edited, with Additional Material. London: The Hakluyt Society, 1999, p. 104. Tradução
nossa: The Maudingo: The people, who are Lords, and Commaunders of this country.
8 SILVA, A. A Enxada e a Lança: A África Antes dos Portugueses. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2011, p. 341.
9 GAMBLE; HAIR. The Discovery of River Gambra, p. 111. Tradução nossa: Those
petty Kings I say, whereof I both saw, had conference, and did eate and drinke within
[with in] sixe several places, who had the title of Mansa, which in their language, is
the proper name for the king, have all reference to their greater King, who live far-
ther from those places.
10 GREEN, The rise of trans-Atlantic slave trade, p. 41. Tradução nossa: Trade and
religion were the keystones to new Mande power.
122 Raissa Brescia dos Reis | Taciana Almeida Garrido de Resende | Thiago Henrique Mota (orgs.)
Outra nação que vivia à margem do Gâmbia era os fulas, que
tinham vida nômade.11 Provavelmente chegaram ao Gâmbia entre
1480 e 1490 em função da invasão liderada por Koli Tengela, que par-
tiu do Sahel Maliano com numerosos fulas para se instalar nos altos
platôs do Futa Djalon.12 Essa expansão fula foi registrada por André
Almada mesmo tendo ocorrido em momento bastante anterior às suas
viagens pelo Rio Gâmbia:13
11 David Gamble e Paul Hair, na obra supracitada, escrevem que embora houvesse
posteriores aldeamentos de fulas que tenham se tornado sedentários e alguns até
mesmo urbanizados, seu predominante status inicial era o pastoral, um povo nô-
made criador de gado.
12 LOPES, C. Kaanbunké: Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Cas-
amance pré-coloniais Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Desco-
brimentos Portugueses, 1999, p. 69.
13 Esta passagem é uma mostra da força das tradições orais para essa região afri-
cana, e também da presença da oralidade africana nas fontes escritas pelos euro-
peus. Mesmo tendo ocorrido cerca de um século antes de Almada estar presente no
rio Gâmbia, ele ainda descreveu a passagem dos fulas pelo rio Gâmbia. Infere-se que
esta informação, como muitas outras, foram passadas aos agentes europeus pelos
africanos.
14 ALMADA. Tratado Breve dos rios de Guiné, p. 281.
Estudos sobre África Ocidental 123
Notáveis criadores de gado, os fulas se deslocavam pela re-
gião à procura de boas pastagens para os seus rebanhos. Segundo Ri-
chard Jobson “sua profissão é cuidar do gado, a algumas cabras que
têm, mas o principal rebanho é de bois, dos quais eles são abundante-
mente providos”15.
Apesar da invasão de Koli Tengela, os fulas não se estabele-
ceram permanentemente no rio Gâmbia. Os que estiveram lá durante
o primeiro quartel do século XVII chegaram posteriormente, advindos
do exercício de criação nômade de gado. Talvez por isso, a coabitação
entre fulas e mandingas no Gâmbia era de supremacia política, social
e econômica dos segundos em relação aos primeiros. “O que é certo
é que estes se misturaram profundamente nos seus costumes, e os
primeiros herdaram formas e estruturas de poder dos segundos”16.
O relato de Richard Jobson segue nesse mesmo sentido ao
afirmar que o contato entre os sobreditos povos era baseado, de cer-
ta forma, em sujeição: “essas pessoas vivem em grande sujeição aos
mandingas, sobre os quais eles parecem se lamentar, pois não podem
matar um boi sem eles saberem [...] nem mesmo vender ou trocar
com a gente qualquer mercadoria que eles tenham”17. “Milhares de
fulas viviam no Cantor, Jimara e outros reinos mandinga do Alto Gâm-
bia. Habitualmente, os fulas aceitavam a autoridade dos mandingas e
nunca quiseram disputar o seu poder, apesar de impostos e tributos
diversos que tinham que pagar”18.
Por fim, havia os jalofos que, segundo Paul Hair e David Gam-
ble, dominavam uma longa extensão da margem norte do rio Gâmbia,
até a margem sul do rio Senegal. Formavam um império que se esten-
dia ao longo da costa, até a foz do Gâmbia e era constituído pelo reino
do Gran-Jalofo e por províncias ou reinos vassalos.19
15 GAMBLE; HAIR. The Discovery of River Gambra, p. 100. Tradução nossa: Their
profession is keeping of cattle, some Goats they have, but the Heards they tend are
Beefes, wherof they are aboudantly stored.
16 LOPES. Kaanbunké: Espaço, território e poder, p. 68.
17 GAMBLE; HAIR. The Discovery of River Gambra, p. 101. Tradução nossa: These
people live in great subjection to the Maudingo, under which they seeme to groane,
for he cannot at any time kill a beefe but if they know it [...] neither can hee sell or
barter with us for any comomodity hee hath.
18 LOPES. Kaanbunké: Espaço, território e poder, p. 69.
19 SILVA. A Enxada e a Lança, p. 159.
124 Raissa Brescia dos Reis | Taciana Almeida Garrido de Resende | Thiago Henrique Mota (orgs.)
A relação entre os jalofos e os mandingas era conflituosa. Se-
gundo Boubacar Barry,
20 BARRY. Senegambia and the Atlantic Slave Trade p. 7. Tradução nossa: In north-
ern Senegambia however, the influence of the Mali Empire seems to have been less
solid. For that reason, as from the mid-fourteen century, the succession crisis that
followed the death of Mansa Suleiman in 1360 facilitated the creation of the Jolof
Confederation, which brought together the Wolof provinces of Waalo, Kajoor, and
Baol [...]Forcing the waning Mali Empire to retreat toward southern Gambia.
21 Assim como os etnônimos, os nomes das localidades são variáveis de acordo
com a historiografia e com as fontes.
22 GAMBLE, D; SALMON, L; NJIE, A. Peoples of the Gambia – I. The Wolof. San Fran-
cisco: Gambian Studies Nº 17. 1985, p. 13. Tradução nossa: The title of the supreme
ruler differed from state to state, Brak in Waalo, Dammel in Kajoor, Teeny in Baol,
Buur in Saalum
23 LOPES. Kaanbunké: Espaço, território e poder, p. 92.
Estudos sobre África Ocidental 125
As Conexões do Rio Gâmbia com o Comércio de
Longa Distância
Esse comércio era amplo com relação aos produtos que nele
circulavam. Da África Ocidental saíam ouro, marfim, peles, ônix, nozes
de cola, escravizados, couro, além de cereais que abasteciam os oásis
do Saara. Em troca, do norte vinha sal, cavalos, tecidos e cobre.
O Saara permitiu, além do trânsito de mercadorias, também
o de ideias e técnicas. Um dos efeitos deste comércio foi o estabe-
lecimento de muitos árabes e berberes em cidades do Sudão Oci-
dental.25 Estes criavam laços com as populações locais através dos
casamentos e se beneficiavam da prática corrente de receber bem o
estrangeiro, tratando-o como hóspede. A esse respeito, Alberto da
Costa e Silva escreve:
Este rio, de que imo tratando, era melhor que havia em Gui-
né, de mais resgate que todos; fazia-se nele com cinco e
seis cousas diferentes um escravo, que não saía comprado
por cinco cruzados de bom dinheiro. Hoje está perdido, de-
vassado dos lançados, que andam adquirindo os despachos
40 SILVA, A. C. Cabo Verde e a Geopolítica do Atlântico. In: SANTOS, Maria Emília
Madeira (coord.) História Geral de Cabo Verde. Volume II. Lisboa (Portugal): Instituto
de Investigação Científica Tropical; Praia (Cabo Verde): Instituto Nacional de Cultu-
ra.1995, p. 11.
Estudos sobre África Ocidental 131
para os Ingleses e Franceses, entanto que se enfadam os
negros deles e os matam muitas vezes nas embarcações em
que andam.41
45 “Carta Régia ao Capitão de Cabo Verde” 18/10/1592, MMA, III, p. 207-210.
46 HILL, C. O Século das revoluções 1603-1714. São Paulo: Editora Unesp, 2012,
p. 33.
47 GAMBLE; HAIR. The Discovery of River Gambra, p. 39. Tradução nossa: Probably
he had a patron among the Gentleman, and if so he had most likely been a servant of
his patron and accordingly been recommended to the company.
Estudos sobre África Ocidental 133
Em 1591 uma liderança de um corpo político do interior da
África Ocidental foi atacada e conquistada por um exército
que tinha atravessado o deserto do Saara a partir de Marro-
cos. O espólio enviado de volta a Marrocos incluía uma gran-
de quantidade de ouro e isto foi observado e relatado pelos
comerciantes ingleses que estavam no local.48
48 GAMBLE; HAIR. The Discovery of River Gambra, p. 6. Tradução nossa: In 1591
a leading polity in the far interior of West Africa was attacked and conquered by an
army which had crossed the Sahara Desert from Morocco. The spoil sent back to
Morocco included large quantities of gold, and this, having been noted and reported
by English merchants in Morocco.
49 GAMBLE; HAIR. The Discovery of River Gambra, p. 6. Tradução nossa: River Gam-
bia was the most obvious target. Comparatively easy to reach from England, the river
was flanked on the west by the ‘Little Coast’ of Senegal, a district with which the
English had developed a trade.
50 HILL. O Século das revoluções, p. 41.
51 GAMBLE; HAIR. The Discovery of River Gambra, p. 6.
134 Raissa Brescia dos Reis | Taciana Almeida Garrido de Resende | Thiago Henrique Mota (orgs.)
dos seus funcionários e tripulações que executavam funções
especializadas sob o comando do capitão.52
54 SILVA, F. R. Dutch and Portuguese in western Africa: empires, merchants and the
Atlantic system, 1580–1674. Leiden: Koninklijke Brill, 2011, p. 178 e 180. Tradução
nossa: The ships departing from the Republic carried on board one or two prefabri-
cated sloops that could be assembled and equipped with muskets and heavy guns
at Cape Verde or Cape Lopez. These small vessels were used to trade in the shallow
waters along the coast and the estuaries of the rivers as well as to go ashore in or-
der to get fresh provisions for the larger ships. [...] Their adaptation to the Western
African trade was based on the knowledge of the Portuguese experience gained by
direct observation on the Western coast of Africa or obtained from the Portuguese
Sephardic Jews and Flemish merchants established in Amsterdam, who were deeply
involved in the commerce with these regions.
55 MATOSSO, J. História de Portugal: No Alvorecer da Modernidade. Lisboa: Editora
Estampa, 1997, p. 479.
136 Raissa Brescia dos Reis | Taciana Almeida Garrido de Resende | Thiago Henrique Mota (orgs.)
O Protagonismo Comercial Africano no Gâmbia
56 GAMBLE; HAIR. The Discovery of River Gambra, p. 140. Tradução nossa: When
we came to trade, we asked which should be the Staple commoditie, to pitch the
price upon, to value other things by, they shewed us one of their clothes, and for
that they onely desired our salt, we fell to loveing [bargaining] and bidding upon the
proportion, wherein we had such difference, and held so long, that many of them
seemed to dislike, and made shew, that they would goe away, but after we conclud-
ed, there was no more difference.
57 CANNY, N; MORGAN, P. Introduction: The Making and Unmaking of an Atlantic World.
IN: CANNY, N; MORGAN, P (Ed.) The Oxford Handbook of the Atlantic World 1450-1850.
Oxford: Oxford University Press. 2011, p. 3. Tradução nossa: Rulers on the coast of West
Africa succeded in presenving their economic as well as their political independence –
Estudos sobre África Ocidental 137
A análise do excerto do relato de Jobson demonstra que, ao
bixirin interessava especificamente o sal, e nenhum outro produto
lhe serviria, ameaçando ir embora caso não houvesse trato de acordo
com as suas pretensões. A partir daí tem-se indícios que se uma das
partes pode simplesmente abrir mão do comércio e a outra tem que
insistir, a parte menos interessada tem certo protagonismo na relação
comercial, uma vez que os seus desejos comerciais que deveriam ser
atendidos. Constatação esta muito diferente da noção de “comércio
triangular”, presente em algumas análises historiográficas contestadas
pela literatura contemporânea, que simplificavam demasiadamente as
relações comerciais entre África, Europa e América.
Um dos primeiros autores a mobilizar esse conceito foi Eric
Williams. Ele afirma que os escravos eram permutados na África
por produtos manufaturados ingleses, o que contribuía para fo-
mentar a produção doméstica britânica. Posteriormente, tendo
cruzado o Atlântico, os negros eram deslocados para as plantations,
onde produziam açúcar, algodão, anil e outros produtos tropicais
que serviam de matéria-prima ou estimulavam a criação de novas
atividades industriais na Inglaterra. Nesse cenário, a manutenção
do sistema estimulava um mercado ultramarino para produtos in-
dustrializados ingleses.58
Percebe-se na afirmação de Williams que os produtos troca-
dos em África pelos mercadores ingleses eram escravos por produtos
industrializados. O estudo das fontes que servem a este trabalho – os
relatos de viagem europeus, as documentações administrativas de
Cabo Verde e cartas de missionários – já indicavam um cenário comer-
cial multifacetado. Tal cenário diverso pode ser observável na análise
documental do texto de Almada:
even dictating the pace of change – until well into the eighteenth century.
58 MATHIAS, C. L. K. A Tese de Williams e o Antigo Sistema Colonial: notas sobre um
debate clássico. Ouro Preto: História e Historiografia. n. 11. 2013, p. 193.
138 Raissa Brescia dos Reis | Taciana Almeida Garrido de Resende | Thiago Henrique Mota (orgs.)
caldeirões de cobre de um arrátel até dois, cobre velho, e
entre todas a mais estimada é a cola.59
67 RUBIES, J. The Worlds of Europeans, Africans, p. 34. Tradução nossa: In Africa, the
Jolof rulers of Senegal, the Mande chiefs of Gambia River, the various Akan states,
and the kings of Benin or Kongo were all aware of larger world of long-distance trade
involving other centers of civilization. They were also commercially minded even in
those cases when their main political concerns lay inland, Unsurprisingly, African
political elites were often interested in trading with those Europeans who reached
them from the Atlantic. When doing so they were either diverting the old trades of
the interior river or caravan routes, or exploiting opportunities for new ones.
68 DONELHA, A. Descrição da Serra Leoa, p. 142.
69 THORNTON, J. K. A África e os Africanos na Formação do Mundo Atlântico, 1400
– 1800. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 48.
70 THORNTON. A África e os Africanos, p. 80.
Estudos sobre África Ocidental 141
Referências bibliográficas