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cativos campeiros:
estudos sobre a economia pastoril no Brasil
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
UPF Editora
Simone Meredith Scheffer Basso
Editora
CONSELHO EDITORIAL
Alexandre Augusto Nienow
Altair Alberto Fávero
Ana Carolina B. de Marchi
Andrea Poleto Oltramari
Angelo Vitório Cenci
Cleiton Chiamonti Bona
Fernando Fornari
Graciela René Ormezzano
Luis Felipe Jochins Schneider
Renata H. Tagliari
Sergio Machado Porto
Zacarias M. Chamberlain Pravia
Mário Maestri
(Org.)
Sabino Gallon
Revisão de Emendas
Este livro no todo ou em parte, conforme determinação legal, não pode ser reproduzi-
do por qualquer meio sem autorização expressa e por escrito do autor ou da editora.
A exatidão das informações e dos conceitos e opiniões emitidos, bem como as ima-
gens, tabelas, quadros e figuras, são de exclusiva responsabilidade dos autores.
ISBN – 978-85-7515-707-7
Associação Brasileira
das Editoras Universitárias
Sumário
Sobre o Plata e o RS
A economia agropastoril missioneira ........................................................ 9
Júlio Ricardo Quevedo dos Santos
Introdução
No rigoroso inverno de 1753, grupos de guaranis que vi-
viam nos Sete Povos das Missões (atual Rio Grande do Sul)
organizavam um grande movimento social e popular que
traduzia as tensões e os conflitos emergidos das mudanças
políticas definidas nos meandros das tratativas de aplicação
do Tratado de Madri, assinado entre as Cortes ibéricas em
1750. Aqueles grupos reivindicavam para si o direito de per-
manecerem no espaço onde haviam nascido, viviam e haviam
enterrado os seus ancestrais. Deixavam claro ao governo colo-
nial localizado em Buenos Aires os reais motivos pelos quais
não desejam transmigrar às terras à direita do rio Uruguai,
discutindo questões cruciais para sua sobrevivência, entre
as quais os elementos constitutivos da economia missioneira
(a terra, o gado, as estâncias, os ervais e os povoados). Ao
definirem para aquela autoridade o desejo de ficar, de lutar
e, se necessário, morrer, historiavam e relembravam-lhe as
antigas negociações políticas feitas por seus ancestrais com
os jesuítas e as autoridades coloniais. Esse momento pecu-
liar nos permite compreender alguns aspectos das estruturas
*
Docente do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria
e Doutor em História pela Universidade de São Paulo.
1
GARCIA, Elisa F. Em busca de novos vassalos: as estratégias dos portugueses
para a atração dos índios, durante as tentativas de demarcação do Tratado
de Madri, na Região Sul. In: MONTEIRO, Rodrigo Bentes (Org.).Espelhos de-
formantes: fontes, problemas e pesquisas em História Moderna (séculos XVI
– XIX). São Paulo: Alameda, 2008. p. 212.
2
Correspondência dos caciques e índios do Povo de São João do Uruguai ao go-
vernador de Buenos Aires, José de Andonaegui, em 16/07/1753. In: RABUSKE,
Arthur. Cartas de Índios Cristãos do Paraguai, Máxime dos Sete Povos, data-
das de 1753. Estudos Leopoldenses, São Leopoldo: Unisinos, v. 14, n. 47, 1978.
p. 70-71.
3
Compilación de las Leyes de Indias. Ley I, Título I, Libro III. V edición, Madrid,
1841.
4
Op. cit. Leyes I e II - título V - Livro IV.
5
Ib. idem.
6
PASTORE, Carlos. La lucha por la tierra en el Paraguay. Montevidéo: Ante-
quera, 1972. p. 18.
7
Conferir Florência Roulet em Resistência de los guarani del Paraguay; Barral,
Rebeliones indígenas en la América Española e, mais recentemente, Rossi e
Carbone, Historia, identidad y culturas originarias de la Argentina. São obras
que analisam algumas faces da resistência das populações ameríndias durante
o processo de conquista da região do Rio da Prata.
10
Cf. Ordenanzas del gobernador Hernandarias de Saavedra. 12/12/1598. Revista
de Derecho, Historia y Letras, Buenos Aires, t. XXIII, p. 370-391, 1908.
11
ALFARO, D. Francisco de (Visitador). Informe sobre el Paraguay. Apud GAN-
DÍA, Enrique de. Francisco de Alfaro y la condición social de los indios. Revista
de la Biblioteca Nacional, Buenos Aires, n. 11, 1939. p. 465.
12
PASTORE. op. cit. p. 40-41.
13
MONTOYA, Antonio Ruiz S. J. La conquista espiritual del Paraguay (1ª ed.
1639) estudo preliminar y notas Ernesto Maeder. Rosário: Equipo Difusor de
Estúdios de Historia, 1989. p. 63.
14
ALFARO, Op. cit. p. 663.
15
Cópia da Carta escrita a Francisco Gonzalez de Santa Cruz datada de 13/12/1614.
Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
16
DURÁN, Pe. Mastrilli S. J. Carta Anua de 1627. Manuscrito da Coleção de
Angelis - I. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951. p. 373-374.
17
Correspondência do Corregedor, cabildo e caciques do Povo de São Nicolau, ao
governador de Buenos Aires, José de Andonaegui, em 1753. Apud RABUSKE,
Arthur. Cartas de Índios Cristãos do Paraguai, Máxime dos Sete Povos, data-
das de 1753. Estudos Leopoldenses, São Leopoldo: Unisinos, v. 14, n. 47, 1978.
p. 80.
18
Ib. idem. p. 524.
19
CARDIEL, Compendio de la historia del Paraguay (1ª ed. 1780). Buenos Aires:
Fecic, 1984. p. 89-90.
20
Tupambaé, segundo Magnus Mörner. Actividades políticas y economicas de los
jesuitas en el rio de la Plata. Buenos Aires: Paidos, 1968. p. 95-96:
22
Ordem de 15/4/1682 do Provincial da Província Jesuítica Paraguaya, Padre To-
más de Baeza, Biblioteca Nacional, Madrid, Leg. 6976. p. 117.
23
CARDIEL. P. José. Breve Relación de las Misiones del Paraguay (1ª ed. 1771),
in HERNANDEZ, Pablo. S.J. Organizacion Social de las doctrinas guaranies de
la Compañía de Jesus. Barcelona: G. Gili, 1913. p. 529. v. 2.
24
SEPP, Antonio SJ. Algumas instruções relativas ao governo temporal das Re-
duções em suas fábricas, sementeiras, estâncias e outras fainas (Missão de São
José, em 13/06/1732). Tradução e apresentação Mansueto Bernardi. Pesquisas,
São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas, v. 2, 1958. p. 52.
25
BRUXEL, Arnaldo. O gado da antiga Banda Oriental do Ururguay. Pesquisas,
São Leopoldo, v. 5, 1961. p. 166.
26
SEPP, Antonio SJ. Algumas instruções relativas ao governo temporal das Re-
duções em suas fábricas, sementeiras, estâncias e outras fainas (Missão de São
José, em 13/06/1732). Tradução e apresentação Mansueto Bernardi. Pesquisas.
São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas, v. 2, 1958. p. 53.
27
CARDIEL, José, SJ Carta y Relacion de las Misiones de La Província del Para-
guay (1ª ed. 1747). Publicada por Guillermo Furlong, SJ. Buenos Aires, Libre-
ria del Plata, 1953. (Escritores Colonialies Riplatenses – II). p. 143.
28
Correspondência do Cabildo do povo de São Lourenço do Uruguai ao gover-
nador de Buenos Aires José Andonaegui s/d (1753). Apud RABUSKE, Arthur.
Cartas de Índios Cristãos do Paraguai, Máxime dos Sete Povos, datadas de
1753. Estudos Leopoldenses, São Leopoldo: Unisinos, v. 14, n. 47, 1978. p. 74.
29
BRUXEL, Op. cit. p. 167.
30
CARDIEL, José, SJ. Carta y Relacion de las Misiones de La Província del Para-
guay (1ª ed. 1747). Publicada por Guillermo Furlong, SJ. Buenos Aires, Libre-
ria del Plata, 1953. (Escritores Colonialies Riplatenses – II) p. 143.
31
CARDIEL, José SJ. Las Misiones del Paraguay (1ª Ed. 1771) edicción de Héc-
tor Sáinz Ollero. Madrid: DASTIN, 2002. p. 76.
34
CARDIEL, José, SJ Carta y Relacion de las Misiones de La Província del Para-
guay (1ª ed. 1747). Publicada por Guillermo Furlong, SJ. Buenos Aires, Libre-
ria del Plata, 1953. f. 26 (Escritores Colonialies Riplatenses – II)
35
KERN, Arno A. Missões: uma utopia política. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1982. p. 125-148
36
PORTO, Aurélio. História das Missões do Uruguai. Porto Alegre: Selbach,
1954. v. 2. p. 184.
37
NUSDORFFER, P. Bernardo. Relación de todo lo sucedido en estas Doctrinas
en orden a las mudanzas de los siete pueblos del Uruguay. (1750-56). In: TES-
CHAUER, Pe. Carlos. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Selbach
1918-1922. v. 3. p. 334.
38
Ib. idem. p. 334.
39
Carta de Nicolau Ñenguiru, Corregedor do Povo de La Concepción, ao governa-
dor de Buenos Aires, José Andonaegui, em 20/07/1753, in: RABUSKE, Op. cit.,
p. 92.
40
Ib. idem. p. 352.
41
PORTO, 1954 p. 185.
42
Carta do Governador de Buenos Aires ao Pe. Diogo de Palacios. Buenos Aires,
28/07/1749. In: Manuscritos da Coleção de Angelis - V. Op. cit. p. 356.
43
PORTO, Aurélio. História das Missões orientais do Uruguai. 2. ed. Porto Ale-
gre: Selbach, 1954. p. 186. O autor refere-se à documentação existente no Ar-
quivo Histórico de São Paulo.
44
Carta do Governador de Buenos Aires, D. Joseph de Andonaegui. Buenos Aires,
28/07/1749. in: Manuscritos da Coleção de Angelis - V. Op. cit. p. 359.
Epílogo
Finalmente, se iniciamos esta exposição narrativa pela
fala guarani-missioneira, também a encerramos pela mesma,
já que foram eles os grandes beneficiados pela construção das
negociações e também os grandes prejudicados pela sua disso-
lução. As correspondências permitem perceber as capacidades
de parcialidades guaranis que desejaram negociar, construir
o processo configurado como a experiência missioneira a par-
tir das atividades agropastoris. Essas capacidades se expres-
sam na interferência direta do missioneiro na sua realidade.
Também é visível a capacidade de análise dos mesmos, suas
abrangências e limitações. Depreende-se das narrativas que,
num dado momento – durante as negociações da aplicação do
Tratado de Madri, a conjuntura mostrava-se desfavorável ao
missioneiro, que teve de interferir e barganhar de outras for-
mas no processo em curso, pautando-se no processo histórico
construído e ressaltando a necessidade de preservação das
atividades pastoris e das práticas políticas nos meandros do
Estado espanhol.
Nas correspondências indígenas percebem-se as infor-
mações em rede, cabendo ao Cabildo esse papel relevante –
47
Correspondência do Cabildo do povo de São Lourenço do Uruguai ao governa-
dor de Buenos Aires José Andonaegui s/d (1753). Op. cit., p. 76.
*
Professor do PPGH da UPF, Doutor em História pela UCL, Bélgica.
1
Cf. MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. A colônia do Sacramento. 1680-1777.
Porto Alegre: Globo, 1937; PRADO, Fabrício Pereira. Colônia Sacramento: o
extremo sul da América portuguesa no século XVIII. Porto Alegre: 2002; DO-
MINGUES, Moacyr. A Colônia do Sacramento e o Sul do Brasil. Porto Alegre:
Sulina, 1973; DE SÁ, Simão Pereira. História Topográfica e bélica da Nova
Colônia do Sacramento do Rio do Prata. Porto Alegre: Arcano 17, 1993.
Em 1674, ocorreria a maior exportação do porto de Bue-
nos Aires do século 17, quando quarenta mil couros teriam
sido embarcados, em três navios, por 361 “vizinhos”. Os 111
couros exportados em média por vizinho registram o caráter
episódico daquela produção. Apenas em inícios do século 18
as exportações regionais de couros assumiriam caráter siste-
mático, dando um indiscutível impulso à economia seminatu-
ral regional.2
A falta de mão-de-obra foi importante entrave à expan-
são das atividades mercantis do Prata. A população livre es-
panhola e crioula exigia remuneração relativamente elevada
para assalariar-se, em razão da abundância relativa de terras
e de gados, que lhe permitia se estabelecer como produtores
livres, ainda que à margem da sociedade oficial. A exploração
mercantil da força de trabalho dependia fortemente do braço
escravizado e servil. Porém, escasseava população aborígine
passível de ser reduzida à servidão, de forma plena ou parcial.
Os nativos pampas resistiram fortemente à redução, impe-
dindo por longos anos a progressão dos colonos para além do
rio Salado, a pouco mais de quatrocentos quilômetros de Bue-
nos Aires . Os nativos trazidos de Córdoba, de Santiago del
Estero, La Rioja, Mendonza, do Chile, do Paraguai e do Peru
não supriam as necessidades de mão-de-obra.
A União Ibérica facilitou o ingresso de africanos embar-
cados nos portos portugueses da África, ensejando que a vida
em Buenos Aires e nas chácaras e fazendas próximas depen-
desse fortemente do trabalho africano feitorizado, dirigido
por administradores – capataces e mayordomos – espanhóis
e crioulos. Tamanha eram a escassez e carestia do trabalha-
dor livre que africanos e afro-descendentes se ocuparam na
direção de estâncias. A carência de braços constituiu grave
2
MONTOYA, Alfredo Juan. Como evolucionó la ganaderia en la época del Virri-
nado. Buenos Aires: Plus Ultra, 1984. p. 16-19.
46 Mário Maestri
handicap negativo à ocupação mercantil em ambas margens
do Prata.
Em 1640, com a guerra de independência portuguesa, a
introdução do cativo no Prata sofreu forte golpe. As duras con-
dições de trabalho, as epidemias de varíola, de febre tifóide,
etc. – com destaque para 1651-1653 – dizimavam os cativos,
que os escravizadores substituíam com dificuldade, deprimin-
do relativamente a agricultura e o pastoreio nas chácaras e
estâncias. Como visto, realidade amenizada desde 1680, com
as trocas permitidas por Sacramento, que sempre se orientou
para a venda de cativos.3 Na própria expedição de fundação
da feitoria, com os duzentos homens de armas chegaram ses-
senta cativos para trabalhar nas obras da fortificação e da ci-
dadela e serem comerciados.4 Em 1763, quando a Colônia foi
ocupada pelos espanhóis, 342 africanos foram levados para
Buenos Aires, junto com os prisioneiros portugueses.5
3
Id. ib. p. 41-48.
4
Cf. MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. A colônia do Sacramento. 1680-1777.
Porto Alegre: Globo, 1937. p. 45. volume 1.
5
Cf. SANTOS, Corcino Medeiros dos. Economia e sociedade do Rio Grande do
Sul: século XVII, São Paulo: Companhia Editora Nacional; INL, Fundação Pró-
Memória, 1984. p.30.
48 Mário Maestri
tos, conchavados por capitalistas, empregados em atividades
coordenadas.9
As primeiras capturas maciças de gado chimarrão teriam
se realizado em 1602, em Córdoba, e, em 1608, em Buenos Ai-
res. Tratava-se mais de arreadas do que vaquerias, já que os
gados capturados se destinavam principalmente a abastecer
as necessidades de carne das principais povoações locais e ao
povoamento das fazendas.10 Concomitante a essas expedições,
descendentes dos proprietários das primeiras terras distri-
buídas por Juan de Garay, quando da definitiva fundação de
Buenos Aires (1580), reivindicaram à municipalidade o di-
reito aos gados cimarrones, originários dos gados escapados
suas fazendas.
Monopólio patrício
Em 1606, o cabildo de Buenos Aires proibiu e reprimiu
a caça livre ao gado, concedendo licenças (acciones) mono-
pólicas aos proprietários patrícios (accioneros), limitadas à
quantidade do gado declarado como perdido a certas regiões,
em geral colidentes com as propriedades dos requerentes, e
a certas épocas, sobretudo janeiro-julho. Nesses meses, os
mais quentes do ano, os animais agrupavam-se às margens
dos arroios, rios e lagunas; os terneiros haviam desmamado;
os couros secavam com maior facilidade. A primeira licença
teria permitido a captura de pouco mais de 1.400 animais. 11
Os accioneros negociavam, junto com as propriedades, os di-
reitos de captura e apropriavam-se das áreas em que tinham
9
CASAL. El modo de producción colonial [...]. p. 66; GAIGNARD, Romaní. La
pampa argentina. p. 64-65.
10
Cf. DOTTA, Mario; FREIRE, Duaner; RODRIGUEZ, Nelson. El Uruguay
ganadero: de la explotación primitiva a crisis actual. Montevideo: La Banda
Oriental, 1974. p. 23.
11
DOTTA; FREIRE; RODRIGUEZ. El Uruguay ganadero. p. 23; PINTOS, Ani-
bal Barrios. De las vaqueiras al alambrado. Montevideo: Nuevo Mundo, 1967.
p. 30.
12
Loc. cit.
13
CASAL, Juan Manuel. El modo de producción [...]. p. 66; GAIGNARD, Romaní.
La pampa argentina. […]. p. 64-65
14
GIBERTI, Horacio C.E. Historia económica de la ganadería argentina. Act. e
corr. Buenos Aires: Solar, 1976. (1 ed. 1954). p. 39
50 Mário Maestri
couros que partiam legalmente de Buenos Aires eram embar-
cados nos navios de Registro e nos barcos do Asiento inglês de
escravos, de 1718, 1723 e 1724. Eram igualmente abundan-
tes as exportações de couros sobretudo dos Sete Povos missio-
neiros (1682-1801).15 Os couros embarcados eram comumente
trocados por prata e por mercadorias.16 Em 1660, quando era
grande a abundância de gado em Buenos Aires, o preço do
animal era de quatro reais e o do couro, seis a sete; em 1720,
o animal valia doze reais e o couro, de onze a doze. O maior
valor do couro em relação ao animal vivo devia-se ao alto pre-
ço da mão-de-obra para prepará-lo.17
As vaquerías
As vaquerías eram “incursiones por los campos para cazar
el ganado cimarrón que pastoreaba libremente”.18 A operação
buscava a transferência de animais, em geral para repovoar
ou fundar fazendas. Em meados do século 18, o padre José
Cardiel descreveu uma recojida de gado por cavaleiros missio-
neiros na Banda Oriental do Uruguai: “Aquí acostumbraban
acudir los indios a recoger vacas, tarea trabajosísima cuando
están alzadas. Salen a vaquear cincuenta o sesenta indios,
llevando cada uno sus cinco caballos de repuesto. Llevan un
rebaño pequeño de vacas mansas, y lo colocan en un collado,
donde puedan ver las silvestres. A conveniente distancia, cer-
can este rebaño treinta o cuarenta de los indios, y los demás
se dividen para recoger las vacas bravas más cercanas, las
cuales viendo el rebaño, se le acercan, ensanchándose para
15
Cf. MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. A colônia do Sacramento. 1680-1777.
Porto Alegre: Globo, 1937. 2 v.; DOMINGUES, Moacyr. A Colônia do Sacra-
mento e o Sul do Brasil. Porto Alegre: Sulina, 1973.
16
PINTOS, Anibal Barrios. De las vaqueiras al alambrado. Montevideo: Nuevo
Mundo, 1967. p. 97, 105.
17
MILLOT, Julio; BERTINO, Magdalena. Historia económica del Uruguay. Tomo
I e II. Montevideo: Fundación Cultura Universitaria, 1991. p. 53.
18
GIBERTI, Historia económica [...], p. 29.
19
CARDIEL, padre José Cardiel. “Costumbres de los Guaraníes”. Historia del
Paraguay desde 1747 hasta 1767. Ob.cit. p. 483. Apud CESAR, Guilhermino.
Origens da economia gaúcha: o boi e o poder. Porto Alegre: IEL: Corag, 2005.
p. 45
20
PINTOS, Anibal Barrios. De las vaqueiras al alambrado, p. 96
52 Mário Maestri
para o capataz; oito a dez pesos mensais para o peão, vinte
para o capataz. No primeiro caso, por capataz compreendia-
se possivelmente o responsável geral pela operação; no segun-
do, os chefes de equipe. 21 Segundo a ata do cabildo de Buenos
Aires de 23 de setembro de 1723, os guardas armados – no
mínimo seis – ganhariam quatro reais diários, “jornal” nor-
mal de um peão em Buenos Aires. Os peões ganhariam de
dez a quinze pesos mensais. Nas vaqueiras de corambre, os
vaqueiros que desgarravam os animais ganhavam por pro-
dução: cinquenta pesos por mil animais.22 Em 1694, o padre
Bernardo de la Vega registrava que corambreros portugueses,
em ação na Banda Oriental, abatiam diariamente de oito a
vinte animais.23
A vaquería de corambre, operação para a caça de gados
para a produção de couros, sebo e graxa, era ainda mais com-
plexa e demorada, podendo prolongar-se por mais de um ano.
Portanto, constituíam comumente atividade semipermanen-
te. Como as operações anteriores, elas podiam ser realizadas
por diversos armadores associados, cada um com o direito de
retirada de couros determinado pela municipalidade de Bue-
nos Aires, ou operação clandestina. Esse tipo de vaquería exi-
gia uma dezena ou mais de destros cavaleiros. Apoiados por
cachorros, os faeneros ou corambreros envolviam em campo
aberto o gado vacum e cavalar, muitas vezes sob formação em
forma de V, para cortar o tendão das bestas com lâmina em
meia-lua atada na ponta de lanças de taquara ou madeira de
dois metros.24
O “desjarretadero” que seguia o animal pela direita, cor-
tava a pata esquerda traseira do animal, para que não caísse
diante da montaria, e vice-versa. Após os animais semi-imo-
bilizados serem desnucados com golpes de pequeno punhal
21
MILLOT; BERTINO, Historia económica del Uruguay, p. 54.
22
PINTOS, Anibal Barrios. De las vaqueiras al alambrado, p. 102.
23
DOTTA; FREIRE; RODRIGUEZ. El Uruguay ganadero, p. 21.
24
GIBERTI, Historia económica de la ganadería argentina, p. 29.
25
Loc. cit.
26
MONTEIRO, A colônia do Sacramento, p. 118-124.
27
GIBERTI, Historia económica de la ganadería argentina, p. 29.
28
AN, RJ, cód. 104, v. 7, fl. 186. Apud OSÓRIO, H. O império português no sul
da América: estancieiros, lavradores e comerciantes. Porto Alegre: EdiUFRGS,
2007. p. 64.
29
SANTOS, Economia e sociedade do Rio Grande do Sul, p. 30.
54 Mário Maestri
Jangadas dos pampas
Em Terra gaúcha, livro póstumo e inacabado, João Si-
mões Lopes Neto (1865-1916) detalha as práticas corambre-
ras: “Os changadores traziam as suas tropilhas de cavalos em
balsas, sobre a costa de Soriano (Banda Oriental) e arrancha-
vam-se de forma a facilitar os seus embarques e precaver-se
contra os ladrões dos seus mantimentos e estaqueadouros.
Em grupos de trinta a quarenta indivíduos conchavados en-
tre a escória (sic) das cercanias de Buenos Aires e obedecendo
a um capataz, que representa, com plenos poderes, o empre-
sário da exploração. Bem armados e bem montados, corriam
os bandos dispersos de índios, coureavam o que podiam e fin-
do o respectivo contrato dissolvia-se a comparsa.”
Segue o regionalista pelotense: “Outras vezes, os chan-
gadores, formando quadrilhas independentes internavam-se
no território, vindo muitas até a coxilha de Cebolati (rio Ce-
bollati, afluente da lagoa Mirim, no Uruguai) e adiante, até a
barra do Rio Grande de São Pedro, onde faziam permutas com
os caravelões de São Vicente que em navegação furtiva apa-
reciam por certas águas. Durante muito tempo foi somente o
couro o produto procurado; para caçar o gado empregavam os
campeiros o sistema de – mangueira – que consistia apenas
em conduzir, a gritos, a boiada, sobre uma volta acentuada
de algum arroio forte; aí ‘desgarronavam’ as reses com uma
espécie cortante de meia-lua, encabada em taquara, como
uma lança; aos que desempenhavam este ofício chamava-se
– cortadores – e eram de uma destreza proverbial. Em segui-
da sangravam o animal, tirando-lhes apenas o couro, o sebo
e a língua, abandonando o resto aos urubus e aos cachorros
chimarrões.”30
Para o historiador Aníbal Bairros Pinto, a designação de
“changador”, ou seja, do “faenero de cueros clandestino”, pro-
30
LOPES NETO, João Simões. Terra gaúcha. Porto Alegre: Sulina, 1998. p. 92.
31
PINTOS, Anibal Barrios. De las vaqueiras al alambrado. Montevideo: Nuevo
Mundo, 1967. p. 109, 114; MACHADO, Propício da Silveira. O gaúcho na histó-
ria e a lingüística. Porto Alegre: Palotti, 1966. p. 31.
32
Apud AMARAL, Anselmo F. Os campos neutrais. Porto Alegre: 1973. p. 69.
56 Mário Maestri
pamento dos corambreros. Após serem amassados, o sebo e a
graxa eram acondicionados em bolsas de couros para posterior
manipulação. Realizadas no verão, as expedições durariam
meses, como vimos, sobretudo quando os campos mais próxi-
mos já se encontravam despovoados de animais. A exportação
dos couros para os mercados europeus dava-se privilegiada-
mente no inverno, quando, em razão da baixa temperatura,
não eram atacados pela temida polilla – parasitas do couro.
As vaquerías de corambre exigiam capitais ainda superiores
às arreadas, necessários para os salários, as armas, os su-
primentos, as carretas, os instrumentos de trabalho, etc. Em
virtude da baixa qualidade das montarias, a cada cavaleiro
corresponderiam cinco ou mais animais, como assinalado.33
33
DOTTA, Mario; FREIRE, Duaner; RODRIGUEZ, Nelson. El Uruguay gana-
dero. Ob.cit. p. 21; CASAL, Juan Manuel. El modo de producción [...]. p. 66.;
MILLOT, Julio; BERTINO, Magdalena.. Historia económica del Uruguay. [...]
p. 55; GIBERTI, Historia económica de la ganadería argentina, p. 38
34
SANTOS. Economia e sociedade do Rio Grande do Sul, p. 29.
35
MILLOT; BERTINO, Historia económica del Uruguay, 1991. 55
58 Mário Maestri
voltada sobretudo ao consumo familiar. Como lembram Ju-
lio Millot e Magadalena Bertino, em Historia económica del
Uruguai, essa forma de existência e produção não capitalis-
ta, onde a força de trabalho do produtor direto não se trans-
formava ainda plenamente em mercadoria, constituiu parte
integrante do que poderíamos definir de modo ou forma de
produção do gaúcho ou da vaquería.36 A oligarquia portuária
de Buenos Aires conseguiu estabelecer sua hegemonia sobre
a sociedade do interior por meio da repressão-destruição des-
sa forma de produção/existência, processo no qual a Guerra
do Paraguai desempenhou importante papel.37
39
GOULART, José Alípio. Brasil do boi e do couro. Rio de Janeiro: GRD, 1965.
p. 62,
40
Cf. SEPP S. J., padre Antônio. Viagem às missões jesuíticas e trabalhos apos-
tólicos. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo, EdUSP, 1980. p. 143; o reichstaler,
moeda padrão de prata, valeria 72 kreuzers, de cobre. O couro custaria em
torno de trinta vezes mais no Império Habsburgo.
60 Mário Maestri
O custo da produção do couro americano reduzia-se aos
gastos com o abate, a extração, a armazenagem e o transporte
até o porto americano de exportação e, deste, até a Europa,
acrescidos das taxas e impostos, quando não eram contraban-
deados. Inicialmente, não havia custos de criação animal, o
que assegurava a enorme rentabilidade dessa extração. Em
1711, falando dos couros produzidos no Brasil, Antonil propu-
nha que o custo do “meio de sola” (couro seco) seria 1$980 réis
– ou seja, 1$500 o couro; 340 réis de direitos e o restante gastos
com o transporte até Lisboa. O couro em cabelo, por sua vez,
custaria 2$100 em Lisboa.41 Em Brasil do boi e do couro, José
Alípio Goulart anota: “Em Lisboa, em fins do século XVIII, os
couros secos valiam: peça na base de 32 quilos, a 65 réis por
libra, 2.080 réis; frete do Brasil, 260 réis; e despesas de de-
sembarque, 140 réis, totalizando 2.480 réis.” “O couro salgado
valia no Brasil de 2.300 a 2.400 réis por peça de 31 a 32 libras;
em Lisboa, valor posto a bordo em porto brasileiro, 2.350 réis;
frete, 260 réis, e despesa de embarque (sic), 160 réis, soman-
do 2.770 réis.”42 Segundo Simonsen, o preço do transporte dos
couros, em 1757, por alvará real, da Bahia, Pernambuco ou
Rio de Janeiro, era de trezentos réis, para couro em cabelo, e
de duzentos réis, para meio de sola.43
44
Cf. PORTO, Aurélio. História das missões orientais do Uruguai. 2 ed. Ver. e
melhor. pelo p. L.G. Jaeger. Porto Alegre: Selbach, 1954. I e II; MONTOYA, Pa-
dre Antônio Ruiz de. Conquista espiritual: feita pelos religiosos da Companhia
de Jesus nas Províncias do Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape. Porto Alegre:
Martins Livreiro, 1985.
45
MILLOT; BERTINO, Historia económica del Uruguay, 1991. p. 55.
62 Mário Maestri
já proposto, na expedição que fundou a feitoria chegaram ses-
senta cativos, 48 pertencentes a dom Manuel Lobo, para se-
rem vendidos aos proprietários da região, sedentos de braços.
Em agosto de 1680, com a queda de Sacramento em mãos es-
panholas, “53 negros, em sua maioria escravos”, terminaram
em Buenos Aires, ao igual do ocorrido com o desventurado co-
mandante da expedição.46 Essas trocas eram feitas por barcos
e lanchões que interligavam as duas margens, em geral sob a
complacência das autoridades de Buenos Aires.
Apoio nativo
As imensas mandas de gado da Banda Oriental foram
inicialmente descuradas pelos portenhos em razão da riqueza
de animais na interlândia de Buenos Aires. A caça dos ani-
mais pelo couro mostrou-se muito logo importante fonte de
renda aos lusitanos recém-chegados, uma operação facilitada
pelo apoio recebido, desde os primeiros momentos, por parte
dos nativos charruas, que abasteceram Sacramento, sobretu-
do em carne, em troca de roupas, ferramentas e outros produ-
tos. Mais tarde, trocariam esses bens por couros.47 Os couros
transformaram-se em importante forma de pagamento das
mercadorias compradas na feitoria. A Colônia transformou-se
em importante porto de exportação da produção corambrera
bonaerense, limitada fortemente pelas restrições e gravada
pelas taxas metropolitanas. Em 1695, o porto do Rio de Janei-
ro enviava para Portugal cinco mil couros chegados da Colô-
nia, obtidos no Prata e no atual Rio Grande do Sul – quanti-
dade talvez média das exportações nesses anos. Segundo C.R.
Boxer, as exportações de couro do Rio de Janeiro para o Reino
46
Cf. MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. A colônia do Sacramento. 1680-1777.
Porto Alegre: Globo, 1937. v. I. p. 45.
47
Id. ib. p. 73
48
SANTOS., Economia e sociedade do Rio Grande do Sul, p. 19.
49
MONTEIRO, A colônia do Sacramento, p. 112, 114-15, 117.
64 Mário Maestri
os moradores da cidadela e enviando os couros crus ao Rio de
Janeiro, aos poucos, em razão das dificuldades de transporte.
50
Em documento de 1697, o provedor-mor da Fazenda real da
capitania do Rio de Janeiro assinalava que navio chegara da
Colônia trazendo quase quatro mil couros, 1.399 de touros e
mil de vaca. Não havia, portanto, qualquer preocupação com
o respeito às matrizes.51
Riqueza animal
A caça aos animais se generalizou. Expedições privadas,
com homens livres e escravizados, em embarcações ou carre-
tas, penetravam o interior para caçar gado pela carne e, so-
bretudo, pelo couro, sebo e graxa. Em janeiro de 1698, nativos
missioneiros atacaram alguns espanhóis e mataram “um sar-
gento” da Colônia “com sua comitiva de negros e um mulato”,
que caçava nos campos vizinhos. Esses ataques se repetiriam
nas décadas seguintes. Em inícios dos anos 1720, nativos
missioneiros e espanhóis teriam atacado e tomado “nas pro-
ximidades da Colônia umas carretas pertencentes ao capitão
Cristóvão Pereira de Abreu, que seus escravos traziam com
frutos do país para o interior da Colônia”.52 Registrem-se as
repetidas referências a cativos participando em operações
produtivas nos aforas da cidadela.
Com a sistematização das exportações de couro, a Coroa
portuguesa regulou mais estritamente seus direitos. Carta
régia de 24 de setembro de 1699 determinava que fossem co-
brados 20% (quinto) sobre os couros enviados da Colônia para
o Rio de Janeiro, onde, segundo instrução do mês seguinte,
deveriam ser beneficiados. Em 1º de março de 1702, o con-
trato dos quintos dos couros foi adjudicado, por sessenta mil
cruzados, por seis anos, a Manoel Lopes de Farias. Em 1729,
50
MONTEIRO, A colônia do Sacramento, p. 118, 124.
51
Cf. GOULART, O Brasil do boi e do couro, p. 40.
52
MONTEIRO, A colônia do Sacramento, p. 127, 182.
66 Mário Maestri
das rezes mortas para o consumo valia uma pataca, ou seja,
320 réis. Portanto, o preço da própria vaca. Os couros eram
levados ao Rio de Janeiro em todos os navios que aportavam
na Colônia. Em 1726, uma “sumaquinha” partira da Colônia
com 1.404 couros de touros, para aquela destinação, sob a
apreensão geral, por causa da fragilidade da embarcação. Na
mesma época, uma charrua, com 10.210 couro de touros e 127
de vacas encalhara no banco Inglês, cemitério de diversos na-
vios lusitanos.56
À produção de couros e ao contrabando, os lusitanos de
Sacramento agregavam a exportação de mulas de Santa-Fé e
de outras regiões do Plata para São Paulo, inicialmente atra-
vés do caminho da Praia. Também carnes salgadas eram en-
viadas para a costa do Brasil.57 Em 1741, o inglês John Camp-
bell referia-se ao contrabando entre a Colônia e Buenos Aires:
“[...] há uma terceira classe de comércio ilícito do qual posso
falar perfeitamente. Esse é efetuado com os portugueses, os
quais [...] dominam a margem oposto do Rio da Plata. Dali
eles aproveitam as ocasiões para enviar, de tempos em tem-
pos, pequenas embarcações carregadas não apenas com seus
próprios gêneros, mas com os que recebem da Europa [...].”58
A fundação de Montevidéu e o estabelecimento efetivo
dos espanhóis na Banda Oriental demarcariam o fim dos
anos de opulência da cidadela lusitana. Em A colônia do Sa-
cramento, de 1937, Jonathas da Costa Rego Monteiro lembra:
“Terminou o período áurea da Colônia do Sacramento, jamais
voltaram a ter seus arredores aquela riqueza de produção,
que fazia dela a cobiça espanhola a fiscalização pelo porto
de Montevidéu continuou, escassas se tornaram [...] as suas
transações de courama, grande fonte de sua riqueza.” Em
verdade, a cidadela transformara-se em porto livre no Prata,
56
MONTEIRO, A colônia do Sacramento, p. 194-196.
57
Id. ib. p. 197.
58
GOULART, O Brasil do boi e do couro, p. 40.
59
MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. A colônia do Sacramento. 1680-1777.
Porto Alegre: Globo, 1937. p. 331, 338
60
DOTTA, Mario; FREIRE, Duaner; RODRIGUEZ, Nelson. El Uruguay ganade-
ro. Ob.cit. p. 23
61
MILLOT; BERTINO, Historia económica del Uruguay, 1991. p. 52.
62
PINTOS, Anibal Barrios. De las vaqueiras al alambrado. Montevideo: Nuevo
Mundo, 1967. p. 109, 114.
68 Mário Maestri
Em 1738, o alcalde de Santa Hermandad de Montevi-
déu registrava que operação na campanha necessitava de,
no mínimo, quinze vizinhos e igual número de soldados, em
virtude de ameaça posta pelos changadores, que “se han pa-
sado a los portugueses” e que levaram “sus caballadas para
hacer corambre entre los portugueses”.63 Entre os principais
changadores da Banda Oriental, comandantes de partidas de
gaúchos vagos, encontravam-se Pedro Ansotegui, don Pedri-
to; José Jará, Pepe el Ladrón; José de Castro, Pepe el Mellad;
os portugueses Manuel Cabral e Francisco Pintos; os espa-
nhóis Salvador Gomes e Julián Medina; os índios Gregório e
Juan Vera e o negro Canga.64 Destaque-se, mais uma vez, a
presença de afro-descendente na produção de couros, agora
como chefe de changadores.
Como vimos, desde os momentos iniciais da fundação da
colônia do Sacramento, os charruas, inimizados com os gua-
ranis missioneiros, apoiaram os portugueses e realizavam
faenas de couro, em troca de “bayeta, sombreros, espadas,
virretes, tabaco e aguardiente”, como denunciava autoridade
bonaerense enviada à Banda Oriental para controlar a pro-
dução clandestina de couro, em 1721.65 Nessa atividade, com
destaque para as regiões nortes da Banda Oriental, partici-
pavam habitualmente luso-brasileiros chegados em lanchões,
através da Lagoa Mirim, do rio Cebollatí, Tacuarí, Yagua-
rón e, sobretudo, de Rio Pardo, na Depressão Central do Rio
Grande do Sul.66
A descoberta da rica população animal da Banda Orien-
tal, no contexto da expansão da atividade econômica e das
necessidades de couro da Europa desde inícios do século 18,
ensejou a atração de aventureiros de toda a região do Prata.
Como proposto, espanhóis, portugueses, mestiços, africanos
63
Apud AMARAL, Anselmo F. Os campos neutrais. Porto Alegre: 1973. p. 54.
64
PINTOS, De las vaqueiras [...], p. 115.
65
Id. ib. p. 101-112.
66
Id. ib. p. 116
Mudando de banda
Na segunda metade do século 17, a intensificação da
retirada de couros ensejou que os gados se internassem nos
pampas da Banda Ocidental do Uruguai, esgotando as reser-
vas nas regiões controladas por Buenos Aires. “Las vaquerías
adquieren el carácter de expediciones armadas, indispensa-
bles para afrontar los peligros del indio al perder contacto con
la zona poblada. En 1688 documentos de la época sostienen
que a 20 leguas (uns 130 km) de la ciudad apenas si hay ga-
nado, y al año siguiente prohíbese las vaquerías por 6 años
argumentando que es necesario recorrer 70 leguas (mais de
460 km) para encontrar vacunos en cuantidad.”68
Desde inícios do século 18, os gados das regiões meri-
dionais da Banda Oriental começaram a ser explorados por
vaquerías organizadas por moradores de Santa Fé e Buenos
Aires, comumente a serviço da Colônia, ao passo que os do
norte eram explorados sobretudo pelos nativos missioneiros,
como veremos. Essas expedições arrebanhavam igualmente
gados para repovoar campos com as reservas animais já esgo-
tadas. Em agosto de 1716, o cabildo de Buenos Aires recebia
67
MILLOT; BERTINO, Historia económica del Uruguay, 1991. p. 24.
68
GIBERTI, Historia económica de la ganadería argentina, p. 36.
70 Mário Maestri
a denúncia de mais de quatrocentos santafesinos realizando
vaquerías clandestinamente na Banda Oriental. A partir de
1718, segundo o historiador Emílio A. Coni, ao se extingui-
rem os gados selvagens nas terras entre Buenos Aires e o rio
Salado, todas as vaquerías passaram a ser feitas quase exclu-
sivamente na Banda Oriental, através de licenças onerosas
concedidas a “empresários”, sob fiança, sempre pelo cabildo
de Buenos Aires, que cobrava pelas concessões.69 Os direitos
exigidos aos asienteros e registreros eram de um terço dos cou-
ros produzidos.
Em meados do século 18, o jesuíta José Cardiel descre-
veu, do ponto de vista das Missões, a enorme atividade dos co-
rambreros chegados à Banda Oriental desde a outra margem
do Plata: “Arrojándose a porfía a vaquear multitud de cua-
drilla, mataron enorme cantidad de vacas, cuyas peles, len-
gua y sebo, mientras una larga seria de carretas las transpor-
taba para entregarlas a los marcadores ingleses que residían
en Buenos Aires, quedaban en la vaquería otros trabajadores
preparando carga para nuevo viaje. De este modo, en término
de diez años, se acabaron, no solo miles, sino millones de va-
cas que había.”70 Nesses anos, o jesuíta referia-se, sobretudo,
às terras ao sul do rio Negro.
Entretanto, ao norte do rio Negro, região que pertencia,
em parte às Missões e escapava, em geral, à administração
e ao controle efetivo das autoridades espanholas, a caça ao
gado e ao couro era praticada por gaúchos, changadores e
nativos, isolados ou em grupos, que vendiam os couros aos
portugueses ou aos corsários ingleses, franceses, holandeses.
Essa região seria a grande pátria do gaúcho platino mais tar-
69
Cf. PINTOS, Anibal Barrios. De las vaqueiras al alambrado. Montevideo: Nue-
vo Mundo, 1967. p. 95.
70
CARDIEL, padre José Cardiel. “Costumbres de los Guaraníes”. Historia del
Paraguay desde 1747 hasta 1767. Trad. Padre Pablo Hernández. Madrid: Ge-
neral de Victoriano Suárez, 1918. p. 483. Apud CESAR, Guilhermino. Origens
da economia gaúcha: o boi e o poder. Porto Alegre: IEL: Corag, 2005. p. 39.
Rincones
A sistematização das operações levara a que a produ-
ção corambrera conhecesse verdadeiro salto de qualidade, de
atividade nômade para prática centrada em locais precisos,
dotados de instalações semipermanentes e permanentes. So-
bretudo na Banda Oriental, era habitual que os corambreros
embretassem grandes manadas de gados selvagens em rin-
cões formados por arroios, rios, lagoas, etc., onde mantinham
estabelecimentos de extração de couro, com ranchos, em geral
de couro, barracões, estaqueaderos e currais. Muitas dessas
regiões terminariam sendo identificadas pelo nome dos fae-
neros que as exploraram habitualmente. “Algunos de estos
faeneros dieran sus nombres propios a los parajes donde rea-
71
Cf. MILLOT; BERTINO, Historia económica del Uruguay, 1991. p. 51.
72
SEPP S.J., padre Antônio. Viagem às missões jesuíticas e trabalhos apostólicos.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo, Edusp, 1980. p. 143.
72 Mário Maestri
lizaban sus vaquerias, tales como los de Vera, Jofré (Cufré),
Toledo, Pando, Maldonado, Rocha, Garzón, Narvaez, Polanco,
Navarro, don Carlos, Pavón, etc.”73
Em História de la ganaderia en el Uruguay (1574-1971),
o historiador argentino Anibal Barrios Pinto lembra que os
portugueses “habían levantado hacia 1694 los primeiro esta-
blecimentos corambreros semipermanentes em la banda sep-
tentrional del Río de la Plata. En total, unos 50 ranchos sobre
el Río del Rosario y otra cantidad similar en Santa Lucía, a
los que resguadaban con sus correspondientes estacadas del
posible ataque de los indígenas o de los animales slevajes.”74
Os índios das Missões organizavam igualmente grandes
vaquerias na Banda Oriental, para recolher gados e couros
para as Missões do Alto Uruguai. Os animais eram também
caçados nas importantes vaquerías del Mar, formadas entre
os rios Jacuí, no atual Rio Grande do Sul, e o rio Negro, no
atual Uruguai. Piratas ingleses, franceses e holandeses de-
sembarcavam também na costa atlântica do atual Uruguai
na busca dos mesmos produtos, como assinalado. A Banda
Oriental seguiu desconhecendo ocupação estável, à exceção
sobretudo da Colônia do Sacramento. Essa realidade come-
çou a ser modificada apenas com a fundação de Montevidéu,
em 1724, e a consequente distribuição de terras na sua re-
dondeza, para a organização de chácaras e estâncias. Porém,
até os anos 1760 as regiões realmente controladas pelos mo-
radores daquele do burgo não excediam “una franja menor
de 100 kilómetros que iba desde el arroyo Maldonado en el
Atlántico hasta el río San Salvador en su desembocadura en
el río Negro”.75
73
CASTELLANOS, Alfredo. Breve historia de la ganaderia en el Uruguay. Mon-
tevideo: Banco de Crédito, 1972. p. 143.
74
PINTO, Anibal Barrios. Historia de la ganaderia en el Uruguay (1574-1971).
Montevideo: Talleres Gráficos de la Comunidad del Sur, 1973. p. 31. CESAR,
Guilhermino. Origens da economia gaúcha: o boi e o poder. Porto Alegre: IEL:
Corag, 2005. p. 67.
75
MILLOT; BERTINO, Historia económica del Uruguay, 1991. p. 24.
76
CASAL. El modo de producción colonial en el Río de la Plata, p. 67.
77
Cf. MILLOT; BERTINO, Historia económica del Uruguay, 1991. p. 27.
78
CASAL, El modo de producción colonial en el Río de la Plata, p. 67
74 Mário Maestri
desses anos, em terras tidas como públicas ou em imensas
propriedades, verdadeiras reservas de gado chimarrão.79
79
Id. ib. 68.
80
Cf. PORTO, Aurélio. História das missões orientais do Uruguai. 2 ed. rev. e
melhor. pelo p. L.G. Jaeger. Porto Alegre: Selbach, 1954. I e II.
81
Cf. SEPP S.J., padre Antônio. Viagem às missões jesuíticas e trabalhos apostó-
licos. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo, EdUSP, 1980. p. 143.
82
Cf. BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos guaranis. Caxias do Sul, Universidade
de Caxias do Sul, Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de
Brindes, Sulina, 1978;
76 Mário Maestri
Em busca do Rio Grande
Na segunda metade do século 17, paulistas, lagunenses,
sacramenteneses, etc., entravam em lanchões pela barra do
rio Grande para trocar cativos, couros, etc. com os nativos e
produzir algum charque nas margens da lagoa. Desde os anos
1720, foram estabelecidas estâncias em Viamão e ao longo do
Estreito – Tramandaí, Osório, Torres, etc. – para apoiar o en-
vio, desde a colônia de Sacramento, sobretudo de mulas, ini-
cialmente, para Laguna, em Santa Catarina, e, a seguir, pelo
“Caminho de Viamão”, através do nordeste do Rio Grande do
Sul. A produção de couros, graxa e sebo foi igualmente prati-
cada pelos primeiros estancieiros. A valorização dos gados da
região esteve entre as razões avançadas na defesa do estabele-
cimento de uma colônia nas margens do rio Grande.
Em 1726, o governador de São Paulo, Rodrigo César de
Meneses, lembrava que uma povoação naquela região permi-
tiria a extração de gado capazes de sustentar todo o Brasil e
que pelo rio Grande podiam “entrar embarcações grandes a
carregar courama para o Reino enquanto se não cultivavam
açúcar e fumo por ser a terra a mais fértil’”.83 No ano seguinte,
Davi Marques escrevia sobre o interesse de ocupar aquela pa-
ragem: “As utilidades que a Fazenda Real pode ter neste pos-
to são o domínio da campanha; o negócio com os catelhanos,
índios tapes e minuano; a courama da campanha; os dízimos
dos lavradores e criadores; [...] o gado e cavalgaduras que po-
derão entrar para toda a capitania de São Paulo, abrindo-se o
caminho para os campos de Caraituva [...]..”84
Em fevereiro de 1737, o brigadeiro José da Silva Pais
(1679-1760) chefiou expedição que, após socorrer Sacramento,
sitiada pelos espanhóis, fundou na margem meridional do rio
83
MONTEIRO, A colônia do Sacramento, p. 291.
84
PEREIRA, Davi Marques. “Relação das vilas da costa do mar do Rio Grande
até a praça de Santos”. A.H.U. Rio de Janeiro, caixa 4 (1726-1727), apud SAN-
TOS. Economia e sociedade do Rio Grande do Sul, p. 15.
85
SANTOS, Economia e sociedade do Rio Grande do Sul, p. 12.
78 Mário Maestri
Em 5 de julho de 1738, Manuel Gomes Pereira relatava
ao governador André Ribeiro Coutinho que o sertanista Cris-
tóvão Pereira de Abreu entregara-lhe sessenta vacas, por 240
réis a cabeça, compradas ao “gentio” minuano, pretendendo
receber dos cofres públicos, por outras, 480 réis, já que esse
seria o preço pago “naquele porto”. O oficial notificava que,
apesar de os minuanos “já se acham alguma coisa retirados
pelo rigor do inverno e por serem” tempos em que realizavam
seus “tupambaés” (coisas religiosas), “nunca de todo deixam
de vir alguns”, trazendo “mais éguas do que cavalos” para
trocá-los por mercadorias.86
No livro de registro dos atos dos primeiros comandantes
militares do presídio do Rio Grande de São Pedro de 1737 a
1753, estão assinalados diversos requerimentos e instruções
administrativas relativas às operações de “fainas de couro” e
“corredorias” de gado. A precocidade do primeiro registro, de
fins de 1737, demarca apenas a normalização de uma ativi-
dade anterior à fundação do presídio. Efetivamente, talvez
em fins de novembro ou inícios de dezembro de 1737, José da
Costa pedia licença para mandar “pessoas” fazer “suas fainas
de couros nestas campanhas” e “corredoria de gado vacum”.
Requeria a facilidade de satisfazer aos “quintos reais” (20%)
diante de “oficial” designado, no momento de “carregar (os
couros) em a sua embarcação ou em outra qualquer”, certa-
mente nas margens da lagoa, para serem transportados “por
esta barra fora”, isto é, pelo porto do rio Grande, para o Rio
de Janeiro.
O pedido devia-se à “descomodidade e prejuízo” decor-
rentes da obrigação de “descarregar as embarcações” na cida-
dela, “depois de estarem” já “abarrotadas”, para a contagem
dos couros. Pedia também que, ao “seguir viagem” para seu
destino, lhe fosse passada “certidão” de pagamento dos quin-
86
Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. v.1. Porto Alegre: IEL/SEC/
DAC, 1977. p. 70
Exigências abusivas
Em inícios de 1738, o licenciado Sebastião Gomes de
Carvalho, em associação com o tenente Antônio Gonçalves,
extraiu oitenta “couros de touros” desde as margens da lagoa
Mirim, transportados para Rio Grande pela “falua real”– bar-
cos de “boca aberta, proa e popa afiladas”, de “dois mastros
e velas latinas triangulares”, usados em rios, lagoas, etc. Se-
bastião de Carvalho protestava junto ao governador, porque o
comissário da expedição lhe cobrava 320 réis pelo transporte
de cada couro, preço que dizia pedirem “embarcações particu-
lares” para levá-los do Rio Grande ao Rio de Janeiro.
Sebastião de Carvalho reclamava, igualmente, que
aquele oficial exigia o pagamento do transporte também so-
bre os couros entregues em pagamento aos quintos reais, nas
margens da lagoa. Em resposta ao pedido de esclarecimento
de André Ribeiro Coutinho, o comissário da expedição res-
pondeu que era prática quintar os couros em Rio Grande e
que se cobrava, tradicionalmente, por aquele transporte, 240
réis por couro de touro. Jurava não ter pedido aquela soma ao
licenciado...88
Por sua vez, Francisco Lopes da Silva e o guarda-mor
Antônio Gonçalves oficiavam propondo terem obtido licença
para mandar, em setembro ou outubro de 1738, canoa para
as margens da lagoa Mirim, de onde voltara “carregadas” de
couro, em meados de dezembro – um “faena” de três a qua-
tro meses, portanto. Pretendendo fazer o mesmo, novamente
87
Id. ib. p. 46.
88
Id. ib. p. 58
80 Mário Maestri
sem se servir do “serviço das embarcação” real, requeriam
que lhes fosse dada livre passagem pelo sargento que gover-
nava aquela guarda. O governador Coutinho acedeu ao pe-
dido, em novembro, lembrando que a canoa não deveria “se
apartar jamais da costa que correr pelas partes das nossas
terras, desde o arroio de Thay (Taím) até a entrada do Rio de
São Miguel”.89
Um bom negócio
Cristóvão Pereira propunha também recolher apenas as
vacas e sugeria que extrairia uma média de um couro de tou-
ro por vaca entregue. Pedia como remuneração o direito de
fazer “courama” dos “touros” que, pela idade, não tivessem
outra serventia do que aquela. Prometia priorizar a retirada
do gado e pagar os quintos correspondentes, respeitando as
vacas e os touros que pudessem ser amansados (como ani-
mais de tração). Caso a proposta fosse aceita, ajustaria os pe-
ões imediatamente, visto ser aquele o tempo “mais próprio”
para a operação, ou seja, o verão, como proposto. Seu pedido
foi deferido sem quaisquer dificuldades, já que, segundo re-
gistrado pelo comandante da povoação, o proposto prestaria
grandes serviços ao rei.92
91
Id. ib. p. 78.
92
Loc. cit.
82 Mário Maestri
Seis meses mais tarde, em 19 de julho de 1739, o coro-
nel oficiava novamente ao comandante Coutinho, afirmando
que os dezesseis “peões castelhanos” conchavados com seus
respectivos cavalos haviam se internado por dezenove dias,
achando apenas “alguns touros”, do gado que afirmara exis-
tir. Requeria, portanto, o direito de courear aqueles animais,
pagando o quinto dos couros e metade do sebo, já que havia
desenbolçado 400 mil-réis em salários com os peões – 25 mil-
réis por cabeça, ou seja, cinquenta vacas, por peão, segundo o
preço exagerado que Coutinho pedira, no ano anterior.
O comandante acedeu ao requerimento, considerando
que “os touros se não” podiam “sujeitar para se domarem” e
estavam “expostos” a serem descaminhados por “passageiros
e estancieiros pelo interesso do couro e sebo”, sem o pagamen-
to do devido ao rei. Os couros deveriam ser quintados em Rio
Grande, carreando o gado e cumprindo a promessa inicial na
medida que pudesse. No frigir dos ovos, toda a operação redu-
ziu-se à concessão excepcional a Cristóvão Pereira do direito
de extrair couros da região em questão, sob o pagamento do
quinto exigido pela lei.93 Em 1817, em sua Corografia brasíli-
ca, o padre Aires de Casal lembrava que os “touros” deveriam
ser mortos para as “coiramas” “de cinco anos para cima”.94
Primeiros lavradores
Um regimento de seiscentos soldados dragões protegia a
nova povoação, seu porto, o litoral. Para povoar os territórios,
chegaram a Rio Grande casais sobretudo de Sacramento e de
Laguna, que se estabeleceram na cidadela e nas terras pró-
ximas distribuídas para os que tinham condição de povoá-las,
sobretudo com cativos africanos. Algumas fazendas e currais
93
Id. ib. p. 105.
94
AIRES de CASAL, padre Manuel. Província do Rio Grande do Sul, ou de São
Pedro. AIRES de CASAL, padre Manuel. Corografia brasílica ou relação histó-
rico-geográfica do Reino do Brasil. São Paulo: Cultura, 1943. Tomo I. p. 95.
95
AIRES de CASAL, padre Manuel. Província do Rio Grande do Sul, ou de
São Pedro. AIRES de CASAL, padre Manuel. Corografia brasílica ou relação
histórico-geográfica do Reino do Brasil. São Paulo: Cultura, 1943. Tomo I.
p. 76-104.
84 Mário Maestri
Em 1718, os “particulares” da Colônia do Sacramento, à
exceção dos casais, apenas chegados, plantaram 46 alqueires
de trigo (635 litros) e colheram 548 (7562 litros) com uma
produtividade média de um para 11.9. Segundo parece, em
1780, a produtividade do grão seria de um para 8,6. Ao menos,
o governador Sebastião Xavier da Câmara afirmava, naquele
ano teriam sido semeados no Rio Grande em torno de sete mil
alqueires de trigo e colhidos uns sessenta mil. Nesse então, o
primeiro centro produtor seria Rio Grande, seguido de Porto
Alegre, do Estreito e de Mostarda. No ano seguinte, teriam
sido plantados 8.982 e colhidos 53.897 alqueires. 96 ou seja,
seis por um, o que daria uma média de uns nove alqueires por
um, se aproximamos os três dados. Porém, em 1694 Francisco
Naper, governador da colônia do Sacramento, propunha que,
naquele ano, o trigo rendera entre quarenta e cinquenta, por
alqueire plantado.97
96
Cf. PIMENTEL, Fortunato. Agricultura e pecuária. Aspectos gerais de Porto
Alegre. Porto Alegre: s.ed., 1945. p. 273. v. 1; SANTOS, Economia e sociedade
do Rio Grande do Sul, p. 93 et seq.
97
MONTEIRO, A colônia do Sacramento, p. 122.
98
CHAVES, José Antônio Gonçalves. Memórias Ecônomo-políticas sobre a admi-
nistração pública do Brasil. 4. ed. São Leopoldo: EdiUnisinos, 2004. p. 235.
99
Cf. SAINT-HILAIRE, Auguste de. (1779-1853). Viagem ao Rio Grande do
Sul: 1820-21. Porto Alegre: Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EdiUSP, 1974.
p. 23 e 207
100
SOARES, Sebastião Ferreira. Notas estatísticas sobre a produção agrícola e
carestia dos gêneros alimentícios no Império do Brasil. Rio de Janeiro: IPEA/
INPES, 1977. p. 175.
86 Mário Maestri
Fazenda chimarrã
O declínio do gado chimarrão levou a que missioneiros,
portugueses e espanhóis organizassem fazendas de criação
animal, destinadas à produção de animais pela carne e, so-
bretudo, pelo couro, graxa e sebo. Em geral, a historiografia
platina denomina essas explorações de fazendas chimarrãs.
No contexto da ampla disponibilidade de terra, restrita quase
apenas pela ameaça nativa e pela defesa dos missioneiros de
suas possessões, o estabelecimento de uma estância dependia
sobretudo da obtenção legal ou de fato de terreno suficiente
para a exploração, de gados para povoá-las e, sobretudo, da
capacidade de contratação ou, principalmente, da compra de
mão-de-obra escravizada.101
Como proposto, o uso necessário da mão-de-obra escra-
vizada devia-se à possibilidade de o trabalhador livre migrar
para a produção independente, em razão da abundância de
terra a ser ocupada, mesmo no contexto do monopólio real
das terras americanas após a expulsão das populações na-
tivas. Essa autonomia relativa, que impedia a formação de
um mercado de trabalho livre dominante, valorizava a força
de trabalho assalariada. Os gados necessários para o início
de uma exploração pastoril provinham dos animais alçados
das próprias terras e da região, caso existissem; de animais
roubados nas vaquerías das Missões; de animais comprados,
etc. Portanto, os principais gastos davam-se com a obtenção,
treinamento e controle da mão-de-obra escravizada, segun-
do parece, nos primeiros tempos, constituída sobretudo por
africanos recém-importados, eventualmente ainda jovens e
muito jovens, realidade sobre a qual possuímos ainda pouca
informação.
101
MAESTRI, Mário. O cativo, o gaúcho e o peão: considerações sobre a fazen-
da pastoril rio-grandense. (1680-1964). MAESTRI Mário. (Org.) O negro e o
gaúcho: Estância e fazendas no Rio Grande do Sul, Uruguai e Brasil. Passo
Fundo: EdiUPF, 2008. pp. 169-271.
Charqueadas
A produção pastoril sulina acelerou-se a partir de 1780,
após o estabelecimento de grandes charqueadas voltadas
para a produção e exportação de couros e carnes secas, o que
valorizou fortemente os gados e ensejou rápida ocupação da
Campanha, da Fronteira, das Missões, dos Campos Neutrais,
do norte da Banda Oriental. Em 1817, na já referida Coro-
grafia brasílica, o padre Aires de Casal registra o domínio in-
conteste da produção charqueadora sobre a economia pastoril
sulina: “Tirada duas porções menores, uma consumida pela
população do país (da província), outra sobre pela província
102
PESAVENTO, S. J. RS: A economia & o poder nos anos 30. Porto Alegre: Mer-
cado Aberto, 1980. p. 17.
103
DAL BOSCO, Setembrino. A Fazenda Pastoril no Rio Grande do Sul - 1780-
1889. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade de Passo Fundo,
2008.
88 Mário Maestri
de São Paulo para os açougues da Metrópole (tropas), o mais
é charqueado (isto é, salgado e seco sem ossos ao sul), e trans-
portado aos principais portos do continente.”104
A singular capacidade de expansão das fazendas sul-
rio-grandenses em relação às propriedades do Prata parece
dever-se à facilidade portuguesa de acesso à mão-de-obra es-
cravizada. Em fins do século 18, inícios do 19, Felix de Azara
e José Artigas tentaram contornar essa dificuldade propon-
do distribuição de terras, na Banda Norte do Uruguai, entre
gaúchos pobres, negros livres, nativos aculturados. No novo
contexto, as práticas da produção pastoril evoluíram relati-
vamente, com a difusão crescente dos rodeios para o amansa-
mento dos rebanhos, marcação e castração dos animais, etc.
Manteve-se o caráter original fortemente extensivo da produ-
ção, com a lotação animal dependendo sobretudo da capacida-
de de sustentação dos campos nativos e das aguadas naturais
das fazendas.
O caráter extensivo da economia pastoril determinava
que a reprodução animal dependesse, como assinalado, das
condições dos campos e climáticas. Era relativamente escassa
a intervenção humana na criação, constituindo-se as proprie-
dades com um número relativamente reduzido de trabalhado-
res, em geral um para de seiscentos a novecentos animais.105
Em 1808, quando a produção saladeira já se estabilizara, o
contratador transmontano Manoel Antônio de Magalhães
registrou que boa parte dos fazendeiros não realizava ainda
rodeios, sistematicamente, em razão das “grandes despesas”
necessárias “em piões (sic) e cavalos”: “[...] há muitas fazen-
das, todas alçadas, e a maior parte dos fazendeiros, ainda os
104
AIRES de CASAL, padre Manuel. Província do Rio Grande do Sul, ou de São
Pedro. AIRES de CASAL, padre Manuel. Corografia brasílica ou relação histó-
rico-geográfica do Reino do Brasil. São Paulo: Cultura, 1943. Tomo I. p. 96.
105
Cf. MAESTRI, Mário. O cativo, o gaúcho e o peão: considerações sobre a fazen-
da pastoril rio-grandense. (1680-1964). MAESTRI, (Org.) O negro e o gaúcho:
Estância e fazendas no Rio Grande do Sul, Uruguai e Brasil. Passo Fundo:
EdiUPF, 2008. p. 169-271.
106
MAGALHÃES, Manoel Antônio. Almanak da vila de Porto Alegre, com refle-
xões sobre o estado da capitania do Rio Grande do Sul;. FREITAS, Décio. O
capitalismo pastoril. Porto Alegre: EST, 1980. p. 79.
107
WILLIMAH, J. C.; PONS, C. P. Historia uruguaya: de la Banda Oriental em la
lucha de los impérios: 1503-1810. Montevideo: Ediciones de La Banda Oriental,
1977. p. 140
90 Mário Maestri
sessenta a oitenta trabalhadores escravizados, ou seja, a força
de trabalho necessária para propriedade de mais de quarenta
mil hectares. Entretanto, as charqueadas contavam-se às de-
zenas, ao passo que os grandes criadores, aos milhares.108
108
EUZÉBIO.
Eduardo R. Palermo*
*
Mestre em História pela Universidade de Passo Fundo, em 2008. Diretor da
revista digital Estudios Históricos. Professor no Centro Regional de Profesores
del Norte.Uruguai.(palermohistoria@gmail.com)
1
SAINT HILAIRE, Auguste. Voyage o Rio Grande do Sul. In: Anales históricos.
Montevideo: Intendencia Municipal de Montevideo,1961, p. 486. Tomo 4.
92 Eduardo R. Palermo
territorios al norte del río Negro y en la frontera con Brasil,
pasaron a ser ocupados por estancieros luso-brasileños en for-
ma rápida y permanente hasta principios del siglo 20. Esos
nuevos estancieros se hicieron de la propiedad de las tierras
por medio de compras legales, de ocupación forzosa y despla-
zamiento de los ocupantes existentes, varios de ellos donata-
rios del reglamento de tierras de 1815, impulsado por Artigas
desde Purificación, capital política de la Provincia Oriental,
hasta 1819, cuando fue abandonada. El gobierno Cisplatino
al mando de Lecor, veía con agrado la brasilerización de los
territorios norteños, espacio poblado por grandes manadas
de ganado cimarrón y pocos propietarios. Una motivación
adicional lo configuraba el tratado de La Farola, firmado en
1817 entre el Cabildo de Montevideo y Lecor, por el cuál las
autoridades orientales cambiaron los territorios al norte del
Arapey por la construcción de un faro en la isla de Flores, el
cuál mejoraría el acceso al puerto capitalino. La apropiación
del territorio Oriental fue rápida y concebida con carácter de
definitiva. Los historiadores uruguayos Sala, De la Torre y
Rodríguez sostienen: “[...] los portugueses [sic] venían a que-
darse. Venían a finalizar el viejo proyecto de expansión hasta
las aguas del Plata […] fines económicos que atendía sobre
todo a absorber la producción ganadera y saladeril en benefi-
cio de los consumos de su esclavatura y de la expansión de los
grandes ganaderos y saladeristas riograndenses.”2 En 1822
y 1823, se verifica en los campos del actual departamento de
Artigas, la donación de 35 sesmarías a soldados y oficiales de
las tropas portuguesas al mando de José de Abreu, incluido
el propio oficial.3
2
SALA DE TOURON, DE LA TORRE y RODRÍGUEZ. Después de Artigas.
(1820-1836). Montevideo. EPU. 1972.
3
PEDRON, Olga. Departamento de Artigas, esbozo histórico. Artigas, Ed. Del
autor. 1990. Figura la lista completa de los donatarios.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 93
La población esclavizada según
el censo cisplatino
Un nuevo instrumento de control fue ideado para de-
terminar la presencia de propietarios e intrusos en todo el
país: el censo de población en cada jurisdicción. Las circula-
res ordenando su realización se publicaron en septiembre de
1821. Lamentablemente en pocos lugares fueron realizados
y la información de la que disponemos en la actualidad es
fragmentaria.
Los datos censales fueron relevados entre 1822 y 1824.
Al norte del río Negro se conocen los censos de Cerro Largo,
fragmentos del de Paysandú y los correspondientes a Tacua-
rembó. De su análisis se desprende una importante presencia
de africanos y afrodescendientes esclavizados que, en térmi-
nos porcentuales y con respecto a la totalidad de la población
del país, marcan una nítida diferencia en relación a Montevi-
deo, aunque en números absolutos, esa tuviese una población
de esclavizados muy superior.
Si bien los censos adolecen de defectos en la recolección
de datos, debido a las imprecisión de recolección y al oculta-
miento de información por parte de los encuestados – existía
el temor de revelar la verdad debido a posibles cargas impo-
sitivas o contribuciones para sustentar el ejército –, ellos per-
miten aproximarnos a una realidad bastante diferente de la
que se ha proyectado al presente. Es interesante anotar que
en 1840, por ejemplo, se realizó un censo de población en el
distrito de Cuñapirú – Corrales, departamento de Tacuarem-
bó – fue uno de los tantos en los cuales el Juez de Paz debió
realizar dos veces el registro pues en la primera instancia se
ocultaron el número de agregados y peones. La segunda vez,
el número total de pobladores se duplicó, por lo cuál el Juez
adoptó como criterio aumentar en un 30 % todos los núme-
ros. Es posible pensar que en los datos relevados entre 1822 y
1824 hayan ocurrido situaciones similares.4
4
AGN. Fondo Ministerio de Gobierno. Caja 927. Año 1840. Cf. BARRIOS PIN-
TOS, Aníbal. Rivera, una historia diferente. Montevideo: MEC, 1985. p. 48-49.
94 Eduardo R. Palermo
Paysandú en 1824
Hasta 1837, todo el territorio al norte del río Negro cor-
respondía al departamento de Paysandú. En diciembre de
1823, los vecinos de Paysandú remitieron a Lecor una nota
donde hacían constar los progresos en el área económica y so-
cial del departamento. Para ello, enviaban los resultados del
censo y solicitaban que se creara un Cabildo y se elevara la
población a la categoría de villa.5 Interesa destacar que sien-
do Paysandú el principal puerto y centro poblado sobre el río
Uruguay medio, el distrito de “entre río Negro y Tacuarem-
bó” fuese el más poblado, ya que allí no existían pueblos. Por
otro lado, el número de habitantes registrados a diciembre
de 1823 es prácticamente el mismo censado en 1824, cuyos
números exponemos a continuación.
5
BARRIOS PINTOS, Aníbal. Paysandú en escorzo histórico. Paysandú: Inten-
dencia Municipal de Paysandú, 1979, p. 105.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 95
Paysandú es descripta por José Brito del Pino, en 1826,
como poseyendo de cinco a seis cuadras de ancho y unas nue-
va a diez de largo [cincuenta hectáreas] situadas en el declive
de una cuchilla que cae hacia el Río Uruguay. Podemos su-
poner que sus casas fuesen de madera, barro y techo de paja,
algunas con paredes de piedra, especialmente las pulperías,
que eran muy numerosas, 39 hacia 1821 y 20, en 1825.6 Junto
a Salto y Belén, eran las únicas poblaciones estables al norte
del río Negro, todas sobre el río Uruguay, por lo cual el resto
del territorio era un enorme espacio que se prolongaba hasta
la región misionera.
En un censo, probablemente de 1823, en la villa de Pay-
sandú exclusivamente, se registraba un 9 % de trabajadores
esclavizados, mientras que, en uno de los distritos de cam-
paña, el “partido de Salsipuedes, arroyo Malo - Cardozo y Ta-
cuarembó chico”, el porcentaje era de 22,4%.7 En otro censo
de la villa, ahora de 1827, el porcentaje de cautivos había
descendido al 4 %. Los trabajadores esclavizados y morenos
libres eran en su mayoría originarios de Guinea y Angola, así
como del territorio oriental y brasileños, muchos denomina-
dos como pardos figuran como oriundos del Paraguay.8
Disponemos de un censo de 1822, del partido de “Cua-
dras”, departamento de Paysandú – correspondería al distri-
to de Arroyo Malo –Tacuarembó del cuadro Nº 1, realizado por
Hilario Pintos, ex-teniente de las tropas artiguistas y nom-
brado Alcalde territorial por Lecor. Del censo de los distritos
1 y 2 se desprende el siguiente resumen:9
6
BARRIOS PINTOS, Aníbal. Paysandú en escorzo histórico. Ob. cit. p.103-110.
7
AGN. AGA. Padrones de Paysandú. Libro 277.
8
Ibíd. Libro 277.
9
Padrón del Partido de Quadras levantado por Hilario Pintos al 16 de abril de
1822. AGN. Montevideo. Libro de Padrones Nº 273.
96 Eduardo R. Palermo
Cuadro 2 – Resumen general de los datos estadísticos del partido de
Cuadras. 1822
Niños Niños
peones esclavos esclavas caballos ganados Poblaciones
varones mujeres
99 108 127 90 42 2624 9993 145
Fuente: Padrón del Partido de Quadras -16 de abril de 1822. AGN.Libro de Padrones Nº 273.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 97
con una estancia de 39 mil hectáreas, veinte peones y 18 mil
reses, lo que daría un promedio de novecientos animales por
trabajador.10 El número elevado de esclavizados varones pue-
de indicar su empleo en otras actividades, especialmente si
las estancias estaban organizándose, construyendo corrales,
cercos de piedra, plantaciones y otros.
10
MAESTRI, Mário. O cativo, o gaúcho e o peão: considerações sobre a fazenda
pastoril rio-grandense (1680-1964). En: MAESTRI, Mário (Org.) O negro e o
gaúcho: estâncias e fazendas no Rio Grande do Sul, Uruguay e Brasil. Passo
Fundo: UPF Editora, 2008, p. 205-208.
11
Cf. BARRIOS PINTOS, Aníbal. Rivera en el ayer: de la crónica a la historia.
Minas: Gráfica Berchessi, 1963, p. 73-80.
12
Archivo General de la Nación – Ex Archivo General Administrativo. Caja 603.
Carpeta 8. 1824.
98 Eduardo R. Palermo
Cuadro 3 – Padrón distrito 1- Entre río Tacuarembó y Corrales
Unidades Hombres Mujeres Hijos Dependientes- Esclavos Total
censales (propietarios) Agregados
43 40 38 179 14 128 399
Fuente: Hojas censales del Padrón de entre ríos Taquarimbo y Corrales. AGN. AGA. Caja 603.
Carpeta 8. Datos elaborados por el autor.
13
BARRIOS PINTOS, Aníbal. Ob. cit. p. 25.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 99
Cuadro 4 – Padrón distrito 2- Entre ríos Yaguarí y Corrales
Unidades Hombres Dependientes-
Mujeres Hijos Esclavos Total
censales (propietarios) Agregados
30 30 26 107 149 123 435
Fuente: Hojas censales del Padrón de entre ríos Yaguarí y Corrales. AGN. AGA. Caja 603.
Carpeta 8. Datos elaborados por el autor.
15
Datos aportados por la historiadora Dra. Ester Gutierres. Pelotas. 2006.
16
BARRIOS PINTOS, Aníbal. Rivera en el ayer. Ob.cit. p. 40.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 101
tancia de Buena Vista, Caraguatá el 3 de marzo de 1824 y lo
firma Valentín Sáenz.
17
MICHOELSSON, Omar. Los tiempos de la esclavitud. En: Semanario Batoví,
Tacuarembó, 29 de octubre de 1999, p. 3.
18
Cf. GANELLO, Humberto. Historia de Cerro Largo, 1791-1801. Montevideo:
Instituto de Estudios Genealógicos, 2002.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 103
Censo de Cerro Largo en 1824
A pesar de la derrota artiguista y de los problemas sus-
citados por las disputas territoriales durante la administra-
ción de Lecor, la dominación portuguesa fue un período de
relativa tranquilidad, que permitió cierto progreso económico.
Manuel Rollano, hispano-criollo, consustanciado con el nuevo
régimen, fue nombrado Alcalde de Melo en 1822. En julio de
1824, redactó un informe al gobierno detallando la población
del departamento por distritos, siendo la población total de
3.773 personas, distribuída en 395 hogares, con 2436 “blan-
cos” y 1336 “negros”. Evidencian esos números un porcentaje
elevado de esclavizados, 35 %, similar al que se observa en
los distritos de Tacuarembó. Desde el punto de vista de la dis-
tribución por zonas, el censo discrimina siete distritos, agru-
pando los datos por “fuegos” (hogares), el número de personas
blancas y negras, distinguidas por sexo y los totales de cada
uno. Hemos ordenado los distritos de acuerdo al número de
trabajadores esclavizados.19
El distrito 4, entre los ríos Tacuarí, Yaguarón y Chuy, es
donde se registra el mayor número de esclavizados, en una po-
blación total de 1106 personas con 104 unidades censales, los
esclavizados son 430 lo que representa el 39 %, de los cuáles
303 eran hombres y 127 mujeres, representando un promedio
de mas de cuatro “esclavos” por familia. Le sigue el distrito
3, entre los ríos Yaguarón, Negro y cañada de Aceguá, con
una población de 871 personas distribuidos en 85 unidades
censales, siendo 323 los esclavizados, representando un 37%
de la población, de los cuales 217 eran hombres y 106 mujeres,
siendo el promedio de esclavizados por familia de cuatro.
19
Archivo General de la Nación, A.G.A. Libro Nº 273: padrones de Tacuarembó y
Cerro Largo: 1822-1836.; AGN. AGA. Documentos de Cerro Largo-1822-1824.
Cf. GIL, Germán. Ensayo para una historia de Cerro Largo. Montevideo: Im-
prenta del Palacio Legislativo, 1982, p. 91-92.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 105
blación total, el principal agrupamiento del territorio Cispla-
tino. Si nos atenemos a las cifras desprendidas de los censos
de Paysandú y Tacuarembó, se declararon la existencia de
más de quinientos esclavizados, que sumados a la cifra de
Cerro Largo, llegaría a casi dos mil, número que representa
casi un tercio de la población regional.
La población real debió ser bastante más numerosa, en
función del aporte permanente de nuevos propietarios bra-
sileños con sus esclavizados y del número indeterminado de
ocupantes de los campos, denominados intrusos, entre quie-
nes se encontraban numerosas familias de guaraníes-misio-
neros, instaladas en los campos de las antiguas estancias
jesuitas y que, en muchos casos, eran la mano de obra libre
utilizada en las diversas tareas agropecuarias. La parroquia
de San Benito de Palermo en Paysandú y la de San Fructuoso
de Tacuarembó, registran numerosos matrimonios y bautis-
mos de guaraníes-misioneros y de Charrúas cristianizados.20
El número de cautivos, alrededor de dos mil, es importante si
lo comparamos con lo citado por el historiador riograndense
Mario Maestri, en O escravo no Rio Grande do Sul: trabalho,
resistencia, sociedade”, para las estancias de Alegrete, donde
afirma, que en 1859, “de 391 estâncias de Alegrete, aponta-
vam 124 capatazes, 159 peões livres e 527 cativos. Números
significativos, mesmo considerando que os proprietários e fa-
miliares não se encontram arrolado no cômputo.”21 A este res-
pecto el historiador riograndense Farinatti, sostiene que “os
grandes estancieiros tinham plantéis onde os escravos cam-
peiros eram os mais numerosos. Ainda que a pecuária a cam-
po aberto exigisse muito menos braços do que, por exemplo,
as atividades da grande lavoura, esses ‘poucos’ trabalhadores
20
Cf.GONZALEZ RISSOTO, Rodolfo- RODRIGUEZ VARESSE, Susana. Contri-
bución al estudio de la influencia guaraní en la formación de la sociedad uru-
guaya. Montevideo: Imp.Nacional, 1982, Revista Histórica, Nº 54 (160-162).
21
MAESTRI, Mário. O escravo no Rio Grande do Sul, trabalho, resistência e so-
ciedade. 3era.Ed. Porto Alegre:Ed.UFRGS, 2006, p. 69.
22
FARINATTI, Luis. Escravidão e Pecuária na Fronteira Sul do Brasil: primeiras
notas de pesquisa – Alegrete, 1831-1850. En: II Encontro de Pós-Graduação
em História Econômica, promovido pela ABPHEN, Niterói (RJ), de 05 a 07 de
setembro de 2004. Edición en CD-ROM.
23
“Censos do RS: 1803 – 1950”. Secretaria de Coordenação e Planejamento.Porto
Alegre:1986.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 107
Chile y Perú, desde 1791, los números, aún siendo parciales,
pueden resumirse de la forma presentada en el Cuadro Nº 7.
24
DEMASI, Carlos. Familia y esclavitud en el Montevideo del siglo XVIII. En:
BEHARES, Luis, CURES, O. (Org.) Sociedad y cultura en el Montevideo colo-
nial. Montevideo: UDELAR-FHCE, 1997, p. 55-70.
Trabajadores esclavizados en la
campaña oriental
La sociedad mercantil oriental necesitaba de la mano de
obra esclavizada para sostener la estructura productiva. Las
historiadoras uruguayas Sala y Alonso afirman que: “Escla-
vos y libertos constituyeron una muy elevada proporción de
la fuerza de trabajo […] En las estancias coexistían el trabajo
de los esclavos que realizaban tareas pesadas, pero no riesgo-
sas, con el de peones, agregados, puesteros, etc.”, y también,
coexistía con el trabajo de los propietarios de las estancias, en
25
DAL BOSCO, Setembrino. Estancias das regioes de Rio Pardo, Bege e Vacaria
(1819-1889).En: MAESTRI, Mario, ORTIZ, Helen. (Org.) Grilhão negro: En-
saios sobre escravidão colonial no Brasil. Passo Fundo: EdiPUF, 2009. p. 323.
Coleção Malungo.16.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 109
especial los pequeños y medianos.26 En las zonas rurales, la
coerción extraeconómica aplicada a la fuerza de trabajo su-
pondría, en pocos casos, la generación de trabajo asalariado,
siendo más común que la retribución se diera “en la cuenta”
de la pulpería de la estancia, que pertenecía al patrón o a un
asociado a tales efectos. De tal forma, los peones cambiaban
su trabajo por mercaderías, ropa, aguardiente o tabaco. Todos
los residentes dentro de la propiedad generaban renta en tra-
bajo – capataces, peones, agregados, ocupantes autorizados,
puesteros, esclavizados.
En “Trabajo y vida cotidiana de los africanos de Buenos
Aires, 1750-1850”, las historiadoras argentinas Goldberg y
Mallo concluyen que el trabajo de los africanos esclavizados
en las estancias y zonas rurales fue mucho mas importan-
te que lo asignado por la historiografía rioplatense. Afirman:
“[...] la cuestión de la mano de obra en la estancia bonaerense
[…] poniendo énfasis en la mano de obra obtenida principal-
mente a través de la coacción extraeconómica (que) giraba
(entorno) de la papeleta de conchabo o la calificación de vago
y malentretenido […] tenía el objeto de disciplinar a la escasa
mano de obra.”27 Las autoras sostienen que las necesidades
mínimas de consumo del hombre de campo estaban en gene-
ral satisfechas en la propia campaña, por tanto la coacción
económica no era un factor relevante para que trabajara, so-
bretodo a bajo precio. Obligarlo a trabajar ante la posibilidad
de ser incluido en el ejército en forma compulsiva, tampoco
era un factor convincente pues bastaba adentrarse en los ter-
ritorios de la frontera o “de indios” para mantenerse a salvo
de la leva. En O cativo, o gaúcho e o peão: considerações sobre
26
SALA, Lucía; ALONSO, Rosa. El Uruguay comercial, pastoril y caudillesco.
Sociedad, política e ideología. Montevideo: Banda Oriental, 1991, p. 58, Tomo
II.
27
GOLBERG, Marta; MALLO, Silvia. Trabajo y vida cotidiana de los africanos
de Buenos Aires-1750-1850. p. 34. En: PALERMO, Eduardo (Org.) Diplomado
en Historia regional de los afrodescendientes. Instituto Superior de Formación
Afro-Rivera. Edición en CD. Abril de 2006- Rivera, Uruguay.
28
Cf. MAESTRI, Mário. “O cativo, o gaúcho e o peão: considerações sobre a fa-
zenda pastoril rio-grandense (1680-1964)”. MAESTRI, Mário (Org.). O negro e
o gaúcho [...]. p. 169-271.
29
Ibíd. p. 35
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 111
doras, hacia el río Yí, en el actual departamento de Duraz-
no, donde se fundaba, en marzo de 1833, la población de San
Borja del Yí. Ese traslado de población disminuyó aún más
el número de trabajadores libres y de mujeres disponibles en
la zona. La escasez de mano de obra provocaba un aumento
considerable del salario y en muchos casos no fue posible ob-
tener trabajadores. En territorios tan vastos y poco poblados,
las medidas coercitivas y policiales contra vagos y gauchos
tenían alcances limitados y puntuales.
Desde el Estado uruguayo se promovió el ingreso de in-
migrantes durante el restante del siglo 19 con diferentes me-
didas, entre ellas, el impulso a los planes de ingreso de colo-
nos favorecidos por el gobierno y empresarios privados desde
1830. Esto incluyó el transporte de esclavizados africanos y
del Brasil en forma legal e ilegal hasta mediados de siglo. La
realidad fue diferente en el norte del territorio y en la zona de
frontera con Brasil, ya que los planes de colonización agrícola
fracasaron. Las poblaciones urbanas de Tacuarembó (1832)
y Melo (1792) crecieron demográficamente manteniendo un
neto predominio de la migración brasileña. Son ilustrativos
los libros de matrimonios y bautismos de las parroquias de
dichas poblaciones en el período 1830-1870, donde la mayoría
de los matrimonios relacionan a luso-brasileños con mujeres
nativas de la zona o el bautismo de hijos de matrimonios entre
brasileños provenientes de diferentes lugares y registrados
como “vecinos afincados”. Un número muy significativo de di-
chos matrimonios registra a lo largo de los años el nacimien-
to de hijos de sus “esclavas” o aún el bautismo de “esclavos”
adultos “traídos recientemente” de las costas de África como
en 1847 en Tacuarembó. La investigadora uruguaya Raquel
Pollero, estudiando los matrimonios y la composición demo-
gráfica de Tacuarembó, determina que, en el período 1838-
1870, hay un neto predominio demográfico brasileño, que va
desde un 87,8% a un 59,7% al final de dicho período, por otro
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 113
negreros. Esta medida se hace extensiva a todos los puntos
del territorio oriental, prohibiéndose el ingreso de cautivos
ya sea bajo la forma de esclavos o de colonos africanos.33 La
iniciativa confrontaba con los intereses de los esclavistas y
particularmente con los estancieros riograndenses instalados
en la frontera que sintieron amenazados sus derechos como
“propietarios”. Aunque la ley prescribía claramente el tráfi-
co, en los archivos parroquiales de Cerro Largo, se siguieron
bautizando trabajadores esclavizados provenientes de África
y Brasil. En mayo de 1837, el presidente Oribe promulgaba
una ley abolicionista que si bien era incompleta en su alcance,
configuraba un antecedente legislativo directo a las leyes que
se aprobaran en la década siguiente. La ley establecía que los
“negros que sean introducidos en la República desde la pro-
mulgación de esta Ley […] son libres de hecho y de derecho.” 34
Una abolición completa, como sería promovida en 1846, sería
rechazada por los sectores dominantes, empresarios, comer-
ciantes y estancieros que utilizaban intensivamente la mano
de obra esclavizada para realizar sus actividades.
33
PELFORT, Jorge. A 150 años de la abolición de la esclavitud [...]. Ob. cit.,
p. 31
34
Ibíd. p. 34.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 115
En este distrito, el 58 % de las familias poseían trabaja-
dores esclavizados, en promedio: 3,5 cautivos por unidad cen-
sal. Los esclavizados representaban el 29,4 % de la población
del distrito. Como ejemplo, podemos citar el caso de Manuel
Grillo, que poseía una estancia con un mayordomo, dos peo-
nes, dos agregados y cuatro esclavizados; una chacra con un
capataz, un agregado y un cautivo, una estancia nueva con
un capataz y dos cautivos y un puesto de estancia con un ca-
pataz y un cautivo. Esta unidad censal nos permite constatar
como la propiedad de la tierra se sustentaba ubicando en ella
un mínimo de personal fijo para registrar su presencia y la
importancia de los trabajadores esclavizados. Este mismo ha-
cendado bautizó en junio de ese año cuatro africanos adultos
en San Servando, hoy ciudad de Río Branco.35
El padrón del partido de Olimar fue levantado por el
brasileño Simão de Brum e Silva, el 15 de mayo de 1836, re-
sultando que el 49 % de las familias poseían esclavizados, con
un promedio de 4,5 trabajadores por cada una y los cautivos
eran el 26,64 % del total de la población.
35
Libro de Bautismo anexo. Año 1836- San Servando- Cerro Largo. Actas del 7 y
8 de junio de 1836.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 117
Entre los estancieros con cautivos sobresalen Eduardo
Pires, con siete esclavizados varones, donde se incluyen tres
niños de 10, 11 y 12 años, esto confirmaría la temprana in-
clusión en las tareas de la estancia; Buena Ventura Senteno,
figura con ocho esclavizados, todos varones, con un promedio
de edad de 23 años y Antonio Bentes, con cinco esclavizados
varones con un promedio de 20 años, cabe resaltar la baja
presencia de trabajadoras esclavizadas.
El siguiente padrón es el de Cordobés y Tupambaé, tam-
bién allí, el redactor escribe en portuñol. Los datos censales
determinan la existencia 592 pobladores en 39 unidades cen-
sales con 138 esclavizados. Los trabajadores esclavizados se
discriminaban en 97 varones – 70,3 % − y 41 mujeres 29,7 %
del total, con una relación de 2,36 varones por cada esclaviza-
da. El 72 % de las familias poseían cautivos, con un promedio
de cinco esclavizados por unidad censal. Algunos estancieros
poseían elevado número de trabajadores esclavizados, como
Marco José de Leiva, con quince, José Cardoso de Brum con
catorce, Marco Aleman con diez y Faustino Dias de Oliveira
con ocho cautivos. Todos ellos hacendados de origen brasileño
y nuevamente con bajo número de trabajadoras esclavizadas.
Finalmente, el padrón del distrito de Molles, realizado
por Gregorio Cardozo y datado el 10 de mayo de 1836, con
483 pobladores, 57 unidades censales y 81 cautivos. El 49,2 %
de las familias poseían esclavizados, con un promedio de 2,9
esclavizados por unidad censal. También figuraban 28 agre-
gados y cinco peones.
El censo de población de Cerro Largo de 1836 arrojó un
total de 4.631 pobladores, entre los cuáles se registraron 567
trabajadores esclavizados, ya que algunos padrones como
citamos no estaban completos. Restando los padrones sin
información sobre los esclavizados, obtenemos que ellos re-
presentan el 23,5 % de la población, cifra que seguramente
aumentaría si los padrones de la villa de Melo y del distri-
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 119
apoyo de la sociedad oriental participe de la dominación luso-
brasileña. La Constitución del nuevo país reconoció el dere-
cho al voto electivo a una minoría de la población, ilustrada y
con poder económico, negándoselo a mujeres, soldados, anal-
fabetos, asalariados, jornaleros y esclavizados. Del grupo oli-
gárquico que había participado en la dominación Cisplatina
surgieron los Ministros del nuevo gobierno y la mayoría de
los Diputados y Senadores electos.36
Durante el gobierno de Rivera (1830-1834) se multipli-
caron las donaciones de estancias en campos fiscales del Nor-
te del país, a familias brasileñas. La historiadora artiguense
Olga Pedrón traza un cuadro de las donaciones de tierras au-
torizadas por Rivera, entre 1831 y 1834, siendo 36 los bene-
ficiarios y en todos los casos a riograndenses, entre quienes
figuran: los Coroneles Jose Rodrigues Barbosa, Jose Antonio
Martines, Bonifacio Isas, el Mayor Custodio Mendes y tambi-
én Manuel Luis Osorio, Fernando Camargo, Manuel Chara y
sigue la lista.37
Fue evidente la alianza entre los estancieros al Norte del
Río Negro y el gobierno, para aniquilar a las tribus Charrúas
que permanecían en esos campos, cuyo episodio final será la
campaña militar de 1831 emprendida contra ellos. Algunos
de los estancieros brasileños, como Rodrigues Barbosa y Da-
vid Silva, apoyarán esas acciones con milicias y aún entrando
en combate directo con los Charrúas.38
Manuel Oribe – uno de los líderes de la rebelión armada
contra la Cisplatina – asume como nuevo presidente en 1835,
no promoviendo sustanciales cambios en los temas territoria-
les, pero si en la gestión del Estado, en la administración de
36
CASTELLANOS, Alfredo. La Cisplatina, la independencia y la república
caudillesca.1820-1838. Montevideo. E.B.O. 1982.
37
Cf. PEDRÓN, Olga: Departamento de Artigas, esbozo histórico. Artigas, Ed. Del
autor. 1990.
38
PALERMO, Eduardo. La masacre de Salsipuedes y los conflictos por la posesión
de la tierra. En: Diario Jornada, junio de 2009, Rivera-Uruguay. Cf: ACOSTA
Y LARA, Eduardo. El país Charrúa. Montevideo. El País.2002.
39
Cf. FLORES, Moacyr. Negros na Revolução Farroupilha: traição em Porongos
e farsa em Ponche Verde. Porto Alegre: EST, 2004.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 121
provocaría adicionalmente, del otro lado de la frontera, un
mayor número fugas de esclavizados hacia territorio oriental,
la mayoría de los cuáles serían enrolados en el ejército de
línea y reclamados por sus “propietarios” desde Brasil. Tal
situación se agravaría con la prohibición del tráfico negrero
internacional en 185040 y provocaría, a partir de 1851, en ter-
ritorio oriental, una verdadera “cacería” de afrodescendientes
para ser vendidos en Brasil.41 A las medidas abolicionistas
se sumó la prohibición del comercio de ganado en pie y las
reiteradas denuncias de persecuciones a personas y capitales
brasileños, realizadas ante el gobierno imperial por los ha-
cendados fronterizos, que motivaron finalmente, la interven-
ción del Imperio del Brasil, en la guerra, a favor del gobier-
no de Montevideo. Algunos estancieros como Souza Netto y
Pedro de Abreu, Barão de Jacuí (“Moringue”), decidieron en-
frentar las medidas del gobierno, iniciando acciones políticas,
frente al gobierno de Río de Janeiro, y militares, las famosas
“californias” que contaba con el apoyo y la protección de los
comandantes fronterizos, como David Canabarro. Abreu con-
vocaba a sus coterráneos “para desta arte salvarmos a Honra
Nacional, e as nossas propriedades extorquidas, e creio que
não sereis indiferentes a esse sagrado dever.”42
La intervención brasileña puso fin al largo conflicto fa-
voreciendo los intereses del grupo oligárquico montevideano.
La crisis económica, la falta de fondos en el erario público y
la predominancia demográfica y política de los extranjeros
en la ciudad favorecieron la firma de los Tratados de 1851,
40
Cf.CONRAD, Robert E. Tumbeiros: o tráfico escravista para o Brasil. São Pau-
lo: Brasiliense, 1985; CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no
Brasil: 1850-1888. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília, INL, 1975.
41
PALERMO, Eduardo. Secuestro y tráfico de esclavos en la frontera uruguaya.
En: Revista digital Tema Livre. Nº 13. Mayo de 2009. Río de Janeiro. http://
www.revistatemalivre.com
42
BARCELLOS, César Augusto. O Rio Grande de São Pedro e o prata na primei-
ra metade do século XIX (1811-1851). Rio de Janeiro. Tesis de Doutoramento.
UFRJ (mimeo), 1998.
43
BLEIL, S. & PEREIRA PRADO, F. Brasileiros na fronteira uruguaia:economia
e política no século XIX. In: Simposio fronteras en el espacio platino. Segundas
Jornadas de Historia Económica. Montevideo.CD. 1999
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 123
didas, tudo, até o outro lado do Rio Negro, tudo senhores, até
a terra, é brasileiro”.44 Un censo de propietarios brasileños
realizado en 1850 por los Comandante de Frontera brasileños,
confirma lo expresado por el diputado Silva Ferraz: en fron-
tera del Chuy – 35 hacendados con 342 leguas cuadradas;
154 propietarios en Cerro Largo y Treinta y Tres; en Arapey
Grande y Chico, cuchilla de Haedo y Cuareim, 281 propieta-
rios, en Cerro Blancos, distrito de Tacuarembo, 87 propieta-
rios con 331 leguas.45 La lista general reveló la existencia de
1181 propietarios que sumaba 3.403 leguas de campo – es de-
cir más de 9 millones de hectáreas pobladas que alimentaban
los saladeros riograndenses.
Continúa la esclavización de
trabajadores en la frontera oriental –
1850-1880
Las leyes uruguayas continuaron prohibiendo la intro-
ducción de esclavos en el territorio, pero autorizaron el sis-
tema de “contratos de peonaje”, como forma de “compensar”
las pérdidas sufridas por los estancieros brasileños durante
el período oribista. Esos contratos se realizaban con una du-
ración promedio de 15 a 20 años, fijándose un salario anual
que representaba menos de la mitad de lo que se pagaba a los
peones libres, situación que provocó protestas de los hacenda-
dos al Sur del río Negro.
En 1857, en Río de Janeiro, Andrés Lamas se dirigía
a Silva Paranhos, afirmando que los hacendados brasileños
introducían “esclavos” en territorio uruguayo por medio de
contratos de peonaje, que se extendían hasta por 30 años,
44
GOBBI SETTI, Ana Luiza. A diplomacia marginal: Vinculações politícas entre
o Rio Grande do Sul e Uruguai (1893-1904). Passo Fundo: Editora UPF,1999.
p. 83.
45
COSTA FRANCO, Sergio da. Gentes e coisas da fronteira sul. Ensaios históri-
cos. Porto Alegre, Sulina, 2001.p.13-14.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 125
dente Berro solicitó al Jefe Político de Cerro Largo, un informe
al respecto. Hemos estudiado ese documento que se compone
de 183 contratos realizados entre 1850 y 1860. El 65 % de los
mismos se concentran entre 1853 y 1856. La edad promedio
de los contratados es de 25 años; los extremos etáreos son 66
años y 2 años. Se constata una marcada masculinización: 72
%; la mayoría de los contratados están en la faja de los 18 a
49 años, siendo el 64.5%, mientras que los adolescentes repre-
sentan el 13 %.48 Entre los contratados, figuran niños de 2, 3,
4 y 6 años, con plazos de 20 a 22 años de extensión, valorados
en mil patacones, es decir nueve contos y 600 mil-réis. La fi-
nalización de los contratos, en los casos extremos, se situaban
entre 1895 y 1900! Otro informe similar al citado es redacta-
do por el Jefe Político de Tacuarembó en 1861.
Este sistema de contratos fue discutido y condenado en
el parlamento uruguayo, pero no fue abolido. En 1862, el Pre-
sidente Berro prohibió la celebración de contratos de trabajo
por más de seis años, sin embargo los sucesos políticos de
1863 – invasión de Venancio Flores para derrocar el gobierno
Berro, con el apoyo de los hacendados riograndenses – y las
vinculaciones del nuevo gobierno uruguayo con Flores a la
cabeza, con los países vecinos, que culminará en la guerra
contra Paraguay, hicieron que la medida restrictiva quedara
en suspenso. El historiador brasileño Sergio da Costa Franco
afirma que “entre as queixas dos fazendeiros brasileiros, de
que foi Antonio de Souza Netto o principal porta-voz, contra o
governo blanco, en 1863/64, o favorecimento a fuga de escra-
vos era uma das principais”.49
48
MHN. Archivo del Cnel. José Gabriel Palomeque. Jefatura Política del departa-
mento de Cerro Largo. Tomo III. 1860-1861. T.353.- Ver: BORUCKI, A., Chagas,
K., Stalla, N. Esclavitud y trabajo entre la guerra y la paz. Una aproximación al
estudio de los morenos y pardos en la frontera del Estado oriental (1835-1855).
Montevideo: Ed. Pulmón, 2004.
49
COSTA FRANCO, Sergio da. Ob. Cit. p.16
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 127
(más Artigas) el 60 % de la población era brasileña, mientras
que en Cerro Largo (más Treinta y Tres) eran el 40 %.52 En
el período 1852-1885 la tendencia del valor de la hectárea de
campo en los departamentos fronterizos del Norte uruguayo
siempre fue inferior al promedio nacional y notoriamente in-
ferior con respecto a las tierras del litoral del río Uruguay y el
Sur de ese país.53 En 1861 el valor de un vacuno era de 4,40
pesos, y la hectárea de campo promedio en los departamentos
de frontera era de 2,66 pesos, una estancia ovejera con cons-
trucciones y demás valoraba la hectárea de campo en seis pe-
sos. En 1885 un vacuno se cotizaba a cinco pesos y la hectárea
de tierra en la frontera valía en promedio 4,98 pesos.54 En la
década de 1860, el salario de un peón se situaba entre diez y
doce pesos en el Sur de Uruguay, en la región Norte denuncia-
ban el pago de salarios inferiores a seis pesos, explicitándose
que esos sueldos eran producto de la esclavización de los tra-
bajadores.55 Si tomamos los contratos de peonaje menciona-
dos anteriormente, obtenemos que los valores medios fueron
de 17 años de duración y 687 patacones, lo que representa,
apenas como referencia, un salario mensual de 3,36 pesos por
mes. En los contratos cuyo texto completo hemos ubicado, el
valor medio era de cincuenta patacones anuales, es decir, 4,16
pesos por mes de salario.
El análisis de los datos estadísticos de 1880, para los
departamentos de Salto (incluye Artigas), Tacuarembó (Ri-
vera) y Cerro Largo (Treinta y Tres) permite afirmar que los
propietarios brasileños superan en número y valor económico
52
PETRISSANS, Ricardo, FREIRIA, Gonzalo. Extranjerización de las tierras na-
cionales. Montevideo: Proyección, 1987. p. 30.
53
BARRAN, Jose Pedro, NAHUM, Benjamín. Historia rural del Uruguay
moderno.1851-1885. Montevideo: Banda Oriental, 1967. p. 319. Cuadro 1. To-
mo 2
54
Datos a partir de Ibid. Tomo 1. p. 51 y Tomo 2. Cuadro 1.
55
Informe del diputado Vázquez Sagastume en el parlamento uruguayo. Diario
de Sesiones de la Cámara de Representantes. Montevideo: Año 1860. Tomo 8,
p. 111-112.
56
Boletín de Estadística. Cuaderno XII-1883. p. 4. Montevideo: Biblioteca Nacio-
nal. Cf. PALERMO, Eduardo. Cautivos en las estancias de la frontera uruguaya.
Tráfico de esclavos en la frontera oriental en la segunda mitad del siglo XIX.
En: Revista digital Mundo Agrario. Nº 17. Segundo semestre de 2008. Univer-
sidad Nacional de La Plata. Buenos Aires. Argentina.
“Como continuación del Río Grande del Sur” La hacienda sul-rio-grandense esclavista en... 129
fuertemente para establecer la mano de obra asalariada. El
cercamiento de los campos promovió la expulsión de los ocu-
pantes de la tierra sin título y de los pequeños propietarios
que se transformaron en asalariados rurales en competencia
por acceder a un empleo, esto presionó a la baja a los salarios
altos de otrora y la pérdida de las ventajas comparativas del
trabajador esclavizado. Este proceso en la frontera fue lento
y no implicó la desaparición de los contratos de peonajes en
forma inmediata, pero si promovió el trabajo asalariado. Sin
embargo la presencia importante de población y capitales de
origen brasileño no desapareció, más bien cumplió a lo largo
del siglo 20, ciclos de contracción y avance que han llevado
a discutir reiteradas veces en el parlamento uruguayo leyes
que limiten la compra de tierras en la zona de frontera.
Introdução
Em acordo com a temática central proposta pelo conjun-
to desta obra, as questões aqui levantadas transitam por pro-
cessos transcorridos ao longo do século XIX, compreendendo
neste período a marcante presença das elites pastoris sul-rio-
grandenses estabelecidas nas áreas fronteiriças (com a Re-
pública Oriental do Uruguai), bem como as suas formas de
expressão e ação políticas.
Contudo, antes de se dar o prosseguimento a essas ques-
tões, convém alertar em relação ao título que apresenta este
artigo que sugere questões ambíguas: pode tanto referir-se a
uma elite (rural) que se diferenciava no plano social (em rela-
ção comparativa com outras elites) como dar a entender que
esta mesma elite se destaca por uma diferenciação política
(de atitudes, condutas e comportamentos).
Respondendo a esta questão, embora não se deixe de con-
cordar que as elites pastoris brasileiras se diferenciavam, de
fato, de outros tipos de elites rurais, notadamente em relação
às grandes elites agroexportadoras brasileiras, o texto busca
refletir a respeito da diferenciação política da elite pastoril
*
?? ????? ?
Um perfil dissidente
Ao longo das regiões de fronteira, a insatisfação aguda
com a “intervenção” estatal conduziu para um sentimento
marcadamente “oposicionista”, que alimentou as fileiras po-
líticas identificadas com as elites pastoris. E isso desde que
se organizaram as primeiras estruturas partidárias, herdei-
ras do longo e belicoso processo de disputa territorial que,
em virtude das condições em que transcorreu, assumiu cada
vez mais a marca particular daqueles que o empreenderam –
“numa verdadeira privatização do poder armado”.1
A própria necessidade de alianças visando è comum pro-
teção dos envolvidos no processo de expansão territorial foi
responsável pela apropriação de funções que deveriam caber
ao Estado, cuja ausência permitiu o arraigamento dos pro-
cessos de particularização, nos quais sentimentos de descon-
fiança, bairrismo, divergência e autonomia foram predomi-
nantes.
Não custa lembrar também que, ao longo do século XIX,
as elites rurais sul-rio-grandense assumiram o controle de
vastas regiões além da fronteira, estabelecendo um verdadei-
ro “Estado dentro do Estado” em pleno território uruguaio.
Nas primeiras décadas do século XIX, elites pastoris sul-rio-
grandenses exerciam o controle sobre cerca de quarenta mil
pessoas no outro lado da fronteira, entre agregados, escravos
e aliados de origem ibero-americana, uma força tão expressi-
1
CARNEIRO, N. L. G. As relações de fronteiriças Rio Grande do Sul-Uruguai na
segunda metade do século XIX: o impacto platino. História: Debates e Tendên-
cias, Passo Fundo: UPF, v. 6, n. 2, jul./dez. 2006, p. 219.
*
Mestra em História pelo PPGH da UFMS e professora da Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul.
2
Citado por CABRELLI, Alfonso Fernandez. Presencia masonica en la Cisplati-
na. Montevidéu: Imprenta Alvarez, 1986. p. 192.
3
Iden., p. 194.
4
BANDEIRA, Moniz. O expansionismo brasileiro e a formação dos Estados na
Bacia do Prata: da descolonização à guerra da Tríplice Aliança. São Paulo: En-
saio; Brasília, DF: Editora da Universidade de Brasília, 1995, p. 78.
7
BROWN, Gustavo Henrique. Defesa e relatório do marechal de campo Gustavo
Henrique Brown perante o Conselho de Guerra. Revista do Instituto Histórico
e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: Tipografia do Centro, ano VI,
I/II trim.1926, p. 237. Ver também as páginas 227, 233 e 236 da mesma obra,
que condensam as afirmações emitidas por Brown.
8
Ver MELLO, op. cit., p. 67.
9
BROWN, op. cit., p. 245.
10
SEIDLER, Carlos. Dez anos no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geográ-
fico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: Tipografia do Centro, ano X, I trim.
1930, p. 41-42.
11
SEIDLER, p. 66-67. Grifos no original.
12
BARBACENA, Felisberto Caldeira; BRANT, Visconde de. História da Campa-
nha do Sul em 1827 - Batalha de Ituzaingó. Revista do Instituto Histórico e
Geográfico do Brasil, Rio de Janeiro, tomo XLIX, 2 trim.1886, p. 379 e 413. Os
grifos são nossos.
13
Idem, p. 509.
14
MELLO, op. cit., p. 11 e 13. Ver ainda BARBACENA, op. cit., p. 354.
15
SEWELCH, A. A. J. Reminiscências da Campanha de 1827 contra Buenos Ai-
res” (tradução de NOGUEIRA, Manoel Tomáz Alves). Revista do Instituto His-
tórico e Geográfico do Brasil, tomo XXXVII, 1ª parte, 2. trim. 1874, p. 438.
16
Sobre as suspeitas e acusações que pesaram contra os sul-rio-grandenses ver
GARCÍA, Flavio, La província de San Pedro ante la recuperación de Misiones
Orientales por Frutuoso Rivera. Boletín Histórico, Montevidéu, n 54/55, 1952,
p. XLV, LV e LVII.
17
Ver reunião do Conselho de Estado em de 27 de agosto de 1828. In: RODRI-
GUES, José Honório (Org.). Atas do Conselho de Estado. Brasília/DF: Senado
Federal, 1973/1978 (13 v.). v. 2, 1973, p. 33-34. Todos os grifos são nossos.
18
Ver, particularmente, a BANDEIRA, op. cit., p. 81.
19
Sobre a presença da elite pastoril sul-rio-grandense em território uruguaio, ver
CARNEIRO, Newton Luis Garcia. De volta à fronteira - uma incursão aos fun-
damentos da cultura política sul-rio-grandense referente ao século XIX: a in-
filtração rio-grandense no Estado Oriental e a formação da identidade política
regional. Tese (Doutorado) _ PUCRS, Porto Alegre, 2003.
22
Ver CHIRICO, op. cit., , p. 8.
23
Sobre o perfil dissidente do Partido Liberal sul-rio-grandense e sua profunda
vinculação com os setores pastoris fronteiriços, ver CARNEIRO, A identidade
inacabada: o regionalismo político no Rio Grande do Sul, Porto Alegre: Edipu-
crs, 2000.
24
Essa longa história de conflitos ininterruptos que ocorriam por sobre a frontei-
ra pode ser acompanhada em CARNEIRO, 2003.
25
Sobre as questões relacionadas à fronteira, no que envolvesse às diversas fac-
ções políticas sul-rio-grandenses durante o Império, consultar CARNEIRO,
2000.
26
AVISOS do Ministério dos Negócios Estrangeiros (1831-1889). Correspondên-
cia Recebida pelos Governantes do Rio Grande do Sul de Ministros e outras
Autoridades do Governo Central (1744-1889). Acervo do Arquivo Histórico do
Rio Grande do Sul, MNE, B-1.033, Moreira de Barros, em 25.02.1880.
27
MNE, B-1.033, Pedro Luis Pereira de Souza, em 25.05.1880.
28
Ver CARNEIRO, 2000, p.123 e seguintes.
29
MNE, B-1.033, Francisco de Sá, 20.06.1882.
30
MNE, B-1.033, Visconde de Paranaguá, em 19.05.1885.
31
MNE, B-1.033, Barão de Cotegipe, em 22.02.1886.
32
AVISOS do Ministério dos Negócios da Guerra (1831-1889), MNG, B-1.088, J. J.
O. Junqueira, em 18.03.1886. e em 24.03.1886.
33
MNE, B-1.033, Barão de Cotegipe, em 24.03.1886.
34
Em MNE, B-1.033, Barão de Cotegipe, em 06.04.1886, segue longa lista de ofi-
ciais blancos desarmados e em seguida detidos por Deodoro da Fonseca. Essas
ações, segundo o mesmo informe, realizaram-se principalmente junto a Santa-
na do Livramento. Quanto à postura política dos sul-rio-grandenses em relação
a Deodoro da Fonseca, ver CARNEIRO, 2000, p. 254 e seguintes.
35
MNE, B-1.033, Barão de Cotegipe, em 16.10.1886.
36
MNE, B-1.033, Barão de Cotegipe, em 19.10.1886.
37
MNE, B-1.033, Barão de Cotegipe, em 01.02.1887 e em 29.08.1887.
38
MNE, B-1.033, Rodrigo S. Silva, em 07.03.1889.
39
Especificamente em relação à internacionalização da Revolução de 93 ver RE-
CKZIELGEL, Ana Luiza Setti. A diplomacia marginal: vinculações políticas
entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai - 1893-1904. Tese (Doutorado em Histó-
ria) _ PUCRS, Porto Alegre, 1997.
A modo de conclusão
Duas formas de solidariedade desenvolveram-se entre
os grupos pastoris sul-rio-grandenses nesse período como
respostas às condições em que se deram a ocupação e fixa-
ção da sociedade local. Irmanadas e complementares, foram
essas o militarismo (às vezes chamado de “tradição” ou “vo-
cação militar”) e a rigidez da associação política (altamente
coesa e extremamente avessa a dissidências), cuja eficiência
e garantia proporcionadas pela área fronteiriça lhes deram
condições para amadurecer e perpetuar-se, fornecendo não só
às estruturas políticas locais, mas a toda a sociedade sul-rio-
grandense traços distintos e recorrentes em relação a outras
regiões do país e ao próprio correr do tempo.
De necessidades práticas, aquelas acabaram por transfi-
gurar-se, assim, em características distintas e demarcatórias
da cultura política regional.
No Prata, a guerra civil ininterrupta favoreceu a forma-
ção de montoneras e o surgimento de seus líderes militares.
Nesse sentido, os “caudilhos” são o produto político mais ela-
borado e sólido nesse processo. Pela intensa infiltração e per-
manente presença de nossas elites pastoris para muito além
das fronteiras brasileiras, fica óbvio que esse processo influiu
sobre a política regional no extremo sul.
40
ORNELLAS, Manoelito de. A gênese do gaúcho brasileiro. Cadernos de Cultu-
ra, Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1955, p. 12. Grifado por
nós.
41
Conforme RONCAYOLO, Marcel. “Região”. In: Enciclopédia Einaudi. Portu-
gal: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, v. 8, 1986, p. 278.
Ester J. B. Gutierrez*
FALTA CURR4ÍCULO DA
AUTORA ?????
*
1
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Texto elaborado por Ester J. B. Gutierrez, arquiteta e urbanista, mestre e
doutora em história, professora da graduação e do mestrado em arquitetura e
urbanismo, UFPel; Cláudia Daiane Garcia Molet, historiadora, mestranda em
Ciências Sociais, UFPel; Daniele Luckow, arquiteta e urbanista, mestranda em
arquitetura e urbanismo, UFPel e Simone Neutzling, arquiteta e urbanista.
2
MACEDO SOARES, cit. por FRANCO, Sérgio da Costa. Origens de Jaguarão
(1790-1833). Caxias do Sul: Ed. UCS, 1980. p. 9 (grifo nosso).
3
REICHEL. Heloísa Jochims. Fronteiras no espaço platino. In: BOEIRA, Nel-
son; Golin, Tau (Coord.). História geral do Rio Grande do Sul. Colônia. Passo
Fundo: Méritos, v. 1, 2006. p. 50.
4
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Cadastro de Sesmarias (Relação de
moradores que tem campo e animais nesse Continente) Livros nº 1198 A a D, o
Registro de terras e terrenos concedidos nos diferentes distritos e municípios
do RS - Livro de datas de terras 1755-1831, M. 45, Lª. 291 e o Livro de registro
de sesmarias de terras, Rio Grande 1813-1814, Nº 41.
O fortim fundacional
As disputas entre espanhóis e portugueses para defini-
ção da linha da fronteira foram recorrentes entre os séculos
18 e 19. Foi nesse contexto que se inseriu o estabelecimento e
o desenvolvimento do atual município de Jaguarão, localiza-
do na margem esquerda do rio Jaguarão, junto à fronteira do
Uruguai. A instalação do povoado estava vinculada à neces-
sidade da Coroa portuguesa de, sobretudo, avançar a frontei-
ra do Império luso-brasileiro. Desse modo, a área urbana da
atual cidade de Jaguarão teve origem em uma guarda espa-
nhola, fundada em 1792, na margem norte do rio Jaguarão,
chamada de “Fortin de la Laguna”. Também conhecido como
“Fortin del Cerrito”, foi projetada pelo alferes de fragata e car-
tógrafo espanhol Joaquim Gudim. Tomado pelos portugueses
5
OSÓRIO, Helen. Comerciantes do Rio Grande de São Pedro: formação, recruta-
mento e negócios de um grupo mercantil da América Portuguesa. Revista Brasi-
leira de História, São Paulo, v. 20, n. 39, 2000 São Paulo, v. 20, n. 39, 2000. Dis-
ponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php? pid= S0102-01882000000100005
&script=sci_arttext#back25>. Acesso em: 1 maio 2009.
6
ALEJO, Jorge Aicard. Rio Branco (1972-1992). Montevideo: Imprenta del Ejér-
cito, 1992. p. 22.
7
FRANCO, ob. cit., p. 31.
8
Ibid., p. 32.
12
Ibid. p. 48-49.
13
Intendência Municipal de Jaguarão. Apontamentos para uma monografia de
Jaguarão. 2ª Exposição Agropecuária. Porto Alegre, 1912, p. 310.
14
Acervo Estância São João. Estância de São João na barra do arroio Juncal.
Documento datilografado, s. a., s.d. Jaguarão. RS
15
FRANCO, ob. cit., p. 84
16
Ibid., p. 53
17
SEIDLER, Carl. Dez anos de Brasil. 3. ed. São Paulo: Martins, 1976. P. 143
18
Id.
19
FRANCO, ob. cit., p. 85.
20
Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. Inventário de Francisco José
Gonçalves da Silva e s/m Maria Joana Gonçalves Braga. Inventariante João
Francisco Gonçalves e outros. Número 72, Estante 98, maço 2. Cartório Civil.
Jaguarão. 1865.
21
BOSCO, Setembrino Dal. Capatazes, peões e cativos na estância da Música.
História: Debates e tendências, Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, v.
1, n. 1, p. 72-75, jun. 1999.
24
Intendência Municipal De Jaguarão, ob. cit., p. 316.
A estância da Glória
Nas terras herdadas por João Rodrigues de Barbosa, ma-
rido de Ana Joaquina, neta do comendador Francisco, estava
localizado o posto da Luz. Nesta área foi edificada a fazenda
As estâncias e os fortins
As estâncias no Rio Grande do Sul
Segundo a dissertação Estâncias e fazendas: a arquite-
tura da pecuária no Rio Grande do Sul, de Luís Henrique
Haas Luccas, de 1999, as propriedades constituíram um con-
junto heterogêneo nos aspectos construtivos, plásticos e fun-
cionais.25 Sobre as propriedades localizadas mais ao norte do
estado, em Velhas fazendas sulinas: no caminho das tropas
25
LUCCAS, Luís Henrique Haas. Estâncias e fazendas: a arquitetura da pecuária
no Rio Grande do Sul. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 1999.
29
Id.
30
MAESTRI, Mário. O sobrado e o cativo. A arquitetura urbana erudita no Brasil
escravista. O caso gaúcho. Passo Fundo: Ed. UPF, 2001. p. 154.
31
GUTIERREZ, Ester Judite Bendjouya. Arquitetura rural do planalto médio.
Apud SILVA, Velhas fazendas sulinas... p. 19-20.
32
Id.
33
Id.
34
LUCCAS, Luís Henrique Haas. Estâncias e fazendas: uma contribuição ao estudo
da arquitetura tradicional riograndense. Disponível em: <http://www.vitruvius.
com.br/arquitextos/arq000/esp363.asp.> mar. 2006. Acesso em: 10 jun. 2009
35
PEREIRA DA CRUZ, Glenda. Processo de urbanização do Rio Grande do Sul.
Cadernos de Arquitetura da FAU , Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1994. p. 112
??????
??????
36
Sobre escravidão em Jaguarão ver: CARATTI, Jônatas. Experiências de escra-
vidão e liberdade na fronteira Oeste do Rio Grande do Sul (1842-1860). In:
Anais da VI Mostra de Pesquisa do Arquivo Público do Estado do Rio Grande
do Sul. Porto Alegre: Corag, 2008; Apreensão, venda e extradição: experiências
de uma crioula oriental em terras sul-rio-grandenses (1842-1854) In:Anais da
V Mostra de Pesquisa do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Corag, 2007.
Vacas leiteiras
Proprietário
Novilhos
Ovelhas
Cavalos
Capões
Imóveis
Cativos
Potros
Éguas
Reses
Inventariados
Bois
Ano
Manoel Amaro da Silveira 54 17400 - 20 - - 400 30 - 300 06 1824
Francisco de Faria Santos 07 145 - 14 - 14 40 - - - 01 1816
Ignácio José de Leivas 10 400 50 50 - 40 40 - - 202 01 1818
Joaquim Manoel Porciúncula 13 1135 - 45 03 - 267 - 03 200 03 1832
Ignácio Felix Feijó 08 1800 - 18 - 20 300 - - 300 03 1823
Francisco José Gonçalves da Silva 32 461 - 09 - 30 321 - - 200 15 1865
Fonte: Apers. Jaguarão. Cartório Órfãos e Ausentes. Seis inventários.
197
Na Tabela 1 a relação dos proprietários seguiu a ordem
de distribuição físico-espacial dos imóveis rurais. As terras
que foram de Manoel Amaro da Silveira hoje pertencem ao
município do Herval; as demais continuam em Jaguarão.
As propriedades de Francisco Faria Santos, Ignácio José de
Leivas e de Joaquim Porciúncula eram contíguas e estavam
implantadas a oeste da área urbana. A de Faria Santos lo-
calizava-se no encontro dos arroios Telho Chico e Quilombo,
exatamente na bifurcação onde estes dois cursos de água
engrossam e contribuem para o arroio do Telho. Os campos
da família Leivas situavam-se entre os arroios do Meio e do
Telho; os de Joaquim, entre o arroio do Meio e o rio Jaguarão.
As duas últimas propriedades, a de Ignácio Félix Feijó e a
de Francisco José Gonçalves da Silva, instaladas a leste da
área urbana, eram banhadas pela lagoa Mirim e chamadas
de estâncias do Juncal e São João, onde permanecem os dois
fortins apresentados anteriormente. (Fig. 2).
Entre os proprietários rurais do Rio Grande do Sul, Ma-
noel Amaro da Silveira foi considerado a maior fortuna inven-
tariada.37 Seus pais eram açorianos, talvez tenham chegado
com a segunda leva de emigrantes, por volta de 1746, à atual
Porto Alegre, antigo Porto dos Casais. Manoel casou com Ma-
ria Antônia Muniz, natural de São Carlos de Maldonado, na
Banda Oriental do Uruguai, filha de Jerônimo Muniz, fidalgo
português.38 Primeiro, em 1816, Maria Antônia teve conces-
são de sesmarias; depois, no ano seguinte, foi a vez de Manoel
recebê-las.
No final da vida era proprietário de 54 escravos e dono de
muitas terras. Foram inventariadas sete propriedades rurais.
A primeira da lista era uma sesmaria de campo situada na
serra de Santa Maria, distrito da freguesia de Piratini, com
37
OSÓRIO, Helen. O império português no sul da América: estancieiros lavrado-
res e comerciantes. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2007, p. 273.
38
MEDEIROS, Manoel da Costa. História do Herval: descrição física e histórica.
Porto Alegre: Escola Superior de São Lourença de Brindes, 1980, p. 295.
39
Id.
42
MAESTRI, Mário. O negro e o gaúcho: estâncias e fazendas no Rio Grande do
Sul, Uruguai e Brasil. Passo Fundo: Ed. UPF, 2008, p. 228-231.
43
APERS. Jaguarão. Cartório de Órfãos e Ausentes. Inventário de Inácio José de
Leivas, 1818. Inventariante: M S. Assunção. Estante 97, Maço 2, Nº 44.
45
APERS. Jaguarão. Cartório de Órfãos e Ausentes. Inventário de Inácio Felix
Feijó, 1823. Inventariante: Anna dos Santos Feijó. Estante 97, Maço 4, Nº 71.
A escravidão na estância e
charqueada São João
Com os cativos arrolados no inventário Francisco José
Gonçalves da Silva foi realizada a Tabela 2.
46
APERS. Jaguarão. Cartório de Órfãos e Ausentes. Inventário de Francisco José
Gonçalves da Silva e sua mulher Maria Joana Gonçalves Braga. 1865. Inventa-
riante: João Francisco Gonçalves e outros. Estante 98, Maço 2, Nº 72.
Áreas portuárias
Além das terras rurais situadas a leste da cidade, no en-
contro da foz do rio Jaguarão com a lagoa Mirim, Francisco
José era dono de três moradas de casas, dois armazéns e três
terrenos na área urbana de Jaguarão. Todos esses imóveis
estavam localizados nas proximidades da praça da Marinha,
área portuária de Jaguarão. Era um local estratégico, pois
desde cedo a localidade teve grande parte de seu desenvol-
vimento a partir do comércio, realizado pelas embarcações.
Os dois armazéns que Francisco possuía remetem à possibi-
lidade de ser comerciante, já que a praça da Marinha era um
local propício ao comércio. Em Pelotas, tinha quatro terrenos
e uma morada de casas localizadas na zona do porto. Nesses
locais, os cativos talvez carregassem mercadorias. Possivel-
mente, alguns dos trabalhadores escravizados que estavam
junto aos herdeiros fizessem esse serviço. Ressalta-se a prefe-
rência por terrenos junto aos portos, por onde chegavam sal,
novos cativos e produtos manufaturados, e saíam o charque e
seus subprodutos.
Os cativos de Francisco José Gonçalves da Silva pode-
riam trabalhar na área portuária de Jaguarão e de Pelotas,
nas moradias urbanas, na charqueada, na estância, nos pos-
47
EIFERT, Maria Beatriz Chini. Marcas da escravidão nas fazendas pastoris de
Soledade (1867-1883). Passo Fundo: Ed. UPF, 2007, p. 90-91.
49
EIFERT, ob. cit., p. 82.
Limites historiográficos
Apesar de a produção pastoril ter sido praticamente a
base econômica de toda a história brasileira, paradoxalmente
é pequeno o fluxo de estudos historiográficos dedicados espe-
cificamente a essa atividade, mesmo naquelas regiões em que
desempenhou papel essencial, como no caso de Mato Grosso.
A historiografia brasileira sobre o tema não deixa dúvi-
da a respeito da importância da produção pastoril em nosso
passado.2 Apesar desse reconhecimento, em âmbito nacional,
e de vários autores terem abordado desde cedo tangencial-
3
Consultar por exemplo: GOULART, José Alípio. Transporte nos engenhos de
açúcar (1959); Meios e instrumentos de transporte no interior do Brasil (1959);
Tropas e tropeiros na formação do Brasil (1961); O cavalo na formação do Bra-
sil (1964); Brasil do boi e de couro (1965); O ciclo do couro no Nordeste (1965).
4
CORREA FILHO, Virgílio. Pantanais mato-grossenses – Devassamento e ocu-
pação. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/CNG,
1946. Biblioteca Geográfica Brasileira. Fazendas de gado no pantanal mato-
grossense- Documentário da vida rural n° l0 - Rio de Janeiro: Ministério da
Agricultura - Serviço de Informação Agrícola, l955. A propósito do boi panta-
neiro. Monografias cuiabanas, Rio de Janeiro: Pongetti, 1926.
5
BARROS, Carlos Vandoni de. Nhecolândia – Opúsculo escrito em comemora-
ção à Primeira Feira Agropecuária realizada na Fazenda Santa Rita, município
de Corumbá – atestado eloqüente da luta pelo progresso na riquíssima região
nhecolandense. Mato Grosso: [s.e.] 1934; MACIEL, Jose de Barros. A pecuária
nos pantanais de Mato Grosso: Tese apresentada ao 3º Congresso de Agricultu-
ra e Pecuária. São Paulo: Imprensa Metodista, 1922.
6
CALMON, Pedro - História da Casa da Torre - Uma dinastia de pioneiros. Li-
vraria José Olympio Editora,1958; BRAZIL, Maria do Carmo. (Revista)
7
CAMPESTRINI, Hildebrado; GUIMARÃES, Acyr Vaz. História de Mato Gros-
so do Sul. Campo Grande: Academia sul Mato-Grossense de Letras e Instituto
Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 1991.
8
MAZZA, Maria Cristina Medeiros et al. Etnobiologia e conservação do bovino
pantaneiro. Corumbá: Embrapa, 1994, p. 14-15.
9
CAMPESTRINI, Hildebrado. Sant’Ana do Paranaíba: dos caiapós à atualidade.
Paranaíba: Prefeitura de Paranaíba, 1999.
10
NASCIMENTO, Luiz Miguel. As charqueadas em Mato Grosso. Subsídio para
um estudo de história econômica. Dissertação (Mestrado em História) – Uni-
versidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, Assis, 1992; ESSELIN,
Paulo Marcos. A pecuária no processo de ocupação e desenvolvimento econômi-
co do Pantanal sul mato-grossense (1830-1910. Tese (Doutorado em História)
– Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.
Espaço pastoril
Cabe enfatizar, inicialmente, que os trabalhos existen-
tes sobre esse espaço brasileiro, sobretudo no que se refere à
gênese da economia pastoril, restringem-se à história recente
da região, ou seja, à análise do processo de colonização do sul
de Mato Grosso a partir da década de 1940, quando o governo
Vargas (1930-1945) implantou a política de interiorização do
Brasil, conhecida como Marcha para Oeste, cujo objetivo era
povoar os “espaços vazios” das regiões do Oeste e da Amazô-
nia brasileira e expandir a abrangência da produção capita-
lista-mercantil do Brasil.12
O ponto fulcral de nossas inquietações, e que redundou
nesta reflexão, refere-se, mais especificamente, ao passado
13
AMORIM, Marcos Lourenço. O Segundo Eldorado brasileiro. Navegação flu-
vial e sociedade no território do ouro. De araraitaguaba a Cuiabá – 1719-1838.
Dissertação (Mestrado em História) UFGD, Dourados, 2004, p. 33.
14
CAMARGO, Isabel Camilo de; BRAZIL, M.B. Sant’Ana de Paranaíba no século
XIX: aportes para o debate sobre latifúndio e escravidão. XXV In: SIMPÓSIO
NACIONAL DA ANPUH, XXV. 12 a 17 de julho de 2009. Anais... Fortaleza, CE,
2009, p. 281.
15
Ibidem.
16
Ibidem.
17
Ibidem
18
Relato de Ruy Diaz de Guzman, citado por Pedro Moura em Bacia do Alto Para-
guai – Revista do Conselho Nacional de Geografia, Rio de Janeiro: CNG, 1943,
p. 27.
19
BRAZIL, Rio Paraguai, o ‘mar interno’ brasileiro..., p. 114.
20
GADELHA, R. M. A. F. As Missões Jesuíticas do Itatim: um modelo das es-
truturas sócio-econômicas coloniais do Paraguai (séculos XVI e XVII). Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1980. Ver também SOUSA, N. M. A redução de Nuestra
Señora de la fe no Itatim: entre a cruz e a espada (1631-1654). Dissertação
(Mestrado em História) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Doura-
dos, 2002; COSTA, M. F. História de um país inexistente: o Pantanal entre os
séculos XVI e XVIII. São Paulo: Kosmos, 1999.
21
ESSELIN, Paulo Marcos; OLIVEIRA, Tito Carlos Machado. Terra onde o gado
criou o homem e definiu o latifúndio. História – Debates e Tendências, Passo
Fundo: UPF, v. 7, n. 2, p. 101-117, jul./dez. 2007.
22
Ibidem.
23
CORTESÃO, Jaime (Org.). Manuscritos da Coleção de Angelis (jesuítas e ban-
deirantes...). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional/ Divisão de Obras Raras e
Publicações. 1951, v. 2, p. 19.
24
Ibidem.
25
ESSELIN; OLIVEIRA, Terra onde ...
26
Ibidem..
27
MAESTRI, Mario. História da África Negra Pré Colonial. Porto Alegre: Merca-
do Aberto, 1988, p. 42-43.
28
HOLANDA, Sérgio Buarque de Holanda. Visões do paraíso – Os motivos edê-
nicos no descobrimento e colonização do Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1969, p. 99.
29
GOULART, José Alípio. O Brasil do boi e do couro. Rio de Janeiro: Edições
GRD, 1965. (Coleção Ensaios brasileiros – Homens e Fatos, n. 3).
30
Ibidem, p. 41.
31
Ibidem, p. 61.
32
Ibidem, p. 42.
33
TAUNAY, Affonso. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo: TYP. Ide-
al, 1930.v.1 e 6.
34
Ibidem. Ver também PASTELLS, Pe. Pablo. Historia de la Compañia de Jesús
en la Província del Paraguay. Madrid: Librería general del Victoriano Suárez,
1912, p. 142..
37
GANEM, Roseli Senna et al. Ocupação humana e impactos ambientais no bio-
ma cerrado: dos bandeirantes à política de biocombustíveis. ENCONTRO DA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM AM-
BIENTE E SOCIEDADE, IV. Brasília, 4, 5 e 6 jun. 2008.
38
Ibidem, p. 3.
39
Sobre a migração mineira, especificamente sobre as fazendas de criar do Nor-
deste paulista, consultar BACELLAR, Carlos de Almeida Prado; BRIOSCHI,
Lucila Reis (Org.). Na estrada do Anhanguera: uma visão regional da história
paulista. São Paulo: FFLCH/USP, 1999. Ver também LARA, Mario. Nos confins
do Sertão da Farinha Podre. Povoamento, conquistas e confrontos no Oeste de
Minas. Belo Horizonte: s.ed., 2009. (Fomentado pela Lei Rouanet)
Famílias pioneiras
Interessa-nos particularmente analisar como o espaço
pastoril, envolvendo a região de Sant’Ana de Paranaíba e Rio
Brilhante – Sertão dos Garcia e Campos de Vacaria, respecti-
vamente – convertida em objeto historiográfico, veio se tornar
importante marco do discurso patriarcal e da expansão terri-
torial, a partir da vocação pastoril, desempenhando significa-
tivo papel na legitimação dessa ideologia, mantida ainda hoje
na historiografia brasileira.
40
MAZZA, et al., p. 14-15.
41
CORRÊA FILHO, V. Fazendas de Gado no Pantanal mato-grossense- Documen-
tário da vida rural n° l0- Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura - Serviço de
informação agrícola, l955.
42
BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. Trad. Magda
Lopes. São Paulo: Unesp, 1992.
43
PESSOA, Angelo Emílio da Silva Pessoa. As ruínas da tradição: a casa da torre
de Garcia D'ávila. Família e propriedade no nordeste coloquial. Tese (Doutora-
do em História Social) – USP, São Paulo, 2003.
44
Ibidem, p. 12.
45
Cf. VIANNA. Francisco José de Oliveira. Populações meridionais do Brasil:
história organização – psycologia. 4. ed. São Paulo: Nacional.1938; DUARTE,
Nestor. A ordem privada e a organização política nacional: contribuição à so-
ciologia política brasileira. São Paulo: Nacional, 1939; FREYRE. Gilberto. Casa
grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia pa-
triarcal. 30. ed. Rio de Janeiro: Record, 1995. FREYRE, Gilberto. Sobrados e
mucambos: decadência do Patriarcado Rural e desenvolvimento urbano. 2. ed
3 v. Rio de Janeiro: José Olympio 1951; HOLANDA. Sérgio Buarque de. Raí-
zes do Brasil. 17. ed. Rio de Janeiro: José Olympio. 1984. PRADO JUNIOR,
Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 20. ed. São Paulo: Brasiliense. 1987.
p. 286. PINTO, Luiz de Aguiar da Costa. Lutas de famílias no Brasil (Introdu-
ção ao seu estudo). 2. ed. São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1980.
46
PESSOA, As ruínas da tradição..., p. 12.
47
Ibidem.
48
Ibidem, p. 4.
53
Sobre a dimensão da violência privada, o código do sertão, formas de domina-
ção, hábitos costumeiros e da miséria conferir, entre outros, FRANCO. Mª Sil-
via de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. São Paulo: Ática, 1974,
p. 26-27.
54
PESSOA, As ruínas da tradição..., p. 34.
55
SANTOS F. Lycurgo. Uma comunidade rural no Brasil Antigo (aspectos da
Vida Patriarcal no Sertão da Bahia nos Séculos XVIII e XIX). São Paulo: Nacio-
nal. 1956. p. 55.
56
CORREA FILHO, Virgílio Questões de terras. Secção de Obras d’O Estado de
São Paulo, 1923, p. 3.
57
Sobre o tema consultar PORTO. José da Costa. O sistema sesmarial no Brasil.
2. ed. Brasilia. Ed. da UnB, 1979.
58
BRAZIL, Maria do Carmo. Rio Paraguai, o ‘mar interno’ brasileiro... Op. cit.
p. 110-215.
59
PENTEADO, Yara (Org.). “Como se de ventre livre nascido fosse....”: cartas
de liberdade, revogações, hipotecas e escrituras de compra e venda de escravos.
1838-1888. Campo Grande, MS: SEJT, MS; SEEEB, MS; Ministério da Cultura/
Fundação Cultural Palmares, DF, 1993. Arquivo Público Estadual, MS.
60
BRAZIL.
61
COSTA, Emília Viotti da. Políticas de terras no Brasil e nos Estados Unidos. In.
Da monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo: Brasiliense, 1987,
p. 244-247.
62
BRAZIL, Maria do Carmo. Fronteira negra. Dominação, violência e resistência
escrava em Mato Grosso -1718-1888. Passo Fundo: Editora da Universidade de
Passo Fundo (Editora da UPF), 2002, p. 153-158. (Coleção Malungo).
66
Livro de nota 03, documento n. 2, p. 119-120. Cartório do 1º. Ofício de Sant’Anna
de Paranaíba, 1865.
67
TAUNAY, Afonso d’ Escragnolle. História das bandeiras paulistas. São Paulo:
Melhoramentos/INL/MEC, 1975. T. III, p. 139. (Relatos Monçoeiros).
68
Itinerário das viagens exploradoras empreendidas pelo Sr. Barão de An-
tonina para descobrir uma via de comunicação entre o porto da vila de
Antonina e o baixo Paraguai na Província de Mato Grosso; feitas nos anos
de 1844 e 187 pelo sertanista Joaquim Francisco Lopes, e descritas pelo
Mapista inglês João Henrique Elliot.. O Documento foi doado ao IHGB
pelo Barão de Antonina e em seguida foi feita a transcrição do manuscrito
inédito para efeito de publicação. Cf. Revista do Instituto Histórico e Geo-
gráfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 1848, v. 10, p. 153-262.
69
GOULART, Alípio. Op. cit., p. 61.
Legitimando o latifúndio
Um exemplo de procedimentos ilícitos de usurpação de
terras refere-se a João da Silva Machado, barão de Antonina,
vulto proeminente da região do Paraná, que na segunda me-
tade do século 19 procurou garantir a posse do território que
abrangia a região de Sant’Ana de Paranaíba, Rio Brilhante,
Miranda, Nioaque, Aquidauana, Ponta Porã, Porto Murtinho
e Bela Vista. Somadas a essas terras, o barão buscou a legiti-
mação de extensas áreas do norte do Paraná. Em 1848, João
da Silva Machado já era dono de vasto patrimônio fundiário,
com propriedades em São Paulo e estados circunvizinhos. Às
vésperas da promulgação da Lei de 1850, o barão imediata-
mente procurou se apropriar de forma privada do amplo terri-
tório que hoje abrange eminentes municípios de Mato Grosso
do Sul.
Hildebrando Campestrini e Acyr Vaz Guimarães lem-
bram: “Sabia o barão de Antonina que seria promulgada uma
lei [Lei de terras de 1850] facultando a todos os posseiros o
direito de requerer, como propriedade, a terra de domínio pú-
blico, sob ocupação, qualquer que fosse sua extensão; ambi-
cionando terras do sul de Mato Grosso, contratou os serviços
70
Itinerário das viagens exploradoras empreendidas pelo Sr. Barão... Op. cit,
p. 260.
71
Ibidem.
72
CAMPESTRINI, Hildebrando; GUIMARÃES, Acyr Vaz. História de Mato Gros-
so do Sul. Campo Grande: Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 1991,
p. 41.
73
CAMPESTRINI, Hildebrando . As derrotas do sertanejo. Instituto Histórico e
Geográfico de Mato Grosso do Sul. Disponível no site http://www.ihgms.com.br
, desde 19/ 12/2007.
74
NORDER, Luiz A.C. Políticas de assentamento e localidade: os desafios da re-
constituição do trabalho rural no Brasil. Tese (Doutorado em Sociologia Rural)
– Universidade de Wageningen, 2004, p.6. Sobre as raízes do sistema público na-
cional arraigado no patriarcalismo e nas relações indistintas entre o público e
o privado consultar FRANCO, Mª Silvia de Carvalho. Homens livres na ordem
escravocrata. São Paulo: Ática, 1974.
75
NORDER, Políticas de Assentamento..., p. 6.
76
REZENDE, Astolpho. O Estado de Mato Grosso e as supostas terras do Barão
de Antonina. Rio de Janeiro: Papelaria Sta Helena – S. Monteiro & Cia Ltda,
1924, p. 35. Sobre Política de terras e de mão de obra ver: BRAZIL, Maria do
Carmo e SABOYA, Vilma Eliza T. de. Política de terras e a política de mão-de-
obra no Brasil e seus reflexos na Província de Mato Grosso. Campo Grande:
PROPP/UFMS, 1994. (Pesquisa financiada pela UFMS). Ver também SABOYA,
Vilma. A Lei de Terras (1850) e a política Imperial – seus reflexos na Província
de Mato Grosso. Revista Brasileira de História. São Paulo, 1995, v.15, n.30,
p. 130-132. (Dossiê Historiografia – Propostas e Práticas).
77
Cf. PORTO. José da Costa. O sistema sesmarial no Brasil. 2. ed. Brasilia. Ed. da
UnB, 1979.
78
NORDER, Políticas de Assentamento..., p. 7.
79
Ibidem.
80
Ibidem.
Elaine Cancian*
*
Docente do Curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul/CPAN. Este trabalho é parte dos projetos “A produção pastoril no Piauí,
no Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, de 1780 a 1930: um estudo
comparado”, coordenado pelo Dr. Mário Maestri, financiado pelo CNPq, e “A
produção pastoril no sul de Mato Grosso: economia e sociedade (1780-1930),
coordenado pela autora.
3
Idem. p. 394.
4
Idem. p. 394-395.
7
ESSELIN, Paulo M.; OLIVEIRA, Tito C. M. Terra onde o gado criou o homem e
definiu o latifúndio. Dossiê: A fazenda pastoril e a escravidão. História: Debates
e Tendências, Passo Fundo: UPF,, v. 7, n. 2, jul./dez. 2007, publ. n. 2º sem. 2008.
p. 104.
8
Idem p. 106.
9
D’ ALINCOURT, Luiz. Memória sobre a Viagem do porto de Santos à cidade de
Cuiabá. Belo Horizonte-São Paulo: Itatiaia-Ed. da Universidade de São Paulo,
1975. p. 175.
12
MENDONÇA, Rubens de. História de Mato Grosso.Através dos seus governa-
dores. [s.l.]: [s.n.], 1967, p. 39.
13
ESSELIN, Paulo Marcos. A pecuária no processo de ocupação e desenvolvimen-
to econômico do Pantanal sul-mato-grossense (1830–1910). Tese (Doutorado
em História) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2003.p. 165-166.
14
Loc.cit.
15
PÓVOAS, Lenine C. História geral de Mato Grosso. (Dos primórdios à queda do
Império).Cuiabá/MT: [s. ed.], 1995. p. 278.
16
Id. ib. p. 274.
17
CORRÊA FILHO, Virgílio. Pantanais matogrossenses. Devassamento e ocupa-
ção. IBGE, Rio de Janeiro, 1946. p. 67.
18
ESSELIN, Paulo Marcos. A pecuária no processo de ocupação e desenvolvimen-
to econômico do Pantanal sul-mato-grossense (1830–1910). Tese (Doutorado
em História) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2003.p. 169.
19
Inventário de Joaquim de Souza Moreira. n. 157/09. Vila de Miranda, 1879.
20
Idem.
Sítio Guavi
Maria Alves da Conceição Faria mantinha no sítio Guavi,
distante 12 km da vila de Miranda, criação e lavoura. Além do
sítio, onde residia, era proprietária de “uma sesmaria de criar
e lavoura no lugar denominado Rio Negro”.23 Os instrumentos
de trabalho usados nas propriedades eram quatro enxadas,
um enxó, um escaroçador de algodão, dois formões, uma serra
e um serrote. Havia também um engenho de moer cana, dois
tachos de cobre pesando duas arrobas e uma caldeira de três
arrobas, provavelmente usados na preparação dos subpro-
21
FLORENCE, Hercules. Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829.
São Paulo: Cultrix, 1977. p. 161.
22
Relação dos escravos para serem matriculados pertencentes a Alferes Joaquim
de Souza Moreira residente em sua Fazenda denominada Piquy nas margens
do rio Aquidauana. Arquivo do Tribunal de Justiça de Campo Grande/MS.
157/09. p. 10.
23
Inventário Maria Alves da Conceição Faria. N. 157/26. Vila de Miranda.1882.
Tabela 2 – Cativos pertencentes a Maria Alves da Conceição Faria residente em seu sítio denominado Guavi na
Província de Mato Grosso - 1978
Nome Cor Idade Estado Civil Filiação Naturalidade Profissão
Fazenda da Esperança
Propriedade do casal Joaquim Ferreira de Mello e Anna
Conceição Almeida, a fazenda Esperança, com suas benfeito-
rias, foi avaliada em 10:000$000 em 1884, quando ocorreu a
partilha dos bens que ficaram por falecimento de Joaquim. No
documento não foram arrolados bens móveis, mas constam
animais e cativos, como pode ser observado nas Tabelas 3 e 4.
Nome Idade Cor Estado Naturalidade Filiação Profissão Aptidão para o serviço Observação
Não
Isia 63 preta - desconhecida cozinheira bom serviço -
conhecida
Laurinda 41 preta viúva desconhecida Isia pajem bom serviço -
Eva 51 cabra solteira Mato Grosso Maria cozinheira bom serviço -
Jacintha 53 preta viúva desconhecida ignora-se lenheira bom serviço -
Cypriana 16 cabra solteira desconhecida Maria cozinheira bom serviço -
João 9 cabra solteira desconhecida Maria menor menor -
Maria 9 cabra solteira desconhecida Maria menor menor -
Catharina 58 preta solteira Africana ignora-se lenheira bom serviço -
Fonte: Vila de Miranda, 14 de Outubro de 1880.
Elaine Cancian
Fazenda Boa Vista
O inventário de Maria Pires da Veiga, de 1882, registra
a fazenda de criar Boa Vista, localizada à margem direita do
rio Aquidauana. A fazenda possuía casas de morada com co-
bertura de telha, medindo sessenta palmos de frente (12 m)
por quarenta de fundos (8 m), avaliada em 5:000$000; 24 um
engenho de madeira para moer cana, um tacho grande e um
pequeno, ambos de cobre, pesando 99 kg, usados na proprie-
dade. Inexistem animais entre os bens semoventes, apesar de
fazenda em posse familiar.
As duas trabalhadoras escravizadas em posse da família
eram colocadas a todo serviço. A cativa Mariana, 22, cozinhei-
ra, parda e natural de Santana de Paranaíba, foi comprada
de Elesiano Loureiro de Moraes e avaliada no inventário a
1:200$000; a cativa Ricarda Pires, 18, pagem, cabra, com
o mesmo valor. No inventário de Maria Pires aparece uma
pequena embarcação conhecida por “prancha”, avaliada em
500$000. Característica da região, a prancha de proa lançada,
bordos largos e salientes, com uma cobertura chata de tábuas,
impulsionada a vara, era usada como meio de transporte de
carga em alguns rios da bacia do Paraguai.
Vacaria e Ariranha
As fazendas Vacaria, com quatro léguas de largura e cin-
co de comprimento (98 mil há), e Ariranha, com três léguas
de comprimento e um de largura (14,7 mil há), inventariadas
em 1872, eram propriedades de Manoel Ferreira de Mello e
Maria Ignacia do Nascimento. O casal possuía ainda uma fa-
zenda de criar com duas léguas de comprimento e treze de
largura (197,4 mil ha). Em bens, no inventário de Maria Ig-
nacia aparecem 125 animais entre vacuns e cavalares, oito
trabalhadores escravizados e um carro pequeno. Nas tabelas
6 e 7 são apresentados os bens semoventes.
24
Inventário de Maria Pires da Veiga. N. 158/01. Vila de Miranda.1882.
25
Inventário de Firmo Martins Homine Borges. N. 158/18. Vila de Miranda.
1884.
26
Francisca Bernarda de Jesus. N. 158/23. Vila de Miranda. 1884.
27
Inventário de Henrique Augusto Ferreira de Ondrade. N. 156/01. Vila de Mi-
randa. 1873.
e doze cavalos (1:200$000) e quatro escravizados matriculados em nome da viúva Gertrudes Nunes
Augusta.
Tabela 9 – Relação dos escravos para serem matriculados pertencentes à dona Gertrudes Nunes Augusta resi-
dente no Município de Miranda Província de Mato Grosso-1872
31
Inventário de Francisco José de Souza. N. 156/06. Vila de Miranda, 1876.
32
Eulália d’ Arruda Pinto. N.157/05. Vila de Miranda. 1878.
33
Idem.
38
Relatório da Junta de Classificação de Escravos de Miranda, 16 de Julho de
1885. Arquivo Público de Mato Grosso. Lata 1985-E.
39
CORRÊA FIlHO, Virgílio. Pantanais matogrossenses. Devassamento e Ocupa-
ção. IBGE, Rio de Janeiro, 1946. p. 113.
40
Eulália d’ Arruda Pinto. N.157/05. Vila de Miranda. 1878.
41
Ver entre outros: CASTELNOU, Francis. Expedição às regiões centrais da Amé-
rica do Sul. São Paulo: Nacional, 1987; FONSECA, João Severiano da. Viagem
ao redor do Brasil 1875-1878. Rio de Janeiro: Typographia de Pinheiro & Cia,
1880; FLORENCE, Hercules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a
1829. São Paulo: Cultrix, 1977; MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Noticia sobre a
Província de Matto Grosso seguida D’um roterio da Viagem de sua Capital a São
Paulo. São Paulo: Typographia de Henrique Schroeder, 1869; SMITH, Herbert
Huntington. Do Rio de Janeiro a Cuyabá. São Paulo: Melhoramentos, (s/d)
42
Inventário de Joaquim de Souza Moreira. N. 157/09. Vila de Miranda. 1879.
43
LEONZO, Nanci. Pão e pano ou prato e trato: em ensaio sobre a casa mato-
grossense. Territórios e Fronteiras, UFMT. v.5, n. 1, jan.- jun. 2004. p. 259.
44
ALGRANTI, Leila Mezan. Famílias e vida doméstica. In: SOUZA, Laura de
Mello e. (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na
América portuguesa. São Paulo: Companhia da Letras, 2004.
45
Inventário de Eulália d’ Arruda Pinto. N. 157/05. Vila de Miranda, 1878.
46
Inventário de Maria Alves da Conceição Faria. N. 157/26. Vila de Miranda,
1882.
Paulo M. Esselin*
3
CABEZA DE VACA. Naufrágios e comentários. Trad. de Jurandir Soares dos
Santos (texto) Bettina Becker (Introdução).Porto Alegre, LEPM Editores, 1987.
(Coleção Os Conquistadores). p. 193-194.
4
FERREIRA, Aurelio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 478.
Fonte: Plano de Desenvolvimento Econômico e Social do Mato Grosso do Sul. Cenários até o
ano de 2005.
5
NOGUEIRA, Albana Xavier. O que é pantanal. São Paulo, Brasiliense, 1990.
6
SOUZA, Lécio Gomes. História de uma região: Pantanal e Corumbá. São
Paulo: Resenha Tributária Ltda, 1973.
7
VALVERDE, Orlando. Fundamentos geográficos do planejamento rural do mu-
nicípio de Corumbá. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 1972.
8
SOUZA, op. cit.
9
CABEZA DE VACA.Alvar Nuñez. Naufragios y comentarios. Madrid:Edicion
de Roberto Ferrando, 1985, p244.
10
VALVERDE,op. cit.
11
ALMEIDA; LIMA, apud GADELHA, Regina Maria A. F. As missões jesuíticas
do Itatim: um estudo das estruturas sócio econômicas coloniais do Paraguai
(sec. XVI e XVII) Rio de Janeiro: Paz e Terra 1980.
12
CORTESÃO, Jaime (Org.). Manuscritos da Coleção de Angeles. Jesuítas e Ban-
deirantes no Itatim (1596-1760). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Divisão
de Obras e Raras Publicações, v. II, 1951, p. 4.
13
TAUNAY, Affonso. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo: Typ. Ideal,
1930. v. 1 e 6, v. 1, p. 3-4.
14
MAZZA, Maria Cristina Medeiros et al. Etnobiologia e conservação do bovino
pantaneiro. Corumbá: Embrapa, 1994. p. 30.
15
ALMEIDA, Fernando F. M. de; LIMA, Miguel Alves de. Planalto centro – oci-
dental e pantanal matogrossense. Rio de Janeiro: Editora Conselho Nacional de
Geografia, 1959.
20
MAZZA, et al, 1994.
21
VALVERDE, op. cit
22
CORRÊA FILHO, Virgilio. História de Mato Grosso. Instituto Nacional do Li-
vro. Rio de Janeiro: 1969.
23
VALVERDE, op. cit.
24
(TAUNAY, 1923, p. 65 e seg).
25
MAZZA,et al.30, op. cit
26
GADELHA, op. cit, p. 53.
27
LOSANO, P. Pedro. Historia de la conquista del Paraguay, rio de la Plata y Tu-
cuman. Buenos Aires: Casa Editora Imprenta Popular, 1873. v. I, p. 97.
28
TAUNAY, Visconde de. Cartas da campanha de Matto Grosso 1865 a 1866. Rio
de Janeiro: Biblioteca Militar, s/d. p. 155156.
29
(CORRÊA FILHO, 1955, op, cit, p. 14
30
TAUNAY, Visconde de. A. A retirada da Laguna. São Paulo, s/d. p. 252.
31
SOUZA, Candido Xavier de Almeida e. Discripção diária Cap. Mia de S. m Pau-
lo. P. a ás fronteiras do Paraguay, em 9 de outubro de 1800, dedicada ao Illm. E
Exm. O S.or Dom Rodrigo de Souza Coutinho. In: Revista do Instituto Histori-
co e Geográfico Brasieliro, Rio de Janeiro: 1949, p. 115.
32
ARAUJO, Rubens Vidal. Jesuítas dos 7 povos. Porto Alegre: 1986.
33
TAUNAY, Affonso. História das bandeiras paulistas. 2º São Paulo: Melhora-
mentos, 1961, T.1. p. 62.
34
KERSTEN, Ludwing. Las tribus indígenas del Gran Chaco, hasta fines del siglo
XVIII: Resistencia (Chaco): Universidad Nacional del Noroeste, Departamento
de História, 1968, p. 67.
35
GADELHA,Regina Maria A. F. op. cit.
36
SILVA NOVAIS, Sandra Nara.Ruínas de Xerez: marco histórico do colapso do
Projeto colonial castelhanoem Mato Grosso (1593-1632) Dissertação de mes-
trado, UFMS, 2004, p. 174.
37
SILVA NOVAIS, Sandra Nara.op.cit.
38
Documentos para a História da Argentina. Iglesia, Buenos Airies: 192 T.20,
p. 725-726.
39
LUGON, C. A. A republica comunista cristã dos guaranis (1610-1768). 2. ed.
Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1976. p. 124.
40
MONTOYA, Antonio Ruiz. (S.J). Conquista espiritual. Porto Alegre: Martins
Livreiro Editor, 1985.
41
ESSELIN, Paulo Marcos. A gênese de Corumbá: Confluência das frentes espa-
nhola e portuguesa em Mato Grosso 1536-1778. Campo Grande: UFMS, 2000.
p. 61.
42
LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Nobiliarquia paulistana histórica e ge-
nealógica. São Paulo: U niversidade de São Paulo,1914, VI.
43
CORTESÃO, Jaime. (org). Manuscritos da Coleção de Angeles. Jesuítas e Ban-
deirantes no Itatim (1596-1760). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Divisão
de Obras e Raras Publicações, v. II, 1951, p. 19.
44
ESSELIN, Paulo M.& OLIVEIRA,Tito C. M. O.Historia debates e tendências.
Dossiê: A fazenda pastoril e a escravidão.Universidade de Passo Fundo, Insti-
tuto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós - Graduação em Histó-
ria. v. 1, n. 1. Passo Fundo: 2007, p. 105-106.
45
LABRADOR op. cit. 1910, p. 62.
A ocupação portuguesa do
Pantanal sul-mato-grossense
No início do século 19, a planície pantaneira já oferecia
alguns atrativos aos pecuaristas que desejassem se fixar na
região. Havia extensos campos de pastagens providos de sa-
linas naturais, água abundante; os rebanhos alçados eram
facilmente encontrados; as terras eram tidas como devolutas
e os grupos nativos não ofereciam mais os riscos aos coloniza-
dores do passado.
Nessa época, o Brasil conquistou a sua independência
política ao se libertar de Portugal. Além das dificuldades po-
líticas enfrentadas com o processo emancipatório, o país se
viu envolvido com problemas de ordem econômica. A crise da
agricultura tradicional do Brasil, que se estendeu de 1821 até
1840, foi marcada pela redução dos preços dos produtos ex-
48
MENDONZA, P. de La C. op. cit.,1922,T.73.
49
ESSELIN & OLIVEIRA, op. cit. p. 108.
50
BERTELLI, A. de P. O paraíso das espécies vivas: Pantanal de Mato Grosso.
São Paulo: Cerifa, 1984, p. 41-42.
51
ESSELIN &OLIVEIRA, op. cit., p. 110.
52
ANTONIL, apud:QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. O mandonismo local na
vida política brasileira e outros ensaios. São Paulo: Alfa Omega, 1976.p 52.
56
Collecção das Leis do Império do Brasil, 1850, apud: PENÇO, Célia de Carvalho
Ferreira. Uma legalização de terras devolutas em Mato Grosso. Tese apresenta-
da para defesa do título de livre docente à disciplina de Antropologia ao Depar-
tamento de História do Instituto de Letras, História e Psicologia do Campus de
Assis da Universidade Estadual Paulista, 1987.
57
Idem, p. 2.
58
ESSELIN; OLIVEIRA. Op. cit., p. 112.
59
COSTA, Emilia Viotti. Da monarquia à república: momentos decisivos. São
Paulo: Ciências Humanas. 1979. p. 133.
60
ESSELIN; OLIVEIRA. Op. cit., p. 112.
61
BARROS, Abílio Leite de. Gente pantaneira: Crônicas da sua história. Rio de
Janeiro: Lacerda Editores. 1998.
62
PROENÇA, M. Cavalcanti. No termo de Cuiabá. Ministério da Educação e Cul-
tura. INL. Rio de Janeiro: 1958. p. 72-73.
63
ROSA, João Guimarães. Entremeio com o vaqueiro Mariano. In: Estas estórias.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 117.
64
WILCOX, Robert. Cattle ranching on the Brazilian frontier: Tradition and in-
novation in the Mato Grosso (1870-1940). New York University, 1992. p.20.
“These early settlers moved into the central and sourthern regions of the Pan-
tanal fluvial plain, setting up ranches with as many as 300 to 500 animals each.
By the 1850s, there were at lest six substantial ranches registered under law.
Within, decades these establishments had thousands of head of cattle and rai-
sed local horses as well, and many of the settler came to be important figures
in the economy and polítics of Mato Grosso in subsequent decades, [...].”
65
RIVASSEAU, Emílio. A vida dos índios guaicurus. 2. ed. Rio de Janeiro: 1941.
66
RIVASSEAU, Emilio op. cit. p. 67.
67
ESSELIN, Paulo; OLIVEIRA, T. C. M. Op. cit., 2007, p. 114.
68
MACIEL, Jose de Barros. A pecuária nos pantanaes de Mato Grosso: These
apresentada ao 3º Congresso de Agricultura e Pecuária. São Paulo: Imprensa
Methodista, 1922. p. 18-19.
69
ROSA, João Guimarães. op.cit. 1985. p. 118.
70
MACIEL, Jose de Barros. Op. cit.
71
Idem.
72
RIBEIRO, Renato Alves. Entrevista em 1999.
73
SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil, 1500-1820. São Paulo: Na-
cional, 1937, T. I e II. T1. p. 234.
74
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil 24ª ed., São Paulo: Nacional,
1991. p. 59.
75
RIBEIRO, Renato Alves. Tabaco 150 anos: balaio de recordações. Campo Gran-
de: 1984. p. 33.
76
BARROS, Carlos Vandoni. Nhecolandia. MATTO GROSSO. 1934. p. 23.
77
RIBEIRO, Renato Alves. Entrevista, 1999.
78
CORRÊA FILHO, Virgilio. Pantanais Mato-grossenses: Devassamento e ocupa-
ção. Rio de Janeiro: IBGE-CNG, 1946. p. 68.
79
CORRÊA FILHO, Virgilio. Op. cit. 1955.
80
PROENÇA, Augusto César. Pantanal, gente, tradição e história. 3. ed. Campo
Grande – UFMS, 1997.
81
VIVEIROS, Esther de. Rondon conta sua vida. Rio de Janeiro: Livraria São
Jose, 1958. p. 179-180.
82
RIBEIRO, Renato Alves. op. cit. 1984. p. 77.
85
MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Notícia sobre a província de Matto Grosso,
seguida d’um roteiro de viagem de sua capital a São Paulo. São Paulo: Typ
Henrique Schroeder, 1869. p. 135.
86
Idem, p. 137.
87
Idem, p. 137.
88
Idem, p. 137.
89
RIBEIRO, Renato Alves. op. cit p. 35, 73-74.
90
MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Op. cit.
91
TAUNAY, Visconde de Campanha de Matto Grosso. scenas de viagem. São Pau-
lo: Livraria do Globo, 1923. p. 70.
92
CARONE, Edgard. A República Velha, instituições e classes sociais: São Paulo,
1970.
93
AYALA, S. Cardoso e SIMON, F. Album graphico do Estado de Matto Grosso
(EEUU do Brazil) Corumbá, Hamburgo: 1914. p. 120-121.
94
VALVERDE, Orlando. Op. cit., p. 115.
95
AYALA, S. Cardoso e SIMON, F. op. cit. 129.
96
Idem. 131.
97
MARQUES, A. Mato Grosso: seus recursos naturais, seu futuro econômico. Rio
de Janeiro: Papelaria Americana, 1923. p. 162-164.
98
AYALA; SIMON, 1914, p. 293.
99
Idem, p. 293.
100
BARROS, José de. Lembranças. Brasília: Gráfica do Senado Federal, 1987.
p. 59.
Quantidade
Ano Produto Valor
(Kg)
1914 1.733.973 Charque 1.560:575$700
1915 2.703.267 Charque 2.703:267$000
1916 3.755.310 Charque 3.755:310$000
1917 4.052.811 Charque 4.863:373$000
1918 4.144.736 Charque 4.973:683$200
1914 810.586 Couro Secco 1.008:984$400
1915 630.394 Couro Secco 881:704$450
1916 1.026.327 Couro Secco 1.197:383$540
1917 1.053.290 Couro Secco 1.470:264$860
1918 887.068 Couro Secco 1.257:257$350
1914 29.091 nº Couro Salgado 546:453$200
1915 40.033 nº Couro Salgado 765:356$400
1916 67.865 nº Couro Salgado 1.425:666$333
1917 67.599 nº Couro Salgado 1.621:242$870
1918 75.594 nº Couro Salgado 1.814:256$000
1914 51.469 Numero de reses exportadas 2.573:450$000
1915 54.798 Numero de reses exportadas 2.739:900$000
1916 51.034 Numero de reses exportadas 4.082:720$000
1917 66.689 Numero de reses exportadas 6.668:900$000
1918 62.545 Numero de reses exportadas 7.505:400$000
Fonte: CORRÊA FILHO. A Proposito do boi pantaneiro. Monographias cuiabanas, Rio de Ja-
neiro: Pongetti, 1926. p.
101
VALVERDE, Orlando. Op. cit., p. 116.
102
SANTOS, Rinaldo. O zebu. Uberaba: Agropecuaria Tropical Ltda, 1998. p. 89.
103
COTRIM apud: SANTOS, Rinaldo. Op. cit. p. 565.
104
Idem. p. 565.
105
ALVES, Gilberto Luis. Mato Grosso e a história: 1870 – 1929 ________ ensaio
sobre a transição do domínio da casa comercial para a hegemonia do capital
financeiro In: Boletim Paulista de Geografia. São Paulo: 2º sem. 1984. Nº 61.
106
VALVERDE, Orlando. Op. cit.
*
Doutor em História/PUCRS, Professor do Departamento de Ciências Econômi-
cas e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do
Piauí
1
Este texto resulta da pesquisa em andamento “A produção pastoril no Piauí, no
Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, de 1780 a 1930: um estudo compa-
rado”, coordenada pelo Prof. Dr. Mario Maestri/UPF e financiada pelo CNPq.
No Piauí a pesquisa conta ainda com o apoio da FAPEPI.
2
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Editora Nacional,
1976, p. 43.
3
ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. São Paulo:
Brasiliense, 1973, p. 72. CASTRO, Antônio Barros de. 7 ensaios sobre a econo-
mia brasileira. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1980, p. 15.
7
Sobre a ocupação dos sertões piauienses ver, por exemplo, LIMA SOBRINHO,
Barbosa. O devassamento do Piauí. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1946: NUNES, Odilon. Devassamento e conquista do Piauí. Teresina: Comepi,
1972; NUNES, Odilon. Os primeiros currais: geografia e história do Piauí seis-
centista. Teresina: Comepi, 1972; CASTELO BRANCO, Moysés. O povoamento
do Piauí. Teresina: Comepi, 1982.
8
PITTA, Rocha. História da América Portuguesa. Rio de Janeiro: W. M. Jackson,
1950, p. 243.
9
Ver LIMA, Solimar Oliveira. Braço forte: trabalho escaravo nas fazendas da na-
ção no Piauí: 1822-1871. Passo Fundo:UPF, 2005; FALCI, Miridan Brito Knox.
Escravos do sertão: demografia, trabalho e relações sociais. Teresina: Fundação
Cultural Monsenhor Chaves, 1995.
10
NUNES, Odilon. Pesquisas para a história do Piauí. Teresina:Imprensa Oficial,
1966, p. 116.
11
PEREIRA DA COSTA, F. A. Cronologia histórica do estado do Piauí: desde os
seus tempos primitivos até a Proclamação da República. Rio de Janeiro: Arte-
nova, 1974, p. 45.
12
ABREU, Capistrano e. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Rio de Janei-
ro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1975, p. 260.
13
NUNES, Odilon. Pesquisas para a história do Piauí. Teresina: Imprensa Ofi-
cial, 1966, p. 146.
14
OLIVEIRA MARTINS, F. A. Um herói esquecido (Diário da viagem de regresso
para o reino de João da Maia da Gama, e de inspecção das barras dos rios do
Maranhão e das capitanias do norte, em 1728). Lisboa: Agência Geral das Colô-
nias, 1944, p. 28.
15
NUNES,Odilon. Pesquisas para a história do Piauí.Teresina:Imprensa Oficial,
1966, p. 147.
16
OLIVEIRA MARTINS, F. A. Um herói esquecido (Diário da viagem de regresso
para o reino de João da Maia da Gama, e de inspecção das barras dos rios do
Maranhão e das capitanias do norte, em 1728). Lisboa: Agência Geral das Colô-
nias, 1944, p. 28.
17
NUNES, Odilon. Pesquisas para a história do Piauí. Teresina :Imprensa Ofi-
cial, 1966:147-8.
18
PEREIRA DA COSTA, F. A. Cronologia histórica do estado do Piauí: desde os
seus tempos primitivos até a Proclamação da República. Rio de Janeiro: Arte-
nova, 1974, p. 113-114.
19
Loc. cit
20
NUNES,Odilon. Pesquisas para a história do Piauí.Teresina:Imprensa Oficial,
1966, p. 149.
21
PEREIRA DA COSTA, F. A. Cronologia histórica do estado do Piauí: desde os
seus tempos primitivos até a Proclamação da República. Rio de janeiro: Arte-
nova, 1974, p. 121-123.
22
MARTINS, Agenor et al. Piauí: história, realidade e desenvolvimento. Teresi-
na: Fundação Cepro, 1977.
23
MOTT, Luiz R. B. Piauí Colonial: população, economia e sociedade. Teresina:
fundação Cultural do Piauí, 1985, p. 98-9.
24
Roteiro do Maranhão a Goiaz pela Capitania do Piauhy. In Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo LXII, 1º e 2º semestres, 1900, p. 79.
25
SPIX, Johann Baptist von; MARTIUS, Carl Friedr Phill von.. Viagem pelo Bra-
sil. Rio de Janeiro:Imprensa Nacional, 1938, p. 216.
26
Dezcripção do certão do Peauhy Remetida ao Ilmo. e Rmo. Sr. Frei Francisco
de Lima Bispo de Pernambuco. In: ENES, Ernesto. As guerras nos Palma-
res subsídios para sua história. São Paulo: Companhia editora nacional, 1938,
p. 373.
30
MOTT, Luiz R. B. Piauí Colonial: população, economia e sociedade. Teresina:
fundação Cultural do Piauí, 1985, p. 23.
31
Arquivo Público do Estado do Piauí (Apep). Correspondência com a Tesouraria
Geral de Fazenda. 1810-1815.
32
TOLLENARE, L. F. Notas Dominicais – Tomadas durante uma viagem em
Portugal e no Brasil em 1816, 1817 e 1818. Salvador: Progresso, 1956, p. 127.
33
APEP. Palácio do Governo. Oeiras (PGO). 1817-1825.
34
APEP. PGO. 1820-1829.
35
APEP. PGO. 1700-1821.
36
APEP. Fazendas Nacionais. 1800-1877.
37
APEP. PGO. 1820-1829.
38 APEP. PGO. 1820-1829.
45
Memória cronológica, histórica e corográfica da província do Piauí por José
Martins Pereira D´Alencastre. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Bra-
sileiro, tomo XX, 1º trimestre, 18857, p. 69.
46
Roteiro do Maranhão a Goiaz pela Capitania do Piauhy. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo LXII, 1º e 2º semestres, 1900, p. 88.
(modernizamos).
47
Memória cronológica, histórica e corográfica da província do Piauí por José
Martins Pereira D´Alencastre. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Bra-
sileiro, tomo XX, 1º trimestre, 18857, p. 68.
48
APEP. Tesouraria da Fazenda. 1841/1846; MOTT, Luiz R. B. Piauí Colonial:
população, economia e sociedade. Teresina: fundação Cultural do Piauí, 1985,
p. 61.
49
Memória Relativa das Capitanias do Piauhy e Maranhão por Francisco Xavier
Machado. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo XVII,
n. 13, 1º trim., terceira série, 1854, p. 58.
50
GARDNER, George. Viagens no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacio-
nal, 1942, p. 166.
51
Memória cronológica, histórica e corográfica da província do Piauí por José
Martins Pereira D´Alencastre. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Bra-
sileiro, tomo XX, 1º trimestre, 1857, p. 69.
52
BRANDÃO, Tanya Maria. O escravo na formação social do Piauí: perspectiva
histórica do século XVIII. Teresina: EDUFPI, 1999, p. 28.
53
PORTO, Carlos Eugênio. Roteiro do Piauí. Rio de Janeiro: Artenova, 1974,
p. 144.