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O projeto de colônia e

a inserção do
escravizado no Piauí
Prof. Marcus Pierre de
Carvalho Baptista
Tópicos de discussão
A reocupação do território e a inserção
01 dos escravizados no que se tornou o
Piauí

Algumas ponderações sobre os


02 escravizados africanos no Piauí colonial
Por que escravizados? Por que não escravos?
Qual a diferença entre ambos os termos e por
que é importante esta distinção?
Algumas assertivas sobre a
pecuária
Importante A pecuária
compreender que extensiva fez
a pecuária não se parte de um
tratou de uma projeto de
economia colônia que
secundária ou possibilitou a
dependente do conquista do
açúcar no litoral interior da
América lusitana
Três aspectos foram fundamentais para a conquista
do território no que se tornou o Piauí

1 - Os indivíduos responsáveis pelas fazendas de


gado e a pecuária em si

2 - A sujeição do elemento indígena

3 - O jesuíta responsável por disciplinar estes sujeitos


posteriormente
Por que o território que se tornou o Piauí era
importante neste momento para o império
lusitano?
Havia uma preocupação por parte de Portugal no
que se refere a esta porção norte da América
Portuguesa por alguns fatores

Estes eram: a proximidade com a foz do rio


Amazonas, a possibilidade de alcançar as minas de
prata do Peru e pela ameaça imposta por outros
Estados, como o espanhol e o francês
À medida que esta reocupação era realizada e os
currais iam sendo instalados teve-se também a
distribuição dos africanos escravizados que
trabalhariam nestas fazendas

Entre os séculos XVII e XVIII tratava-se ainda de um


território em disputa entre sujeitos distintos que
buscavam se instalar nesta porção da América:
Sesmeiros, Posseiros, fazendeiros de Pernambuco e
da Bahia
No interior deste contexto tem-se poucos
documentos que indicam a presença de
africanos escravizados. O que podemos refletir
a partir disso?

1 - Como estes sujeitos chegaram ao Piauí?


Duas hipóteses: Vieram com os primeiros
fazendeiros ou foram comprados
posteriormente
No Piauí, no período colonial, serviam na
pecuária, na agricultura e também na
economia de subsistência
À medida que os sertões de dentro iam sendo
ocupados criou-se um novo mercado
consumidor que necessitava do tráfico de
escravizados

Transitava-se pelo interior do Piauí com o


objetivo de fornecer estes sujeitos às fazendas e
núcleos populacionais
O tráfico de “Os traficantes saíam da região de
escravizados
Salvador com remessas de escravos e
adentravam os sertões, abastecendo o
comércio e percorrendo as principais
rotas do gado. Não há como mensurar
a quantidade de cativos africanos que
adentraram a capitania do Piauí, seja
pelo sertão ou pelo litoral,
principalmente pela falta de
fiscalização e registro, ação dos
particulares, a autonomia e dinamismo
da região da vila de Parnaíba”
(NEPOMUCENO, 2020, p. 826).

Talyta Majorie
Possibilidades quanto às origens:

Congo e Angola - Possivelmente os primeiros


escravizados, oriundos da Bahia

Em meados do século XVIII centenas de


escravizados eram enviados de Salvador para o
interior do Piauí
A partir do início do século XIX o número de
escravizados enviados ao Piauí se amplia,
chegando a milhares nas décadas iniciais do
novo século

Com a expansão da economia colonial no Piauí


também fomenta o contato direto entre os
traficantes e os locais (comerciantes,
fazendeiros) que negociavam escravizados
No caso dos escravizados vindos por São Luís,
estes adentravam o território por meio do rio
Parnaíba ou pelo rio Itapecuru no Maranhão,
sendo, geralmente, oriundos da Alta-Guiné
(Senegal, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau e Serra
Leoa)

A redução deste comércio se dá a partir de fins


do século XVIII quando Parnaíba passa a se
estabelecer enquanto porto comercial
recebendo levas de escravizados
Que documentos permitem que saibamos
sobre a quantidade e a etnia destes sujeitos no
Piauí?
Os inventários
Estes A partir destes
documentos dão pode-se inferir
contas de como ocorria a
elementos divisão sexual do
variados: trabalho entre
origens, gênero, homens,
ocupações mulheres e
crianças
escravizadas
A divisão sexual do trabalho era constituída
ainda durante a infância, na qual meninas
aprendiam prendas domésticas, enquanto
meninos a cuidar do gado e da agricultura. Em
certos casos aprendiam ainda a realizar
trabalhos de manufatura, produzindo artefatos
de madeira, tecido e couro
Divisão social do A divisão entre os sexos parece estar na
trabalho
“ordem das coisas”, como se diz por
vezes para falar do que é normal,
natural, a ponto de ser inevitável: ela
está presente, ao mesmo tempo, em
estado objetivado nas coisas (na casa,
por exemplo, cujas partes são todas
“sexuadas”), em todo mundo social e,
em estado incorporado, nos corpos e
nos habitus dos agentes, funcionando
como sistemas de esquemas de
percepção, de pensamento e de ação
(BOURDIEU, 2002, p. 15).

Pierre Bourdieu
As resistências?
Assim como os Ou estes povos
povos indígenas aceitaram sem
houve também contestar a
uma resistência à condição imposta
disciplina a eles a partir da
imposta pelos escravização?
europeus aos Como podemos
africanos refletir sobre
escravizados? isto?
As táticas de
resistência

Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor para que o horror do castigo faça coibir a frequência
dos atrozes insultos que alguns escravos e outros semelhantes acostumam praticar nesta
capitania. Presume justo representar a vossa excelência que seria o humanamente
conveniente peticionarem aqui os escravos e quaisquer outros pessoas que cometem
delitos pelos quais mereçam pena de morte [...] pois é certo que ainda que está se haja de
executar no Pará a respeito daqueles, não resulta de tal suplício o terror que se deve
experimentar, se nesta Vila se efetuasse o mesmo suplício, principalmente sendo a
rusticidade desta gente tão grande, que chega ao ocasionar há muitos homens o conceito
de que alguns escravos que aqui se tem remetido para o Pará pelos referidos motivos não
vão morrer, mas só sim a vender.
Deus guarde a vossa excelência
Oeiras do Piauí 3 de fevereiro de 1762

João Pereira
Caldas
A imposição da disciplina:
o pelourinho

[...] Senhor Governador foi dito que havendo-lhe sua Majestade mandou estabelecer uma
Vila no lugar da mesma Freguesia, que por pluralidade de votos das pessoas mais
consideráveis dela foi elegido para sua fundação e que tendo esse assentido pela maior
parte daqueles moradores, que para ela mais própria situação deste lugar, determinava que
nele se erigisse a referida Vila, com o nome de Nossa Senhora do Livramento do Parnaguá,
cordenava o dito Desembargador ouvidor geral manda proceder auto de Levantamento de
Pelourinho, que se dizia levantar como feito foi levantado no largo Praça mais pública deste
mesmo lugar, que de novo passa a ser Vila com a sobredita denominação de Nossa Senhora
do Livramento do Parnaguá, e logo pelo mesmo Senhor Governador e referidos Senhores
conselheiro e Desembargador ouvidor com mais pessoas moradores e povo que presentes
se achavam foi por três vezes dito em voz alta, viva El Rei de Portugal, e de tudo ordenou-se
finalmente o dito senhor Governador ao mesmo Desembargador [...] 13 de julho de 1762

Manoel Francisco
Ribeyro
O pelourinho Símbolo de poder frente aos
escravizados

Foi erigido em diversas vilas ao


longo do Piauí, a exemplo de
Campo Maior

Tratava-se de um espaço de
disciplina para os corpos e
mentes destes sujeitos
Outros modos de resistência?
Outros meios de Caso do Bairro do Rosário em
resistências Oeiras que a partir do século
encontrados por XIX passa a ser apropriado
estes povos por escravizados e pelos mais
tratou-se da pobres em negociação com as
ressignificação elites locais que concederam
de espaços antes ainda lotes de terra para que
vinculados às pudessem subsistir buscando
elites evitar situações de
convulsões sociais
Uma última questão
Não apenas os Um exemplo disso refere-se a
fazendeiros dos Simplicio Dias da Silva,
sertões foram comerciante em Parnaíba
senhores de que, no início do século XIX,
escravizados, mas ao ser descrito por viajantes
também comerciantes relata-se número
de locais distintos, com significativo de escravizados,
destaque para os com ofícios variados como:
grandes comerciantes artesãos, carpinteiros,
de Parnaíba ferreiros e serradores,
Travels in Brazil Fui apresentado a muitos dos mais prestigiosos
negociantes e plantadores, particularmente aos
coronéis José Gonçalves da Silva e Simplício Dias da
Silva, este é o subgovernador de Parnaíba, pequeno
porto situado a t res graus a leste de S. Luiz. São
homens de grande riqueza e de espírito
independente. O primeiro é pessoa idosa e realizou
imensa fortuna no comércio, ultimamente acrescida
pelo plantio do algodão. Possui de 1000 a 1500
escravos. [...] O coronel Simplício fora chamado a S.
Luiz pelo Governado r. Não fossem as circunstancias
em que se encontrava, teria eu ido à sua residência
em Parnaíba. Tem ele casa magnifica, banda de
música composta por seus escravos, alguns dos
quais educados em Lisboa e Rio de Janeiro. Só é
possível esperar melhoramentos dehomens como
esses [...]
Henry Koster
Comerciante em A cerca de 15 ou 18 léguas a Leste de S.
passagem por Parnaíba
Luís sobre o continente, lia a pequena
cidade de Parnaíba, perto da qual se
cultiva o melhor algodão do país, muito
superior a todas as qualidades do
Maranhão. Parnaíba recebe os produtos
da interessante capitania do Piauí, de que
Oeiras é a capital. [...] E’ perto de Parnaíba
que se acha a magnifica propriedade do
sr. Simplício Dias da Silva, um dos mais
opulentos particulares do Brasil. Calcula-
se em 1800 o número dos seus escravos.

Louis-François
de Tollenare
Nas décadas inciais do século XIX o porto de
Parnaíba torna-se um espaço de presença
significativa de escravizados no âmbito
comercial, com embarcações oriundas de
regiões distintas da América, mas também do
exterior.
O que podemos concluir?
Na aula seguinte: Uma parceria com o
diabo? Questões de gênero no Piauí colonial

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