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Resoluções das atividades HISTÓRIA 2

M
Ó 1 A conquista da América portuguesa; A história social dos povos africanos e indígenas; A economia açucareira » 1
D 2 A mineração no Período Colonial e as atividades subsidiárias; A formação territorial brasileira » 4
U 3 As revoltas coloniais; Período Joanino e a transição para a independência » 6
L Atividades discursivas » 9
O
S

MÓDULO 1 A conquista da América portuguesa; 05 E


A história social dos povos africanos e A historiadora Daniela Calainho mostra, nesse texto, o uso
indígenas; A economia açucareira de “bolsas de mandinga” por africanos e seus descenden-
tes, escravizados ou libertos, em várias localidades do Brasil
ATIVIDADES
PARA SALA durante o Período Colonial. Tratava-se de uma estratégia
mágico-religiosa, dentro dos quadros de tradições das cul-
01 A turas africanas transplantadas para a América, para tentar
A Coroa portuguesa estabeleceu o estanco, ou seja, o mono- remediar a situação de intensa exploração econômica e
pólio do pau-brasil, como uma estratégia de garantir ganhos social a que todas as pessoas escravizadas estavam subme-
imediatos, já que a madeira era explorada para alguns fins, tidas. Por proteger contra doenças, azar, violências, roubos,
como a tinturaria de tecidos e a confecção de móveis. A deno- brigas e também servirem de amuletos de sorte, para efei-
minação da madeira acabou sendo utilizada para nomear a tos positivos, como atrair dinheiro e amor, as bolsas de man-
terra, e o lenho sagrado foi então substituído pelo profano, o dinga minimizavam a sensação de desamparo social expe-
que também era refletido, para a época, no que diz respeito à rimentada pelas pessoas escravizadas, colocando-as em
presença de povoadores considerados de caráter e compor- contato com forças espirituais mais amplas que as poderiam,
tamento imorais. de alguma forma, proteger no mundo estranho dos brancos.

02 E 06 D
Os ”lançados” eram vulgarmente considerados súditos do Ao observar a ausência das letras F, L e R na língua dos
rei de Portugal, condenados ao exílio por terem cometido povos indígenas e, com base nisso, concluir que eles não
algum tipo de crime em Portugal. Vale lembrar que a pena possuíam lei, rei e fé, ou seja, suas sociedades não tinham
de degredo poderia ser aplicada a qualquer um, inclusive organização jurídica, política e religiosa, Gândavo demons-
a pessoas que cometiam infrações por motivações políti- trou a incapacidade dos portugueses de compreender a
cas, religiosas ou morais. alteridade radical representada pela cultura indígena. Essa
03 E incapacidade dos portugueses era provocada por seu pro-
fundo eurocentrismo, que os forçava a perceber os indíge-
Os cronistas que descreveram a vida na América colonial nas apenas segundo os valores específicos, locais, provin-
várias vezes fizeram críticas duras ao comportamento dos cianos, dos europeus.
colonos portugueses. Tais críticas, na maioria das vezes, ata-
cavam o modo como os colonos, desde os mais altos fun-
cionários régios, como governadores e magistrados, até o 07 E
mais pobre oficial mecânico, sem esquecer, obviamente, dos O sermão de padre Vieira procurou apresentar uma legiti-
senhores de engenho, senhores de escravos e terras, proce- mação religiosa para a escravidão e todo o sofrimento que
diam em relação às riquezas da terra. Em trechos como “os lhe era inerente, ao associar o trabalho do escravo ao sofri-
acusar de mais devotos do pau-brasil que dela” ou “E deste mento de Cristo em sua paixão. Trata-se de uma estratégia
modo se hão os povoadores, os quais, por mais arraigados da retórica barroca do intelectual português, consistindo em
que na terra estejam e mais ricos que sejam, tudo preten- produzir um discurso com múltiplos níveis de significado que
dem levar a Portugal”, os cronistas denunciavam o caráter se entrelaçam entre si. O resultado final é incitar os escravos
eminentemente exploratório da colonização, a rapinagem ao trabalho nos engenhos (resultando em engrandecimento
das riquezas brasileiras e seu desvio para a metrópole, de da monarquia lusa, logo, da Igreja Católica), apresentando
forma tão desmedida que os outros objetivos da coloniza- esse trabalho como o caminho para a salvação.
ção, como a evangelização do gentio da terra, ficavam em
segundo plano – para a preocupação de algumas autorida- 08 E
des da Igreja (enquanto outras, a maioria, assumiam os mes- A invasão holandesa no Nordeste do Brasil, no século XVII,
mos comportamentos dos demais colonos). foi motivada pelo interesse em controlar o lucrativo comér-
cio do açúcar, do qual os holandeses haviam sido priva-
04 C dos pela Espanha em razão de conflitos entre holandeses
Ao desprezarem a diversidade cultural indígena, os euro- e espanhóis à época da União Ibérica (­1580-1640). Sendo
peus que chegaram ao continente americano demonstram a produção realizada basicamente pelo trabalho escravo
seu etnocentrismo, que se manifestou tanto na linguagem africano, tornava-se também necessário aos h ­ olandeses
que utilizavam quanto nas atitudes que tomavam nesses controlar o domínio lusitano na África, responsável por for-
novos territórios. necer os escravos.

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09 E por meio de práticas corruptoras dos agentes da Coroa,


compravam atestados de pureza de sangue e ganhavam
O historiador Ronaldo Vainfas ironicamente aponta a razão
acesso aos estratos superiores da sociedade colonial.
do “heroísmo” dos senhores de engenho pernambucanos
(que compunham a chamada “nobreza da terra”) para se 03 D
insurgirem contra o domínio holandês em 1645. Tratava-se
As duas legislações expostas no enunciado são responsá-
da proclamação do líder pernambucano João Fernandes
veis pelo secular processo de concentração da posse de
para a anulação de todas as dívidas da camada senhorial
terras na sociedade brasileira. De um lado, a Lei das Ses-
com os holandeses. Vê-se logo que o apoio dos senhores
marias instaurou um modo de distribuição fundiária nas
à insurreição foi provocado por seus interesses econômi-
possessões da Coroa portuguesa que, ao ser transplan-
cos, pois, nos anos precedentes, esse grupo social tinha
tado para o Brasil ainda nas primeiras décadas do século
se endividado profundamente com a holandesa Compa-
XVI, permitiria que uma pequena elite privilegiada tivesse
nhia das Índias Ocidentais e corria o risco de perder seus
acesso legal à maior porção das terras, bem como às mais
engenhos se todos os débitos fossem executados, como
férteis. Em troca, o rei português receberia tributos e teria
pretendia a empresa batava.
assegurada sua soberania sobre o Brasil e seus habitantes.
Por sua vez, o Estatuto da Terra, aprovado no início da Dita-
ATIVIDADES
PROPOSTAS dura Civil-Militar em 1964, a despeito de sua proposta de
regular a distribuição de terras visando ao interesse social,
reforçou a mercantilização da terra e sua concentração nas
01 D mãos de um pequeno grupo social, o que foi possibilitado
também pela dura repressão a que todos os movimentos
O texto do enunciado tem o cuidado de diferenciar o aparato
sociais agrários foram submetidos durante a ditadura.
de administração da Justiça régia montado pela Coroa portu-
guesa nas terras da colônia, composto por funcionários esco-
lhidos pela monarquia, sendo alguns, nos cargos de magis- 04 C
tratura mais importantes, oriundos da nobreza do reino, da A atividade exploratória, que remonta ao século XVI, gerou
justiça local efetivada pelos senhores de escravos e de terras significativo impacto econômico e, ao mesmo tempo, pro-
nos sertões da América. A justiça local era aquela dos poten- duziu no Brasil uma conjuntura de marginalização de gru-
tados, dos grandes senhores locais que ocupavam o espaço pos sociais mais desfavorecidos.
do Estado onde a Coroa não conseguia chegar. Esses mes-
05 A
mos potentados eram os detentores dos cargos camarários
Em sua carta, o padre jesuíta alertava o rei português
nas câmaras municipais espalhadas por todo o Império Por-
D. João III acerca das contínuas tentativas francesas de
tuguês, de modo que, em nível local, detinham uma parcela
ocupar o território do Brasil nas primeiras décadas do
de oficialidade em seus desmandos. Tanto em um caso como
século XVI, o que se mostrava um problema grave para
no outro, no aparato burocrático e no poder dos potentados,
a política imperial e colonialista portuguesa, que poderia
prevalecia uma ação autoritária e arbitrária da Justiça, que
se ver desprovida de soberania sobre as terras do Brasil.
visava sempre aos interesses dos grandes senhores, fossem
eles potentados locais ou magistrados do rei. Essa preocupação foi um dos motivos que incentivaram a
Coroa lusitana a adotar uma política de colonização efe-
tiva do Brasil a partir da década de 1530.
02 E
A historiadora Laura de Mello e Souza aborda, neste tre- 06 D
cho, os critérios de estratificação social nas sociedades do Durante as três primeiras décadas do século XVI, a colo-
Antigo Regime do reino e das capitanias na colônia. Em nização efetiva das terras brasílicas não entrou nos pla-
sociedades como essas, a sociedade era hierarquizada nos imediatos da Coroa portuguesa. Nessa conjuntura,
em ordens ou estamentos, permitindo, a princípio, pouca as atenções de Lisboa voltavam-se prioritariamente para
mobilidade social, uma vez que o lugar social ocupado o comércio das especiarias indianas, cujo monopólio os
por cada pessoa era dado por seu nascimento. Este era o portugueses momentaneamente detiveram por meio da
sentido dos estatutos de pureza de sangue a que a ques- descoberta da rota africana (via Atlântico-Índico) para o
tão se refere. Ter sangue dito “limpo” era uma condição Extremo Oriente. A não existência de riquezas minerais ime-
necessária para o acesso aos cargos mais importantes na diatamente exploráveis nas terras americanas de Portugal,
administração régia e na Igreja, às ordens militares e à Uni- ao contrário do que ocorria nas Índias castelhanas, tam-
versidade de Coimbra. Por sangue “limpo”, entendia-se pouco convidava a uma colonização efetiva, de modo que
não ser descendente, em pelo menos oito graus, de mou- Portugal reservou o território americano, nesse momento,
ros, negros e africanos, judeus ou cristãos-novos, oficiais
para a exploração predatória da madeira do pau-brasil
mecânicos e comerciantes de pequena ventura. Segundo
(uma atividade de caráter nômade e descentralizado, rea-
a historiadora, a sociedade mineira setecentista diferen-
lizada pelos indígenas da costa em troca de mercadorias
ciava-se das demais mencionadas, porque ali a riqueza
europeias de baixo valor, a prática do escambo). Por meio
abundante e de fácil manejo do ouro permitia que, mui-
dessa madeira se produzia uma tinta vermelha, brasil, bas-
tas vezes, esses defeitos de sangue fossem conveniente-
tante apreciada na Europa, por causa das feitorias instala-
mente apagados na ancestralidade dos poderosos, que,
das em pontos estratégicos do litoral. Não dispondo de

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interesse e condições para uma colonização real das terras sequer existia ou era apenas influência demoníaca. Porém,
americanas, nem por isso Portugal se dispunha a perder a do ponto de vista das pessoas escravizadas, africanas ou não,
sua posse para potências concorrentes, como a França e negras e mestiças, a preservação dessa herança cultural, com
a Espanha, por isso a instalação de fortes de defesa, que suas crenças religiosas e modos específicos de relacionar-
também serviam como entrepostos comerciais, era estra- -se com o sagrado, era um fator crucial para a manutenção
tégica. Mas nem a extração de pau-brasil, nem a criação de suas identidades para além do mundo dos brancos. As
de feitorias, eram atividades que incentivavam o povoa- dinâmicas de mestiçagens que caracterizaram a sociedade
mento do território, resultando que a colonização demo- colonial provocaram misturas em vários níveis das crenças
rou mais algumas décadas para começar de fato no Brasil. africanas, europeias e ameríndias, resultando desse encontro
cultural o sincretismo religioso que ainda hoje caracteriza a
07 B cultura brasileira. No Período Colonial, as práticas sincréticas
Com o objetivo de impor o catolicismo aos africanos, a Igreja foram a saída encontrada pelos escravizados para manter
utilizou-se de imagens de santos e santas negros para disse- suas crenças e identidades mesmo sob a dura repressão reli-
minar a religião cristã, uma vez que as imagens de santos giosa da sociedade colonial, branca e cristã.
se mostravam fiéis e devotas a Deus e ao poder da Igreja,
12 E
como descreve o texto 2 e mostra o texto 1.
A festa da coroação do Rei do Congo busca suas raízes na
08 C tradição africana, mas, ao ser trazida para a América como
O texto retrata uma característica da cultura africana que foi base do arcabouço cultural dos africanos escravizados, pas-
trazida para o Brasil pela escravidão e se tornou uma das sou por um intenso processo de ressignificação cultural.
maiores características escravistas brasileiras: o chamado Esse processo se encaixa nas dinâmicas de mestiçagens que
misturaram as culturas africanas, europeia e ameríndia na
“escravismo de ganho” (escravos que faziam serviços urba-
colônia, resultando, no caso do Congado, em uma festa que
nos, como o comércio ambulante). O destaque do texto é
mistura cultos católico e africanos, comemorando, simul-
que, tanto na África quanto no Brasil, esse trabalho era exer-
tânea e sincreticamente, São Benedito, Nossa Senhora do
cido de maneira significativa pelas mulheres.
Rosário (divindades negras) e a vida do negro Chico-Rei.
09 E
13 D
Uma das barreiras para os contatos culturais entre indíge-
O tratado do padre jesuíta Antonil serve de documentação
nas e portugueses era a língua. No sentido de superar esse
para algumas características da empresa açucareira instalada
obstáculo, os padres católicos foram importantes, pois
nas capitanias do Norte da América portuguesa a partir de
aprenderam o tupi e criaram uma gramática que permitia
meados do século XVI. Como relata o jesuíta, os senhores de
seu ensinamento aos europeus e, mais relevante, per-
engenho, embora possuíssem as cartas de sesmarias sobre
mitia que as ideias eurocêntricas fossem transmitidas aos
as terras e detivessem a infraestrutura para a manufatura do
indígenas. Também cabe destacar a existência de intérpre-
açúcar (que era cara, demandando investimentos pesados,
tes, conhecidos então como “línguas”, indígenas ou mes- o que restringia a condição de senhor de engenho às elites),
tiços, que faziam a mediação cultural entre os povos. Em não efetivariam a produção sem um sistema de parceria com
meio a esse processo, foi criada uma língua geral, híbrida os lavradores de menor monta. Assim, percebe-se como a
entre tupi e português, para ser falada comumente nas atividade açucareira demandava a existência de uma camada
terras brasileiras. Por meio da língua geral, os esforços de intermediária de trabalhadores livres entre os senhores de
catequização dos jesuítas se aprofundaram. engenho e os escravos, camada média essa que assumia
diversos ofícios na produção açucareira, podendo, inclusive,
10 A
ser composta de arrendatários de terras dos senhores que
O historiador Robert Slenes chama atenção para a diver- faziam a moagem da cana nas casas de engenho senho-
sidade cultural dos africanos que foram violentamente riais. Essa camada intermediária de trabalhadores podia ser
trazidos como escravos para o Brasil. Desse modo, a prin- composta por homens brancos reinóis ou negros e mestiços
cípio, não existia uma identidade africana que ligasse as libertos ou livres que conseguiram ascender socialmente –
diversas nações escravizadas. O argumento do autor é que neste último caso, desempenhariam principalmente funções
foi a situação de cativeiro e escravização que permitiu a de capatazes, próximas às atividades que desempenhavam
formação de laços de solidariedade entre os africanos de como escravizados. De todo modo, fica clara a interdepen-
culturas distintas, abrindo espaço para a formação de uma dência entre os senhores e os lavradores intermediários.
identidade cultural afro-brasileira.
14 B
11 C Os holandeses foram expulsos de Pernambuco em 1654
A inclusão dos africanos escravizados e seus descendentes à e retiraram seus investimentos. O capital financeiro e o
sociedade colonial era feita de forma violenta e traumática. Os conhecimento técnico passaram a ser voltados para as
valores morais e religiosos europeus e cristãos eram impostos Antilhas – conjunto de ilhas do Caribe em poder dos france-
de modo autoritário a todos, com total desconsideração da ses, dos ingleses e dos próprios holandeses –, reproduzindo
herança cultural africana que as pessoas escravizadas porta- na região a estrutura que havia no Brasil, porém, obtendo
vam. Do ponto de vista senhorial cristão europeu, tal herança maior produtividade.

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15 D da cachaça, a colônia não apenas descumpria sua função de


complementar a economia metropolitana, como fazia con-
Em sua pintura, o francês Debret preservou quadros da vida
corrência com o produto europeu em mercados estrangeiros
cotidiana das pessoas no Brasil ao fim do período colonial.
– os estratégicos portos de exportação de pessoas escraviza-
Por meio deles, é possível ter acesso a comportamentos e a
das na África. Foi por essa razão que o negócio da cachaça
estruturas socioculturais que dão ossatura e forma à socie-
persistiu e afinal triunfou sobre o comércio do vinho lusitano,
dade brasileira, podendo ser percebidos como originários
pois a aceitação da aguardente da cana era muito maior nos
desde o início do Período Colonial e permanecendo longo
mercados africanos que os vinhos de Portugal, assumindo,
tempo após a independência. A característica patriarcal da
pois, uma posição estratégica no mercado atlântico de escra-
organização familiar na América portuguesa é uma dessas
vos. Desse modo, o comércio da cachaça se ligou permanen-
estruturas. Por meio da representação de um jantar coti-
temente à atividade fundamental para o sucesso da coloniza-
diano, Debret sutilmente mostra como o poder do senhor
ção lusa, o fornecimento de mão de obra para os engenhos e,
de escravos e terras não se limitava à dimensão econômica
no século XVIII, as minas de metais preciosos. Sem os braços
de seu poderio (suas terras, propriedades e servidores
escravizados dos africanos, não poderia haver colonização.
dependentes), mas abarcava igualmente dimensões cultu-
E para obtê-los, Portugal necessitou transigir com a cachaça
rais e políticas. É nesse sentido que se diz que o senhor de
brasileira.
engenho detinha uma autoridade patriarcal sobre todos os
membros de sua família extensa e sobre uma longa rede
de dependentes que se espalhava para fora dos limites MÓDULO 2 A mineração no Período Colonial e as
de suas terras. Nessa configuração patriarcal do poder, atividades subsidiárias; A formação
as dimensões de público e privado se misturavam, pois o territorial brasileira
poder familiar do senhor era transposto para as arenas eco-

PARA SALA
nômica e política da sociedade colonial.
ATIVIDADES

16 D
A questão objetiva relacionar o modo como a sociedade 01 C
colonial brasileira se estruturou na zona açucareira, nos sécu- Durante o século XVIII, a colônia americana de Portugal
los XVI e XVII, com as atitudes tomadas pelo governo holan- experimentou significativo crescimento demográfico, como
dês de Maurício de Nassau durante a dominação holandesa comentado no texto do jornalista Laurentino Gomes, devido
na região. Assim, deve-se entender que a administração de à atração da atividade mineradora. A descoberta de jazidas
Nassau foi bem-sucedida, porque conservou as caracterís- auríferas e de pedras preciosas no sertão americano desper-
ticas da sociedade colonial, estando em primeiro plano a tou a cobiça de milhares de aventureiros em Portugal e em
manutenção das relações escravistas. Também foram impor- várias regiões da colônia, especialmente São Paulo e o Norte
tantes as medidas de estímulo à produção dos senhores de açucareiro. Além disso, a pressão econômica da mineração
engenho locais, por meio de empréstimos e da sua inclusão redirecionou e engrossou o tráfico negreiro para a região,
em redes comerciais internacionais. Outra medida estraté- aumentando ainda mais a população local.
gica de Nassau, no sentido de preservar as características
da sociedade açucareira, foi a relativa tolerância religiosa em 02 C
relação ao catolicismo e ao judaísmo. No Período Colonial, o comércio interno foi realizado no
lombo das mulas dos grupos de tropeiros, que transpor-
17 C tavam pequenas mercadorias e gado. Esses comercian-
A alternativa C é a que melhor expressa o conteúdo da carta tes viajavam pelas regiões interioranas do Brasil Colonial,
de Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco. atravessando grandes distâncias e conectando o Sul e o
A essência da colonização era a cana-de-açúcar, porém havia Centro, especialmente as regiões das minas. Como resul-
outras atividades importantes, como o algodão e a produ- tado de sua atuação, e também para criar condições para
ção de mantimentos, que estavam conectadas com a cultura que elas se realizassem, vários povoados foram surgindo
canavieira. Outras funções eram desenvolvidas pelos traba- ao longo dos caminhos rústicos, muitas vezes crescendo
lhadores como “mestres de engenhos, outros mestres de de pequenas vendas de beira de estrada.
açúcares, carpinteiros, ferreiros, oleiros e oficiais de fôrmas e
sinos para os açúcares e outros oficiais”. 03 B
O historiador Charles Boxer descreve o impacto da desco-
18 D berta de jazidas de metais preciosos nos sertões da América
Em seu texto, a historiadora Ana Maria da Silva Moura mos- portuguesa sobre a dinâmica demográfica do Império lusi-
tra os limites do exclusivo colonial pretendido por Portugal tano. As notícias das novas riquezas minerais provocaram
em seus negócios com sua colônia brasileira. A produção uma intensa corrida do ouro partindo de todas as partes do
brasileira de cachaça, um subproduto da manufatura do açú- Império Ultramarino de Portugal, do reino, das capitanias
car (principal produto colonial aos olhos lusitanos) concorreu do Brasil e mesmo de partes da África e da Ásia. Essa alte-
vantajosamente com os vinhos metropolitanos, contrariando, ração nos fluxos populacionais teve consequências negati-
a princípio, o sentido mercantilista da colonização. Por causa vas para as regiões que foram despovoadas, como as áreas

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rurais de Portugal e a decadente zona açucareira nas capita- 02 D


nias do Norte, bem como para a própria região das Minas,
O objetivo da questão é abordar as razões econômicas para
que se viu diante de crises de abastecimento e de fome no
início do século XVIII. o processo histórico de desenvolvimento e crescimento da
Região Sudeste do Brasil, com foco na explosão urbana e
04 C demográfica da cidade de São Paulo. Em trezentos anos, a
Por meio do relato de viagem feito pelo franciscano, é pos- região foi palco de atividades econômicas que possibilitaram
sível identificar várias diferenças culturais entre os indígenas tal crescimento, tendo sido elas a mineração, a cafeicultura e
nativos da costa brasileira e os invasores europeus (no que a industrialização. É importante ter em mente, todavia, que
se assemelhavam franceses e portugueses). Entre essas dife- não se trata de uma sucessão linear, uma atividade não subs-
renças, podem ser citadas distintas dietas, a ausência da tituiu a outra, ao contrário, uma foi se acrescentando à outra
atividade pecuária entre os indígenas, atribuição de valores e assumindo uma posição central, ainda que temporária, na
simbólicos diversa a materiais (objetos não valorizados pelos economia geral do Brasil.
europeus o eram pelos indígenas), distintos valores de guerra
e de paz nas relações entre comunidades.
03 D
05 A A atividade mineradora teve um impacto profundo na socie-
A política do estado de São Paulo descrita no texto tinha o dade colonial brasileira em diversos aspectos. No campo eco-
sentido de afirmar a centralidade paulista na história e na nômico, a nova atividade econômica gerou um eixo de atra-
economia brasileira no presente e no passado. Para tanto, ção econômico-demográfica no centro da colônia, fazendo
construiu-se uma memória histórica acerca dos bandeirantes com que várias atividades, como a pecuária bovina do ser-
paulistas que os representa como heróis do passado nacio-
tão norte, os portos exportadores e comerciais do litoral, as
nal, engrandecendo-os nos livros de História e nas obras de
regiões agrárias de policultura do Centro-Sul (principalmente
arte, apagando seus traços populares (ascendência indígena
o sul e a Zona da Mata do atual estado de Minas Gerais), os
e pobreza material) e violentos (participação no genocídio e
na escravidão indígena durante o Período Colonial). entrepostos comerciais do interior de São Paulo, se articulas-
sem entre si, com vistas a possibilitar o escoamento do ouro
e o abastecimento da região mineradora. Surgia, assim, um
06 C
mercado interno colonial ainda incipiente, mas que se fortale-
A pecuária nordestina é lembrada por duas rotas: a rota
ceria ao longo do século XVIII.
do sertão de fora, que ligava Salvador a Fortaleza, sem se
distanciar tanto do litoral, e a rota do sertão de dentro, que
interligava as fazendas do interior da Bahia com o interior do 04 E
Maranhão. No sertão de dentro, o Rio São Francisco teve As entradas e as bandeiras são um tema tradicional da his-
papel de grande relevância, pois os rebanhos se aproveita-
toriografia brasileira e, como aponta o historiador Luciano
vam de suas margens para retirar seu sustento; nessa traje-
Figueiredo, serviram de eixo em torno do qual Sérgio
tória, também se criaram vilas, e, delas, nasceram cidades,
Buarque de Holanda construiu sua interpretação da histó-
como Oeiras (Piauí), Feira de Santana (Bahia) e Pastos Bons
(Maranhão). Boa parte da mão de obra empregada na ativi- ria do Brasil – desde logo, uma história vista de São Paulo.
dade pecuarista advinha do trabalho livre. Nesse contexto, As entradas e as bandeiras diferenciavam-se mais pelo
surge a figura do vaqueiro, que recebia cabeças de gado agente financiador, para as primeiras, a Coroa, para as
como forma de pagamento pela fidelidade no trabalho segundas, indivíduos particulares (notadamente a elite de
pecuarista. Essa atividade, então, gerava grande mobilidade São Paulo), do que pelos objetivos e métodos. Eram expe-
no campo e diminuía a miséria do sertanejo. Foi esse evento dições realizadas por sertanistas, homens experimen-
que Capistrano de Abreu chamou de “civilização do couro”. tados nas agruras das viagens pelo interior da América,
brancos, mestiços e indígenas, que percorriam longas
ATIVIDADES
PROPOSTAS distâncias, às vezes durante anos, pelos sertões brasílicos,
em busca, idealmente, de jazidas de metais preciosos e,
mais concretamente, de indígenas para serem apresados
01 A e conduzidos como escravizados para os centros de colo-
nização no litoral. Algumas expedições também tiveram
Desde o início da colonização europeia na América, o Estado
como fim a destruição de quilombos, como aquela que
português teve que conviver com o fato de que a Espanha
encontrava e desfrutava do ouro americano. Por isso, encon- atacou Palmares em meados do século XVII. Ao fim do
trar riquezas minerais em seu território colonial sempre foi século, as bandeiras e as entradas dilataram bastante o
um desejo português. Apesar dos esforços e da vontade da território colonial português para além dos limites de Tor-
Coroa, isso só foi possível por meio das bandeiras, ao final do desilhas e foram bem-sucedidas ao encontrar as jazidas
século XVII. auríferas nos sertões das Gerais.

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05 E Mato Grosso. Com a derrota sofrida na Guerra dos Emboabas,


os paulistas se interessaram pela exploração aurífera nessas
A questão aborda os modos de sociabilidade barroca que se
novas localidades, embora elas não fossem tão produtivas
desenvolveram nas regiões das Minas no século XVIII. Como
quanto Minas Gerais. Dessa forma, houve a criação da capi-
mostrou a historiadora Laura de Mello e Souza, as festas e pro-
tania de Goiás no século XVIII, uma medida da metrópole
cissões religiosas então realizadas ultrapassavam seu sentido
para controlar minimamente a exploração na região. O
espiritual originário e reproduziam, transmitiam e reforçavam
povoamento e a colonização da nova região provocaram
os valores, as hierarquias e os comportamentos da sociedade
transformações nos comportamentos habituais, inclusive
mineradora, por meio de uma estética afetada, rebuscada,
alimentares, dos povos ali residentes, em trocas culturais e
paradoxal – barroca. A pobreza da maioria da população das conflitos violentos.
Minas, sobretudo dos escravizados, era momentaneamente
transcendida nas festas e por meio da arquitetura banhada
a ouro, de modo que, naqueles instantes, a sociedade mine- 10 B
radora expressava uma imagem resplandecente e rica de si O texto remete à visão de um religioso, o bispo de Per-
mesma, perpetuando a ideia de que, em Minas, se vivia em nambuco D. Francisco de Lima, sobre os bandeirantes
faustos e luxos – o que é uma interpretação errônea, uma vez paulistas, em especial Domingos Jorge Velho. Os religio-
que, fora dos episódios festivos, a maioria das pessoas vivia sos defendiam a catequese dos índios e criticavam a atua-
em grande miséria. ção dos bandeirantes paulistas que destruíram as missões
espanholas no sul (Tape, no Rio Grande do Sul; Guairá,
06 D no Paraná; e Itatim, em Mato Grosso). Domingos Jorge
A pecuária extensiva foi uma das principais atividades eco- Velho foi um “sertanista de contrato” que trabalhava para
nômicas durante o Período Colonial, ainda que não se orien- os fazendeiros tentando evitar revoltas de negros e de
tasse diretamente para o mercado externo. A pecuária foi índios. Ele foi o responsável pela destruição do Quilombo
uma atividade voltada para o mercado interno colonial, guar- dos ­Palmares.
dando algumas diferenças regionais. No sertão das capitanias
11 D
do Norte, seguindo a linha da bacia do Rio São Francisco,
desenvolveu-se a pecuária de gado bovino, para o forneci- A capitania de Minas Gerais foi a capitania mais impor-
mento de carne e produtos derivados do boi para as regiões tante para Portugal devido à exploração aurífera que
litorâneas. Nos campos e planaltos da Região Sul, desenvol- abastecia os cofres portugueses. Por isso, a fiscalização
veu-se a pecuária muar, cujo sentido era fornecer mulas e bur- sobre essa capitania era extremamente rígida, visando
ros para o transporte e comércio interno na colônia. ao não prejuízo português devido ao contrabando das
riquezas minerais, prática constante em que se envolviam
07 A membros das elites coloniais, funcionários régios e popu-
As atividades econômicas não ligadas à exportação foram lares. Essa fiscalização e a estrutura para a exploração
responsáveis por desbravar o interior do território que viria do ouro fizeram com que a urbanização de Minas Gerais
a ser o Brasil. No atual Nordeste, a pecuária construiu um fosse diferente da de outras capitanias.
universo social e cultural próprio da região do Sertão, a
chamada “civilização do couro”. A pecuária, nessa região, 12 E
foi lentamente se estendendo ao longo dos rios, espe- O Primeiro Tratado de Utrecht foi assinado em 1713, no con-
cialmente o São Francisco, conectando as capitanias da texto da expansão do território colonial português, após o
Bahia e de Pernambuco com os interiores do Maranhão, período da União Ibérica, devido ao crescimento e à diversi-
do Ceará e, mais tarde, das Minas Gerais. ficação das atividades econômicas coloniais (pecuária, serta-
nismo, mineração, extrativismo vegetal), e de reaproximação
08 C
entre França e Portugal. Por meio do Tratado de Utrecht, fica-
A destruição de Palmares pela expedição de Domingos Jorge ram estabelecidos os limites entre as possessões coloniais de
Velho sinaliza dois aspectos importantes da história colonial Portugal e França na região amazônica, confirmando a posse
brasileira: que Palmares se transformou em um núcleo forte lusa sobre o Amapá e o Rio Oiapoque.
de resistência africana e negra ao sistema escravista e colo-
nial, interferindo na zona açucareira e, consequentemente, na
dominação colonial; e que as tropas bandeirantes estavam
MÓDULO 3 As revoltas coloniais; Período Joanino e
mais bem preparadas para o confronto contra o quilombo,
a transição para a independência

PARA SALA
pois possuíam experiência em sobrevivência no sertão e eram
ATIVIDADES
compostas por um pessoal largamente ameríndio ou mestiço,
capazes de enfrentar os palmarinos em seu território, e, auxi-
liados pela vantagem em armamentos e munições, vencê-los. 01 B
As conjurações Mineira e Baiana, a despeito de objetivarem
09 D a independência, tinham bases e ideais diferentes. Dentre
Após se descobrirem jazidas de ouro nos sertões das Minas esses ideais, a abolição da escravatura era um desejo da
Gerais, também foram encontradas outras regiões em que se Conjuração Baiana, mas não fazia parte dos ideais da Incon-
podia extrair ouro e outras pedras preciosas, como Goiás e fidência Mineira.

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02 E no século XIX, ou seja, uma forma de glorificar o passado e


construir uma memória cívica que valorizasse certas narra-
A Conjuração Baiana (1798) recebeu forte influência das ideias
tivas do processo.
radicais da Revolução Francesa, que se traduziram na grande
radicalidade das propostas dos conjurados baianos, que rei-
vindicavam a igualdade jurídica de todos (ou seja, o fim da
escravidão) e a liberdade em relação a Portugal (a indepen-
ATIVIDADES
PROPOSTAS
dência política). Esse caráter radical do movimento garantiu
que ele tivesse um apelo popular bastante forte e fosse, con- 01 C
sequentemente, reprimido com muita dureza pela Coroa.
Enquanto Pombal foi mais liberal em suas reformas das ins-
03 A tituições do reino, ele foi mais conservador, ou seja, ado-
tou práticas mercantilistas, ao reforçar o laço colonial que
O texto da questão se refere à Revolta de Beckman, um movi- subordinava o Brasil a Portugal. É nesse contexto que deve
mento que ocorreu no Maranhão em 1684. O movimento não ser compreendida a fundação do Diretório dos Índios. Tra-
se levantou contra a autoridade portuguesa sobre o territó- tava-se de um ataque direto aos jesuítas, contra quem o
rio, mas deu voz às insatisfações dos colonos locais contra a marquês levantava acusações de traição a Portugal, contra-
política metropolitana efetivada pela Companhia Geral de bando e outros crimes. O fato é que os jesuítas eram excessi-
Comércio do Estado do Maranhão, que recebera da Coroa vamente poderosos, controlando um vasto patrimônio e uma
o privilégio da exploração comercial da região. O descaso da numerosa mão de obra indígena. Ao retirar a prerrogativa de
Companhia com as necessidades econômicas dos colonos aculturação dos indígenas das mãos da Companhia de Jesus,
forçava-os a recorrer à escravização dos indígenas – contra o Pombal fragilizava sua atuação. O embate entre o ministro
que se colocavam os jesuítas, tornando as tensões políticas e os jesuítas culminou na proibição definitiva da escravidão
na capitania ainda mais complexas. A revolta tomou forma indígena e na expulsão dos jesuítas de todos os territórios do
no levante dos colonos, liderados pelos senhores de terras e Império ultramarino luso.
escravizados, expulsando os representantes régios e da Com-
panhia, além dos jesuítas, instalando um governo provisório
(mas submetido ao monarca português). A repressão lusa não 02 A
demorou: um novo governador foi designado pelo rei, que A questão aponta para a Revolta de Filipe dos Santos ou a
efetuou a prisão e o enforcamento dos líderes da revolta. Primeira Revolta de Vila Rica, em 1720, nas Minas Gerais. A
colônia pagava o quinto para a metrópole conforme rezava
04 B o Foral, que estabeleceu os direitos e deveres dos donatários
A transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro pro- no contexto da criação das Capitanias Hereditárias. No século
vocou uma série de transformações nessa cidade e na colônia XVIII, com a mineração, visto que o ouro em pó era fácil de ser
como um todo. A principal dessas transformações foi a aber- sonegado, a Coroa criou a Casa de Fundição, com a proposta
tura dos portos brasileiros às nações amigas, medida que, na de fundir o ouro e retirar o quinto, evitando o contrabando.
prática, extinguiu o sistema colonial. Todavia, essas medidas Isso irritou muitas pessoas em Minas Gerais e foi a causa prin-
de caráter liberalizante não tiveram o efeito de alterar a estru- cipal da Revolta de Filipe dos Santos em 1720. O desfecho foi
tura desigual da sociedade brasileira, principalmente porque a morte do líder e a manutenção da casa de fundição.
não tocaram na escravidão, mantendo o poder nas mãos de
uma pequena elite senhorial e travando qualquer renovação 03 B
política profunda.
A Inconfidência Mineira foi a expressão do descontentamento
das elites locais da região das Minas Gerais contra as políti-
05 A
cas portuguesas de recrudescimento da exploração colonial.
A transferência da Corte portuguesa para o Brasil teve Tais políticas foram iniciadas pelo Marquês de Pombal, que,
efeitos profundos sobre o desenrolar da história brasileira para enfrentar a crise econômica lusa e tentar aliviar na metró-
em várias dimensões. No plano econômico, a instalação pole os efeitos da desaceleração da arrecadação dos tributos
da Corte no Rio de Janeiro foi acompanhada pelo decreto sobre o ouro, decretou a criação de novos impostos, incluindo
de abertura dos portos brasileiros às nações amigas. Trata- a derrama. A rainha D. Maria I deu continuidade à política de
va-se de uma concessão que a Inglaterra obrigou a Portu- intensificação da exploração colonial, dessa vez, proibindo a
gal, em troca do apoio e suporte inglês à transferência da instalação de manufaturas em terras coloniais, o que ia dire-
Corte. Dessa forma, a Coroa acabava com a exclusividade tamente contra os interesses das elites locais no Brasil. Esses
comercial entre colônia e metrópole. fatores, somados à maior perseguição ao contrabando (com o
qual as principais personalidades da capitania estavam envol-
06 A vidas) e ao desalojamento de membros importantes da elite
A celebração da Independência é um ponto da lenta cons- mineira de cargos estratégicos na administração colonial, cau-
trução de identidade nacional durante o período imperial saram a revolta contra a Coroa portuguesa.

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04 A No caso das colônias espanholas, não houve algo pare-


cido, pois a Coroa espanhola foi derrubada por Napoleão,
A questão aborda como as diferenças históricas entre Olinda
criando um vácuo de poder que foi aproveitado pelas
e Recife resultaram na Guerra dos Mascates no início do várias elites coloniais regionais da América espanhola para
século XVIII. O conflito eclodiu devido às rivalidades econô- iniciar as lutas de independência, que provocaram a frag-
micas e políticas entre a tradicional elite de Olinda, composta mentação territorial das antigas colônias, bem como sua
por senhores de engenho, e a nova elite do arraial de Recife, transformação em repúblicas e a abolição da escravidão.
composta por mercadores portugueses. Enquanto os senho-
res de engenho locais estavam endividados, dado o contexto 08 B
da crise internacional do preço do açúcar desde a segunda A vinda da Corte portuguesa para o Brasil teve impacto
metade do século XVII, os mercadores portugueses enrique- duradouro sobre todo o território ultramarino português,
ciam cada vez mais às custas das dívidas dos primeiros. Essa exatamente porque ele provocou a alteração da lógica
rivalidade propiciou a formação de um primeiro sentimento de funcionamento já estabelecida. O Brasil passava a ser
antilusitano entre a elite agrária de Olinda, que apelidou, o centro e a sede do Império, auferindo as vantagens da
pejorativamente, os comerciantes lusos do Recife de masca- proximidade com o monarca típicas das sociedades de
tes. O conflito estourou quando Recife conseguiu, por mercê Corte e que, antes, eram reservadas para Lisboa e os por-
régia, independência da Câmara Municipal de Olinda, provo- tugueses. As várias transformações ocorridas no período
cando uma reação armada dos senhores de engenho. serviram para elevar a posição econômica, política e cul-
tural do Brasil em relação a Portugal, em um processo de
inversão metropolitana.
05 C
A Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana foram movi-
09 B
mentos separatistas que, fundamentados no Iluminismo, bus-
A Revolução do Porto, de 1820, foi um marco importante
cavam o rompimento da relação metrópole-colônia. Dentre no processo de independência brasileiro, uma vez que
os ideais iluministas defendidos por esses movimentos, estão suas deliberações em relação ao Brasil tinham caráter cla-
a defesa da igualdade, liberdade e fraternidade e a soberania ramente conservador e restaurador. Ainda que tenha sido
do povo nos regimes políticos. uma revolução liberal em suas propostas para Portugal, a
Revolução defendia medidas que extinguiriam a autonomia
06 A político-econômica do Brasil, conquistada durante a estada
O final do século XVIII foi um período de intensa crise no da Corte lusitana no Rio de Janeiro. As demandas das Cor-
Antigo Regime nos dois lados do Atlântico, a qual se mani- tes portuguesas (instaladas pela Revolução) provocaram a
festou em revoluções de profundo alcance político e social, escalada das tensões no Brasil contra a autoridade portu-
tanto afetando suas próprias sociedades quanto outras guesa, precipitando o processo da Independência.
distantes. A Inconfidência Mineira foi particularmente
10 D
influenciada pelo movimento de independência das Treze
O jornalista apontava para as consequências das lutas de
Colônias inglesas da América do Norte. O projeto dos independência das colônias americanas da Espanha para a
inconfidentes para a República a ser instaurada em Minas política imperial de D. João no Brasil. A preocupação que
e no Rio de Janeiro seguia de perto a constituição do EUA. o monarca deveria ter era impedir que o Brasil seguisse o
Por sua vez, a Conjuração Baiana recebeu influência maior exemplo das novas repúblicas hispânicas, sendo vantajoso
da Revolução Francesa, especialmente das ideias radicais ao rei permanecer no Brasil e não retornar a Portugal, de
do período de governo jacobino. Também é válido desta- onde o controle sobre a colônia seria mais precário.
car que a Conjuração Baiana foi bastante influenciada pela
Revolução do Haiti, na qual os africanos e negros conse- 11 D
guiram a independência do país e a derrubada da escra- A transferência da Corte portuguesa para o Brasil aconte-
vidão. Essas influências ajudam a explicar o caráter mais ceu no contexto do Bloqueio Continental. Há que se con-
siderar alguns fatores para que essa mudança ocorresse,
popular do movimento baiano em relação ao mineiro.
como a invasão protagonizada por franceses, as pressões
da Inglaterra sobre o governo lusitano e os interesses da
07 D Corte em preservar o controle sobre todos os seus territó-
rios na América e na África.
O historiador aponta, em sua entrevista, para o evento que
distinguiu profundamente a história brasileira daquela das
12 D
antigas colônias espanholas na América no século XIX. Tra-
Apesar do aumento dos impostos, pode-se dizer que, prin-
ta-se da vinda da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro. cipalmente com a abertura dos portos, o sistema colonial
Esse evento provocou a interiorização da metrópole na foi abolido. A monarquia centralizada ampliou o número
colônia brasileira, impactando o processo de independên- de funcionários públicos e da estrutura militar, aprofundou
cia nacional, que se fez em apoio a um príncipe europeu, seus vínculos com a Inglaterra e rompeu relações políticas
com manutenção do território colonial e da escravidão. e comerciais com a França e a Espanha.

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ATIVIDADES Módulo 2
01 a) A atividade mineradora, no século XVIII, desenvolveu-se
nas regiões de Minas Gerais e do atual Centro-Oeste
brasileiro. A forma de trabalho compulsório usada foi
Módulo 1 largamente o braço escravo africano (com ocorrências
de pequenos mineradores que eram homens livres ou
01 A segunda concepção apresentada no enunciado aponta alforriados). O que foi mais peculiar a essa atividade
que a história tradicional do Brasil despreza a história dos
econômica foi o grande desenvolvimento urbano que
povos indígenas, que antecede, em muitos séculos, a che-
ela engendrou, devido à enorme afluência de pessoas,
gada dos portugueses à costa sul-americana, afirmando
da colônia e do Reino, para as zonas de mineração e às
que a comemoração dos 500 anos é uma forma de escon-
necessidades de abastecimento, administração e fiscali-
der o extermínio das populações indígenas, bem como a
escravidão dos negros africanos. zação da região.
b) Não só de exportação viviam as pessoas na América por-
02 a) Da culinária indígena, o branco europeu incorporou o milho, tuguesa. Como atividades voltadas ao mercado interno,
a mandioca, a batata-doce e o cará; da culinária africana, o podem ser citadas a pecuária, a agricultura de subsis-
óleo de dendê, o fubá e a canjica. Dos idiomas indígenas, tência, o comércio de abastecimento (que podia ser de
absorveu expressões como Mogi, Tietê, Ibirapuera e Ita- grossa ou pequena ventura, ou seja, um comércio mais
nhaém; dos africanos, axé, umbanda e catimba. Por fim, a amplo, mobilizando várias regiões, ou um pequeno
influência da música indígena trouxe o boi-bumbá e a da comércio local) e ainda profissões liberais, mais ou
música africana incorporou instrumentos como o berimbau menos vinculadas à administração colonial.
e o atabaque, além de ritmos como a congada e o samba.
b) Não houve relação de simetria, pois é nítida uma maior 02 a) A historiografia tradicional, com destaque para aquela pro-
influência da cultura branca europeia na formação da duzida em São Paulo a partir do início do século XX, pintava
cultura brasileira. os bandeirantes como grandes heróis nacionais, responsá-
veis diretos pela formação territorial brasileira e pela des-
03 a) A primeira interpretação mencionada no texto posiciona coberta das jazidas de metais preciosos – os bandeirantes
que a luta contra os holandeses pôde ser levada a cabo representariam o início da nacionalidade brasileira. A mito-
porque contou com grande participação de “brasileiros” e
logia bandeirante foi, em grande parte, motivada por certo
negros, o que teria sido possível pela suposta existência de
ufanismo paulista que teve lugar no contexto da Revolu-
um sentimento identitário de pertencimento a uma nacio-
ção Constitucionalista de 1932, quando São Paulo se rebe-
nalidade, que já seria a brasileira. Entretanto, a segunda
lou contra o governo de Getúlio Vargas. Os bandeirantes
interpretação foca prioritariamente nos aspectos econômi-
foram então construídos como heróis que representariam
cos da questão, considerando a divisão entre os senhores
de engenho sob domínio holandês, em que alguns teriam as virtudes e a grandeza, passada e presente, dos paulistas,
sido desfavorecidos pela administração batava. servindo de ponto de aglutinação (e propaganda) da popu-
lação do estado contra o governo federal.
b) Os holandeses, representados pela Companhia das Índias
Ocidentais, tinham fortes interesses comerciais e financei- b) A historiografia paulista tradicional omitiu aqueles pon-
ros no negócio do açúcar desde o século XVI, uma vez que tos que considerou menos benfazejos para a figura do
eram os compradores do açúcar mascavo em Lisboa, o qual bandeirante-herói. A principal característica obscurecida
refinavam e revendiam na Europa, com grandes lucros. No era a ação dos bandeirantes no apresamento indígena,
contexto da União Ibérica, a zona açucareira americana de em particular as guerras travadas contra os jesuítas para
Portugal caiu sob domínio da Espanha, contra a qual os a conquista de índios com o propósito de escravizá-los.
holandeses lutavam pela obtenção da sua independência. Igualmente, era esquecida a miscigenação entre índios e
Com o bloqueio espanhol ao comércio holandês, a Com- portugueses que caracterizava os paulistas no século XVII
panhia das Índias Ocidentais viu como opção viável invadir e a forte influência que a cultura indígena exerceu sobre
a região e estabelecer um controle direto. os bandeirantes, capacitando-os para suas viagens pelos
sertões – trata-se, aqui, de um embranquecimento da
04 A historiadora, ao usar a expressão “configuração peculiar da
propriedade da terra”, refere-se ao sistema de plantation, que figura do bandeirante. Outro ponto não enfatizado era
foi o modelo de colonização empregado pelos portugueses a pobreza material das vidas cotidianas dos bandeirantes
na América, o qual legou consequências de longa duração e de suas famílias na capitania de São Vicente, o que, a
na história do Brasil. A plantation era a unidade fundamen- partir da década de 1980, a nova historiografia pôde veri-
tal das colônias de exploração, consistia em latifúndios (por ficar pela leitura dos testamentos e inventários post mor-
isso a necessidade da concentração fundiária), voltados para tem do período. Finalmente, a ação dos bandeirantes no
a monocultura de exportação, e usava trabalho compulsório – combate aos quilombos, especialmente na destruição de
no caso brasileiro, a escravidão, principalmente do africano. Palmares, era colocada em segundo plano.

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03 a) As bandeiras eram expedições organizadas pelos pau- Elevado à condição de sede política do Império portu-
listas, entre os séculos XVII e XVIII, para penetração nos guês, o Rio de Janeiro sofreu profundas mudanças urba-
sertões da América portuguesa. Tinham como objetivos nísticas, culturais e econômicas. Podem ser citadas a cria-
o aprisionamento de indígenas, a procura por metais ção do Banco do Brasil e da imprensa régia, a fundação do
preciosos ou a destruição de quilombos. Jardim Botânico, a construção de um novo teatro, a cria-
ção da Faculdade de Medicina, a instalação da biblioteca
b) Do ponto de vista dos bandeirantes, o aprisionamento
régia, além de melhorias diversas na infraestrutura urbana
de indígenas e sua posterior venda era uma atividade
da cidade, entre outras medidas.
que rendia lucros consideráveis. Do ponto de vista dos
colonos, era vantajoso comprar os indígenas escraviza-
dos, por terem preço menor que os africanos, particular- 03 a) A frase destacada quer mostrar que a diminuição do
mente no período de escassez de mão de obra africana, ritmo de extração do ouro não significou a decadên-
durante a dominação holandesa sobre a zona açucareira cia econômica de Minas Gerais ao final do século XVIII
e sobre os portos de exportação de escravos na África. (como fora apresentado pela historiografia tradicional).
c) Os rituais de antropofagia eram cerimônias culturais Ao contrário, a grande população da capitania e a diver-
dos povos indígenas das áreas costeiras da América do sificação das atividades econômicas (empreendidas por
Sul. Nesses rituais, os inimigos vencidos eram cozidos muitos mineradores desde o início do século XVIII) per-
e devorados, em meio a danças e celebrações rituais, mitiram que a capitania mantivesse o desenvolvimento,
por todos os membros da tribo vencedora, segundo a convertendo-se em exportadora de alimentos para os
crença de que sua carne nutriria os vitoriosos com suas centros urbanos da Região Sudeste – especialmente
virtudes guerreiras. para a Corte do Rio de Janeiro, a partir de 1808.
Módulo 3 b) Os tropeiros, comerciantes que viajavam entre diversos
pontos do Sul e Sudeste da América portuguesa, desem-
01 a) A organização do aldeamento indígena proposta sob a penharam a função de conectores entre as várias regiões,
administração pombalina, ao contrário daquela mantida abrindo e mantendo caminhos e estradas e comparti-
pelos poderes coloniais tradicionais, tinha orientação lhando e difundindo características culturais e sociais.
racionalizada em sua funcionalidade, o que era infor-
mado pelas ideias iluministas acerca do papel da agri-
cultura. A presença da casa do diretor também aponta
para uma maior rigidez na administração colonial, o
que foi uma marca do período e parte das reformas do
Império implantadas por Pombal.
b) O Marquês de Pombal desenvolveu uma política cons-
cientemente voltada para as populações indígenas da
América. Seus pontos mais relevantes foram a efetiva
proibição da escravidão dos indígenas, a derrubada
da discriminação racial (pelos estatutos de pureza de
sangue) contra os indígenas e seus descendentes, com
a correlata autorização para casamentos mistos entre
brancos e indígenas, e a criação do Diretório dos Índios.

02 A transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro foi


uma consequência da guerra que era então travada entre a
França napoleônica e a Inglaterra. Incapaz de vencer os ingle-
ses no mar, Napoleão decretou o Bloqueio Continental contra
o comércio inglês – uma estratégia para sufocar economica-
mente a Inglaterra. Nesse contexto, o governo do príncipe
regente Dom João foi obrigado a jogar diplomaticamente
com as duas potências, pois, de um lado, Portugal era um
aliado tradicional da Inglaterra e, se fechasse seus portos aos
ingleses, corria o risco de perder o controle de suas colônias
ultramarinas. Do outro, se Dom João resistisse a Napoleão,
provocaria uma invasão por terra – agravada pela dominação
da Espanha pela França. Quando Napoleão, de fato, invadiu
Portugal, a Coroa lusitana não teve outra saída a não ser se
transferir para a capital de sua colônia americana – o que,
aliás, era um plano antigo, mas nunca executado, da adminis-
tração lusa. A transferência da Corte recebeu apoio da Ingla-
terra, que obteve, em troca, acesso ao mercado brasileiro,
desafogando sua produção (bloqueada na Europa).

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