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FORMAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO NO ESPÍRITO SANTO: escravizados,
nacionais e estrangeiros na virada do século XIX.
Resumo
O objetivo deste texto consiste em demarcar a participação dos diferentes grupos de trabalhadores no
mercado de trabalho em formação no Espírito Santo, entre o final do século XIX e o início do século
XX. Para tanto, além da literatura que cobre o assunto, serão utilizados dados demográficos do
período para ilustrar a referida participação. Este objetivo compõe uma pesquisa mais ampla, ainda
em andamento, que se propõe a analisar a formação do mercado de trabalho no Espírito Santo a partir
do processo de constituição e desenvolvimento do capitalismo no estado. Por este motivo, ao final do
artigo, prováveis caminhos de investigação para dar continuidade à pesquisa, serão indicados.
Palavras chaves: mercado de trabalho no ES, imigração, trabalhadores nacionais
Introdução
2
Neste sentido, ainda que a economia capixaba tenha se formado principalmente a partir do
café, sua dinâmica de desenvolvimento foi diversa daquela ocorrida em São Paulo1, especialmente
no Oeste Paulista. No caso capixaba, a produção de café não significou o germe de uma diversificação
produtiva e dinamização econômica, o que trouxe consequências para a formação e evolução do seu
mercado de trabalho. Deriva daí a necessidade de desvendar as dimensões da dinâmica laboral –
objetivo mais amplo da pesquisa em andamento – que refletem as contradições típicas de uma
economia nacional periférica, com as particularidades relacionadas às próprias especificidades
regionais. Diante disso, o objetivo deste texto consiste em iniciar a análise da formação do mercado
de trabalho no estado, a partir do levantamento de seus principais atores ao longo da virada do século
XIX para o XX, compreendidos em meio a este processo de desenvolvimento carregado de
especificidades. Para tanto, além da literatura que cobre o assunto, serão utilizados dados
demográficos do período para ilustrar a participação dos diferentes grupos de trabalhadores.
1
Como mostrou Barbosa (2016, p. 15), a análise das distintas dinâmicas de desenvolvimento a partir da
interação entre territorialização da força de trabalho e assalariamento permite perceber não somente as
inúmeras peculiaridades dentro do espaço nacional, mas, principalmente, que “o caso da cidade de São Paulo
é [que representa] um ponto fora da curva”.
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propriedades. Apenas em algumas regiões, mais próximas à fronteira com o Rio de Janeiro, foi
mantida a produção em grandes propriedades (SALETTO, 1996).
Diferente do que aconteceu com a região do Vale do Paraíba fluminense, no entanto, a
produção de café continuou crescendo no Espírito Santo após a decadência da produção escravista.
Esta dependência do café, mesmo em momentos de crise do setor, foi a principal característica da
economia capixaba. Depois de 1930, quando São Paulo avançou no processo de desenvolvimento de
sua indústria, a economia do ES seguiu concentrada no café (ROCHA; MORANDI, 2012; MACEDO,
2013).
Com a abolição e a decadência das grandes fazendas escravistas do sul, ganhou destaque a
produção cafeeira da região central do estado. Esta região era caracterizada pela formação de núcleos
coloniais de imigrantes europeus desde o início do século XIX. Esta imigração se iniciou no esteio
dos projetos de núcleos organizados pelo Império com o objetivo de ampliar a ocupação de regiões
pouco povoadas. A primeira colônia fundada no estado foi a Colônia Agrícola de Santo Agostinho –
atual Viana – a partir da vinda de 250 imigrantes açorianos, em 1813. O segundo empreendimento
ocorreu em 1847, quando foi criada a Colônia Imperial de Santa Isabel, para qual migraram 165
colonos alemães. Nesta mesma época, como dito acima, o sul do estado era povoado por fazendeiros
mineiros e fluminenses e por trabalhadores escravizados. Em 1856, foi fundada a Colônia Imperial
de Santa Leopoldina, às margens do Rio Santa Maria, de onde se navegava até a capital Victoria.
Esta colônia formada inicialmente por suíços e alemães, recebeu no início do século XX mais 12 mil
imigrantes de vários países, se tornando uma das maiores do Império (FRANCESCHETTO, 2014, p.
56-57). Na medida em que ficava claro o fim da escravidão, as políticas para atração de imigrantes
iam ganhando força entre as classes dominantes no país. Os defensores da constituição dos núcleos
coloniais não eram, entretanto, maioria neste contexto. A maior parte dos fazendeiros, em especial
aqueles concentrados no Oeste Paulista, defendiam a atração de imigrantes para trabalharem nas
grandes fazendas de café e não para ocuparem suas próprias terras (MARTINS, 2010; COSTA, 1999).
Neste contexto, as pressões dos cafeicultores paulistas no Império e, depois, na República
levaram a que o Estado passasse a financiar o ingresso de imigrantes para as fazendas de café em São
Paulo (STOLKE; HALL, 1983), o que redundou no papel central do imigrante na formação do
mercado de trabalho neste estado. No caso capixaba, a política de constituição dos núcleos coloniais
persistiu mesmo após o fim do tráfico negreiro. Em 1874, a Expedição Tabacchi, organizada pelo
fazendeiro italiano Pietro Tabacchi, deu início ao grande êxodo de italianos para o ES. Nos anos
seguintes, milhares de imigrantes da Itália adentraram no estado sendo direcionados para o Núcleo
de Timbuhy (atual Santa Teresa), Colônia de Rio Novo, Santa Cruz e Castello, todos próximos aos
rios Itapemirim e Benevente, no sul do estado (FRANCESCHETTO, 2014).
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Em todos esses casos, a integração dos imigrantes à economia cafeeira transcorreu a partir da
produção familiar em pequenas e médias propriedades. Mesmo no sul, onde até o final do século XIX
predominava a grande propriedade, a fragmentação advinda da crise pós-abolição permitiu que
diversos imigrantes, que antes trabalhavam na condição de parceiros, se tornassem proprietários
(BUFFON, 1992). Neste sentido, a pequena propriedade familiar, voltada para a produção de café
caracterizou a economia capixaba desde o final do século XIX até a segunda metade do século XX.
De um modo geral, os trabalhos que se debruçam sobre a formação econômica do estado
apontam este padrão de produção baseado na pequena propriedade como o principal entrave à
dinamização da economia local, devido à sua baixa capacidade de acumulação (BUFFON, 1992;
BITTENCOURT, 1987; SALETTO, 1996). Aprofunda este cenário, de baixo potencial dinamizador,
a dependência da cafeicultura local frente à praça do Rio de Janeiro, para onde escoava grande parte
do café produzido e de onde vinham os recursos a financiarem sua produção. Neste sentido, como
apontam Cano (2002) e Faleiros (2010), não se formou propriamente um complexo cafeeiro no
estado, visto que grande parte dos recursos aqui gerados acabavam escoando para outras regiões.
O contraponto óbvio destes trabalhos está no caso do complexo cafeeiro paulista, estudado
por Wilson Cano (1981), a partir do qual se desdobra toda uma rede de empreendimentos agrícolas,
financeiros, comerciais e industriais que estão na raiz do acelerado processo de industrialização neste
estado ao longo do século XX. Neste caso, o excedente de capitais originado na produção cafeeira a
partir de grandes fazendas e a ampliação do mercado interno, possibilitada pelo enorme fluxo
migratório na virada do século XX, criaram as condições para a diversificação e dinamização da
economia.
Sem embargo, quando se olha para a região sul do país – onde em grande parte também
prevaleceu a pequena e média propriedade – esta não parece ter sido um entrave à diversificação e
dinamização da economia. Em Santa Catarina, por exemplo, as características de uma colonização
voltada à produção de alimentos permitiram, via diversificação produtiva, o aumento do grau de
divisão social do trabalho e a formação de “um núcleo gerador da acumulação capitalista”
(GOULART FILHO, 2001, p. 66).
Em perspectiva comparada com as experiências paulista e catarinense, parece claro que a
incapacidade de dinamização da economia capixaba, que se arrasta até a segunda metade do século
XX, possui diversas raízes. Se, por um lado, a predominância da pequena e média propriedade e a
subordinação da produção à economia fluminense aparecem como condições fundamentais neste
processo; por outro, é preciso destacar o peso da especialização cafeeira dos núcleos coloniais do
estado, diferente do que aconteceu no sul do país. A especialização da produção garantia o acesso à
renda monetária para os pequenos proprietários, mas inviabilizava a divisão social do trabalho e a
formação de um mercado interno. Isto porque, a produção de alimentos ficava reduzida a um mínimo
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essencial à sobrevivência do colono e o único comércio que prosperava envolvia a importação de
gêneros básicos e a exportação do café2. Desta estrutura se desdobrou uma organização espacial que
pouco se dinamizou, retroalimentando a condição de baixa densidade demográfica e precária
infraestrutura que caracterizavam o estado (MACEDO, 2013).
Todos esses elementos contribuíram para a constituição de um arranjo específico no ES que
conjugou resquícios da escravidão com imigração em massa, pequena propriedade com monocultura
e dependência com escassa infraestrutura. Tudo isto coincidindo para a formação lenta e incompleta
do mercado de trabalho local, como se discute na próxima seção.
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Tal percepção se confirma em recortes de memórias de colonos como a realizada por Grosseli (2008) ao
demonstrar como os imigrantes dividiam seu tempo de trabalho entre a produção doméstica para sua
subsistência e a produção de café para exportação. Neste arranjo, a venda do café era a única forma de acesso
a recursos monetários para estes pequenos produtores, uma vez que o comércio interno praticamente inexistia.
3
Estimativa apresentada em Almada (1981, p. 25) citada em Faleiros (2010).
6
na região no entorno de Cachoeiro de Itapemirim – maior centro cafeeiro do sul - como se vê na
Tabela 2.
Tabela 2 População do Espírito Santo em 1872, por cor e condição social, por municípios
Livres
Município Total Escravizados
Negros Brancos Caboclos Total
ES 82.137 100% 27.367 26.582 5.529 59.478 22.659 100%
Victoria 16.157 20% 7.953 4.031 486 12.470 3.687 16%
Espírito Santo 1.755 2% 750 426 68 1.244 511 2%
Serra 4.294 5% 1.283 1.378 169 2.830 1.464 6%
Nova Almeida 2.196 3% 607 382 747 1.736 460 2%
Guarapary 3.188 4% 843 1.695 233 2.771 417 2%
Santa Cruz 4.490 5% 1.224 933 1.867 4.024 466 2%
Linhares 1.863 2% 661 419 611 1.691 172 1%
Barra de São
3.513 4% 845 1.798 74 2.717 796 4%
Matheus
São Matheus 4.657 6% 1.883 690 67 2.640 2.017 9%
Viana 6.547 8% 3.020 2.176 94 5.290 1.257 6%
Benevente 5.300 6% 2.785 1.351 107 4.243 1.057 5%
Cachoeiro
18.496 23% 3.748 6.967 299 11.014 7.482 33%
Itapemirim
Itapemirim 9.681 12% 1.765 4.336 707 6.808 2.873 13%
Fonte: Elaboração própria, com dados do Censo de 1872.
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Tabela 3 Imigrantes que aportaram no Espírito Santo por período de ingresso
Décadas Imigrantes Décadas Imigrantes
1812-1814 250 1911-1920 600
1840-1850 166 1921-1930 1.347
1851-1860 2.222 1931-19404 2.496
1861-1870 942 1941-1950 1.427
1871-1880 11.583 1951-1960 433
1881-1890 8.629 1961-1973 12
1891-1900 23.093 Sem Referência 124
1901-1910 831 Total 47.716
Fonte: FRANCESCHETTO, 2014, p. 71).
Tabela 4 População do Espírito de acordo com os Recenseamentos de 1872, 1890, 1900 e 1920, por nacionalidade
Nacionalidade no ES % sobre o total da população
Total Brasileiro Estrangeiro Brasileiro Estrangeiro
1872* 59.478 57.549 1.929 97% 3%
1890 135.997 132.923 3.074 98% 2%
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Os dados desta década em diante são referentes ao ano de autuação dos Prontuários da Polícia Civil e não
necessariamente das entradas no estado. Os 124 indivíduos sem referência de data de desembarque faleceram
durante a viagem.
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1900 209.763 176.847 32.916 84% 16%
1920 457.328 437.219 20.109 96% 4%
* População livre
Fonte: Elaboração própria a partir dos Censos de 1872, 1890, 1900 e 1920.
O papel majoritariamente ocupado pelo imigrante europeu – seja como pequeno produtor
familiar, seja como comerciante – exigiu maior participação do trabalhador nacional no mercado de
trabalho em formação no estado. Isto porque, uma vez que a maior parte destes imigrantes não se
encontrava disponível, por ter acesso à terra, as grandes fazendas do extremo sul do estado dependiam
dos trabalhadores nacionais, que não tinham a mesma facilidade de acesso à terra para cultivo próprio.
Esta dinâmica difere o estado do que aconteceu em São Paulo, onde o grande afluxo de imigrantes
europeus marginalizou, se não excluiu, o trabalhador nacional do recém-criado mercado de trabalho
(FERNANDES, 2008, p. 29-59)5.
O que foi dito fica claro ao analisar as Tabelas 2 e 5, pelas quais se percebe que a população
de negros (livres e escravizados) saltou de 50.026, em 1872, para 70.008 no Censo de 1890, um
crescimento de 40%6. Ainda que a população branca tenha registrado um crescimento maior no
mesmo período (106%) é possível considerar realista a hipótese de que o elemento negro – principal
componentes dos trabalhadores nacionais – teve grande importância na composição do mercado de
trabalho capixaba (SALETTO, 1996).
Tabela 5 População do Espírito Santo em 1890, por cor, por municípios
Total % Negros % Brancos % Caboclos %
ES 135.997 100% 70.008 100% 57.314 100% 8.675 100%
Barra de São
Matheus 5.628 4% 3.324 5% 1.715 3% 589 7%
Benevente 14.638 11% 3.564 5% 9.856 17% 1.218 14%
Cachoeiro Itapemirim 37.649 28% 20.441 29% 15.920 28% 1.288 15%
Cachoeiro de Santa
Leopoldina 1.800 1% 844 1% 878 2% 78 1%
Espírito Santo 1.988 1% 1.286 2% 677 1% 25 0%
Guarapary 5.310 4% 1.288 2% 3.785 7% 237 3%
Itapemirim 9.795 7% 4.097 6% 5.418 9% 280 3%
Linhares 3.112 2% 2.031 3% 482 1% 599 7%
Nova Almeida 3.904 3% 1.936 3% 1.096 2% 872 10%
Santa Cruz 9.033 7% 3.252 5% 3.053 5% 2.728 31%
São Matheus 7.761 6% 5.445 8% 2.115 4% 201 2%
Serra 6.274 5% 4.275 6% 1.868 3% 131 2%
Victoria 16.887 12% 11.239 16% 5.304 9% 344 4%
Viana 12.218 9% 6.986 10% 5.147 9% 85 1%
Fonte: Elaboração própria, com dados do Censo de 1890.
5
Infelizmente os Censos de 1900, 1910 e 1920 não possuem questões quanto à cor ou raça, o que nos impede
de registrar a evolução da população negra a partir dos recenseamentos.
6
Este crescimento ocorreu, em grande parte, no extremo sul do estado, nas paróquias de Rio Pardo – atual
Iúna, São Pedro do Itabapoana – atualmente distrito de Mimoso do Sul, Alegre e Veado – atual Guaçuí
(SALETTO, 1996, p. 193-202), que compunham o munícipio de Cachoeiro de Itapemirim.
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O amplo acesso à terra pelo imigrante, ao mesmo tempo em que ampliou o papel do
trabalhador nacional no ES, levou a uma escassez de mão de obra nas grandes fazendas de café que
restaram, ao menos, até 1920. Este processo elevou o poder de barganha destes trabalhadores e fez
prevalecer formas de parceria, ao invés do regime de colonato (com remuneração fixa), que acabou
sendo adotado em São Paulo (SALETTO, 1996, p. 91-101). Isso porque, como afirma a autora, a
parceria era vista como vantajosa pelos trabalhadores nacionais por não lhes impor uma produção
mínima e, consequentemente, permitir que grande parte do tempo fosse dedicado à produção para sua
subsistência. Tal fato reflete em parte o desejo de autonomia e a aversão ao trabalho sob comando de
terceiros, especialmente para aqueles que haviam passado pela escravidão. Assim, a autora defende
não ser possível verificar uma transição direta do trabalho escravo para o trabalho assalariado no
estado. Na mesma direção, Faleiros (2010, p. 31) afirma que a “transição ao assalariamento – no
limite a própria transição ao capitalismo – permaneceu inconclusa nos moldes da economia
agroexportadora capixaba, não sendo a cafeicultura local capaz de generalizar as relações mercantis”.
Ancorado nessa estrutura socioprodutiva, é possível visualizar que o mercado de trabalho em
formação no estado se estruturou essencialmente na zona rural, a partir dos imigrantes europeus
organizados na pequena propriedade voltada à produção de café e dos trabalhadores nacionais livres
(negros, índios e brancos pobres) que encontraram maiores dificuldades de acesso à terra e de
integração na economia cafeeira. Esses trabalhadores deram vida às mais diversas ocupações como
colonos, parceiros, agregados, diaristas, jornaleiros, tropeiros, canoeiros, profissionais autônomos, e
comerciantes.
Ainda que os Censos de 1872 e 1920 permitam visualizar os trabalhadores por grupos de
profissões, existem limites profundos nesta análise, devido a diferenças entre o enquadramento dos
trabalhadores entre um e outro recenciamento. Ainda assim é possível ilustrar com as Tabelas 6
alguns aspectos já comentados até aqui. O primeiro deles, o enorme predomínio das atividades ligadas
ao campo entre todos os estratos populacionais. As atividades agropecuárias e de extração eram
responsáveis por ocupar 39% da população do ES em 1920, como se vê na Tabela 6. Se forem
excluídas da conta as profissões mal definidas e não declaradas (em sua maioria crianças e mulheres)
é possível estimar que, em 1920, algo próximo de 83% da população ocupada trabalhava no campo.
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Comércio 4.542 1.161 5.703 1% 6% 1%
Força Pública 1.070 2 1.072 0% 0% 0%
Administração e profissões 2.946 189 3.135 1% 1% 1%
liberais
Pessoas que vivem de suas rendas 290 53 343 0% 0% 0%
Serviço doméstico 4.161 226 4.387 1% 1% 1%
Mal definidas 2.862 183 3.045 1% 1% 1%
Profissão não declarada e sem 189.019 471 189.490 43% 2% 41%
profissão <14
Profissão não declarada e sem 33.828 210 34.038 8% 1% 7%
profissão 15-20
Profissão não declarada e sem 63.700 7.069 70.769 15% 35% 15%
profissão >21
Total 437.219 20.109 457.328 100% 100% 100%
Fonte: Elaboração própria a partir do Censo de 1920.
Entre as profissões ditas urbanas, destaque deve ser dado à considerável importância relativa
da atuação de estrangeiros no comércio (16% no Censo de 1872 e 6%, em 1920). Tais números
referendam o que a literatura aponta quanto à existência de imigrantes que acabaram assumindo a
posição de responsáveis por entrepostos comerciais no estado, sendo essa uma forma de ascensão
social (GROSSELI, 2008). A despeito disso, é nítida a presença massiva da população estrangeira
em atividades de agropecuária e extração em 1920, o que corrobora a necessidade de analisar sua
forma de inserção na economia local, a partir da pequena propriedade. Neste sentido, a despeito do
caráter ainda inicial desta pesquisa, já é possível detectar alguns traços marcantes da formação do
mercado de trabalho no estado: o primeiro a partir da clivagem entre nacionais (em sua maioria
negros, ao menos até onde foi possível identificá-los através dos censos) e estrangeiros, quanto ao
acesso à terra e possibilidades de ascensão. É o que se pode concluir da maior participação relativa
de estrangeiros em atividades urbanas (indústria e comércio). Por outro lado, uma segunda clivagem,
essa entre os próprios imigrantes, que pode ser vista entre aqueles que se dedicavam exclusivamente
à atividade agrícola (a enorme maioria dos trabalhadores) e aqueles poucos que se dirigiram para
atividades urbanas, tendo estes últimos, segundo sugere a literatura, maiores condições de ascensão.
Esses são os dois caminhos de investigação que esta pesquisa, em andamento, pretende seguir.
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
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2002.
CANO, W. Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil (1930-70). 1981. Tese (Livre-
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STOLCKE, V.; HALL, M. A introdução do trabalho livre nas fazendas de café de São Paulo. Revista
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