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Autora: Maria Amanda Capucho da Silva

A Dinâmica do Café no Brasil

É inegável a importância do ciclo do café para a economia brasileira não somente no


período imperial, mas também atualmente, uma vez que o Brasil é um dos maiores produtores
mundiais e um dos países que mais consome (segunda posição) o grão. Muito do que se tem
do cenário econômico atual no país, deve-se ao ciclo cafeeiro, por exemplo o
desenvolvimento mais avançado da região Sudeste, que abriga as duas principais regiões
produtoras de café, Vale do Paraíba e Oeste Paulista, em comparação às outras regiões, seja
economicamente falando ou até mesmo em questões populacionais. A importância do café foi
tamanha ao ponto de que seu ramo virou símbolo na bandeira do Brasil Imperial, ao lado do
ramo do fumo. Além disso, a cultura cafeeira foi fundamental no desenvolvimento do
capitalismo no país, convém destacar que o capital acumulado com essa cultura fomentou a
industrialização do Brasil. Como pontuou Colacino, “o Brasil é o café e o café é o Brasil”.

O ciclo do café pode ser datado entre início do século XIX e até primeiro meado do
século XX, com variações de influência econômica durante esses anos. Para entender o que
foi o ciclo cafeeiro e as mudanças advindas dele, é necessário detalhar o contexto histórico
em que essa cultura foi implantada nas terras tupiniquins. Porém, antes de introduzir esse
enredo brasileiro, é válida uma breve apresentação sobre determinadas características do café,
máxime, na sua plantação. Segundo relatos históricos, o café chegou ao Brasil em 1727, pelas
mãos do sargento-mor Francisco de Mello Palheta, e após quase 400 anos depois, o grão se
tornou um dos alimentos mais queridos pela população, além de ser um dos produtos mais
exportados pelo país. O Pará foi o primeiro estado a receber o cultivo desse grão, que depois
foi difundido pelo litoral, chegando às terras do Rio de Janeiro (onde as primeiras mudas
foram plantadas no Convento Capuchinhos). Sobre o desenvolvimento do cafezal, locais com
temperaturas amenas (entre 19º e 22º) e bem iluminados pela luz do sol. É importante
ressaltar que o cultivo era para fins de consumo local, apenas no final do século XVIII o café
assumiu um maior valor comercial, devido a alta dos preços ocorrida com a desorganização
da colônia francesa do Haiti, que era um grande produtor do grão.

Segundo o economista Celso Furtado, em Formação Econômica do Brasil, o café


representava 18% das exportações brasileiras no primeiro decênio da independência, sendo a
terceira mercadoria mais exportada, e no decênio seguinte representou 40% das exportações,
se tornando a mercadoria mais vendida pelo país. A primeira fase da expansão cafeeira se deu
utilizando recursos preexistentes e subutilizados pela economia mineira. Até o anos de 1830 e
1840, houve um declínio, que não interferiu negativamente para os produtores brasileiros e
continuaram produzindo a partir dos recursos ociosos vindos da mineração, isso proporcionou
o aumento a quintuplicação das quantidades vendidas para o exterior. Em comparação com a
empresa açucareira, a economia cafeeira era semelhante ao usar mão-de-obra escrava em
larga escala, porém exigia menores custos monetários, além disso, sua formação se deu em
condições diferentes da formação açucareira, como atenta Furtado:

A economia cafeeira formou-se em condições distintas. Desde o começo, sua


vanguarda esteve formada por homens com experiência comercial. Em toda a etapa
da gestação os interesses da produção e do comércio estiveram entrelaçados A nova
classe dirigente formou-se numa luta que se estende em uma frente ampla:
aquisição de terras, recrutamento de mão-de-obra, organização e direção da
produção, transporte interno, comercialização nos portos, contatos oficiais,
interferência na política financeira e econômica. (FURTADO, 2007, pág. 171-172).

Aproveitando a semelhança entre essa duas economias, a mão-de-obra escrava, é


possível abrir um parêntese para destacar a importância que o povo escravo imprimiu na
construção econômica brasileira, o que não apaga a pior mancha na história do país, pelo
contrário, aumenta ainda mais o tamanho da injustiça cometida com essas pessoas. Sem essa
força de trabalho as dificuldades para a expansão econômica teriam sido ainda maiores, pois
não era atrativo aos povos europeus, ao menos no início da colonização, transferir-se para a
colônia sem garantias, assim como o trabalho europeu seria mais dispendioso a Corte
Portuguesa.

Falando da força de trabalho nos plantios de café, é necessário ter em mente que a rápida
expansão cafeeira muito se deu por causa da migração de mão-de-obra da mineração para os
cafezais, que posteriormente, com a nova alta nos preços do grão, também recebe mão-de-
obra vinda dos canaviais, já que a economia açucareira continuava em declínio. Outro ponto
positivo para proporcionar o sucesso da cultura cafeeira foi a situação em que estava a
economia mundial. A Europa vivia a Revolução Industrial, desse modo, voltou-se para a
exportação de produtos industrializados, dando menos interesse aos produtos agrícolas.

Entretanto, mesmo com os fatores favoráveis supracitados, no início da gestação


cafeeira, como nomeou Furtado, a mão-de-obra foi um problema cuja solução não estava
apenas no trabalho escravo. O processo de expansão em meados do século XIX, se deparou
com a Lei Euzébio de Queiroz, de 04 de setembro de 1850, que proibiu o tráfico
intercontinental de escravos, e com todas as outras sanções que freavaram a escravidão, até a
abolição tardia da escravatura em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea. Com isso, teve-se a
transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado, houve-se então a necessidade de
atrair trabalho assalariado da europa, principalmente italiano, o que explica a grande presença
de italianos e descendentes no estado de São Paulo.

Entrando no período conhecido como República Oligárquica (1894-1930), fase que


ocorreu durante a República Velha, o café assumiu ainda mais o papel de motor da economia
brasileira. Esse período de oligarquia ficou marcado pela alternância de poder entre os
estados de São Paulo e Minas Gerais (a famosa política café com leite), sendo o estado
paulista o de maior destaque no cultivo cafeeiro e o palco para três processos resultantes da
economia cafeeira: a imigração de estrangeiros em massa atraídos pelo trabalho nos cafezais,
a urbanização e a industrialização. Vale destacar que a Primeira Guerra Mundial foi um fator
responsável por aumentar ainda mais a imigração de europeus fugidos do conflito para o
Brasil. Sobre a urbanização, foi consequência praticamente inevitável com as comunidades
estrangeiras se instalando nos centros urbanos e proporcionando a geração do trabalho
assalariado. Agregado a isso, a industrialização tardia do país ganhou um cenário propício
para seu desenvolvimento.

A importância do café para a economia brasileira não diminui com o passar do anos,
mesmo tendo oscilações, e atualmente dá ao Brasil o status de um dos maiores exportadores
mundiais do grão. Segundo o Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Brasil
exportou 40,3 milhões de sacas, as quais têm 60 quilos, ano passado (2021), sendo os Estados
Unidos, a Alemanha, a Itália, a Bélgica e o Japão os 5 países que mais importam café
brasileiro, percebe-se então que o café brasileiro está presente pelo mundo. A expectativa
para o ano atual, pela Cecafé, é de que o setor exportador de café possa sofrer impactos
negativos devido à estiagem dos últimos meses.

Em suma, é evidente como a cultura cafeeira modificou o cenário econômico brasileiro e


como essas mudanças são presentes e claras até nos primeiros decênios do século XXI.
Diferentemente das outras culturas agrícolas que foram incentivadas no país, como a do
açúcar e da borracha, o café conseguiu se manter extremamente firme e importante dentro do
panorama econômico. Isso mostra como o grão se adaptou bem ao território brasileiro e como
seu valor no mercado internacional é alto. Além desses fatores, outro que pode ser observado
é que mesmo passando por períodos de desvalorização do preço e dificuldades para mão-de-
obra, o ciclo do café se manteve firme, inclusive pelos interesses políticos da época. E,
atualmente, ainda se mantém como um dos principais produtos exportados pelo Brasil, o que
faz o país ser reconhecido mundialmente pela variedade e qualidade do ouro negro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL É O MAIOR EXPORTADOR DE CAFÉ DO MUNDO - VEJA AS


PERSPECTIVAS PARA 2022. DC Logistics. Disponível em:
<https://dclogisticsbrasil.com/brasil-e-o-maior-exportador-de-cafe-do-mundo-veja-as-
perspectivas-para-2022/>. Acesso em: 18 mai. 2022.

COLACINO, Lucas. A Transição do Escravismo para Trabalho Assalariado na Economia


Cafeeira Brasileira: Uma Abordagem Institucional. Disponível em:
<https://www.abphe.org.br/arquivos/2015_lucas_colacino_a-transicao-do-escravismo-para-
trabalho-assalariado-na-economia-cafeeira-brasileira-uma-abordagem-institucional.pdf>.
Acesso em: 17 mai 2022.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 34ª ed. São Paulo. Companhia das
Letras, 2007.

PAIVA, Lucas. Grãos de Café: Conheça as Espécies e suas Características. ReviewCafe.


Disponível em: <https://reviewcafe.com.br/dicas-e-receitas/graos-de-cafe/>. Acesso em: 16
mai. 2022.

SANTOS, L. S. ARAÚJO, R. B. Café e a Industrialização Brasileira. Disponível em:


<https://cesad.ufs.br/ORBI/public/uploadCatalago/10280418102016Historia_economica_ger
al_e_do_brasil_Aula_09.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2022.

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