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A expansão cafeeira e o parque industrial brasileiro

A grande expansão da economia cafeeira se iniciou devido ao processo de ocupação territorial


no Brasil, que tinha suas características baseadas no modo de colonização do país, através das
sesmarias que tinham como propósito cultivar e habitar terras inabitadas para prover lucros
para Portugal. Antes da abolição da escravatura, a apropriação e cultivo das terras eram feitos
de forma arcaica sem reaproveitamento da terra, e com a mão de obra escassa. Após o fim da
escravidão, se fez necessário a imigração de europeus para suprir a demanda de mão de obra e
poder trazer com eles as evoluções produtivas usadas na Europa, assim sustentando a
expansão cafeeira. Juntamente com isso , a descoberta da qualidade das terras roxas para o
cultivo do café e a introdução das ferrovias que reduziram os custos com transporte,
impulsionaram ainda mais o crescimento da produção. A transição do regime monárquico
para a república também impulsionou esse processo, uma vez que, o poder que antes era
centralizado, passou a ser repartido entre o Governo Federal e os Estados. Essa
descentralização forma novos grupos de pressão, fazendo com que os agentes econômicos
tivessem mais ligação com os executivos estaduais. Na primeira década republicana, houve
uma grande expansão do crédito, concedendo mais empréstimos, e movimento a atividade
econômica no país. Com a geração de mais empregos, a ânsia por consumo aumenta, porém o
parque industrial do Brasil era fraco e não suportava a demanda interna, então os bens de
consumo tinham de ser importados, aumentando a demanda por libras esterlinas, entretanto,
como a Argentina estava em crise na época, e investidores estrangeiros ficaram com receio da
crise chegar ao Brasil, então não entrava libras esterlinas no país. Entra em cena uma
depreciação cambial, a moeda brasileira se desvaloriza, prejudicando a classe assalariada que
perdia poder aquisitivo, mas beneficiando os produtores de café que exportavam e recebiam
em libras, isso incentivou a expansão das lavouras. Com isso, o café se expandiu de tal
maneira que quem nele investe tinha a oportunidade de controlar 3 ⁄ 4 da oferta mundial do
produto, manipulando a oferta mundial do café.
Quando surge a primeira crise de superprodução do café,o mecanismo de defesa utilizando a
depreciação não funciona mais pois em 1987 ocorreu uma nova depressão no mercado
mundial, Com o preço do café caindo, foi necessário uma nova maneira de defesa do preço do
produto, que pudesse mobilizar os estoques de café fora do mercado até que este se
estabilizasse novamente. Como os Estados passaram a ter mais autonomia e influência a partir
da descentralização republicana, se reuniram no Convênio de Taubaté em 1906, e criaram
uma política de valorização do café que consistia na intervenção do Governo Federal. A ideia
da política era o Governo comprar o excedente do café, tirando a pressão nos preços, e essa
compra seria financiada por empréstimos estrangeiros, que teriam seus juros pagos pelo novo
imposto cobrada por cada saca de café exportada. Também foi posta a solução a longo prazo,
em que o governo dos Estados deveriam desestimular a produção, entretanto, na prática era
praticamente impossível a fiscalização. A política surtiu efeito e os preços e lucros se
mantiveram elevados, e os investimentos continuaram a ser atraídos, o que tendia a pressionar
a oferta, em outras palavras, a solução para o problema atual estava apenas transferindo ele
para o futuro. Sendo um investimento rentável, a produção cafeeira continuou a se expandir, e
entre 1925 e 1929 , o aumento foi de quase cem por cento, enquanto as exportações
continuaram estabilizadas. O problema de desequilíbrio entre a oferta e demanda estava
estruturado, nem mesmo a elevação de renda nos países industrializados conseguiria aumentar
a demanda, já que não iria dispor de toda renda no consumo de café. O ideal seria
desestimular a produção e investimentos no setor cafeeiro, mas isso seria inaplicável se os
investidores não tivessem outra alternativa para alocar os seus capitais.
Com a crise de 1929 no mundo, o desequilíbrio permaneceu, pois os produtores já haviam
investido na expansão, mas agora não era mais possível usar do empréstimo estrangeiro para
manter os estoques, já que a economia mundial estava em declínio. Como antes da crise a
situação externa era muito favorável, com abundância de divisas, em 1927, foi criada a caixa
de estabilização, que foi um mecanismo de conversibilidade da moeda brasileira, tendo uma
paridade fixa para trocar o réis por qualquer moeda. Com a crise, todo mundo quis retirar seus
investimentos, não restando reserva de libras esterlinas para comprar o estoque do café.
Outras formas de soluções precisaram ser planejadas para restabelecer o equilíbrio sem ser às
custas do abandono do cultivo do café, maneira encontrada dentro do próprio país. A solução
encontrada foi a queima do excedente do café, através de uma política de intervenção na
economia injetando renda por meio da emissão de moedas, para aumentar os gastos
públicos.A queima do café iria aquecer a dinâmica da economia interna, uma vez que, essa
injeção de renda iria gerar lucro para os cafeicultores e emprego para os assalariados. Desse
modo, o Brasil se diferencia do resto do mundo, pois no cenário externo tem a falência e
desemprego prevalecendo, e o Brasil consegue manter sua produção e gerar empregos.
Entretanto, esse aumento de renda da população faz aumentar a demanda, pois os assalariados
agora possuem ânsia para consumir, No entanto, o parque industrial da época era incapaz de
suprir essa demanda, todos os bens de consumo eram importados, mas no cenário de crise,
não se tinha de quem importar e já não se entrava dolar no pais para isso. Diante disso,
aconteceu o deslocamento do centro dinâmico do país, os empresários viram uma nova
oportunidade de investimento, e houve então um crescimento da produção interna. De início,
foi utilizada capacidade produtiva já existente, das pequenas indústrias instaladas, usando a
capacidade máxima, e logo em seguida, aproveitaram da situação de falência no exterior e
importam bens de capital de segunda mão, por menores preços, aumentando a capacidade de
produção interna, desse modo, o PIB brasileiro volta rapidamente ao que era antes da crise.
No texto "Industrialização brasileira: notas sobre o debate historiográfico" de autoria do
economista Pedro Cezar Dutra Fonseca juntamente ao colega de profissão Ivan Colangelo
Salomão tem-se como objetivo apontar os principais pontos de vista das interpretações de
Celso Furtado e Manuel Peláez sobre o processo de industrialização da economia brasileira e
debater acerca desses. A ênfase nesse texto se dá em dois pontos: Na origem da indústria e na
constituição do setor de bens de capital e o fim do processo de substituição de importações
(PSI).
A origem da indústria no Brasil é dita no texto abordado do período da proclamação da
república até a segunda guerra mundial. Já o segundo ponto, se inicia posteriormente a
primeira guerra mundial e dura até o ano de 1970. A princípio, é importante ressaltar que: As
críticas eram mútuas. Todavia, partiram de Manuel a Celso.
Furtado afirmava que a crise cafeeira vigente em território Brasileiro, faria com que a moeda
(réis) fosse depreciada, com esse câmbio desfavorável, os importados tornavam-se inviáveis,
e assim a produção nacional se fortalecia, sustentando a tese da "substituição de importações".
Nesse contexto, a economia brasileira, pela primeira vez, teria como seu "motor principal" o
mercado interno. Assim, o país não era mais apenas um produtor de matéria-prima
subordinado, mas sim um país em ascensão, onde a autonomia nacional se fortalecia. Essa
ideia, era fortalecida ainda, com argumentos Keynesianos sobre a demanda agregada, pois,
em momentos de crise, o estado intervém mais fortemente, ajudando na expansão do crédito,
e na emissão de moeda.
A interpretação de Peláez era vista como a reação que os liberais tinham com a ideologia
compartilhada anteriormente. Essa, cresceu e veio ao cenário econômico devido ao "milagre
brasileiro", período de destaque do governo militar, no qual o Brasil apresentou números
expressivos de crescimento.
Para seguir essa interpretação de Peláez, os liberais utilizavam como base o argumento de que
o impacto da política econômica apoiada por Furtado era mínimo sobre os resultados dos
crescimentos do PIB e da indústria brasileira. Peláez fortalece seu argumento em dois
caminhos: O primeiro é demonstrando que antes de 1930 já existia indústria no Brasil, e essa
tinha relevância no cenário econômico brasileiro. A segunda, representar que o crescimento a
partir de 1930 não foi de tamanha importância como afirmaria Celso, dessa forma,
contradizendo Furtado, que havia dado importância pós 1930, e não anteriormente.
Nesse contexto, afrontosamente, Manuel afirma que o processo de industrialização iria vir à
tona mesmo sem a presença e a atuação do Estado, pois o crescimento industrial era devido a
dinamicidade do setor de exportações do Brasil, não de políticas intervencionistas. Utilizada
como exemplo por Peláez, anteriormente a Grande Depressão, existem provas de que as
indústrias cresciam, o que deixaria o autor mexicano afirmar com tranquilidade a relação
favorável entre indústria e "agroexportação".
Embora fortalecida anteriormente a 1930, posteriormente a essa data as argumentações de
Peláez não carregavam tamanho peso, pois era perceptível a negligência sob o crescimento
exponencial em setores diversos da economia brasileira, setores que antes eram quase que
ignorados viriam a ter números expressivos, como é o caso da produção física de ferro gusa
(240% de aumento).
A partir do que anteriormente foi explicado, é possível afirmar que diversos autores viriam a
opinar acerca desse debate. Porém, as três principais argumentações sobre isso viriam a ser: as
tentativas de mediações, as abordagens marxistas, e as questões de intencionalidade.
Contextualizando, falaremos de maneira breve sobre cada:
As mediações viriam a pesar para ambos os lados, havia autores que apoiam e discordariam
de Furtado, e isso serviria também para Peláez, porém, é substancial explorar o argumento
"neutro" entre esses, de que as ideias de ambos não eram apenas contraditórias, mas também
complementares.
Nas abordagens marxistas, temos um peso maior para o lado de Furtado, pois embora esses
reconheçam o crescimento anteriormente a 1930, eles argumentam que nesse período o Brasil
ainda não passava por um período de industrialização. Assim, podemos concluir que na visão
marxista existe uma diferença entre o crescimento industrial (anterior a 1930), e o processo de
industrialização de fato.
Acerca das questões de intencionalidade, as políticas econômicas da época podem sim ter
vindo a ajudar o pensamento de Furtado. Todavia, essas não viriam a ser intencionalmente
com a finalidade do crescimento industrial, mas sim como solução para resolução da crise
cafeeira. Portanto, por meio da intencionalidade visualizamos que a política econômica não
foi totalmente pensada como diz Furtado, porém, é deixado explícito o crescimento fora do
padrão dos anos posteriores ao de 1930, e sua importância para a industrialização do Brasil.
Posteriormente ao apresentado, é possível concluir que, a expansão da cafeicultura no Brasil
foi um dos principais fatores para a industrialização brasileira. A cafeicultura florescia e
demandava máquinas, ferrovias, portos e outros equipamentos industriais para suportar a
produção e exportação de café. Além disso, a riqueza gerada pelo café permitiu a investida em
outros setores industriais. A indústria têxtil, por exemplo, cresceu significativamente com a
produção de tecidos para as roupas dos trabalhadores rurais. A cafeicultura também contribuiu
para a urbanização e o crescimento das cidades. Em suma, a expansão cafeeira foi um
catalisador para a industrialização do Brasil e teve impacto significativo na economia e na
sociedade brasileira. Historicamente, esse tema foi debatido por diversos estudiosos.

SILVA, Ligia Maria Osório. História econômica da primeira república. A apropriação


territorial na primeira república. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. A crise da economia cafeeira. São
Paulo: Cia das Letras, 2007.
FONSECA, Pedro Cezar Dutra; SALOMÃO, Ivan Colangelo. Industrialização brasileira:
notas sobre o debate historiográfico. Revista Tempo, Niterói: UFF, vol. 23, n 1, pp.87-104,
jan./abr. 2017.

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