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RESENHA

Celso Furtado nasceu no ano de 1920, na Paraíba. Formado em direito,


obteve o doutorado em economia pela universidade Sorbonne. Foi um dos
fundadores da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). Criou e dirigiu
a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) até 1964. Foi
ministro do parlamento no governo de João Goulart e, ao retornar do exílio, ministro
da cultura. Por 20 anos lecionou em universidades da Europa e dos EUA. É autor de
cerca de trinta livros sobre teoria, política e história econômicas. Veio a óbito em
2004, no Rio de Janeiro.
O capítulo 31 “Os mecanismos de defesa e a crise de 1929” do livro
Formação econômica do Brasil, vai abordar como o governo resolveu o problema da
superprodução de café durante a crise de 1929, que vinha fazendo com que o preço
do café baixasse drasticamente acarretando em sérios problemas para economia do
país. O governo vai utilizar mecanismos com o objetivo de frear essa queda e voltar
o equilíbrio entre a oferta e procura que acumulado as crises dessas, agravaram a
crise. Além disso, o autor ao longo do capítulo faz críticas a alguns desses
mecanismos que não conseguem resolver o problema desse desequilíbrio diante da
gravidade da situação.
Primeiramente, o autor nos situa sobre como se encontrava o setor cafeeiro
diante a crise mundial de 1929. A produção estava em altos níveis e a tendência
seria continuar se elevando chegando a produção máxima em 1933 sendo essa um
reflexo das grandes plantações realizadas nos anos de 1927 a 1928. O governo não
sabia onde buscar financiamento para a retenção de novos estoques, diante do fato
de que a queda da bolsa de 29 tornava inviável utilizar crédito do exterior. O mesmo
vai apontar quais são as questões básicas a serem solucionadas: a) deve-se colher
ou café ou abandoná-lo?; b) se optar por colher o café qual seria o seu destino? e c)
sobre quem iria cair essa carga caso o café fosse colhido? pois colhendo ou não a
perda existiria.
Logo após, o primeiro mecanismo de defesa nos é apresentado sendo este
o mecanismo clássico de defesa através da taxa cambial. Como já é sabido a queda
dos preços do café se agravou durante a crise, entretanto dado a característica do
café de que o seu consumo não decai durante as crises em países com renda
elevada, essa queda só foi permitida devido a uma situação especial do lado da
oferta, assim, acumularam-se portanto efeito da crise tanto do lado da procura como
da oferta. A queda brusca do preço internacional do café e a falência do sistema de
conversibilidade resultaram na queda do valor externo da moeda o que acabou
trazendo um alívio para o setor cafeeiro, baixa do preço internacional do café
chegou a 60%, a alta da taxa cambial chegou a depreciação de 40%, diante disso a
maior parte das perdas poderiam ser transferidas para o conjunto da coletividade
através da alta dos preços de importações tirando o peso do setor cafeeiro. Todavia,
tal mecanismo não conseguiu ser bem sucedido, pois o mercado internacional não
conseguia absorver toda a produção devido a procura que estava pouco elástica em
relação ao preço, também a depreciação da moeda ao atenuar o impacto da baixa
do preço internacional induzia ao empresário brasileiro a continuar produzindo, o
que acarretava em mais prejuízos e os produtores seriam induzidos então a
abandonar os cafezais.
Como até então qualquer decisão que se tomasse os produtores sairiam
perdendo mais do que qualquer pessoa, Celso fez uma análise sobre as
consequências da política de retenção e destruição de parte da produção cafeeira
seguida, com o objetivo agora de proteger o setor cafeeiro. Na garantia de preços
mínimos de compra remuneradores para a grande maioria dos produtores, com isso
estava sendo mantido o nível de emprego, o multiplicador de desemprego era
reduzido. Ademais, ao se permitir que fosse colhido um grande volume de café
estava inconscientemente evitando a contenção da renda monetária na mesma
proporção que o preço unitário que o agricultor recebia seu produto, o valor do café
que seria destruído era muito inferior ao valor da renda que se criava. Esse era
mecanismo da contração da renda do setor exportador e sua influência no nível de
renda, que na baixa dos preços mantinha o nível de emprego o que acontecia de
forma inversa em outros países como os Estados Unidos que diante da baixa dos
preços dos seus produtos ocorria um aumento enorme de desemprego.
Contudo, praticou-se no Brasil inconscientemente uma política anticíclica de
maior amplitude que o que se tenha sequer imaginado em qualquer país
industrializado. A recuperação da economia brasileira que começava em 1933 se
deve a política de fomento seguida inconscientemente, que era um subproduto da
defesa dos interesses cafeeiros. A acumulação de estoques de café realizada antes
da crise tinha a sua contrapartida em débito exterior, ou seja, não existia inversão
líquida o dinheiro investido não retornava como lucro apenas como dívida, e
portanto não poderia ser advindo do exterior. Nas etapas da produção tem uma
importância maior criar procura efetiva a fim de induzir a utilização da capacidade
produtiva ociosa do que aumentar essa capacidade produtiva que foi o que levou a
essa grande acumulação de estoques, o foco estava em conseguir produzir mais
esperando receber um retorno sem entretanto ter criado uma procura efetiva que vá
absorver toda a produção.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Os mecanismos de defesa e a


crise de 1929. 34ª edição. São Paulo: Companhia das letras, 2007. páginas 263-
273.
Karoline Kelly Cunha Da Silva
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Ciências Econômicas
Formação Econômica do Brasil
2021-1
Vespertino

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