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ECONOMIA BRASILEIRA

ALUNA: LETÍCIA CRISÓSTOMO DE SOUZA BARCELLOS

PROFESSORA: DENISE CUNHA TAVARES TERRA

CAMPOS DOS GOYTACAZES


05/11/2022
O nacional desenvolvimentismo aborda uma corrente de pensamento econômico
com muita influência no Brasil, especialmente em 1950 e 1964, ou seja, entre a
eleição de Getúlio Vargas para um novo mandato e o golpe militar. Segundo
estudiosos, o nacional desenvolvimentismo alcançou seu auge durante o governo
do presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961). Contudo, as raízes desse
pensamento, podem ser identificadas a partir da revolução de 1930, quando as
frações oligárquico burguesas vinculadas ao mercado interno derrubaram do
governo os latifundiários do café, voltados à exportação e assim dando início ao
processo acelerado de industrialização a partir do modelo de substituição de
importações. A principal instituição vinculada à teoria nacional desenvolvimentista
foi a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), liderada pelo
economista argentino Raul Prebisch, e também onde por muitos anos trabalhou o
brasileiro Celso Furtado. Além da CEPAL, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros
(ISEB) também teve bastante destaque, criado em 1955, às vésperas da posse do
governo de JK e vinculado ao ministério da educação e cultura. Outro integrante do
desenvolvimento do nacional desenvolvimentismo foi o Partido Comunista, embora
ilegal, sua direção e seus intelectuais tiveram participação decisiva no crescimento
do nacional desenvolvimentismo, abraçado pelo partido como uma “doutrina” de
uma etapa democrático- burguesa da transição para uma sociedade socialista.

Criada em fevereiro de 1948, a CEPAL é uma instituição responsável pela análise


da realidade econômica e social latino americana, sendo um centro de informações
para o mundo. Inicialmente,tendo como público alvo os decisores políticos, a CEPAL
era para executar ou apoiar a ideia da necessidade da participação do Estado no
ordenamento do desenvolvimento econômico nas questões periféricas da América
Latina.

Muitos consideram o industrial paulista Roberto Cochrane Simonsen como o pai do


desenvolvimentismo, e o mesmo foi o fundador da confederação nacional da
indústria e da Federação da Indústria do Estado de São Paulo, além de ser o dono
da companhia construtora de Santos, que era uma importante empreiteira da época.
Também fez parte do movimento intelectual que foi responsável pela criação da
escola de sociologia política de São Paulo, onde lecionou história econômica do
Brasil, além de também ter sido deputado federal e senador. Mesmo que tenha
falecido cedo, em maio de 1948, sua defesa pela industrialização, construiu um dos
pilares do que viria a ser o nacional desenvolvimentismo.
Simonsen considerava que, o atraso brasileiro frente às nações capitalistas mais
avançadas, somente seriam superadas se o país deixasse de ser principalmente um
exportador agrícola e ser importador de produtos industriais. Ele identificava nessa
assimetria a razão do atraso brasileiro: Exportava produtos agrícolas e importava
produtos de alto valor agregado e o país sempre ficava condenado a uma balança
comercial desfavorável e extremamente arriscada. Segundo Simonsen, essa
superação dessa simetria só seria possível através da industrialização,
necessariamente, coordenada pelo Estado, que teria poder de fluir tanto os
estoques internos de capital privado quanto a poupança externa, além dos fundos
públicos para um processo de substituição de importações que seria protegido tanto
pela política cambial quanto pelas taxas alfandegárias. Simonsen nunca foi um
socialista ou um progressista, muito pelo contrário, era filho da sua classe, a
burguesia industrial paulista, que desejava expandir seus negócios e ser um peso
na acumulação capitalista, o que implicava em conquistar ou criar novas fronteiras
econômicas. Até os anos 30, a indústria era limitada à produção têxtil e alimentícia,
a bens de consumo não duráveis ou semiduráveis. Setores que importam quase
todos os seus insumos e seus equipamentos, logo, até mesmo para existir esse tipo
de indústria, era necessário importação. O crescimento de ferrovias e portos, entre
outros ramos da infraestrutura vinculados a exportação do café, que era o que
movia a economia do Brasil naquele período, havia aberto espaço para indústrias
como a de Simonsen, de construção civil, mesmo que ainda muito pequenas e em
desenvolvimento que eram muito dependentes ainda da importação, visto que, até o
asfalto que era utilizado pela empresa do Simonsen era importado. Nesse sentido, o
sistema que estava vigente que ficaria em vigor até a crise de 1929, era mortal para
os interesses da fração burguesa, ao qual, Simonsen pertencia, além de debilitar
muito outros grupos econômicos, como os pecuaristas gaúchos, representados por
até então Getúlio Vargas. Logo, se dava bem quem estava na ponta exportadora, os
latifundiários do café, e se davam mal os que estavam na ponta do mercado interno:
Os pecuaristas, as recentes indústrias, entre outros.

O Estado controlado pelos latifundiários do café de São Paulo e Minas Gerais até a
revolução de 1930, estava a serviço do enriquecimento desse setor dos
latifundiários exportadores de café. Um exemplo em relação a isso, é a política
cambial, logo, toda vez que caía o preço internacional do café, o governo
desvalorizou a moeda brasileira para assim, manter a renda agrária estável, ou seja,
se uma safra de café, se o preço caía por fatores internacionais, por exemplo, caía
de 10 dólares para 8 dólares, o governo desvalorizava o câmbio para que os 8
dólares produzisse o mesmo valor em moeda nacional, do antes produzia os 10
dólares. Celso Furtado explicou que esse era um sistema de privatização de ganhos
e socialização das perdas, ou seja, qualquer risco de perda da renda agrária, o
Estado redistribuiu essa perda para os outros setores da sociedade a partir da
desvalorização da moeda. O outro lado dessa questão, é que as importações
encarecem na medida que desvalorizaram a moeda para manter a renda agrária da
cafeicultura e subiam os preços das exportações, ou seja, era necessário uma maior
quantidade de moeda nacional para adquirir os dólares necessários para as
exportações que o país fazia e que era dependente. Essas exportações com essa
política cambial ficavam mais caras, pressionavam a inflação e os custos produtivos
de outras frações burguesas, além de reduzir o mercado interno. Como disse Celso
Furtado, a proteção do capital cafeeiro era determinada pela socialização das suas
perdas para o conjunto da sociedade.
Como o país necessitava estruturalmente da exportação agrícola, sob o risco de
sofrer consequências ruins para a economia, já que o café representava cerca de
60% de todas as exportações brasileiras, nesse sentido, a demanda por café era
estável e pouco sujeito a subir o preço, já que o consumo mundial do café se altera
pouco, então não havia muito aumento da exportação quando caía os preços e nem
muita redução quando subia os preços, sendo assim, o Brasil dependia muito do
café e necessitava demais da exportação agrícola. A única saída para o país não se
arruinar que o Simonsen via era a industrialização ser incentivada pelo Estado,
contudo, enterrando alguns privilégios do latifundiário, como o exemplo mencionado
da política cambial, mas sem tocar nos seus interesses fundamentais, como o
monopólio da terra e o acesso a mão de obra barata, da qual, também se
beneficiava a indústria, que possuíam como um dos elementos fundamentais para
sua prosperidade baixíssimos salários.
Essa industrialização se assim fosse capaz de incentivar a burguesia internacional a
trocar a exportação de mercadorias pela exportação de capitais e tecnologia poderia
representar um grande salto adiante no desenvolvimento brasileiro, isso era
chamado de política de substituição de importações, defendida por Simonsen e que
foi aplicada cada vez com mais intensidade a partir de 1930, quando Getúlio Vargas
assume o governo da república.
Essa política de substituição de importações consistia em uma série de medidas
tributárias cambiais e creditícias mas também financeiras e de investimentos
públicos que alavancava sem a expansão da indústria, sem alterar as estruturas
principais do capitalismo brasileiro, como a superexploração do trabalho, a renda
monopolista da terra ou mesmo a dependência externa, ainda que alterando a
modalidade dessa última variável, de dependência em relação às importações de
mercadorias para dependência a relação a importação de capitais. Simonsen
acreditava que a industrialização a médio e longo prazo acabaria por ampliar o
mercado interno e proporcionar avanços tecnológicos assim podendo gerar capital
próprio, como também, salários melhores sem afetar a taxa de lucro ou ao menos a
taxa absoluta de lucratividade do capital como havia acontecido com os Estados
Unidos.
Simonsen não defendia nenhuma reforma estrutural relevante, ele achava que a
própria industrialização a médio e longo prazo seria capaz de conduzir uma
sociedade mais justa, mais igualitária com maior satisfação das necessidades do
conjunto da população. O governo Vargas em 1930, por mais que não tivesse o
Simonsen como aliado político, queria adotar essa agenda progressivamente
aumentando a intervenção do Estado e buscando evitar através de uma série de
políticas trabalhistas que a classe trabalhadora pudesse se sentir vítima dessa
industrialização e viesse a cair sobre influência comunista. Nesse sentido, Getúlio
Vargas vai adotando no final dos anos 30 e início dos anos 40 certas medidas de
compensação, medidas de estabilização e consolidação dos direitos para a classe
trabalhadora, chegando no estabelecimento do salário mínimo, para impedir que
essa industrialização que já estava bastante acelerada não levasse a classe
trabalhadora a uma situação de conflito, assim Vargas conseguiria manter sua
influência sobre eles, assim mantendo a paz e consenso da classe trabalhadora
com aquele modelo de industrialização, assim o Estado passaria a organizar
determinadas concessões, ainda sob a política do Estado Novo, o Estado
implementaria determinadas políticas que viessem a compensar parcialmente a
classe trabalhadora.
Ao seu modo, Simonsen era nacionalista mas um nacionalista burguês que
parcialmente entrava em conflito com o capital externo para mudar as simetias que
favoreciam a burguesia interna, considerando que os interesses internos dessa
burguesia seria os interesses de toda a nação e de todas as classes vinculadas de
alguma forma com o mercado interno, incluindo a própria classe trabalhadora. Essa
é uma característica do nacionalismo burguês: Achar que os interesses da
burguesia representam os interesses de toda a nação.

Mesmo que Simonsen tenha sido inimigo de Vargas na revolta paulista de 1932, que
foi a revolta do latifundiário do café e dos seus aliados, buscando retomar o
comando da República, suas ideias e opiniões abasteceram o varguismo a partir do
final dos anos 30. No pós-guerra, com Simonsen já falecido, suas opiniões iriam
confluir com o pensamento cepalino de Prebisch e Celso Furtado e também com a
orientação dos comunistas do PCB. Para os formuladores da CEPAL e do ISEB, o
obstáculo para o desenvolvimento era uma dupla dualidade.

Furtado conseguiu unir uma intelectualidade e um arcabouço teórico que ele


possuía em todas as suas obras, e na sua atuação na CEPAL não foi diferente.
Toda sua teoria e sua obra se consolida quando ele pensa na região do nordeste,
que começou a receber intervenções de desenvolvimento, quando o governo federal
começa a tratar o problema de desigualdade do nordeste com o problema das
secas, logo, não plantava, o gado morria, então todo problema governamental era
voltado para a construção de açudes para acumulação da água, por exemplo. E em
1950, Furtado vem e aponta que o problema do nordeste não é a seca, pois ele
argumentava que, vários outros lugares no mundo se desenvolvem mesmo com o
problema da seca, logo, ele colocava que o problema do nordeste era a falta de
planejamento. Furtado fica na CEPAL de 1949 a 1956, no ano de 1953 ele volta
para o Rio de Janeiro e começa a comandar o grupo misto CEPAL BNDE e cujo
relatório desse grupo misto se torna o plano de metas do governo JK.

De um lado a contradição entre centro e periferia com os países capitalistas mais


avançados impedindo que os mais atrasados se desenvolvessem pois esses países
capitalistas avançados defendiam uma divisão internacional do trabalho, no qual o
papel da periferia, onde se localiza o Brasil, era de exportar produtos agrícolas e
matérias primas. Além dessa dualidade entre centro e periferia, a divisão
internacional do trabalho haveria uma contradição interna entre o setor moderno e o
setor atrasado da economia interna, isto é, entre a indústria que seria o setor
moderno, e a agropecuária tradicional que seria a agropecuária atrasada. Para a
CEPAL e o ISEB o grande entrave para o desenvolvimento era o atrelamento desse
setor atrasado, o latifúndio, aos interesses das grandes potências capitalistas
impedindo que no setor moderno, no qual, estaria junto tanto a burguesia nacional
quanto o proletariado realizassem plenamente o seu potencial.
Nesse sentido, os comunistas tinham sua própria tradução para essa teoria,
segundo o PCB, o Brasil ainda não seria um país capitalista maduro e a principal
contradição estaria constituída pelo confronto nação e imperialismo e não pela luta
de classes entre a burguesia e a classe trabalhadora. Nessa lógica do PCB, que era
uma lógica próxima a da CEPAL e ISEB, a até então chamada burguesia nacional
teria a função de liderar uma revolução nacional e democrática. Com o apoio dos
trabalhadores urbanos e do campesinato, contra o latifúndio e o imperialismo para
romper as amarras do capitalismo brasileiro, o PCB falava como os intelectuais do
CEPAL e do ISEB que o capitalismo braisleiro somente poderia se desenvolver se o
latifúndio e o imperialismo fossem derrotados, nesse sentido a burguesia nacional
que dependia desse desenvolvimento para existir enquanto classe e prosperar, a
burguesia nacional materialmente e objetivamente apoiaria a revolução
anti-imperialista, uma revolução nacional e democrática para poder seguir em diante
na sua acumulação. Somente após depois dessa etapa nacional democrática
anti-imperialista se poderia falar em luta de classes como fator principal da
sociedade brasileira, em luta de classes entre a burguesia e a classe trabalhadora,
em luta pelo socialismo e hegemonia entre o proletariado. Na etapa que
correspondia ao nacional desenvolvimentismo não, aquela era uma etapa, no qual,
quem deveria ocupar o espaço principal era a burguesia nacional ansiosa em se
libertar do domínio imperialista e do seu aliado interno, o latifúndio. De todo modo, é
possível encontrar três alas no nacional-desenvolvimentismo: 1) Havia uma ala
direita que resumia o pensamento nacional desenvolvimentista a industrialização,
inspirada essa ala por ideias do Simonsen, sem qualquer ruptura ou reforma
estrutural nos fundamentos da dominação sobre as classes trabalhadoras (sem
reforma agrária, sem ampliação de direitos da classe trabalhadora, sem aumento
dos salários que não fossem aqueles aumentos determinados pelo próprio
crescimento de produtividade na indústria, entre outros), ou seja,a industrialização
não era acompanhada por reformas sociais, ela era vista como um fenômeno
isolado que só lá na frente resolveria seus problemas sociais. 2) A CEPAL e o ISEB
foram abrindo outro tipo de abordagem a partir da teoria do subdesenvolvimento
elaborado por Celso Furtado, por essa tese, não seria possível a industrialização
sem a expansão do mercado interno, o que obrigaria a reformas estruturais como a
concentração da terra, para ampliar os direitos, construir serviços públicos de
amplitude e qualidade, sem reformas que resolvem problemas da baixa
escolaridade e da desproteção social e outras formas de desigualdade da renda e
da riqueza. Portanto, para Furtado a industrialização e o próprio crescimento da
economia dependeria de reformas sociais, ao contrário do que pensava a ala direita
do nacional desenvolvimentismo. Essas reformas sociais já teriam nome no governo
João Goulart de reformas de base, essa corrente chegou a concluir que sem essas
reformas de base o capitalismo brasileiro estaria condenado à estagnação e não
seria capaz de crescer e desenvolver, pensamento esse muito comum entre a
CEPAL, ISEB e também do PCB. 3) Tinha a ala esquerda do nacional
desenvolvimentismo representada exatamente pelos comunistas. Teoricamente,
muito próximo às premissas de Celso Furtado, nesse momento, o principal
intelectual do PCB nessa formulação era o militar Nelson Werneck Sodré e que
também era um dos expoentes do ISEB. Essa ala esquerda colocava o nacional
desenvolvimentismo dentro de uma estratégia revolucionária, ao contrário de
Furtado e seus seguidores que não operavam a partir de postulados marxistas ou
tendo como objetivo uma sociedade sociedade socialista, e essa era a maior
diferença entre a ala esquerda para a centrista no nacional desenvolvimentismo.

O segundo governo de Getúlio Vargas correspondeu a um período de construção do


movimento nacional desenvolvimentista mas ele correspondeu a grosso modo, uma
aliança entre a ala direita e a ala centrista do nacional desenvolvimentismo. A ala
direita já possuía um pensamento mais maduro e a ala centrista começava a dar
seus primeiros passos e viria a ter uma formação mais sólida no governo de
Juscelino Kubitschek e a ala de esquerda era inimiga de Getúlio Vargas e
confrontava constantemente o governo de Vargas e considerava até que o governo
de Getúlio era inimigo do nacional desenvolvimentismo. O governo JK por sua vez,
esteve claramente mais alinhado pela ala mais à direita do nacional
desenvolvimentismo, essa ala foi fortalecida e isso se deu em função da mudança
de estratégia dos Estados imperialistas no pós guerra, principalmente dos Estados
Unidos que passaram a aceitar a substituição de importações, portanto aceitaram
assim uma nova divisão internacional do trabalho, trocando a exportação de
mercadorias pela de capitais. Foi o período de maior crescimento da
internacionalização da economia brasileira com a industrialização financiada pela
chegada de investimentos internacionais, exemplificado pelo grande investimento da
indústria automobilística.

O breve governo Jango, que durou um pouco mais de um ano após a vitória
presidencialista no plebiscito ocorrido em janeiro de 1963, com esse governo de 14
meses, por sua vez, representou uma outra hegemonia dentro do nacional
desenvolvimentismo, representou a aliança entre o centro e a esquerda
representada pelo PCB, ainda que as relações entre essas duas fossem
conturbadas, principalmente porque a esquerda do nacional desenvolvimentismo
concebia esse pensamento como uma etapa de um processo revolucionário que
deveria confluir para a construção de uma sociedade socialista, e esse não era o
pensamento do centrismo, do Celso Furtado e de seus aliados, eles não possuíam
uma estratégia revolucionária, não imaginavam uma sociedade anti ou pós
capitalista e sim imaginavam um processo de desenvolvimento dentro do
capitalismo, logo, havia uma tensão permanente da ala esquerda e da ala centrista
em todo processo, porém, nesses 14 meses de governo de João Goulart
representaram esse momento de aliança entre essas duas alas. O nacionalismo
revolucionário anti-imperialista representado principalmente por Leonel Brizola, tinha
um pé fora do nacional desenvolvimentismo, corria por fora pois não via na
industrialização, mesmo com reformas sociais como elemento central para o
desenvolvimento. Brizola apostava suas fichas para o desenvolvimento em uma
ruptura frontal com o capital estrangeuri e o latifúndio, ao contrário do que era o
pensamento nacional desenvolvimentista. Brizola então decide estatizar enquanto
governador do Rio Grande do Sul a empresa telefônica norte americana ITT,
pagando 1 dólar de indenização mas quando a empresa reclama com o governo de
João Goulart, o ministério de planejamento chefiado por Celso Furtado aumenta a
indenização de 1 dólar para 1 bilhão de dólares no valor de hoje, o que mostrava
bem como Brizola se colocava fora do nacional desenvolvimentismo. De todo modo,
a questão essencial para o desenvolvimento do nacional desenvolvimentismo era a
ideia de que haveria um setor da burguesia chamada burguesia industrial que
estaria disposta a empalmar as ideias da CEPAL, os intelectuais e lideranças que a
defendiam eram como autores com um roteiro na mão em busca de um
personagem que aceitasse interpretar esse roteiro e identificando que o
pensamento desse roteiro coincidiria com os desejos concretos desse personagem
que era a burguesia nacional. Mas centristas e comunistas não se deram conta que
essa burguesia nacional particularmente depois da intensificação da exportação de
capitais por parte de países centrais, deixava de ver o subdesenvolvimento como
uma amarra para seus lucros, pelo contrário, era exatamente os baixos salários, o
latifúndio agroexportador e a submissão a divisão internacional do trabalho que
poderiam garantir a aceleração da acumulação capitalista , o ritmo da
industrialização e os interesses de classe desse setor burguês. Essa burguesia
nacional deixava de ver no imperialismo e no latifúndio seus inimigos que um dia os
viu, pelo contrário, os grandes inimigos dessa burguesia agora era exatamente às
reformas sociais defendidas pelos centristas, por João Goulart, que poderiam afetar
a taxa de lucro da burguesia e sua associação com o capitalismo avançado. Esse
mecanismo concreto de acumulação levaria a burguesia nacional a dar um golpe ao
nacional desenvolvimentismo realizado por empresários e militares em 1964. Diante
disso, o conceito de dualidade perdeu a ideia de funcionalidade, logo, o
centro-periferia o atraso a modernidade , a forma como fora desenhado pela CEPAL
e pelo ISEB se revelaram incapazes de interpretar o desenvolvimento do
capitalismo no Brasil, onde a modernidade se alimentava estruturalmente do atraso
e a periferia organizava a acumulação a partir da subordinação ao centro, ao
contrário de dualidade o que se tem é a complementaridade, colocando por terra a
leitura teórica do nacional desenvolvimentismo. O roteiro do nacional
desenvolvimentismo ia vir à falência em função da falta de personagens, a
burguesia nacional abandonou o teatro e mandou prender os autores do roteiro. Do
ponto de vista teórico, essa burguesia industrial dos sonhos desenvolvimentistas,
pendularia para o liberalismo de Roberto Campos e Octávio Bulhões que assumiria
a economia após o golpe de 1964, faziam oposição a CEPAL, ao ISEB e aos
comunistas acima de tudo, e não porque a burguesia industrial (Campos e Bulhões)
recusassem uma intervenção do Estado mas sim porque rechaçada esses
personagens e qualquer intervenção do Estado que alterasse os fundamentos da
economia capitalista periférica, alicerçados na brutal exploração das classes
trabalhadoras. Essa burguesia, associada ao latifúndio e ao imperialismo e não ao
proletariado, e também o PCB, queriam o Estado para impor seus interesses e para
garantir que teriam uma parcela cada vez maior da renda e da riqueza fossem para
suas mãos, para as mão dessa burguesia associada ao latifúndio e também ao
imperialismo e não como propunham outros quadros como Jango, Brizola, Furtado,
entre outros conjuntos de forças populares progressistas.
No auge do nacional desenvolvimentismo, era pequena a crítica pela esquerda de
seu modelo teórico político e resumia-se alguns intelectuais como Florestan
Fernandes, em certa medida Carlos Prado Júnior, além de pequenas organizações
partidárias ou centros de estudo, apenas nos 60 essa crítica seria rompida, através
dos estudos dos intelectuais vinculados a chamada teoria marxista da dependência,
entre os quais se destacava Ruy Mauro Marini, outro crítico também importante no
processo do nacional desenvolvimentismo o Francisco Oliveira nos anos 70 com
suas duras críticas à razão dualista.
O nacional desenvolvimentismo se imaginava como uma doutrina de uma revolução
burguesa nacionalista e democrática mas foi superado e derrotado exatamente
porque o capitalismo brasileiro concluiu seu amadurecimento a “revelia”,
contrariamente as reformas formuladas propostas pela geração de intelectuais da
história liderada por Celso Furtado.

A herança que temos atualmente do nacional desenvolvimentismo veio mais com a


sua derrota do que com seus avanços que foi perceber que existe uma contradição
absurda entre o capitalismo periférico e a construção de um Estado soberano e
democrático de bem estar social. A burguesia brasileira não aceita a construção de
um Estado democrático de bem estar social pois o capitalismo periférico depende
da superexploração do trabalho, da usurpação de direitos e do monopólio da terra,
por exemplo, também depende dos vínculos e submissão externa ao imperialismo,
pois se esses pilares forem afetados o capitalismo periférico se desorganiza e essa
desorganização econômica acarretaria em uma crise política e na possibilidade das
forças populares derrotarem a burguesia nos países de capitalismo periférico.
Portanto, é uma contradição que nunca terá fim, como mostrou o golpe de 1964 e
também como mostrou o golpe de 2016. Isso significa que a esquerda ao discutir
programas de reformas tem que levar em conta que essas reformas ao contrário de
criar um caminho fácil e confortável de resolução de problemas da classe
trabalhadora, essas reformas irão causar uma intensificação da luta de classes e
que a esquerda pode se preparar para essa radicalização através de mobilização
popular,através da reforma do Estado, da construção de redes de poder popular,
pois se não houver um preparo, esse grupo irá aplicar projeto de reformas, mesmo
que moderados como nos governos petistas e a contra-revolução burguesa
preventiva, como em 2016, ou ativa, como em 1964. Logo, essa “contra-revolução”
se organiza para deter as reformas, e se não houver preparo para lidar com esse
cenário a esquerda será facilmente derrotada e esse cenário mostra grande
contradição diferente como pensava antigamente grandes intelectuais como Celso
Furtado e que talvez essa contradição só será resolvida na política, na luta pelo
poder político da capacidade da esquerda de controlar o poder do Estado para
impor essas reformas e assim derrotar essa contra-revolução.
Atualmente, não se pode dizer que existe uma burguesia nacionalista. Essa elite
nacionalista pode-se dizer que foi um “sonho” do nacional desenvolvimentismo e do
PCB, e que também se for olhar em todo contexto do processo de construção do
nacional desenvolvimentismo, essa ideia existiu como um núcleo pequeno diante
todo conjunto da situação e que foi definhando ao longo das décadas e nos últimos
20 anos deixou de existir, assim como não existe mais burguesia industrial no Brasil,
o desenvolvimentismo conseguiu acabar com o que restou, o que pode ser visto
como um problema na estratégia do nacional desenvolvimentismo ao aplica-lo nos
dias de hoje pois, não existe mais essa burguesia industrial e isso não quer dizer
que não exista uma burguesia nacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ricardo Bielschowsky. Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. Editora Record.


Rio de Janeiro. 2000.

Celso Furtado. Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. Contraponto - 5 edição.


2009

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