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O Estado controlado pelos latifundiários do café de São Paulo e Minas Gerais até a
revolução de 1930, estava a serviço do enriquecimento desse setor dos
latifundiários exportadores de café. Um exemplo em relação a isso, é a política
cambial, logo, toda vez que caía o preço internacional do café, o governo
desvalorizou a moeda brasileira para assim, manter a renda agrária estável, ou seja,
se uma safra de café, se o preço caía por fatores internacionais, por exemplo, caía
de 10 dólares para 8 dólares, o governo desvalorizava o câmbio para que os 8
dólares produzisse o mesmo valor em moeda nacional, do antes produzia os 10
dólares. Celso Furtado explicou que esse era um sistema de privatização de ganhos
e socialização das perdas, ou seja, qualquer risco de perda da renda agrária, o
Estado redistribuiu essa perda para os outros setores da sociedade a partir da
desvalorização da moeda. O outro lado dessa questão, é que as importações
encarecem na medida que desvalorizaram a moeda para manter a renda agrária da
cafeicultura e subiam os preços das exportações, ou seja, era necessário uma maior
quantidade de moeda nacional para adquirir os dólares necessários para as
exportações que o país fazia e que era dependente. Essas exportações com essa
política cambial ficavam mais caras, pressionavam a inflação e os custos produtivos
de outras frações burguesas, além de reduzir o mercado interno. Como disse Celso
Furtado, a proteção do capital cafeeiro era determinada pela socialização das suas
perdas para o conjunto da sociedade.
Como o país necessitava estruturalmente da exportação agrícola, sob o risco de
sofrer consequências ruins para a economia, já que o café representava cerca de
60% de todas as exportações brasileiras, nesse sentido, a demanda por café era
estável e pouco sujeito a subir o preço, já que o consumo mundial do café se altera
pouco, então não havia muito aumento da exportação quando caía os preços e nem
muita redução quando subia os preços, sendo assim, o Brasil dependia muito do
café e necessitava demais da exportação agrícola. A única saída para o país não se
arruinar que o Simonsen via era a industrialização ser incentivada pelo Estado,
contudo, enterrando alguns privilégios do latifundiário, como o exemplo mencionado
da política cambial, mas sem tocar nos seus interesses fundamentais, como o
monopólio da terra e o acesso a mão de obra barata, da qual, também se
beneficiava a indústria, que possuíam como um dos elementos fundamentais para
sua prosperidade baixíssimos salários.
Essa industrialização se assim fosse capaz de incentivar a burguesia internacional a
trocar a exportação de mercadorias pela exportação de capitais e tecnologia poderia
representar um grande salto adiante no desenvolvimento brasileiro, isso era
chamado de política de substituição de importações, defendida por Simonsen e que
foi aplicada cada vez com mais intensidade a partir de 1930, quando Getúlio Vargas
assume o governo da república.
Essa política de substituição de importações consistia em uma série de medidas
tributárias cambiais e creditícias mas também financeiras e de investimentos
públicos que alavancava sem a expansão da indústria, sem alterar as estruturas
principais do capitalismo brasileiro, como a superexploração do trabalho, a renda
monopolista da terra ou mesmo a dependência externa, ainda que alterando a
modalidade dessa última variável, de dependência em relação às importações de
mercadorias para dependência a relação a importação de capitais. Simonsen
acreditava que a industrialização a médio e longo prazo acabaria por ampliar o
mercado interno e proporcionar avanços tecnológicos assim podendo gerar capital
próprio, como também, salários melhores sem afetar a taxa de lucro ou ao menos a
taxa absoluta de lucratividade do capital como havia acontecido com os Estados
Unidos.
Simonsen não defendia nenhuma reforma estrutural relevante, ele achava que a
própria industrialização a médio e longo prazo seria capaz de conduzir uma
sociedade mais justa, mais igualitária com maior satisfação das necessidades do
conjunto da população. O governo Vargas em 1930, por mais que não tivesse o
Simonsen como aliado político, queria adotar essa agenda progressivamente
aumentando a intervenção do Estado e buscando evitar através de uma série de
políticas trabalhistas que a classe trabalhadora pudesse se sentir vítima dessa
industrialização e viesse a cair sobre influência comunista. Nesse sentido, Getúlio
Vargas vai adotando no final dos anos 30 e início dos anos 40 certas medidas de
compensação, medidas de estabilização e consolidação dos direitos para a classe
trabalhadora, chegando no estabelecimento do salário mínimo, para impedir que
essa industrialização que já estava bastante acelerada não levasse a classe
trabalhadora a uma situação de conflito, assim Vargas conseguiria manter sua
influência sobre eles, assim mantendo a paz e consenso da classe trabalhadora
com aquele modelo de industrialização, assim o Estado passaria a organizar
determinadas concessões, ainda sob a política do Estado Novo, o Estado
implementaria determinadas políticas que viessem a compensar parcialmente a
classe trabalhadora.
Ao seu modo, Simonsen era nacionalista mas um nacionalista burguês que
parcialmente entrava em conflito com o capital externo para mudar as simetias que
favoreciam a burguesia interna, considerando que os interesses internos dessa
burguesia seria os interesses de toda a nação e de todas as classes vinculadas de
alguma forma com o mercado interno, incluindo a própria classe trabalhadora. Essa
é uma característica do nacionalismo burguês: Achar que os interesses da
burguesia representam os interesses de toda a nação.
Mesmo que Simonsen tenha sido inimigo de Vargas na revolta paulista de 1932, que
foi a revolta do latifundiário do café e dos seus aliados, buscando retomar o
comando da República, suas ideias e opiniões abasteceram o varguismo a partir do
final dos anos 30. No pós-guerra, com Simonsen já falecido, suas opiniões iriam
confluir com o pensamento cepalino de Prebisch e Celso Furtado e também com a
orientação dos comunistas do PCB. Para os formuladores da CEPAL e do ISEB, o
obstáculo para o desenvolvimento era uma dupla dualidade.
O breve governo Jango, que durou um pouco mais de um ano após a vitória
presidencialista no plebiscito ocorrido em janeiro de 1963, com esse governo de 14
meses, por sua vez, representou uma outra hegemonia dentro do nacional
desenvolvimentismo, representou a aliança entre o centro e a esquerda
representada pelo PCB, ainda que as relações entre essas duas fossem
conturbadas, principalmente porque a esquerda do nacional desenvolvimentismo
concebia esse pensamento como uma etapa de um processo revolucionário que
deveria confluir para a construção de uma sociedade socialista, e esse não era o
pensamento do centrismo, do Celso Furtado e de seus aliados, eles não possuíam
uma estratégia revolucionária, não imaginavam uma sociedade anti ou pós
capitalista e sim imaginavam um processo de desenvolvimento dentro do
capitalismo, logo, havia uma tensão permanente da ala esquerda e da ala centrista
em todo processo, porém, nesses 14 meses de governo de João Goulart
representaram esse momento de aliança entre essas duas alas. O nacionalismo
revolucionário anti-imperialista representado principalmente por Leonel Brizola, tinha
um pé fora do nacional desenvolvimentismo, corria por fora pois não via na
industrialização, mesmo com reformas sociais como elemento central para o
desenvolvimento. Brizola apostava suas fichas para o desenvolvimento em uma
ruptura frontal com o capital estrangeuri e o latifúndio, ao contrário do que era o
pensamento nacional desenvolvimentista. Brizola então decide estatizar enquanto
governador do Rio Grande do Sul a empresa telefônica norte americana ITT,
pagando 1 dólar de indenização mas quando a empresa reclama com o governo de
João Goulart, o ministério de planejamento chefiado por Celso Furtado aumenta a
indenização de 1 dólar para 1 bilhão de dólares no valor de hoje, o que mostrava
bem como Brizola se colocava fora do nacional desenvolvimentismo. De todo modo,
a questão essencial para o desenvolvimento do nacional desenvolvimentismo era a
ideia de que haveria um setor da burguesia chamada burguesia industrial que
estaria disposta a empalmar as ideias da CEPAL, os intelectuais e lideranças que a
defendiam eram como autores com um roteiro na mão em busca de um
personagem que aceitasse interpretar esse roteiro e identificando que o
pensamento desse roteiro coincidiria com os desejos concretos desse personagem
que era a burguesia nacional. Mas centristas e comunistas não se deram conta que
essa burguesia nacional particularmente depois da intensificação da exportação de
capitais por parte de países centrais, deixava de ver o subdesenvolvimento como
uma amarra para seus lucros, pelo contrário, era exatamente os baixos salários, o
latifúndio agroexportador e a submissão a divisão internacional do trabalho que
poderiam garantir a aceleração da acumulação capitalista , o ritmo da
industrialização e os interesses de classe desse setor burguês. Essa burguesia
nacional deixava de ver no imperialismo e no latifúndio seus inimigos que um dia os
viu, pelo contrário, os grandes inimigos dessa burguesia agora era exatamente às
reformas sociais defendidas pelos centristas, por João Goulart, que poderiam afetar
a taxa de lucro da burguesia e sua associação com o capitalismo avançado. Esse
mecanismo concreto de acumulação levaria a burguesia nacional a dar um golpe ao
nacional desenvolvimentismo realizado por empresários e militares em 1964. Diante
disso, o conceito de dualidade perdeu a ideia de funcionalidade, logo, o
centro-periferia o atraso a modernidade , a forma como fora desenhado pela CEPAL
e pelo ISEB se revelaram incapazes de interpretar o desenvolvimento do
capitalismo no Brasil, onde a modernidade se alimentava estruturalmente do atraso
e a periferia organizava a acumulação a partir da subordinação ao centro, ao
contrário de dualidade o que se tem é a complementaridade, colocando por terra a
leitura teórica do nacional desenvolvimentismo. O roteiro do nacional
desenvolvimentismo ia vir à falência em função da falta de personagens, a
burguesia nacional abandonou o teatro e mandou prender os autores do roteiro. Do
ponto de vista teórico, essa burguesia industrial dos sonhos desenvolvimentistas,
pendularia para o liberalismo de Roberto Campos e Octávio Bulhões que assumiria
a economia após o golpe de 1964, faziam oposição a CEPAL, ao ISEB e aos
comunistas acima de tudo, e não porque a burguesia industrial (Campos e Bulhões)
recusassem uma intervenção do Estado mas sim porque rechaçada esses
personagens e qualquer intervenção do Estado que alterasse os fundamentos da
economia capitalista periférica, alicerçados na brutal exploração das classes
trabalhadoras. Essa burguesia, associada ao latifúndio e ao imperialismo e não ao
proletariado, e também o PCB, queriam o Estado para impor seus interesses e para
garantir que teriam uma parcela cada vez maior da renda e da riqueza fossem para
suas mãos, para as mão dessa burguesia associada ao latifúndio e também ao
imperialismo e não como propunham outros quadros como Jango, Brizola, Furtado,
entre outros conjuntos de forças populares progressistas.
No auge do nacional desenvolvimentismo, era pequena a crítica pela esquerda de
seu modelo teórico político e resumia-se alguns intelectuais como Florestan
Fernandes, em certa medida Carlos Prado Júnior, além de pequenas organizações
partidárias ou centros de estudo, apenas nos 60 essa crítica seria rompida, através
dos estudos dos intelectuais vinculados a chamada teoria marxista da dependência,
entre os quais se destacava Ruy Mauro Marini, outro crítico também importante no
processo do nacional desenvolvimentismo o Francisco Oliveira nos anos 70 com
suas duras críticas à razão dualista.
O nacional desenvolvimentismo se imaginava como uma doutrina de uma revolução
burguesa nacionalista e democrática mas foi superado e derrotado exatamente
porque o capitalismo brasileiro concluiu seu amadurecimento a “revelia”,
contrariamente as reformas formuladas propostas pela geração de intelectuais da
história liderada por Celso Furtado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS