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Escola Técnica Estadual de São Paulo

Novotec Integrado PI - Meio Ambiente


Disciplina: Estudos Avançados em Ciências Humanas e Sociais
Alunos: Dora Sachet Ramos Quirino / Wilson Maurício da Silva Neto
Data: 30.01.22

Os Primórdios e Desenvolvimento da Realidade Trabalhista Brasileira

Falar da construção do mundo do trabalho (uma realidade inteiramente própria, a qual não temos
opção de oposição), especialmente em um país de passado colonial, longa e violenta história escravista,
um desbalanceamento de poder primordial, é falar da construção de uma sociedade em todos os seus
âmbitos - político, econômico, social, ambiental -, referente não somente ao empregado, mas ao
empregador, a máquina, o transporte, a infraestrutura. Refere-se a vasta maioria, senão todos, os eventos
marcantes de transformação do nosso país. O trabalhador sentiu profundamente cada terremoto da história
brasileira, seja tal na desembarcação do primeiro navio negreiro, na primeira lei trabalhista, no percurso
do trabalho dia-a-dia, quando aumenta o preço da passagem mas não o salário.
O processo de escravidão é uma marca escura de tradição trabalhista no qual nunca foi
completamente irradicada. Sua prática torna-se “extinta”, ao menos legalmente, em 13 de maio 1888,
quando a Princesa Dona Isabel, filha de Dom Pedro II, sancionou a Lei Áurea devido a diversos fatores
econômicos globais - em particular a rápida industrialização das antigas metrópoles, no qual necessitavam
agora da maior população economicamente ativa possível. Poderíamos dissertar, possivelmente, sobre um
Brasil inteiramente diferente, fosse tal decreto imposto racionalizando a situação desumana do trabalho
forçado na sociedade brasileira; fossem as prioridades a humanização do trabalho e não o
desenvolvimento econômico. Realisticamente, observamos uma clara despreocupação com a situação do
ex-escravizado na sociedade. Sem suporte financeiro, educação, e alvo de ideologias racistas, o escravo
libertado não é, e não será futuramente, inserido no processo produtivo.
A situação do escravo liberto já era paltada períodos antes da abolição da escravidão. Com a
chegada ao país dos primeiros trabalhadores imigrantes e os primeiros indícios da transição da mão de
obra escrava para a assalariada, adiantaram-se os donos de terra para garantir total desvalorização dos
marginalizados. Em 18 de setembro de 1850, é homologada a Lei de Terras, estabelecendo a única
maneira de adquirir terras por compra e venda ou por doação do Estado. Não seria mais permitido obter
terras por meio de posse, a chamada usucapião. Aqueles que já ocupavam algum lote receberam o título
de proprietário, sendo a exigência residir e produzir nesta localidade. Promulgada por D. Pedro II, esta foi
a política de preservação de um sistema faccioso da estrutura fundiária no país, privilegiando velhos
fazendeiros e latifundiários. Torna-se próximo de impossível à população pobre imigrante e os ex-
escravizados a obtenção de terras.
Salvo a situação do ex-escravizado após a abolição - em posição subalterna e marginalizados,
sujeitos a empregos hostis e mal remunerados -, o meio ao fim do século XIX trouxe outro transformante
ao mundo do trabalho brasileiro: a presença de mão de obra imigrante.
Neste período, o trabalho livre ganha importância econômica e a imigração cresce notavelmente
para o Sul, mas também para São Paulo, onde até então a lavoura cafeeira se baseava no trabalho escravo.
Após a abolição, em apenas dez anos (de 1890 a 1900) entraram no Brasil mais de 1,4 milhão de
imigrantes, o dobro do número de entradas nos oitenta anos anteriores. Saídos de seus países por motivos
econômicos e a procura por melhorias na recém-independente colônia, chegaram aos montes, prometidos
terra e prosperidade; trabalhavam com grande força de vontade, tendo em mente que em 5 anos poderiam
comprar sua própria terra. Porém, em um sistema idealizado na mentalidade escravista, logo fica claro as
péssimas condições salariais impostas pelos latifundiários. Além dos baixos salários, havia o desconto da
alimentação e itens básicos de sobrevivência, no qual os trabalhadores eram forçados a comprar em
armazéns dispendiosos nos terrenos onde trabalhavam.
Podemos usar como exemplo para entender a situação do imigrante no Brasil a imigração italiana.
Grande parte dessa população, que migrou para o Brasil especialmente entre 1880 e 1910, eram de
origem humilde, principalmente de regiões rurais da Itália. Neste período, a Itália passava por uma crise
de emprego na segunda metade do século XIX, gerada, principalmente, pela industrialização do país, no
qual não foi acompanhado pelo crescimento econômico do ou geração de novos empregos, fazendo com
que muitos italianos optassem pela vida em outros países.
Ramifica-se, daí, dois pontos essenciais no mundo do trabalho brasileiro. Primeiramente, o
impacto da imigração na distribuição de empregos. As lavouras cafeeiras começam a optar pela mão de
obra europeia, segregando progressivamente os negros libertos. Contudo, é a chegada dessa população
que traz ao Brasil as primeiras ideologias de consciência de classe e luta coletiva. Os imigrantes
encontram na ascendente colônia um país sem alguma lei trabalhista, onde horário de trabalho diário,
limitação de trabalho infantil, salário mínimo, aposentadoria ou qualquer outro direito era quimérico.
Fundamentados de suas próprias experiências, começam, no final do século XIX, a promover a
movimentação das leis e lutas trabalhistas, criando os primeiros sindicatos e divulgando ideias socialistas
e anarquistas pela classe trabalhadora.
Ademais a população carente de fundos, no qual se estabelece no Brasil puramente em busca de
trabalho, as imigrações trazem a chegada de pequenos investidores, os primórdios de uma classe burguesa
em ascensão, que arquitetam as primeiras indústrias no Brasil, em sua grande maioria nas colônias
imigrantes já existentes do sul do país. Com a primeira grande Guerra Mundial, estendendo-se de 1914 à
1918, os significados de uma economia unicamente exportadora começa a atingir o maior meio de
produção e circulação de capital na época: a economia cafeeira, no qual sustentava-se da exportação do
café, comprado principalmente pelos países europeus e os Estados Unidos. Com a guerra, tais países
cortaram a importação daqueles produtos que não fossem estritamente necessários, mitigando
temporariamente as relações de compra externa.
Diferentemente das crises prévias, desta vez o governo não aufere a estratégia de compra e
queima da mercadoria excedente, devido a impossibilidade de empréstimos globais com a crise. O preço
do café cai apenso ao mercado, e não há mais necessidade dos latifundiários de investirem seus lucros no
aumento constante de produção. De tal maneira, o dinheiro previamente circulando neste meio começa a
ser utilizado para criação das primeiras manufaturas brasileiras, as indústrias têxteis e alimentares. A
burguesia cafeeira, presente em grande massa no sudeste, transformou então os meios de trabalho.
Conhecemos tal estágio da industrialização como a Segunda Fase, sendo posterior a fase inicial
dos engenhos de açúcar, de 1500 a 1808. A Terceira Fase inicia-se em um dos governos de maior
importância social, principalmente no âmbito trabalhista, do Brasil. Em 1929, a disputa política da
Oligarquia Café com Leite (acordo político entre as mais potentes Oligarquias da época: mineiros e
paulistas; no qual alternavam o cargo de presidência entre seus representantes por quase meio século)
acirra-se. Naquele momento, o presidente Washington Luís indica a eleição indireta do paulistano Júlio
Prestes, quebrando a alternância de representantes de Minas Gerais e São Paulo. Não obstante sua
verídica eleição, o candidato nunca chega a tomar poder, devido erupção da Revolução de 1930, no qual a
Aliança Liberal, frente política consolidada no início de agosto de 1929 com intuito de acabar com os
mandatos da Oligarquia Café com Leite, demonstra apoio às candidaturas de Getúlio Vargas e João
Pessoa à presidência e vice-presidência de um governo provisório.
A Junta Governativa do Governo Provisório assume o poder em 24 de outubro de 1930, e, em
1932, Getúlio Vargas assume como presidente oficial do Brasil. Em 1937, o presidente fecha congressos
e aplica o golpe de estado de instauração do Estado Novo, início da Terceira República brasileira e época
marcada pela centralização do poder, nacionalismo, propaganda anticomunista e pelo autoritarismo. Em
seus 18 anos de poder consecutivo, de 1932 a 1945, foi considerado um líder populista, ou seja, de âmbito
governamental voltado ao cuidado social e desenvolvimento das classes mais baixas. Além de dar imensa
importância na criação das leis trabalhistas, discutidas mais à frente, Getúlio Vargas foi o primeiro
presidente a investir diretamente na infraestrutura e industrialização do país.
Seu método de desenvolvimento consistiu em priorizar a indústria de base - em oposição da
valorização da indústria de bens de consumo pioneiros - formando material bruto que era exportado para
processamento no exterior. As indústrias fundadas na época eram de investimento e poder público,
chamadas Estatais. O financiamento para sua construção proveio majoritariamente de empréstimos vindos
do Estados Unidos, no qual disponibilizavam recursos econômicos ao governo Vargas devido a sua busca
por aliados na Segunda Guerra. Foram concebidos projetos como a construção da Companhia
Siderúrgica Nacional, em 1941, em Volta Redonda (RJ), a Companhia do Vale do Rio Doce (1942), para
a extração de minério de ferro e a Fábrica Nacional de Motores (1942).
Persegue-se assim a situação das indústrias e infraestrutura no Brasil até o ano de 1956, com o
início do governo de Juscelino Kubitschek, onde irrompe a mudança no âmbito de desenvolvimento, com
a ideologia desenvolvimentista. O Estado torna-se uma base ativa na base econômica, tornando suas
prioridades o rápido crescimento industrial a partir da globalização da economia. Kubitschek abre as
portas do país a ligeira influência estadunidense, causando uma rápida e desordenada industrialização
com a chegada em massa de multinacionais. Necessitando de impacto positivo na opinião pública
referente a nova administração federal, o presidente difunde o plano de metas do lema “50 anos em 5”,
pretendendo revolucionar a infraestrutura brasileira com o propósito de completar uma nova capital,
inteiramente planejada, em apenas 5 anos. Essencialmente concebida por Oscar Niemeyer, a atual capital
Brasília é inaugurada um ano antes do fim do mandato de Kubitschek.
Todas essas colossais mudanças alteraram a forma de existência, os atritos e espaço da classe
trabalhadora na sociedade. O processo de industrialização transforma o sistema opressor: aquele antes
denominado trabalhador, vendedor de seu produto para sobrevivência, torna-se o proletário, vendedor de
sua mão de obra para sobrevivência. A instalação não homogênea de manufaturas pelo país, favorecendo
as áreas do sudeste e desposando o desenvolvimento do nordeste, contribui para imigraçao das
populações nordestinas, mitigando culturas, sobrecarregando centros populares. O aumento na classe
empregada ocorre em conjunto ao aumento da disparidade social.
Retornando à Terceira Fase de Industrialização, com o governo populista de um defensor da
humanização e valorização do trabalho, temos um salto de extrema importância na constituição do mundo
do trabalho atual: o início da história das leis e direitos trabalhistas.
A luta trabalhista data de séculos anteriores ao primeiro decreto de respeito ao trabalhador. Desde
o início do tratamento precário ao prestador de serviços, este mobilizou-se em defesa, seja de modo
individual, como ocorria nas resistências de trabalho e, por vezes, suicídio de escravizados, ou coletivo. A
primeira grande greve do país aconteceu em julho de 1917 – sendo uma das maiores da história até hoje.
No período, o Brasil enfrentava carestia e inflação, os salários dos trabalhadores não acompanhavam a
alta do custo de vida. A força dessa mobilização fez com que, anos mais tarde, fosse decretado,
oficialmente, o 1° de Maio como Dia Internacional do Trabalhador.
Este acontecimento é exemplo da força trabalhista precedente as reais conquistas, no qual
consideramos a partir, concretamente, dos anos 1930, início dos anos de presidência de Vargas.
Em uma fala na plataforma da Aliança Liberal, Getúlio Vargas fez seu primeiro posicionamento
em parte da questão social e trabalhista, efetivamente demonstrando a necessidade da dignificação e a
profissionalização da função pública:
"Majorando-lhes (servidores), desse modo, os vencimentos e cercando-os de garantias de
estabilidade e de justiça nas promoções e na aplicação dos dispositivos regulamentares, terá o País o
direito de exigir maior rendimento das atividades e aptidões dos respectivos funcionários, que então, sim,
não deixarão de se consagrar exclusivamente ao serviço público, desaparecida a necessidade de exercer
outros misteres, fora as horas de expediente, como agora, não raro, acontece, por força das dificuldades
com que lutam."
Promulgada em 16 de julho pela Assembleia Nacional Constituinte e marcando a
concretização dos projetos idealizados no período provisório, pela primeira vez na história brasileira, a
Constituição de 1934 trouxe a perspectiva de justiça trabalhista e concretização dos direitos invocados por
séculos pela classe trabalhadora. Em sua aplicação, tinha como objetivo minimizar o atrito entre
empregados e empregadores, visando o ético crescimento econômico que ocorre com o trabalho
propriamente digno. Tal era sua função, a justiça do trabalho foi implementada no capítulo IV,
denominado "Da Ordem Econômica e Social".
É estipulado, sinteticamente, nesta primeira consolidação, a oficialidade, perante a lei, de todos os
sindicatos e associações profissionais e amparo da produção e estabelecimento das condições do trabalho,
na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador. A proibição de diferença de
salário para um mesmo trabalho, salário mínimo, trabalho diário não excedente de oito horas, proibição
de trabalho a menores de 14 anos; de trabalho noturno a menores de 16 e em indústrias insalubres a
menores de 18 anos e a mulheres, repouso semanal, indemnização ao trabalhador dispensado sem justa
causa e assistência médica são algumas das mais importantes conquistas de tal período.
Mais a frente, motivado pelas conclusões geradas pelo Primeiro Congresso Brasileiro de Direito
Social, de 1941, Getúlio Vargas, no período do Estado Novo, iniciou o processo de criação da CLT,
documento de regulamentação referente ao direito do trabalho e ao direito processual do trabalho.
Resultado do trabalho de 13 anos do presidente no poder, a CLT unifica as propostas previamente
mencionadas, para mais o registro do trabalhador/carteira de trabalho; jornada de trabalho; férias;
proteção do trabalho da mulher; contratos individuais de trabalho; organização sindical; convenções
coletivas; fiscalização; justiça do trabalho entre diversos outros em seus 239 artigos de composição.
Após o período ditatorial da Terceira República, no qual estende-se até 1945, é formulada e
homologada uma nova constituição brasileira, prezando, principalmente, pela liberdade e democracia
brasileira. A promulgação da constituição de 1946 ocorreu em 18 de setembro, meses após a posse dos
parlamentares no governo. Seu foco trabalhista foi relativamente pequeno, embora volte a legalizar as
manifestações populares, como greves trabalhistas proibidas durante o Estado autoritário - não as regula
ou desenvolve nenhuma lei de proteção a manifestantes. Igualmente, não incorporava os trabalhadores
rurais aos direitos trabalhistas.
Constitucionalistamente, ocorreram grandes mudanças no ano de 1964. Com as políticas de
Remessas de Lucro dispensando o tratamento privilegiado do capital externo, instituídas por João
Goulart, ocorre grande discórdia entre o Estado e as multinacionais do país, e o governo, sob alegada
"dominação comunista", é tomado pelos militares. Em 1 de Abril de 1964, instala-se no Brasil a Ditadura
Militar. Semelhante, em sua violência, a onda de ditaduras ocorridas na América do Sul, o período
antidemocrático foi marcado por perseguições de partidos, artistas, estudantes e qualquer um que
demonstrasse opiniões contrárias à ditadura, desaparecimentos, silenciamento e censura completa dos
canais de comunicação. A inflação foi imensa, o preço de mercadorias sendo ajustado diariamente, por
vezes mais que em um período diário. Esta instabilidade política, social e econômica acarretou em severas
pioras na condição de vida da classe proletária, assim como no sistema constitucional do Brasil
Logo em seu rompimento, os militares impõem a demissão de 40 mil funcionários públicos;
instauração de 5 mil inquéritos contra 40 mil pessoas e rompimento de relações diplomáticas com Cuba.
Na constituição desenvolvida, então, a Lei n. 4.330, limita o direito de greve ao ponto de torná-la quase
impossível de ser realizada, além de proibir expressamente a greve do funcionário público. Durante a
ditadura militar, especificamente em 1965, destaca-se a Lei n. 4.923, pela qual, a pretexto de estabelecer
medidas contra o desemprego, surgem novas fórmulas para redução de direitos trabalhistas, atingindo,
diretamente, os salários, possibilitando a sua redução mesmo sem autorização dos trabalhadores ou de
seus sindicatos.
Após 25 anos de golpe, o lento processo de redemocratização, iniciado logo em 1974, com
pequenas aberturas na oposição política, que, em 1981, concretizam reais partidos de oposição, é marcada
concretamente a volta da estrutura democrática ao Brasil pela a promulgação da Constituição Cidadã, em
5 de outubro de 1988. Tal regimento previa, após mais de dois séculos de regime militar, propostas para
assegurar a liberdade de pensamento e barrar o abuso de poder do Estado.
Vista sua função de restabelecer a democracia e assegurar-se dos direitos, a Constituição imposta
em 1988, no qual permanece vigente até os dias atuais, aprofundou-se ainda mais no Direito Individual do
Trabalho proposto nas Constituições de 1934 e 1937, assim como o Direito Coletivo do Trabalho, que
trata das entidades sindicais e das questões coletivas trabalhistas. Ademais, aperfeiçoou o Direito
Processual do Trabalho, por intermédio da ampliação e interiorização da Justiça do Trabalho ao longo do
País.
Todos os processos históricos, decretos, figuras políticas e lutas descritas até aqui formaram o que
hoje conhecemos como o mercado de trabalho brasileiro e a população que o compõem. Há mudanças
significativas no estado do trabalhador, da economia e infraestrutura com a troca de partidos e ideologias
de poder, porém, o Brasil já foi constituído, o sistema no qual existe atualmente a vida do proletariado
surgiu de forma abusiva e violenta, tem história abusiva e violenta, e falha constantemente em quebrar
este ciclo de desumanização e desvalorização da figura do trabalhador.
Após anos de formação e incrementação, a CLT, lei de maior importância para segurança do
trabalhador e mantimento de um padrão de vida razoável no ambiente de trabalho, em 2017 é homologada
a "Reforma Trabalhista". Proposta pelo Presidente da República Michel Temer, a lei começou a tramitar
na Câmara dos Deputados em 23 de dezembro de 2016. Aprovada na câmara de deputados e Senado
Federal, passa a valer do dia 11 de novembro de 2017 em diante, reformando a Consolidação das Leis do
Trabalho. Inúmeros direitos trabalhistas foram profundamente alterados pela lei 13.467/17.
Na sua época de aprovação, foi amplamente defendida por empresários e economistas, os quais
consideravam as mudanças um avanço e modernização das relações do trabalho no país. Contudo, foi
criticada pela Central Única dos Trabalhadores e outros sindicatos, pelo Ministério Público do Trabalho,
pela Organização Internacional do Trabalho, entre outros.
Embora tenha alterado mais de 100 pontos da CLT até então transcorridos, seus
pontos de maior polêmica podem ser sintetizados em algumas alíneas principais. Primeiramente, a
mudança do tempo à disposição do empregado - antes considerado como período em que o empregado
estivesse à disposição do empregador aguardando ou executando ordens, agora exclui práticas religiosas;
descanso; lazer; estudo; alimentação; atividades de relacionamento social; higiene pessoal; troca de roupa
ou uniforme, quando não houver obrigatoriedade de realizar a troca na empresa.
Houve também a diminuição do intervalo intrajornada, antes, para qualquer
trabalho contínuo de acima de 06 horas de duração, um mínimo estipulado de 1 hora de intervalo, passa
para meia hora. Há também a mudança nas férias, antes definidas em dois períodos, desde que um deles
não fosse inferior a dez dias ininterruptos, agora pode ser usufruído em até três períodos, um com pelo
menos 14 dias corridos e os demais, cinco dias corridos. A licença do período de amamentação agora não
mais é pré-definida por lei, mas sim decidida individualmente entre empregador e empregado.
Estes são apenas alguns pontos que demonstram um retrocesso nas conquistas e na existência
trabalhista dos últimos anos. As leis trabalhistas ainda existem, embora sejam constantes alvos da busca
por um aumento econômico não-ético e forçadamente acelerado, porém,o maior tormento das classes
trabalhadoras atuais são as desinformações. A era tecnológica serviu para disseminação de ideologias
cada vez mais individualistas, ideais de produtivismo e trabalho "próprio" tornam-se ideias e, assim,
ocorre o fenômeno da uberização do trabalho. É assim conhecido devido ao grande aumento de trabalhos
deliver, principalmente no período da pandemia do Covid-19, porém é um processo extremamente
relacionado à ideia de terceirização do trabalho.
Sem o intermédio de um empregador e carteira de trabalho, o proletariado atual é inserido,
deploravelmente, em um mundo de trabalho sem amparo constitucional. As leis trabalhistas, direitos no
quais poucos conhecidos, não iram se aplicar a este modelo de trabalho, dificultando a remuneração,
condições de trabalho, contratos, gestão, representação deste trabalhador.

Referências:
Quais as principais mudanças da Reforma Trabalhista? Disponível em:
<https://anacwinter.jusbrasil.com.br/noticias/536317054/quais-as-principais-mudancas-da-refor
ma-trabalhista>.
História de luta por direitos do Dia Trabalhador começou no século 19. Saiba mais. Disponível
em:
<https://www.cut.org.br/noticias/historia-de-luta-por-direitos-do-dia-trabalhador-comecou-no-
sec ulo-19-saiba-mais-3fee#:~:text=Os%20movimentos%20de%20trabalhadores%20oper
%C3%A1r ios>.
CAVALCANTE, P., Luana; SARMENTO, B., Marília. DIREITOS TRABALHISTAS NO
BRASIL: uma aproximação crítica. 12 out. 2017.
WAHRLICH, B. M. de S. O governo provisório de 1930 e a reforma administrativa. Revista de
Administração Pública, Rio de Janeiro, RJ, v. 9, n. 4, p. 5 a 68, 1975
70 anos da CLT: a Justiça do Trabalho nas Constituições. Disponível em:
<https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/modulos/noticias/112252
BRASIL. Constituição (1934). Lex: Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho
de 1934.
A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. Disponível em:
<http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/clt.htm>.
Consolidação das Leis do Trabalho - Decreto-lei 5452/43 | Decreto-lei n.º 5.452, de 1º de maio
de 1943. Disponível em:
<https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolidacao-das-leis-do-
trabalhodecreto-lei-5452-43>.
A Revolução de 1930, a Institucionalização do Direito do Trabalho e do Direito Processual do
Trabalho no Brasil e a Justiça do Trabalho (Governo Vargas, 1930 a 1945) - TST. Disponível
em:
<https://www.tst.jus.br/memoriaviva/-/asset_publisher/LGQDwoJD0LV2/content/ev-jt-80-06>.

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