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AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

1º SEMESTRE

Thais Rodrigues Vieira

RA: 131060902

Ciências Sociais - Matutino

Disciplina de História da Economia Brasileira

Professor Francisco Luiz Corsi

Marilia

2017
Questão I: Segundo Celso Furtado, qual o papel da política de defesa
do café na alteração do eixo dinâmico da economia brasileira do setor
agrário-exportador para o urbano-industrial no contexto da Crise de 1929 e
da Grande Depressão dos anos 30?

Para o autor Celso Furtado, no final do Século XIX foram criadas


políticas favoráveis para a expansão da economia cafeeira. O governo garantia
crédito para a burguesia cafeicultora adquirir mais terras e para que
aumentassem a produção e o preço do grão. Todavia, esse crescimento da
produção do café não se deu pelo aumento da procura, mas sim pela
disponibilidade de terras e mão de obra para a atividade, esse processo
desencadeou a primeira crise de superprodução do insumo, em 1893.
A burguesia cafeicultora, se descontentou por seus produtos não serem
abrsorvidos pelo mercado e também pela queda dos preços. Como essa elite
conhecia sua situação de privilegiada perante os outros grupos dominantes e
produtores de outros insumos, propuseram ao governo uma “política de
valorização do café” na qual o governo se encarregasse de comprar estoques do
produto, para que seus produtores não tivessem prejuízos.
A proposta da elite cafeicultora se materializou no Convênio de Taubaté,
realizado em fevereiro de 1906, na cidade de Taubaté – SP, com o objetivo de
dar as diretrizes para essa política de valorização do grão. As bases se
assentaram nas seguintes medidas: o governo faria uma intervenção no mercado
comprando o excedente e estocando, para jogar no mercado novamente quando
propício e com isso seria reestabelecido um equilíbrio entre a oferta e a procura;
essa compra seria realizada com emprétimos extrangeiros; e para que não
houvesse outra crise de superprodução o governo deveria incentivar os
produtores a não aumentar as plantações, a partir de impostos sobre os pés de
café plantados.
O governo federal por sua vez, não assumiu responsabilidade em conter a
situação, ficando a cargo dos próprios estados cafeicultores a função de
implementar a política de valorização, devido a decentralização do poder. Esses
estados foram liderados pelo maior produtor do grão, o estado de São Paulo, a
fim de reconquistarem suas altas taxas de lucratividade.
Apelando ao crédito estrangeiro, a burguesia cafeicultora coloca em
prática sua política e o governo federal decide apoiá-los, deixando essa
burguesia no seu posto de privilegiada entre as classes dominantes até o ano de
1930. Furtado nos atenta que essa política econômica posta, na qual se criava
uma redução artifcial da oferta do produto, acarretaria em compliações futuras, e
foi com a Crise Mundial de 1929 que a situação se tornou insustentável. Do
período de 1927 a 1929 o mercado internacial só absorveu dois terços da
produção brasileira do grão.
Na visão do economista, a forma ousada como a política de valorização
foi fortemente seguida não tinha como não se desdobrar em uma crise, dada a
peculiaridade das esconomias coloniais e a facilidade de seus produtos saturarem
no mercado, então a Crise de 1929 só agravou um problema que era eminente
para a economia cafeeira. No desencadeamento da crise, toda reserva monetária
do gorverno havia se esgotado, dadas as fugas de capitais do país.
Em 1933 o café atingiu sua plantação máxima, devido as plantações de
1927-28, entretanto, era impossível que os cafeicultores brasileiros
conseguissem crédito no exterior para comprarem os estoques, devida a Grande
Depressão e as reservas do governo brasileiro já terem se esgotado. A grande
dúvida dos produtores nesse momento seria sobre o que fazer com a produção
excedente que não seria absorvida pelo mercado:

A solução que a primeira vista parecia mais racional consistia em abandonar


os cafezais. Entretanto, o problema consisita menos em saber o que fazer com
o café do que decidir quem pagaria pela perda. Colhido ou não o café, a
perda existia. Abandonar os cafezais sem dar nenhuma indenização aos
produtores significava fazer recair sobre estes a perda maior. Ora, conforme
já vimos, a economia havia desenvolvido uma série de mecanismos pelos
quais a classe dirigente cafeeira lograra transferir para o conjunto da
coletividade o peso da carga nas quedas cíclicas anteriores. Seria de esperar,
portanto, que se buscasse por esse lado a linha de menor resistência.
(FURTADO, 1987, p. 186-189).

Todos os mecanismos de defesa do café desenvolvido pela privilegiada


elite cafeeira se desenrolava em uma espécie de socialização do prejuízo para
com o restante da sociedade brasileira, e quem arcava com esse peso no bolso
certamente foram os trabalhadores.
O mecanismo que os cafeicultores encontraram desse vez para não
perderem seus lucros foi através da taxa cambial. Grande parte dos produtos
primários tiveram uma queda em seu preço no ano de 1929, com a crise
econômica. Os países que tinham uma renda alta não diminuíram muito o seu
consumo de café, mas o preço do produto sofreu uma grande queda, e o sistema
de conversibilidade faliu, o que se desdobrou em em uma queda do valor
internacional da moeda brasileira. Essas consequências trouxeram alívio aos
cafeicultores, e transferiu para o restante do país uma alta nos preços dos
produtos importados. Esse movimento de defesa da economia cafeeira através da
taxa de câmbio representava um grande perigo para a economia brasileira em
geral, principalmente pela crise econômica que atingirá o mundo todo.
Para o autor, o preço do café que ficava dependente da oferta, continuou
a cair durante toda a década dos anos 1930, tendo aumentado os preços somente
de outros produtos primários brasileiros:

Dependendo, assim, fundamentalmente da estrutura da oferta, o preço do café


atravessou o decênio dos anos trinta totalmente indiferente á recuperação
que, a partir de 1934, se operava nos países industrializados. Após alcançar
seu ponto mais baixo em 1933, a cotação internacional desse produto se
mantém quase sem alteração até 1937, para em seguida cair ainda mais nos
dois últimos anos do decênio. É muito significativa essa grande estabilidade
do preço do café, assim deprimido, durante todo o decênio dos trinta. Como é
sábido, a recuperação compreendida entre 1934 e 1935 trouxe consigo uma
elevação geral dos preços dos produtos primários. O preço do açúcar, por
exemplo, subiu em 140 por cento, entre 1933 e 1937; o do cobre elevou-se
pouco mais de cem por cento, no mesmo período. O preço do café,
entretanto, em 1937 era igual ao de 1934 e inferior ao de 1932. (FURTADO,
1987, p. 189).

Na visão do autor, esse fato deixa evidente que o que condicionava o


preço do café era primeiramente a oferta, e depois disso, em posição secundária
vem a procura.
Com todas essas políticas de defesa do café, embora elas prejudicassem
determinadas classes da economia brasileira, fez com que os impactos gerados
pela crise econômica no Brasil fossem mais leves do que os impactos
provocados em países como os EUA, por exemplo. No exterior, tanto na Europa
como nos EUA, a crise gerou uma grande quantidade de desempregados, já no
Brasil, como a produção de café não parou, embora tenha sido queimada
toneladas do grão, o mercado interno continuou aquecido, pois embora o
consumo dos trabalhadores tenha diminuido, ele se direcionou para o mercado
interno, já que o preço das importações aumentaram. Como se consumiu mais
produtos industrializados no Brasil e não no exterior, aumentou assim a
demanda efetiva do país, aumentaram os empregos e investimentos e
consequentemente o consumo. Enquanto a economia de alguns países
desmoronava, o Brasil se recuperou rapidamente da crise. Era a construção de
uma política econômica Keynesiana, antes da formulação dessa teoria pelo
próprio Keynes. A renda nacional brasileira começou a crescer novamente em
meados dos anos 1933, já a dos EUA só demonstrou sinais de recuperação em
1934. Segundo o autor:

Dessa forma, a política de defesa do setor cafeeiro nos anos da grande


depressão concretiza-se num verdadeiro programa de fomento a renda
nacional. Praticou-se no Brasil, inconscientemente uma política anticíclica de
maior amplitude que a que se tenha sequer preconizado em qualquer dos
países industrializados. (FURTADO, 1987, p. 192).

Portanto, vemos que os mecanismos de defesa da economia cafeeira


contribuiu para que fossem mantidas a procura efetiva e os níveis de emprego
em outros setores da economia brasleira, como no setor industrial, que foram se
desenvolvendo nas cidades, como em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O Brasil até então se caracterizava em um país agroexportador, e
considerando que foi a partir da economia cafeeira que se criaram condições
para o desenvolvimento da indústria, que foi um processo altamente
desencadeado nos anos 1930 e nas décadas subsequentes. Então, anteriormente
ao desenvolvimento dessa indústria, todo produto industrializado que era
consumido no Brasil vinha do exterior. Com os preços altos e a depreciação do
cruzeiro no exterior, e devida a indústrialização do Brasil, os consumidores
tiverem acesso a produtos mais baratos, e ao consumirem esses produtos, a
indústria brasileira era estimulada e incentivada a crescer, pois o poder de
compra do cruzeiro no exterior caiu mais de cinquenta por cento do que dentro
do Brasil.
Esse cenário de fortalecimento do mercado interno através da indústria
era totalmente inédito para a economia brasileira. A indústria téxtil no país
aumentou sua produção de forma significativa. Muitas das outras indústrias que
se instalaram no país na década de 1930, usaram os máquinarios das fábricas
falidas no exterior.
As indústrias de bens de capital, tais como as ferrovias e a produção de
cimento, por exemplo, cresceram substancialmente no país, e sofreram bem
pouco as consequências da crise econômica, segundo o autor:

O nível da renda nacional havia sido recuperado, não obstante esse corte pela
metade nas importações de bens de capital. É evidente, portanto, que a
economia não somente havia encontrado estímulo dentro dela mesma para
anular os efeitos depressivos vindos de fora e continuar crescendo, mas
também havia conseguido fabricar parte dos materiais necessários à
manutenção e expansão de sua capacidade produtiva. (FURTADO, 1987, p.
199).

A capacidade de exportar no Brasil continuou pequena durante toda a


década de 1930, e nos anos que vão de 1929 a 1937 a produção indústrial
brasileira cresceu em torno de cinquenta por cento, e a produção de produtos
primários para o mercado interno cresceu em torno de quarenta por cento no
mesmo período.
Com tudo, vemos como afirma o economista Celso Furtado, as políticas
de defesa do café no contexto da Crise Econômica de 1929 e da Grande
Depressão dos anos 1930, levaram a economia brasileira a passar do eixo
dinâmico de uma economia agrária-exportadora para um um eixo dinâmico
urbano-indústrial, pois esses mecanismos de defesa fortaleceram o mercado
interno e estimularam a recuperação da economia do país.
Questão IV: Segundo Sérgio Silva, em que sentido podemos afirmar
que a economia cafeeira era o motor do desenvolvimento do capitalismo na
Primeira República? De acordo com esse autor, qual era a natureza da
relação entre café e indústria nesse período?

A produção de café para consumo nacional está presente já nos arredores


da década de 1830 e cresce em larga escala após o quarto cartel do século XIX,
para exportação, principalmente para os Estados Unidos da América e para os
países europeus. É no ano de 1870 que a produção toma tamanha proporção que
faz com que o grão seja o responsável por desenvolver o sistema capitalista no
Brasil, segundo o economista Sérgio Silva:

A produção brasileira de café cresceu muito rapidamente durante todo o


século XIX. No começo da segunda metade do século, ela toma proporções
muito importantes: a cifra se aproxima de 3 milhões de sacas em média por
ano. A partir da década de 1870, e sobretudo a partir de 1880, quando a
produção média anual ultrapassa os milhões de sacas por ano, o café torna-se
o centro motor do desenvolvimento do capitalismo no Brasil. (SILVA, 1976,
p. 49)

A característica fundamental para compreendermos o Brasil e sua


inserção na economia mundial neste momento histórico, é o fato do país ser
inserido na divisão internacional do trabalho como um agroexportador de
matérias primas, pois além do café outros insumos eram vendidos no mercado
mundial como, por exemplo, o açúcar; a borracha e o cacau. Dessa forma a mais
valia produzida no Brasil começou a ser efetivada no exterior, o que vai
desdobrar em alta dependência comercial no plano internacional, com isso e
dentre outros motivos, a economia brasileira situou-se na periferia do
capitalismo a nível mundial, sendo subordinada as economias centrais.
As plantações de café durante o século XIX estavam localizadas nas
cidades vizinhas ao Rio de Janeiro, e com o passar dos anos se expandiram para
o Vale do Paraíba, avançando para o estado de São Paulo. Já no ano de 1870 o
Vale do Paraíba concentrava cerca de 75% da produção nacional de café. É no
estado de São Paulo que a produção do grão irá se desenvolver a ponto de ser o
responsável por grande parte da acumulação de capital do estado, que vem a ter
atualmente a economia mais forte do país, como desdobramento dos
investimentos na economia cafeeira, pois segundo Silva (1976, p. 50) “a partir
da década de 1870, a Província de São Paulo é de longe a principal responsável
pela expansão cafeeira”. No ano de 1910, o estado de São Paulo já concentrava
70% da produção nacional do grão.
O desenvolvimento da economia cafeeira vai acarretar em diversas
mudanças na conjuntura econômica e social do país, causando transformações
desde a esfera das relações de trabalho até mesmo a forma de lidar com a
natureza no país. É neste momento histórico que é inserido no Brasil o trabalho
assalariado, característica fundamental do modo de produção capitalista, que foi
subsituindo paulatinamente a escravidão, criando também condições para a
inserção da mecanização no beneficiamento do café, que por consequência
aumentou o preço do grão, criando ainda, a inserção do mercado de terras no
país.

A importância do rápido crescimento da produção e desse deslocamento


geográfico só poderá ser entendida se considerarmos as simultâneas
mudanças ocorridas ao nível das relações de produção. Ao subir os planaltos
de São Paulo, as plantações abandonam o trabalho escravo pelo assalariado.
Com o trabalho assalariado, a produção cafeeira conhece a mecanização (pelo
menos uma mecanização parcial, ao nível das operações de beneficiamento
do café). Além disso, a possibilidade desse deslocamento é determinada pela
construção de uma rede de estradas de ferro bastante importante. Finalmente,
o financiamento e a comercialização de uma produção que atinge milhões de
sacas implica o desenvolvimento de um sistema comercial relativamente
avançado, formado por casas de exportação e uma rede bancária. (SILVA,
1976, p. 50)

A introdução do trabalho assalariado no Brasil se deu em decorrência de


leis que lentamente foram proibindo o trabalho escravo, sendo a Lei Eusébio de
Queirós de 1850, uma das mais importantes, pois proibiu o tráfico de mão de
obra escrava no país. Posteriormente, em 1889 é autorgada a Lei Áurea, que vai
proibir todo trabalho escravo no país. Essas leis foram implementadas no país
sob pressão da Inglaterra, a economia de centro da época, que tinha como
objetivo expandir o seu modo de produção capitalista, para que a procura pelos
seus produtos fosse aumentada. Para isso, o trabalho escravo deveria ser
extinguido, pois só os trabalhadores assalariados consomem as mercadorias
postas a venda no sistema capitalista. Entretanto, a burguesia brasileira precisava
de mão de obra para as lavouras, então a abolição se dá num processo tardio, e
só é efetivada de fato, após ser solucionado o problema da mão de obra com as
migrações em massas, que consistiu em uma espécie de “importação do
proletariado”.
Com essas medidas e também com o objetivo de “clarear a raça
brasileira”, o governo buscou mão de obra para trabalhar nas lavouras de café
vindas da Europa, de países como a Itália, Alemanha e Suíça, por exemplo.
Durante o período que vai do ano de 1880 à 1897, entraram cerca de um milhão
de migrantes no país, e aproximadamente 90% deles se direcionaram para as
regiões produtoras de café.
Primeiramente se consolidou o “trabalho de parceria”, ou os chamados
“meeiros”, que consistia em o campones ter acesso a moradia na fazenda, um
espaço de terra para subsistência e recebia ao invés de moeda, mantimentos nas
vendas da cidade. Todavia, essa forma de remuneração do trabalho levou os
colonos a se endividarem e não conseguirem sair das fazendas, ficando então
submetidos as vontades das burguesias cafeicultoras. Ao saber das condições
que os trabalhadores europeus estavam sendo submetidos no Brasil, a Europa
interrompeu os fluxos migratórios nos arredores dos anos 1860, sendo liberada
novamente as migrações em massa através de um acordo entre os governos que
o Brasil se compromete a financiar a vinda de novos trabalhadores em 1880.
A partir disso, que se inseriu o pagamento com dinheiro em espécie na
forma de salários aos trabalhadores através de um contrato de trabalho de um
ano, que era passível de renovação ou não e poderia ser quebrado com três
meses de aviso prévio. A prática do “trabalho de parceria” é bem específico da
região sudeste do país e da economia cafeeira, não tendo sida registrada em
nenhuma outra região e em nenhum outro momento da História do Brasil.
Para o meio ambiente, as consequências trazidas foram inúmeras, e
ambas prejudiciais a fauna e a flora do bioma Mata Atlântica, floresta nativa do
local onde as plantações de café foram inseridas, a partir do desenvolvimento da
economia cafeeira, hectares e mais hectares de florestas nativas foram
devastadas. Devido as práticas rudimentares de plantio, a condição e o relevo do
solo, que nessa localidade geográfica apresenta uma característica montanhosa, e
o fato de que toda a monocultura empobrece o solo. Em pouco tempo as
lavouras de café são deslocadas para o oeste paulista, que apresenta o solo mais
plano, facilitando assim o plantio.
Na medida em que as plantações vão adentrando o interior paulista, esse
processo vai desencadeando em outras transformações na produção, como a
construção de ferrovias, pois aumentou a distância entre as plantações que se
situavam no interior e o porto, que escoava a mercadoria para exportação, que se
situava em Santos, e aumentou também a demanda pelo grão. As estradas nesse
momento eram muito precárias, e o transporte era realizado com mulas, as
estimativas apontam que cerca de 30% da mercadoria era perdida no processo.
Portanto, o transporte do café carecia de formas mais eficazes em que a perda de
produto fosse menor, o tempo da viagem fosse encurtado, e houvesse um
aumento da lucratividade. Um dos grandes financiadores da construção das
estradas de ferro foi o Barão de Mauá, que juntamente a Dom Pedro II, construiu
a estrada de ferro que liga o Vale do Paraíba ao porto de Santos. Posteriormente,
foi a partir de empréstimos e investimentos vindos da Inglaterra e dos EUA que
se financiou a construção de mais estradas de ferro no interior paulista. Em
1852, um dos principais papeis do Estado no desenvolvimento do capitalismo no
país é a partir de uma legislação que incentiva a construção de ferrovias, que são
indispensáveis para o crescimento e o fortalecimento do sistema capitalista no
Brasil.
O desenvolvimento da economia cafeeira não teria sido possível sem as
estradas de ferro. As antigas tropas de mulas não podiam escoar uma grande
produção espalhadas por milhares de quilômetros. Com as estradas de ferro
as distâncias deixaram de ser obstáculo importante. Todo o interior de São
Paulo estava portanto apto a ser conquistado pelos “pioneiros” do café. As
plantações não seria mais esmagadas sob o peso de colheitas impossíveis de
escoar. (SILVA, 1976, p. 56)

Então, com a ampliação da fronteira agrícola do café foram construídas


pelos grandes fazendeiros paulistas as principais estradas de ferro de São Paulo,
entre elas está a Sorocabana, a Paulista e a Mogiana. Segundo o autor, o
desenvolvimento das estradas de ferro foi de suma importância para o
desenvolvimento do sistema capitalista na região cafeeira.
Outra consequência do aumento da fronteira agrícola consistiu no
aumento da especulação de terras no interior do estado de São Paulo, a Lei de
Terras do ano de 1850 é autorgada com o objetivo de “organizar” a propriedade
privada no Brasil. O interesse da elite brasileira que efetivamente estava por de
trás dessa lei era o de impedir que os negros livres e trabalhadores migrantes não
adquirassem terras, para que não fizessem concorrência com os grandes
latifundiários e também para que continuassem na condição de mão de obra
barata dos mesmos. Toda a especulação trazida com as lavouras promissoras de
café e a apropriação da terra pelo capital resultaram no aumento do preço dos
lotes de terras e data de 1870 o surgimento do mercado de terras no país. Outra
grande consequência vinda com a expansão da fronteira agrícola do café é a
matança desenfreada de índios que habitavam o interior do estado de São Paulo,
afim de estabelecer as plantações e os latifúndios de café.
Com o desenvolvimento da economia cafeeira se desenvolvem também
os outros setores da economia brasileira. As vendas internas e externas do grão
estimulou o crescimento do comércio, com a circulação do capital envolvido
tem-se a necessidade de criação de bancos, para administrar e expandir o capital.
Já com a construção de ferrovias, embalagens e afins, há o estímulo para a
criação de indústrias no país. Esse aglomerado do grão de café, as ferrovias, o
comércio, a indústra e os bancos formam o chamado “capital cafeeiro”. E
geralmente, era a burguesia cafeeira que exercia as varias funções dentro desses
espaços, controlando esses diversos setores da economia nacional.

O capital cafeeiro tinha portanto diversos aspectos; ele apresenta ao mesmo


tempo as características do capital agrário, do capital industrial, do capital
bancário e do capital comercial. Esses diferentes aspectos correspondem a
diferentes funções do capital e tendem, com o desenvolvimento do
capitalismo, a constituirem funções relativamente autônomas, preenchidas
por capitais diferentes – o capital agrário, o capital industrial, etc – e frações
de classes particulares (a burguesia agrária, burguesia industrial, burguesia
comercial, etc.). Na economia cafeeira, caracterizada por um grau ainda fraco
de desenvolvimento capitalista, essas diferentes funções são reunidas pelo
capital cafeeiro e não definem (pelo menos diretamente) frações de classe
relativamente autonomas: não havia uma burguesia agrária cafeeira, uma
burguesia comercial, etc., mas uma burguesia cafeeira exercendo múltiplas
funções. (SILVA, 1976, p. 60).

A partir disso, Sérgio Silva afirma que o motor do sistema capitalista no


Brasil é a economia cafeeira, pois o seu desenvolvimento afetou de forma
significativa o desenvolvimento e a especulação do capital no país, o
desenvolvimento do trabalho assalariado, do comércio, das redes bancárias e a
criação de condições para o desenvolvimento das indústrias no país.
De acordo com o autor, até o último quartel do Século XIX a indústria no
Brasil era escassa, datando de 1880 a 1890 o primeiro surto industrial no país.
As primeiras indústrias estão concentradas no ramo têxtil, e se localizaram entre
o Rio de Janeiro, o então Distrito Federal, e a cidade de São Paulo. É no período
que corresponde ao ano de 1907 à 1920 que ocorreu um crescimento acelerado
da indústria, uma espécie de “boom industrial”.
Não é possível analisarmos o surto industrial sem levarmos em
consideração as grandes transformações econômicas e sociais que foram
impulsionadas pelo desenvolvimento economia cafeeira e do sistema capitalista
no país. A indústria nasce no Brasil como parte integrante da acumulação do
capital cafeeiro.
O conhecimento da industialização no Brasil, isto é, das formas particulares
da industrialização no Brasil, deve estar, explícita ou implicitamente, apoiado
na análise das relações entre o café e a indústria. E a analise correta dessas
relações é impossívem, se considerarmos café e indústria como elementos
opostos. É indispensável reunir café e indústria como partes de acumulação
de capital no país; mais precisadamente, como partes das novas formas de
acumulação cuja formação encontra as suas origens na década de 1880 a
1890. (SILVA, 1976, p. 81).

Dentro desse período, o autor constatou a preponderância das grandes


indústrias. E consequentemente com a formação da indústria também se deu a
formação de uma burguesia industrial, que não pode ser compreendida fora do
contexto do desenvolvimento do sistema capitalista no Brasil. Essa burguesia
industrial, no geral, era formada por migrantes europeus que já chegaram no
Brasil com conhecimento técnico, capital inicial, e na sua maioria, esses
migrantes que já tinham experiência anterior com o comércio e com as casa de
importação.
A indústria nascente no país encontra sua mão de obra nessa mesma
massa de migrantes, vindos da Europa para trabalharem nas lavouras de café.
Sérgio Silva aponta dados que estimam que em 1901, 90% dos operários da
cidade de São Paulo eram migrantes. Sobretudo, essa massa de trabalhadores
representam a formação do mercado de trabalho, mas também a formação de um
mercado consomidor.
Nesse momento houve um grande crescimento do número de habitantes
das cidades que passavam pela industrialização. O grande processo de
urbanização também é desencadeado dado o crescimento da indústria, e
concomitantemente, é um resultado do crescimento da mesma, pois segundo o
autor:
O crescimento vertiginoso da eletrificação e da urbanização, elementos
fundamentais para a indústria nascente, não podem ser entendidos sem que
consideremos os progressos simultâneos da indústria. Ele é, ao mesmo
tempo, condição e resultado dos progressos da indústria. (SILVA, 1976, p.
99).

Como a indústria nasce numa economia cuja espinha dorsal é o café, a


indústria se encontra em uma posição totalmente subordinada a ele, na visão do
autor, pois o comércio externo e a economia cafeeira com a indústria nascente
formam uma unidade e uma contradição. A unidade se encontra no fato da
expansão cafeeira e o desenvolvimento do sistema capitalista implicarem no
nascimento e desenvolvimento da indústria, e a contradição no fato de serem
impostos limites ao crescimento da indústria, dada a posição dominante da
economia cafeeira na acumulação de capital.
Com tudo, concluimos que o autor se insere na corrente do “capitalismo
tardio”, ao analisar o desenvolvimento desse sistema de produção no Brasil. Ele
observa que há uma relação contraditória entre a economia cafeeira e a indústria
nascente, considerando que a economia cafeeira gerou mercados para a
indústria, tanto um mercado de trabalho, como um mercado de consumo; e
afirma também que a economia cafeeira impôs limites ao desenvolvimento da
indústria no país.

REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil, 22º ed., São Paulo:


Editora Nacional, 1987.
SILVA, Sérgio. Expansão Cafeeira e Origens da Indústria no Brasil.
São Paulo: Editora Alfa Ômega, 1976.

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