Você está na página 1de 9

História para o Concurso de Admissão ao Curso de Formação de Sargentos do Exército (EsSa)

Primeira República
Parte II
1. A Produção Agroexportadora
O advento do regime republicano não provocou alterações substanciais na vida política brasileira. No plano econômico, a estrutura dominante do país
também manteve seus traços gerais, com uma economia baseada na produção de matérias primas e gêneros tropicais destinados à exportação e sujeita às
oscilações do mercado internacional.
Os principais produtos agrícolas brasileiros de exportação, como o açúcar, o algodão, a borracha e o cacau, sofreram dura concorrência de outros países
nesse período. Assim, as exportações brasileiras acabaram se concentrando em um único produto: o café.

1.1 O Mercado Consumidor


Na última década do século XIX, o mercado consumidor se expandiu e se estruturou graças à implantação do trabalho livre.
Na época da escravidão, os senhores concentravam o poder de compra, já que adquiriam os produtos necessários não apenas para si e sua família, mas também
para os escravos. Assim, antes da maciça imigração europeia, a parte mais importante do mercado de consumo era representada quase exclusivamente pelos
fazendeiros.
A implantação do trabalho livre emancipou os escravos e também os consumidores, pois a intermediação dos fazendeiros, embora não desaparecesse
completamente, começou a perder importância. Consumidores, com dinheiro na mão, decidiam por si mesmo o que e onde comprar. Com isso, o mercado de
consumo se pulverizou. O crescimento e a segmentação do mercado de consumo exerceram uma pressão poderosa no sentido de modernização da economia
brasileira.

1.2 O Endividamento Externo e o Funding Loan


Se do ponto de vista político a oligarquia tinha encontrado uma solução para seus problemas, do ponto de vista econômico o cenário não era tão favorável.
O novo regime havia herdado do império uma dívida externa crescente e as exportações não estavam aumentando na mesma proporção, de modo que, para
financiar as importações, o governo não tinha outro caminho senão o endividamento contínuo. Os empréstimos eram contratados, sobretudo, na Inglaterra, a
maior credora do Brasil. Chegou-se a um ponto em que o país perdeu a capacidade de pagar as dívidas acumuladas. A desordem propiciada pelo Encilhamento
tinha tornado a situação especialmente grave.
Em 1898, antes mesmo de Campos Sales tomar posse, o ministro da Fazenda Joaquim Duarte Murtinho foi a Inglaterra renegociar a dívida. Conhecido
como funding loan (empréstimo de consolidação), o acordo financeiro negociado com os credores consistiu no seguinte: o Brasil substituiu o pagamento em
dinheiro por pagamento em títulos dos juros dos empréstimos anteriores e um novo empréstimo foi concedido para criar condições futuras de pagamento dos
débitos. Como garantia da operação, o governo ofereceu os recursos alfandegários, sua principal receita. Imediatamente, apesar dos efeitos graves, a economia foi
saneada.

1.3 A Tradição Monocultora


Entretanto, o principal setor da economia, a cafeicultura, continuou crescendo dentro dos padrões coloniais. Na verdade, a cafeicultura ajudou a preservar o
caráter colonial da economia brasileira. Como no passado, a economia cafeeira estava inteiramente organizada para abastecer o mercado externo, do qual, por sua vez,
adquiria os produtos manufaturados de que precisava.
Esse padrão econômico tinha como consequência o fraco desenvolvimento da produção de produtos manufaturados, mesmo os de consumo corrente, quanto
da agricultura de subsistência.

2. Café: líder das exportações


O café representou, em média, mais de 50% dos lucros das exportações brasileiras durante quase todo o período correspondente à Primeira República.
Sem concorrentes de peso no mercado internacional, o Brasil chegou a abastecer dois terços do mercado mundial de café.

2.1 Crises de Superprodução


A crise financeira não foi o único problema de Campos Sales. Durante seu governo, problemas de superprodução atingiram o setor cafeeiro. Entusiasmados
com os lucros e contando com o grande afluxo de mão de obra imigrante europeia nesse período, os cafeicultores aumentaram desmedidamente às plantações.
Em consequência, a produção ultrapassou a capacidade de consumo do produto (mercado consumidor europeu e norte-americano), e no início do século XX a
economia cafeeira começou a enfrentar crises de superprodução, com a oferta de café sendo maior que a procura.
Resultado: os preços caíam, e acumulavam-se imensos estoques do produto. Entre 1901 e 1902, o Brasil havia produzido pouco mais de 1 milhão de
sacas acima da capacidade de consumo do mercado internacional. Em 1905, esses estoques chegaram a 11 milhões de sacas de 60 kg cada uma, quantidade que
representava 70% do consumo mundial de um ano.

2.2 Convênio de Taubaté (1906) e a Política de valorização do café


Com a finalidade de encontrar uma solução para essa crise de superprodução e de queda dos preços, os produtores de café realizaram, em 1906, uma
reunião na cidade paulista de Taubaté. Receberam o apoio de parlamentares federais e dos governadores dos estados cafeeiros (Minas, Rio e São Paulo).
Nessa reunião, os participantes chegaram a um acordo sobre um conjunto de medidas para resolver o problema que ficou conhecido como Convênio
de Taubaté. As propostas, encaminhadas para o governo federal, resumiam-se no seguinte:
O governo (estadual) compraria a produção de café que ultrapassasse a procura do mercado.
• Esse excedente seria estocado pelo governo para ser vendido quando os preços se normalizassem.
• Os recursos para comprar esse café viriam de empréstimos contraídos no exterior pelo governo.
• O governo adotaria medidas para desestimular o surgimento de novas plantações por meio de cobrança de altos impostos.
Estabelecia-se assim, a primeira política de valorização do café.
As propostas do Convênio de Taubaté foram aceitas pelo governo federal. Assim, o preço do produto não caiu, e os cafeicultores não tiveram prejuízos.
O estoque do governo, porém, foi aumentando de maneira contínua, e nunca surgia uma boa oportunidade para vendê-lo no mercado externo. O governo
federal foi contra o acordo, mas a solução do Convênio de Taubaté acabou se impondo. De 1906 a 1910, quando terminou o acordo, perto de 8.500.000 sacas de
café haviam sido retiradas de circulação.
Para os cafeicultores, que continuaram plantando em larga escala, o prejuízo tornou-se um problema do governo, pois seus lucros estavam garantidos.
Alguns deles até mesmo utilizaram parte desses lucros para investir no setor industrial.
O acordo não foi propriamente uma solução, mas um simples paliativo. O futuro da economia cafeeira acabou incerto.

2.3 As Novas Valorizações do Café


Desde o início do século XIX, a superprodução estava pressionando o preço do café para baixo. A crise foi contornada pelo Convênio de Taubaté
(1906), que sustentou artificialmente o preço internacional, por meio da compra e retenção de estoques. Esse equilíbrio artificial foi rompido com a eclosão da
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que desorganizou o mercado internacional e deprimiu novamente o preço do café.
A nova situação internacional determinou uma segunda valorização do café em 1917, quando o governo adquiriu e estocou 180 mil toneladas (o
equivalente a 3 milhões de sacas de café). A crise cafeeira foi parcialmente resolvida em 1918, com a geada e o fim da guerra, quando a economia internacional
retomou seu ritmo. Porém, o problema estava de volta em 1921. Para manter o preço do café no mercado, o presidente Epitácio Pessoa, sob pressão dos cafeicultores
paulistas, adquiriu 4,5 milhões de sacas. Essa foi à terceira valorização do produto.
Os cafeicultores ainda não estavam satisfeitos. Em 1924, conceberam e começaram a praticar a política de valorização permanente do café. Para esse
fim, criou-se o Instituto do Café, em São Paulo, destinado a controlar o comércio exportador do produto, regulando as entregas no mercado e mantendo o
equilíbrio entre oferta e procura.
Como o Brasil era responsável pelo fornecimento de cerca de 60% do consumo mundial, o Instituto do Café, que tinha como objetivo regular o
escoamento do café, passou a estocar o produto em quantidades crescentes.

2.3.1 Contradições da Valorização


Precisamente, por causa dessa política de valorização permanente, que mantinha artificialmente o preço do café, estimulou-se ainda mais a sua produção.
Essa situação artificial não poderia ser mantida artificialmente, pois a capacidade de estocagem estava diretamente ligada ao apoio financeiro que se
obtinha do exterior. Em 1929, a crise geral do capitalismo tornou o esquema insustentável.

3. Açúcar: Consumo Interno


O açúcar constituiu, durante o peno do colonial, o principal produto agrícola brasileiro de exportação, posição que sustentou até 1830. Foi perdendo
essa posição devido à ascensão da produção de café e à queda em suas vendas, causada pela concorrência, primeiro, do açúcar antilhano e, depois, do açúcar de
beterraba, produzido em países como Alemanha, Bélgica e França.
Além disso, a partir do século XX, a produção do açúcar de cana em Cuba e Porto Rico, ex-colônias espanholas dominadas pelos Estados Unidos, que
possuía tarifas preferenciais nesse país, um dos principais compradores do produto. Assim, o açúcar produzido no Brasil passou a ser destinado, cada vez mais, ao
mercado interno.

4. Algodão: Indústria Nacional


Com o algodão ocorreu algo semelhante. Durante o Primeiro Reinado, entre 1821 e 1830, o algodão chegou a ocupar o segundo lugar na pauta de
exportações brasileiras. Mas, nas décadas seguintes, entrou em decadência devido à concorrência da produção algodoeira dos Estados Unidos.
A produção estadunidense foi gradativamente conquistando o mercado internacional devido, basicamente, a dois fatores:

• menor distância entre Estados Unidos e Europa — os industriais europeus eram os principais compradores do produto, e a menor distância entre essas duas regiões
barateava os custos de transporte;
• melhor qualidade da produção estadunidense — os agricultores dos Estados Unidos contavam com mais recursos técnicos e grande disponibilidade de mão de obra
e terras.
Durante a Guerra de Secessão (1861-1865), porém, o norte dos EUA bloqueou as exportações algodoeiras do sul. Os produtores de algodão do Brasil
aproveitaram essa situação para suprir as necessidades das indústrias têxteis europeias. Assim, no Segundo Reinado, entre 1861 e 1870, o algodão voltou a ocupar
o segundo lugar na pauta das exportações brasileiras.
Terminada essa década, o produto brasileiro entrou em franco declínio no mercado externo. Nas primeiras décadas do século XX, sua produção já se
destinava, progressivamente, às indústrias nacionais de fiação e tecelagem, em expansão no país.

5. Borracha: Época de Glória


Quando se iniciou a Primeira República, em 1889, a produção brasileira de borracha já vivia seus anos de glória. Produzida a partir do látex extraído
de seringueiras originárias da Amazônia, a borracha tornara-se, a partir de 1840, um produto de crescente procura nos países industrializados. Servia de matéria-
prima para a fabricação de pneus, inicialmente de bicicletas e depois de automóveis.
Na Amazônia encontrava-se a maior reserva de seringueiras do mundo, e o Brasil passou a suprir progressivamente quase toda a demanda mundial
de borracha, escoando sua produção pelos portos de Manaus e Belém. Durante o ciclo da borracha, a região amazônica conheceu súbito esplendor, que durou cerca
de três décadas (1891-1918). Nesse período, o produto ocupou o segundo lugar na pauta de exportações brasileiras, superado apenas pelo café.
Foi nesse contexto que, em 1903, a região amazônica correspondente ao atual estado do Acre, que pertencia à Bolívia, foi incorporada ao território
brasileiro. Boa parte da população local era composta de brasileiros, que viviam da atividade seringueira e controlavam a região como se fosse um território
independente. Quando surgiram conflitos fronteiriços com as autoridades bolivianas, representantes do governo brasileiro aproveitaram a oportunidade para negociar
a incorporação desse território ao Brasil, mediante um pagamento de 2 milhões de libras esterlinas e a concessão de outros benefícios.

5.1 Declínio da Borracha


Com o tempo, porém, os problemas começaram a aparecer. A produção da borracha brasileira exigia constante penetração na mata, em busca de seringais
nativos. Essa dificuldade de acesso elevava os custos de transporte e, consequentemente, o preço do produto. Paralelamente, a produção brasileira tornou-se
insuficiente para atender a demanda do mercado internacional, e cresciam cada vez mais as necessidades do produto nos centros industrializados.
Nessa conjuntura, produtores de países europeus, como Inglaterra e Holanda, investiram no cultivo de seringais em áreas de dominação colonial de
suas nações (Malásia, Ceilão e Indonésia). Desenvolvendo um plantio especialmente planejado para o aproveitamento industrial, essas regiões, em pouco tempo,
alcançaram uma produtividade superior à do extrativismo praticado nos seringais brasileiros.
A partir de 1920, a borracha brasileira praticamente não teve mais lugar no mercado internacional. Isso mudou apenas durante a Segunda Guerra
Mundial, entre 1942 e 1945, quando os produtores brasileiros viveram novamente um breve impulso exportador.

6. Cacau: Crescimento e Queda


O cacau é o fruto do cacaueiro, planta originária da América do Sul e da América Central. De suas sementes secas e processadas se produz o chocolate.
Cultivado no sul da Bahia, principalmente nos municípios de ltabuna e Ilhéus, o cacau brasileiro teria destino semelhante ao da borracha no mercado externo.
Durante toda a Primeira República, a produção brasileira de cacau cresceu, acompanhando o aumento do consumo de chocolates na Europa e nos Estados
Unidos. Mas os ingleses decidiram investir na produção de cacau na região africana da Costa do Ouro (que hoje integra Gana), então sob seu domínio.
Como aconteceu com a borracha, em pouco tempo o produto dessa região conquistou os mercados internacionais, fazendo declinar a produção do
cacau brasileiro nos anos seguintes. Os números deixam clara essa situação: em 1935, o Brasil exportou 100 mil toneladas de cacau, e a Costa do Ouro 260 mil
toneladas.

7. Imigração e Industrialização
O período da Primeira República também foi marcado pela grande imigração, principalmente europeia, e pelo avanço industrial no país. Os dois processos
tiveram diversos impactos na sociedade brasileira, entre os quais se destaca o surgimento do movimento operário.

7.1 Grande Imigração


Com Estados Unidos, Argentina e Canadá, o Brasil está entre as nações que mais receberam imigrantes europeus e asiáticos na época contemporânea.
Num processo iniciado durante o Segundo Reinado, a imigração no país alcançou seu auge durante a Primeira República, quando se estima que tenham entrado
no Brasil mais de 3,5 milhões de estrangeiros.
Seduzidos por incentivos e anúncios de prosperidade que o governo brasileiro divulgava no exterior, esses imigrantes vinham em busca de trabalho e
melhores condições de vida. Muitos sonhavam em enriquecer: Fare I’America (“Fazer a América”), como diziam os italianos.
Nessas quatro décadas, os italianos representaram aproximadamente 33% do total dos imigrantes que chegaram ao país, seguidos por portugueses (29%)
e espanhóis (15%). Outros grupos percentualmente menores foram alemães, japoneses, sírio-libaneses, russos, lituanos e austríacos, entre outros.
Entre os estados brasileiros, São Paulo recebeu o maior número de imigrantes: cerca de 57% do total. Isso se explica, em boa medida, pela expansão da
economia cafeeira (que abria milhares de postos de trabalho) e pela política do governo paulista de incentivo à imigração (propaganda no exterior e concessão
de passagens e alojamentos).
A contínua vinda de estrangeiros contribuiu para mudar muitos aspectos da vida social no país, principalmente nas regiões Sudeste e Sul. Houve
transformações nos hábitos de alimentação, nas rotinas de trabalho, nos valores culturais etc.
8. Avanço Industrial: a origem e as condições da industrialização
A Primeira República, período de grande vigor da economia cafeeira, foi também a época em que a industrialização ganhou o maior impulso, até então,
de nossa história. Isso se deveu, em grande parte, à expansão dos cafezais e às crises de superprodução do café que ocorreram nessa época, o que levou muitos
cafeicultores a aplicar na indústria parte de seus lucros, garantidos pelo governo após o Convênio de Taubaté.

8.1 A Origem e as Condições da Industrialização


A economia brasileira continuou essencialmente agrária e exportadora até o final do século XIX. Na região amazônica, produzia-se e exportava-se
borracha. No Nordeste, os principais produtos eram açúcar, algodão, fumo e cacau. No Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Espírito Santo e em São Paulo, o
café ocupava o primeiro lugar. No Rio Grande do Sul, eram produzidos couro, pele, mate e o charque para outras regiões do Brasil.
No final do século XIX, esse quadro dominado pela economia agroexportadora começou a se transformar. Iniciada no Brasil pouco antes de 1880, a
industrialização ganhou impulso entre 1886 e 1894. Depois da crise de 1929, a agroexportação foi desbancada pela indústria, que passou a ocupar o centro vital
da economia.
A industrialização não ocorreu ao mesmo tempo em todo o país. Seu polo dinâmico situava-se no Sudeste, particularmente em São Paulo, onde se
localizava a mais poderosa economia exportadora: a cafeicultura.
A economia cafeeira paulista, desenvolvendo-se na transição do trabalho escravo para o livre, e com ampla possibilidade de expansão nas terras
férteis do Oeste, converteu-se na mais próspera das economias agroexportadoras. Por essa razão, foi ali que a industrialização se desenvolveu mais rapidamente.
De início, a industrialização fazia parte da economia cafeeira, ou melhor do "complexo cafeeiro", pois a produção e a exportação do café dependiam de
uma complexa organização de fatores. Além da produção, esse complexo incluía o processamento (denominado "beneficiamento"), o sistema de transporte
(ferrovias), o comércio de importação e exportação, os bancos e, por fim, as indústrias.
O processo de industrialização, por isso, acompanhou o ritmo do setor exportador, não apenas cafeeiro. Os investimentos industriais aumentavam
nos momentos de expansão e diminuíam quando havia retração do mercado internacional. Até a Primeira Guerra Mundial, o Estado não adotou nenhuma
política de estímulo à industrialização. No entanto, ela era estimulada direta ou indiretamente quando o governo aumentava as tarifas alfandegárias e, sem o
pretender, acabava protegendo as indústrias da concorrência estrangeira ou quando desvalorizava a moeda nacional, desestimulando as importações, ou ainda
quando adotava as duas medidas ao mesmo tempo.
A indiferença do governo quanto à industrialização tinha relações com o modelo econômico agroexportador, herança do período colonial. Segundo
esse modelo, o Brasil exportava produtos tropicais e importava produtos manufaturados. Essa tradição persistiu na economia cafeeira, o fazendeiro, por meio de
seu comissário, realizava para si e para seus escravos nas grandes casas importadoras, que forneciam a quase totalidade dos produtos de consumo de origem
industrial. Portanto, não havia necessidade de desenvolver a industrialização. Mas a produção em pequena escala de produtos manufaturados já estava
disseminada pelo Brasil, em pequenas oficinas artesanais.
O primeiro passo para a industrialização foi dado com a substituição dessa pequena produção por unidades industriais maiores. Isso começou a
acontecer no final da década de 1870, quando a abolição da escravatura se encontrava na ordem do dia e a solução imigracionista começou a ser considerada
urna alternativa. No bojo desse processo, alterou-se também a estrutura do mercado, com a gradual eliminação do comissário como intermediário no comércio
exportador/importador: os exportadores (estrangeiros) foram direto aos produtores e os importadores espalharam representantes pelo interior.
Com as poderosas casas importadoras controlando o mercado, agora em contato direto com os consumidores, estava claro que o desenvolvimento
industrial só seria viável se contasse com uma rede de distribuição do mesmo tipo. Essa situação duas saídas: a primeira foi os próprios importadores montarem
indústrias; a segunda foi os industriais criarem sua própria rede comercial, o que deu origem aos importadores-industriais e industriais-comerciantes,
respectivamente.
Na opinião de alguns estudiosos, os industriais originaram-se da fileira dos cafeicultores. Estudos mais recentes, entretanto, mostram que a
burguesia industrial era constituída, embora não exclusivamente, por imigrantes. É o de Francisco Matarazzo, um de seus representantes típicos, que
exemplifica ainda a condição de importadores-industriais.

8.2 Números do Crescimento


Em 1889, havia no Brasil pouco mais de 600 fábricas, nas quais trabalhavam 54 mil operários. Em 1930, já existiam no país cerca de 13 mil indústrias,
que empregavam 275 mil operários. Havia ainda 233 usinas de açúcar, onde trabalhavam 18 mil operários, e 231 salinas, que empregavam cerca de 5 mil
trabalhadores.
Concentrando 31% das indústrias, o principal centro da industrialização brasileira era o estado de São Paulo, onde viviam os mais importantes produtores
de café do país e onde havia um grande número de ex escravos e imigrantes que viviam do trabalho na agricultura. Muitos desses trabalhadores deixaram o
campo e, em busca de novas oportunidades, acabaram constituindo a mão de obra do setor industrial. Também se destacaram, pela concentração industrial, os estados
do Rio Grande do Sul (13,3%), do Rio de Janeiro (11,5%) e de Minas Gerais (9,3%).
A indústria nacional desenvolveu-se procurando substituir os produtos importados até então, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando
caíram as exportações europeias. Dedicou-se principalmente à fabricação de tecidos de algodão, calçados, materiais de construção, alimentos e móveis. Em 1928, a
renda do setor industrial superou, pela primeira vez, a da agricultura.

8.3 Os Efeitos da Primeira Guerra


O processo de industrialização, que desde o final do século XX cresceu de acordo com a expansão das exportações, ganhou uma nova direção a partir da
Primeira Guerra Mundial.
O primeiro efeito da guerra foi à drástica redução dos investimentos industriais. A produção expandiu-se em 1915 e 1916 com a utilização plena da
capacidade instalada. Começou a declinar em 1917, e seu crescimento tornou-se negativo no ano seguinte, pela falta, gerada pela guerra, de matérias primas,
máquinas e equipamentos importados.
A mudança de atitude do governo em relação à indústria foi o principal efeito a guerra. Até então, não existia o que poderíamos chamar de política
industrial. A guerra, entretanto, evidenciou os limites e as inconveniências de um país destituído de um parque industrial significativo. Por esse motivo, o
governo começou a criar incentivos para o desenvolvimento industrial, a fim de promover sua diversificação. Essa atitude manteve-se ao longo da década de
1920.

8.4 A Crise de 1929


No final dos anos 1920, a economia capitalista internacional enfrentou uma profunda depressão: a crise de 1929. Essa crise eclodiu nos Estados Unidos
e teve importantes repercussões internacionais. No Brasil, provocou a desorganização da economia cafeeira.
Nos anos que se seguiram à crise, a industrialização intensificou-se, com o apoio governamental, tendo como objetivo a substituição das importações.
Esse processo só se completaria, contudo, na década de 1950, com a implantação da indústria pesada, o importante setor no qual se concentram máquinas que
fabricam máquinas para outras indústrias.

9. Movimento Operário
Com a industrialização progressiva da economia e a oferta de emprego a um número crescente de operários, produziu-se uma mudança importante na
organização política e econômica da sociedade brasileira. Antes desse período, grande parte da força político-econômica situava-se no setor rural. O avanço
industrial deu ao setor urbano maior importância e visibilidade. Em consequência, operários e grupos médios urbanos passaram a exigir cada vez mais o direito
de participar das decisões políticas e econômicas do país, como foi o caso do movimento operário.

9.1 Trabalho nas Fábricas


As condições de trabalho do operariado brasileiro nos anos da Primeira República eram bastante desfavoráveis. Não havia uma legislação específica que
limitasse, por exemplo, a extensão da jornada de trabalho. Assim, em geral, trabalhava-se de segunda a sábado, até 15 horas por dia (às vezes, também aos
domingos). Não havia salário mínimo, direito a férias, pagamento por horas extras. O trabalhador, quando demitido, não tinha direito a aviso prévio nem a
indenização. Os operários ganhavam pouquíssimo, o que obrigava toda a família a trabalhar, incluindo as crianças.
As instalações das fábricas geralmente eram ruins, com pouco espaço e ambientes mal iluminados, quentes e sem ventilação. Não havia cuidado com a
higiene nem com a segurança dos locais de trabalho. Assim, eram frequentes entre os operários os acidentes de trabalho e as doenças; as crianças eram as
principais vítimas.
Meninos e meninas também sofriam, com frequência, castigos físicos, e as mulheres eram afetadas pela violência sexual. Os trabalhadores menores, de
7 a 14 anos, eram as principais vítimas dos mestres (chefes de operários) e contra- mestres (encarregados do comando de equipes de trabalho), que os castigavam com
espancamentos, sopapos, pontapés e puxões de orelha. Contra isso, criou-se, em 1917, um comitê popular de agitação contra a exploração de menores operários. Os
mestres e contramestres também seduziam as mulheres operárias em troca de máquinas mais produtivas ou de melhores salários. Caso não cedessem a essas propostas,
elas eram perseguidas com multa, descontos ou máquinas enguiçadas.

9.2 Organização Operária


Os inúmeros acidentes, os baixos salários e as longas jornadas sem descanso foram provocando a mobilização dos operários, que começaram a se unir
para realizar protestos e reivindicações. Surgiram, então, várias formas de organização operária, entre elas os sindicatos, que assumiram a luta pela conquista de
direitos trabalhistas e sociais.
Dentre as correntes políticas que influenciaram ideologicamente o movimento operário, destacou-se, de início, o anarquismo. Mas houve também outras
tendências, como:
• o sindicalismo revolucionário — uma corrente anarco-socialista que defendia a greve como principal instrumento de luta dos operários na busca de conquistas mais
amplas;
• a corrente católica — que procurava, entre outras ações, afastar os trabalhadores da influência anarquista e socialista.

9.3 Greve de 1917


Em julho de 1917, foi organizada em São Paulo a primeira greve geral da história do Brasil, provocada pelo descontentamento dos operários com as
condições de trabalho às quais estavam submetidos.
As manifestações dos operários, em passeatas pelas ruas, provocaram muitos conflitos com a polícia. Num deles, em 09 de julho, o sapateiro anarquista
José Martinez, de 21 anos de idade, morreu baleado.
Esse episódio ampliou o movimento: a greve tornou-se geral, paralisando as fábricas da cidade de São Paulo e de outras regiões do país. Estima-se que
entre 50 mil e 70 mil trabalhadores tenham participado dessa greve, coordenada pelo Comitê de Defesa Proletária, cujos líderes eram Edgard Leuenroth, Florentino
de Carvalho, Antonio Duarte, Francisco Ciani, Rodolfo Felipe e Teodoro Monicelli, entre outros. Os grevistas exigiam aumentos salariais, jornada de trabalho
de oito horas, direito de associação e libertação dos grevistas presos, entre outras reivindicações.
Diante da extensão do movimento operário, o governo e os industriais resolveram negociar. Prometeram melhores salários e condições de trabalho, além de
assumirem o compromisso de não punir os grevistas, caso todos voltassem a seus postos. As promessas e os compromissos, no entanto, não foram cumpridos à
risca.

9.4 Repressão Policial


Em 1922, apoiado pelos líderes operários, foi fundado o Partido Comunista do Brasil (PCB), inspirado na vitória dos comunistas na Revolução Russa de
1917. O Partido Comunista foi considerado ilegal pelas autoridades judiciárias logo após sua fundação, mas continuou a existir clandestinamente. A luta operária
também se manteve atuante.
Para as elites políticas e econômicas do país, as manifestações operárias não passavam de baderna. Exemplo disso deu o último presidente da Primeira
República, Washington Luís, quando disse que a questão social no Brasil era “caso de polícia”. Assim, até o final desse período, os protestos dos trabalhadores não
mereceram a devida atenção dos empresários e dos políticos, que tratavam a questão por meio do uso da violência policial.
História para o Concurso de Admissão ao Curso de Formação de Sargentos do Exército (EsSa)

Revoltas na Primeira República

1. As Rebeliões: Canudos e Contestado


No final do século XIX e início do século XX, a expansão do capitalismo provocou importantes transformações em todo mundo. Por toda parte, as antigas formas
de convívio social sofreram o impacto da modernização. Como reação, em várias regiões do mundo eclodiram movimentos de resistência às mudanças nas sociedades rurais,
nas quais as relações sociais continuavam baseadas nos laços de fidelidade pessoal. No Brasil, a Guerra de Canudos e o Contestado foram manifestações típicas desse momento.
Essas rebeliões surgiram em virtude das alterações provocadas pelo capitalismo, que desestabilizou as antigas formas de dominação e de organização social. O
capitalismo fez cair o véu que ocultava a opressão e a miséria das sociedades rurais arcaicas. As rebeliões foram, então, um protesto trágico contra a opressão e a miséria,
mas sem projetos claros e definidos. Quase sempre, as aspirações dos rebeldes mesclavam-se com profunda religiosidade, sem orientação política consciente. Daí a razão de
seu isolamento e, consequentemente, do seu fracasso diante das forças repressivas dos poderes constituídos.

1. Messianismo
A palavra messianismo é derivada de messias, que significa “o enviado de Deus”, “o salvador”. Originalmente, o termo refere-se à crença da religião judaica na futura
vinda do Messias, isto é, daquele que libertará o povo judeu dos sofrimentos, conduzindo-o à felicidade eterna. Baseados nessa crença, os cristãos entendem que Jesus Cristo é o
Messias, que já veio à Terra indicar o caminho da salvação eterna e voltará no dia do Juízo Final.
Assim, o termo messianismo passou a ser utilizado, por historiadores, sociólogos e outros estudiosos, para designar a crença de um grupo de pessoas em um líder
político-religioso (o chamado líder messiânico), que é considerado capaz de conduzir determinada coletividade a uma nova era de justiça e felicidade. Geralmente, a crença
messiânica desenvolve-se a partir da necessidade de se ter esperança de uma vida melhor, entre pessoas castigadas pelo sofrimento cotidiano, pela miséria e pelas injustiças sociais.
Na historiografia do Brasil, o termo messianismo costuma ser usado para denominar os movimentos sociais nos quais milhares de sertanejos, de áreas rurais
pobres, fundaram comunidades comandadas por um líder religioso. Atribuíam-se a esse líder dons como o de fazer milagres, realizar curas e profetizar acontecimentos.
Na Primeira República, os dois principais movimentos de caráter messiânico foram Canudos e Contestado, caracterizados pela religiosidade e pelo sentimento de
revolta dos sertanejos. Vejamos cada um deles.

1.1 Revolta de Canudos (1893-1897)


Nas últimas décadas do século XIX, grande parte da população nordestina vivia de maneira miserável. Uma série de condições contribuía para agravar o sofrimento
de milhares de sertanejos nesse período:
• o declínio da produção açucareira;
• as constantes secas;
• a prepotência dos coronéis-fazendeiros;
• os novos rumos políticos do país — com a República — que não lhes trouxe qualquer benefício.

1.1.1 Antônio Conselheiro


Foi nesse contexto de opressão e desesperança, durante o mandato do presidente Prudente de Morais, que o beato Antônio Vicente Mendes Maciel (1828-1897),
apelidado Antônio Conselheiro, desenvolveu suas pregações político-religiosas.
A figura do beato era comum no sertão nordestino. Sua origem estava relacionada às atividades do padre José Maria Ibiapina que, seguindo a orientação do
catolicismo de seu tempo, procurou melhor comunicação entre o clero e os fiéis. O padre Ibiapina foi responsável pela criação de inúmeras casas de caridade, mistura de
orfanato e escola, que se multiplicaram a partir da segunda metade do século XIX.
Essas casas de caridade eram administradas por ordens leigas, não reconhecidas pela igreja, mas toleradas por ela. E foi a partir dessas casas que se multiplicaram
as ordens de beatos, expressão concreta da intensificação da religiosidade no sertão nordestino.
Antônio Conselheiro, produto desse meio, começou a se destacar como líder religioso, razão pela qual passou a ser sistematicamente perseguido pela igreja.
Discordando de algumas mudanças implementadas pela República, Antônio Conselheiro declarava-se, por exemplo, contra o casamento civil e, por isso, foi identificado por
seus adversários como monarquista e religioso fanático. Mas essas caracterizações não davam conta do ideário complexo de Conselheiro. Sua figura desperta polêmicas. Desde
1870, ele fazia pregações que atraíam crescente número de pessoas do sertão nordestino. Um de seus lemas principais era: “A terra não tem dono, a terra é de todos”.
A trajetória de Antônio Conselheiro teve início, efetivamente, quando, em 1893, aos 65 anos, ele chegou a uma velha fazenda abandonada no sertão baiano, situada
às margens do rio Vaza-Barris. A localidade chamava-se Canudos ou Arraial de Canudos (embora Conselheiro a tivesse batizado como Belo Monte). Foi o início da formação
de sua “cidade santa”.

1.1.2 Vida em Canudos


Milhares de pessoas mudaram-se para Canudos: sertanejos sem-terra, vaqueiros, ex escravos, pequenos proprietários pobres, homens e mulheres perseguidos
pelos coronéis ou pela polícia. De modo geral, buscavam paz e justiça em meio à fome e à seca do sertão. Em pouco tempo, o povoado transformou-se numa das localidades
mais populosas da Bahia, reunindo entre 20 e 30 mil habitantes, tornando-se um núcleo relativamente próspero, dedicando-se, inclusive, ao comércio com as cidades
vizinhas.
Segundo alguns pesquisadores, o modo de vida da população de Canudos apresentava, entre outras, as seguintes características:
• praticava-se o sistema comunitário, em que as colheitas, os rebanhos e o fruto do trabalho eram repartidos; o excedente era vendido ou trocado com os povoados
vizinhos;
• não havia cobrança de tributos;
• eram proibidas a prostituição e a venda de bebidas alcoólicas.
O povoado tinha, portanto, normas próprias, representando, de certa forma, uma alternativa de sociedade para os sertanejos que fugiam da dominação dos coronéis da
região.

1.1.3 Reação contra Canudos


Muitos grupos ficaram assustados com o crescimento de Canudos. Para alguns membros da Igreja Católica, Antônio Conselheiro e seus seguidores representavam
um perigo, porque desviavam os fiéis dessa instituição e da “fé verdadeira”. Para os fazendeiros baianos e proprietários de terra em geral, bem como para as elites
políticas e o governo, Canudos constituía uma ameaça, tanto pela ocupação das terras quanto pela recusa à subordinação ao Estado. Logo, os grandes proprietários rurais
iniciaram articulações para a dispersão do núcleo, com o apoio da Igreja
Assim, predominou na época a versão, que durante muito tempo foi reproduzida como única verdade, de que ali viviam apenas fanáticos religiosos, loucos e
monarquistas. Tudo isso para encobrir os verdadeiros motivos: impedir os pobres de viver com autonomia, pois os grandes proprietários necessitavam de mão de obra
abundante e barata, enquanto a igreja queria manter os fiéis sob seu controle. Não se considerava, portanto, que a comunidade de Canudos era fruto, por exemplo, da
necessidade dos sertanejos de escapar da fome e da violência. O messianismo foi a maneira encontrada por eles para expressar sua vontade de construir uma ordem social
diferente.
As denúncias oficiais se multiplicaram, acusando Conselheiro de conspirar contra a República, em virtude de sua posição monarquista, o que faria dele um inimigo,
argumento, aliás, amplamente utilizado pela repressão.

1.1.4 Guerra de Canudos


Em novembro de 1896, no governo de Prudente de Morais, tropas dos coronéis locais e do governo estadual baiano foram enviadas para acabar com o arraial
(povoado), mas não conseguiram vencer as forças de Canudos. Assim, o governo federal entrou na luta, mandando tropas para o povoado, que também foram derrotadas.
Devido as seguidas derrotas que as forças oficiais sofreram, a Guerra de Canudos começou a ocupar as páginas dos jornais, que a tornaram nacionalmente conhecida.
Finalmente, em abril de 1897 um poderoso exército de cerca de 7(8) mil homens, equipados com as mais modernas armas daquele tempo, foi organizado pelo
ministro da Guerra, sob o comando do general Artur de Andrada Guimarães e Canudos foi destruído, em 5 de outubro de 1897.
Mais de 5 mil casas foram incendiadas pelo exército. A população sertaneja morreu defendendo sua comunidade, numa das mais trágicas lutas da história da República.
O trágico destino de Canudos foi relatado por Euclides da Cunha no livro Os Sertões, obra que o imortalizou.

1.2 Guerra do Contestado (1912-1916)


Outro importante movimento messiânico ocorreu na fronteira entre Paraná e Santa Catarina, numa região contestada (disputada) pelos dois estados, situado
às margens do rio Peixes, que se estendia até as atuais cidades catarinenses de Curitibanos e Campos Novos, que por isso ficou conhecida como Contestado.
A Guerra do Contestado teve como pano de fundo a transformação econômica e social da região no início do século XX. Como quase em todo Brasil, a região do
Contestado era dominada, no final do século XIX, pelos coronéis e grandes proprietários, produtores de erva mate. A população distribuía-se de acordo com as lealdades
devidas a um ou a outro coronel, cujo poder estava relacionado à dimensão de seu exército particular de jagunços. Em Curitibanos, mandava o coronel Francisco
Albuquerque, o mais poderoso da região, que tinha por inimigo o coronel Henriquinho de Almeida.

1.2.1 Antecedentes Gerais


Era grande o número de sertanejos estabelecidos nessa região, vivendo, semi-isolados, da extração de erva-mate e madeira e da criação de gado desde o século
XVIII. Com o início da construção de uma ferrovia que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul, em 1890, muitos deles foram desalojados dessas terras, perdendo também
seu meio de vida.
Alguns conseguiram trabalho, sob duras condições, com os fazendeiros locais e, a partir de 1908, em duas empresas estadunidenses que ali passaram a atuar: a Brazil
Railway, contratada pelo governo para terminar a construção da ferrovia que havia sido interrompida, e sua coligada (ou subsidiária) Southern Brazil Lamber and Colonization,
que herdou o direito de explorar e vender a madeira na faixa de terreno desapropriada ao longo dessa ferrovia. Esta última comprou mais terras na região e também desalojou seus
habitantes.
Os problemas sociais e a disputa pela terra agravaram-se quando a Brazil Railway, para aumentar sua receita, passou a contratar trabalhadores em outros
Estados (a maioria vinda de Rio de Janeiro, Santos, Salvador e Recife) para a construção da estrada de ferro, pagando salários muito baixos. Em 1910, quando a ferrovia
ficou pronta, a empresa mandou embora todos os seus funcionários, mais ou menos 8 mil homens. Sem casa, sem dinheiro e sem ter como voltar para seus estados, eles
passaram a perambular pela região, saqueando, invadindo propriedades e até se oferecendo como jagunços aos coronéis. Tudo isso fez crescer muito as tensões sociais
e políticas na região.

1.2.2 Fundação de Povoados


Sem terra e famintos, os sertanejos do Contestado começaram a se organizar sob a liderança de um “monge” chamado João Maria. Seu lugar foi ocupado por outro
“monge”, Miguel Lucena Boaventura, conhecido como José Maria, um militar que desertou das fileiras do Exército. Ele adquiriu fama como curandeiro e começou a se
apresentar como herdeiro espiritual de João Maria, que se transformou em lenda após seu desaparecimento em 1908.
José Maria reuniu mais de 20 mil sertanejos e fundou com eles alguns povoados que compunham a chamada Monarquia Celeste (1912, bairro rural de Taquaruçu,
no município de Curitibanos, em terras cedidas pelo coronel Henriquinho de Almeida). Como em Canudos, a “monarquia” do Contestado tinha um governo próprio e
normas igualitárias, não obedecendo às ordens das autoridades da República.
O livro Histórias de Carlos Magno e dos Dozes Pares de França, um romance de cavalaria era considerado pelo monge José Maria tão sagrado quanto a Bíblia.
Por isso, em sua comunidade, os chefes militares eram chamados de “pares de França”. Algumas adolescentes foram escolhidas para simbolizar a pureza e a inocência, “as
virgens”, sendo uma delas Teodora, uma menina de 12 anos.

1.2.3 Derrota dos Sertanejos


Os sertanejos do Contestado passaram a ser perseguidos por pessoas a mando dos coronéis fazendeiros (coronel Francisco Albuquerque que não se agradou da
aproximação de José Maria e Henriquinho de Almeida) e dirigentes das empresas estrangeiras estabelecidas na região, com o apoio de tropas do governo. O objetivo era
destruir a organização comunitária e expulsar os sertanejos das terras que ocupavam.
Temendo a repressão, José Maria e seus seguidores, incluindo homens armados, transferiram-se para Irani, no Paraná. O governo paranaense interpretou a presença
da comunidade de crentes como uma invasão catarinense cujo propósito seria a ocupação e a futura anexação do local pela província de Santa Catarina. Foi essa a
alegação que respaldou o envio de um destacamento policial e militar para expulsá-los.
Por meio de um emissário, as forças repressoras ordenaram a rendição, ao que José Maria respondeu que era de paz e pediu tempo para se retirar. O comandante
da força repressiva não esperou. Na madrugada seguinte, lançou um ataque no qual morreram José Maria e o coronel que comandava a repressão, em novembro de 1912.
Aqui começa a Guerra do Contestado. Os seguidores de José Maria voltaram para Taquaruçu (Monarquia Celeste) envolvidos num clima de intenso misticismo:
eles acreditavam na ressurreição de seu líder.
A força dessa crença acentuou-se, em 1913, com as visões de Teodora, de acordo com as quais José Maria ordenava aos fiéis reconstruir a comunidade em
Taquaruçu. A notícia se espalhou e novos fiéis começaram a chegar, mas a forças repressivas arrasaram o ajuntamento em 1914. Os sobreviventes reuniram-se em Caraguatá
e, sob o comando de Maria Rosa, uma das virgens, organizaram a vingança. Maria Rosa tinha 15 anos. Em vários outros lugares, foram recriadas comunidades (redutos) de
crentes, seguidores de José Maria.
Em 1914, a guerra santa se espalhou e deu aos crentes o controle de um vasto território no Contestado. A gravidade da situação foi demonstrada pela mobilização
da quase totalidade dos efetivos do Exército. Até aviões de bombardeio foram utilizados pela primeira vez como arma de combate no Brasil. A Guerra do Contestado só
terminou em 1916, com 20 mil mortos pelas ações militares oficiais.

Merece destaque: Em 1910, o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa a Santa Catarina e encerrou a questão.

2. Cangaço
2.1 O Banditismo Social
Ao lado de Canudos e Contestado, outro fenômeno da época foi o bandistismo social. No Nordeste brasileiro, o banditismo social assumiu uma forma característica
que ficou conhecida como Cangaço. Suas primeiras manifestações ocorreram por volta de 1870 e perduraram até 1940.
O banditismo social não foi um fenômeno exclusivamente brasileiro. Apareceu em outras regiões do mundo com características semelhantes às do Nordeste brasileiro,
como na Sicília (Itália), na Ucrânia e na América Espanhola.
O bandido social diferia do bandido comum por sua origem. Em geral, tornava-se um “fora da lei” como resposta às injustiças e às perseguições que sofria. Por
isso, era admirado pela comunidade que, não raro, engrandecia seus feitos de coragem e valentia. Apesar disso, o bandido social não se posicionava necessariamente contra os
dominantes, como fazia o revolucionário, nem tinha projetos de transformação social. Seu prestígio vinha do fato de apresentar-se como porta voz de resistência de um mundo
em dissolução.

2.2 Revolta e violência no Nordeste


Nas décadas finais do século XIX e iniciais do século XX, a miséria, a seca, a fome e a concentração de terras nas mãos dos coronéis fazendeiros e suas injustiças
produziram no Nordeste um ambiente favorável à formação de grupos armados, que praticavam assaltos a fazendas e, muitas vezes, matavam pessoas.
As pessoas que participavam desses grupos armados eram conhecidas como cangaceiros, e o tipo de vida que levavam recebeu o nome de cangaço. Atuando
frequentemente com grande violência, os cangaceiros tinham uma vida nômade, sem se fixar em nenhuma cidade, espalhando terror e destruição por onde passavam. Entre as
populações mais pobres, despertavam sentimentos contraditórios, que iam do terror à admiração.
O cangaço ainda é objeto de discussões entre pesquisadores. Para alguns estudiosos, foi uma forma pura e simples de banditismo e criminalidade; para outros, constituiu
uma forma de contestação social, isto é, uma forma encontrada por pessoas que viviam oprimidas para expressar sua revolta, sendo por isso reconhecida como legítima.

2.3 Origem do Cangaço


Desde o século XVIII, com o deslocamento do centro dinâmico da economia para o sul do Brasil, as desigualdades sociais no Nordeste agravaram-se. No sertão, onde
predominava a pecuária, consolidou-se uma forma peculiar de relação entre os grandes proprietários e seus vaqueiros. Entre eles, estabeleceram-se laços de compadrio
(tornavam-se compadres), cuja base era a relação de fidelidade do vaqueiro ao fazendeiro; este daria proteção em troca da disponibilidade do primeiro para defender,
de armas na mão os interesses do patrão.
Os conflitos eram constantes devido à imprecisão dos limites geográficos entre as fazendas e as rivalidades políticas, transformadas em guerras entre poderosas famílias.
Cada uma delas se cercava de jagunços (capangas do senhor) e de cabras (trabalhadores que ajudavam na defesa), formando verdadeiros exércitos particulares.
Nos últimos anos do Império, depois da grande seca de 1877-1879, com o agravamento da miséria e da violência, surgiram os primeiros bandos armados
independentes dos grandes fazendeiros. Esse é a origem do cangaço. Por essa época, ficaram famosos os bandos de Inocêncio Vermelho e de João Calangro.

2.4 Rei do Cangaço


Entre os mais conhecidos grupos de cangaceiros destacaram-se o de Antônio Silvino (1875-1944) e o de Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião (1900-
1938), considerado o “Rei do Cangaço”. Ele e sua mulher, Maria Bonita (que vivia com o bando), se tornariam os personagens mais famosos do cangaço.
Foi já na República, com Lampião, que o cangaço ganhou a forma atualmente conhecida. Havia uma razão para esse fato. Com a implantação da República em 1889,
implantou-se no Brasil o regime federalista, que concedeu ampla autonomia às províncias, fortalecendo as oligarquias regionais. O poder dessas oligarquias de coronéis fortaleceu-
se ainda mais com a política dos governadores iniciada por Campos Sales (1898-1902). O poder de cada coronel era medido pelo número de aliados e eleitores que tinha e pelo
tamanho de seu exército particular de jagunços.
Esse fenômeno tornou-se comum em todo o Brasil, mas nos estados mais pobres, como Ceará, Paraíba e Rio grande do Norte, os coronéis não eram tão
suficientemente ricos e poderosos para impedir a formação de bandos armados independentes. Foi nesse ambiente que nasceu e prosperou o bando de Lampião, por
volta de 1920, cujo surgimento coincidiu com a crise da República Velha
Depois que a polícia massacrou o bando de Lampião, em 1938, já durante o governo de Getúlio Vargas, o cangaço praticamente desapareceu no Nordeste.

3. Revoltas no Rio de Janeiro


Nem todas as revoltas da Primeira República ocorreram no interior do país e no campo. Em algumas das maiores cidades, especialmente na capital da República, Rio
de janeiro, também ocorreram diferentes movimentos populares ou de certos grupos que se sentiam oprimidos pela ordem social vigente. Entre eles destacaram-se a Revolta da
Vacina, a Revolta da Chibata e o Tenentismo. Vejamos cada um deles.

3.1 Revolta da Vacina (1904)


No início do século XX, a população do Rio de Janeiro enfrentava graves problemas sociais (muita pobreza e alto índice de desemprego) e de saneamento (lixo
amontoado nas ruas, ratos e mosquitos transmissores de doenças). Em consequência, milhares de pessoas morriam em epidemias como cólera, febre amarela, peste bubônica
e varíola. O rápido crescimento populacional, do fim do século XIX para o XX, só agravou a situação.

3.1.1Reforma da Capital
Paralelamente a essa grave situação social, era desejo dos primeiros governos republicanos transformar o Rio de Janeiro na “capital do progresso”, uma espécie de
cartão-postal que mostrasse ao país e ao mundo “o novo tempo” trazido pela República.
Coube ao presidente Rodrigues Alves (1902-1906) a decisão de implementar esse projeto. As obras de reforma e modernização do Rio de Janeiro, comandadas pelo
prefeito da cidade, incluíam o alargamento das principais ruas do centro, a construção da avenida Central (atual avenida Rio Branco), a ampliação da rede de água e
esgotos e a remodelação do porto (que tinha pouca profundidade pouco do cais, que impedia o atracamento de navios de grande porte, dificultando as operações de
carga e descarga).
Para realizar essas obras, no entanto, cortiços e casebres dos bairros centrais tiveram de ser demolidos, e as pessoas que moravam nesses locais, sem alternativas
oferecidas pelo governo, passaram a viver em barracos nos morros do centro ou no subúrbio. Tudo isso gerou muita insatisfação entre a população mais pobre.
Para cumprir seu programa de governo, Rodrigues Alves escolheu dois auxiliares: o engenheiro Francisco Pereira Passos, indicado para a Prefeitura do distrito
Federal, e o médico Osvaldo Cruz para o saneamento.

3.1.2Campanha de Vacinação
O governo federal concentrou quase todas as suas atenções e recursos na reforma da capital. O combate às epidemias locais foi também um de seus principais objetivos.
Nesse contexto é que o médico sanitarista Oswaldo Cruz, diretor da Saúde Pública, convenceu o presidente a decretar a lei da vacinação obrigatória contra a varíola.
Entretanto, naquela época, a população quase não tinha informações sobre os benefícios das vacinas, e não obteve qualquer esclarecimento da parte das autoridades.
Para alguns, a aplicação de injeções em mulheres era imoral. Para outros a obrigatoriedade ia contra a liberdade individual. Outros, ainda, não compreendiam como uma
doença poderia ser evitada com a introdução de seu próprio vírus no corpo.

3.1.3 Explosão Popular


O descontentamento das pessoas afetadas pela demolição dos cortiços, a impopularidade do governo e a obrigatoriedade da vacinação provocaram, no período de
12 a 15 de novembro de 1904, uma grande revolta popular nas ruas do Rio de Janeiro.
Políticos e militares de oposição quiseram aproveitar a revolta popular para derrubar Rodrigues Alves da presidência da República, mas não conseguiram. O governo
dominou os revoltosos usando tropas do corpo de bombeiros e da cavalaria. Cerca de 30 pessoas morreram e mais de 100 foram feridas. Centenas de participantes dos conflitos
foram presos e deportados para o Acre.

Merece destaque: no dia 5 de novembro, foi criada a Liga Contra a Vacina Obrigatória. Seu líder e fundador, o senador Lauro Sodré, pretendia, ao que parece,
transformar a Liga num instrumento de ambições políticas próprias e de seus aliados.
O governo revogou a obrigatoriedade da vacina no dia 16 de novembro.

3.2 Revolta da Chibata (1910)


Desde o período colonial, o recrutamento de soldados e marinheiros era feito de maneira violenta e arbitrária, recaindo sobre pessoas de origem humilde, que não
tinham como se defender. Os que dispunham de alguma fortuna compravam sua isenção ao serviço militar. Os recrutados eram submetidos a constantes violências, que incluíam
desde péssima alimentação até castigos corporais.
Cinco anos depois da Revolta da Vacina, em 22 de novembro de 1910, explodiu outra insurreição no Rio de Janeiro: aproximadamente 2 mil membros da Marinha
brasileira, liderados pelo marinheiro João Cândido, rebelaram-se contra os castigos físicos que recebiam nessa instituição, dando início ao episódio que ficou conhecido
como Revolta da Chibata.
3.2.1 Chibatadas
No início do século XX, a Marinha do Brasil ainda mantinha em seu código disciplinar normas que remontavam aos séculos XVIII e XIX. Entre elas estava a
punição dos marinheiros, por faltas graves, com 25 chibatadas. Essa punição era aplicada na presença dos demais companheiros, obrigados a assistir ao açoite dos faltosos.
A indignação das tripulações dos navios crescia. A tolerância com os maus-tratos chegou ao limite depois que um marujo (Marcelino Rodrigues Menezes) do
encouraçado (belonave) Minas Gerais recebeu uma punição de 250 chibatadas, quantidade dez vezes superior ao limite estabelecido.

3.2.2 Explosão da Revolta


Quando o encouraçado chegou à baía de Guanabara, sua tripulação amotinou-se. Primeiro, os revoltosos tomaram o comando do Minas Gerais, sendo, em seguida,
acompanhados pelos marujos dos encouraçados São Paulo, Bahia e Deodoro, que também assumiram o controle de seus respectivos navios. O comandante do Minas Gerais,
Batista Neves, foi morto juntamente com outros oficiais e marinheiros.
Em seguida, todos apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro e enviaram um comunicado ao presidente da República, explicando as razões da revolta
e fazendo exigências. Queriam mudanças no código de disciplina da Marinha (especificamente, acabar com as chibatadas). Além dos castigos físicos, os marinheiros
reclamavam da má alimentação e dos soldos (salários) miseráveis que recebiam, conforme declaração do Cabo Gregório do Nascimento.

3.2.3 Reação do governo


Sob a mira dos canhões, o governo respondeu, depois de quatro dias de muita tensão, que atenderia a todas as exigências dos marujos. Rapidamente, a Câmara dos
Deputados (por iniciativa de Rui Barbosa, na época senador) aprovou um projeto que punha fim às chibatadas e anistiava (perdoava) os revoltosos, já que o motim, no
direito militar, é considerado um crime contra a disciplina.
Os marinheiros, confiando na palavra das autoridades, entregaram os navios aos comandantes. O governo, entretanto, não cumpriu tudo o que havia prometido: o
castigo acabou, mas alguns líderes da rebelião foram presos, e vários marinheiros expulsos da corporação militar.
Em reação, no dia 9 de dezembro, os marujos organizaram outra rebelião. Só que dessa vez o governo estava preparado para reagir, e o fez violentamente. Dezenas
de revoltosos foram mortos e centenas foram presos e mandados para a Amazônia. Mais de mil foram expulsos da marinha.
João Cândido foi preso numa masmorra da ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, sendo julgado e absolvido em 1912. Passou para a história como o Almirante Negro,
que acabou com o castigo da chibatada na Marinha do Brasil. Tornou-se tema de uma conhecida canção de João Bosco e Aldir Blanc, “Mestre-sala dos mares”.

4. Tenentismo (1922-1926)
Uma década depois da Revolta da Chibata, seguia crescendo o descontentamento de diversas camadas sociais com o tradicional sistema oligárquico que dominava
a política brasileira. Esse descontentamento era particularmente notado entre as populações dos grandes centros urbanos, que não estavam diretamente sujeitas às pressões
dos coronéis.
O clima de revolta atingiu as forças armadas, difundindo-se, sobretudo, entre jovens oficiais, a maioria tenentes. Estes acabaram liderando uma série de rebeliões,
como parte de um movimento político-militar, que ficou conhecido como tenentismo.
O movimento tenentista pretendia conquistar o poder pela luta armada e promover reformas na Primeira República. Entre suas principais reivindicações, incluíam-se:
• a moralização da administração pública e o fim da corrupção eleitoral;
• o voto secreto e uma Justiça Eleitoral confiável;
• a defesa da economia nacional contra a exploração das empresas e do capital estrangeiro;
• a reforma da educação pública, para que o ensino fosse gratuito e obrigatório a todos os brasileiros.
A maioria das propostas do tenentismo contava com a simpatia de grande parte das classes médias urbanas, dos produtores rurais que não pertenciam ao grupo
que estava no poder e de alguns empresários da indústria.
Nas palavras do historiador Boris Fausto, os tenentes pretendiam dotar o país de um poder centralizado, com o objetivo de educar o povo e seguir uma política vagamente
nacionalista. Tratava-se de reconstruir o Estado para construir a nação. Embora não chegassem nessa época a formular um programa antiliberal, os “tenentes” não acreditavam
que o “liberalismo autêntico” fosse o caminho para a recuperação do país. Faziam restrições às eleições diretas, ao sufrágio universal, insinuando a crença em uma via
autoritária para a reforma do Estado e da sociedade.
Fazem parte do movimento tenentista a Revolta de Copacabana, as Revoltas de 1924 e a Coluna Prestes. Nenhuma delas produziu efeitos imediatos na estrutura
política brasileira. Contudo, mantiveram acesa a chama da revolta contra o poder e os privilégios das oligarquias.

4.1Revolta do Forte de Copacabana (1922)


A primeira revolta tenentista teve início em 5 de julho de 1922, no Forte de Copacabana, que contava com uma tropa de aproximadamente 300 homens. Liderados
por 18 tenentes, os revoltosos do forte decidiram impedir a posse do presidente Artur Bernardes.
Tropas fiéis ao governo imediatamente cercaram o forte e isolaram os rebeldes, que não tiveram condições para resistir. Mesmo diante da superioridade das forças
governamentais, 17 tenentes e um civil saíram às ruas para um combate corpo-a-corpo com as tropas opositoras. Dessa luta suicida, apenas dois revoltosos escaparam com
vida: os tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Campos.
Esse episódio ficou conhecido como Revolta do Forte de Copacabana ou Os Dezoito do Forte.

4.2 Revoltas de 1924


Dois anos depois da Revolta do Forte de Copacabana, ocorreram novas rebeliões tenentistas em regiões como o Rio Grande do Sul e São Paulo.
Em São Paulo, a revolta eclodiu também num dia 5 de julho, liderada pelo general Isidoro Dias Lopes, o tenente Juarez Távora e políticos como Nilo Peçanha.
Com uma guarnição de aproximadamente mil homens, os revolucionários rapidamente ocuparam os lugares mais estratégicos da cidade, travando diversas batalhas com as forças
governamentais.
O governo paulista viu-se obrigado a fugir da capital para uma localidade próxima, de onde pode organizar melhor a reação contra os rebeldes. Recebendo reforços
militares do Rio de Janeiro, preparou uma violenta contraofensiva.
Depois de mais de vinte dias no controle da cidade, os rebeldes perceberam que não teriam mais condições de resistir e decidiram abandoná-la. Formou-se, então,
uma numerosa e bem armada tropa de rebeldes, a chamada Coluna Paulista, liderada pelo general Miguel Costa, que seguiu em direção ao sul do país, ao encontro de outra
coluna militar tenentista: era a tropa liderada pelo capitão Luís Carlos Prestes, que partira do Rio Grande do Sul.

4.3 Coluna Prestes (1924-1926)


As forças tenentistas de São Paulo e do Rio Grande do Sul uniram-se em Foz do Iguaçu, no Paraná, e decidiram percorrer juntas o país. Em busca de apoio
popular para novas revoltas contra o governo, sob a liderança de Miguel Costa e Luís Carlos Prestes (Juarez Távora, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias). Nascia,
assim, a chamada Coluna Prestes, nome pelo qual ficou mais conhecida entre os historiadores. Além da deposição do presidente Artur Bernardes, os tenentes reivindicavam o
voto secreto, eleições honestas, castigo para os políticos corruptos e liberdade para os oficiais presos em 1922.
Durante mais de dois anos (de 1924 a 1926), a Coluna Prestes percorreu 24 mil quilômetros, através de 12 estados brasileiros. Foi perseguida sem descanso durante
esse período pelas forças do governo, mas, por meio de manobras militares, sempre conseguiu escapar. A população que os tenentes pensavam defender reagia ora com
indiferença, ora com hostilidade. Em 1926, porém, os homens que ainda permaneciam na coluna decidiram entrar na Bolívia e finalmente, desfazer as tropas.
A Coluna Prestes não conseguiu provocar revoltas capazes de ameaçar seriamente o governo, mas também não foi derrotada por ele. Isso demonstrava que o poder na
Primeira República não era inatacável. Luís Carlos Prestes posteriormente voltou ao país, tornando-se um dos principais líderes do Partido Comunista. Miguel Costa também
retornou depois ao Brasil e aderiu, em 1935, à Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização política anti-integralista.

Merece destaque: a Coluna Prestes foi originalmente chamada de Coluna Miguel Costa-Prestes.

5. Afirmação da Cultura Brasileira


O ano de 1922 foi marcado por importantes acontecimentos políticos no cenário nacional como a primeira revolta dos tenentes e a fundação do Partido Comunista
Brasileiro. As cidades cresciam e se modernizavam: São Paulo já tinha cerca de 600 mil habitantes, e o Rio de Janeiro, mais de 1 milhão.
Esse espírito de contestação e mudança atingiu também o universo cultural. Foi nesse contexto que surgiu, no Brasil, o movimento modernista, que desejava a
remodelação da arte brasileira, reagindo às formas tradicionais das artes plásticas e da literatura, grandemente dominadas pela influência estrangeira.

5.1 Semana de Arte Moderna


Esse movimento teve como marco inicial a Semana de Arte Moderna, realizada na cidade de São Paulo entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922. Tendo como
palco o Teatro Municipal de São Paulo, a Semana contou com recitais de poesia, exposições de pintura e escultura, festivais de música e conferências sobre artes.
Os nomes que mais se destacaram na Semana de Arte Moderna foram os dos escritores Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho e Oswald de
Andrade; dos músicos Heitor VilIa-Lobos e Ernani Braga; e dos artistas plásticos Emiliano Di Cavalcanti, Aflita Malfatti, Tarsila do Amaral e Victor Brecheret.

5.1.2 Propósitos Modernistas


Um dos principais objetivos do movimento modernista era reagir criticamente contra os padrões considerados arcaicos de nossa arte (pintura, escultura, literatura)
e a invasão cultural estrangeira, que despersonalizava a expressão artística no Brasil. Mas para líderes do modernismo, como os escritores Mário de Andrade e Oswald de
Andrade, abrasileirar nossa arte não significava provincianismo ou isolamento cultural. O que eles defendiam era o diálogo com o mundo, afirmando as singularidades nacionais
dentro do contexto internacional.
As obras e ideias dos jovens artistas apresentadas na Semana de Arte Moderna provocaram forte reação dos setores conservadores, mas conseguiram se impor com o
tempo.

Merece destaque:

* Em junho de 1898, o funding loan, acordo entre o governo brasileiro e os bancos credores, notadamente a casa N. M. Rotschild & Sons, que, entre outra
coisas estabelecia: *a concessão de um empréstimo “monstro” de 10 milhões de libras esterlinas, a ser utilizado para o pagamento dos juros da dívida externa
brasileira nos três anos seguintes; *a concessão de um prazo de 10 anos, além dos três iniciais, ou seja, a partir de 1911, para que se iniciasse o pagamento da
nova dívida; *a penhora, a título de garantia para com os bancos credores, de toda a receita da alfândega do Rio de Janeiro, além de, em caso de necessidade,
outras alfândegas, das receitas da Estrada de Ferro Central do Brasil e até do serviço de abastecimento de água do Rio de Janeiro; *a obrigação assumida
perante os bancos de sanear a moeda brasileira, isto é, fortalece-la pelo combate a inflação, com o objetivo de estabilizar a economia.

* Convênio de Taubaté – Os governadores dos três principais estados produtores (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) concordam em garantir a
compra de toda a produção cafeeira com o objetivo de criar estoques reguladores. O café desses estoques seria vendido no mercado internacional conforme
surgisse a demanda. Em outras palavras: antes do Convênio de Taubaté a enorme produção brasileira era comercializada desordenadamente no mercado
mundial, com o excesso de oferta causando uma baixa nos preços. A partir do convênio, esse excesso seria evitado através da administração do estoque, que
poderia, inclusive, ser utilizado para provocar uma falta do produto no mercado internacional, com a consequente elevação dos preços.

* Durante a Coluna Prestes, Luís Carlos Prestes ficou conhecido como O “cavaleiro da esperança”.

Você também pode gostar