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INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ (IBC)

Autarquia do governo federal, com sede no Rio de Janeiro, criada pela Lei nº 1.779, de 22 de
dezembro de 1952, em substituição à Divisão de Economia Cafeeira (DEC), instituída em
setembro de 1946. O IBC vinculava-se ao Ministério da Indústria e do Comércio, com jurisdição
em todo o território nacional. Extinto em 1990 pelo presidente Fernando Collor, seu objetivo era
executar a política cafeeira nacional.
O Convênio de Taubaté e seus antecedentes
Em meados do século XIX, o cultivo do café no Brasil foi bastante estimulado pela abertura dos
mercados norte-americanos, em primeiro lugar, e europeu. Em contrapartida, os altos preços do
produto contribuíram para o crescimento descontrolado das plantações, provocando crises cíclicas
de superprodução e, em conseqüência, gerando dificuldades para o setor. Nessas ocasiões, os
cafeicultores exerciam pressão sobre o governo e requisitavam empréstimos externos para
financiar a compra da produção excedente, procurando manter o equilíbrio entre a oferta e a
procura do produto.
Com a proclamação da República e a promulgação da Constituição de 1891, que garantiu ampla
autonomia às unidades da Federação, os estados produtores passaram a definir as diretrizes a serem
adotadas quanto à política cafeeira. Cada estado cuidava dos seus próprios interesses, não
merecendo o assunto maior preocupação por parte do governo federal. Ainda no final do século
XIX, contudo, começou a ser reivindicada uma intervenção governamental no setor cafeeiro, em
vista dos problemas causados pelas flutuações cíclicas dos preços. Segundo Elisa Pereira Reis,
“inicialmente a intervenção era vista como uma ação transitória, de emergência, destinada tão-
somente a restaurar as condições mínimas necessárias à livre iniciativa econômica”. As sugestões
não tardaram a surgir. Em 1897, por exemplo, por iniciativa do estado de São Paulo, com as
adesões do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, houve uma reunião na qual foi
discutida a organização de um serviço de propaganda do produto que, no entanto, não teve maiores
resultados práticos. No ano seguinte, preconizou-se a destruição de 20% da produção — idéia que
seria mais tarde colocada em prática pelo governo provisório em 1931. Em 1900, foram
apresentados na Câmara diversos projetos de auxílio financeiro à lavoura cafeeira.
Dentro desse quadro, em 1902 o governo paulista lançou mão de uma medida intervencionista,
proibindo novas plantações e replantas de café pelo prazo de cinco anos, depois prorrogados por
mais cinco. A iniciativa, porém, de acordo com a autora antes citada, obteve um “sucesso
duvidoso”. Movimentos semelhantes repetiram-se até 1905, mas não foram suficientes para evitar
o aprofundamento da crise do setor.
Diante da gravidade da situação, os grandes estados produtores decidiram estabelecer uma política
comum de defesa do café. Com essa finalidade, os presidentes de São Paulo, Jorge Tibiriçá, de
Minas Gerais, Francisco Sales, e do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha, reunidos durante os dias 26 e 27
de fevereiro de 1906, na cidade paulista de Taubaté, firmaram um acordo que ficou conhecido
como o Convênio de Taubaté. Esse convênio pode ser considerado como a primeira intervenção
estatal, embora não em nível federal, em um determinado setor da economia nacional. Seus
principais objetivos eram valorizar o café, regular seu comércio e promover o aumento de seu
consumo. Além disso, também ficou decidida a criação de uma caixa de conversão, organismo que
funcionaria como estabilizador cambial, tendo por função controlar as reservas-ouro advindas dos
futuros empréstimos estrangeiros ou dos saldos comerciais.
Segundo Celso Furtado, a política de valorização do café, cujas bases foram definidas no Convênio
de Taubaté, funcionaria da seguinte forma: o governo interviria no mercado comprando os
excedentes com o objetivo de restabelecer o equilíbrio entre a oferta e a procura; o financiamento
dessas compras seria feito através de empréstimos estrangeiros; o serviço desses empréstimos seria
coberto com um novo imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café exportada; finalmente,
para solucionar o problema a mais longo prazo, os estados deveriam desencorajar a expansão das
plantações. Em síntese, essa operação visava essencialmente à manutenção da renda do setor.
Após algumas discussões, o acordo de 1906 acabou sendo aprovado pelo presidente Francisco de
Paula Rodrigues Alves, através do Decreto nº 1.489, de 6 de agosto desse mesmo ano, que divergia
do documento original apenas no trecho referente à caixa de conversão.
A política de valorização do café
Após a valorização de 1906, ocorreram ainda mais duas intervenções governamentais no setor
cafeeiro, antes que o Estado tornasse permanente a política de defesa do produto. Com a Primeira
Guerra Mundial precipitou-se outra grave crise na economia cafeeira. Devido ao conflito,
verificou-se uma estagnação das exportações de café e uma baixa nos preços, determinada pelos
Estados Unidos, que tiveram seu poder de pressão aumentado com a retração dos mercados
europeus. Esses fatores, somados à dificuldade em obter empréstimos externos, levaram os
paulistas a reivindicar nova valorização, ao pressionarem o presidente Venceslau Brás (1914-1918)
para que emitisse papel-moeda a fim de serem atendidas as necessidades financeiras de São Paulo.
Embora a iniciativa dessa segunda valorização, ocorrida em 1917, tenha partido de São Paulo, o
governo federal também participou do encaminhamento da operação e dos lucros obtidos com a
venda dos estoques. A União emprestou ao governo paulista 110 mil contos de réis para a compra
dos estoques que permaneceram sob o controle do governo federal.
Com o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, os preços do café voltaram a se elevar. Essa
tendência, contudo, foi sustada pela crise mundial de 1920. No ano seguinte, nova superprodução
do café impôs a terceira intervenção no mercado. Essa intervenção caracterizou-se por ter sido uma
iniciativa da União, da qual os estados produtores ficaram afastados. O governo federal, à época
chefiado por Epitácio Pessoa (1919-1922), comprou os estoques excedentes por meio de um
empréstimo, a juros altos, negociado em fevereiro de 1921 com o grupo inglês Rothschild, ficando
a venda do café sob a responsabilidade de uma firma anglo-americana, a Brazilian Warrant Co.
Uma comissão de banqueiros estrangeiros encarregou-se da liquidação paulatina desses estoques.
Além disso, essa terceira operação de valorização incluiu a construção de armazéns para a
regularização da entrada do café nos portos, evidenciando que a ação intervencionista estava
deixando de ser excepcional para assumir um caráter permanente.
Em sua mensagem presidencial de 1921, Epitácio Pessoa propôs a criação de um conselho
destinado à defesa permanente do café. Essa iniciativa tomou forma em 19 de junho de 1922,
quando o Congresso Nacional aprovou a criação do Instituto de Defesa Permanente do Café
(IDPC), através do Decreto nº 4.548. A atuação desse órgão — administrado por um conselho
presidido pelo ministro da Fazenda e tendo o ministro da Agricultura como vice-presidente, e
composto ainda por mais cinco membros nomeados pelo presidente da República — consistia na
contratação de empréstimos, mediante condições, prazo e juros determinados pelo conselho e
garantidos pelo café depositado em armazéns privados, da União ou dos estados; na compra de
café para retirada provisória do mercado; e na estruturação de um serviço de informação e
propaganda do café para aumento do consumo e combate às falsificações.
Em 1924, chegou ao fim a terceira valorização do café, com a venda do restante do estoque
adquirido pelo governo federal e o resgate do empréstimo externo contraído para sua compra.
O Instituto Paulista de Defesa Permanente do Café (IPDPC)
Motivado pelas grandes safras que se anunciavam, pela atuação considerada incipiente do IDPC e
ainda pelo temor de perder o controle sobre seu produto, o governo de São Paulo retomou em 1924
a iniciativa de promover uma política de defesa do café. Em novembro daquele ano, o presidente
do estado, Carlos de Campos, negociou com o governo federal a compra dos armazéns reguladores
de café, operação efetivada pelo Decreto nº 4.868, assinado pelo presidente Artur Bernardes em 7
de novembro. Através desse mesmo decreto, foi extinto o IDPC.
Dentro dessa mesma linha de preocupação, o governo paulista criou ainda em 1924 o Instituto
Paulista de Defesa Permanente do Café (IPDPC), dirigido por um conselho de cinco membros: o
secretário da Fazenda e do Tesouro como presidente, o secretário da Agricultura como vice-
presidente, dois representantes da lavoura cafeeira e um representante da Associação Comercial de
Santos. Suas principais metas eram regularizar as entradas de café no porto de Santos, conseguir
empréstimos a juros módicos aos cafeicultores, tendo como garantia o café depositado nos
armazéns reguladores, e comprar café em Santos ou no interior do estado, sempre que isso fosse
julgado necessário para a regularização da oferta.
A política do IPDPC se traduziu na construção de novos armazéns retentores, na distribuição
compensada da safra, no prazo máximo de um ano e na ação de seus agentes na Bolsa do Café em
Santos para a elevação do preço do produto. Essas diretrizes não agradaram aos exportadores e
distribuidores norte-americanos, que intervieram no mercado de Santos, forçando a baixa dos
preços. O governo paulista respondeu mantendo os preços, em contrapartida os norte-americanos
iniciaram uma campanha nos Estados Unidos contra o café brasileiro, ao mesmo tempo que
intensificavam as compras de café da Colômbia, investindo capitais nesse país para a formação de
cafezais.
Em 1926, o IPDPC passou a se denominar Instituto do Café do Estado de São Paulo, ocasião em
que o governo paulista passou a controlá-lo totalmente. Os representantes diretos da lavoura foram
afastados e formou-se um conselho consultivo da inteira confiança da administração estadual. As
atribuições fiscais ficaram nas mãos do secretário da Fazenda, como presidente do instituto, e do
secretário da Agricultura, como vice-presidente, cabendo ao governo nomear os outros três
membros.
Até 1928, os mecanismos utilizados pelo instituto funcionaram eficazmente, embora sustentados
pelo recurso ao financiamento externo e pela crescente estocagem de sacas de café. A crise de 1929
rompeu o equilíbrio do sistema, provocando a contenção dos créditos e a baixa de preços, o que
veio a agravar o problema dos estoques invendáveis, que alcançavam então 22 milhões de sacas.
Diante da grave situação do setor cafeeiro, os produtores paulistas pediram moratória de suas
dívidas e a emissão de papel-moeda. As pretensões dos cafeicultores, contudo, esbarraram na
política financeira, de cunho deflacionário, adotada pelo presidente Washington Luís, cuja
orientação era diminuir o valor das cotações do café, a fim de que a baixa dos preços favorecesse
as vendas. Essa política, no entanto, não foi eficaz, na medida em que a conjuntura do período foi
marcada pela escassez de dinheiro e por uma queda do consumo mundial do café.
O problema apresentava-se sem perspectivas de superação no correr do ano de 1930. O primeiro
empréstimo obtido nesse ano foi destinado ao pagamento dos débitos vencidos; o segundo
contraído às vésperas do movimento revolucionário de outubro. O vencimento das dívidas e o
agravamento da crise provocaram numerosas falências.
A criação do Conselho Nacional do Café (CNC)
Em outubro de 1930, eclodiu o movimento revolucionário que afastou Washington Luís da
presidência no dia 24, passando a chefia do governo provisório a Getúlio Vargas, principal líder
civil da revolução, em 3 de novembro.
No poder, Vargas iniciou a nomeação de interventores para o governo dos estados. No dia 25 de
novembro, o “tenente” João Alberto Lins de Barros foi nomeado para a interventoria em São
Paulo. Essa nomeação significou a progressiva marginalização do segmento da oligarquia política
local que havia participado do movimento, representado pelo Partido Democrático (PD), que viu
assim frustradas suas expectativas de controlar o aparelho burocrático-administrativo estadual no
lugar do Partido Republicano Paulista (PRP), comprometido com o governo deposto.
Com a interventoria de João Alberto e o estabelecimento do conflito entre as correntes políticas
tradicionais no estado, de um lado, e as forças tenentistas e o governo federal que as apoiava, de
outro, o Instituto do Café de São Paulo passou a ser alvo de acirradas disputas visando à obtenção
do seu controle. Mantendo de início boas relações com o PD, em janeiro de 1931 João Alberto
baixou um decreto, por solicitação dos democráticos, que alterava a estrutura do instituto,
suprimindo o conselho consultivo do órgão e criando em seu lugar um conselho diretor composto
pelo secretário da Fazenda, dois representantes dos interesses da lavoura cafeeira e mais um
representante dos interesses da praça de Santos.
Paralelamente, a crise cafeeira continuava sem solução. A alternativa oferecida pelo governo aos
produtores, às voltas com o problema da superprodução, foi a queima de parte dos estoques, o que
causou grande polêmica, inclusive nos meios oficiais.
Em abril de 1931, o governo paulista patrocinou a realização de uma convenção de estados
cafeeiros, que teve lugar no Rio. Durante o encontro — que contou com a participação, além de
São Paulo, dos estados de Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo e Rio de Janeiro — foi aprovada
uma moção de apoio à ação do governo. No dia 24, aqueles estados assinaram um convênio que
deu origem ao Conselho Nacional do Café (CNC), regulamentado por Vargas por meio do Decreto
nº 20.003, de 16 de maio seguinte.
Pelo seu regulamento, o novo órgão seria dirigido por um conselho composto por um delegado
especial, designado pelo governo federal como presidente, e mais um delegado de cada um dos
estados produtores (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Espírito Santo) e um único
delegado representando os estados da Bahia, Pernambuco e Goiás. Era vedado a “pessoas
diretamente interessadas no comércio do café” tomar parte do conselho. O CNC tinha
personalidade jurídica, ampla autonomia e sua jurisdição estendia-se a todo o território nacional.
Entre suas atribuições, incluíam-se a arrecadação e a administração da taxa sobre as sacas de café
exportadas, a contratação de empréstimos e a compra de estoques do produto.
Com a criação do CNC, a política de proteção do café voltou à órbita do governo federal, embora
isso não tenha significado a extinção do Instituto do Café de São Paulo. Em 24 de julho de 1931,
dia em que deixou a interventoria, João Alberto baixou um decreto que conferia novo estatuto ao
instituto, que passava a ser dirigido por seis membros, com mandato de três anos, sendo cinco
lavradores de café e um representante do comércio de Santos. Além disso, foi determinado que a
escolha dos fazendeiros representantes da lavoura, a chamada delegação eleitoral, nos congressos
do instituto seria feita por eleições nas quais cada eleitor disporia de tantos votos quantos fossem o
número de cafeeiros que possuísse — 20 mil cafeeiros equivaleriam a um voto —, constituindo um
distrito eleitoral cada comarca que contivesse no mínimo cinco milhões de pés de café.
Substituído na chefia do governo paulista por Laudo de Camargo, João Alberto ligou-se à
Comissão de Organização da Lavoura Paulista, depois Federação das Associações de Lavradores
de São Paulo, que conseguiu ganhar o controle do Instituto do Café. Em dezembro de 1931 — já
na interventoria do general Manuel Rabelo —, houve eleições para a renovação da direção do
instituto. Devido à crescente hostilidade quanto à sua atuação, o grupo de João Alberto acabou
tendo que recuar, saindo vencedora uma chapa de composição, integrada por dois representantes da
Sociedade Rural Brasileira (SRB), entidade patronal vinculada ao PD, dois da federação e um
independente.
No mês seguinte, durante a realização de uma convenção de delegados eleitorais dos cafeicultores,
a federação propôs a extinção do instituto e a absorção do seu patrimônio, esbarrando na posição
da SRB, que defendeu a manutenção da entidade. A partir desse momento, vitoriosa em sua
posição, a SRB passou praticamente a ditar as principais diretrizes do instituto, tendência
consolidada a partir de março de 1932, quando teve início a interventoria de Pedro de Toledo.
Departamento Nacional do Café (DNC)
O agravamento das relações de São Paulo com o governo federal evoluiu em julho de 1932 para o
confronto armado. A eclosão da Revolução Constitucionalista acirrou os problemas enfrentados
pelo setor cafeeiro, sobretudo no tocante à comercialização, tendo cessado todos os contatos entre
o Instituto do Café e o CNC. Durante o conflito, a diretoria do instituto — que continuava nas
mãos da SRB — atendeu às solicitações de auxílio financeiro feitas pelo comando revolucionário
estadual e suspendeu o pagamento de todos os impostos federais. A revolução chegou ao fim no
início de outubro de 1932, com a derrota das tropas paulistas e a ocupação do território do estado
por forças federais.
Nomeado governador militar — depois interventor — em São Paulo em 6 de outubro de 1932, o
general Valdomiro Lima teve numerosos atritos com o empresariado paulista, sobretudo da
lavoura, durante sua gestão. Cafeicultores que integravam a extinta Federação das Associações da
Lavoura de São Paulo pediram a Valdomiro que realizasse uma sindicância no Instituto do Café do
Estado de São Paulo, colocando-o sob suspeição por ter apoiado a Revolução Constitucionalista e
desviado dinheiro de seus cofres para fins bélicos.
Encerrado em janeiro de 1933, o inquérito incriminava diretamente a diretoria do instituto acusada
de desviar fundos e de efetuar operações comerciais ilícitas, envolvendo importante firma do
estado, a Murray & Simonsen, vinculada aos banqueiros ingleses Lazard Brothers e Cia. Como
conseqüência, todos os membros da diretoria do instituto foram afastados através de decreto de 20
de fevereiro de 1933, tendo sido nomeada para substituí-los uma diretoria provisória, composta por
um presidente e dois diretores, de livre nomeação e demissão do governo.
Em termos da política federal relativa ao café, fevereiro de 1933 também foi um mês importante.
No dia 10, através do Decreto nº 22.452, o CNC — considerado excessivamente comprometido
com os interesses locais dos estados produtores — foi extinto, sendo criado em sua substituição o
Departamento Nacional do Café (DNC). Autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda, o
novo órgão eliminou a ação dos representantes dos estados e iniciou um programa que abrangia a
aquisição, a armazenagem e o escoamento do café, além de impor limitações ao plantio. A direção
do DNC era exercida por três diretores, livremente nomeados pelo governo federal, que agiam sob
a supervisão do Ministério da Fazenda. Cabia ao departamento dar continuidade aos serviços a
cargo do CNC e exercer fiscalização efetiva sobre os institutos e associações de café existentes no
país no sentido de observarem suas instruções e decisões.
Em São Paulo, continuavam os atritos entre o interventor e a oligarquia do estado. No mês de
agosto, foi amplamente noticiada pela imprensa do Rio e de São Paulo a ligação de elementos do
PD com negociatas de café. A divulgação desses fatos, aliada ao temor de um possível escândalo,
levou o PD a pressionar Getúlio Vargas para que Valdomiro Lima fosse afastado. Com a mudança
da correlação de forças, que implicava o sensível enfraquecimento do tenentismo junto ao governo
federal, o chefe do Governo Provisório preferiu prestar apoio à oligarquia paulista.
Em agosto de 1933, Armando de Sales Oliveira foi nomeado interventor no estado e um dos seus
primeiros atos foi dissolver a comissão de sindicância que apurava as denúncias de negociatas. Por
outro lado, interveio no Instituto do Café, sustando os atos da diretoria anterior do órgão, e
anunciou uma nova reforma dos estatutos. Paralelamente, conseguiu a nomeação de um
representante paulista junto ao DNC que, a essa altura, era realmente o órgão executor da política
cafeeira em todo o país, situação que se manteria com crescente vigor ao longo dos anos seguintes.
Durante a década de 1930, a participação do Brasil no mercado mundial de café passou de cerca de
60% no início do período (1931-1935) para 50% em 1937, em benefício da Colômbia e de países
africanos. Em novembro de 1937, ante a queda das exportações brasileiras e a continuação da
queima de sacas de café, o DNC decidiu deixar de lado a política de manutenção do mercado,
baixando os preços do produto e reduzindo os impostos de exportação, visando a tornar o café
brasileiro mais competitivo no exterior. Essas medidas tiveram êxito e nos anos seguintes, 1938 e
1939, o país já aumentava sua participação no mercado mundial.
Ainda em novembro de 1937, Vargas decretou o Estado Novo, regime autoritário que vigorou até
1945 e no qual a estrutura de poder se centrava nas mãos do Executivo. Nesse novo quadro
institucional, a atuação do DNC passou a depender mais diretamente do Ministério da Fazenda, ao
mesmo tempo que se registrava uma crescente participação do Ministério das Relações Exteriores
no tocante à exportação do café.
A eclosão da Segunda Guerra Mundial provocou um sério abalo no setor cafeeiro do Brasil e de
outros países latino-americanos. Nesse contexto, os Estados Unidos apareciam como o único
mercado consumidor de peso para o produto. Em 1940, a cotação do café atingiu níveis
baixíssimos. Em novembro desse ano, foi assinado em Washington o Acordo Interamericano do
Café, envolvendo o Brasil, os Estados Unidos e outros países produtores. Fundamentalmente, o
acordo previa a atribuição de uma quota básica aos países-membros exportadores e a criação de
uma junta executiva, constituída por delegados dos governos participantes — do total de 36 votos,
12 eram atribuídos aos Estados Unidos, nove ao Brasil, três à Colômbia e um aos demais países.
Previa ainda que o controle das limitações à entrada de café nos Estados Unidos caberia às
autoridades daquele país.
Com a entrada dos Estados Unidos no conflito em dezembro de 1941, o governo norte-americano
estabeleceu tabelas de preços para o café e diversos outros produtos. Durante toda a guerra, a
orientação do DNC ficou muito presa, no tocante à exportação do produto, aos rumos seguidos
pela política econômica dos Estados Unidos.
A criação do Instituto Brasileiro do Café (IBC)
O DNC foi extinto em 15 de março de 1946, já no governo do general Eurico Dutra, através do
Decreto-Lei nº 9.068. Em 6 de setembro, por intermédio do Decreto-Lei nº 9.784, foi criada,
sempre no âmbito do Ministério da Fazenda, a Divisão da Economia Cafeeira (DEC). Essa divisão
absorveu parte das funções do antigo DNC, passando a executar a política cafeeira do governo.
Entre outras atribuições, cabia-lhe regulamentar e fiscalizar o trânsito do café das fontes de
produção aos portos; manter os limites dos estoques nos portos; e fiscalizar os preços de
exportação para efeito de controle cambial. Durante a existência desse órgão, a política externa do
café foi executada pelo Ministério das Relações Exteriores. Além disso, as atividades da divisão a
serem implementadas nos estados poderiam ser transferidas aos governos estaduais ou às
instituições cafeeiras.
Durante o segundo governo Vargas (1951-1954), foi criado o Instituto Brasileiro do Café (IBC),
por meio da Lei nº 1.779, de 22 de dezembro de 1952. O novo organismo foi originado para
executar toda a política econômica do produto, correspondendo a um novo espírito de intervenção.
Para Antônio Delfim Neto, “ao contrário do que ocorrera anteriormente, a defesa praticada [a partir
da criação do IBC] se fez em nome da manutenção de um nível mínimo de receita de divisas,
necessárias para assegurar o desenvolvimento da industrialização no país”.
Competia ao IBC realizar a política cafeeira tanto em âmbito nacional quanto internacional. Suas
atribuições incluíam a promoção de pesquisas e experimentações no campo da agronomia e da
tecnologia do café, a fim de baratear seu custo e aumentar a produção por cafeeiro; a radicação do
cafeeiro em zonas ecológica e economicamente mais favoráveis à produção; a defesa de um preço
justo para o produtor, condicionado à concorrência da produção alienígena e dos artigos
congêneres; e a realização de pesquisas e estudos econômicos para um melhor conhecimento dos
mercados consumidores de café e de seus sucedâneos, objetivando a regularidade das vendas e a
conquista de novos mercados.
Segundo a Lei nº 1.779, a administração da entidade era exercida por dois órgãos, a junta
administrativa e a diretoria. A junta, órgão supremo da direção do IBC, era constituída por um
delegado especial do governo federal no cargo de presidente, de representantes da lavoura cafeeira,
de cinco representantes do comércio do café, um de cada uma das praças de Santos, Rio de Janeiro,
Paranaguá e Vitória e mais um representante do conjunto das demais praças. Esse órgão era
integrado ainda por um representante de cada um dos governos dos estados de São Paulo, Minas
Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo, mais dois representantes para os estados de
Pernambuco, Bahia, Goiás, Santa Catarina e Mato Grosso, reunidos. Já a diretoria era constituída
de cinco membros, sendo que três, no mínimo, deveriam ser obrigatoriamente lavradores de café, e
todos nomeados pelo presidente da República. A essa diretoria competia a observância e execução
integral das deliberações da junta.
Com a criação do Ministério da Indústria e do Comércio em julho de 1960, no final do governo de
Juscelino Kubitschek, o IBC passou à jurisdição desse novo ministério por determinação da Lei nº
3.782, de 22 de junho de 1960, que entrou em vigor em 1º de fevereiro do ano seguinte, já no
governo do presidente Jânio Quadros.
Ainda em 1961, através do Decreto nº 79, de 26 de outubro, foi criado no Ministério da Indústria e
Comércio o Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura (Gerca), sediado no IBC.
Competia a esse novo organismo estudar e recomendar medidas a serem seguidas pelos órgãos
estaduais e federais no sentido de fortalecer e diversificar a estrutura econômica das zonas
cafeeiras do país. Cabia também ao Gerca promover a concentração da produção do café nas zonas
ecológicas mais favoráveis, adequar as possibilidades de absorção pelos mercados interno e
externo, e financiar ou complementar financiamentos para a diversificação da produção através de
entidades de crédito.
Quando da sua criação, o Gerca era composto por um conselho deliberativo e uma secretaria
executiva. O conselho era integrado pelo presidente do IBC, pelo presidente da junta
administrativa do instituto, por diretores do órgão e por representantes de várias entidades federais,
nomeados pelo presidente da República, além de um representante de cada um dos maiores estados
produtores, indicados pelos respectivos governos.
No início da década de 1960, a ação do IBC passou a ser orientada conjuntamente pelo Ministério
da Indústria e Comércio, pela Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) e pelo Banco do
Brasil. Após 1964, suas decisões tornaram-se dependentes de aprovação do Conselho Monetário
Nacional.
Através do Decreto nº 60.737, de 23 de maio de 1967, já no governo do marechal Artur da Costa e
Silva, as atribuições da junta administrativa do IBC foram transferidas para a diretoria do órgão.
Em conseqüência, a junta passou a denominar-se junta consultiva e a ter funções exclusivas de
consulta e assessoramento nas matérias anteriormente sujeitas à sua deliberação. Por meio desse
mesmo decreto, a aprovação do orçamento, a fiscalização da sua execução, a apreciação do
relatório e contas da diretoria e demais atribuições de supervisão e controle da gestão
administrativa tornaram-se competência direta do Ministério da Indústria e Comércio.
No ano de 1976, no governo do general Ernesto Geisel, a estrutura básica do IBC foi alterada
através do Decreto nº 77.339, de 25 de março. Por esse decreto, o instituto passou a ser constituído
por cinco grandes grupos de órgãos: ligação direta à presidência (gabinete, procuradoria, assessoria
de segurança e informações, coordenadoria de comunicação social; planejamento, coordenação e
controle (coordenadoria de estudos da economia cafeeira e coordenadoria de planejamento interno
e controle administrativo); unidades de assessoramento e consulta (junta consultiva); órgãos
executivos (diretoria de produção, diretoria de exportação, diretoria de consumo interno, diretoria
de administração); setores descentralizados (agências regionais, agências locais, serviços locais de
assistência à cafeicultura, escritórios no exterior).
Crise do modelo intervencionista
Na década de 1980, o Estado brasileiro viveu a crise do endividamento econômico e social, as
crises inflacionárias e a defesa embrionária de um novo modelo econômico fundamentalmente
centrado no estado liberal. Esse novo mapa não incluiu instituições que subsidiassem políticas
econômicas setoriais.
O Plano Cruzado, reforma econômica colocada em prática para combater os índices inflacionários
na casa de 250% ao ano, em 28 de fevereiro de 1986, criou um novo padrão monetário, o cruzado.
Mil vezes maior que o cruzeiro, então abolido, o cruzado trouxe a extinção da correção monetária,
a estabilização cambial e o congelamento de preços e salários. No final da década, o IBC já havia
perdido muito de suas funções reguladoras à medida que superprodução e rebaixamento da
qualidade, ao lado do surgimento de outras culturas lucrativas, como o algodão, levaram ao fim
paulatino do exclusivismo do café. A monocultura deu lugar à policultura e, aliada à
industrialização, ajudou a fixar o habitante das áreas cafeeiras. A urbanização compensou os
efeitos perniciosos do esgotamento do solo de várias regiões. A fisionomia do Centro-Sul fora
determinada em séculos anteriores pelas bandeiras e pela mineração, e ela se desenhou no século
XIX e na primeira metade do século XX com as linhas retas dos cafezais. Superadas as
dificuldades da monocultura, o café permanece como uma das riquezas do Brasil, contribuindo
para o ingresso de parte substancial das divisas geradas pelas exportações.
Em janeiro de 1990, ainda sob a direção do IBC, o governo mudou as regras para as exportações
de café, passando a exigir o embarque do produto no mês declarado. As multas por saca de 60kg e
a transferência para o mês seguinte tentavam assegurar o respeito aos contratos de exportação do
produto. Em fevereiro, uma auditoria do Ministério do Desenvolvimento apontou o IBC como
responsável por operações irregulares que causaram um rombo de quinhentos milhões de dólares
na tentativa de elevar a cotação do café brasileiro no mercado externo.
Ao final do governo Sarney, já haviam estudos determinando a extinção de diversos órgãos
considerados origem das sangrias dos recursos públicos. Entre eles figurava o Instituto Brasileiro
do Café.
Extinção
O Instituto Brasileiro do Café foi extinto pelo Decreto nº 99.240, publicado no Diário Oficial em 8
de maio de 1990, de acordo com um programa oficial de reformulação da máquina estatal imposta
pelo governo Collor.
O governo brasileiro teve que arcar com ações judiciais movidas por credores do IBC no exterior e
segue negociando uma dívida da ordem de quinhentos milhões de dólares.
Em 1998, as exportações de café somaram 7,3 milhões de sacas de 60kg, de julho a outubro, um
aumento de 56% em relação ao mesmo período do ano anterior. A safra total de café para aquele
ano deveria ficar em torno de 35 milhões de sacas, a maior da década, e o consumo de café no
Brasil no ano 2000 estava estimado em 15 milhões de sacas (dados do Sindicato da Indústria de
Café de São Paulo).
Com o fim do IBC, os produtores deixaram de ter no governo a gerência de uma política exclusiva
para o produto, que passou a ser administrado em cada estado de acordo com os interesses
específicos de cada setor.
Lígia Martins Cabral/Ana Cristina Sá

FONTES: ALBUQUERQUE, M.Pequena; CARONE, E.República nova; CARONE, E.República


velha;Encic. Barsa(1999);Estado de S. Paulo(8/2/90);Folha de S. Paulo(25/1/90, 10/2 e 30/9/97);
FURTADO, C.Formação;Globo(9/6/91); INST. BRAS. CAFÉ.Legislação; INST. BRAS.
CAFÉ.Que;Jornal do Brasil(10/2/97); REIS, E.Política; RODRIGUES JÚNIOR, G.Origem.

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