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Fichamento dos capítulos 30, 31 e 32 do livro Formação Econômica do Brasil de Celso

Furtado

No final do século XIX o cenário era adequado à expansão da cultura do café no


Brasil. O estímulo da grande inflação de crédito beneficiou os cafeicultores,
proporcionando possibilidades para expansão de novas terras e enquanto o preço não
baixasse, à preferida do país seria o café.

O Brasil teve muitos momentos de glórias com tal mercado, o que permitiu "controlar
três quartas partes da oferta mundial", afirma Celso Furtado em seu livro Formação
Econômica do Brasil, no entanto, com a crise de 1893 os preços do mercado mundial
começaram a declinar, e em 1897 uma nova depressão torna impraticável o crescimento
do café, o qual se avolumava nos estoques, agora o país vive a primeira crise de
superprodução.

Para restabelecer o mercado foi celebrado um convênio em Taubaté em fevereiro de


1906, conhecido como política de "valorização", posto em prática pelos estados
cafeicultores e liderados por São Paulo, sem apoio do governo federal, que buscaram a
linha de crédito internacional e iniciaram o projeto, o sucesso da ação postergou o poder
da classe até 1930, já que com a crise mundial de 1929 a estrutura entre oferta e procura
estava fragilizada, a única solução para minimizar as perdas dos produtores e para o país
exportador era a retirada de parte da produção do mercado.

Para tanto, segundo Furtado, "teria sido necessário estimular outras exportações através
de uma política de subsídios, o que só seria possível transferindo recursos financeiros do
setor cafeeiro", contudo a prática de preços baixos era a condição favorável para que os
produtores garantissem o semimonopólio, que ao colocar em primeiro plano, destruíram
as bases de seu privilégio.

Com a impossibilidade de conseguir crédito para financiar retenções de novos estoques,


já que o mercado internacional estava em crise, a primeira ideia era abandonar os
cafezais, pois "colhido ou não o café, a perda existia" - Furtado. O setor intermediário
foi o favorecido, percebendo o enfraquecimento da oferta, transferiram para os
produtores grande parte de sua perda, gerada pela crise mundial. Para financiar a
retenção do estoque, a medida foi a utilização de expansão de crédito, o que acarretou
tributação para maior diminuição da moeda, o que beneficiava indiretamente o setor
exportador e deixava explícito o objetivo de proteger o setor cafeicultor. Diante do
cenário, é importante salientar que o produto que se destruía era muito inferior ao
montante da renda que se criava, uma vez que ao injetar na economia 1 bilhão de
cruzeiros em 1931, criava-se um poder de compra que em parte iria contrabalançar a
redução dos gastos dos interessados na cultura cafeicultora.

Nos anos da depressão, como salienta o autor, enquanto se contraíam as rendas


monetária e real, subiam os preços relativos das mercadorias importadas, conjugando-se
os dois fatores para reduzir a procura de importações, neste contexto, a renda interna
estava se tornando satisfatória, desta forma o setor que produzia para o mercado interno
passava a oferecer melhores oportunidades, como, por exemplo, os impulsos por
maiores lucros e prospecção de novos capitais.

Porém, uma questão que dificultava o mercado interno industrial, era a importação de
equipamentos, que estavam com elevado preço diante da crise no exterior, agora o país
aproveita a sua capacidade já existente e a possibilidade de adquirir equipamentos de
segunda mão de fábricas falidas com a crise.

Neste panorama de conflitos com a procura e a oferta em desequilíbrio, as resistências


do cafeicultor favoreceram seu enfraquecimento como líderes do mercado mundial,
contudo, a possibilidade das indústrias como novo centro dinâmico na economia,
permitiu a recuperação do Brasil com grande êxito, haja vista que países com uma
política mais rigorosa ficaram dependentes do mercado externo para se recuperar.

Com os novos preços coerentes, as indústrias se desenvolviam substituindo as


importações, o que determinava o setor que seria mais lucrativo, mas com a recuperação
no âmbito exportador a situação cambial teria que sofrer alterações, neste caso a
concorrência do produto interno e de importação não existia, ao abrirem a competição,
começa atuar mudanças significativas na velha economia de fortes raízes da era
colonial.

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