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Resumo - GREGOLIN, M. do R. Bakhtin, Foucault, Pêcheux. In: BRAIT, B.

Bakhtin: outros
conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2006, p. 33-52.

Gregolin realiza uma reflexão acerca da construção conceitual que interliga o discurso, o
sujeito e a sociedade, por meio de um diálogo que apresenta divergências e convergências dos
teóricos Bakhtin, Foucault e Pêcheux. A autora tem como motivação para o debate as ideias que se
alicerçam de que: tudo é Análise do Discurso e a AD carece de identidade teórica, desta forma,
Gregolin posiciona-se contra a homogeneização, pois acredita ser fundamental resgatar as bases
teóricas dos projetos dos autores e problematizar como estão sendo lidos, compreendidos e
aplicados nos trabalhos acadêmicos.
Os diálogos entre Bakhtin, Foucault e Pêcheux tiveram como centralidade as teorias de
linguística de Saussure, as teorias do sujeito de Freud e as teorias da história e da sociedade de
Marx. Sendo assim, as aproximações e dispersões determinaram a edificação das propostas.
Inquestionavelmente é preciso considerar o espaço de vivência dos autores, pois enquanto Pêcheux
e Foucault respiravam as lutas políticas na França de 1960-1980, Bakhtin produziu sua obra teórica
na Rússia e, por isso, apresentou uma interpretação na dinâmica do “outro”.
Embora as distâncias geográfica e temporal expliquem as ressalvas de Pêcheux é importante
salientar que os projetos pecheutiano e bakhtiniano são incorporados através dos trabalhos de J.
Authier-Revuz e traram para a AD o intradiscurso e o interdiscurso, em outras palavras, evidenciam
a ideia de heterogeneidade. Inclusive, há uma grande aceitação nas contribuições de Bakhtin na
recuperação da dimensão histórica, social e cultural através da sua translinguística, no entanto,
Pêcheux não concorda com a crítica de Bakhtin ao “objetivismo abstrato” de Saussure e suas
concepções marxistas.
Para ele, Saussure apresentou a complexidade da língua como instituição social e sistema de
signos, quer dizer que um bloco homogêneo da língua não existe. Assim, retomando a ideia da
distância, é importante afirmar que Pêcheux faz uma leitura de Saussure nos trabalhos de Godel, por
certo, é prudente inferir uma análise mais reflexiva na recepção que os autores vivenciaram.
A segunda crítica de Pêcheux em relação a Bakhtin é no debate entre o discurso, o sujeito e
o social a partir do marxismo, expressando uma crise no interior da AD francesa, por isso, encontra-
se dois grupos assim classificados: os linguistas marxistas e o alvo dos julgamentos de Pêcheux os
sociologistas, isto é, a sociolinguística materialista que articulava o signo ideológico e, em
simultâneo, as lutas socais.
Igualmente, as críticas em relação a Foucault também ligam-se à teoria linguística e sua
relação com as teses marxistas. A teoria foucaultiana da microfísica do poder aflui com as teses
althusserianas, motivo para ser acusado de praticar um “marxismo paralelo”. Além disso, enquanto
o poder é compreendido como uma intervenção que atinge os indivíduos, na materialidade dos seus
corpos, assim como penetra em seu cotidiano, Foucault afirma que o poder constitui de uma
constante transformação, logo, no interior das “classes” coexiste microlutas e relaciona o sujeito
com a linguagem, história e sociedade.
Posteriormente, em 1978, Pêcheux inicia reflexões valiosas que irá desarticular-se com as
posições imperativas até então. Naturalmente, a revisão teórico-metodológica aproxima a AD
pecheutiana de Foucault, Bakhtin e De Certeau, leva à análise da língua e da história de forma
integrada, explicitando as temáticas da heterogeneidade, alteridade, intradiscurso e interdiscurso.
Diante da discussão, Gregolin alerta para os efeitos da homogeneização nos trabalhos
brasileiros, pois é imprescindível entender o discurso no contexto histórico produzido, com isso
compreender a divergência e convergência em cada proposta teórica. É nesse sentido que não deve-
se apagar as polêmicas entre Bakhtin e outros marxistas, não eliminar as polêmicas políticas e
teóricas, do mesmo modo que não permitir anacronias na produção de Pêcheux, e por fim, assimilar
que os textos produzidos na França a partir de 1975 ainda não foram satisfatoriamente debatidos.

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