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Primeira República: dominação e resistência


Oligarquias no poder
Durante o período do Império, o governo central impunha seu poder às
províncias, nomeando quem iria governá-las. Com o estabelecimento da
República, as famílias poderosas de cada estado, as oligarquias estaduais,
passaram a ter um enorme poder político.
Oligarquia: Governo exercido por poucos indivíduos ou famílias poderosas.

O Coronelismo
Poder local dos coronéis. Coronel era o nome pelo qual os grandes fazendeiros e coronéis da
Guarda Nacional (composta de cidadãos armados e fardadas não pertencentes ao exército e foi criada
para manter a ordem nas províncias) eram conhecidos.
Quase sempre, o coronel conseguia o voto do eleito por meio da troca de favores: o coronel
oferecia a seus dependentes “favores”, como alimentos, remédios, segurança, vaga no hospital, dinheiro
emprestado, emprego, etc. Em troca desses favores, exigia o voto nos candidatos indicados por ele. Esse
voto controlado pelo coronel era chamado de voto de cabresto. A fraude eleitoral era generalizada:
falsificação de resultados, roubo de urnas, inclusão de voto de crianças, de defuntos, de pessoas
inexistentes eram práticas comuns.
Os coronéis mais poderosos de cada região faziam alianças entre si e elegiam o presidente de
estado (equivalente hoje ao governador). Este, por sua vez, retribuía o “favor” enviando verbas para a
construção de escolas, praças, igrejas etc. nas cidades controladas por aqueles coronéis.

A Política dos Governadores


O sistema consistia, basicamente, em uma troca de favores. O Presidente da República
comprometia-se a respeitar e apoiar as decisões dos governos estaduais e, em troca, os governos
estaduais ajudavam a eleger para o Congresso Nacional deputados federais e senadores simpatizantes
do Presidente da República. Este, por sua vez, retribuía o “favor” liberando verbas, benefícios e dando
apoio a eles.

Café com política


Durante muito tempo, acreditou-se que as oligarquias de São Paulo (produtor de café) e Minas
Gerais (produtora de leite), as duas mais poderosas do país, alternavam-se na presidência da Primeira
República, representando interesses dessas oligarquias. Estudos recentes mostram que não foi bem
assim.

O café continuou na frente


O café foi o grande líder das exportações brasileiras durante toda a Primeira
República. Entusiasmados com os lucros, os cafeicultores investiam mais nas plantações. Porém, a
produção acabou ultrapassando as necessidades de consumo do mercado. A economia cafeeira começou
a enfrentar crises de superprodução, ocasionando queda nos preços e acúmulo de estoques invendáveis.

O Convênio de Taubaté
Preocupados com a queda de seus lucros, os cafeicultores pediram ajuda ao governo. Os
governantes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, responderam assinando o
Convênio de Taubaté: Por esse acordo O café excedente seria estocado pelo governo para, depois, ser
vendido quando os preços se normalizassem. Para comprar o café excedente, o governo faria
empréstimos no exterior.
A compra do café excedente regulava a oferta e forçava a valorização dos preços do café
brasileiro no exterior. Essa política atendia aos interesses dos cafeicultores porque os prejuízos
decorrentes da queda nos preços do café eram transferidos para o governo, que, para proteger os
cafeicultores, usava o dinheiro dos impostos pagos por todos os contribuintes.

A borracha da Amazônia
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Com a aceleração da industrialização surgiram na Europa outros tipos de industrias, como a


automobilística, a de bicicletas e a de pneus. A borracha passou a ser muito cobiçada no exterior e a
Amazônia, com seus seringais, ganhou importância.
O esplendor da economia gomífera se deu entre 1898 a 1910. Durante aqueles anos, a borracha
enriqueceu as elites do Pará e do Amazonas e os empresários europeus e norte-americanos, que
compravam a borracha a preços baixos e vendiam aqui os produtos industrializados.
Países capitalistas, como Inglaterra e Holanda, investiram no cultivo de seringais em áreas de
sua dominação. Desenvolvendo um plantio especialmente planejado para o aproveitamento industrial,
esses países, em pouco tempo, superaram o primitivo extrativismo praticado nos seringais brasileiros.
A partir de 1920, a borracha brasileira praticamente não tinha mais lugar no mercado internacional.
Cultivado no sul da Bahia, principalmente nas cidades de Itabuna e Ilhéus, o cacau teve destino
semelhante ao da borracha no mercado externo. Paralelamente ao aumento do consumo de chocolates
na Europa e nos Estalos Unidos, a produção brasileira de cacau cresceu durante todo o período da
Primeira República.

O Cacau
Cultivado no sul da Bahia, o cacau tornou-se importante produto nacional e o principal produto
da economia baiana. Usado principalmente para fazer chocolate, o fruto o cacaueiro se mostrou bastante
lucrativo e fez a fortuna de muitas famílias de coronéis do interior baiano.

A diversificação econômica
No Rio Grande do Sul, os imigrantes instalados na serra gaúcha plantavam arroz, milho, feijão
e fumo para consumo próprio e para o mercado interno (forma pela qual se desenvolveu). Nas cidades
gaúchas eram fundadas fábricas de tecidos e bebidas.

Industrias e operários na Primeira República


Na Primeira República, ocorreu um crescimento constante de número de industrias no Brasil.
Entre 1907 e 1920, o número de empresas cresceu por volta de quatro vezes, enquanto o número de
operários empregados quase duplicou.
A industrialização brasileira foi estimulada por quatro fatores principais: capitais nacionais;
disponibilidade de matéria-prima; oferta de mão de obra barata e sistema de transporte ligado aos portos.
São Paulo tornou-se o estado mais industrializado. As maiores fabricas paulistas foram
montadas por fazendeiros de café e por imigrantes. Os principais ramos industriais foram o têxtil, o de
alimentação e o de vestuário.

Modernização e urbanização
O processo de industrialização foi acompanhado pelo crescimento das cidades. Houve, com esse
crescimento, um salto populacional nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Em São Paulo,
esse salto deveu-se em parte grande número de imigrantes e pessoas vindas do interior em busca de uma
vida melhor. Pessoas que vinham dispostas a trabalhar em profissões liberais, como advocacia e
medicina; no funcionalismo público, em bancos, no comercio, no artesanato, nas fábricas, na construção
civil, ambulantes, etc.

Imigrantes no Brasil
A industrialização e a urbanização estavam estreitamente associadas à imigração. Entre 1890 e
1930, cerca de 3,2 milhões de estrangeiros vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor.
O estado de São Paulo recebeu 57,7% do total de imigrantes, pois oferecia bons atrativos:
pagava as despesas com passagens, dava alojamento e oferecia oportunidades de trabalho. Italianos,
portugueses e espanhóis eram preferidos pelas autoridades e fazendeiros, pelo fato de serem católicos e
de cor branca.
Entre o final do século XIX e início do século XX, inicia-se a entrada de asiáticos, com destaque
para os japoneses. Chegavam pelo porto de Santos e dirigiam-se às fazendas de café do interior paulista.
A partir de 1925, o governo japonês passou a pagar as passagens dos que imigravam para o Brasil.
Alguns tornaram-se pequenos proprietários e tiveram papel importante na diversificação da atividade
agrícola.
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Muitos imigrantes sírio-libaneses e judeus tiveram trajetórias semelhantes: começaram a vida


como mascates, vendendo mercadorias de porta em porta nas capitais. Vários deles abriram lojas e
fabricas, conseguindo ascender socialmente.

Nas últimas décadas do século XIX, a concentração de terras nas mãos de poucos, o desemprego,
as disputas entre as famílias de grandes fazendeiros e as secas constantes tornavam a vida da maioria
dos habitantes do sertão nordestino quase insuportável.

A Guerra de Canudos
Nesse cenário marcado por violência e exclusão social, surgiu no sertão nordestino, em 1870,
um líder religioso chamado Antônio Vicente Mendes Maciel, o “conselheiro”. Nascido em
Quixeramobim e abalado por dissabores na vida pessoal, deixou o Ceará e iniciou sua vida de beato,
pregando por cidades e organizando mutirões para ajudar pequenos agricultores, reformar igrejas e
erguer muros de cemitérios.
Em 1893, se instalou com sua gente numa fazenda chamada CANUDOS e começaram a
construir um povoado. Os habitantes eram em sua maioria, sertanejos pobres. Havia também
negociantes, enfermeiros, soldados, artesãos, mineradores e professores. Conforme o povoado crescia,
os poderosos da região, temerosos de que outros camponeses sem terra se juntassem ao conselheiro,
passaram a acusá-los dizendo que Canudos era um reduto de monarquistas fanáticos e perigosos. Foi o
que bastou para que o governo enviasse várias expedições militares contra canudos. Os sertanejos
conseguiram derrotar as três primeiras expedições dos militares por forma de emboscadas (ataque
surpresa). Diante dessa situação, o presidente Prudente de Morais enviou a Canudos uma expedição com
mais de 7 mil homens que, com balas de canhão e dinamite arrasaram o povoado. Em 5 de outubro de
1897, as casas de Canudos haviam sido incendiadas e sua população massacrada.

A Guerra do Contestado
Ocorreu numa região situada entre Santa Catarina e Paraná. Era uma área CONTESTADA
(disputada) por esses dois estados. Foi um conflito entre sertanejos pobres e muito religiosos contra
fazendeiros.
Na região, reinava um clima de muita tensão social, pois os coronéis locais expandiam suas
fazendas tomando as terras dos indígenas e dos posseiros (pequeno proprietário que ocupou uma terra
inexplorada, se declarando dono da terra) à força. Essa tensão aumentou ainda mais quando o governo
brasileiro fez um contrato com uma empresa estadunidense, a Brasil Railway Company, para construir
um trecho da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande do Sul. E, como pagamento, cedeu a ela uma faixa
de 15 quilômetros de cada lado da ferrovia. Em 1911, essa empresa criou uma outra - a LUMBER – que
se comprometeu a colonizar a região com famílias vindas da Europa. Mas o real interesse da Lumber
não era colonizar e sim explorar madeira da rica floresta nativa. Por causa disso a Lumber contratou
"capangas" para expulsar os sertanejos da região. Sem terras para morar, os sertanejos resolveram seguir
o beato José Maria, e com ele, ergueram povoados na área de Santa Catarina pretendida pelo Paraná. Os
fazendeiros e a imprensa do paraná começaram a dizer que os sertanejos do CONTESTADO eram
monarquistas fanáticos e inimigos da república (Mesmo pretexto usado para criticar os sertanejos de
CANUDOS). Durante a disputa que se travou, o monge José Maria e o comandante adversário
morreram. Inconformados, os sertanejos começaram a propagar que o monge iria retornar para fazer
valer a "lei da coroa do céu", o movimento foi crescendo e o número de “vilas santas” cresceu.
Em mais um confronto com as forças militares locais, os sertanejos incendiaram a sede da
empresa norte-americana que os havia expulsado de suas terras. Diante disso, o governo de Hermes da
Fonseca lançou contra os sertanejos do CONTESTADO cerca de 6 mil soldados, armados de canhões e
metralhadoras e apoiados por aviões. Em nome da República e do progresso, as "vilas santas" foram
arrasadas, e os sertanejos foram fuzilados ou queimados.
RESULTADO: Com o fim do contestado em 1916, os governos do Paraná e de Santa Catarina
chegaram a um acordo, acertando os limites entre os dois estados.

O cangaço
O contexto de opressão e abandono que favoreceu o surgimento de líderes religiosos, como
Antônio Conselheiro e o monge José Maria, também facilitou o aparecimento do cangaço, forma
peculiar de banditismo que se desenvolveu no interior do Nordeste.
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Desde o século XVIII, bandos armados a serviço dos grandes fazendeiros adentravam o sertão
para tomar as terras dos indígenas e instalar fazendas de gado. Esses bandos praticavam o cangaço
dependente, pois eram pagos para isso.
Por volta de 1900 e 1940, surgiram no sertão nordestino o cangaço independente, cangaceiros
que viviam de assaltos e em constante luta com a polícia. Tais bandidos agiam por conta própria. Os
Principais Líderes desse tipo de cangaço foram os cangaceiros Antônio Silvino, Virgulino Ferreira da
Silva, O Lampião (1900-1938), e Corisco.
Lampião e seu bando cobravam aos fazendeiros e comerciantes uma espécie de “imposto”; mas
quando era vingança, eles já agiam de outra forma, espancavam, torturavam, saqueavam e degolavam
tanto pobres quanto ricos. Em 1938, delatado por um comerciante, Lampião e seu bando foram mortos
e decapitados. Dois anos depois, Corisco, que sucedera Lampião na chefia do seu bando, também foi
morto, fato que determinou o fim do cangaço.

A Revolta da Vacina
Em 1902, o presidente Rodrigo Alves, confiou a Pereira Passos, então prefeito do Rio, que na
época era a capital federal, o seu plano para higienizar e modernizar a cidade. De início, começou com
a construção da Avenida Central (Hoje Rio Branco), e para isso autorizou a demolição dos casarões e
casebres onde moravam a população humilde da cidade. Com os gritos “Bota abaixo!”, os funcionários
da prefeitura derrubaram quarteirões inteiros.
Os moradores expulsos da região central foram viver na periferia da cidade ou nos morros, onde
construíram barracos de tabuas cobertos com latas de querosene abertas.
Ao mesmo tempo, o médico sanitarista Oswald Cruz foi indicado pelo governo para combater
a febre amarela, a varíola e a peste bubônica, doenças que vinham matando milhares de pessoas na
cidade do Rio. Em 1904, um projeto de lei que defendia a obrigatoriedade da vacina contra a varíola
dividiu e agitou a sociedade carioca.
Em 1904, a Lei da Vacina Obrigatória tinha sido aprovada pelo Congresso e autorizava os
funcionários da saúde a vacinarem contra a varíola todos os brasileiros com mais de seis meses de idade.
Os desobedientes eram ameaçados com multas e demissões. A obrigatoriedade da vacina, as demolições
no centro da cidade e o custo de vida alto levaram a uma explosão popular que ficou conhecida como a
REVOLTA DA VACINA.
Em novembro de 1904, ocorreram intensos conflitos de rua. Armados de paus, pedras e pedaços
de ferro, os populares enfrentaram a polícia em vários pontos do rio. Incendiaram bondes, arrancaram
trilhos, depredaram lojas além de cercar o palácio do catete, que era sede do governo, para protestar
contra a vacinação obrigatória e a violência policial.
O governo ordenou que seus navios de guerra bombardeassem os bairros situados na orla
litorânea e, ao mesmo tempo suspendeu a obrigatoriedade da vacina contra a varíola; a revolta foi
desarticulada e seus líderes lançados aos porões de um navio e enviados ao acre.

O movimento operário
No início do século XX, o ambiente das fábricas era insalubre, mal iluminado e sem ventilação
adequada; os operários trabalhavam de 14 a 16 horas por dia recebendo salários que não acompanhavam
o aumento do custo de vida; além disso, não tinham direito a férias e a aposentadoria. Apesar das
frequentes rivalidades entre estrangeiros e brasileiros, a República Velha assistiu à formação de um
movimento operário combativo e atuante.

As ideologias do movimento operário


As doutrinas que tinham maior penetração no movimento operário era o socialismo e o
anarquismo.
Socialistas: fundaram vários partidos políticos, como om Partido Operário; lutavam por reformas, como
a jornada de trabalho de 8 horas e desejavam conquista-la por via democrática.
Anarquistas: contrários à existência do Estado, se negavam a participar das eleições; defendiam a
conquista do poder pelos operários por meio da greve geral revolucionária.

A luta pelas 8 horas


Em 1906, os operários realizaram no Rio de Janeiro, o Primeiro Congresso Operário Brasileiro,
reunindo trabalhadores de várias partes do Brasil. O Congresso decidiu que o dia 1º de maio de 1907
marcaria o início de uma grande campanha pela jornada de 8 horas de trabalho.
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Os operários fizeram várias greves naquele ano. O governo de Afonso Pena reagiu reprimindo
e prendendo trabalhadores. Apenas duas categorias conquistaram a jornada de 8 horas: os gráficos e
pedreiros. Em 1907, o governo aprovou a lei Adolfo Gordo, que permitia expulsar do Brasil os
imigrantes que participassem de greves. Apesar da repressão, as lutas continuaram.

A greve de 1917
Os operários de São Paulo realizaram a maior greve ocorrida na República Velha. O movimento
teve início com a paralisação de algumas fábricas da Mooca e do Ipiranga e logo se espalhou. Em uma
das manifestações, a polícia abriu fogo contra os manifestantes, baleando o operário anarquista
Francisco Martinez, que morreu no dia seguinte.
O enterro do operário foi o estopim de uma greve geral em São Paulo e de enfrentamentos entre
trabalhadores e policiais. Para voltar ao trabalho, os grevistas exigiam:
 jornada de 8 horas e aumento salarial,
 abolição do trabalho noturno para mulheres e menores de 18 anos;
 pagamento pontual,
 diminuição dos alugueis e congelamento do preço dos alimentos.
O movimento grevista estendeu-se para os seguintes estados: Rio de Janeiro, Paraíba, Minas
Gerais e Rio Grande do Sul.
Nos anos seguintes à greve geral de 1917, as lutas operárias por melhores condições de vida e
de trabalho prosseguiram. Em março de 1922, foi fundado o Partido Comunista do Brasil (PCB). Os
comunistas tinham uma organização centralizada e nacional, defendia um governo do proletariado e a
coletivização das terras e fábricas. Diferentes dos anarquistas, participavam do processo eleitoral.
Poucos meses após sua fundação, o PCB foi colocado na ilegalidade pelo governo republicano
de Epitácio Pessoa. Apesar disso, continuou a atuar de forma clandestina nos sindicatos e na imprensa
operária.

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