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Industrialização brasileira

que a exportação de produtos agrícolas, estimulada


1 A industrialização em perspectiva histórica
pelo Estado, garantiu o ingresso de divisas
Linha do tempo da industrialização brasileira
estrangeiras e a aquisição de máquinas e
Do modelo agrário-exportador ao programa
equipamentos no exterior para implantação,
neoliberal
manutenção e ampliação do parque industrial.

É consenso entre os especialistas o novo papel Desenvolvimento industrial e soberania apontavam

atribuído ao Estado brasileiro no desenvolvimento necessariamente para o tratamento de algumas

econômico no pós-1930. Foi nesse contexto que se questões que, no período entre 1930 e 1945, foram

estabeleceu no país um núcleo base de indústrias de cruciais para erigir as bases sustentadoras do

bens de produção e uma infraestrutura elementar para desenvolvimento brasileiro até os anos 1980. Veja, a

fomento do crescimento industrial. Esse novo papel seguir, quais são elas:

do Estado está relacionado à conjuntura internacional,

especificamente à depressão que se segue à grande

crise econômica de 1929 e seus imediatos efeitos na

vulnerável economia brasileira, predominantemente

agrário-exportadora. Relaciona-se também à

modernização do Estado brasileiro e à crise dos

grupos cafeeiros paulistas, segmentos tradicionais da Industrialização

ordem republicana vigente até então, que perderam o


Entre 1930 e 1954 ― a era Vargas ―, procurou-se
protagonismo na condução governamental.
estabelecer as determinações internas do processo de

industrialização, com a implantação pelo Estado do


A partir dos anos 1930, o eixo dinâmico do processo
setor industrial de bens de produção e tendo como
de acumulação capitalista no Brasil torna-se urbano e
base desse modelo a legislação sindical e trabalhista.
industrial. Desenvolvimento torna-se sinônimo de

crescimento industrial.

A conjuntura internacional adversa dificulta o

ingresso de investimentos externos e reforça um giro

para dentro nacional, baseado na acumulação interna

e na ação do Estado. Esse movimento, que

impulsionou o processo de industrialização, realizou-

se por meio da conciliação de interesses de classe, em


Agroexportação princípios neoliberais de enfraquecimento do papel

do Estado na economia.
Por outro lado, atendia aos interesses dos setores

agroexportadores mediante a construção e ampliação Apesar do fracasso político de Collor, o que gerou

dos transportes, vias de acesso e comunicação. E, seu impeachment, a posse de seu vice-presidente

politicamente, o Estado garantia a manutenção da Itamar Franco e a posterior vitória de seu ministro da

estrutura fundiária e das relações de produção no Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, nas eleições

campo. para presidente em 1994, não impuseram barreiras ao

desenvolvimento do programa neoliberal.


Na Ditadura Militar, o crescimento da economia,

sustentado pelos elevados investimentos externos e Em síntese, pensando em uma perspectiva histórica,

pela política de contenção salarial, não promoveu um que teremos oportunidade de aprofundar nos

processo de desenvolvimento autônomo em relação próximos módulos: enquanto a década de 1920 e a

ao capital externo e levou a uma intensa concentração primeira metade da década de 1930, ainda marcada

de renda. pelo modelo agrário-exportador centrado no café,

foram caracterizadas pelo predomínio do setor

privado nos investimentos da economia nacional, a

ampliação da participação governamental no processo

de desenvolvimento industrial teve início a partir da

Era Vargas, permanecendo com força até a década de

1970, durante o governo Geisel. A década de 1980,

porém, foi marcada pela reversão de tal tendência: as

eleições de Collor, em 1989, e depois de Fernando

Fernando Collor, presidente do Brasil de 1990 Henrique Cardoso, em 1994, levaram à


até 1992.
implementação das reformas neoliberais no Brasil,

cujo eixo girava em torno da redução da atuação


O quadro de profunda crise da economia brasileira
estatal na industrialização e no processo econômico
nos anos 1980, marcado pelo fracasso dos planos
como um todo.
econômicos (Cruzado, Cruzado II, Verão e Bresser),

abriu espaço para a vitória eleitoral de Fernando

Collor, em 1989, e, por consequência, do projeto que

propunha a introdução da agenda conhecida como

“Consenso de Washington” no Brasil, ancorada em Construç


ão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), 1941.
O café e a indústria
preço do café diante da ameaça de superprodução, era
Centralidade do café e formação da classe
necessário que os estoques excedentes fossem
operária
comprados, o que, na prática, significava mais gastos

públicos. A manutenção desse patamar de produção


Na Primeira República (1889-1930), havia uma
levou à superprodução, agravada com a crise mundial
centralidade do café na economia brasileira. Até os
de 1929. As políticas econômicas do governo Vargas,
anos 1920, diferentes governos criaram políticas de
após a Revolução de 1930, responderam a esse
defesa do café. Aliado ao aumento dos preços desse
contexto.
produto no mercado internacional, estimulou-se uma

expansão do cultivo da planta e de sua exportação.

O processo industrial existente no período decorria,

em geral, da relação com a produção de café:

produção, transformação, distribuição, exportação.

Ou seja, a industrialização incipiente atrelava-se, de

maneira subordinada, ao modelo agrário-exportador Sacas de café.

centrado no café.

Até a década de 1920, os interesses da cafeicultura e

do Estado brasileiro pareciam se confundir. Em 1922,

com a inflação em alta, o país foi atingido por uma

crise fiscal, e as contas públicas não apresentavam

saldo positivo. Essa conjuntura econômica

desfavorável repercutiu nas exportações do café.


Greve geral de 1917.
Diante do desequilíbrio financeiro, o Estado

brasileiro contraiu empréstimos no exterior para O desenvolvimento da industrialização fez surgir um

equilibrar seu orçamento. movimento operário organizado em lutas por

ampliação de direitos. Ocorreu o aumento do


Todavia, o déficit persistia, e o Estado brasileiro
operariado urbano devido à crescente urbanização e
precisou recorrer a medidas como a emissão de
às atividades industriais, uma vez que os serviços
moeda ou, ainda, a colocação de títulos da dívida
urbanos, principalmente os transportes e as fábricas,
pública no mercado. Os estados cafeicultores saíram
passaram a recrutar um número cada vez maior de
em defesa do seu produto, entretanto, para garantir o
operários.
Assim, os trabalhadores procuraram se organizar, dos estrangeiros e desterro dos nacionais para a

sendo a greve seu principal instrumento de ação Amazônia eram medidas usuais dos governantes.

política, com a realização de comícios e a formação


Em 1920, o valor da produção industrial chegou a um
de entidades que defendessem seus interesses.
quarto do valor da produção agrícola e o operariado

A expectativa positiva com que o regime republicano já se constituía como um grupo social relevante para

brasileiro foi recebido pelo movimento operário foi a sociedade brasileira. Os estabelecimentos

rapidamente transformada em desilusão, uma vez que industriais concentravam-se no Rio de Janeiro e em

a República Oligárquica se mostrou incapaz de São Paulo, mas já se espalhavam pelo país afora.

responder às demandas por igualdade de direitos. Ao Nesse quadro, com o crescimento, a diversificação e

longo da Primeira República, esse desencantamento o fortalecimento do movimento operário, o

suscitou variadas propostas e ações voltadas para o empresariado e o governo não podiam simplesmente

reconhecimento de direitos vinculados à condição ignorar as suas demandas. Mesmo recusando atender

operária: organização em sindicatos, ligas e às reivindicações, as lideranças empresariais

associações; manifestação das suas ideias e dos seus passaram a discuti-las. E isso repercutiu no programa

valores por meio da imprensa; constituição de de organizações partidárias como a Reação

espaços de sociabilidade e educação, como teatro e Republicana e a Aliança Liberal.

escola próprios; e, principalmente, a luta pelo


O Congresso Nacional debateu e aprovou, em 1925, a
estabelecimento de um conjunto de leis que
Lei de Férias, que estabelecia 15 dias de férias anuais,
garantisse condições dignas de trabalho.
e o Código de Menores, em 1927. Essas duas leis
Saiba mais
trabalhistas seguiram-se à aprovação de uma medida

A despeito das divergências de métodos, o previdenciária, a Lei das Caixas de Aposentadorias e

movimento priorizou a luta pelos direitos sociais: Pensões, em 1923. Apesar de votadas, aprovadas e

estabelecimento de jornada máxima de trabalho até mesmo regulamentadas, essas duas leis

semanal, férias remuneradas, regulamentação do trabalhistas não foram efetivamente cumpridas pelos

trabalho feminino e infantil e salários dignos eram as estabelecimentos comerciais e industriais até 1930.

suas principais reivindicações. Durante boa parte da

Primeira República, essas reivindicações foram, em

grande medida, desconsideradas pelo empresariado e

pelo governo. Greves e manifestações dos

trabalhadores foram duramente reprimidas: prisões


Crianças trabalhando em fábrica de sapato no
arbitrárias, fechamento de associações, deportação início do século XX.
Era Vargas
a produção como para as taxas de câmbio e os

Industrialização brasileira na Era Vargas dos anos impostos. As medidas de liberalização, porém,
1930
duraram pouco tempo, pois o início da Segunda

O contexto da crise pós-1929 fez com que o setor Guerra Mundial, em 1939, ensejou novas restrições.

industrial se voltasse para um processo de


Tal como ocorreu com o café, o governo Vargas criou
substituição de importações. Trata-se de uma ação
agências voltadas para a regulamentação e o controle
iniciada pela crise e impulsionada pelo governo
de várias atividades agrícolas e extrativas, em suas
Vargas, que trouxe para o âmbito do Estado a
diferentes fases de produção e comercialização.
responsabilidade de conduzir o processo de
Alguns desses órgãos seguiam um padrão
industrialização. Os industriais obtiveram auxílio das
corporativo, isto é, admitiam em suas composições
políticas governamentais por meio de taxas tarifárias
representantes dos grupos privados diretamente
e medidas cambiais favoráveis.
interessados, ao lado dos técnicos e funcionários do

Estado; outros não.


Com Vargas, a industrialização em torno do café foi

mantida e ampliada. Para o novo governo, era


Destacaram-se o Instituto do Açúcar e do Álcool,

necessário assumir a defesa do produto no mercado criado em 1933, o Instituto do Mate, em 1938, o

internacional ― visto que era não só fonte de renda Instituto do Sal, em 1940, e o Instituto do Pinho, em

dos cafeicultores, mas também importante elemento 1941 (DINIZ, 1981).

da receita do Estado ― e, ao mesmo tempo,

desestimular novos plantios.

O Conselho Nacional de Café (CNC), criado em

1931, e o Departamento Nacional do Café (DNC),

seu substituto dois anos mais tarde, fizeram valer a

direção centralizadora em relação à política cafeeira,

com um grau significativo de autonomia do governo

em relação aos grupos diretamente interessados. No Chaminés ativas e inativas em uma usina de
médio prazo, a política foi bem-sucedida: a produção açúcar e álcool no Brasil.

foi normalizada em 1937, e o café brasileiro tornou-


É possível identificar nesse contexto um processo de
se competitivo em relação ao colombiano, principal
diversificação industrial motivada por incentivos
competidor internacional. Nessa ocasião, o governo
estatais. O dinamismo da industrialização na década
resolveu liberar os controles estabelecidos tanto para
de 1930 é tributário de uma base industrial
preexistente, constituída ao longo da Primeira seguinte, a Comissão de Planejamento Econômico

República. Entretanto, a expansão nos anos 1930 não (CPE). Ao longo de todo o período do governo

tinha precedentes: dos quase 50 mil estabelecimentos Vargas, no interior desses órgãos ocorreram acirrados

industriais existentes no país, segundo o Censo debates envolvendo representantes do empresariado

Industrial de 1940, cerca de 35 mil foram fundados agrícola, comercial e industrial, consultores técnicos e

depois de 1930, ou seja, 70% dos estabelecimentos funcionários ministeriais.

eram recentes.

Saiba mais

A exemplo do sucedido com o setor agrícola, a

concessão de incentivos à indústria privada e a


Filinto Müller, Góes Monteiro, Getúlio Vargas,
criação de condições infraestruturais para a
Valdemar Falcão, Benedito Valadares e Israel
industrialização ficaram a cargo de um conjunto de Pinheiro (da esquerda para a direita), 1938. São
Lourenço (MG).
agências estatais como a Comissão de Similares,

criada em 1934, o Conselho Técnico de Economia e


No intuito de viabilizar a expansão industrial, o
Finanças, em 1937, o Conselho Nacional de Petróleo,
Estado manteve os produtos industriais nacionais
em 1938, o Conselho de Águas e Energia, em 1939, a
protegidos da livre concorrência por meio do controle
Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional,
de importações. A desvalorização da moeda, o mil-
em 1940, a Comissão de Combustíveis e
réis, resultou no redirecionamento da demanda
Lubrificantes e o Conselho Nacional de Ferrovias,
nacional para a produção doméstica. Os setores
ambos em 1941, além da constituição, durante o
industriais mais dinâmicos foram o têxtil, o químico,
Estado Novo, das estatais Companhia Siderúrgica
bem como os de papel, cimento, aço e pneus. No ano
Nacional (1941), Companhia Vale do Rio Doce
de 1939, 99% do ferro gusa consumido no Brasil
(1942) e Companhia Nacional de Álcalis (1943).
eram da indústria nacional, assim como 85% do

cimento.
A partir dessas experiências, suscitadas originalmente

com a Crise de 1929 e a recessão internacional nos Industrialização e desenvolvimento nacional

anos 1930, iniciou-se um debate sobre planejamento


Ao longo dos anos 1930, não se pode afirmar que
econômico e planificação nacional. Em 1934, foi
houve, por parte do Estado brasileiro ou das elites
criado o Conselho Federal de Comércio Exterior
emergentes, um projeto sistemático de
(CFCE), primeiro órgão do país voltado para o
desenvolvimento industrial. O projeto foi sendo
planejamento estatal; em 1943, o Conselho Nacional
construído gradativamente, respondendo aos
de Política Industrial e Comercial (CNPIC); e, no ano
acontecimentos e às variáveis econômicas e políticas,
só compreensíveis a partir de uma perspectiva estabelecimento de uma indústria pesada (na qual o

histórica (LEOPOLDI, 2003). A consolidação de uma capital privado nacional não tinha condições de

ideia de industrialização como alternativa exequível alocar recursos próprios em função dos altos custos) e

para o desenvolvimento brasileiro ocorreu pari passu de uma infraestrutura basilar para esse

a reformas institucionais. desenvolvimento. É nesse contexto que a discussão

sobre o petróleo, a siderurgia e a energia elétrica


Veja o papel de cada setor, burguesia e empresariado,
emerge como primaz na agenda política brasileira.
para a industrialização brasileira:
Vamos praticar alguns conceitos?

Burguesia industrial Questão 1

A participação na defesa e organização de seus (Unesp - SP/2017) A industrialização contemporânea

interesses já vinha se pavimentando desde os anos requer investimentos vultosos. No Brasil, esses

1920, em resposta às novas demandas sociais investimentos não podiam ser feitos pelo setor

oriundas da complexificação política e econômica. privado, devido à escassez de capital que caracteriza

as nações em desenvolvimento. Além disso, o


Empresariado industrial brasileiro crescimento econômico do Brasil, um recém-chegado

ao processo de modernização, processou-se em


A esse setor, coube a luta para participação efetiva
condições socioeconômicas diferentes. Um efeito
nos novos espaços institucionais decisórios criados
internacional de demonstração, na forma de imitação
no aparelho de Estado, como os conselhos técnicos e
de padrões de vida, entre países ricos e pobres, e entre
as comissões reguladas por aparelhos estatais.
classes ricas e pobres dentro das nações, resultou em

A partir dessas ações específicas, seria possível a pressões significativas sobre as taxas de crescimento

elaboração de um discurso próprio, servindo de base para diminuir a diferença entre nações desenvolvidas

para um programa industrialista a ser implementado e em desenvolvimento. Em vista das aspirações de

pelo Estado. melhores padrões de vida, o governo desempenhou

um papel importante no crescimento econômico


Nos anos 1930, edificou-se um modelo de atuação do recente do Brasil.
Estado em face da industrialização: ação

regulamentadora do Estado sobre a atividade (PELÁEZ, C. M.; SUZIGAN, W. História

econômica e o estabelecimento de um padrão de monetária do Brasil. Brasília, DF: Universidade de

financiamento público. Em outras palavras, o Estado Brasília, 1981. Adaptado.)

é convocado para construir as condições básicas para

o crescimento industrial, no que tange ao


De acordo com o texto, uma das particularidades do Entretanto, era totalmente impossível obter crédito no

processo de industrialização brasileira é exterior para financiar a retenção de novos estoques,

A pois o mercado internacional de capitais se

encontrava em profunda depressão, e o crédito do

o controle das matérias-primas industriais pelas governo desaparecera com a evacuação das reservas.

nações imperialistas do planeta.


(FURTADO, C. Formação econômica do Brasil.
B
São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1997. Adaptado.)

a escassez de mão de obra devido à sobrevivência da


Uma resposta do Estado brasileiro à conjuntura
pequena propriedade rural.
econômica mencionada foi
C
A

a existência prévia de um amplo mercado consumidor


a reformulação do sistema fundiário.
de produtos de luxo.
B
D

a atração de empresas estrangeiras.


o domínio da política por setores sociais ligados aos
C
padrões da economia colonial.

E
o financiamento de pequenos agricultores.

D
a emergência da industrialização em meio a

economias internacionais já industrializadas.


o desenvolvimento de política industrial.
Questão 2
E

(ENEM MEC/2014) Ao deflagrar-se a crise mundial


o incremento da mão de obra imigrante.
de 1929, a situação da economia cafeeira se
2 Industrialização - motor do desenvolvimento: de
apresentava como se segue. A produção, que se
Vargas a JK
encontrava em altos níveis, teria que seguir

crescendo, pois os produtores haviam continuado a Desenvolvimento industrial e soberania nacional

expandir as plantações até aquele momento. Com


A elite industrial, ao elaborar sua perspectiva
efeito, a produção máxima seria alcançada em 1933,
industrializante na década de 1930, se apropriaria de
ou seja, no ponto mais baixo da depressão, como
categorias do discurso político autoritário vigente à
reflexo das grandes plantações de 1927-1928.
época, combinando-as ao discurso de modernização
econômica que defendia (FONTES; MENDONÇA,
3- Necessidades setoriais ganham espaço na
1988). Em outras palavras, era como se o salto
cena política
industrial modernizador fosse compatível ao modelo

político antidemocrático instaurado pelo varguismo. E, por fim, a existência de demandas setoriais que
A combinação industrialização e autoritarismo seria a ganhavam espaço na cena política brasileira e que
fórmula para superar a vulnerabilidade da economia gradativamente foram incorporadas pelo Estado.
brasileira, em face do seu caráter predominantemente

agroexportador. Eis uma diferença decisiva nos anos Além de um programa industrialista sendo gerido por

1950, quando o desenvolvimento nacional e a lideranças desses segmentos, merece destaque

industrialização deveriam ajustar-se à experiência também o papel dos militares, que passaram a

democrática, e o ponto central deste módulo, a ser postular a criação de uma infraestrutura mínima no

desenvolvido de agora em diante. país, para servir de base ao desenvolvimento

industrial em curso e vista como condição elementar


Segundo Leopoldi (2003), o crescimento industrial para manutenção da soberania nacional.
registrado principalmente no triênio 1933-1936 se

daria basicamente pelo resultado da conjugação de Petróleo, siderurgia e energia elétrica foram os pontos

alguns fatores, veja quais foram: fundamentais que ganharam os círculos do debate

político-econômico que propunha o salto industrial


1- Ampliação do processo de substituição
qualitativo almejado por importantes segmentos da
de importações
elite brasileira. Seriam questões de relevo na

O primeiro deles é motivado pela conjuntura externa economia política não apenas do Estado Novo, mas

de crise e brusca desaceleração da economia mundial de todo o primeiro governo Vargas.

no imediato pós-1929.
O debate acerca dessas questões ultrapassaria os

limites da mera discussão técnica e ganharia


2- Reação das políticas governamentais
contornos eminentemente políticos. Em outras

Em segundo lugar, a pronta resposta dada pelas palavras, era preciso construir um consenso na

políticas governamentais ao choque externo sofrido sociedade brasileira e na base política do Estado para

pela economia brasileira. que essas questões pudessem se transformar em

políticas públicas efetivas (LEOPOLDI, 2003).

A Companhia Siderúrgica Nacional


Ainda que fosse possível identificar a existência de União de militares e empresariado

um incipiente setor privado de indústrias siderúrgicas


A composição política e técnica da comissão do plano
desde a década de 1920, tal atividade só passaria a
siderúrgico refletia a evidente aproximação entre
constar efetivamente na pauta da agenda política do
militares e empresariado industrial, com o objetivo de
país quando a orientação modernizadora-industrialista
elaborar o modelo de política estatal para o setor.
do governo brasileiro começou a se delinear ao longo

da década de 1930. Nesse contexto, verificou-se a arrow_forward

necessidade premente do Estado de atuar nesse setor,


Força dos setores no governo varguista
entendido como estratégico.

Por outro lado, mostrava a capacidade de influência


A demanda crescente por aço esbarrava na
desses segmentos perante o establishment varguista,
incapacidade de o setor privado supri-la. Os militares,
tendo em vista a efetiva participação de figuras
nesse sentido, viriam a adquirir papel de
proeminentes, lideranças intelectuais orgânicas desses
protagonistas na elaboração de uma efetiva proposta
dois setores.
que demandasse uma atuação estatal nessa atividade.

Sem dúvida, o ano divisor de águas para a definição

das políticas para o setor foi o de 1940. No bojo das

discussões realizadas por essa comissão e a partir dos

entendimentos entre o governo brasileiro e o governo

americano (por meio do Eximbank – Banco de


Presidentes Getúlio Vargas e Franklin Delano
Exportação e Importação), surgiu a decisão de se
Roosevelt.
construir uma usina siderúrgica estatal de grande

Em 1940, ao mesmo tempo em que Vargas tentava porte.

estabelecer acordos com os EUA (país que possuía


Comentário
uma crescente demanda por minério de ferro e aço)

para possíveis parcerias com o capital estrangeiro, foi O governo americano abriria uma linha de crédito de

criada, pelo Decreto-Lei nº 2.054, a Comissão 20 milhões de dólares, e a contrapartida brasileira

Executiva do Plano Siderúrgico, encarregada de fazer seria de 25 milhões, provenientes de várias fontes —

os estudos e organizar uma companhia nacional de depósitos das cadernetas de poupança em bancos

siderurgia. públicos, fundos de pensão e aposentadoria e ações

do Tesouro (LEOPOLDI, 2003; MARTINS, 1976). O


Veja o cenário:
local escolhido para a instalação da usina, a cidade de

Volta Redonda (RJ), ocorrera pela necessidade de se


estabelecer um complexo de indústrias de base no

eixo Rio–São Paulo, principal polo urbano-industrial

do país.

A consolidação do acordo para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em março


Os anos JK
de 1942, deu-se no contexto de imediata definição da
Anos JK: industrialização, desenvolvimento e
entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial (após o
democracia
ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, no

Pacífico). Nesse sentido, a diplomacia econômica


O governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) foi
brasileira soube explorar as condições que levaram à
aquele que, na experiência democrática dos anos
entrada dos EUA no conflito, explorando os
1946-1964, melhor encarnou a ideia de
interesses econômicos e militares americanos no
desenvolvimento e industrialização. Governando
campo de batalha. A promessa de um fornecimento
estritamente nos limites da Constituição e da
constante de minerais estratégicos para os EUA e a
democracia advinda com a queda do Estado Novo e
autorização para estabelecimento de bases militares
sob a égide de um pretensioso plano de crescimento e
no Nordeste brasileiro foram condições colocadas
industrialização da economia brasileira, o governo JK
pelo governo dos EUA e prontamente aceitas.
produziu transformações significativas na realidade

Construída ao longo da Segunda Guerra Mundial, a brasileira. Promoveu, a partir do Plano de Metas, a

Siderúrgica Nacional só passou a operar no máximo integração de boa parte do território brasileiro e

da sua capacidade produtiva em 1948. A CSN foi o consolidou um modelo de desenvolvimento industrial

último empreendimento significativo do primeiro assentado na associação com o capital estrangeiro. O

período Vargas e o símbolo de um projeto nacional plano “50 anos em 5”, proposto por JK, ainda em sua

desenvolvimentista que incluiu uma tácita aliança campanha eleitoral, traduziu muito bem a ideia de

entre Estado, industriais e militares. De fato, movimento, ação e desenvolvimento que caracterizou

consolidava-se um modelo de acumulação capitalista o Brasil da segunda metade da década de 1950.

que, malgrado a atuação do capital privado nacional

em diversos setores, consolidava o Estado como

grande agente indutor das opções de desenvolvimento

adotadas no período.
Posse de Juscelino Kubitschek como presidente da
substituição de importações passa a ter como carro-
República e de João Goulart como vice, em 1956.
chefe a implantação da indústria de bens de consumo

Apesar dos percalços atravessados entre a vitória duráveis, notadamente automóveis e

eleitoral e a efetiva posse, o governo JK foi, eletrodomésticos. Durante o governo JK, a taxa de

certamente, um período de estabilidade política, crescimento da economia foi de 8% ao ano em média,

combinada a um processo de crescimento econômico. mas a produção industrial cresceu 100%.

A partir de um quadro social e político tenso e com


Todo esse desenvolvimento foi definido a partir do
interesses divergentes, conciliou o processo
Plano de Metas, que priorizou a substituição de
democrático e a intensificação do desenvolvimento
importações nos setores de bens de capitais e,
do tipo capitalista e industrial.
principalmente, bens de consumo duráveis.O Estado,

Não é por mero acaso, portanto, que a Era JK tenha especialmente por meio do BNDE (Banco Nacional

recebido, posteriormente, o adjetivo de "anos de Desenvolvimento Econômico), continuou a

dourados", servindo, dessa forma, de modelo para financiar grande parte das indústrias de base, por

vários políticos, defensores da ordem política e meio de novas emissões de moedas ou de

democrática no Brasil — ainda que não tenha empréstimos externos. Já o setor de bens de consumo

conseguido superar ou mitigar assimetrias sociais e duráveis desenvolveu-se a partir da

incorporar amplos segmentos sociais à cidadania internacionalização da economia, e para isso utilizou

(MOREIRA, 2003). a Instrução 113 da Superintendência da Moeda e do

Crédito (SUMOC), baixada no início de 1955, no

Em linhas gerais, o governo JK fez-se sob o signo do curto governo Café Filho (1954-1955), que garantia a

binômio crescimento/desenvolvimento industrial. importação de máquinas e equipamentos no exterior,

Embora tal objetivo fosse consensual entre os sem impostos ou cobertura cambial, desde que os

empresários estrangeiros tivessem sócio nacional.


diversos atores sociais e políticos que compunham a

cena brasileira, a forma como o desenvolvimento

nacional deveria ser alcançado era o que estava

efetivamente em disputa.

Nesse sentido, o “nacional-desenvolvimentismo”,


João Café Filho, presidente do Brasil (1954-1955).
além de predominante, exerceria o papel crucial de

alinhavar diferentes segmentos da sociedade em torno


Dessa maneira, realizou-se a abertura do mercado
desse modelo de desenvolvimento. A partir de
nacional para as grandes empresas estrangeiras, que
meados da década de 1950, a industrialização por
passaram a investir maciçamente no Brasil com a A produção em lingotes passou de 1,4 milhão de

disponibilidade de capitais. Assim, os EUA e as toneladas em 1956 para 2,7 milhões de toneladas em

nações europeias retomavam a expansão imperialista. 1962.

A Europa Ocidental e o Japão recuperavam-se dos 3. Produção de veículos automotores


prejuízos causados pela Segunda Guerra Mundial,

como resultado do Plano Marshall e outros Passou de 31 mil em 1957 para 200 mil em 1962.

investimentos realizados pelos EUA. O governo 4. Geração de energia elétrica

Kubitschek soube aproveitar a nova conjuntura


A capacidade instalada de geração de energia elétrica
econômica internacional, com maior disponibilidade
passou de 2,8 milhões de kW em 1954 para 5,8
de capitais e a retomada da disputa por mercados
milhões de kW em 1962.
pelas empresas das economias centrais. Assim, as

reticências e as condições impostas pelos americanos 5. Extensão de rodovias pavimentadas

à cooperação para o desenvolvimento industrial


Passou de 3, 2 mil quilômetros em 1956 para 9 mil
brasileiro podiam ser agora contornadas com essas
quilômetros em 1962.
novas parcerias, ávidas por oportunidades de

investimentos rentáveis.
Enfim, o crescimento médio anual da economia

brasileira foi de 8,1%.


Tendo como base a política econômica construída por

Getúlio Vargas e a massa crítica da Comissão

Econômica das Nações Unidas para a América Latina

(Cepal), Juscelino Kubitschek inovou no

gerenciamento da economia brasileira, lançando seu


Construção do Palácio da Alvorada, Brasília.
Plano de Metas. Um plano que deveria realizar “50

anos em 5”, e cuja meta síntese era a construção da Política desenvolvimentista

nova capital no planalto central ― Brasília. O maior 50 anos em 5: industrialização e desenvolvimento

dinamismo da economia brasileira no período pode nacional

ser constatado por meio de alguns números:

1. Produção de cimento Mesmo que a economia não tenha avançado 50 anos,

durante o governo JK foi inegável a aceleração do


Foram produzidas 914 mil toneladas em 1947 e 4,6
crescimento econômico, sobretudo nos ramos
mihões de toneladas em 1961, alcançando-se a
industriais modernos. O plano abrangia os seguintes
autossuficiência.
setores estratégicos:

2. Produção de aço
Fluxo de migrações entre os anos 1960 e 1980.
1- Energia

2- Transportes A política para o setor agrário caracterizou-se pela

manutenção do modelo tradicional. A concentração


3- Alimentação
fundiária manteve-se e foi menos questionada, uma
4- Indústria de base
vez que toda a discussão econômica passou a se

basear no desenvolvimento industrial.


Seus objetivos principais eram enfrentar os pontos de

estrangulamento da economia por meio de


Dessa maneira, os financiamentos tradicionais
investimentos do Estado em infraestrutura, expandir a
garantiram a manutenção do latifúndio, ao mesmo
indústria de base, bem como desenvolver a indústria
tempo em que a não existência de uma nova política
automobilística, incentivando investimentos privados
para o campo garantia o fluxo constante de mão de
nacionais e estrangeiros, principalmente.
obra barata, expulsa do campo e atraída pelas novas

oportunidades nas grandes cidades.


Apesar do crescimento da produção interna, cresceu

também a dependência tecnológica, pois as empresas Para conduzir sua política econômica, Juscelino

aqui instaladas continuavam a importar máquinas. implantou a administração paralela. Esta consistia em

Havia também a dependência financeira, fruto do órgãos vinculados diretamente à presidência que

agiam com mais independência e agilidade,


maior endividamento e da remessa de lucros realizada
contornando as dificuldades do processo legislativo.
pelas multinacionais. O crescimento urbano foi
Dentre eles, assumiram destaque o Grupo Executivo
acompanhado pelo crescimento de uma "classe
de Maquinaria Pesada (Geimape), o Grupo Executivo
média", em grande parte vinculada ao setor de
para a Indústria Automobilística (Geia) e o Grupo

serviços, ampliando-se também o consumo. Executivo para a Construção Naval (Geicon). O

conhecimento técnico desses agentes era aliado à


A inflação voltou a crescer e, apesar dos
representação de interesses empresariais, constituindo
investimentos públicos no setor de serviços, as
uma interlocução privilegiada com o Executivo e a
cidades não estavam preparadas para o crescimento,
implementação de seus projetos.
pois atraíam milhares de migrantes.

Atenção!

A partir de 1956, com o modelo de desenvolvimento

sugerido pelo Plano de Metas de JK, houve um

evidente deslocamento na ênfase desse debate, uma


vez que a participação do capital estrangeiro se ascensão da economia do país como um importante

tornou uma realidade concreta. A questão da mercado emergente.

participação do capital estrangeiro na promoção do B


desenvolvimento nacional ocupava, naquele

momento, papel de destaque. criação de empresas estatais de exploração de

petróleo e gás natural.


Nacionalismo e desenvolvimento

C
Não havia, nos anos 1950, somente um, mas vários

nacionalismos, pluralidade esta que se devia às incentivo da prática do desenvolvimento sustentável

diferentes elaborações intelectuais, assim como às nas fábricas.

práticas políticas específicas dos vários segmentos D


sociais e seus interesses particulares (FONTES;

MENDONÇA, 1988). A “corrente vitoriosa” dentre utilização de fontes de energia renováveis no parque

essas diversas elaborações, no governo JK, foi aquela industrial do país.

que girava em torno do chamado “nacional- E

desenvolvimentismo”, que apregoava a participação


promoção da abertura econômica do país para as
do capital estrangeiro na economia brasileira,
empresas multinacionais.
submetido, entretanto, aos marcos regulatórios

estabelecidos pelo Estado. Nesse contexto, foram Questão 2

importantes os diagnósticos oferecidos pelo


(Fuvest - SP/2017) O período que vai de 1956 a 1967
pensamento econômico estruturalista da Cepal acerca
é considerado como a primeira fase da
do problema do subdesenvolvimento brasileiro, além
industrialização pesada no Brasil.
da atuação do Iseb para elaboração de uma ideologia

orientadora da perspectiva de desenvolvimento que se


(NEGRI, B. Concentração e desconcentração
tornara predominante.
industrial em São Paulo – 1880-1990. Campinas:

Vamos praticar alguns conceitos? Unicamp, 1996.)

Questão 1
Sobre as características da industrialização brasileira

O governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956- no período de 1956 a 1967, é correto afirmar que

1961) ficou marcado, no contexto da industrialização A


brasileira, pelo(a)

partiu do Estado brasileiro, de caráter fortemente


A
centralizador e nacionalista, a criação das condições
para a nascente indústria têxtil que se instalava no A orientação da política econômica durante a

país, por meio de diversos incentivos e isenções vigência da Ditadura Militar no Brasil possui três

fiscais. momentos bastante definidos:

B 1. Plano de Ação Econômica do GovernoDe 1964 até


1968

a instituição do Plano de Metas, que teve como


Um primeiro, diante de um quadro de elevados níveis
principal finalidade incrementar a incipiente
inflacionários e de redução do PIB, a política
industrialização do Rio de Janeiro e de São Paulo,
econômica procurou conciliar o binômio crescimento
marcou politicamente esse momento do processo.
e redução da inflação; o Plano de Ação Econômica do
C
Governo estruturava-se no tripé reforma fiscal,

reforma monetária e reforma salarial.


houve uma associação entre os investimentos no setor
2. Milagre econômicoDe 1968 até 1973
estatal e a entrada de capital estrangeiro, que

propiciaram a instalação de plantas produtoras de


Um segundo, no início do governo Médici, sob o
bens de capital.
comando do ministro Delfim Neto, alterou
D profundamente a condução da política econômica,

por meio do chamado “milagre econômico”. Em que


trata-se de uma fase marcada pela política de
pese a prosperidade do período 1968-1973, as frágeis
“substituição de importações”, uma vez que se deu
bases do desenvolvimento abriram espaço para a
um incremento da indústria nacional, pela abundância
crise, desencadeada no governo Geisel.
de mão de obra.
3. Década perdidaAnos 1980
E

Um terceiro momento tinha início, assim


ocorreu a implantação de multinacionais do setor
caracterizado pela grave crise da economia brasileira
automobilístico, que se concentraram em São Paulo,
que deixou como herança o descontrole dos anos
principalmente ao longo do eixo da Estrada de Ferro
1980, em outras palavras, a “década perdida”.
Santos-Jundiaí, em direção a Ribeirão Preto.

3 A política industrial: da Ditadura Militar aos Logo após o golpe, iniciou-se o programa de

anos 1990 estabilização e reformas pelo ministro do

Ditadura Militar: contexto econômico Planejamento, Roberto Campos, e pelo ministro da

Fazenda, Octavio Gouvêa de Bulhões, que lançou as

bases para um novo ciclo de acumulação capitalista

no Brasil. Algumas dessas reformas fizeram parte do


Logomarca do INPS.
Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), que

havia sido discutido e elaborado em parte nos círculos


Essas medidas resultaram em forte capitalização do
do Ipes antes do golpe. O Paeg pretendia devolver ao
Estado, na alavancagem das empresas e numa intensa
país o crescimento da segunda metade dos anos 1950;
rotatividade de mão de obra, e ainda viabilizaram o
pôr fim à inflação anual de três dígitos; corrigir o
período de acelerado crescimento econômico a partir
déficit externo; equilibrar as contas públicas; reduzir
de 1968, conhecido como “milagre econômico”.
desigualdades regionais e sociais; e gerar empregos.

Entre 1968 e 1973, sobretudo no governo Médici,


O Paeg incluiu uma reforma tributária, que criou
ainda com Delfim à frente da economia, o país
impostos sobre valor agregado (ICM e IPI) e

universalizou o imposto de renda. O aumento dos cresceu em média 12% ao ano. Houve o estímulo à

impostos reduziu substancialmente o déficit público atividade econômica, como a expansão do crédito —

de 1964 a 1966. Outras medidas foram a unificação incluindo, especificamente, o crédito ao consumidor

da Previdência, com a criação do Instituto Nacional


—, baixas taxas de juros e redução de compulsórios.
de Previdência Social (INPS); a criação de um

mercado para títulos da dívida pública e da correção Destaca-se o desempenho do setor de bens de

monetária; a criação do Banco Central (inicialmente consumo duráveis, como eletrodomésticos e carros,

com independência, depois retirada pelo presidente que cresciam de 20% a 25% ao ano. Uma iniciativa

Costa e Silva); o fim da estabilidade de emprego aos importante do governo foi a criação da Embrapa e as

10 anos de trabalho, substituída, como “mecanismo medidas de apoio ao setor agrícola, que

de proteção ao trabalhador”, pelo Fundo de Garantia acompanharam a fase inicial do plantio de soja no

do Tempo de Trabalho (FGTS); e o lançamento das Brasil, modernizando setores agrícolas tradicionais e

cadernetas de poupança e do financiamento da casa lançando as bases dos complexos agroindustriais

própria em larga escala, com a fundação do Banco (CAIs). Além disso, ocorreram grandes obras para o

Nacional da Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro “Brasil Grande”: a Transamazônica e a Ponte Rio-

da Habitação (SFH). Niterói. Apesar da economia aquecida, a inflação caiu

no período, saindo de 25% em 1968 para 16% em

1973.
Posto americano fechado durante a primeira crise do
petróleo.

PND

O programa de industrialização proposto pelo II

PND

Delfim Netto.
O II PND forneceria as principais diretrizes e

"É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo". elementos da estratégia de longo prazo:

A frase do então ministro da Fazenda Delfim Netto é,


Indústrias básicas
até hoje, uma das mais lembradas da Ditadura Militar.

O bolo cresceu, mas não foi dividido: entre 1968 e Setor energético

1973, o Brasil cresceu acima de 10% ao ano, mas, em


Tecnologia termonuclear
contrapartida, o salário mínimo ― que vinha

recuperando o poder de compra nos anos 1960 ― Grande ênfase nas indústrias básicas, notadamente no

perdeu com o golpe. setor de bens de capital, e de eletrônica pesada, assim

como no campo dos insumos básicos, a fim de


Os limites estruturais da economia brasileira, ao lado
substituir importações e, se possível, abrir novas
da crise internacional, inviabilizaram o projeto
frentes de exportação.
econômico do governo Geisel, levando à chamada

“crise do milagre brasileiro”. A crise da economia Os principais instrumentos da política industrial,

mundial, promovida pela primeira crise do petróleo, carro-chefe na estratégia de desenvolvimento, foram

demonstrou a fragilidade das bases desse crescimento o crédito do Imposto de Produtos Industrializados

e a excessiva dependência da economia brasileira (IPI) sobre a aquisição de equipamentos, a

diante do capital externo. A concentração de renda, a depreciação acelerada para equipamentos nacionais,

explosão da inflação e a redução dos níveis de as isenções do imposto de importação, o crédito

exportação desencadearam a crise do modelo vigente, subsidiado, a reserva de mercado para alguns setores

durante o governo Médici, e levaram a uma nova e a garantia de preços.

orientação econômica, materializada no II Plano


Os órgãos de implementação dessa política foram o
Nacional de Desenvolvimento (PND).
Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), o

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

(BNDE), o Conselho de Política Aduaneira, a

Carteira de Comércio Exterior (CACEX) do Banco


do Brasil e o Conselho Interministerial de Preços importações em um mesmo período, apesar do

(CIP). segundo choque do petróleo:

Exportações

Passam de 7,5% do PIB em 1974 a 8,4% em 1980.

Sede do BNDES, Rio de Janeiro. Importações

Contexto internacional e o neoliberalismo


Caem de 11,9% em 1974 para 9,5% do PIB em 1980.
A crise do petróleo de 1973

Em meados de 1980, a equipe econômica já percebia


A primeira crise do petróleo em 1973 teve como
os primeiros sinais de escassez de financiamento
consequências para o Brasil não só a elevação do
externo, evidenciando a disposição dos credores de
preço do produto e derivados, mas também o
cobrar pesados custos internos no curto prazo para
aumento dos juros no mercado financeiro
financiar o ajuste. Todavia, manteve-se a
internacional, encarecendo o abundante fluxo de
programação dos investimentos, incluindo-se no III
poupança externa. A política desenvolvimentista do
PND investimentos relacionados à exploração do
governo Geisel prosseguiu, em ritmo menos
petróleo, à substituição de energia na indústria e no
acelerado e com investimentos de maturação mais
transporte, à substituição de importações de insumos
lenta, com taxas de crescimento em torno de 4% ao
básicos e para atividades voltadas para a exportação.
ano, contra a média de 10% a.a. no período anterior.
Atenção!
Essa “marcha forçada” da economia teve o seu limite

em 1979, com o início de uma política recessiva de A economia brasileira experimentou, após longo

“ajuste”, promovida pelo governo, conforme o período de crescimento, uma profunda recessão no

receituário do Fundo Monetário Internacional início dos anos 1980, que culminou com uma queda

(CASTRO; SOUZA, 1985). de cerca de 10% no produto industrial em 1981. Pela

primeira vez após a Segunda Guerra Mundial o PIB


A diferença importante da experiência brasileira da
teve um declínio real de 4,3%.
década de 1970, tanto em relação às experiências
O advento do neoliberalismo como solução para a
anteriores quanto às de outros países, é que a opção crise

pela política de substituição de importações foi feita


Sustentado pelo cenário de profunda crise econômica
sem que houvesse descontinuidade no incentivo às
dos anos 1980 (diretamente relacionada à crise do
exportações. Veja a diferença entre exportações e
“milagre econômico”), consolidou-se o diagnóstico
de que somente a reestruturação do papel do Estado referência as diretrizes elaboradas pelo economista

poderia garantir a recuperação econômica do país. Tal John Williamson na reunião na cidade de

constatação por parte de dirigentes políticos Washington, no ano de 1989, na qual foram traçados

brasileiros levou à reconfiguração da política os caminhos que os países da América Latina

econômica brasileira, a partir da introdução do deveriam trilhar.

projeto neoliberal no Brasil.

Os sucessivos fracassos dos planos econômicos

implementados durante o governo de José Sarney

(1985-1990) – Plano Cruzado I, Plano Cruzado II e

Plano Verão – fortaleceram o discurso de que Capitólio dos Estados Unidos em Washington.

somente a implementação da agenda produzida pelo


Segundo o próprio economista, o grande consenso
Consenso de Washington poderia promover a
pode ser sistematizado em três planos:
inserção do país nos novos rumos e nas novas
1. Ordem macroeconômica
exigências da economia mundial.

É requerido um rigoroso esforço fiscal que passa por


O Consenso de Washington ficou conhecido como
um programa de reformas administrativas,
um conjunto de dez medidas econômicas formuladas
previdenciárias e fiscais, além de um corte violento
durante uma reunião ocorrida em Washington, D.C.,
nos gastos públicos.
em novembro de 1989, realizada por economistas de
2. Ordem microeconômica
instituições financeiras como o Fundo Monetário

Internacional, Banco Mundial e o Departamento do


Passa pela necessidade de desonerar fiscalmente o
Tesouro dos Estados Unidos. As novas medidas
capital (desoneração fiscal, flexibilização dos
estimulavam a competição entre as taxas de câmbio,
mercados de trabalho, diminuição da carga social
davam incentivos às exportações e previam a gestão
com os trabalhadores, diminuição dos salários) para
de finanças públicas, tornando-se a política oficial do
que ele possa aumentar sua competitividade no
Fundo Monetário Internacional em 1990, no
mercado internacional, desregulado e aberto.
momento que passaram a ser receitadas para
3. Novo modelo
promover o ajustamento macroeconômico dos países

em desenvolvimento que passavam por dificuldades. Desmonte radical do modelo anterior (Estado

interventor).
A nova configuração que as políticas públicas irão

assumir, desde então, toma como elementar ponto de


Assim, nos anos 1980 e começo dos anos 1990, a Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), foi

conjuntura brasileira constituiu-se em um fértil eleito governador de Alagoas em 1986. Em 1989, em

terreno para a pregação do ideário neoliberal. A crise meio às articulações para lançamento de sua

econômica, a crise de legitimidade e os movimentos candidatura à presidência, criou um partido próprio, o

de massa deram a tônica à chamada “abertura”. Partido da Reconstrução Nacional (PRN).

Estavam desenhadas, então, as condições para que a

agenda neoliberal apresentada fosse vista como a

única solução para a crise. Segundo Francisco de

Oliveira (1996), o processo de dilapidação do Estado

brasileiro que teve início ainda durante a Ditadura e

prosseguiu sem interrupções no governo Sarney terá


Posse do presidente Fernando Collor de Melo.
papel decisivo para a consolidação do cenário para a

penetração da ideologia neoliberal: o binômio


Assim que toma posse no dia 15 de março de 1990,
hiperinflação/desqualificação da ação política e dos
Collor põe em marcha um conjunto de reformas que
espaços públicos como agentes promotores do bem-
tem origem na constatação do esgotamento financeiro
estar social.
do Estado e na necessidade de redução do déficit

público. O “enxugamento” da máquina estatal a partir

da redução de um número significativo de órgãos e a

diminuição de custos constituíram-se em objetivos de

reforma administrativa.
José Sarney e Tancredo Neves.

O eixo do discurso governamental sustentava-se no


Programa neoliberal
tripé desestatização, desregulamentação e
A eleição de Fernando Collor e a adoção do
liberalização dos preços e salários. A defesa da
programa neoliberal
redução dos gastos públicos também é um ponto

nodal na proposta de governo de Collor. Torna-se,


Na primeira eleição direta para presidente desde
assim, recorrente no discurso do então presidente a
1960, o papel principal coube a Fernando Collor,
promoção do equilíbrio do orçamento federal por
candidato por uma frágil aliança partidária, cuja
meio do fim da concessão de benefícios e de
trajetória não foi marcada pela fidelidade partidária.
privilégios, o que exige obrigatoriamente uma
Pela Arena, foi nomeado prefeito de Maceió em
estratégia global de reforma do Estado, cujo
1979; pelo Partido Democrático Social (PDS),
saneamento será conquistado por meio de uma
elegeu-se deputado federal em 1982; pelo Partido do
tríplice reforma:
1- Fiscal
home_work

2- Patrimonial
text_snippet

3- Administrativa Logotipo do governo Fernando Collor.

No dia seguinte à posse, medidas de choque para Para tal, o então eleito presidente propunha a redução

tentar controlar a inflação são tomadas: o cruzeiro das áreas de atuação do Estado, o controle sobre a

retoma sua posição de moeda oficial; os saques da inflação, a defesa da economia de mercado, a redução

poupança, do overnight e das contas correntes são dos gastos públicos e o equilíbrio orçamentário.

reduzidos ao máximo de Cr$ 50 mil, ficando o saldo


No discurso de posse, em 15 de março de 1990,
restante retido pelo Banco Central pelo prazo de
Fernando Collor já deixou clara a sua orientação
dezoito meses; os aumentos dos preços são proibidos;
econômica:
é adotado o câmbio flutuante; foram extintos 24

organismos estatais e autárquicos, destacando-se


!Entendendo assim o Estado não como produtor, mas
entre eles, a Siderúrgica Brasileira (Siderbrás), o
como promotor do bem-estar coletivo. Daí a
Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e o Instituto
convicção de que a economia de mercado é a forma
Brasileiro do Café (IBC).
comprovadamente superior de geração de riqueza, de

A despeito do confisco da poupança, os preços de desenvolvimento intensivo e sustentado. [...] Não


alguns produtos congelados começam a ser liberados
abrigamos, a propósito, nenhum preconceito colonial
já a partir de maio, mesmo momento em que o
ante o capital estrangeiro. Ao contrário: tornaremos o
governo anuncia a meta de 360 mil demissões no
Brasil, uma vez mais, hospitaleiro em relação a ele
funcionalismo público — das quais efetivamente
[…] Não nos anima a ideia de discriminar nem contra
somente em torno de 10 mil ocorreram. Esse pacote

ficou conhecido como Plano Collor. nem a favor dos capitais externos, mas esperamos que

não falte seu concurso para a diversificação da


O projeto político-econômico, apresentado por
indústria, a ampliação do emprego e a transferência
Fernando Collor de Mello em seu discurso de posse
de tecnologia em proveito do Brasil. Em síntese, essa
no Congresso Nacional, tinha como ponto central a

ideia de “reconstrução nacional”. proposta de modernização econômica pela

privatização [...] é a esperança de completar a

liberdade política, reconquistada com a transição


democrática, com a mais ampla e efetiva liberdade “Contraiu-se irresponsavelmente uma enorme dívida

econômica.” externa, geradora de uma crise, que só agora [1994]

se conseguiu equacionar [...] a ciranda financeira que


(MELO, 1990, n. p.)
se instaurou levou o Estado à falência. A inflação

descontrolada, que só agora [1994] também

conseguimos conter, distorceu qualquer

previsibilidade indispensável ao cálculo empresarial


Caras-pintadas em manifestação em frente ao
de médio e longo prazos, [...] quebrou o esquema de
Congresso Nacional, em Brasília.
financiamento do desenvolvimento e acentuou as
Governo FHC

A reestruturação industrial do Estado no governo contradições e atrasos sociais.”

FHC
(CARDOSO, 1994, n. p.)

Apesar da força eleitoral do principal candidato da A partir desse diagnóstico, as principais propostas de

oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da governo de Fernando Henrique Cardoso giravam em

Fazenda Fernando Henrique Cardoso, sustentado torno da implementação do projeto de um novo

eleitoralmente pela aliança PSDB/ PFL e do Plano modelo de desenvolvimento que tem como pontos

Real, foi eleito com 54% dos votos válidos ainda no centrais: a reconstituição do esquema de

primeiro turno. financiamento do desenvolvimento, a eleição da

geração de empregos como a forma mais efetiva e


Assim como Collor, Cardoso também configura seu
duradoura de distribuição de renda, e o fortalecimento
programa de governo em torno do diagnóstico da
do poder político decisório.
falência do modelo de Estado nacional-

desenvolvimentista. Embora constate ter havido o


Marcaram esse período os embates em torno do
crescimento da economia, a estruturação de um
processo de privatização, principalmente da
importante parque industrial e o aumento da
Companhia Vale do Rio Doce e do sistema de
capacidade competitiva das exportações brasileiras no
Telecomunicações, as disputas internas ao grupo
período que se estendeu entre 1930 e 1980, para

Fernando Henrique Cardoso o nacional- responsável pela condução da política econômica e,

desenvolvimentismo deixou profundas sequelas para principalmente, os embates em torno da aprovação

a sociedade brasileira: das emendas constitucionais que viabilizariam a

implementação das propostas governamentais.


Enviado ao Congresso em fevereiro de 1995, o pacote Leia, atentamente, a “Carta Testamento” publicada na

foi aprovado em 15 de agosto. Tomando como ponto ocasião do suicídio de Getúlio Vargas em 1954.

de partida a redefinição do conceito de empresa

nacional e tendo como prioridade reordenar o Estado, Voltei nos braços do povo. A campanha subterrânea

nessa primeira rodada de reformas “abria-se a dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos

exploração de gás natural aos capitais privados, nacionais [...] Quis criar a liberdade nacional na

mediante concessão; quebrava-se o monopólio estatal


potencialização de nossas riquezas através da
das telecomunicações; permitia-se a navegação de
Petrobras; mal ela começa a funcionar, a onda de
cabotagem por navios de qualquer bandeira e
agitação se avoluma. A Eletrobras foi obstaculada até
propunha-se o que eu chamei de ‘flexibilização’ do
o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
monopólio do petróleo, ou seja, sem privatizar a

Petrobras, promover a concorrência da estatal com Não querem que o povo seja independente.

outras empresas, nacionais e estrangeiras, nas


(VARGAS, 1954, n. p.)
atividades de exploração, importação e refino”

(CARDOSO, 2006, p. 452-453).

Desse pacote, somente o item referido à

“flexibilização do monopólio do petróleo” teve sua

aprovação postergada. Os problemas e as crises

ocorridas no primeiro mandato de Fernando Henrique


Réplica da Carta Testamento de Getúlio Vargas na
Cardoso não inviabilizaram o projeto de sua
Praça Julio de Castilhos, em São Jerônimo, Rio
reeleição, que acabou por ser vitorioso, dando-lhe a Grande do Sul.

possibilidade de outro quadriênio na condução


E o discurso de posse de Fernando Henrique Cardoso
política do governo brasileiro.
na ocasião de sua reeleição presidencial em 1999.

O Estado começou a ser transformado para tornar-se

mais eficiente, evitar o desperdício e prestar serviços

de melhor qualidade à população. [...] Fui escolhido

pelo povo [...]. Para continuar a construir uma


Fernando Henrique Cardoso com George W. Bush.
economia estável, moderna, aberta e competitiva.
Analisando documentos
Para prosseguir com firmeza na privatização. Para

apoiar os que produzem e geram empregos. E assim


recolocar o País na trajetória de um crescimento a Guerra Fria.

sustentado, sustentável e com melhor distribuição de C

riquezas entre os brasileiros.


a crise internacional do petróleo.

(CARDOSO, 1994, n. p.)

D
Os dois documentos revelam as diferenças decisivas

entre os projetos de modernização econômica e as a invasão do Kuwait pelo Iraque.

perspectivas para o desenvolvimento industrial E

brasileira. A diferença principal está no papel

exercido pelo Estado na defesa dos interesses a Revolução Islâmica no Irã.

nacionais. Para Vargas, o desenvolvimento Questão 2

econômico e a prosperidade nacional seriam


Sobre a história do neoliberalismo, leia o trecho
conquistados por meio da atuação das empresas
abaixo.
nacionais sob controle do Estado. Já para Fernando

Henrique Cardoso, a modernização econômica


Não é novidade que, a partir do momento em que a
ocorreria por meio da redução da atuação estatal e
neoliberalização foi violenta e repentinamente
mediante privatizações. De certa maneira, esse debate
imposta em partes do sul global, nas décadas de 1970
sintetiza a discussão em torno do processo histórico
e 1980, seja por conquista imperial, golpes de Estado
de industrialização brasileira.
internos, exigência do Fundo Monetário Internacional
Vamos praticar alguns conceitos? (FMI) ou alguma combinação destes, o trabalho foi

Questão 1 amordaçado e o capital, posto à solta. [...] De um

lado, as indústrias estatais são privatizadas,


(FEI - SP/2000) A Ditadura Militar no Brasil
proprietários estrangeiros são atraídos, a retenção de
começou a ser abalada quando o modelo de
lucros é assegurada; de outro, as greves são
desenvolvimento econômico começou a dar sinais de
criminalizadas e os sindicatos, limitados, por vezes
esgotamento. Além de problemas inerentes ao
até declarados ilegais.
modelo, um fator externo foi fundamental para a

crise. Esse fator foi (BROWN, W. Cidadania sacrificial: neoliberalismo,

A capital humano e políticas de austeridade. Rio de

Janeiro: Zazie Edições, 2018. p. 24.)


a Guerra do Vietnã.

B
Considerando a história contemporânea, o texto

aborda algumas práticas associadas à emergência de

regimes neoliberais pelo globo ao longo das últimas

décadas. Assinale a alternativa que indica algumas

dessas práticas.

A estatização de empresas privadas, a extensão das

redes de proteção social e o controle social dos lucros

das grandes corporações.

A ampliação dos direitos democráticos, a crítica às

políticas de austeridade e a introdução de reformas

sociais em larga escala.

A privatização de empresas públicas, a precarização

das relações laborais e a introdução de políticas de

austeridade em larga escala.

A defesa do nacionalismo econômico, a quebra de

grandes monopólios corporativos e o

enfraquecimento do sistema de seguridade social.

A criminalização da superexploração do trabalho, a

ampliação do setor de serviços e a democratização

das rendas nacionais.

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