Você está na página 1de 122

CNU

Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Servidor

Eixo Temático 3 - Sociologia e Psicologia Aplicadas ao Trabalho


Eixo Temático 3 - Sociologia e Psicologia Aplicadas
ao Trabalho
A Sociologia do trabalho e seu objeto de estudo: O trabalho como uma categoria do
pensamento sociológico. O Conceito de Trabalho. Trabalho: ação, necessidade e co-
erção. Exploração e alienação........................................................................................ 1
Trabalho e progresso técnico.......................................................................................... 2
Divisão do trabalho e distribuição de tarefas.................................................................. 3
Processo de trabalho e organização de trabalho........................................................... 8
O trabalho humano e sua evolução histórica: trabalho escravizado, trabalho feudal em
servidão, trabalho livre desprotegido.............................................................................. 10
Fases históricas iniciais da industrialização: Artesanato, manufatura, maquinofatura e
mecanização da produção.............................................................................................. 12
A Revolução Industrial e o capitalismo industrial............................................................ 15
Modelos de gestão e organização do trabalho: taylorismo, fordismo, toyotismo, plata-
formas digitais e seus impactos no trabalhador e na sociedade..................................... 20
A organização dos trabalhadores e trabalhadoras: O movimento operário.................... 27
Sindicalização e militantismo.......................................................................................... 28
A ação sindical e sua tipologia........................................................................................ 29
A evolução do sindicalismo diante das transformações do mundo do trabalho.............. 30
Greves e conflitos trabalhistas........................................................................................ 31
A crise atual da sociedade do trabalho: O processo de globalização, seus efeitos soci-
ais e as novas cadeias produtivas.................................................................................. 38
O proletariado de serviços, as plataformas digitais, a inteligência artificial e o ciberpro-
letariado........................................................................................................................... 39
A necessidade de novas competências, qualificações e as funções em extinção.......... 42
Flexibilização, informalidade, terceirização e precarização das condições de
trabalho........................................................................................................................... 45
O trabalho como categoria estruturante na sociedade capitalista: O trabalho no pensa-
mento clássico. A teoria do valor-trabalho. Divisão social do trabalho. Divisão socios-
sexual e racial do trabalho.............................................................................................. 48
Conceitos básicos e definições sobre Economia do Trabalho e mercado de trabalho:
População ocupada. Trabalho profissional e trabalho doméstico. Orientação, formação
e qualificação profissional. Atores no mercado de trabalho. Mercado de trabalho formal
e informal. Agentes econômicos. Trabalho e empresa.................................................. 52
Salário: Capital Humano e investimento na qualificação: educação, profissionalização
e treinamento; Discriminação no mercado de trabalho e políticas antidiscriminatórias.
Segmentação no mercado de trabalho. Custos não salariais......................................... 57

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


Estruturas de mercado: concorrência perfeita, monopólio, oligopólio e monopsônio..... 57

Eixo Temático 3 - Sociologia e Psicologia Aplicadas ao Trabalho


A intervenção governamental: Política salarial e políticas de emprego. Subsídios gov-
ernamentais para investimentos em capital humano. Salário-mínimo............................ 64
Psicologia social e aplicação no trabalho: Relação entre indivíduo e sociedade........... 66
Intervenções psicossociais em comunidades e organizações........................................ 67
Psicologia social na saúde, educação, justiça e políticas públicas................................. 68
Promoção da mudança social e enfrentamento de problemas sociais........................... 77
Identidade pessoal, social, pertencimento e processos de categorização social. Identi-
dade de gênero, etnia, nacionalidade, entre outras........................................................ 78
Grupos e Dinâmicas de Grupo: Formação e desenvolvimento de grupos. Processos
de coesão e conflito em grupos...................................................................................... 95
Liderança, poder e influência dentro de grupos.............................................................. 97
Psicossociologia do contrato de trabalho: Disciplina e saber operário........................... 107
Trabalho, motivação, satisfação e alienação.................................................................. 107
Exercícios........................................................................................................................ 110
Gabarito........................................................................................................................... 120

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


A Sociologia do trabalho e seu objeto de estudo: O trabalho como uma categoria do
pensamento sociológico. O Conceito de Trabalho. Trabalho: ação, necessidade e coer-
ção. Exploração e alienação

A Sociologia, como sabemos, encontra-se subdividida em diversas áreas, que embora tenham princípios
muito semelhantes diferem especialmente em seu objeto central de estudo. Se a Sociologia volta-se para aná-
lises da sociedade, da vida em sociedade e das relações sociais, a especificidade do ramo da Sociologia do
Trabalho está no fato de esta voltar-se mais particularmente para a busca da compreensão da organização e
evolução do mundo do trabalho na sociedade, as relações de trabalho e as implicações sociais dos mesmos.
Essas preocupações não são tão antigas. As transformações no mundo do trabalho foram responsáveis por
atrair o olhar desses estudiosos, além disso, a visão que se tem do próprio trabalho foi construída ao longo
do tempo. Os modos de produção nos quais as sociedades já se inseriram vem se modificando, e junto com
isso vem se transformando o conceito do trabalho bem como as relações sociais suscitadas pelo mesmo e as
preocupações referentes a isso.
A Sociologia do Trabalho e a História
Historicamente sabe-se que o trabalho já foi considerado uma atividade extremamente depreciável. Os gre-
gos da antiguidade clássica consideravam que o ócio criativo era digno apenas de homens livres, e também
somente esses homens livres estariam aptos para dedicar-se a vida pública e a erudição. De outro lado esta-
vam os escravos, que se dedicavam as atividades cotidianas, aos cuidados com afazeres domésticos e etc.
Assim foi durante muito tempo, visto que se considerava a escravidão como a mais adequada relação laboral.
As transformações pelas quais o mundo do trabalho vem passando desde então são importantíssimas para
que se compreenda a organização atual dessas relações, bem como as preocupações dos sociólogos dessa
área. Desde o escravismo antigo, passando pelo artesanato, servidão, e tantas outras formas de trabalho até
chegarmos aos moldes do trabalho industrial no mundo moderno acarretaram transformações que dizem res-
peito à própria vida em sociedade, organização desses sujeitos e relações de poder entre os proprietários dos
meios de produção e aqueles que vendem sua força de trabalho.
O impacto de novas tecnologias no mundo do trabalho, novas formas de organização, obsolescência de
diversas profissões, o aumento do mecanismo de exclusão, a exigência de cada vez mais qualificação da mão
de obras são fatores ainda presentes e que nos mostram o quanto o mundo do trabalho ainda encontra-se em
contínuo processo de transformação. Contudo, o advento do capitalismo e as bruscas transformações acarre-
tadas pela revolução industrial são ainda o grande ponto de transformação da lógica do trabalho.
Essa transformação da forma de viver, destruição de costumes e instituições, a automação, a formação do
proletariado, etc. tudo isso fez com que se despertasse a atenção daqueles que observam cientificamente a so-
ciedade. O estudo científico dessa sociedade resultou de fato no advento da Sociologia, e assim sendo vemos
que a Sociologia do Trabalho é um campo de estudos e observações inerente ao próprio pensamento social, já
que ambos foram originados a partir das mesmas preocupações.
Os responsáveis por influenciar o que hoje se entende na Sociologia do Trabalho
Essa divisão da Sociologia em áreas é muito posterior. Mas isto que hoje conhecemos como Sociologia do
Trabalho sofre importante influência de grandes nomes da Sociologia, como Marx e Durkheim que já pensavam
as transformações nas relações de trabalho, na luta de classes, na vida do trabalhador e nas relações sociais
compreendidas nesse universo.
A Sociologia do Trabalho e a Alienação do trabalhador
Uma das grandes críticas que a Sociologia do Trabalho tece ao mundo moderno e ao modo capitalista de
produção é de fato a alienação do trabalhador em relação à sua atividade. Esse conceito de alienação do tra-
balho mostra de fato como o trabalhador está posto como um mero vendedor de sua força de trabalho, estando
muitas vezes colocado à parte da função de sua atividade e do produto final de seu esforço. Mais do que isso,
na esmagadora maioria das vezes a remuneração auferida por esse trabalhador não é suficiente para que ele
possa ter igual acesso àquilo que produziu.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


1
Essa crítica refere-se a um sistema de produção fragmentado, onde cada vez mais o trabalhador encontra-
-se forçosamente distanciado do produto de seu trabalho. Distancia-se por estar cada vez mais desenvolvendo
uma atividade mínima, especializada e repetitiva, onde muitas vezes desconhece o produto final do qual resulta
a junção de tantas pequenas tarefas. E distancia-se também pelo fato de muitas vezes a remuneração por ele
auferida ser insuficiente para ter acesso àquilo que é produto de seu próprio trabalho.
O trabalhador, no capitalismo, é infinitamente diferente do artesão. Enquanto o artesão tinha total domínio
sobre seu locar de trabalho, seus horários, atividades, matérias primas e valor monetário de seu produto o
trabalhador hoje se encontra submetido aos horários, condições e atividades pré-determinados pelo patrão,
detentor dos meios de produção. As relações nesse sistema são fortemente marcadas pelo poder.
Desta feita, a fim de complementar, o principal alvo da crítica da Sociologia do Trabalho deve-se ao fato de
as transformações no mundo do trabalho ter-nos levado a uma condição onde uns são tão poderosos e detém
tanto capital que podem comprar os outros que estão submetidos a condições tão degradantes que necessitam
vender-se sob condições muitas vezes questionáveis.

Trabalho e progresso técnico

O trabalho e o progresso técnico figuram como protagonistas na evolução social, exercendo funções essen-
ciais tanto no âmbito econômico quanto na metamorfose das interações humanas. As disciplinas de sociologia
e psicologia, voltadas para o universo laboral, buscam decifrar a intricada teia entre indivíduos, organizações e
as metamorfoses tecnológicas que moldam o cenário profissional. Nesta abordagem, investigaremos a dinâmi-
ca entre trabalho e progresso técnico, realçando as repercussões sociais e psicológicas desse entrelaçamento.
O labor, ao longo da história, surge como uma força propulsora do desenvolvimento social. Desde os primór-
dios da civilização, as atividades laborativas desempenham papel crucial na subsistência e na organização
comunitária. A sociologia analisa o trabalho como fenômeno social, explorando como as estruturas sociais
influenciam e são influenciadas pelas atividades laborais. Relações de trabalho, hierarquias e formas organiza-
cionais são fatores cruciais nessa análise da dinâmica social.
A psicologia do trabalho direciona-se para as experiências individuais dos trabalhadores. A interligação entre
as exigências laborais e a psique humana é multifacetada, incorporando elementos como motivação, satisfa-
ção, estresse e bem-estar. O progresso técnico, ao introduzir novas modalidades de produção e organização
laboral, repercute diretamente na experiência psicológica dos trabalhadores. A adaptação às mudanças tecno-
lógicas, a pressão pelo desempenho e as interações interpessoais no ambiente de trabalho são áreas de foco
na psicologia do trabalho.
O avanço técnico, impelido pela inovação e pela constante busca de eficiência, emerge como um agente
transformador nas estruturas sociais. A incorporação de tecnologias avançadas altera não somente as práticas
laborais, mas também reconfigura a distribuição de poder e recursos na sociedade. A automação, como exem-
plo, pode ocasionar mudanças significativas na composição e dinâmica das classes sociais, gerando desafios
e oportunidades abrangentes.
A automação e informatização, elementos fundamentais do progresso técnico, possuem o potencial de oti-
mizar a eficiência, mas também podem afetar a saúde mental dos trabalhadores. A pressão para se adaptar
rapidamente, o receio da obsolescência profissional e a intensificação do ritmo laboral são desafios psicológi-
cos enfrentados em ambientes onde a tecnologia desempenha papel preponderante. A psicologia aplicada ao
trabalho dedica-se à compreensão desses desafios, procurando estratégias para promover o bem-estar emo-
cional e a resiliência dos trabalhadores.
A introdução de tecnologias avançadas no ambiente de trabalho não atinge uniformemente todos os estratos
sociais. Desigualdades socioeconômicas podem ser amplificadas, uma vez que nem todos têm acesso equita-
tivo às oportunidades geradas pelo progresso técnico. A sociologia aplicada ao trabalho investiga como essas
disparidades se manifestam nas relações laborais, destacando a importância de políticas públicas e estratégias
empresariais que fomentem a inclusão e a equidade.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


2
Conforme a sociedade avança em direção a um futuro cada vez mais tecnológico, a interação entre trabalho
e progresso técnico perpetuará como um campo de estudo e reflexão. A sociologia e a psicologia aplicadas ao
trabalho desempenham papéis cruciais na antecipação e na gestão dos desafios emergentes. A compreensão
aprofundada das dinâmicas sociais e psicológicas relacionadas ao trabalho e ao progresso técnico se revela
essencial para promover uma evolução equitativa e sustentável da sociedade.

Divisão do trabalho e distribuição de tarefas

Na administração científica uma tarefa deve ser dividida ao maior número possível de subtarefas. Quanto
menor e mais simples a tarefa, maior será a habilidade do operário em desempenhá-la. Ao realizar um movi-
mento simples repetidas vezes, o funcionário ganha velocidade na sua atividade, aumentando o número de
unidades produzidas e elevando seu salário de forma proporcional ao seu esforço.
A divisão do trabalho permite a padronização dos procedimentos técnicos e do exercício de autoridade; e
que permite ao mesmo tempo um aumento de produtividade do trabalho e de eficiência organizacional.
A divisão do trabalho também é um dos 14 princípios gerais de Henry Fayol (o primeiro deles):
Divisão do trabalho: o princípio geral da administração que estabelece a necessidade de especialização
de empregados, desde a alta hierarquia até os trabalhadores operários, como forma de aprimorar a eficiência
da produção e, consequentemente, aumentar a produtividade. Significa dividir o trabalho em tarefas especiali-
zadas e destinar responsabilidades a indivíduos específicos.
Érika de Cássia Oliveira Caetano1 apresenta o tema divisão do trabalho na visão de Karl Marx e Dürkheim:
Dürkheim procura com seus métodos de análise e objeto de estudo, explicações para as modificações
estruturais ocorridas com o advento da sociedade moderna. O triunfo da indústria capitalista promoveu uma
transformação radial em sua estrutura socioeconômica, dando um novo rumo à sociedade emergente. É nesta
perspectiva que a sociedade moderna capitalista será colocada no plano de análise deste sociólogo.
Durkheim considera que a sociedade precisaria ser estudada como um fenômeno sui generis; como uma
unidade ou sistema organizado de relações permanentes e mais ou menos definido, com leis naturais de de-
senvolvimento que são baseadas na articulação de suas partes.
A sociedade é semelhante a um corpo vivo, em cada órgão cumpre uma função, ou seja, as partes
(os fatos sociais) existem em função do todo (a sociedade).
Ao comparar a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois estados em que esta pode se
encontrar: o estado normal que designa os fenômenos que ocorrem com regularidade na sociedade e o pato-
lógico, comportamentos que representam doenças e devem ser isolados e tratados porque põem em risco a
harmonia e o consenso, estando fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente.
A sociedade moderna se encontra em um estado doentio, porque deixou de exercer o papel de freio moral
sobre os indivíduos. Como Durkheim demonstra no prefácio à segunda edição de sua obra “Da divisão do tra-
balho social”:
“É a esse estado de anomia que devem ser atribuídos, como mostraremos, os conflitos incessantemente
renascentes e as desordens de todo tipo de que o mundo econômico nos dá o triste espetáculo. Porque, como
nada contém as forças em presença e não lhes atribui limites que sejam obrigados a respeitar elas tendem a
se desenvolver sem termos e acabem se entrechocando, para se reprimirem e se reduzirem mutuamente. (...)
As paixões humanas só se detêm diante de uma força moral que elas respeitam. Se qualquer autoridade des-
se gênero inexiste, é a lei do mais forte que reina e. latente ou agudo, o estado de guerra é necessariamente
crônico”.2

1 ÉCO Caetano. A Divisão do Trabalho: Uma Análise Comparativa das Teorias de Karl Marx e Emile Dürkheim
2009.
2 DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


3
Durkheim considera que os conflitos e as desordens da sociedade moderna são sintomas deste estado de
anomia e ainda que, a Religião, o Estado e a família têm sido pouco eficazes no controle moral desta socie-
dade. O mecanismo que oferece a coesão para a sociedade seria a solidariedade social. Nesta perspectiva,
cabe-nos demonstrar que a solidariedade social se expressa, segundo sua teoria, por uma maior ou menor
divisão do trabalho, somando ainda à consciência que poderá ser individual ou coletiva.
A divisão do trabalho e a forma de consciência que se expressa em cada sociedade, levaram Durkheim a de-
monstrar que os fatos sociais têm existência própria, externa aos indivíduos e que no interior de qualquer grupo
ou sociedade existem formas padronizadas de conduta e pensamento baseadas na soma destas categorias.
Esta soma, por sua vez, formam os dois tipos de solidariedade: a solidariedade mecânica e a solidariedade
orgânica.
Em sua obra, Durkheim demonstra que a sociedade modela o comportamento social do homem no processo
da evolução social, passando de uma solidariedade mecânica, para uma solidariedade orgânica.
“A solidariedade mecânica é mais simples e se forma pela igualdade: os indivíduos vivem em comum porque
partilham de uma consciência coletiva comum. A consciência coletiva é ‘um conjunto das crenças e dos sen-
timentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade [que] forma um sistema determinado que
tem vida própria’”.3
De acordo com SELL:
Durkheim observou que a estrutura das sociedades tradicionais era caracterizada por uma repetição de
segmentos similares e homogêneos, que não tinham nenhuma relação entre si. Uma sociedade segmentada
é aquela onde os grupos sociais (como aldeias, por exemplo) vivem isolados, com um sistema social que tem
vida própria. O segmento basta-se a si mesmo e tem pouca comunicação com o mundo exterior.
A evolução da sociedade, promove uma diferenciação social, no qual predomina a divisão do trabalho. De
acordo com Durkheim, são três os fatores responsáveis pelo crescimento da sociedade: volume, densidade
sócia e densidade moral.
Raymond Aron4, assim define estes conceitos:
Com o crescimento quantitativo (volume) e qualitativo (densidade material e moral) da sociedade, ocorre
na sociedade um processo de especialização de funções denominado por Durkheim de Divisão Social do
Trabalho. Nesta nova sociedade o indivíduo é socializado porque, embora tenha uma esfera própria de ação,
depende dos demais, e por conseguinte, da sociedade resultante dessa união. Nesta sociedade predomina a
solidariedade orgânica, ou seja, uma sociedade em que os indivíduos estão unidos em virtude da divisão social
do trabalho.
Vale ressaltar que a divisão social do trabalho, explicitada pelo teórico, não se refere apenas à especializa-
ção de funções econômicas, mas também pelas diferentes esferas sociais que se diferenciam e se especiali-
zam cada vez mais como a economia, a política, a educação, o direito e outros. Além disso, a divisão social do
trabalho, exerce nos homens a função de freio moral.
A solidariedade orgânica é fruto das diferenças sociais. São essas diferenças que unem os indivíduos pela
necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência.
A solidariedade orgânica prevalece nas sociedades complexas de tipo capitalistas, onde, através da ace-
lerada divisão social do trabalho, os indivíduos se tornam interdependentes e suas funções são vitais para o
funcionamento do sistema social. Neste tipo de solidariedade a consciência coletiva se afrouxa, dando espaço
à consciência individual que expressa o que temos de pessoal e distinto.
Isto nos revela outro aspecto importante da obra de Durkheim: a especialização de funções e o grande de-
senvolvimento das atividades econômicas levaram a uma acentuação da consciência individual, o que pode
ser prejudicial à coesão social.

3 DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
4 ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 6ª ed, São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


4
A infinidade de ocupações distribuídas ente os homens impedirá que eles percebam a complementariedade
entre elas, gerando um forte sentimento de individualismo. A acentuada especialização de atividades faz com
que o indivíduo oriente seus atos, segundo suas próprias intenções, deixando de lado os valores coletivos.
Desta forma, o individualismo exacerbado, segundo Durkheim, leva a sociedade a um estado de anomia moral,
ou seja, à perda de uma moral orientadora e disciplinadora dos comportamentos.
A falta de regulamentação das atividades profissionais também levariam a sociedade a uma “divi-
são anômica (falta de organização) do trabalho”.
De acordo com Quintaneiro5:
Como o sociólogo francês o percebia, tal estado de anarquia não poderia ser atribuído somente a uma dis-
tribuição injusta da riqueza mas, principalmente, à falta de regulamentação das atividades econômicas, cujo
desenvolvimento havia sido tão extraordinário nos últimos dois séculos que elas acabaram por deixar de ocupar
seu antigo lugar secundário.
Como Dürkheim preservaria a sociedade garantindo assim o seu bom funcionamento?
Qual seria, portanto, a função da divisão social do trabalho neste contexto?
Durkheim irá procurar no campo do trabalho, um lugar de construção da solidariedade da moralidade perdi-
da. A anomia (ausência de lei ou de regra) que desestabilizou a sociedade, necessita da criação de uma nova
moral, condizente com os valores da sociedade industrial emergente. Esta nova moral estaria intrínseca ao
mundo do trabalho que poderia exercer a regulamentação moral nas sociedades. Neste sentido, a profissão
assume grande importância, substituindo a família, a religião e o Estado como instituições integradoras.
De acordo com Quintaneiro, a saída para a moralização seria criar corporações capazes de cumprir a auto-
ridade moral, estabelecendo regras de conduta sobre os indivíduos, criando entre eles uma forte solidariedade.

A função da divisão social do trabalho, seria produzir a solidariedade, dando sentido às ações dos
trabalhadores. Ao restabelecer a solidariedade entre os homens, a divisão social do trabalho, assumiria
seu caráter moral ampliando a harmonia, a integração e a coesão na sociedade moderna.
A Divisão do Trabalho para Karl Marx
Karl Marx (1818-1883), desenvolveu uma corrente de pensamento considerada a mais revolucionária da
teoria social moderna: o materialismo histórico. As ideias desse teórico, destinavam-se a todos os homens pois
denunciavam as contradições básicas da sociedade capitalista, embasadas em um ideal revolucionário e numa
proposta de ação política prática. A sociedade é, portanto, produto da ação recíproca entre os homens.
Para Marx, a lei fundamental de transformação de uma sociedade está vinculada ao desenvolvimento de
suas forças produtivas, que em determinado estágio de desenvolvimento, chegam ao seu limite entrando em
contradição com as relações de produção que as desenvolveram. É na expansão das forças produtivas que
encontraremos as relações de propriedade, a distribuição da renda entre os indivíduos e a formação das clas-
ses sociais.
Marx, identifica que pelas classes sociais os homens estabelecem uma relação social de exploração, anta-
gonismos sociais e alienação, sob a forma da apropriação dos meios de produção. A expressão desta contra-
dição entre as forças produtivas e as relações de produção é a luta de classes.
Desta forma, vê as relações sociais na sociedade moderna, como negativas, por serem a principal causa
da desigualdade social entre os homens. Para Marx, “a história de toda sociedade até hoje é a história da luta
entre classes”. Para melhor entendermos este conceito, devemos nos remeter ao seu conceito de divisão do
trabalho.
Marx concebe a ideia de que a sociedade está dividida em classes, cada uma com suas regras e condutas
apropriadas, mas que estão inseridas em um único sistema que é o Modo de Produção Capitalista. A divisão
social do trabalho é para Marx “a totalidade das formas heterogêneas de trabalho útil, que diferem em ordem,
gênero, espécie e variedade”. (O Capital I, Cap.I)

5 QUINTANEIRO, Tânia. BARBOSA, Maria Ligia de O. OLIVEIRA, Márcia Gardênia de. Um toque de clás-
sicos: Marx, Dürkheim e Weber. 2ª ed. Ver. Amp., Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


5
É interessante observar que Marx considera a divisão do trabalho não só como um meio para se alcançar a
produção de mercadorias, mas considera a divisão de tarefas ente os indivíduos e ainda nas relações de pro-
priedade. Ou seja, a divisão do trabalho e a especialização das atividades em classes, é basicamente a divisão
dos meios de produção e da força de trabalho.
No dicionário do Pensamento Marxista de Tom Bottomore6, encontramos a seguinte definição para a divisão
do trabalho:
Primeiro, há a divisão social do trabalho, entendida como o sistema complexo de todas formas úteis de tra-
balho que são levadas a cabo independentemente umas das outras por produtores privados, ou seja, no caso
do capitalismo, uma divisão do trabalho que se dá na troca entre capitalistas individuais e independentes que
competem uns com os outros.
Em segundo lugar a divisão de trabalho entre trabalhadores, cada um dos quais executa uma operação
parcial de um conjunto de operações que são todas, executadas simultaneamente e cujo resultado é o pro-
duto social do trabalhador coletivo. Esta é uma divisão de trabalho que se dá na produção, entre o capital e o
trabalho em seu confronto dentro do processo de produção. Embora esta divisão do trabalho na produção e
a divisão de trabalho na troca estejam mutuamente relacionadas, suas origens e seu desenvolvimento são de
todo diferentes.
Como vemos, a divisão do trabalho compreende uma esfera técnica e outra esfera social. Cabe-nos agora,
observarmos como Marx identifica o papel da divisão do trabalho na sociedade capitalista moderna, para tanto,
estaremos promovendo uma análise de alguns de seus conceitos básicos. Para Marx, os homens constroem
a si próprios na produção dos seus meios de vida. É desta forma que os homens se organizam socialmente e
estabelecem as relações sociais de produção.
As relações sociais de produção, segundo Quintaneiro, referem-se “as formas estabelecidas de distribuição
dos meios de produção e do produto, e o tipo de divisão social do trabalho numa dada sociedade em um perí-
odo histórico determinado”. Para Marx, as relações sociais de produção dividem os homens entre proprietários
e não proprietários dos meios de produção. Esta formação, característica da sociedade capitalista, expressa as
desigualdades nas quais se baseiam as classes sociais.
É importante ressaltar, que para Marx, a divisão social do trabalho sempre existiu em todas as sociedades.
Esta divisão é inerente ao trabalho humano e ocorre em relação as tarefas econômicas, políticas e culturais.
Desde as sociedades tradicionais a divisão do trabalho correspondia à divisão de papéis por gênero sendo
sucedidas mais tarde, pela divisão das atividades como a agricultura, o artesanato e o comércio. A divisão do
trabalho surge com o excedente da produção e a apropriação privada das condições de produção. Foi ainda
através da Revolução Industrial que intensificou e fragmentou-se as tarefas, aumentando por sua vez, a pro-
dutividade.
Braverman7, nos adverte que a divisão do trabalho na oficina se difere da divisão do trabalho no interior de
uma sociedade:
A divisão do trabalho na sociedade é característica de todas as sociedades conhecidas; a divisão do trabalho
na oficina é peculiar da sociedade capitalista. A divisão social do trabalho divide a sociedade entre ocupações,
cada qual apropriada a certo ramo de produção; a divisão pormenorizada do trabalho destrói ocupações con-
sideradas neste sentido, e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produção.
No capitalismo, a divisão social do trabalho é forçada, caótica e anarquicamente pelo mercado, enquanto
a divisão do trabalho na oficina é imposta pelo planejamento e controle. Ainda no capitalismo, os produtos da
divisão social do trabalho são trocados como mercadorias, enquanto os resultados da operação do trabalhador
parcelado não são todos possuídos pelo mesmo capital.
Enquanto a divisão social do trabalho subdivide a sociedade, a divisão parcelada do trabalho subdivide o ho-
mem, e enquanto a subdivisão da sociedade pode fortalecer o indivíduo e a espécie, a subdivisão do indivíduo,
quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas, é um crime contra a pessoa e
contra a humanidade.

6 BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1983.
7 BRAVEMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista: A Degradação do Trabalho no Século XX. 5ª ed, Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1980.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


6
Desta forma, Braverman, nos mostra que a divisão social do trabalho expressa meios de segmentação da
sociedade, enquanto que a divisão do trabalho na produção busca a valorização do capital, por meio da mais-
-valia, ou seja, o valor excedente produzido pelo operário e apropriado pela burguesia. A mais-valia promove o
aumento da produtividade seja pelo prolongamento da jornada de trabalho, ou pela mecanização das ativida-
des produtivas.
Tanto a divisão social do trabalho, quanto a divisão do trabalho na produção, convergem pra um
mesmo ponto: a estrutura que representa o substrato econômico da sociedade, expressa aqui pelas
forças produtivas e pelas relações sociais de produção.
A ideia de segmentação da sociedade, reflete uma relação de exploração dos possuidores, a burguesia,
em relação aos não possuidores, o proletariado. De acordo com Marx, esta relação de exploração acontece
sob a forma legal da propriedade privada dos meios de produção. Desta forma, o trabalhador se vê obrigado a
vender sua força de trabalho ao empresário capitalista, que por sua vez, se apropria do produto do trabalho do
proletário. Neste contexto a força de trabalho se torna uma mercadoria, vendida ao empresário capitalista por
um salário.
Isto reforça a teoria do economista inglês, Adam Smith, de que o trabalho seria a verdadeira fonte de riqueza
da sociedade. Este conceito foi apropriado e ampliado por Marx que demonstra que a força de trabalho significa
criação de valor, mas como já afirmamos, este é um valor apropriado pelo capitalista.
A força de trabalho, ao ser negociada como mercadoria, promove a completa separação do trabalhador dos
meios de produção, alienando o homem de sua própria essência que é o trabalho. Assim a divisão social do
trabalho e a divisão industrial do trabalho, promovem a alienação e destroem as relações entre os homens,
uma vez que estes não têm domínio do processo de produção e não se beneficiam do produto de seu trabalho.
É sobre esta base material que se ergue a superestrutura da sociedade moderna, segundo Marx. A supe-
restrutura é formada pela esfera jurídica, política e ideológica da sociedade, que por sua vez representam a
forma como os homens estão organizados no processo produtivo. Como afirma Marx: “o Modo de Produção
condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral”.
Nesse sentido, o Estado surge para garantir o interesse da classe dominante. Apesar do Estado Liberal
difundir a ideia da defesa da igualdade, Marx denuncia no Manifesto do Partido Comunista8: “a sociedade
burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não
fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no
passado”. Marx ressalta aqui a ideia de que é a burguesia, a classe social que irá controlar o poder político,
ideológico e jurídico da sociedade.
O estado de alienação do proletariado, resultado da divisão do trabalho, também se reflete nestas formas de
dominação da burguesia. Marx afirma que o Estado é um instrumento criado pela burguesia para garantir seu
domínio econômico sobre o proletariado, preservando e protegendo a propriedade privada dos meios de produ-
ção. O aparato jurídico, por sua vez, seria o responsável por garantir a igualdade entre os homens, camuflando
a divisão da sociedade entre classes sociais distintas e com interesses opostos. A ideologia seria a encarregada
de difundir a visão de mundo e os valores burgueses, legitimando e consolidando seu poder.
Conforme afirma Marx9: As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes; isto é,
a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A
classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de pro-
dução espiritual, o que faz com que ela seja submetida, ao mesmo tempo e em média, as ideias daqueles aos
quais faltam os meios de produção espiritual.

8 MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. 6ª ed., Petrópolis: Vozes: 1996.


9 MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. 22ª ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


7
As ideias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes, as
relações dominantes concebidas como ideias; portanto, a expressão das relações que tomam a classe
dominante; portanto as ideias de sua dominação.
Weber
Para Weber, a sociedade era composta de partes cuja constituição depende fundamentalmente do indiví-
duo. As relações entre esses indivíduos seguiriam suas quatro formas de ação social (racional orientada a fins,
racional orientada a valores, afetiva, tradicional). Essas relações acabariam por caracterizar a sociedade como
um todo, à medida que fossem incorporadas à legislação, à constituição, à religiosidade e outras manifestações
culturais, legais, valorativas e administrativas dessa sociedade.
Dessa forma, nas sociedades cujo pano de fundo religioso era o protestantismo cristão, por exemplo, Weber
pôde identificar elementos que justificassem o desenvolvimento do que ele chamou de espírito do capitalismo
a partir da ética protestante. Essa ética levava os indivíduos da sociedade a atuar em seus papéis de trabalho
(em suas divisões de trabalho social) de forma a sempre buscarem a acumulação e a eficiência e evitarem o
desperdício ou a preguiça. Assim, as sociedades inicialmente protestantes puderam experimentar um cresci-
mento econômico e mesmo um melhoramento dos níveis sociais, entre outros fatores.

Processo de trabalho e organização de trabalho

O processo de trabalho, como componente essencial na configuração das sociedades humanas, desem-
penha um papel crucial na compreensão das complexas dinâmicas sociais, econômicas e psicológicas. Sob a
análise conjunta da sociologia e da psicologia aplicada ao trabalho, exploram-se as interações entre indivíduos,
organizações e as nuances do ambiente laboral, proporcionando uma visão abrangente dessa experiência
multifacetada.
Na perspectiva sociológica, o processo de trabalho é estudado como um fenômeno social que tanto influen-
cia quanto é moldado pelas estruturas sociais. A sociologia aplicada ao trabalho direciona seu foco para as
relações laborais, hierarquias organizacionais e formas de organização do trabalho, buscando compreender a
dinâmica social que emerge desses elementos. Ao longo da história, as transformações nas relações de traba-
lho refletem alterações nas estruturas sociais, evidenciando a interdependência intrínseca entre o trabalho e a
sociedade.
Desde os primórdios da civilização, o trabalho não se limita à mera subsistência; ele desempenha um papel
central na definição de identidades sociais e na estruturação das comunidades. A sociologia explora a divisão
do trabalho, a especialização de funções e as formas de cooperação entre trabalhadores como aspectos cru-
ciais para a compreensão da organização social resultante do processo de trabalho.
Já na abordagem psicológica aplicada ao trabalho, o processo laboral é percebido como um ambiente com-
plexo que exerce impacto direto na saúde mental, no bem-estar emocional e no desenvolvimento individual dos
trabalhadores. A psicologia do trabalho mergulha nas experiências individuais no contexto profissional, abor-
dando temas como motivação, satisfação no trabalho, estresse ocupacional e dinâmicas de grupo.
As demandas do processo de trabalho e as condições psicossociais no ambiente laboral emergem como
fatores determinantes para a saúde mental dos trabalhadores. A pressão por desempenho, a sobrecarga de
tarefas e a falta de autonomia são elementos psicológicos que influenciam diretamente a experiência dos in-
divíduos no trabalho. Além disso, as relações interpessoais, a comunicação eficaz e o suporte emocional no
ambiente profissional são aspectos cruciais investigados pela psicologia aplicada ao trabalho.
Com o avanço tecnológico, marcado pela automação, informatização e inteligência artificial, o processo de
trabalho passa por transformações significativas. A sociologia, ao analisar as mudanças nas estruturas sociais
provocadas por inovações tecnológicas, destaca a necessidade de compreender o impacto dessas transforma-
ções nas relações laborais e nas dinâmicas sociais.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


8
A psicologia aplicada ao trabalho, por sua vez, investiga os efeitos psicológicos dessas mudanças, exami-
nando como os trabalhadores lidam com a adaptação a novas tecnologias, a pressão por atualização profissio-
nal e as mudanças nas expectativas em relação ao trabalho. A automação, embora promova eficiência, levanta
questões sobre o impacto psicológico da substituição de tarefas humanas por máquinas e a redefinição das
funções laborais.
No cenário contemporâneo, o processo de trabalho apresenta desafios e oportunidades para a sociedade.
As desigualdades no acesso a oportunidades laborais, a precarização do trabalho e as mudanças nas formas
de emprego são temas críticos abordados pela sociologia aplicada ao trabalho. A psicologia, por sua vez, busca
estratégias para promover ambientes laborais saudáveis, visando equilibrar as exigências do trabalho com o
bem-estar dos trabalhadores.
Em síntese, o entendimento do processo de trabalho, sob a perspectiva da sociologia e da psicologia aplica-
da, revela-se como um campo fértil para a compreensão das dinâmicas sociais e individuais. A interação entre
as estruturas sociais, as transformações tecnológicas e as experiências psicológicas no ambiente laboral é um
fenômeno multifacetado que demanda análises aprofundadas e abordagens integradas. Esse conhecimento
abrangente não apenas enriquece o meio acadêmico, mas também contribui para o desenvolvimento de práti-
cas laborais mais justas, saudáveis e sustentáveis em uma sociedade em constante evolução.
— Organização de trabalho
A organização do trabalho, central nas sociedades modernas, demanda uma compreensão essencial sob a
ótica da sociologia e psicologia aplicada ao trabalho. Estas disciplinas proporcionam uma abordagem interpre-
tativa valiosa, desvendando as complexas relações entre indivíduos, estruturas organizacionais e os impactos
psicológicos desse intercâmbio no ambiente laboral. Ao longo deste texto, exploraremos os elementos fun-
damentais que delineiam a organização de trabalho, ressaltando as nuances sociológicas e psicológicas que
permeiam esse cenário dinâmico.
Na perspectiva sociológica, a organização de trabalho é analisada como um fenômeno social moldado e
moldador das estruturas sociais. A sociologia aplicada ao trabalho investiga a divisão laboral, as hierarquias
organizacionais, as formas de cooperação e as relações interpessoais, destacando como esses aspectos in-
fluenciam a dinâmica social. Ao longo da história, a organização de trabalho transcende sua função de garantir
subsistência, tornando-se um elemento central na construção de identidades sociais e na configuração de
comunidades. A sociologia destaca a importância de compreender como as mudanças nas relações laborais
refletem e impactam as estruturas sociais, sendo as transformações na organização de trabalho elementos-
-chave na evolução da sociedade.
No âmbito da psicologia aplicada ao trabalho, a organização laboral é percebida como um ambiente com-
plexo que influencia a saúde mental, bem-estar emocional e desenvolvimento individual dos trabalhadores. O
enfoque recai sobre as experiências individuais, abordando temas como motivação, satisfação no trabalho,
estresse ocupacional e dinâmicas de grupo. As demandas específicas do ambiente laboral, como prazos ri-
gorosos, pressão por desempenho e relações interpessoais, têm um impacto direto no bem-estar emocional
e psicológico dos trabalhadores. Assim, a psicologia aplicada à organização de trabalho busca compreender
como os indivíduos se adaptam a essas demandas, lidam com a pressão e como as dinâmicas psicológicas
influenciam a eficiência e qualidade do trabalho.
O cenário contemporâneo presencia transformações significativas na organização de trabalho, impulsiona-
das por avanços tecnológicos, mudanças nas expectativas dos trabalhadores e novos paradigmas de gestão. A
sociologia destaca o papel da tecnologia na reconfiguração das estruturas sociais, enquanto a psicologia apli-
cada explora os efeitos dessas mudanças na saúde mental e bem-estar emocional dos colaboradores. A ascen-
são do trabalho remoto, a busca por ambientes inclusivos e a valorização da qualidade de vida no trabalho são
desafios contemporâneos que demandam uma análise sociológica e psicológica aprofundada. A organização
de trabalho enfrenta a necessidade de se adaptar a essas mudanças, promovendo práticas que não apenas
aumentem a eficiência, mas também considerem o impacto humano, gerando um equilíbrio entre as demandas
organizacionais e o bem-estar dos colaboradores.
No contexto das desigualdades sociais, a organização de trabalho muitas vezes reflete e perpetua dispari-
dades. A sociologia aplicada destaca como certos grupos podem ser marginalizados ou enfrentar obstáculos
sistêmicos no acesso a oportunidades no ambiente laboral. A psicologia, por sua vez, procura identificar e miti-
gar os impactos psicológicos dessas desigualdades, promovendo estratégias de inclusão e equidade. Olhando

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


9
para o futuro, a organização de trabalho se revela como um campo dinâmico e desafiador. A sociologia e a
psicologia aplicada ao trabalho desempenham papéis cruciais na antecipação e gestão dos desafios emergen-
tes. A compreensão aprofundada das dinâmicas sociais e psicológicas na organização de trabalho é essencial
para promover uma evolução equitativa e sustentável na sociedade do século XXI. Em suma, a organização de
trabalho, na interseção entre a sociologia e a psicologia aplicada, é um campo vasto e intrincado que merece
uma análise contínua e aprofundada. O entendimento das complexas interações entre as estruturas sociais, as
demandas psicológicas e as transformações contemporâneas na dinâmica organizacional é crucial para mol-
dar futuras práticas de trabalho mais justas, equitativas e humanas. O diálogo contínuo entre essas disciplinas
oferece um caminho promissor para enfrentar os desafios e explorar as oportunidades na incessante evolução
do mundo do trabalho

O trabalho humano e sua evolução histórica: trabalho escravizado, trabalho feudal em


servidão, trabalho livre desprotegido

— Trabalho escravizado
O trabalho humano e sua evolução histórica constituem uma narrativa complexa, onde as dimensões so-
ciológicas e psicológicas desempenham papéis fundamentais na compreensão do fenômeno do trabalho es-
cravizado. Ao longo da história, a prática da escravidão marcou profundamente as sociedades, deixando um
legado de impactos sociais, econômicos e psicológicos que ressoam até os dias atuais. Examinar o trabalho
escravizado sob a perspectiva da sociologia e da psicologia aplicada ao trabalho é essencial para desvendar
as intricadas relações entre poder, exploração e resiliência humanas.
No contexto sociológico, o trabalho escravizado é analisado como um fenômeno social que transcende a
mera relação de trabalho. Ele é um reflexo das estruturas sociais e das dinâmicas de poder que permeiam uma
sociedade em determinado período histórico. A sociologia aplicada ao trabalho destaca como a escravidão não
apenas moldou as relações laborais, mas também contribuiu para a configuração de hierarquias sociais, estru-
turas econômicas desiguais e a construção de identidades sociais baseadas na exploração.
A evolução histórica do trabalho escravizado revela diferentes formas de organização social, desde as socie-
dades antigas até os períodos mais recentes. As práticas escravistas estiveram presentes em civilizações como
a romana, grega e egípcia, cada uma com suas peculiaridades e impactos nas estruturas sociais. Durante a
era colonial, a escravidão tornou-se um pilar da economia em diversas regiões, com a exploração massiva de
africanos sendo uma das expressões mais marcantes desse fenômeno.
Ao abordar o trabalho escravizado pela lente da psicologia aplicada ao trabalho, é possível explorar as ex-
periências individuais dos sujeitos envolvidos nesse sistema desumano. A psicologia examina como a privação
de liberdade, as condições precárias de vida e o tratamento desumano afetaram a saúde mental, o bem-estar
emocional e a resiliência psicológica dos escravizados. A escravidão impôs não apenas um fardo físico, mas
também uma carga psicológica profunda, manifestada em traumas, depressão e estratégias de resistência psi-
cológica desenvolvidas pelos escravizados para preservar sua humanidade.
A brutalidade do trabalho escravizado não apenas perpetuou desigualdades sociais, mas também deixou
cicatrizes psicológicas nas comunidades afetadas. A herança do trauma da escravidão reverbera ao longo
das gerações, influenciando a construção de identidades, relações familiares e o acesso a oportunidades. A
psicologia aplicada ao trabalho, nesse contexto, destaca a importância de compreender e abordar os efeitos
duradouros do trabalho escravizado na saúde mental das comunidades afetadas.
Ao longo do tempo, movimentos sociais, avanços legislativos e transformações culturais têm contribuído
para a abolição da escravidão em muitas partes do mundo. No entanto, é crucial reconhecer que as sequelas
desse período persistem e demandam uma abordagem sensível e holística. A sociologia e a psicologia aplicada
ao trabalho oferecem ferramentas teóricas e práticas para analisar e enfrentar as consequências sociais e psi-
cológicas do trabalho escravizado, promovendo a conscientização, a reparação e a construção de sociedades
mais justas e equitativas.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


10
Em suma, o trabalho escravizado representa um capítulo sombrio na evolução histórica do trabalho humano.
Compreender suas raízes sociológicas e impactos psicológicos é essencial para construir uma narrativa mais
completa sobre a experiência humana, promovendo a justiça social e o respeito pelos direitos fundamentais
de todos. O diálogo entre a sociologia e a psicologia aplicada ao trabalho oferece uma abordagem integrada e
enriquecedora para analisar e transformar as realidades moldadas por essa prática desumana.
— Trabalho feudal em servidão
O trabalho feudal em servidão, marcante na evolução histórica das relações laborais, requer uma análise
aprofundada sob as lentes da sociologia e da psicologia aplicada ao trabalho. Durante a Idade Média na Eu-
ropa, essa forma de organização laboral não apenas moldou estruturas econômicas, mas também influenciou
relações sociais e a psique dos envolvidos.
Sob a perspectiva sociológica, o trabalho feudal em servidão reflete a complexidade das estruturas sociais
da época. Na sociedade feudal, as relações eram hierárquicas, com senhores feudais detendo poder e servos
em posição submissa. A sociologia aplicada ao trabalho destaca a servidão como expressão das relações de
poder e dominação que permeavam a sociedade feudal.
O sistema feudal, baseado na concessão de terras em troca de serviços, estabeleceu interdependência en-
tre senhores e servos. Contudo, essa relação era desigual; os servos estavam vulneráveis às vontades arbitrá-
rias dos senhores. A sociologia explora como essa dinâmica influenciou a estrutura econômica e a construção
de identidades sociais, perpetuando distinções sociais e limitando a mobilidade.
A psicologia aplicada ao trabalho fornece insights sobre as experiências psicológicas dos servos. A servidão
implicava não só condição econômica, mas também restrições nas liberdades, autonomia e escolhas. Essa
falta de agência pode ter gerado carga psicológica, manifestada em sentimentos de impotência, resignação e,
em alguns casos, resistência ativa.
A psicologia do trabalho feudal revela como a falta de reconhecimento do valor do trabalho, aliada a con-
dições precárias, afetava a saúde mental dos servos. A estagnação social contribuía para falta de propósito,
impactando o bem-estar emocional. A psicologia aplicada destaca como essas experiências moldaram a psique
dos servos e as dinâmicas sociais.
Compreender o trabalho feudal em servidão como fenômeno multifacetado vai além das relações econômi-
cas. A análise sociológica e psicológica revela interações complexas entre estruturas sociais, poder e a expe-
riência humana. A sociologia mostra como o sistema feudal moldou estruturas sociais, enquanto a psicologia
aplicada lança luz sobre implicações psicológicas.
Mesmo diante das adversidades, surgiram formas de resistência e resiliência por parte dos servos, aspectos
muitas vezes ignorados. Esses elementos são fundamentais para compreensão completa das experiências
nesse contexto.
Em conclusão, o trabalho feudal em servidão representa capítulo significativo na história do trabalho huma-
no, onde relações sociais, econômicas e psicológicas se entrelaçam. Sociologia e psicologia aplicada propor-
cionam ferramentas analíticas valiosas, contribuindo para compreensão abrangente das dinâmicas sociais e
individuais na sociedade feudal.
— Trabalho livre desprotegido
O labor desamparado e sem proteção, ao ser analisado do ponto de vista da sociologia e da psicologia apli-
cada ao trabalho, expõe aspectos intricados e frequentemente desafiadores das dinâmicas sociais e individuais
contemporâneas. Essa modalidade de organização laboral, caracterizada pela carência de garantias e salva-
guardas para os trabalhadores, é um fenômeno que permeia variadas sociedades e segmentos econômicos,
gerando implicações profundas nas vidas daqueles que experienciam essa realidade.
Na avaliação sociológica do labor livre e desprotegido, destacam-se as relações de poder presentes nesse
contexto. A inexistência de regulamentações eficazes frequentemente resulta em uma disparidade significativa
entre empregadores e empregados, reforçando hierarquias desfavoráveis. A sociologia aplicada ao trabalho
investiga como a ausência de proteção pode contribuir para a perpetuação de desigualdades sociais, margina-
lizando grupos específicos e afetando diretamente a estruturação das comunidades.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


11
A sociologia também volta sua atenção para as condições de labor e o papel desempenhado pelos traba-
lhadores no contexto do trabalho livre e desprotegido. A ausência de segurança no emprego e a instabilidade
laboral podem criar um ambiente propício para a exploração, impactando negativamente a autoestima e a iden-
tidade dos trabalhadores. O estigma social associado a empregos desprotegidos pode instigar uma dinâmica
que perpetua a vulnerabilidade e limita as oportunidades de ascensão social.
No âmbito da psicologia aplicada ao trabalho, o labor livre e desprotegido é examinado quanto aos seus
efeitos na saúde mental e bem-estar emocional dos trabalhadores. A instabilidade e a incerteza laboral podem
desencadear estresse crônico, ansiedade e outros problemas psicológicos. A falta de benefícios e direitos tra-
balhistas contribui para um ambiente onde a pressão por desempenho muitas vezes prevalece sobre a saúde
e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
A psicologia do labor também se volta para as dinâmicas interpessoais nesse contexto. A competição acir-
rada, resultado da ausência de proteções e garantias, pode levar a relações laborais prejudiciais, minando a
colaboração e a construção de um ambiente laboral saudável. A carência de reconhecimento e recompensas
adequadas pode impactar diretamente na motivação e na satisfação no trabalho, influenciando a qualidade do
desempenho individual e coletivo.
Num contexto global, onde as alterações nas formas de emprego e as dinâmicas econômicas redefinem
constantemente o cenário laboral, o trabalho livre e desprotegido emerge como um desafio persistente. A socio-
logia e a psicologia aplicada ao trabalho são essenciais para compreender não apenas as implicações sociais
desse fenômeno, mas também para desenvolver estratégias que visem à promoção de ambientes laborais mais
justos, equitativos e saudáveis.
O trabalho livre e desprotegido não é apenas uma condição econômica; é um fenômeno que transcende as
fronteiras da sociologia e da psicologia, penetrando nas bases fundamentais da sociedade e da experiência
humana. A compreensão profunda dessas dinâmicas é crucial para promover mudanças significativas, visando
não apenas a proteção dos trabalhadores, mas também a construção de uma sociedade mais justa e humani-
tária, onde o labor seja fonte de dignidade e realização para todos.

Fases históricas iniciais da industrialização: Artesanato, manufatura, maquinofatura


e mecanização da produção

— Artesanato
O advento da Revolução Industrial marcou uma transição histórica que alterou profundamente as formas
de produção e organização do trabalho. No contexto das fases iniciais da industrialização, uma fase anterior
à plena ascensão das fábricas, destaca-se o papel crucial do artesanato. Essa forma tradicional de produção,
que remonta à Idade Média, desempenhou um papel central nas primeiras etapas da transformação econômica
e social.
Durante o período pré-industrial, o artesanato representava a principal modalidade de produção. Artífices
habilidosos, muitas vezes trabalhando em pequenas oficinas, eram responsáveis por criar bens de maneira
manual e personalizada. Esse método de produção estava intrinsecamente ligado à comunidade local, com
os artesãos desempenhando papéis multifacetados, desde a criação até a comercialização de seus produtos.
A transição para a industrialização trouxe mudanças significativas na estrutura do trabalho artesanal. O
desenvolvimento de máquinas e a introdução de novas tecnologias possibilitaram uma produção em maior es-
cala, tornando-se um precursor do que viria a ser a produção fabril. O artesanato, no entanto, não desapareceu
imediatamente; ao contrário, enfrentou uma série de desafios e transformações.
A sociologia aplicada ao trabalho nesse contexto examina como as mudanças nas práticas produtivas afeta-
ram as relações sociais entre artesãos, comunidades e as emergentes classes empresariais. A transição para
métodos mais mecanizados muitas vezes resultou na fragmentação do trabalho artesanal, com tarefas especí-
ficas sendo isoladas e atribuídas a diferentes trabalhadores. Essa fragmentação teve implicações não apenas
nas relações entre colegas de trabalho, mas também nas relações sociais mais amplas.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


12
No âmbito da psicologia aplicada ao trabalho, a transição do artesanato para métodos mais industrializados
trouxe desafios psicológicos para os artesãos. A perda de controle sobre o processo produtivo, a diminuição da
autonomia e a padronização do trabalho representaram mudanças significativas na experiência do trabalho. A
identidade profissional dos artesãos, anteriormente fortemente vinculada à criação artesanal, viu-se ameaçada
pela crescente mecanização.
Além disso, o deslocamento de artesãos para trabalhos em fábricas, onde eram inseridos em linhas de
produção, teve impactos nas dinâmicas interpessoais. As relações entre os trabalhadores tornaram-se mais im-
pessoais e hierárquicas, refletindo as mudanças na organização do trabalho. A psicologia aplicada ao trabalho
explora como essas mudanças influenciaram a satisfação no trabalho, o bem-estar emocional e as estratégias
de enfrentamento dos artesãos diante das transformações em seus ambientes laborais.
A fase inicial da industrialização, marcada pela transição do artesanato para métodos mais mecanizados,
representa um capítulo fascinante na evolução do trabalho humano. A sociologia e a psicologia aplicadas ao
trabalho oferecem abordagens complementares para compreender não apenas as mudanças nas estruturas
sociais, mas também as complexas dinâmicas psicológicas desencadeadas por essa transformação. Ao exa-
minar as fases iniciais da industrialização, é possível desvendar as raízes das atuais práticas laborais e suas
implicações nas sociedades contemporâneas.
— Manufatura
A manufatura, como modo de produção intermediário entre o artesanato e a produção fabril plena, desem-
penhou um papel crucial nas transformações socioeconômicas durante a Revolução Industrial. Esse período
marcante na história do trabalho humano, que teve início no final do século XVIII, testemunhou mudanças
profundas nas formas de organização laboral, e a manufatura emergiu como uma etapa transitória significativa
nesse processo.
A manufatura caracterizou-se pelo uso crescente de máquinas e pela organização do trabalho em uma es-
cala intermediária entre a produção artesanal e a produção fabril em grande escala. Nesse cenário, diferentes
trabalhadores desempenhavam tarefas específicas em uma linha de produção, contribuindo para a fabricação
de produtos de forma mais rápida e eficiente do que o artesanato tradicional permitia. Essa mudança represen-
tou um marco na evolução das relações laborais e nas estruturas econômicas.
Sob a perspectiva sociológica, a transição para a manufatura trouxe consigo novas dinâmicas sociais. O
trabalho tornou-se mais especializado, com a necessidade de habilidades específicas para tarefas pontuais. A
hierarquia e a divisão de classes no ambiente de trabalho também se intensificaram, refletindo as mudanças
nas estruturas sociais. A sociologia aplicada ao trabalho explora como essa organização laboral intermediária
impactou não apenas as relações entre trabalhadores, mas também as relações entre empregadores e empre-
gados.
No contexto da psicologia aplicada ao trabalho, a manufatura introduziu desafios e oportunidades distintas
para a experiência psicológica dos trabalhadores. A especialização das tarefas e a repetição constante de
operações contribuíram para a fragmentação do trabalho, alterando a relação dos indivíduos com o processo
produtivo. A falta de autonomia e a monotonia nas funções desempenhadas levaram a mudanças na percepção
do trabalho, influenciando a motivação, a satisfação e o bem-estar emocional dos trabalhadores.
A psicologia do trabalho na era da manufatura também se debruça sobre as condições de trabalho e a res-
posta dos indivíduos a um ambiente laboral em transformação. Questões como jornadas extensas, condições
precárias e a adaptação às novas tecnologias são exploradas para compreender os impactos na saúde mental,
na resistência psicológica e nas estratégias de enfrentamento adotadas pelos trabalhadores.
A manufatura não foi apenas um estágio intermediário na evolução do trabalho, mas também um precursor
essencial para o desenvolvimento da produção fabril moderna. A sociologia e a psicologia aplicada ao trabalho
oferecem ferramentas analíticas fundamentais para desvendar as complexidades dessa transição histórica.
A sociologia examina como as mudanças na organização laboral afetaram as estruturas sociais, enquanto a
psicologia busca compreender as implicações psicológicas dessa transformação para os indivíduos inseridos
nesse contexto.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


13
Ao compreender as nuances da manufatura, é possível lançar luz sobre as raízes das práticas laborais
contemporâneas. A interação entre sociologia e psicologia aplicada ao trabalho proporciona uma compreensão
holística das mudanças históricas e das dinâmicas sociais e individuais que moldaram o trabalho humano ao
longo do tempo.
— Maquinofatura
A maquinofatura, enquanto estágio evolutivo na história do trabalho, representa uma fase marcante que
testemunhou a ascensão da automação e da mecanização nas práticas industriais. Este período, que se de-
senvolveu principalmente durante o século XIX, trouxe consigo mudanças significativas nas dinâmicas sociais
e nas experiências individuais dos trabalhadores, sendo um tema crucial para a análise sob as perspectivas da
sociologia e da psicologia aplicada ao trabalho.
Sob o olhar sociológico, a maquinofatura introduziu uma nova dimensão nas estruturas sociais. O uso in-
tensivo de máquinas transformou a organização do trabalho, alterando as relações entre os trabalhadores e
redefinindo hierarquias no ambiente fabril. A sociologia aplicada ao trabalho destaca como a maquinofatura não
apenas influenciou as dinâmicas laborais, mas também contribuiu para a formação de novas classes sociais,
marcando a transição da sociedade agrária para a industrial.
A mecanização da produção na maquinofatura também teve implicações psicológicas profundas para os
trabalhadores. A especialização de tarefas, aliada à crescente automação, transformou a natureza do trabalho,
impactando a autonomia e a identidade dos indivíduos no contexto laboral. A psicologia aplicada ao trabalho
explora como essa mudança para uma rotina mais automatizada afetou a motivação, a satisfação no trabalho
e o equilíbrio emocional dos trabalhadores.
As condições de trabalho na era da maquinofatura também são alvo de investigação pela psicologia do tra-
balho. Jornadas extensas, ambientes ruidosos e a falta de regulamentação levantam questões sobre os efeitos
na saúde mental, na resistência psicológica e na qualidade de vida dos trabalhadores. A adaptação a novas
tecnologias e a pressão por desempenho são fatores que moldam a experiência psicológica dos indivíduos
inseridos nesse contexto.
A maquinofatura não apenas acelerou o processo produtivo, mas também desencadeou uma série de mu-
danças sociais e psicológicas que moldaram a era industrial. A sociologia e a psicologia aplicada ao trabalho
são essenciais para desvendar as complexidades dessas transformações. A sociologia analisa como as novas
relações de produção influenciaram as estruturas sociais, enquanto a psicologia busca compreender as adap-
tações e desafios enfrentados pelos trabalhadores.
Além disso, a maquinofatura trouxe à tona questões éticas e morais relacionadas à automação. A substitui-
ção de trabalhadores por máquinas levanta preocupações sobre o desemprego e a desumanização do traba-
lho. A sociologia e a psicologia aplicada exploram as consequências sociais e psicológicas dessas mudanças,
contribuindo para o desenvolvimento de estratégias que promovam ambientes de trabalho mais humanizados
e equitativos.
Em síntese, a maquinofatura representa um capítulo essencial na história do trabalho, destacando a inter-
conexão entre a evolução das práticas laborais, as mudanças sociais e as experiências individuais. A análise
sociológica e psicológica desse período contribui para uma compreensão mais profunda das transformações
que moldaram o cenário laboral, fornecendo insights valiosos para lidar com os desafios contemporâneos na
organização do trabalho e na automação industrial.
— Mecanização da Produção
A mecanização da produção nas fases históricas iniciais da industrialização representa um marco transfor-
mador nas práticas laborais, desencadeando impactos significativos nas dimensões sociológicas e psicológicas
do trabalho. Esse período, que floresceu nos séculos XVIII e XIX, testemunhou a transição de métodos artesa-
nais para um sistema intensivamente mecanizado, impulsionando mudanças radicais na estrutura social e nas
experiências individuais dos trabalhadores.
Do ponto de vista sociológico, a mecanização da produção desencadeou uma revolução nas estruturas
sociais. O advento de máquinas e equipamentos transformou a organização do trabalho, reconfigurando as
relações entre empregadores e empregados. A sociologia aplicada ao trabalho destaca como essa transição
não apenas alterou as dinâmicas laborais, mas também deu origem a novas formas de organização industrial,
marcando a transição de uma economia agrária para uma economia industrial.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


14
A especialização de tarefas e a introdução de linhas de produção automatizadas na mecanização da pro-
dução também tiveram implicações psicológicas profundas para os trabalhadores. A psicologia aplicada ao
trabalho explora como a fragmentação das tarefas, aliada à crescente automação, impactou a autonomia, a
identidade e a satisfação dos indivíduos no ambiente laboral. A adaptação a essas mudanças e a pressão por
desempenho são elementos-chave que moldaram a experiência psicológica dos trabalhadores.
As condições de trabalho na era da mecanização também são alvo de análise pela psicologia do trabalho.
Jornadas prolongadas, ambientes ruidosos e a falta de regulamentação levantam preocupações sobre os efei-
tos na saúde mental, na resiliência psicológica e na qualidade de vida dos trabalhadores. A psicologia aplicada
busca compreender como as novas demandas e estresses contribuem para o estabelecimento de dinâmicas
psicológicas que permeiam o ambiente industrial mecanizado.
A mecanização da produção não apenas acelerou o ritmo produtivo, mas também desencadeou uma série
de mudanças sociais e psicológicas que moldaram a Revolução Industrial. A sociologia e a psicologia aplicada
ao trabalho são essenciais para desvendar as complexidades dessas transformações. A sociologia analisa
como as novas relações de produção influenciaram as estruturas sociais e a distribuição de poder, enquanto a
psicologia explora as adaptações psicológicas e os desafios enfrentados pelos trabalhadores.
Além disso, a mecanização da produção levantou questões éticas e morais sobre a substituição de traba-
lhadores por máquinas. Essas preocupações se refletiram no debate sobre o desemprego estrutural e a desu-
manização do trabalho. A sociologia e a psicologia aplicada exploram as consequências sociais e psicológicas
dessas mudanças, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias que promovam ambientes de trabalho
mais humanizados e equitativos.
Sendo assim, a mecanização da produção nas fases iniciais da industrialização é uma peça fundamental
na narrativa da evolução do trabalho humano. A análise sociológica e psicológica desse período histórico pro-
porciona uma compreensão mais profunda das transformações que moldaram o cenário laboral, fornecendo
insights valiosos para lidar com os desafios contemporâneos na organização do trabalho e na automação in-
dustrial. Essa interação entre sociologia e psicologia aplicada contribui para moldar uma abordagem integrada
na compreensão das complexidades das fases iniciais da mecanização da produção.

A Revolução Industrial e o capitalismo industrial

Ficaram conhecidas como Revolução Industrial as transformações econômicas ocorridas na Grã-Bretanha


a partir das últimas décadas do século XVIII, tempo em que a máquina a vapor passou a ser sistematicamente
utilizada na produção de mercadorias, em especial na fabricação de tecidos, na mineração e na metalurgia10.
Tais transformações levaram à implantação da indústria contemporânea. Criaram-se, ainda, novos mercados
consumidores, muitos pela força das armas. Afinal, à medida que se industrializavam, os países precisavam
ampliar mercados em várias partes do mundo. Essas mudanças não foram rápidas: ocorriam desde o início da
Época Moderna, com a expansão marítima, que colocou em contato regiões muito distantes.
Mas foi na segunda metade do século XVIII e no início do XIX que as mudanças se aceleraram, configurando
a Revolução Industrial. Alguns historiadores distinguem, na verdade, dois momentos da Revolução Industrial:
– Primeira Revolução Industrial, compreendida entre fins do século XVIII e a década de 1830. O foco foi a
renovação do sistema fabril ligado à produção de tecidos de algodão;
– Segunda Revolução Industrial, cujo apogeu ocorreu a partir de 1850 e é caracterizada pelo avanço da
metalurgia, sobretudo da indústria do ferro, e pela construção de ferrovias.

10 História 1. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Saraiva.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


15
— A Inglaterra sai na Frente
No final do século XVII, a Inglaterra era um país rico, com a maioria da população vivendo no campo. Em
1700, a população girava em torno de 6 milhões de pessoas, com cerca de 70% ocupadas nas atividades
agrárias. A produção agrícola, entretanto, vinha sofrendo mudanças importantes. Nos campos e pastos antes
deixados em pousio, introduziu-se o plantio de outras culturas, em especial a do nabo e da batata, que não
desgastavam o solo e forneciam mais alimentos.
Alguns estudiosos denominam essa etapa de “revolução agrícola”. Na pecuária, a estocagem de forragens,
como o feno, melhorou a qualidade do gado bovino e ovino, sendo este último a principal fonte de matéria-prima
da manufatura inglesa: a lã.
Foi importante também o rápido aumento no processo de cercamento das terras comuns, que ocorria há
séculos na Inglaterra, mas que sofreu enorme impulso na segunda metade do século XVIII e início do século
XIX. As terras comuns eram aquelas que os camponeses e os aldeões, embora não fossem os proprietários,
tinham o direito de utilizar para caçar, pescar, retirar lenha e madeira e usar como pasto.
Por meio dos chamados cercamentos (enclosures), o governo inglês livrava os proprietários de qualquer tipo
de restrição quanto ao uso de suas terras, incluindo as comuns, podendo vendê-las ou arrendá-las. Houve, na
verdade, uma redefinição da propriedade agrária e das relações de trabalho no campo.
Como todas as terras, incluindo as comuns, passaram a ser alienáveis, os camponeses não puderam mais
usá-las em proveito próprio. Passaram a trabalhar por jornada para os proprietários ou arrendatários mais ricos
ou migraram para outros lugares. O rompimento da forma tradicional com a qual os trabalhadores rurais se rela-
cionavam com a terra e as novas condições agrárias representaram um duro golpe ao campesinato: o contrato
de trabalho passou a ser individual, e não mais por grupo familiar.
Embora não tenha sido um processo imediato, a verdade é que o “trabalho camponês familiar” desapare-
ceu. Com o cercamento dos campos, os proprietários ou os arrendatários mais ricos puderam introduzir novos
métodos agrícolas e de criação de animais, como o rodízio de cultura, e ampliar o uso do arado triangular, da
semeadeira mecânica e de adubos.
Com o aumento da produtividade das terras em decorrência das novas técnicas, só acessíveis aos mais ri-
cos, o preço do arrendamento subiu muito e os pequenos arrendatários não puderam mais arcar com o aluguel.
Acabaram expulsos da terra, assim como os camponeses proprietários de pequenos lotes, pressionados a ven-
dê-los. Em 1700, estima-se que metade das terras cultiváveis inglesas ainda era utilizada por meio da explora-
ção dos campos comuns. Ao fim do século XVIII, eles praticamente já não existiam. O fim das terras comuns e
o cercamento dos campos concentraram a propriedade fundiária nas mãos de cada vez menos pessoas.
Oferta de Mão-de-obra
O cercamento dos campos foi elemento decisivo para o desenvolvimento da indústria. Com o aumento da pro-
dutividade por meio do avanço técnico da agricultura, permitiu-se a produção de matéria-prima para as fábricas.
As transformações no campo também resultaram em mais alimentos para a população e, como consequência, em
menos mortalidade, o que representou aumento demográfico.
Um grande contingente de trabalhadores passou a se ocupar de outras atividades, como nas minas de car-
vão e de ferro e nas fábricas nascentes. O excesso de pessoas sem trabalho fez com que surgissem, desde o
século XVI, Leis Anti-vadiagem, que podiam punir até com a morte pessoas que não trabalhassem. E certo
que essas mudanças transformaram profundamente o universo econômico e cultural dos antigos camponeses,
que tiveram de se submeter a uma ordem nova: a do capital.
Tornaram-se assalariados no campo e nas cidades. A mão de obra das primeiras fábricas têxteis inglesas, no
final do século XVIII, resultava também do aumento demográfico. Nessa época, houve um aumento da popula-
ção urbana e rural na Grã-Bretanha, que saltou dos 6 milhões para 10 milhões de pessoas, em fins do século
XVIII, e para impressionantes 18 milhões na década de 1840.
Rotas Fluviais
O pioneirismo inglês na industrialização ocorreu, ainda, devido à existência de amplas vias fluviais. Elas
viabilizaram um rápido e eficiente sistema de transportes entre o interior e os portos marítimos, além de serem
mais econômicas do que as terrestres no transporte de mercadorias pesadas ou volumosas, como o carvão.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


16
Desde o século XVI, os ingleses se preocuparam em melhorar as vias fluviais para fornecer carvão aos
moradores das cidades, que o utilizavam para cozinhar alimentos e se aquecer, e às pequenas fábricas (pani-
ficações, forjas, curtumes, refinarias de açúcar e cervejarias). Para isso, alteravam o curso dos rios e abriam
canais. Quando começou a industrialização, havia cerca de 2 mil quilômetros de águas navegáveis na Inglater-
ra. Até o final do século XVIII, foram construídos outros mil quilômetros, o que criou boas condições às novas
fábricas para receber matéria-prima e escoar mercadorias.
Em resumo, a Revolução Industrial ocorreu especialmente na Inglaterra por um conjunto de fatores. Embora
restrita a alguns produtos e centralizada em certas regiões, transformou a Inglaterra na principal economia do
mundo.
A Máquina a Vapor
Desde o século XVI, o vapor era visto como uma possibilidade de fonte de energia na exploração do ferro e
do carvão, em especial para bombear as águas que com frequência inundavam as minas.
Nenhuma das máquinas a vapor criadas, porém, mostrava-se eficiente. Somente em 1712, após anos de
trabalho, o inglês Thomas Newcomen aprimorou uma máquina para retirar água das minas e distribuí-la às
cidades. O custo da máquina de Newcomen era muito elevado.
James Watt, em 1769, melhorou essa máquina, baixando os custos de produção. Com isso, ela foi adaptada
para diversos usos industriais, alcançando sucesso num ramo específico da indústria inglesa: a fabricação de
fios e tecidos de lã e de algodão. Os aprimoramentos na fiação e tecelagem da lã ocorriam havia muito tempo.
No século XVIII, a Inglaterra produzia tecidos de lã finos e bem aceitos no mercado externo. O mesmo não
ocorria com os tecidos de algodão, pois não havia técnicas para produzir fios finos e resistentes. Para não arre-
bentar, o fio de algodão era feito junto com o linho, o que resultava em um produto de qualidade inferior. Assim,
o grande investimento tecnológico no setor têxtil se dirigiu para a produção de tecidos de algodão.
— O Trabalho Fabril
A fabricação de tecidos era uma atividade tradicional na Inglaterra. A maioria das famílias camponesas esta-
va, de alguma forma, envolvida com o processo de fiar e tecer. A introdução de uma nova matéria-prima, o algo-
dão, no final do século XVIII, não mudou em princípio essa organização. A nova máquina de fiar de Hargreaves,
que se baseava no trabalho doméstico camponês, ainda manual, tornou possível a fabricação doméstica de
tecidos de algodão no mesmo sistema utilizado com os tecidos de lã.
Mesmo com o aparecimento das fábricas de fiação, nas primeiras décadas do século XIX, a maior parte da
produção ainda resultava do trabalho doméstico. O mesmo ocorria com a tecelagem dos fios, entregue às ofici-
nas de tecelões nas aldeias ou vilas. A introdução das máquinas no processo produtivo aumentou o montante
dos investimentos no setor têxtil, restringindo o número de empresários com dinheiro para montar fábricas.
A propriedade das máquinas concentrou-se na pessoa do industrial/capitalista, que contratava os operários
pagando salários pelas jornadas de trabalho. Na fábrica, os operários atuavam somente em uma etapa da pro-
dução - uma mudança radical na forma de realizar seu trabalho. Em outras palavras, o processo produtivo nas
fábricas tendia a se fragmentar: estava em curso uma nova divisão do trabalho.
No contexto fabril, essa divisão do trabalho mostrava-se mais produtiva e capaz de atender ao aumento do
consumo - o consumo em massa. Dessa forma, os trabalhadores eram tragados por um sistema em que a má-
quina era o centro do processo produtivo.
Situação da Classe Trabalhadora
Os proprietários dos meios de produção enriqueciam rapidamente, mas boa parte da população inglesa se
via excluída de tais benefícios. Os trabalhadores viviam em condições degradante e insalubres11.
As fábricas eram geralmente úmidas, quentes e abafadas. A alimentação servida era insuficiente e de má
qualidade. Devido às más condições de vida e às extenuantes jornadas de trabalho, a expectativa de vida era
baixa, e a incidência de doenças e acidentes no trabalho, muito alta. Os patrões preferiam contratar crianças
(muitas com 4 ou 5 anos de idade) e mulheres, porque lhes pagavam salários menores.

11 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo.
Ática.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


17
A jornada de trabalho era de 15 a 18 horas ininterruptas. Os operários eram vigiados de perto por um super-
visor. Acidentes provocados pelo cansaço aconteciam com frequência e qualquer falta era punida severamente.
Reação dos Trabalhadores
A reação dos trabalhadores veio em 1811, quando invadiram fábricas (à noite) para destruir máquinas.
Eles ficaram conhecidos como luditas, pois seu líder chamava-se Ned Ludd. As máquinas eram vistas como
o principal responsável pela situação em que os proletários se encontravam, pois substituíam a mão de obra
operária.
O movimento espalhou-se nas décadas seguintes para países como França, Bélgica e Suíça. Os trabalha-
dores ingleses uniram-se e formaram organizações para reagir aos problemas decorrentes de acidentes de
trabalho, doenças e desemprego. Surgiram assim as associações de auxílio mútuo, que criavam fundos de
reserva para os momentos de necessidade.
Era o primeiro passo para a criação dos sindicatos trabalhistas. Uma vez organizados em sindicatos, os
trabalhadores ingleses e de outros países fariam importantes conquistas, como melhores salários, redução na
jornada de trabalho, aposentadoria, descanso semanal remunerado, férias, etc.
Na década de 1830, os trabalhadores ingleses reuniram suas reivindicações na chamada Carta do povo.
Nascia o cartismo, primeiro grande movimento político do proletariado, que obteve importantes avanços traba-
lhistas, em especial quanto à jornada de trabalho de adultos e quanto ao trabalho infantil.
— Cidades Industriais
Os tecidos de algodão da Índia já eram conhecidos e aceitos na Europa, negociados pelos britânicos através
da Companhia das Índias Orientais. Quando os ingleses passaram a produzir tecidos de qualidade semelhante
à dos indianos, já havia um mercado consumidor estruturado. Os preços mais baixos permitiram aos tecidos
ingleses competir nos mercados.
Na Inglaterra, o centro da produção estava na cidade de Manchester. Com a utilização cada vez maior da
fiandeira hidráulica, inacessível aos camponeses, as fábricas de fiação se multiplicaram, mantendo um ritmo
de trabalho diário e ininterrupto. Tradicionalmente, eram mulheres e crianças os principais trabalhadores do-
mésticos da fiação. E os negociantes mantiveram o emprego dessa força de trabalho em suas fábricas, cuia
disciplina era muito mais rigorosa do que no sistema de fiação doméstico.
Com as transformações radicais no regime de trabalho, entre os séculos XVIII e XIX, milhares de trabalhado-
res passaram a se concentrar em fábricas, sob um regime de serviço intenso e rigoroso. Sem uma regulamen-
tação específica, calcula-se que a jornada diária de trabalho era superior a 12 horas.
Somente em 1847 apareceram regulamentações que limitavam a jornada a dez horas diárias. Em 1850, ou-
tra lei estipulou um horário para encerrar a atividade semanal: duas horas da tarde de sábado, com descanso
no domingo - dia tradicionalmente reservado à religião.
O sistema de fábrica impulsionou outras mudanças. Ampliou consideravelmente a população urbana, espe-
cialmente com a expansão desse sistema para outras produções, como as de chapéus, sapatos, ferramentas
e alimentos. Diversificou-se o setor de serviços, sobretudo o comércio.
Também cresceu a oferta de empregos domésticos - criadas, cozinheiras e arrumadeiras - nas casas dos
novos e ricos empresários. Na passagem do século XVIII para o XIX, o aumento da população nas cidades, que
não estavam preparadas para receber tanta gente, teve repercussões sociais significativas.
Em cidades como Londres, Manchester, Liverpool e Leeds, multiplicavam-se os bairros pobres, e os gover-
nos locais não conseguiam atender à nova demanda e promover reformas do espaço urbano. Havia ruas sem
calçamento, lixo por todos os cantos, muitas pessoas morando numa mesma casa. A situação era propícia para
a disseminação de doenças, com epidemias frequentes de cólera e tifo. Aprofundaram-se as desigualdades
sociais entre ricos e pobres.
— Mas e o resto da Europa?
A Inglaterra se industrializou sem planejamento prévio, utilizando o capital privado. Os empresários inves-
tiam no setor industrial em busca do lucro e não para transformar a economia britânica. O mesmo não ocorreu
com os demais países europeus. Cada lugar teve de lidar com suas próprias especificidades e recursos. Foram,

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


18
portanto, industrializações posteriores, e, por vezes, mais rápidas e eficientes. Na passagem do século XIX
para o XX, alguns países já podiam concorrer com a Inglaterra na economia mundial, principalmente Alemanha
e França.
França
A França era um país de grande extensão territorial, mas desprovido de meios de transporte adequados para
formar um mercado integrado. Prevaleciam os negócios locais ou regionais, em geral em torno de uma econo-
mia agrária. A Revolução Francesa, embora tenha destroçado o poder da nobreza e do clero, aprofundou essa
estrutura rural ao conceder terras aos camponeses.
Assim, tudo contribuía para que os franceses não conseguissem deslanchar uma economia capitalista si-
milar à inglesa, apesar do caráter burguês da Revolução. Enriquecidos, os burgueses preferiram adquirir car-
gos nobiliárquicos ou artigos de luxo, imitando um estilo de vida aristocrático que a Revolução de 1789 havia
derrubado. A solução encontrada pelos industriais franceses foi investir no que já era tradicional no mercado
interno: os artigos de luxo consumidos pela burguesia urbana e pelos proprietários rurais aristocráticos, como
mobiliário, tecidos de seda, rendas, roupas, chapéus, plumas, perfumes e adereços variados.
Grande parte dessa produção era executada por profissionais experientes e foi exportada para o mundo. Por
volta de 1840, a expansão da economia francesa exigia maior exploração das minas de ferro e de carvão, o que
esbarrava na precariedade do sistema de transportes. Tornou-se urgente a construção de uma rede ferroviária.
Para tanto, era preciso organizar um sistema bancário, associar capitais e construir uma rede comercial em
grande escala. Era uma empreitada difícil.
Os poucos bancos franceses tinham sido criados nas décadas de 1820 e 1830 e eram dominados por um
pequeno grupo de empresários de Paris.
A introdução da ferrovia, financiada por ingleses associados a uns poucos empresários parisienses, contri-
buiu um pouco para mudar o quadro. Isso só mudou de fato na segunda metade do século XIX, com fatores
políticos decorrentes da ascensão ao poder de Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte, em 1852.
• Bonapartismo
A partir da chegada ao poder de Napoleão III, os industriais franceses passaram a ter reconhecimento
público, a ocupar posições no Estado e a influir nas decisões governamentais. Essa situação levou a uma
participação decisiva do Estado na economia, sobretudo nos anos 1850, em especial nos investimentos de
infraestrutura.
Ao final do século XIX, a França se apresentava como um país industrial, com suas instituições bancárias
e financeiras bastante desenvolvidas e investindo em indústrias, em particular nas de ferro e aço nas regiões
mineradoras, como na província de Lorena, e nas minas de carvão do norte. Em 1914, quando estourou a
Primeira Guerra Mundial, a França ocupava a terceira posição entre as economias capitalistas da Europa. Na
frente dos franceses, somente a pioneira Inglaterra e a Alemanha.
Alemanha
No início do século XIX, era considerável a diversidade entre os Estados germânicos. Mas havia traços
comuns que lembravam os pequenos reinos ou principados dos séculos anteriores: uma política de impostos
elevados; concentração de recursos no financiamento de exércitos; economia agrária, com forte presença da
servidão camponesa.
Na primeira metade do século XIX, os altos cargos nos Estados germânicos eram ocupados, em grande
parte, por homens formados nos princípios da Ilustração (do Iluminismo), ou seja, que compreendiam bem
o sentido do liberalismo. Apesar do espírito conservador, vários Estados germânicos, em particular a Prússia,
apoiaram ou bancaram o estabelecimento de empresas capitalistas, na exploração de minas e na criação de
indústrias.
A Prússia havia saído fortalecida das guerras napoleônicas, com o território intacto, ao contrário de vários
outros Estados duramente atingidos. Isso facilitou a hegemonia prussiana sobre o território germânico. O pri-
meiro grande passo para essa hegemonia foi dado em 1834, com a criação de uma união aduaneira, o Zoll-
verein. Incluía 38 Estados do norte e do centro do território, aos quais aderiram os Estados do sul, em 1867.
A gradual eliminação das barreiras alfandegárias e a centralização das decisões criaram excelentes condições
para a industrialização.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


19
Seguindo a onda liberal que varreu a Europa na primeira metade do século XIX, os príncipes germânicos
aboliram a servidão, favorecendo a difusão do trabalho assalariado. O território da futura Alemanha possuía,
assim, por volta de 1850, ao menos o esboço das condições fundamentais para o desenvolvimento capitalista:
mercado interno e trabalho livre.
• Industrialização
No decorrer da década de 1840, favorecidos pela união aduaneira, os grandes proprietários rurais da futura
Alemanha passaram a apoiar a implantação de ferrovias, percebendo que poderiam aumentar suas vendas
e lucros. Os militares, por sua vez, perceberam a importância da ferrovia para o transporte de matérias-primas,
soldados e armamentos. Com isso, estimularam o Estado a investir na malha ferroviária.
O sistema ferroviário foi um dos principais responsáveis por desenvolver significativamente a economia dos
Estados inseridos no Zollverein. A indústria têxtil, até então incipiente, tomou novo impulso e, embora incapaz
de concorrer com os têxteis ingleses, conseguiu se expandir no mercado interno. Os bancos tiveram papel de
destaque no investimento de capitais em ferrovias, nas grandes indústrias de base e na abertura de minas, em
contraste com o que ocorreu na Inglaterra.
A indústria pesada - de bens de capital, como a de metalurgia - foi o carro-chefe da industrialização, alimen-
tada pelo capital financeiro, com o apoio do Estado. Uma das principais inovações nesse processo de industria-
lização foi o investimento dos diversos governos na educação, especialmente nos níveis técnicos e científicos,
criando profissionais altamente qualificados.
Os alemães chegaram a desenvolver tecnologia de ponta que superava, em muitos aspectos, a dos ingle-
ses, em especial no setor químico. Em resumo, os Estados germânicos reuniram todas as condições para um
processo de industrialização eficiente: grande mercado consumidor interno; grande oferta de mão de obra,
alimentada por um crescimento demográfico expressivo; recursos minerais adequados à tecnologia existente;
empresas estrangeiras interessadas em investir na economia alemã; estrutura bancária estável; investimento
na educação técnica e científica.
O processo de industrialização alemão, por conta do grande investimento do Estado, foi denominado de
“revolução pelo alto”. Recebeu ainda o nome de “modernização conservadora”, por não ter removido, como
na França, o poder da aristocracia rural. Ao contrário, a aristocracia junker comandou o processo.

Modelos de gestão e organização do trabalho: taylorismo, fordismo, toyotismo, plata-


formas digitais e seus impactos no trabalhador e na sociedade

Novas tecnologias, novas fontes de energia e a expansão da atividade industrial marcaram uma nova etapa
do desenvolvimento capitalista, na segunda metade do século XIX. É o início da Segunda Revolução Industrial.
As hidrelétricas e o petróleo ampliaram a capacidade de geração de energia e acrescentaram novas possibili-
dades à tecnologia de produção e, portanto, ao aparecimento de novos produtos. Surgiram as grandes siderúr-
gicas e as indústrias químicas. A marinha mercante multiplicou a sua frota em diversos países europeus, nos
Estados Unidos e no Japão. As ferrovias se expandiram por todo o mundo, como meio de transporte e como
atividade empresarial. A evolução e a ampliação dos sistemas de transporte estimularam o desenvolvimento
da atividade industrial e criaram novas possibilidades em relação à localização geográfica de alguns setores
industriais.
Nessa fase, a livre concorrência das pequenas e médias empresas da Primeira Revolução Industrial foi pra-
ticamente substituída pelo monopólio praticado por empresas gigantescas, comandadas por grandes bancos
que passaram a investir, também, na produção. O empresário, isolado, não tinha como realizar investimentos
tão elevados.
O domínio econômico das grandes empresas intensificou as disputas comerciais entre os países e ampliou
as disputas territoriais para muito além de suas fronteiras. No final do século XIX, a Inglaterra, que mantinha o
maior império colonial do planeta, não era a única potência industrial. Os países que se industrializaram nesse
período incorporaram as tecnologias mais recentes e modernas, enquanto algumas indústrias inglesas eram

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


20
consideradas “velharias” da Primeira Revolução Industrial. Alemanha, Itália, França, Japão e Estados Unidos
competiam em pé de igualdade com a indústria inglesa e, em diversos setores, até com superioridade. Todos
queriam ampliar seus mercados e suas fontes de matérias-primas.
Os Estados Unidos já exerciam domínio sobre o continente americano. A Itália, a Alemanha e o Japão não
tinham colônias para ampliar a base de sua produção industrial. O mundo industrializado criou um vasto império
colonial que se estendeu por todo o planeta com ocupação direta de territórios, guerras e acordos econômicos
com as elites das novas colônias. É a fase do imperialismo ou neocolonialismo.
A Segunda Revolução Industrial, no século XIX, trouxe novidades tecnológicas também nas relações de
trabalho. O carvão, componente energético da Primeira Revolução Industrial, foi sendo, paulatinamente, subs-
tituído pelos derivados do petróleo. Os motores a explosão levaram ao desenvolvimento dos automóveis que
se tornaram gênero de produção em série.
Diversos postos de trabalho requeriam mão de obra com especialização, muito embora os salários conti-
nuassem baixos.
Foram desenvolvidas as práticas do fordismo e do taylorismo com o objetivo de aumentar a produtividade
e, consequentemente, o lucro empresarial.
Tecnologias de Processo – Fordismo e Taylorismo
A evolução da produtividade não depende apenas das máquinas. Foi o que demonstraram os Estados
Unidos no início do século XX, em plena Segunda Revolução Industrial, com a introdução de novas técnicas
de produção industrial, que possibilitaram uma racionalização extrema no processo do trabalho no interior da
fábrica: o taylorismo e o fordismo.
O taylorismo, idealizado pelo inventor Frederick Winslow Taylor (1856-1915), partia da concepção de que o
trabalho fabril era um conjunto de tarefas totalmente independentes da profissão do trabalhador. Para Taylor,
o melhor operário não é nada mais que um operário. O conhecimento do processo produtivo era uma tarefa
exclusiva do gerente, que deveria determinar e fiscalizar cada etapa dos trabalhos a serem feitos no menor
espaço de tempo e sem perda de qualidade.
O fordismo foi implantado pelo empresário Henry Ford (1863-1947) na produção de automóveis, no início do
século XX. O modelo de produção fordista associada a linha de montagem às técnicas de organização do taylo-
rismo. O automóvel, em processo de montagem, deslocava-se no interior da fábrica para a realização de cada
etapa de produção. O trabalhador, especializado, realizava sua tarefa num tempo determinado e o automóvel
continuava a se deslocar até a instalação da última peça, do último acabamento.
Método de otimização da produção, o fordismo baseava-se na linha de produção em série com os funcioná-
rios desempenhando cada um uma única função em ritmo acelerado.
A produção era verticalizada, contando com uma rígida hierarquia de chefes e subchefes, com ordens enca-
minhadas do alto para o baixo escalão.
Ao fordismo foi acoplado o taylorismo, método desenvolvido pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor em
que o tempo de produção das máquinas e dos operários era rigidamente controlado para se obter a máxima
produtividade. O taylorismo era inflexível com horários e metas de produção.

Chaplin em “Tempos modernos”, 1936: uma denúncia da alienação e da violência na produção industrial.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


21
A produtividade aumentou e, com ela, o lucro. Essa equação era muito interessante para os empresários da
época, exceto por um aspecto: o mercado consumidor não acompanhava o ritmo da produção, o que gerava
estoques e capital estagnado.
Ao longo da década de 1920, a crise da superprodução e dos baixos salários gerou falências e desemprego,
fatos que colocaram o sistema capitalista em situação de colapso.
Em 1929, a crise deflagrou a quebra da bolsa de valores de Nova York.
A década de 1930 apresentou uma depressão econômica que motivou fortes insatisfações, que contribuíram
para a erupção da Segunda Guerra Mundial.
A Reestruturação do Sistema Capitalista
Com o final da Segunda Guerra Mundial, as nações europeias criaram o “Estado do Bem-Estar Social”, co-
nhecido como Welfare State, para dar garantias de sobrevivência, moradia, saúde e educação aos cidadãos de
maneira indistinta. O programa do Bem-Estar Social foi se aprimorando ao longo das décadas do século XX,
criando o sistema previdenciário para gerar segurança para a população.
O Welfare State apoiou-se nas ideias do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946). Para
Keynes, o Estado deveria ser o interventor e o articulador da economia. Os investimentos seriam necessários
para tirar os países da crise em que se encontravam e garantir, a longo prazo, a estabilidade do emprego, o que
resultaria na estabilidade da demanda e, consequentemente, evitaria novas crises.
Com mais de 20 milhões de desempregados, sendo 14 milhões nos EUA no pós-guerra, os países centrais
não tinham outra solução a não ser promover uma política de fortalecimento do Estado e das bases sociais para
garantir o funcionamento do próprio sistema.
Com as medidas do Welfare State, as populações da Europa e dos EUA passaram a desfrutar de avanços
sociais significativos. Obviamente, os custos empresariais se elevaram com o aumento dos salários, as jorna-
das de trabalho reduzidas e os impostos mais altos.
Para as empresas, os países centrais viraram sinônimos de mercado consumidor e mão de obra qualificada,
pois agora contavam com escolarização, enquanto nos países periféricos, as políticas públicas de bem-estar
social não haviam sido implantadas.
Os países periféricos, dessa forma, tornaram-se interessantes como áreas de exploração da mão de obra
e dos recursos naturais. Mudava-se a concepção da função dos países centrais e periféricos na chamada DIT
(Divisão Internacional do Trabalho e da produção).
Diversos países periféricos, sobretudo da América Latina (Brasil, Argentina e México) e posteriormente da
Ásia (na época chamados de Tigres e Novos Tigres Asiáticos), industrializaram-se seguindo os interesses das
empresas transnacionais, que ansiavam por lucros mais expressivos.
Os governos dos países periféricos incumbiram-se de criar a infraestrutura necessária para a implantação
das indústrias estrangeiras, recorrendo a empréstimos internacionais.
Sabemos que o preço de um produto é fixado, primeiramente, pelo seu custo e valor agregado. Quanto
maior a tecnologia empregada, maior será o valor final. Dessa forma, o trabalho intelectual, o de criação tecno-
lógica, tem um valor muito maior do que o de ação mecânica, isto é, o da produção do gênero em série. Assim,
para equilibrar os valores gastos nas importações de tecnologia - produtos de alto valor agregado e máquinas
- os países periféricos são obrigados a produzir gêneros em quantidades cada vez maiores.
Em última instância, o dinheiro é remetido, por meio do sistema financeiro internacional, para locais mais
seguros ou lucrativos, ou seja, nem sempre quem produziu ficará com o resultado para futuros investimentos.
É por isso que vemos a situação do PIB (Produto Interno Bruto) dos países de forma tão discrepante no
mundo.
A política do Bem-Estar Social incentivou a qualificação profissional e o desenvolvimento de novas tecnolo-
gias. O mercado de trabalho passou a valorizar indivíduos que têm a noção do todo e não apenas de uma parte
da produção.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


22
Se as condições de vida melhoraram, pode-se dizer o mesmo para a economia dos países centrais. A nova
DIT contribuiu para a acumulação de riquezas, explorando os países periféricos, além de também ter gerado
uma massa de consumidores de elevado poder aquisitivo, principalmente nos países desenvolvidos.
Contudo, fatores de ordem econômica e tecnológica implicaram uma nova dinâmica de produção e consu-
mo, nas décadas de 1970 e 1980. Vejamos alguns destaques:
→ As crises do petróleo (1973 e 1979) aumentaram muito os preços dos combustíveis fósseis, símbolos da
Segunda Revolução Industrial;
→ O insucesso norte-americano da Guerra do Vietnã. Apesar dessa derrota, a indústria bélica norte-ameri-
cana, em decorrência do conflito, passou por um forte desenvolvimento do Complexo Industrial- Militar.
A geração de novas tecnologias, sobretudo no campo da informática e da robótica, pelos países capitalistas,
aumentou a eficiência da economia ocidental. Sem essa eficiência, o bloco socialista ficou em defasagem na
produção industrial e militar, o que contribuiu para a sua crise, o desmoronamento e o fim da Guerra Fria.
A Terceira Revolução Industrial e o Desemprego Estrutural
O fim do bloco socialista, a vitória do capitalismo e a chegada da Nova Ordem Mundial determinaram o fim
da disputa ideológica típica da Guerra Fria. E, sem a necessidade de mostrar o sistema capitalista como o mais
benéfico para os trabalhadores, as grandes empresas ficaram livres para reduzir os seus custos, principalmente
os de mão de obra.
A era da informatização ou Terceira Revolução Industrial trouxe agilidade, interligou o planeta por meio dos
sistemas de comunicação e transportes muito eficientes, incorporou máquinas e robôs na produção. Postos de
trabalho foram eliminados permanentemente, configurando o desemprego estrutural.
Nesse mesmo período, o neoliberalismo ganhou força, defendido, principalmente, pelos governos dos EUA
e da Inglaterra. Para estes, a economia se “autorregula” e, portanto, o Estado não precisa intervir na economia.
Ora, o fim da “mão protetora do Estado” ficou muito evidente nos antigos países socialistas, quando o socia-
lismo real ruiu. Os neoliberais queriam mais. Mais abertura econômica e o fim dos benefícios sociais-conquis-
tados. Seria o fim do Welfare State?
E em países em que ele sequer foi implantado de forma significativa?
No plano da propaganda, o neoliberalismo prega que o bem-estar é uma conquista individual, adquirida por
meio da competência, em vez do paternalismo do Estado.
Dessa forma, o discurso se afasta do campo das “oportunidades” e se finca no aspecto da competência indi-
vidual. Assim, a responsabilidade sobre o sucesso ou o fracasso cabe, exclusivamente, ao indivíduo.
Com excesso de mão de obra no mercado, os processos seletivos são cada vez mais rigorosos, enquanto
os salários estão cada vez mais baixos.
O aprimoramento das técnicas e as novas relações de trabalho, avalizadas pelo Estado, trouxeram uma
acumulação de capital como nunca se tinha visto.
Se o poder econômico interfere no poder político, podemos concluir que os grandes conglomerados ditam
as normas mundiais.
O pensamento do historiador Immanuel Wallerstein resume a atual fase capitalista monopolista e de con-
centração pessoal de renda: Acumula-se capital a fim de se acumular mais capital. Os capitalistas são como
camundongos numa roda, correndo sempre mais depressa a fim de correrem ainda mais depressa.
Terceira Revolução Industrial e Tecnopolos
Com a Terceira Revolução Industrial, ocorreu ainda a formação dos tecnopolos, a partir da necessidade de
acumulação capitalista em maior volume. São áreas onde a produção se faz com uso de tecnologias de ponta
e ocorre um controle sobre o trabalho mais eficaz, ora por omissão do Estado ora por debilidade sindical.
Estes tecnopolos são produzidos em áreas onde podem se associar empregos especializados e
desenvolvimento por pesquisas. Os tecnopolos caracterizam-se por:
→ Uma produção no modelo just-in-time, que produz de acordo com a demanda ou os pedidos. Associado a
isso pode ocorrer o just-in-case, que é a produção mediante existência de estoque mínimo;

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


23
→ Uma forte ligação entre fábricas e centros de pesquisa e universidades;
→ Estabelecimento de uma nova relação entre os oligopólios e as pequenas e médias empresas, que arcam
com os riscos e custos de pesquisas tecnológicas para o desenvolvimento das grandes empresas, gerando
uma alta competitividade.
A Terceira Revolução Industrial – ou Revolução Técnico-científica – começou a tomar forma no final da Se-
gunda Guerra Mundial, mas os seus efeitos têm se manifestado em todo o mundo, de forma mais intensa, há
cerca de duas décadas. Esse processo de desenvolvimento da atividade industrial vem repercutindo fortemen-
te nos demais setores econômicos, nas relações sociais e nas relações sociedade-natureza. Uma das suas
características mais importantes é a interação entre a informática e as telecomunicações – a telemática -, mas
podemos citar também outros de seus aspectos característicos:
* o avanço nos sistemas de telecomunicações (satélites artificiais, cabos de fibra óptica);
* o desenvolvimento da informática, tanto nos equipamentos (hardware) quanto nos programas e sistemas
operacionais (software);
* o desenvolvimento da microeletrônica, da robótica, da engenharia genética;
* a utilização da energia nuclear.
A Revolução Técnico-científica, ao mesmo tempo em que gera riquezas e amplia as taxas de lucros, res-
ponde também pelo desemprego de milhões de pessoas em todo o mundo, pois vem permitindo produzir mais
mercadorias e gerar mais serviços com menor número de trabalhadores. E isso é válido para a indústria, a
agropecuária, o extrativismo, o comércio e os serviços.
A ciência, no estágio atual, está estreitamente ligada à atividade industrial e às outras atividades econômicas:
agropecuária, comércio, serviços. O desenvolvimento científico e tecnológico é um componente fundamental
para as empresas, pois é convertido em novos produtos e em redução de custos, permitindo maior capacidade
de competição num mercado cada vez mais disputado. As grandes empresas multinacionais possuem seus
próprios centros de pesquisa e tem sido crescente o investimento na aquisição de novos conhecimentos cien-
tíficos, em relação ao conjunto da atividade produtiva.
O Estado, por meio de universidades e de instituições de pesquisa, também estimula o desenvolvimento
tecnológico, preparando novos profissionais e capacitando-os para as funções de pesquisa na área industrial
ou agrícola, assim como no desenvolvimento de tecnologias, transferidas ou adaptadas às novas mercadorias
de consumo ou aos novos equipamentos de produção. Nesse sentido, a pesquisa científica aplicada ao desen-
volvimento de novos produtos tornou-se parte do planejamento estratégico do Estado, visando ao desenvolvi-
mento econômico.
Um exemplo desse apoio estatal ao desenvolvimento de novas tecnologias é o MITI (Ministério da Indústria e
Comércio Exterior), do Japão. Por intermédio do MITI – que recebe verbas das empresas e do governo japonês
-, desenvolvem-se pesquisas que serão aplicadas à criação e ao aperfeiçoamento de produtos pela indústria.
Outro exemplo é o MIT (Massachusetts Institute of Tecnology), situado no nordeste dos Estados Unidos, consi-
derado um dos principais centros de pesquisa do mundo, mantido pelo governo norte-americano e por grandes
empresas privadas.
Outro exemplo do desenvolvimento de novas tecnologias mediante parcerias entre empresas industriais e
universidades é o caso da Universidade de Stanford, em torno da qual surgiu o Vale do Silício, onde se con-
centra o maior conjunto de indústrias de informática de todo o mundo. Nos países capitalistas, sobretudo nos
Estados Unidos, boa parte das conquistas tecnológicas foi adaptada e estendida à criação de uma infinidade de
bens de consumo, mesmo na época da Guerra Fria, quando o investimento em tecnologia estava voltado para
a corrida armamentista ou espacial.
Com a Revolução Técnico-científica, o tempo entre qualquer inovação e sua difusão, na forma de mercado-
rias ou de serviços, é cada vez mais curto. Alguns produtos industriais classificados, em princípio, como bens
de consumo duráveis (especialmente aqueles ligados aos setores de ponta, como a microeletrônica e informá-
tica), são cada vez menos duráveis e tornam-se obsoletos devido à rapidez com quem são incorporadas novas
tecnologias.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


24
Tecnologia de Processo – Toyotismo
Foi no Japão que ocorreu a transformação do processo de produção de mercadorias na Terceira Revolução
Industrial. Por ser um país com um território pequeno, dependente da importação de matérias-primas e com
pouco espaço para estocar os seus produtos, nesse país a produção foi organizada de um modo diferente do
tradicional modelo fordista.
Essa nova organização da produção ficou conhecida pelo nome de just-in-time (literalmente, tempo justo)
e foi implementada pela primeira vez, em meados do século XX, na fábrica de motores da Toyota. Depois, foi
incorporada pelas principais indústrias do mundo.
No interior da fábrica, as diferentes etapas de produção, desde a entrada das matérias-primas até a saída
do produto, são realizadas de forma combinada entre fornecedores, produtores e compradores. A matéria-pri-
ma que entra na fábrica corresponde exatamente à quantidade de mercadorias que serão produzidas. Essas
mercadorias são feitas dentro do prazo estipulado e de acordo com o pedido dos compradores. Além da efici-
ência, o sistema just-in-time permite diminuir o custo de estocagem e o volume da produção fica diretamente
relacionado à capacidade do mercado de consumo, evitando-se perdas de estoque ou diminuição do preço,
caso ocorra uma defasagem tecnológica do produto.
O trabalho especializado e rotineiro da linha de montagem do sistema fordista foi substituído por um sistema
flexível, em que o trabalhador pode ser deslocado para realizar diferentes funções, de acordo com as necessi-
dades da produção em cada momento.
Nesse novo sistema, a modificação e a atualização nos modelos das mercadorias podem ser feitas a partir
de pequenas reestruturações da mesma fábrica, utilizando-se os mesmos equipamentos. Os recursos da mi-
croeletrônica, da robótica e da informática, intensivamente utilizados nesse sistema, viabilizam essas frequen-
tes mudanças.
Essa flexibilidade industrial tornou-se importante num mundo em que a evolução tecnológica acarreta cons-
tante criação e modificação de produtos, com consequente diminuição da vida útil das mercadorias.
É preciso ressaltar, no entanto, que a difusão do toyotismo trouxe uma ampliação nos fluxos de mercadorias,
inclusive, num ritmo mais acelerado, demandando novas exigências ao setor de transportes.
A Sociedade da Informação
Os computadores invadiram a vida cotidiana. Apesar de não estarem presentes em todas as residências
do mundo, indiretamente atingem todas as pessoas. Eles coletam, armazenam e divulgam informações de
forma maciça e instantânea, ligando o mundo numa grande rede, e estão presentes em diversos momentos do
dia-a-dia. Por exemplo, o ato de usar o caixa eletrônico só é possível mediante informações transmitidas a um
computador central, que autoriza ou não a transação. No supermercado, um terminal, no caixa, lê o código de
barras do produto, informa o preço à máquina registradora, dá baixa do produto no estoque e encaminha essa
informação ao departamento de compras, para a reposição do estoque.
Em muitas residências, o computador faz parte dos equipamentos básicos do dia-a-dia. Por computador,
usando a Internet, pode-se acessar informações em qualquer parte do mundo para realizar pesquisas, pagar
contas, transferir dinheiro de uma conta de banco para outra, ou comprar mercadorias e serviços.
Tais atividades, já corriqueiras para uma pequena parcela da população mundial, dependem de um com-
plexo sistema de infra-estrutura que usa desde satélites artificiais de comunicação em órbita permanente até
fios telefônicos e cabos de fibra óptica que atravessam oceanos. Enfim, trata-se de um novo modo de vida que
combina mercadoria industrial com serviços. Aparelhos diversos – computadores, telefones e televisores – têm
que estar ligados a uma ampla rede de serviços para que possam ser utilizados.
Foi essa Revolução Técnico-científica, caracterizada também pelo desenvolvimento dos meios de transpor-
te, que possibilitou a descentralização da produção industrial para os mais distantes recantos do mundo.
Trabalho, sua Relação com o Meio Ambiente
O trabalho12 é um elemento transformador, não apenas do homem que trabalha, mas também da natureza,
fonte já não tão inesgotável de recursos, além de modificador também das relações que se estabelecem na
sociedade.

12 https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/1010/Dissertacao%20Fabio%20Rodrigues.pdf?-

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


25
A ampliação do processo do trabalho ensejou que o trabalhador passasse a ter garantido, por meio de leis e
regulamentos, certos direitos frente ao tomador de seus serviços. Todavia, ainda que tenha havido progressos
nesse âmbito, visto que constantemente novos direitos vão sendo incluídos no rol dos já existentes, nada ou
quase nada foi feito para se garantir que os trabalhadores fossem capazes de tomar ciência dos efeitos de seu
trabalho sobre o meio ambiente, assim como pouco tem sido feito no sentido de se procurar novas alternativas
menos agressivas, no sentido de incluir o trabalhador na busca de desenvolver atividades cada vez menos
nocivas à integridade dos recursos naturais.
Primeiramente, porque a eles, na maioria das vezes, não cabe maior poder de decisão sobre a administra-
ção da organização; segundo, porque a busca por novas alternativas demanda, inicialmente, um dispêndio de
valores que nem sempre as corporações estão dispostas a bancar.
Todos os avanços referentes ao trabalho do ser humano demandam uma nova adaptação frente à degra-
dação ambiental: é preciso uma educação ambiental para que ainda haja tempo de preservar o que resta da
natureza.
Desde a pré-história, o homem subsistia com aquilo que conseguia colher manualmente na natureza, consu-
mindo, principalmente, frutas, legumes, raízes, além da carne obtida por meio da caça e da pesca.
Sua atividade consistia, basicamente, em procurar e colher tais recursos da natureza, pouco interferindo no
meio ambiente.
Tal atuação não implicava em maior dano aos recursos naturais, visto que eram atividades desempenhadas
estritamente para manutenção do indivíduo, o qual se apossava de recursos renováveis da natureza, produzi-
dos de forma periódica e em decorrência de seu ciclo normal de reprodução.
Tal fato, no entanto, foi incapaz de garantir recursos suficientes para satisfazer as necessidades alimentares
de uma população que crescia constantemente, forçando, ao final, a busca por novos recursos.
Aos poucos, o homem passa a desenvolver novas habilidades, tornando-se, então, um produtor de alimen-
tos e, de certa maneira, interferindo e modificando o meio em que vive. Disso, prosperam novas alternativas,
fazendo com que o processo produtivo acelere, assim como se constituam novas formas de organização do
indivíduo em sociedade.
Os modelos econômicos adotados, feudalista, capitalista, etc., exerceram grande influência nesse processo,
em razão de terem favorecido o aprimoramento do setor produtivo e da organização social.
No entanto, embora esse avanço, num primeiro instante, possa representar melhores condições de vida
para os seres humanos, também tem acarretado graves danos ao meio ambiente, face o aumento da extração
de recursos não renováveis, passível de levar ao seu consequente esgotamento.
Nesse enfoque, destaca-se o modelo capitalista de produção, que, mesmo significando um novo estímulo
à produção de bens e ao progresso econômico, tende a aprofundar ainda mais o fosso formado entre o dese-
quilíbrio ambiental e a geração e acumulação de riquezas, gerando riscos ao meio ambiente e desigualdades
sócio econômicas.
Esse modelo econômico tem proporcionado, de um lado, uma melhoria da produtividade, desencadeada,
predominantemente, pelos resultados alcançados em pesquisas tecnológicas e científicas, pela competitivi-
dade, pela possibilidade de acumulação de bens materiais e, em alguns casos, a criação de tipos novos de
ocupação; enquanto, por outro lado, tem sido fonte, dentre outras coisas, da precarização da qualidade de vida
de uma parcela significativa da população, gerando mais desemprego, menos oportunidade de acesso aos be-
nefícios alcançados com o progresso, mais desequilíbrio na distribuição das riquezas, além de um crescimento
exagerado da exploração dos recursos naturais.
Cientes de que o planeta apresenta uma limitação na sua capacidade de gerar recursos, de fornecer maté-
ria-prima e que a capacidade de reprodução dos seres humanos continua crescendo, acarretando um aumento
da demanda por novos recursos, torna-se imperiosa a busca por alternativas capazes de conciliar a satisfação
dessas necessidades com progresso econômico e preservação ambiental, a fim de que seja possível ter uma
qualidade digna de vida.

sequence=1&isAllowed=y

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


26
Exploração do Trabalho e da Natureza13
Sendo o toyotismo um sistema de organização voltado para a produção de mercadorias, paralelamente ao
mesmo, se difundiram novas relações de trabalho, caracterizadas pelos salários baixos e direitos trabalhistas
restritos ou inexistentes.
A maioria desses empregos foram criados em países em desenvolvimento, onde ainda em grande parte se
mantinham o método de produção fordista14, baseado na super exploração dos trabalhadores.
No entanto, em muitos deles, como a China, a Índia e o Brasil, também há indústrias modernas e a introdu-
ção do toyotismo.
Também em diversos países desenvolvidos a flexibilização da legislação trabalhista, com a redução dos
salários e dos benefícios sociais e previdenciários, tem levado ao enfraquecimento do movimento sindical.
Vários fatores contribuem para tal situação: a competição das novas tecnologias e dos novos processos
produtivos, a desconcentração da produção industrial e a concorrência dos trabalhadores mal remunerados,
numerosos nos países em desenvolvimento.
Entretanto, para milhões de trabalhadores da periferia do sistema capitalista, que estavam fora do processo
de produção, as condições de vida melhoraram.
A vida na cidade, em geral, é melhor do que na zona rural. Isso é particularmente verdadeiro na China, cuja
economia atraiu grande volume de investimentos estrangeiros por causa dos baixos custos de sua mão de obra.
Segundo o Banco Mundial, o número de chineses que viviam na pobreza extrema caiu de 756 milhões (67%
da população total), em 1990, para 19 milhões (1,4% da população), em 2014.
Em menor escala, isso também ocorreu no Brasil, no México, na Índia e em outros países emergentes.
Além de permitir a exploração do trabalhador, durante muito tempo, a legislação ambiental dos países em
desenvolvimento era, em sua maior parte, frágil. Esse fato permitia produzir a custos menores e contribuía para
atrair indústrias poluidoras.
Embora isso ainda aconteça na atualidade, a crescente preocupação mundial com o desenvolvimento sus-
tentável tem pressionado os dirigentes das fábricas a desenvolver métodos de produção que causem menos
impactos ambientais.
Vem se firmando a ideia de que o desenvolvimento sustentável pode contribuir para aumentar a produtivi-
dade das empresas e, consequentemente, a competividade e os lucros, além de reforçar a imagem positiva
resultante da certificação com um “selo verde”.

A organização dos trabalhadores e trabalhadoras: O movimento operário

A organização dos trabalhadores e trabalhadoras, especialmente no contexto do movimento operário, de-


sempenhou uma função central nas dinâmicas sociológicas e psicológicas do universo laboral ao longo das
eras. Esse movimento, que adquiriu expressiva força durante o século XIX como resposta às transformações
catalisadas pela Revolução Industrial, figura como elemento crucial para a apreensão não apenas da evolução
das relações laborais, mas também das mutações nas percepções e identidades dos trabalhadores.
Sob uma ótica sociológica, o movimento operário representou uma resposta coletiva às condições adversas
nas fábricas e nas indústrias emergentes. A intensificação do labor, jornadas extenuantes, ausência de regula-
mentação e condições precárias constituíam desafios diários enfrentados pelos trabalhadores. Nesse cenário,

13 SENE, Eustáquio de. Geografia Geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Morei-
ra. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.
14 O Fordismo é um modo de produção em massa baseado na linha de produção idealizada por Henry Ford.
Foi fundamental para a racionalização do processo produtivo e na fabricação de baixo custo e na acumulação
de capital.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


27
a formação de sindicatos e a configuração de movimentos coletivos surgiram como respostas, almejando me-
lhorias nas condições de trabalho, regulamentação laboral e, frequentemente, uma redefinição mais equitativa
das relações entre capital e trabalho.
A sociologia aplicada ao trabalho examina como a organização dos trabalhadores influenciou não apenas
as condições laborais imediatas, mas também a estrutura social mais ampla. A constituição de sindicatos e a
participação em movimentos operários contribuíram para uma reconfiguração do poder, desafiando as hierar-
quias tradicionais e fomentando uma consciência de classe entre os trabalhadores. Essa consciência coletiva
não só moldou as condições de trabalho, mas também desencadeou transformações marcantes na sociedade
em seu conjunto.
Ademais, a psicologia aplicada ao trabalho evidencia o impacto do movimento operário na vivência indivi-
dual dos trabalhadores. O envolvimento em sindicatos e movimentos coletivos proporcionou um sentimento de
solidariedade e pertencimento, contrapondo-se à alienação frequentemente associada às formas mais mecani-
zadas de produção. A luta coletiva por melhores condições de trabalho não apenas fortaleceu os laços sociais,
mas também contribuiu para a construção da identidade dos trabalhadores, que se percebiam não apenas
como executores de tarefas, mas como agentes ativos na formação de seus destinos laborais.
O movimento operário, ao longo do tempo, evoluiu para abordar questões para além das condições imedia-
tas de trabalho. A busca por direitos civis, igualdade de gênero, inclusão e justiça social tornou-se uma parte
intrínseca das agendas sindicais. A sociologia aplicada destaca como essas ampliações de foco não apenas
transformaram a organização dos trabalhadores, mas também contribuíram para mudanças mais amplas na
sociedade, influenciando políticas e promovendo a conscientização sobre questões sociais cruciais.
Sob uma perspectiva psicológica, a participação ativa no movimento operário proporcionou aos trabalhado-
res um senso de agência, contrastando com a sensação de impotência frequentemente associada às estrutu-
ras hierárquicas rígidas nas organizações. O envolvimento em protestos, greves e negociações coletivas não
apenas visava melhorias tangíveis, mas também fortalecia a autoestima e a autoeficácia dos trabalhadores,
promovendo um ambiente mais positivo no trabalho.
A interação entre sociologia e psicologia aplicada ao movimento operário é essencial para a compreensão
das complexidades dessas lutas coletivas. A sociologia evidencia as alterações nas estruturas sociais, enquan-
to a psicologia explora as implicações individuais e emocionais dessas mudanças. De maneira conjunta, essas
disciplinas oferecem uma compreensão holística da organização dos trabalhadores e trabalhadoras, ressaltan-
do a importância não apenas das condições de trabalho, mas também das relações sociais e da construção de
identidade no contexto laboral. O movimento operário, dessa maneira, permanece como um marco essencial
na narrativa histórica do trabalho, moldando não apenas as condições laborais, mas também os fundamentos
para a compreensão contemporânea das relações entre trabalho e sociedade.

Sindicalização e militantismo

A sindicalização e o engajamento sindical emergem como aspectos essenciais no panorama contemporâneo


do trabalho, desempenhando funções cruciais tanto no domínio sociológico quanto no psicológico. A congrega-
ção de trabalhadores em sindicatos constitui uma resposta coletiva às intricadas dinâmicas do universo laboral,
permeado por disparidades de poder e desafios socioeconômicos. Nesse contexto, a análise sociológica visa
compreender não apenas a influência da sindicalização nas condições de trabalho, mas também seu impacto
nas estruturas sociais mais abrangentes.
Sob a perspectiva sociológica, a sindicalização se configura como um mecanismo de resistência e organiza-
ção dos trabalhadores, emergindo como contrapartida à necessidade de equilibrar relações de poder frequente-
mente pendentes em favor dos empregadores. A instituição de sindicatos não se limita à busca por negociações
coletivas de salários e condições laborais; ela almeja a reconfiguração das hierarquias preexistentes. A sociolo-
gia aplicada ao trabalho explora minuciosamente como essas organizações coletivas influenciam as dinâmicas
sociais, fomentando a solidariedade entre os trabalhadores e desafiando estruturas de exploração.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


28
No âmbito psicológico, a decisão individual de se engajar como militante sindical é objeto de análise. O en-
volvimento em atividades sindicais implica uma série de desafios psicológicos, desde lidar com pressões exter-
nas até enfrentar conflitos internos relacionados à identidade e ao propósito. A psicologia aplicada ao trabalho
investiga a forma como os indivíduos lidam com o ativismo sindical, a resistência que enfrentam e os fatores
motivacionais que impulsionam sua participação. Além disso, explora os impactos na saúde mental desses
militantes, considerando as adversidades e estigmas associados ao ativismo.
A militância sindical não se restringe apenas às questões imediatas do ambiente de trabalho, expandindo-
-se frequentemente para abraçar causas sociais mais abrangentes, como direitos civis, igualdade de gênero e
justiça social. Essa ampliação de foco destaca o papel dos sindicatos não apenas como mediadores nas con-
dições de trabalho, mas também como agentes de transformação social. A sociologia aplicada ressalta como
a sindicalização, quando aliada ao ativismo em questões sociais, contribui para uma visão mais holística das
lutas por justiça e equidade.
A complexidade inerente ao sindicalismo e à atuação como militante sindical demanda uma abordagem
integrada entre a sociologia e a psicologia aplicada ao trabalho. Enquanto a sociologia examina as alterações
nas estruturas sociais e nas relações de poder, a psicologia explora as sutilezas da experiência individual do
militante. A resiliência necessária para enfrentar adversidades, a construção da identidade em meio às lutas co-
letivas e a gestão emocional desses processos são elementos centrais na análise psicológica do sindicalismo.
Sindicalização e engajamento sindical não representam apenas fenômenos laborais isolados; são compo-
nentes intrínsecos de uma narrativa mais ampla sobre a evolução das relações de trabalho e as lutas por justiça
social. Ao compreender as complexidades sociológicas e psicológicas desses elementos, não apenas analisa-
mos o presente, mas também moldamos um futuro mais equitativo e consciente das interações no mundo do
trabalho. A interseção entre sociologia e psicologia aplicada ao trabalho proporciona insights inestimáveis para
a compreensão e promoção de ambientes laborais mais justos e sustentáveis.

A ação sindical e sua tipologia

A relação intrincada entre trabalho e sociedade, marcada por uma complexidade de elementos que abran-
gem tanto aspectos econômicos quanto sociais, destaca a ação sindical como uma ferramenta fundamental na
busca por equidade e justiça no ambiente laboral. Este texto se propõe a realizar uma análise extensa e abran-
gente sobre a ação sindical e suas diferentes tipologias, explorando as nuances sociológicas e psicológicas
que permeiam esse fenômeno.
A história da ação sindical remonta à Revolução Industrial, uma época em que os trabalhadores enfrentavam
condições desumanas, jornadas exaustivas e salários irrisórios. Diante desse cenário adverso, os sindicatos
surgiram como resposta às injustiças, buscando representar os interesses coletivos dos trabalhadores. Desde
então, a ação sindical evoluiu, adquirindo diversas formas e funções.
Sob a tipologia da ação sindical, o sindicalismo de classe fundamenta-se na ideia de que os trabalhado-
res compartilham interesses comuns e devem unir forças para alcançar objetivos coletivos. Nesse modelo,
a luta por melhores condições de trabalho, salários dignos e benefícios é central, destacando a formação de
identidades coletivas e a solidariedade como fatores essenciais. Por outro lado, o sindicalismo empresarial,
contrapondo-se ao sindicalismo de classe, concentra-se na colaboração entre empregadores e empregados
para alcançar objetivos mútuos, com uma abordagem muitas vezes orientada para a produtividade e eficiência,
explorando estratégias que promovam um ambiente de trabalho mais harmonioso. A psicologia aplicada a esse
contexto investiga as dinâmicas de negociação e as relações interpessoais.
O sindicalismo revolucionário, com raízes nas teorias marxistas, vai além das melhorias nas condições de
trabalho, buscando uma transformação radical na estrutura social e econômica. A sociologia desse tipo de ação
sindical destaca as lutas de classes e a busca por uma reconfiguração completa do sistema.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


29
Do ponto de vista sociológico, a ação sindical pode ser interpretada como um fenômeno que reflete as di-
nâmicas de poder presentes na sociedade. A teoria do conflito, por exemplo, enxerga a ação sindical como um
produto da luta entre diferentes classes sociais, enquanto a teoria funcionalista destaca o papel dos sindicatos
na manutenção do equilíbrio social ao representar os interesses dos trabalhadores.
A psicologia aplicada ao trabalho desempenha um papel crucial na compreensão das motivações e desafios
enfrentados pelos trabalhadores envolvidos em ações sindicais. O estudo das relações de poder, liderança
sindical e o impacto psicológico das negociações são aspectos fundamentais. A psicologia organizacional, por
sua vez, pode oferecer insights sobre como otimizar a eficácia das ações sindicais, considerando a dinâmica
psicológica dos envolvidos.
Desse modo, a ação sindical é um fenômeno multifacetado que transcende as fronteiras da sociologia e psi-
cologia aplicada ao trabalho. Sua tipologia reflete não apenas diferentes abordagens estratégicas, mas também
divergências ideológicas e sociais. Compreender a complexidade desse fenômeno é essencial para promover
ambientes de trabalho mais justos, equitativos e produtivos, alinhados com os princípios fundamentais de dig-
nidade e respeito no contexto laboral.

A evolução do sindicalismo diante das transformações do mundo do trabalho

A evolução do sindicalismo diante das transformações do mundo do trabalho é um tema fascinante que
nos permite analisar a dinâmica complexa entre as forças sociais, econômicas e psicológicas que moldam as
organizações laborais ao longo do tempo. O sindicalismo, enquanto movimento que busca representar os inte-
resses coletivos dos trabalhadores, tem sido influenciado por uma série de mudanças no cenário global, desde
as primeiras formas de organização no contexto da Revolução Industrial até os desafios contemporâneos da
era digital e globalizada.
Na sua origem, o sindicalismo nasceu como uma resposta às duras condições impostas aos trabalhadores
durante a Revolução Industrial. As jornadas exaustivas, os salários inadequados e as condições desumanas
de trabalho deram origem aos primeiros sindicatos, que lutavam por direitos básicos e condições mais dignas.
Nessa fase inicial, a sociologia aplicada ao trabalho ganhava espaço ao analisar as estruturas de poder emer-
gentes e as relações entre capital e trabalho.
Ao longo do século XX, o sindicalismo passou por diversas transformações, refletindo as mudanças nas
configurações econômicas e sociais. O sindicalismo de classe, que fundamentava sua atuação na luta pelos di-
reitos trabalhistas, encontrou desafios e oportunidades nas ondas de industrialização, na ascensão do fordismo
e na consolidação do modelo de welfare state. Essa evolução refletia não apenas os avanços nas condições de
trabalho, mas também as mudanças nas teorias sociológicas que fundamentavam a compreensão das relações
laborais.
No entanto, o sindicalismo não permaneceu imune às transformações estruturais da sociedade contem-
porânea. O advento da globalização e a ascensão da economia digital trouxeram consigo novos desafios. A
flexibilização das relações de trabalho, o surgimento do trabalho remoto e a descentralização da produção im-
pactaram diretamente as formas tradicionais de organização sindical. Nesse contexto, a psicologia aplicada ao
trabalho desempenha um papel crucial ao analisar como essas mudanças afetam a saúde mental e emocional
dos trabalhadores, bem como as dinâmicas de liderança sindical.
A pluralidade de formas de sindicalismo também se destaca como um fenômeno contemporâneo. Além do
sindicalismo de classe, surgiram abordagens mais colaborativas, como o sindicalismo empresarial, que busca
uma parceria entre empregadores e empregados para promover objetivos comuns. A psicologia organizacional
desempenha aqui um papel essencial ao explorar as dinâmicas de negociação e as relações interpessoais que
sustentam essas novas formas de sindicalismo.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


30
É crucial mencionar que o sindicalismo contemporâneo também enfrenta críticas e resistências. Algumas
correntes argumentam que, em alguns casos, os sindicatos podem reproduzir estruturas de poder hierárquicas
ou que suas abordagens podem não ser suficientemente adaptativas às rápidas mudanças no mundo do tra-
balho. Nesse sentido, a sociologia aplicada ao trabalho continua a desempenhar um papel vital ao analisar as
tensões e desafios enfrentados pelos sindicatos na contemporaneidade.
Com base no que vimos anteriormente, podemos saber que a evolução do sindicalismo diante das transfor-
mações do mundo do trabalho é um processo dinâmico que reflete a interseção complexa entre a sociologia e a
psicologia aplicadas ao contexto laboral. Desde suas origens na Revolução Industrial até as atuais adaptações
às demandas da era digital, o sindicalismo continua a ser um ator central na busca por equidade, justiça e dig-
nidade no ambiente de trabalho, oferecendo oportunidades para a reflexão crítica e a inovação nas estratégias
de representação dos interesses dos trabalhadores.

Greves e conflitos trabalhistas

Direito de Greve aos Trabalhadores


Greve pode ser considerada como um fato social. Em nossa legislação é considerada como a suspensão
do contrato de trabalho. Essa suspensão define-se como uma paralização sem pagamento, mas na prática
os sindicatos pedem a interrupção do serviço para que os grevistas tenham a possibilidade de receber seus
vencimentos.
O direito de greve no Brasil foi uma das mais importantes conquistas dos trabalhadores por meio da Consti-
tuição Federal de 1988, que no artigo 9º diz:

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade
de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessi-
dades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
O direito de greve é assegurado apenas ao trabalhador subordinado. A suspensão dos serviços deve ser
temporária e não definitiva.
A paralisação pode ser parcial ou total. A titularidade do direito de greve é dos trabalhadores, no entanto, a
legitimidade para a instauração da greve pertence à organização sindical dos trabalhadores. O artigo 8º, VI, da
CF/88 estabelece que nas negociações coletivas deve haver a participação obrigatória do sindicato profissional.
Daí decorre que o direito de greve é um importante direito fundamental dos trabalhadores, através do qual
podem se manifestar e pressionar o seu empregador sobre suas reivindicações. Todavia, como é basilar, não se
trata de um direito absoluto, cabendo aos trabalhadores e respectivos sindicatos, para exercê-lo regularmente
e não tê-lo como abusivo, cumprir alguns requisitos legais.

A Lei nº 7.783/89 é a responsável em disciplinar o exercício do direito de greve pelos trabalhadores:


Greve dos Servidores Públicos
Os trabalhadores da iniciativa privada, regidos pela CLT, conforme já mencionado, possuem o direito de
greve assegurado na Constituição Federal e regulamentado pela Lei 7.783/1989. Não obstante, aos servidores
públicos, relativamente ao exercício do direito de greve, o tratamento constitucional foi diverso.
Conforme o que dispõe o art. 37, VII, da CF/88: “o direito de greve do servidor público civil será exercido nos
termos e nos limites definidos em lei específica”.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


31
Esse dispositivo da Constituição Federal condicionou o pleno exercício do direito de greve dos servidores
públicos estatutários à edição de lei específica. Assim, embora assegurado pelo texto constitucional o exercício
do direito de greve para o servidor público civil, se faz necessário para ser exercício a fixação de seus limites
por lei específica, cujo qual ainda não existe em nosso ordenamento jurídico.
Neste contexto, parte da doutrina e jurisprudência entende que como essa lei específica ainda não existe os
servidores públicos civis não possuem o direito de greve. Contudo, o posicionamento majoritário e que vem se
consolidando, principalmente com base em decisão já proferida pelo STF, é de que o direito de greve não pode
ser sonegado diante da omissão legislativa, devendo, assim, serem aplicadas as regras do direito de greve no
âmbito privado (Lei 7.783/1989) aos servidores públicos civis.
Portanto com base nesse posicionamento é assegurado sim o direito de greve ao servidor público civil, mes-
mo sem a edição da lei especifica que regulamente seu exercício.
Greve dos Militares
O art. 5º, caput, da Constituição Federal prescreve como direito fundamental de todos os brasileiros à invio-
labilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
Para assegurar à incolumidade desses valores jurídicos tão caros, a segurança pública é um dever estatal
de suma importância.
A Constituição estabelece que os militares são impedidos de sindicalização e de greve e, como no Brasil,
além das Forças Armadas, preservação da ordem pública, a incolumidade das pessoas e o patrimônio, é exer-
cida também exercida por meio da polícia federal; policia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias
civis; polícias militares e corpos de bombeiros militares, essa proibição se estende a todos os servidores de
todos os Estados Brasileiros.
Assim, a carreira policial é o braço armado do Estado para a garantia da segurança pública, assim como as
Forças Armadas são o braço armado do Estado para garantia da segurança nacional, visando ambos a função
de garantir a ordem pública.
É a redação do art. 142, §3º, IV, da CF/88: ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”.

Nesse contexto, em recente decisão proferida em 05 de abril de 2017, no julgamento do Recurso


Extraordinário com Agravo (ARE) 654432, com repercussão geral reconhecida, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal (STF), por maioria dos votos, reafirmou entendimento no sentido de que é inconstitu-
cional o exercício do direito de greve por parte de policiais civis e demais servidores públicos que atuem
diretamente na área de segurança pública. São precedentes do Supremo nesse sentido, como a Recla-
mação 6568 e o Mandado de Injunção (MI) 670.
Portanto, o posicionamento que prevalece é de que não há como se compatibilizar que o braço armado
investigativo do Estado possa exercer o direito de greve, sem colocar em risco a função precípua do Estado,
exercida por esses órgãos, para garantia da segurança, da ordem pública e da paz social.
SOLUÇÃO DE CONFLITOS TRABALHISTAS
Busca o Direito do Trabalho, como instrumento de justiça social, além de melhores condições para o traba-
lhador, assegurar seus direitos e garantias laborais e lutar para o aprimoramentos das relações continuamente
em prol do bem estar social nas relações de trabalho.
O processo do trabalho dá ênfase à solução do conflito por meio do princípio da conciliação. É nesse con-
texto que o caput do art. 764 da CLT impõe que “os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação
da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação”.
A propósito, o §1º do referido artigo prevê que “os juízes e Tribunais do Trabalho empregarão sempre os
seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória dos conflitos”.
Ademais, no rito sumaríssimo, o art. 852-E da CLT descreve que “aberta a sessão, o juiz esclarecerá as
partes presentes sobre as vantagens da conciliação e usará os meios adequados de persuasão para a solução
conciliatória do litígio, em qualquer fase da audiência”.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


32
Já no rito ordinário, a CLT prevê dois momentos obrigatórios de tentativa de conciliação a ser conduzida
pelo juiz:

1º - na abertura da audiência inicial e antes da apresentação da defesa (CLT, art. 846);

2º - depois das razões finais e antes da sentença, como declina o art. 850 da CLT.
É importante observar que a obrigatoriedade está na tentativa de conciliação e não, necessariamente, na
sua celebração. Ademais, o juiz não está obrigado a homologar o acordo apresentado pelas partes (Súmula
418 do TST).
ATENÇÃO!
Por haver regra própria na CLT no tocante à conciliação, o art. 165 do Novo CPC não se aplica ao processo
do trabalho, exceto nos conflitos de natureza econômica (TST – IN nº 39/2016, art. 14).
Como visto, uma das funções principais do Direito do Trabalho é pacificar as divergências decorrentes das
relações de trabalho, utilizando-se, segundo a doutrina majoritária trabalhista dos meios de solução dos confli-
tos, que são a “autotutela ou autodefesa, autocomposição e heterocomposição”.
A diferença entre tais meios de composição dos conflitos encontra-se nos sujeitos envolvidos. Enquanto a
autodefesa ou autotutela e autocomposição tem seus conflitos autogeridos pelas próprias partes, a heterocom-
posição necessita da intervenção de um agente exterior aos sujeitos do conflito para dirimi-lo.
Passaremos abaixo ao conceito e caracterização de cada um deles.
Autotutela ou Autodefesa
Consiste a autotutela na solução do litígio pela imposição da vontade de um dos interessados sobre a von-
tade do outro. Trata-se de solução egoísta e parcial dos conflitos, vedada por nosso ordenamento, como regra
geral. Se exercida por particular, a autotutela é tipificada como crime de exercício arbitrário das próprias razões
(art. 345 do CP). Quando executada pelo Estado, configura abuso de poder. Em algumas situações excep-
cionais, a própria lei admite a autotutela. Tal ocorre por duas razões básicas: “a) a impossibilidade de estar o
Estado-juízo presente sempre que um direito esteja sendo violado ou prestes a sê-lo; b) ausência de confiança
de cada um no altruísmo alheio, inspirador de uma possível autocomposição”.
Entre as situações nas quais se admite a autotutela, podemos citar o direito de retenção (artigos 578, 644 e
1433, II, do CC), o desforço imediato pelo possuidor na defesa de sua posse (art. 1210, §1º, do CC), a legítima
defesa e a autoexecutoriedade dos atos administrativos.
Autocomposição
É a forma de solucionar um conflito a partir do consentimento em sacrificar o interesse próprio, em todo ou
em parte, em favor do interesse de outrem buscando a resolução de um conflito.
A autocomposição é a negociação direita entre as partes interessadas sem a intervenção de um terceiro.
Pode-se dividir a autocomposição em unilateral e bilateral, esta ocorre quando cada uma das partes faz
concessões recíprocas, o que se denomina de transação, enquanto aquela, é caracterizada pela renúncia de
uma das partes a sua pretensão.
Heterocomposição
A heterocomposição é o meio utilizado para solucionar os conflitos decorrentes da relação de trabalho em
que as partes utilizando-se de suas próprias forças não conseguem dirimi-lo, e utiliza-se, para resolução dos
mesmos, de um órgão ou um agente externo e desinteressado a lide que irá solucioná-lo e sua decisão será
imposta às partes de forma coercitiva.
Utiliza-se para o bom entendimento sobre heterocomposição a divisão didática apontada por Sérgio Pinto
Martins, como sendo subdividida em mediação, arbitragem e jurisdição.
Somente a presença de um agente externo à relação do conflito não caracteriza heterocomposição. Este
tem que ser impositivo, deve impor sua posição influenciando na solução do conflito.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


33
Mediação e Conciliação
A mediação é técnica de estímulo à autocomposição. Um terceiro (mediador), munido de técnicas adequa-
das, ouvirá as partes e oferecerá diferentes abordagens e enfoques para o problema, aproximando os litigantes
e facilitando a composição do litígio. A decisão caberá às partes, jamais ao mediador. A mediação assemelha-se
à conciliação, uma vez que ambas visam à autocomposição. Dela se distingue somente porque a conciliação
busca sobretudo o acordo entre as partes, enquanto a mediação objetiva debater o conflito, surgindo o acordo
como mera consequência. Trata-se mais de uma diferença de método, mas o resultado acaba sendo o mes-
mo.
Para facilitar, a Lei nº 13.140/2015 trouxe um conceito sobre mediação:
Art. 1º [...]
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem po-
der decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver
soluções consensuais para a controvérsia.
O mediador não deve propor solução para os litigantes, mas sim possibilitar, a partir do levantamento dos
problemas envolvidos, que as próprias partes cheguem a um consenso. O conciliador, diferentemente, orienta
e aponta soluções na tentativa de agilizar a prestação jurisdicional, mas sem adentrar nas questões intersubje-
tivas que desencadearam o conflito.
Podem ser objeto de mediação não apenas os conflitos que envolvam direitos disponíveis, mas, também,
aqueles que versem sobre direitos disponíveis que admitam transação.
Extrajudicialmente a mediação também se mostra viável. De acordo com a Lei nº 13.140/2015, a mediação
extrajudicial se dará mediante convite, por qualquer meio de comunicação. As partes também podem acordar
previamente a “cláusula de mediação”, por meio da qual se comprometerão a tentar a mediação antes de
buscarem o Poder Judiciário ou a arbitragem para decidirem o conflito.
Novidade bastante relevante trazida pela Lei nº 13.140/2015 é a possibilidade de as partes, mediante cláu-
sula contratual prévia, estabelecerem um prazo para o início da ação judicial ou do procedimento arbitral.
Arbitragem
A arbitragem consiste no julgamento do litígio por terceiro imparcial, escolhido pelas partes. É, tal qual a ju-
risdição, espécie de heterocomposição de conflitos, que se desenvolve mediante trâmites mais simplificados
e menos formais do que o processo jurisdicional.
A arbitragem somente pode ser convencionada por pessoas maiores e capazes e com relação a direitos
disponíveis. Não é compulsória, mas opção que poderá ou não ser utilizada pelas partes, a critério delas.
No âmbito trabalhista, a arbitragem possui status constitucional (art. 114, §2º, da CF/1988, com a re-
dação dada pela EC nº45/2004).
A arbitragem é admitida pela Constituição no caso de dissídios coletivos de trabalho. Não é válida, portan-
to, para os dissídios individuais conforme entendimento pacífico do TST.
Nesse sentido, segue abaixo o Informativo TST nº 104:
SUBSEÇÃO I ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS
Ação civil pública. Prática de arbitragem nos dissídios individuais trabalhistas. Período posterior à dissolução
dos contratos de trabalho. Inaplicabilidade. Arts. 114, §§ 1º e 2º, da CF, e 1º da Lei nº 9.307/1996. Imposição
de obrigação de se abster.
O instituto da arbitragem não se aplica como forma de solução de conflitos individuais trabalhistas, seja sob
a ótica do art. 114, §§ 1º e 2º, da CF, seja à luz do art. 1º da Lei nº 9.307/1996, pois a intermediação da câmara
de arbitragem (pessoa jurídica de direito privado) não é compatível com o modelo de intervencionismo estatal
norteador das relações de emprego no Brasil. Quando se trata de Direito Individual do Trabalho, o princípio
tuitivo do emprego inviabiliza qualquer tentativa de se promover a arbitragem, alcançando, inclusive, o período
pós-contratual, ou seja, a homologação da rescisão, a percepção das verbas daí decorrentes e até mesmo
eventual celebração de acordo.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


34
Com esses fundamentos, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos interpostos pelo Ministério Público
do Trabalho, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, deu-lhes provimento para, reformando a decisão que
chancelara a atividade de arbitragem em relação ao período posterior à dissolução do contrato de trabalho,
desde que respeitada a livre manifestação de vontade do exempregado e garantido o acesso irrestrito ao Poder
Judiciário, condenar a reclamada a se abster de promover amplamente a arbitragem envolvendo direitos indivi-
duais trabalhistas, inclusive após a cessação do contrato de trabalho e no que tange à tentativa e/ou à efetiva
formalização de acordos entre empregados, ou ex-empregados, e empregadores. Vencido o Ministro Ives Gan-
dra Martins Filho. TST-E-ED-RR-25900-67.2008.5.03.0075, SBDI-I, rel. Min. João Oreste Dalazen, 16.4.2015.
A arbitragem é regulada pela Lei nº 9.307/1996 e instituída mediante negócio jurídico denominado “conven-
ção de arbitragem”, que compreende a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.
Jurisdição
Conceito de Jurisdição
Jurisdição é o poder, a função e a atividade exercidos e desenvolvidos, respectivamente, por órgãos estatais
previsto em lei, com a finalidade de tutelar direitos individuais ou coletivos. Uma vez provocada, atua no sentido
de, em caráter definitivo, compor litígios ou simplesmente realizar direitos materiais previamente acertados, o
eu inclui a função de acautelar os direitos a serem definidos ou realizados, substituindo, para tanto, a vontade
das pessoas ou entes envolvidos no conflito. Mesmo quando o Supremo Tribunal Federal exerce o controle
concentrado de constitucionalidade por meio de procedimentos – ADI/ADC e ADPF – nos quais não há partes,
num plano mediato se pode vislumbrar a tutela preventiva de direitos individuais, embora o objeto da tutela
jurisdicional, num plano imediato, seja a própria lei.

Características da Jurisdição
Unidade
A jurisdição, dizem os clássicos, é função exclusiva do Poder Judiciário, por intermédio de seus juízes, os
quais decidem monocraticamente ou em órgãos colegiados, daí por que se diz que ela é una. A distribuição fun-
cional da jurisdição em órgãos (Justiça Federal, Justiça do Trabalho, varas cíveis, varas criminais, entre outros)
tem efeito meramente organizacional. A jurisdição, como ensina Lopes da Costa, será sempre o poder-dever de
o Estado declarar e realizar o Direito. Nesse sentido, se diz que a jurisdição é una, ou seja, é função monopoli-
zada dos juízes, os quais integram uma magistratura nacional, não obstante um segmento seja pago pela União
(magistratura federal e trabalhista, por exemplo) e outro pelos Estados-membros (magistrados estaduais).
Secundariedade
A jurisdição é o derradeiro recurso (ultima ratio), a última trincheira na busca da solução dos conflitos. O
normal e esperado é que o Direito seja realizado independentemente da atuação da jurisdição, sobretudo em
se tratando de direitos patrimoniais. Em geral, o patrão paga os salários sem que seja acionado para tanto; o
locatário paga o aluguel sem que o locador tenha que recorrer à Justiça para fazer valer seu direito; o pai, uma
vez separado de sua mulher, paga alimentos ao filho, independentemente de qualquer ação de alimentos. Pre-
valece, portanto, a observância ao dever decorrente da lei, o convencionado pelas partes, o ato jurídico perfeito.
Quando se descumpre o dever jurídico oriundo de tais atos, o que se espera é que as partes envolvidas bus-
quem os meios para solucionar o litígio de forma consensual. Nessa perspectiva, a secundariedade constitui
o reverso da unidade. Segundo a característica da unidade, a jurisdição constitui um monopólio do Judiciário.
Por outro lado, de acordo com as características da secundariedade, a função jurisdicional é secundária no
sentido de que só atuará em último caso, quando esgotadas todas as possibilidades de resolução do conflito
instaurado.
Substitutividade
Como o Estado é um terceiro estranho ao conflito, ao exercer a jurisdição, estará ele substituindo, com ati-
vidade sua, a vontade daqueles diretamente envolvidos na relação de direito material, os quais obrigato-
riamente se sujeitarão ao que restar decidido pelo Estado-juízo. É nesse sentido que se fala em substitutividade
da jurisdição. Em outras palavras, as partes poderiam, cada uma, cumprir o seu dever, evitando o conflito. Sur-
gindo o conflito, poderiam, per si, buscar uma forma de resolve-lo. Em não agindo assim, a última possibilidade
consiste em bater às portas do Judiciário em busca de uma tutela jurisdicional. Uma vez provocada a jurisdição,

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


35
instaurado e desenvolvido o processo, o Estado-juiz editará a sentença, uma verdadeira lei regedora do caso
concreto, a qual uma vez imutabilizada pela coisa julgada, substituirá completamente à vontade das partes. A
solução dada, por exemplo, julgando improcedente o pedido formulado na petição inicial, nem de longe integra-
va a vontade do autor, mas ele terá que se submeter ao que fora decidido. Goste ou não as partes do que restou
decidido, terão que obedecer ao comando da sentença. Esse é o sentido de substitutividade da jurisdição.
Em razão da substitutividade, a jurisdição é espécie de heterocomposição dos conflitos, gênero que
se contrapõe à autocomposição (solução do litígio pelos próprios sujeitos da relação material, como se dá na
conciliação e transação), que tem como pressuposto o respeito integral à autonomia da vontade.
Imparcialidade
No exercício da jurisdição deve predominar o interesse geral de administração da justiça, devendo os
agentes estatais zelar para que as partes tenham igual tratamento e igual oportunidade de participar na forma-
ção do convencimento daquele que criará a norma que passará a reger o conflito de interesses. É nesse sentido
que se diz que a jurisdição é atividade imparcial do Estado.
Resumindo: a imparcialidade constitui característica de toda a atividade jurisdicional; mas há atividade típica
da Administração para a qual também se exige o requisito da imparcialidade.
Criatividade
Agindo em substituição à vontade dos conflitantes, o Estado, ao final do processo, criará uma norma indi-
vidual que passará a regular o caso concreto, inovando a ordem jurídica.
A tutela jurisdicional vai além, inovando o mundo jurídico, criando e não apenas reconhecendo algo já
existente.
Inércia
A jurisdição é atividade equidistante e desinteressada do conflito e, por isso, num primeiro momento,
só age se provocada pelas partes, por intermédio de seus advogados (art. 2º).
Definitividade
Traço marcante e distintivo da jurisdição em relação às demais funções estatais (administrativa e executiva)
e meios de pacificação social é a aptidão para a definitividade, quer dizer, a suscetibilidade para se tornar
imutável. A essa caraterística de definitividade da jurisdição dá-se o nome de coisa julgada.

Princípios da Jurisdição
Princípio do juízo natural
O princípio do juízo natural deve ser compreendido sob dois enfoques: objetivo e subjetivo.
Objetivamente, o princípio do juízo natural desdobra-se em duas garantias básicas: preexistência do ór-
gão jurisdicional ao fato, ou proibição de juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII); e o respeito absoluto
às regras objetivas de determinação de competência (art. 5º, LIII).
Há, ainda, um aspecto subjetivo que também integra o princípio do juízo natural: a imparcialidade. Res-
salte-se que a imparcialidade figura como uma das características da função jurisdicional, como princípio da
jurisdição e como pressuposto processual.
Princípio da improrrogabilidade
Os limites da jurisdição, em linhas gerais, são traçados na Constituição, não podendo o legislador ordinário
restringi-los nem amplia-los. A improrrogabilidade traçará, então, os limites de atuação dos órgãos jurisdicio-
nais. Todos os juízes são investidos de jurisdição, mas só poderão atuar naquele órgão competente para o
qual foram designados, e somente nos processos distribuídos para aquele órgão.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


36
Princípio da indeclinabilidade (ou da inafastabilidade)
Se, por um lado, não se permite ao julgador atuar fora dos limites definidos pelas regras de competência e
distribuição, por outro, também a ele não se permite escusar de julgar nos casos a que a tanto está compelido.
O órgão jurisdicional, uma vez provocado, não pode recusar-se, tampouco delegar a função de dirimir
os litígios, mesmo se houver lacunas na lei, caso em que poderá o juiz valer-se de outras fontes do direito,
como a analogia, os costumes e os princípios gerais (art. 4º da LINDB).
Princípio da inevitabilidade
Relaciona-se com a autoridade da decisão judicial, que, uma vez transitada e julgado, se impõe independen-
temente da vontade das partes.
Assim, se não concordar com a decisão, deve-se recorrer; caso contrário, as partes a ela ficarão sujeitas em
caráter inevitável.
Princípio da indelegabilidade
Relaciona-se com os princípios da improrrogabilidade e da indeclinabilidade. Tal como não se admite a pror-
rogação da atividade de um julgador fora dos limites traçados pelas regras de competência, salvo nos casos
expressos em lei, e igualmente não se permite que o juiz se escuse de decidir uma causa que lhe foi distribuída,
também não pode ele ou o tribunal delegar suas funções a outra pessoa ou órgão jurisdicional.
Jurisdição Contenciosa e Jurisdição Voluntária
Por jurisdição contenciosa entende-se a função estatal exercida com o objetivo de compor litígios. Por
sua vez, a jurisdição voluntária cuida da integração e fiscalização de negócios jurídicos particulares. Parti-
cularmente no que tange à jurisdição voluntária, ainda reina acirrada controvérsia a doutrina a respeito da sua
natureza jurídica.
Na Justiça do Trabalho a jurisdição se apresenta da seguinte maneira, os dissídios individuais são proces-
sados nas Varas do Trabalho enquanto os dissídios coletivos são ajuizados nos Tribunais Regionais do Traba-
lho e no Superior Tribunal do Trabalho.
Nesse sentido, aponta Amauri Mascaro Nascimento, sobre a jurisdição em relação ao direito do trabalho:
Cabe a jurisdição, sem a qual nenhum sistema de solução de conflitos pode manter-se – a não ser pela
imposição de um sobre outro interessado –, a interpretação definitiva e oficial das normas que integram o or-
denamento jurídico, precedida de uma diversidade de mecanismos internos, que podem existir nas empresas
e nos sindicatos, para permitir soluções autocompostas, céleres e simplificadas, como convém para a maioria
dos conflitos trabalhistas.
Assim, tem-se, a jurisdição como meio de resolução dos conflitos claramente eleito, nos costumes do direito
brasileiro, como a melhor forma de resolução dos conflitos, mesmo com sua morosidade, tem a jurisdição pre-
ferência na resolução das lides em relação a arbitragem, esta, ainda pouco utilizada.
Referências Bibliográficas:
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 19. ed. Revisada e completamente reformu-
lada conforme o Novo CPC – Lei 13.105, de 16 de março de 2015 e atualizada de acordo com a Lei 13.256, de
04 de fevereiro de 2016. São Paulo: Atlas, 2016.
MIESSA, Élisson. Processo do Trabalho. 5ªedição. Bahia: Editora JusPODIVM, 2016.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


37
A crise atual da sociedade do trabalho: O processo de globalização, seus efeitos so-
ciais e as novas cadeias produtivas

Globalização: Redes Mundiais de Socialização


Sobre a ideia de rede associada às sociedades contemporâneas, em especial nos estudos de Comunicação,
em primeiro lugar, redes podem ser pensadas em sentidos diversos: ou com o sistema de integração entre pes-
soas, mediante práticas de interação, em um sentido mais social; ou como um sistema de troca de mercadorias
e bens materiais, em um sentido mais econômico; ou como trocas de informações e bens simbólicos, em um
sentido mais cultural.
Quando vamos pensar, como propôs, por exemplo, M. Castells, as sociedades contemporâneas como so-
ciedades em rede, é preciso levar em consideração a globalização, que traz, como um dos seus efeitos mais
perceptíveis, a possibilidade de se estabelecer explicitamente sistemas de interação social em rede, em que
sujeitos, através de links, participam de trocas econômicas e culturais em amplas escalas, que extrapolam limi-
tes espaciais e temporais antes rígidos.
As transformações tecnológicas no campo do transporte e das telecomunicações evidenciam uma alteração
nas possibilidades reais de interação social, atuando como um facilitador nas trocas interpessoais, ao vivo ou
virtualmente, on-line ou com intervalos temporais.
Da mesma forma, a implantação de sistemas de mercado integrados e a produção de cidadanias extrater-
ritoriais, como no caso europeu, também atuam como agilizadores para promover uma maior mobilidade dos
sujeitos contemporâneos para além de seus locais de origem.
Obviamente, apresentamos essas questões aqui mais como referências potenciais do que como modifica-
ções de fato, já que, como nos lembra Z. Bauman, “turistas” e “vagabundos” movem-se (ou não conseguem se
mover) de formas diferenciadas dentro desse modelo de sociedade sem fronteiras que se apresenta como a
nova ordem mundial.
Portanto, sabemos que o mesmo modelo que gera inclusão também é profundamente gerador de exclusões.
O que nos interessa, no entanto, é levantar aqui que características, ao menos potencialmente, são eviden-
ciadas nas sociedades contemporâneas para que elas sejam classificadas como sociedades em rede.
Uma dessas características, é a possibilidade de um maior fluxo de pessoas por meio de sistemas de trans-
porte e telecomunicação mais abrangentes.
Da mesma forma, como explica N. Canclini, as práticas comerciais da nova ordem mundial substituem a
tradicional distinção entre próprio e alheio. A proliferação de produtos importados nas prateleiras indica, ao
menos em tese, a possibilidade cada vez mais acentuada de trocas de bens materiais e mercadorias em escala
planetária.
Novamente, as facilitações no campo dos transportes e das telecomunicações (permitindo, por exemplo,
maior rapidez no envio de mercadorias de lugares distantes tanto quanto no próprio poder do consumidor de
agilizar suas compras internacionais por meio da Internet) também são fundamentais para a compreensão do
que se entende como uma sociedade em rede.
Por fim, a transmissão de informações e bens simbólicos (desde o dinheiro volatizado nas bolsas de valores
integradas até os sistemas de comunicação digitalizados que atuam no mundo inteiro) aponta claramente para
a efetivação de um fluxo de comunicação em rede de proporções inéditas. Este último aspecto, inclusive, tem
sido objeto reflexivo de inúmeros trabalhos no campo da comunicação nas últimas décadas, motivando inúme-
ras discussões acerca da relação entre o global e o local no campo da cultura.
Não há dúvida, portanto, de que a ideia de uma sociedade em rede, a partir das transformações é pertinente
e adequada aos novos estudos sobre as sociedades contemporâneas.
Mas, em um misto de conclusão e inquietação, colocamos aqui duas ordens de problemas que nos parecem
importantes de serem levadas em consideração e que, no entanto, têm sido relegadas de uma forma geral.
Em primeiro lugar, gostaríamos de chamar a atenção para a necessidade de refinar o conceito de rede, pro-
curando buscar suas matrizes antes de usá-lo aleatoriamente.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


38
Trata-se de um conceito polissêmico, com sentidos diversos. No entanto, ele vem sendo tratado como dado,
sem qualquer esforço de localizá-lo historicamente e mesmo de conceituá-lo minimamente.
Há, portanto, em nossa compreensão, um uso generalizante do conceito que só tende a esvaziá-lo, em de-
trimento de sua riqueza e adequação.
Em segundo lugar, exatamente pela ausência de um esforço de historicização, percebemos um a tendência
a considerar que o conceito de rede seria adequado somente às sociedades contemporâneas globalizadas.
O conceito é adequado para qualquer sociedade. O que poderíamos destacar, no caso contemporâneo, em
face do processo de globalização, é a expansão da rede, sua potencialização ampliada e sua explicitação.
Nesse sentido, o conceito nos parece multo pertinente, pois trata-se, sem dúvida, de uma conjuntura histó-
rica em que os sentidos propostos para o conceito de rede (interação entre indivíduos, troca de mercadorias e
fluxo de informações) estão evidenciados e acabam ocupando um lugar central na configuração cultural, polí-
tica, econômica e social.
Mas é preciso cuidado para não cairmos em um reducionismo histórico, negando o quanto as questões que
hoje nos inquietam fazem parte de um processo de longa duração.

O proletariado de serviços, as plataformas digitais, a inteligência artificial e o ciber-


proletariado

O proletariado de serviços representa uma camada significativa da força de trabalho contemporânea, inseri-
da em atividades relacionadas aos setores de serviços e muitas vezes caracterizada por uma natureza precária
e flexível. Este fenômeno é intrinsecamente ligado às transformações ocorridas no mundo do trabalho, onde a
transição de uma economia industrial para uma economia baseada em serviços desempenhou um papel crucial
na reconfiguração das dinâmicas laborais.
A ascensão do proletariado de serviços é, em grande medida, uma consequência da globalização e das
mudanças tecnológicas que impactaram profundamente as estruturas econômicas e sociais. O avanço da tec-
nologia da informação e comunicação, por exemplo, resultou na automação de muitos processos industriais,
levando a uma diminuição relativa da demanda por trabalhadores na indústria tradicional.
Nesse contexto, observa-se uma crescente expansão dos setores de serviços, abrangendo desde atividades
ligadas à saúde, educação, turismo, até os diversos segmentos do mercado financeiro. Esse proletariado de
serviços, ao contrário do proletariado industrial do século XIX, caracteriza-se muitas vezes pela prestação de
serviços intelectuais, administrativos e de suporte, destacando uma mudança nas habilidades exigidas e nas
condições de trabalho.
A sociologia aplicada ao trabalho é fundamental para compreender as complexidades enfrentadas pelo pro-
letariado de serviços. A natureza fragmentada e muitas vezes precária do emprego nesse setor pode resultar
em insegurança ocupacional, falta de benefícios e maior vulnerabilidade aos impactos econômicos. A sociologia
também analisa as estruturas de poder presentes nos ambientes de trabalho de serviços, examinando as rela-
ções hierárquicas e as dinâmicas sociais que moldam as condições laborais.
A psicologia aplicada ao trabalho desempenha um papel crucial ao explorar o impacto psicológico dessas
condições laborais no proletariado de serviços. A falta de estabilidade no emprego, a pressão por produtividade
e a natureza muitas vezes precária das relações de trabalho podem resultar em estresse, ansiedade e outros
desafios psicológicos. Além disso, a psicologia organizacional examina as práticas de gestão e liderança nas
organizações de serviços, buscando otimizar o bem-estar dos trabalhadores e a eficácia das operações.
A precarização do trabalho no proletariado de serviços também levanta questões sociais mais amplas. A falta
de segurança no emprego pode contribuir para a desigualdade social, aumentando as disparidades de renda
e acesso a benefícios. A sociologia aplicada a essas questões investiga as implicações sociais e busca propor
políticas e estratégias que promovam uma distribuição mais equitativa dos recursos e oportunidades.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


39
Além disso, o proletariado de serviços muitas vezes está envolvido em interações intensivas de comunica-
ção e relações interpessoais. A psicologia social aplicada ao trabalho analisa as dinâmicas sociais nos ambien-
tes de serviços, explorando a construção de identidades profissionais, a formação de grupos de trabalho e os
impactos psicológicos das interações sociais no local de trabalho.
Em conclusão, o proletariado de serviços representa uma realidade complexa e dinâmica no mundo do tra-
balho contemporâneo. A interseção entre a sociologia e a psicologia aplicadas a esse fenômeno oferece uma
perspectiva abrangente para entender as condições laborais, as implicações sociais e os desafios enfrentados
pelos trabalhadores nesse setor. A busca por soluções que promovam dignidade, equidade e bem-estar no tra-
balho do proletariado de serviços é essencial para construir uma sociedade mais justa e sustentável.
— As plataformas digitais
As plataformas digitais emergiram como elementos centrais na paisagem do trabalho contemporâneo, mol-
dando significativamente as relações laborais, a economia e as interações sociais. Essa revolução tecnológica
introduziu novas formas de organização do trabalho, desafiando paradigmas tradicionais e exigindo uma análi-
se aprofundada sob a ótica da sociologia e da psicologia aplicadas ao ambiente profissional.
A ascensão das plataformas digitais está intrinsicamente ligada à globalização e ao avanço das tecnologias
de informação e comunicação. Essas plataformas oferecem serviços diversificados, desde transporte e hos-
pedagem até freelancers e comércio online, conectando prestadores de serviços a consumidores de maneira
rápida e eficiente. Esse modelo de trabalho, muitas vezes denominado “economia de plataforma”, apresenta
características únicas que impactam diretamente a experiência laboral.
Sob a perspectiva da sociologia aplicada ao trabalho, as plataformas digitais introduziram uma nova dinâmi-
ca nas relações de emprego. O trabalho em plataformas muitas vezes se caracteriza pela flexibilidade, permi-
tindo que os trabalhadores escolham seus horários e local de atuação. No entanto, essa flexibilidade pode, em
alguns casos, resultar em insegurança ocupacional, ausência de benefícios e falta de representação sindical,
desafiando as estruturas tradicionais de proteção ao trabalhador.
A precarização laboral associada às plataformas digitais também tem implicações psicológicas significativas.
A psicologia aplicada ao trabalho explora os impactos da falta de segurança no emprego, a pressão por pro-
dutividade constante e a necessidade de gestão autônoma das atividades profissionais. O trabalhador nesse
contexto pode enfrentar desafios relacionados ao estresse, à ansiedade e à dificuldade em estabelecer limites
entre vida profissional e pessoal.
Além disso, a psicologia organizacional investiga as dinâmicas internas das plataformas digitais como orga-
nizações, examinando como são estruturadas as relações de liderança, a comunicação entre os membros da
equipe e a influência das características específicas dessas plataformas na motivação e satisfação dos traba-
lhadores.
O surgimento das plataformas digitais também destaca questões sociais mais amplas. A concentração de
poder econômico nas mãos dessas plataformas, por exemplo, levanta preocupações sobre desigualdade e dis-
tribuição justa de recursos. A sociologia aplicada analisa as implicações sociais dessas dinâmicas, examinando
como a economia de plataforma pode contribuir para disparidades sociais e impactar as estruturas tradicionais
de emprego.
Por outro lado, as plataformas digitais também oferecem oportunidades para a inclusão econômica, permi-
tindo que pessoas de diversas regiões e contextos participem ativamente no mercado de trabalho. A sociologia
aplicada investiga como essas plataformas podem criar novas formas de identidade profissional e comunidade
entre os trabalhadores.
Desse modo, as plataformas digitais representam um fenômeno multifacetado que exige uma abordagem
interdisciplinar, integrando conceitos da sociologia e da psicologia aplicadas ao trabalho. Ao compreender as
complexidades desses novos modelos de emprego, é possível desenvolver estratégias e políticas que pro-
movam condições laborais mais justas, equitativas e sustentáveis, alinhadas aos princípios fundamentais de
dignidade e respeito no contexto profissional contemporâneo.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


40
— A inteligência artificial
A incorporação da inteligência artificial (IA) no ambiente de trabalho é um fenômeno que tem provocado
significativos impactos nas dinâmicas laborais, desencadeando transformações na sociologia e na psicologia
aplicadas ao trabalho. Esse avanço tecnológico, marcado por algoritmos complexos e máquinas autônomas,
redefine as relações entre humanos e máquinas, suscitando questionamentos sobre o futuro do emprego, a
natureza das ocupações e os desafios psicológicos enfrentados pelos trabalhadores.
Sob a perspectiva da sociologia aplicada ao trabalho, a introdução da inteligência artificial gera uma reconfi-
guração das estruturas ocupacionais e hierarquias profissionais. Algumas profissões podem ser automatizadas,
resultando na requalificação de trabalhadores e na emergência de novas competências. A criação de empregos
relacionados à manutenção e operação de sistemas de IA também se destaca, exemplificando como as mudan-
ças sociológicas podem variar dependendo do setor e das habilidades exigidas.
No entanto, a automação implica desafios, como o deslocamento de trabalhadores de setores tradicionais,
o que pode contribuir para o aumento da desigualdade. A sociologia analisa as implicações sociais dessas
mudanças, considerando o impacto na estratificação ocupacional, na mobilidade social e na distribuição de
renda, destacando a necessidade de políticas públicas que minimizem disparidades sociais decorrentes da
automação.
A psicologia aplicada ao trabalho desempenha um papel crucial na análise dos efeitos psicológicos da IA nos
trabalhadores. A automação pode gerar ansiedade e incerteza quanto à segurança no emprego, além de desa-
fios relacionados à adaptação a novas tecnologias. A resiliência, a capacidade de aprendizado contínuo e as
competências socioemocionais tornam-se, então, aspectos relevantes que a psicologia explora para promover
o bem-estar e a adaptação dos trabalhadores diante dessas mudanças.
Adicionalmente, a introdução da inteligência artificial em ambientes de trabalho levanta questões éticas,
como a transparência nos algoritmos, a equidade nas oportunidades de emprego e o impacto nas relações
interpessoais no local de trabalho. A psicologia organizacional investiga as dinâmicas sociais resultantes da
interação entre humanos e sistemas de IA, analisando como essas tecnologias influenciam a liderança, a cola-
boração e a cultura organizacional.
No aspecto sociológico, as transformações na natureza do trabalho também se refletem em debates sobre
a jornada laboral flexível, a descentralização do trabalho e a necessidade de novos modelos de representação
dos trabalhadores. A sociologia aplicada destaca a importância de considerar as implicações sociais e políticas
da IA, garantindo a participação democrática na formulação de políticas que orientem o desenvolvimento tec-
nológico de maneira ética e socialmente responsável.
Em síntese, a inteligência artificial é um fenômeno complexo que redefine a relação entre tecnologia e
trabalho. A interseção entre a sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho proporciona uma compreensão
abrangente dessas mudanças, permitindo o desenvolvimento de estratégias que promovam um ambiente de
trabalho equitativo, adaptável e centrado no bem-estar dos trabalhadores diante do avanço constante da inte-
ligência artificial.
— Ciberproletariado
O advento da era digital trouxe consigo transformações profundas no mundo do trabalho, culminando no
surgimento de fenômenos como o ciberproletariado. Essa expressão, derivada da junção de “cibernética” e
“proletariado”, refere-se ao grupo de trabalhadores que desempenha suas atividades em ambientes virtuais,
muitas vezes associados a plataformas online, e enfrenta desafios específicos relacionados à natureza da eco-
nomia digital. A análise sociológica e psicológica aplicada a esse contexto revela nuances importantes sobre as
condições laborais, relações sociais e desafios psicológicos enfrentados por esses trabalhadores.
Sob a perspectiva da sociologia aplicada ao trabalho, o ciberproletariado é um fenômeno multifacetado que
desafia as estruturas tradicionais de emprego. Em muitos casos, esses trabalhadores engajam-se em ativida-
des como freelancers, trabalho remoto e contribuições para plataformas de gig economy. Essa mudança na na-
tureza do emprego traz consigo novas dinâmicas sociais, incluindo a descentralização das relações de trabalho
e a reconfiguração das noções de comunidade laboral.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


41
A sociologia também explora as implicações da ciberproletarização nas relações de poder. A dependência
de plataformas digitais muitas vezes coloca os trabalhadores em uma posição de vulnerabilidade, sujeitos às
regras algorítmicas e políticas das plataformas que podem afetar diretamente suas condições de trabalho. A
falta de representação sindical e a descentralização do trabalho também desafiam as estratégias tradicionais
de mobilização e organização do trabalhador.
No âmbito psicológico, o ciberproletariado enfrenta desafios únicos relacionados à natureza virtual e des-
personalizada do trabalho. A psicologia aplicada ao trabalho analisa como a falta de interação face a face, a
pressão constante por produtividade e a gestão autônoma das tarefas impactam a saúde mental e emocional
desses trabalhadores. A adaptação a ambientes virtuais, a gestão do tempo e a construção de uma identidade
profissional em espaços digitais são aspectos que exigem uma compreensão aprofundada.
Além disso, a psicologia organizacional explora as dinâmicas nas plataformas digitais e como esses am-
bientes influenciam a motivação, o engajamento e a colaboração entre os ciberproletários. A falta de suporte
psicossocial, a ausência de uma cultura organizacional tangível e a sensação de isolamento são fatores que
a psicologia organizacional procura compreender e endereçar para otimizar o bem-estar e a eficácia desses
trabalhadores.
A ciberproletarização também suscita questões éticas e sociais. A exploração laboral, a falta de proteção so-
cial e as disparidades econômicas entre os trabalhadores digitais e tradicionais são temas centrais na discussão
sociológica sobre a justiça e a equidade no contexto do ciberproletariado. A sociologia aplicada busca identificar
estratégias políticas e sociais que garantam direitos e condições dignas de trabalho para esses profissionais.
Concluindo, o ciberproletariado é um fenômeno complexo que demanda uma abordagem integrada da so-
ciologia e psicologia aplicadas ao trabalho. A compreensão das dinâmicas sociais, desafios psicológicos e
implicações éticas desse novo paradigma laboral é essencial para orientar práticas e políticas que promovam
ambientes de trabalho justos, equitativos e sustentáveis na era digital.

A necessidade de novas competências, qualificações e as funções em extinção

A rápida evolução do mundo do trabalho, impulsionada por avanços tecnológicos, globalização e mudanças
nas demandas socioeconômicas, tem destacado a imperativa necessidade de desenvolver novas competên-
cias por parte dos trabalhadores. Nesse contexto, a sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho emergem
como disciplinas fundamentais para compreender e abordar esse desafio complexo e multifacetado.
Sob a lente sociológica, a necessidade de novas competências reflete a dinâmica transformadora das estru-
turas ocupacionais e das relações laborais. O advento da automação e da inteligência artificial, por exemplo,
reconfigura os papéis profissionais, exigindo uma adaptação ágil por parte dos trabalhadores para se manterem
relevantes no mercado. A sociologia aplicada destaca a importância de compreender como essas mudanças
estruturais impactam a estratificação ocupacional, influenciando a mobilidade social e a distribuição de recur-
sos. Além disso, a globalização trouxe consigo a necessidade de competências interculturais e multilíngues, à
medida que os ambientes de trabalho tornam-se mais diversificados. A sociologia investiga como a diversidade
cultural influencia as dinâmicas sociais nas organizações, enfatizando a importância de promover ambientes
inclusivos e equitativos.
Sob o escopo da psicologia aplicada ao trabalho, a necessidade de novas competências é intrinsecamente
ligada à adaptação psicológica dos indivíduos diante das mudanças. A psicologia explora como o desenvol-
vimento contínuo de habilidades influencia a autoeficácia e a resiliência dos trabalhadores, elementos essen-
ciais para enfrentar os desafios constantes do mercado de trabalho. A rapidez das mudanças tecnológicas e
organizacionais também introduz desafios psicológicos, como a ansiedade relacionada à incerteza do futuro
profissional e a gestão do estresse em ambientes de trabalho cada vez mais dinâmicos. A psicologia aplicada
analisa estratégias de coping e desenvolvimento de habilidades emocionais para fortalecer a saúde mental dos
trabalhadores diante dessas pressões.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


42
O século XXI demanda um conjunto de competências específicas que transcende as habilidades técnicas.
A capacidade de aprendizado contínuo, pensamento crítico, resolução de problemas complexos e habilidades
interpessoais tornam-se cruciais. A sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho convergem na análise des-
sas competências, considerando não apenas a sua aquisição individual, mas também como elas moldam as
dinâmicas sociais nas organizações. A comunicação eficaz, por exemplo, é uma competência que a psicologia
social explora em profundidade, investigando como as interações interpessoais no ambiente profissional im-
pactam a eficácia da equipe e a satisfação no trabalho. A sociologia, por sua vez, examina como padrões de
comunicação podem refletir e perpetuar estruturas de poder no local de trabalho.
A necessidade de novas competências no mundo do trabalho é uma realidade incontestável. Compreender
essa dinâmica complexa requer uma abordagem integrada que una as contribuições da sociologia e da psico-
logia aplicadas ao trabalho. A promoção do desenvolvimento humano, tanto em termos de habilidades técnicas
quanto socioemocionais, torna-se crucial para garantir que os trabalhadores estejam preparados para os de-
safios e oportunidades do ambiente profissional em constante evolução. Nesse cenário, a interdisciplinaridade
dessas disciplinas oferece um caminho sólido para orientar estratégias, políticas e práticas que contribuam para
ambientes de trabalho mais justos, equitativos e sustentáveis.
A necessidade de novas qualificações
A dinâmica acelerada do mundo do trabalho, impulsionada por avanços tecnológicos, globalização e trans-
formações econômicas, tem colocado em destaque a premente necessidade de adquirir novas qualificações
por parte dos trabalhadores. Esse fenômeno complexo, permeado por mudanças estruturais, exige uma análise
aprofundada sob as perspectivas da sociologia e da psicologia aplicadas ao trabalho.
Sob o olhar sociológico, as mudanças nas qualificações necessárias refletem as transformações nas estru-
turas ocupacionais e nas relações laborais. O advento da automação e da inteligência artificial tem redefinido
as competências exigidas, demandando uma adaptação constante por parte dos trabalhadores para permane-
cerem relevantes em um mercado de trabalho dinâmico. A sociologia aplicada destaca a importância de com-
preender como essas alterações estruturais impactam a estratificação ocupacional, influenciando a mobilidade
social e a distribuição de recursos.
Além disso, a globalização introduziu a necessidade de qualificações interculturais e multilíngues, uma vez
que os ambientes de trabalho tornaram-se mais diversificados. A sociologia investiga como a diversidade cul-
tural influencia as dinâmicas sociais nas organizações, sublinhando a importância de fomentar ambientes de
trabalho inclusivos e equitativos.
Sob a perspectiva da psicologia aplicada ao trabalho, a adaptação psicológica às novas qualificações de-
sempenha um papel crucial. A psicologia explora como o desenvolvimento contínuo de habilidades impacta a
autoeficácia e a resiliência dos trabalhadores, elementos fundamentais para enfrentar os desafios do mercado
de trabalho em constante evolução. As rápidas mudanças tecnológicas e organizacionais também geram desa-
fios psicológicos, incluindo ansiedade relacionada à incerteza profissional e gestão do estresse em ambientes
de trabalho cada vez mais dinâmicos. A psicologia aplicada analisa estratégias de adaptação e desenvolvimen-
to de habilidades emocionais para fortalecer a saúde mental dos trabalhadores diante dessas pressões.
O século XXI demanda um conjunto de qualificações específicas que transcende as habilidades técnicas. A
capacidade de aprendizado contínuo, pensamento crítico, resolução de problemas complexos e habilidades in-
terpessoais tornam-se cruciais. A sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho convergem na análise dessas
qualificações, considerando não apenas a aquisição individual, mas também como elas moldam as dinâmicas
sociais nas organizações.
A comunicação eficaz, por exemplo, é uma qualificação que a psicologia social explora em profundidade,
investigando como as interações interpessoais no ambiente profissional impactam a eficácia da equipe e a
satisfação no trabalho. A sociologia, por sua vez, examina como padrões de comunicação podem refletir e per-
petuar estruturas de poder no local de trabalho.
A necessidade de novas qualificações no mundo do trabalho é uma realidade incontestável. Compreender
essa dinâmica complexa requer uma abordagem integrada que una as contribuições da sociologia e da psico-
logia aplicadas ao trabalho. A promoção do desenvolvimento humano, tanto em termos de habilidades técnicas
quanto socioemocionais, torna-se crucial para garantir que os trabalhadores estejam preparados para os de-

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


43
safios e oportunidades do ambiente profissional em constante evolução. Nesse cenário, a interdisciplinaridade
dessas disciplinas oferece um caminho sólido para orientar estratégias, políticas e práticas que contribuam para
ambientes de trabalho mais justos, equitativos e sustentáveis.
— As funções em extinção
A contemporaneidade presencia uma rápida transformação no cenário do trabalho, impulsionada por avan-
ços tecnológicos, mudanças econômicas e sociais. Nesse contexto, emerge uma discussão crucial sobre as
funções em extinção, fenômeno que se tornou mais evidente com a automação, a inteligência artificial e outras
inovações disruptivas. Uma análise aprofundada à luz da sociologia e psicologia aplicadas ao trabalho se faz
essencial para compreender as complexidades desse processo de transição e os impactos sobre os trabalha-
dores.
Sob uma perspectiva sociológica, a extinção de funções tradicionais está intrinsecamente ligada às mu-
danças nas estruturas ocupacionais e nas relações laborais. A automação, por exemplo, redefine os papéis
profissionais, demandando uma adaptação ágil por parte dos trabalhadores para se manterem relevantes no
mercado. A sociologia aplicada destaca a importância de compreender como essas mudanças impactam não
apenas a estratificação ocupacional, mas também a dinâmica social e a percepção de identidade profissional.
A globalização, por sua vez, tem contribuído para o desaparecimento de certas funções ao mesmo tempo
que impulsiona a criação de outras. As tecnologias de comunicação e transporte conectam trabalhadores em di-
ferentes partes do mundo, gerando novas demandas e oportunidades, mas também tornando algumas funções
mais suscetíveis à obsolescência. A sociologia, ao analisar essas mudanças globais, busca compreender como
as comunidades locais são afetadas e como os trabalhadores se ajustam a essas transformações.
Do ponto de vista psicológico, a extinção de funções desencadeia uma série de desafios emocionais e psico-
lógicos para os trabalhadores. A psicologia aplicada ao trabalho explora como a incerteza em relação ao futuro
profissional, a perda de identidade associada a determinadas funções e a pressão por adaptação impactam o
bem-estar psicológico dos indivíduos. A resiliência, o desenvolvimento de habilidades emocionais e a gestão
do estresse tornam-se aspectos fundamentais na preparação dos trabalhadores para enfrentar a extinção de
funções.
No âmbito das funções em extinção, é fundamental abordar as implicações sociais mais amplas desse fe-
nômeno. O desaparecimento de determinadas ocupações pode resultar em desigualdades socioeconômicas,
desemprego estrutural e desafios na redistribuição de recursos. A sociologia aplicada se dedica a analisar
essas implicações sociais, propondo políticas e estratégias que minimizem os impactos negativos sobre as
comunidades afetadas.
Adicionalmente, a psicologia social aplicada ao trabalho examina como as mudanças nas funções afetam as
relações interpessoais no ambiente profissional. A competição por novas oportunidades, a colaboração em am-
bientes mais dinâmicos e a gestão das emoções diante das transformações são áreas de estudo importantes
para entender a dinâmica social no contexto da extinção de funções.
Em conclusão, a extinção de funções no mundo do trabalho é um fenômeno intrincado que exige uma
abordagem holística e interdisciplinar. A sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho oferecem perspectivas
valiosas para entender as nuances desse processo, desde as mudanças estruturais até os impactos individuais
e sociais. A adaptação eficaz dos trabalhadores a esse cenário de transformação requer uma compreensão pro-
funda das complexidades envolvidas, permitindo o desenvolvimento de estratégias e políticas que promovam
ambientes de trabalho mais justos, equitativos e sustentáveis.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


44
Flexibilização, informalidade, terceirização e precarização das condições de trabalho

A flexibilização das condições de trabalho representa um fenômeno impactante na contemporaneidade, sus-


citando reflexões cruciais sob as lentes da sociologia e psicologia aplicadas ao trabalho. Esse paradigma emer-
gente reflete uma resposta dinâmica às mudanças sociais, econômicas e tecnológicas, redefinindo as relações
laborais e demandando uma análise aprofundada para compreender suas implicações amplas.
Sob a perspectiva sociológica, a flexibilização surge como uma resposta adaptativa às transformações nas
estruturas ocupacionais e nas relações laborais. A globalização, catalisada por avanços tecnológicos, conecta
mercados e redefine as dinâmicas de produção, conduzindo a um ambiente de trabalho mais fluido e ajustável.
A sociologia aplicada destaca a necessidade de compreender como essa flexibilização impacta a estratificação
ocupacional, influenciando a mobilidade social e a distribuição de recursos.
A diversificação dos contratos de trabalho, horários mais flexíveis e a implementação de modalidades re-
motas são facetas da flexibilização que reconfiguram a estrutura tradicional hierárquica. A sociologia investiga
como essas mudanças podem influenciar a percepção de identidade profissional, a estrutura de poder no
ambiente de trabalho e as possibilidades de mobilidade social. A análise sociológica também explora como di-
ferentes grupos sociais são afetados de maneira desigual por essas mudanças, contribuindo para a discussão
sobre equidade e inclusão no cenário profissional.
Na esfera da psicologia aplicada ao trabalho, a flexibilização das condições laborais está intrinsecamente
vinculada ao bem-estar psicológico dos trabalhadores. A transição para modelos mais flexíveis pode desen-
cadear desafios emocionais, incluindo a gestão do estresse, a ansiedade associada à incerteza profissional
e a necessidade de adaptação constante. A psicologia explora estratégias de coping e o desenvolvimento de
habilidades emocionais para fortalecer a resiliência dos indivíduos diante desses desafios, visando promover a
saúde mental no ambiente de trabalho.
A autonomia proporcionada pela flexibilização pode ser percebida como uma oportunidade de empodera-
mento, conferindo aos trabalhadores maior controle sobre seu tempo e espaço de trabalho. No entanto, a psi-
cologia aplicada destaca a importância de considerar a variabilidade das respostas individuais à flexibilização,
reconhecendo que diferentes personalidades e necessidades podem influenciar a eficácia dessa abordagem. O
equilíbrio entre a flexibilidade e a estabilidade emocional torna-se crucial para garantir um ambiente de trabalho
saudável e produtivo.
O século XXI testemunha a consolidação da flexibilização como uma característica intrínseca ao mundo do
trabalho. A capacidade de adaptação torna-se uma competência valiosa, exigindo dos trabalhadores não ape-
nas habilidades técnicas, mas também flexibilidade cognitiva e emocional. Nesse contexto, a sociologia e a psi-
cologia aplicadas ao trabalho convergem na análise das competências necessárias para prosperar em ambien-
tes flexíveis, incluindo habilidades de comunicação eficaz, gestão do tempo e resiliência diante da incerteza.
A comunicação eficaz, por exemplo, torna-se fundamental para o sucesso em equipes dispersas geografica-
mente, enquanto a resiliência é uma ferramenta essencial para enfrentar os desafios constantes da mudança.
A sociologia investiga como a flexibilização impacta a estrutura social nas organizações, influenciando a co-
laboração e a coesão entre os membros da equipe. Ao mesmo tempo, a psicologia aplicada explora como a
flexibilidade do trabalho afeta a saúde mental, identificando estratégias para promover um ambiente de trabalho
saudável e sustentável.
Em suma, a flexibilização das condições de trabalho é um fenômeno que demanda uma abordagem inter-
disciplinar e holística. A sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho oferecem insights valiosos para com-
preender as implicações sociais, econômicas e psicológicas desse paradigma emergente. Além disso, essas
disciplinas orientam estratégias e políticas que visam melhorar as condições laborais, promover a inclusão e
garantir ambientes de trabalho mais justos e sustentáveis em um cenário dinâmico e desafiador.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


45
— Informalidade das condições de trabalho
A informalidade das condições de trabalho constitui um fenômeno de relevância incontestável no panorama
contemporâneo, demandando uma análise aprofundada sob as perspectivas da sociologia e psicologia aplica-
das ao trabalho. Este fenômeno complexo e multifacetado reflete uma série de mudanças sociais, econômicas
e culturais que têm moldado as configurações laborais, desafiando as estruturas tradicionais e exigindo uma
compreensão aprimorada de seus impactos amplos.
Sob a ótica sociológica, a informalidade nas condições de trabalho surge como uma resposta a transfor-
mações nas estruturas ocupacionais e nas relações laborais. O avanço tecnológico, a globalização e a flexi-
bilização econômica contribuem para a emergência de arranjos laborais mais informais, caracterizados por
contratos temporários, trabalho autônomo e plataformas digitais. A sociologia aplicada destaca a necessidade
de compreender como essa informalidade influencia a estratificação ocupacional, afetando a mobilidade social
e a distribuição de recursos.
A natureza dinâmica e fragmentada do trabalho informal reconfigura as tradicionais relações hierárquicas,
desafiando a estrutura clássica de empregador e empregado. A sociologia explora como essas mudanças
podem influenciar a percepção de identidade profissional, a solidariedade entre os trabalhadores e as possibi-
lidades de formação de comunidades laborais sólidas. Além disso, a análise sociológica busca entender como
diferentes grupos sociais são afetados de maneira desigual pela informalidade, levantando questões cruciais
sobre equidade e inclusão no contexto profissional.
Do ponto de vista da psicologia aplicada ao trabalho, a informalidade nas condições laborais está intrinsica-
mente relacionada ao bem-estar psicológico dos trabalhadores. A ausência de segurança no emprego, a falta
de benefícios e a instabilidade financeira associada ao trabalho informal podem gerar desafios emocionais
significativos. A psicologia explora estratégias de enfrentamento e desenvolvimento de habilidades emocionais
para fortalecer a resiliência dos indivíduos diante desses desafios, visando a promoção da saúde mental no
ambiente de trabalho.
A autonomia proporcionada pelo trabalho informal pode ser percebida como uma oportunidade de flexibilida-
de e liberdade profissional. No entanto, a psicologia aplicada destaca a importância de reconhecer as variabili-
dades nas respostas individuais à informalidade, considerando que diferentes personalidades e necessidades
podem influenciar a eficácia desse arranjo. A busca por um equilíbrio entre a liberdade profissional e a estabili-
dade emocional torna-se crucial para garantir um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
O século XXI tem testemunhado a consolidação da informalidade como uma característica marcante do
mundo do trabalho. A capacidade de adaptação torna-se uma competência valiosa, exigindo dos trabalhadores
não apenas habilidades técnicas, mas também flexibilidade cognitiva e emocional para lidar com a natureza flui-
da do trabalho informal. Nesse contexto, a sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho convergem na análise
das competências necessárias para prosperar em ambientes informais, incluindo habilidades de comunicação
eficaz, gestão do tempo e resiliência diante da incerteza.
A comunicação eficaz, por exemplo, torna-se fundamental para o sucesso em ambientes laborais carac-
terizados pela informalidade, enquanto a resiliência é uma ferramenta essencial para enfrentar os desafios
constantes dessa forma de trabalho. A sociologia investiga como a informalidade impacta as estruturas sociais
nas organizações, influenciando a colaboração e a coesão entre os membros da equipe. Ao mesmo tempo, a
psicologia aplicada explora como a informalidade afeta a saúde mental, identificando estratégias para promover
um ambiente de trabalho saudável e sustentável.
Entretanto, a informalidade das condições de trabalho é um fenômeno que demanda uma abordagem inter-
disciplinar e abrangente. A sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho oferecem insights valiosos para com-
preender as implicações sociais, econômicas e psicológicas desse paradigma emergente. Além disso, essas
disciplinas orientam estratégias e políticas que visam melhorar as condições laborais, promover a inclusão e
garantir ambientes de trabalho mais justos e sustentáveis em um cenário dinâmico e desafiador.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


46
— Terceirização das condições de trabalho
A terceirização das condições de trabalho é um fenômeno complexo e multifacetado que tem se destacado
no cenário contemporâneo, demandando uma análise aprofundada sob as perspectivas da sociologia e psico-
logia aplicadas ao trabalho. Este paradigma emergente reflete mudanças significativas nas estruturas ocupa-
cionais e relações laborais, desafiando concepções tradicionais de emprego e impactando a vida profissional
dos trabalhadores.
Sob a lente sociológica, a terceirização manifesta-se como uma resposta às transformações nas estruturas
organizacionais e socioeconômicas. O avanço tecnológico e as demandas por maior eficiência têm levado as
empresas a externalizar funções e serviços, criando redes complexas de relações entre empregadores, traba-
lhadores e prestadores de serviços. A sociologia aplicada destaca a necessidade de compreender como esse
rearranjo impacta não apenas as estratificações ocupacionais, mas também as dinâmicas sociais nas organi-
zações e comunidades afetadas.
A terceirização muitas vezes implica em trabalhadores desempenhando funções essenciais para uma em-
presa, mas contratados por intermediários, introduzindo novas camadas na estrutura de emprego. Isso pode
influenciar a percepção de identidade profissional, a coesão entre os colaboradores e as possibilidades de
mobilidade social. A sociologia explora também as implicações de diferentes formas de terceirização nas desi-
gualdades socioeconômicas e na distribuição de recursos, abordando questões de justiça e equidade.
Sob a perspectiva da psicologia aplicada ao trabalho, a terceirização das condições de trabalho está intrinse-
camente ligada ao bem-estar psicológico dos trabalhadores. A natureza precária dos contratos e a instabilidade
no emprego podem gerar ansiedade, insegurança e impactar negativamente a saúde mental. A psicologia ex-
plora estratégias de enfrentamento e desenvolvimento de habilidades emocionais para fortalecer a resiliência
dos indivíduos diante desses desafios, visando à promoção de ambientes de trabalho saudáveis e sustentáveis.
A autonomia e flexibilidade muitas vezes associadas à terceirização podem ser vistas como oportunidades
de empoderamento para alguns trabalhadores. No entanto, a psicologia aplicada destaca a importância de re-
conhecer as variações nas respostas individuais, considerando que diferentes personalidades e necessidades
podem influenciar a eficácia desse arranjo. A busca por um equilíbrio entre a terceirização e a estabilidade emo-
cional é crucial para garantir ambientes de trabalho produtivos e que promovam o bem-estar dos colaboradores.
O século XXI presencia a consolidação da terceirização como uma característica proeminente do mundo
do trabalho. A capacidade de adaptação torna-se uma competência valiosa, exigindo dos trabalhadores não
apenas habilidades técnicas, mas também flexibilidade cognitiva e emocional para lidar com as nuances desse
novo paradigma. Nesse contexto, a sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho convergem na análise das
competências necessárias para prosperar em ambientes terceirizados, incluindo habilidades de comunicação
eficaz, gestão do tempo e resiliência diante da incerteza.
A comunicação eficaz, por exemplo, torna-se fundamental para o sucesso em equipes distribuídas geo-
graficamente, enquanto a resiliência é uma ferramenta essencial para enfrentar os desafios constantes da
terceirização. A sociologia investiga como esse fenômeno impacta as estruturas sociais nas organizações,
influenciando a colaboração e a coesão entre os membros da equipe. Ao mesmo tempo, a psicologia aplicada
explora como a terceirização afeta a saúde mental, identificando estratégias para promover um ambiente de
trabalho saudável e sustentável.
Conforme falamos no decorrer do texto, a terceirização das condições de trabalho é um fenômeno que exi-
ge uma abordagem interdisciplinar e abrangente. A sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho oferecem
insights valiosos para compreender as implicações sociais, econômicas e psicológicas desse novo modelo de
emprego. Além disso, essas disciplinas orientam estratégias e políticas que visam melhorar as condições labo-
rais, promover a inclusão e garantir ambientes de trabalho mais justos e sustentáveis em um cenário dinâmico
e desafiador.
— Precarização das condições de trabalho
A precarização das condições de trabalho, um fenômeno que tem se destacado no cenário contemporâ-
neo, representa uma mudança substancial nas estruturas ocupacionais e nas relações laborais. Este processo
complexo e multifacetado demanda uma análise aprofundada sob as perspectivas da sociologia e psicologia
aplicadas ao trabalho, a fim de compreender suas implicações sociais, econômicas e psicológicas.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


47
Sob o olhar sociológico, a precarização reflete alterações nas estruturas organizacionais e socioeconômi-
cas. A globalização e avanços tecnológicos têm contribuído para a fragmentação e flexibilização das formas de
emprego, resultando em contratos temporários, trabalho intermitente e condições laborais desfavoráveis. A so-
ciologia aplicada destaca a necessidade de compreender como essa precarização impacta não apenas as es-
tratificações ocupacionais, mas também as dinâmicas sociais nas organizações e nas comunidades afetadas.
A emergência de formas precárias de emprego, caracterizadas por salários baixos, falta de benefícios e
instabilidade no emprego, redefine a relação entre empregador e empregado. A sociologia explora como essa
mudança pode influenciar a percepção de identidade profissional, a coesão entre os colaboradores e as pos-
sibilidades de mobilidade social. Além disso, analisa como diferentes grupos sociais são afetados de maneira
desigual pela precarização, contribuindo para a discussão sobre desigualdades e injustiças no ambiente de
trabalho.
Sob a perspectiva da psicologia aplicada ao trabalho, a precarização está intrinsecamente ligada ao bem-
-estar psicológico dos trabalhadores. A instabilidade no emprego, a insegurança financeira e a falta de perspec-
tivas a longo prazo podem gerar ansiedade, estresse e impactar negativamente a saúde mental. A psicologia
explora estratégias de enfrentamento e desenvolvimento de habilidades emocionais para fortalecer a resiliência
dos indivíduos diante desses desafios, visando à promoção de ambientes de trabalho saudáveis e sustentáveis.
A precarização muitas vezes implica em uma relação desigual de poder, onde os trabalhadores enfrentam
condições adversas sem as garantias básicas. A autonomia e segurança proporcionadas pelo emprego estão
em declínio, criando um ambiente propício para o surgimento de conflitos e instabilidades psicossociais. A psi-
cologia aplicada destaca a importância de considerar as variabilidades nas respostas individuais, reconhecendo
que diferentes personalidades e necessidades podem influenciar a eficácia das estratégias de enfrentamento.
O século XXI testemunha a consolidação da precarização como uma característica proeminente do mundo
do trabalho. A capacidade de adaptação torna-se uma competência essencial, exigindo dos trabalhadores não
apenas habilidades técnicas, mas também flexibilidade cognitiva e emocional para lidar com as nuances desse
novo paradigma. Nesse contexto, a sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho convergem na análise das
competências necessárias para prosperar em ambientes precários, incluindo habilidades de comunicação efi-
caz, gestão do tempo e resiliência diante da incerteza.
A comunicação eficaz, por exemplo, torna-se fundamental para o sucesso em ambientes de trabalho precá-
rios, enquanto a resiliência é uma ferramenta essencial para enfrentar os desafios constantes dessa condição.
A sociologia investiga como a precarização impacta as estruturas sociais nas organizações, influenciando a
colaboração e coesão entre os membros da equipe. Ao mesmo tempo, a psicologia aplicada explora como as
condições precárias de trabalho afetam a saúde mental, identificando estratégias para promover um ambiente
laboral saudável e sustentável.
Portanto, a precarização das condições de trabalho é um fenômeno que exige uma abordagem interdiscipli-
nar e abrangente. A sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho oferecem insights valiosos para compreen-
der as implicações sociais, econômicas e psicológicas desse novo modelo de emprego. Além disso, essas
disciplinas orientam estratégias e políticas que visam melhorar as condições laborais, promover a inclusão e
garantir ambientes de trabalho mais justos e sustentáveis em um cenário dinâmico e desafiador.

O trabalho como categoria estruturante na sociedade capitalista: O trabalho no pen-


samento clássico. A teoria do valor-trabalho. Divisão social do trabalho. Divisão socios-
sexual e racial do trabalho

— O trabalho no pensamento clássico


O trabalho, como categoria estruturante na sociedade capitalista, desempenha um papel crucial na confi-
guração das relações sociais, econômicas e psicológicas. Para compreender plenamente essa dinâmica, é
essencial explorar as raízes do pensamento clássico, onde bases conceituais foram lançadas e fundamentos
estabelecidos.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


48
Na sociedade capitalista, o trabalho transcende a mera atividade rotineira de subsistência, tornando-se uma
força motriz que permeia todos os aspectos da vida. Figuras proeminentes como Karl Marx e Adam Smith, re-
presentantes do pensamento clássico, lançaram as bases para a compreensão dessa dinâmica. Marx, em sua
teoria, enfatizou a relação entre o trabalhador e os meios de produção, destacando a alienação e a exploração
inerentes ao sistema capitalista.
A alienação, segundo Marx, ocorre quando o trabalhador se desconecta do produto de seu trabalho e da pró-
pria essência de seu ser. No contexto capitalista, o trabalhador muitas vezes se encontra em uma posição em
que sua contribuição para a produção é desvalorizada, e seus esforços são alienados em prol da acumulação
de capital por parte dos proprietários dos meios de produção. Essa alienação não se limita apenas ao produto
final, mas se estende à própria atividade laboral, resultando em uma perda de identidade e propósito para o
trabalhador.
Adam Smith, por sua vez, abordou a questão da divisão do trabalho, defendendo que ela é a chave para o
aumento da produtividade. No entanto, essa divisão não ocorre de maneira equitativa, e as consequências so-
ciais são palpáveis. A especialização extrema pode levar à monotonia e à perda de habilidades gerais, tornando
os trabalhadores mais suscetíveis a crises econômicas e mudanças tecnológicas.
Além disso, a divisão do trabalho contribui para a estratificação social, onde algumas profissões são valoriza-
das mais do que outras. Essa hierarquia profissional cria tensões sociais e psicológicas, afetando a autoestima
e a percepção individual de valor.
Ao adentrarmos a esfera da psicologia aplicada ao trabalho, torna-se evidente que os impactos psicológicos
do trabalho na sociedade capitalista são significativos. A pressão por produtividade, as condições precárias
de trabalho e a competição constante podem resultar em estresse, ansiedade e até mesmo em problemas de
saúde mental.
A psicologia organizacional, enquanto disciplina, busca compreender e melhorar a qualidade de vida no am-
biente de trabalho. Estratégias de gestão de estresse, promoção de ambientes saudáveis e reconhecimento do
valor do trabalhador são abordagens que podem mitigar os efeitos negativos do trabalho na psique individual.
Na era contemporânea, novas questões emergem no contexto do trabalho na sociedade capitalista. A glo-
balização, as transformações tecnológicas e as demandas por sustentabilidade impactam diretamente as rela-
ções de trabalho. A sociologia e a psicologia aplicada ao trabalho devem evoluir para abordar esses desafios,
desenvolvendo estratégias adaptativas que promovam a equidade, a saúde mental e a realização pessoal no
âmbito profissional.
Em síntese, o trabalho como categoria estruturante na sociedade capitalista é uma realidade complexa e
multifacetada. A análise sob a perspectiva do pensamento clássico, aliada às contribuições da psicologia apli-
cada ao trabalho, oferece insights profundos sobre as interações entre o indivíduo, o trabalho e a sociedade. Ao
compreendermos essas dinâmicas, podemos aspirar a uma abordagem mais holística do trabalho, promovendo
não apenas a eficiência econômica, mas também o bem-estar e a realização pessoal em um ambiente laboral
em constante transformação.
— A teoria do valor-trabalho
Uma das teorias fundamentais que busca compreender o valor intrínseco do trabalho nesse contexto é a
Teoria do Valor-Trabalho, que tem raízes profundas no pensamento clássico, especialmente associada a Karl
Marx. A Teoria do Valor-Trabalho, conforme delineada por Marx, argumenta que o valor de um bem ou serviço
é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para produzi-lo. Essa abordagem desafia
as concepções convencionais de valor baseadas na oferta e demanda no mercado, propondo que é o trabalho
humano, e não a interação entre compradores e vendedores, que confere valor real aos produtos.
Marx sustenta que a mercadoria, na sociedade capitalista, é a unidade fundamental de valor e troca. Cada
mercadoria possui um valor que deriva do tempo médio de trabalho socialmente necessário para sua produção.
Essa perspectiva coloca o trabalhador no centro do processo de criação de valor, pois é seu esforço físico e
mental que gera a riqueza que, muitas vezes, é apropriada pelos detentores dos meios de produção.
No entanto, a Teoria do Valor-Trabalho não se limita apenas à dimensão econômica. Ela também lança luz
sobre as relações sociais e psicológicas no ambiente de trabalho. A alienação, um conceito crucial na obra de
Marx, surge quando o trabalhador se desconecta do produto final de seu trabalho e, por extensão, da própria

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


49
essência de seu ser. Nesse contexto, o trabalhador pode sentir-se despojado de sua autonomia, propósito e
identidade, uma vez que seu esforço é explorado em prol da acumulação de capital por parte da classe domi-
nante.
A Teoria do Valor-Trabalho também oferece uma análise crítica da exploração inerente à sociedade capita-
lista. Ao destacar a relação desigual entre o trabalhador e o proprietário dos meios de produção, Marx aponta
para a extração de mais-valia – a diferença entre o valor do trabalho do operário e o valor do salário recebido.
Isso evidencia como o sistema capitalista, baseado na busca incessante por lucro, pode resultar em condições
desfavoráveis para o trabalhador, contribuindo para desigualdades sociais e psicológicas.
No entanto, é crucial reconhecer que a Teoria do Valor-Trabalho também recebe críticas. Alguns argumen-
tam que ela simplifica demais a complexidade do sistema econômico, não levando em consideração fatores
como inovação, tecnologia e diferentes formas de habilidades laborais. Além disso, as mudanças na natureza
do trabalho contemporâneo, como a ascensão de setores baseados em conhecimento, desafiam a aplicação
direta dessa teoria.
Não obstante, a Teoria do Valor-Trabalho continua a ser uma lente valiosa para analisar as dinâmicas so-
ciais e psicológicas no ambiente de trabalho na sociedade capitalista. Ela incita a reflexão sobre as relações
de poder, a alienação e as questões éticas envolvidas na produção de valor em um sistema onde o trabalho é,
inegavelmente, uma força estruturante. A compreensão crítica dessas questões pode fornecer insights valiosos
para uma abordagem mais justa e humanizada do trabalho na contemporaneidade.
— Divisão social do trabalho
Para entendermos plenamente essa complexidade acerca da divisão social do trabalho, é necessário mer-
gulhar nas raízes do pensamento sociológico e psicológico aplicado ao trabalho, explorando a forma como a
divisão social do trabalho se manifesta e suas implicações na contemporaneidade.
A Divisão Social do Trabalho, conceito que remonta a pensadores como Émile Durkheim, descreve a espe-
cialização das atividades produtivas dentro de uma sociedade. Essa especialização não se limita apenas às
diferenças entre profissões, mas abrange uma variedade de papéis e tarefas que contribuem para a produção
e reprodução social. Essa divisão não apenas influencia o funcionamento econômico, mas também estrutura
as relações sociais, moldando a identidade dos indivíduos e suas interações.
No contexto da sociedade capitalista, a Divisão Social do Trabalho está intrinsecamente ligada à busca por
eficiência e produtividade. A especialização das funções laborais é uma resposta à necessidade de aumentar
a produção e otimizar os recursos, visando ao crescimento econômico. No entanto, essa especialização nem
sempre ocorre de maneira equitativa.
A hierarquia resultante da Divisão Social do Trabalho pode levar à estratificação social, onde algumas profis-
sões são mais valorizadas do que outras. Essa valorização se traduz não apenas em termos econômicos, mas
também em termos de status e reconhecimento social. Dessa forma, a sociedade é estruturada em camadas,
criando desigualdades que se perpetuam ao longo do tempo.
Além disso, a Divisão Social do Trabalho também se reflete nas percepções individuais de valor e identidade.
Aqueles que desempenham funções consideradas socialmente mais elevadas podem experimentar um senso
de prestígio e autoestima, enquanto aqueles em posições menos valorizadas podem enfrentar estigmatização
e uma sensação de desvalorização. Isso tem implicações diretas na saúde mental e no bem-estar psicológico
dos trabalhadores.
A globalização e as transformações tecnológicas na contemporaneidade adicionam complexidade à Divisão
Social do Trabalho. Profissões emergentes e desaparecimento de algumas ocupações tradicionais reconfigu-
ram as dinâmicas laborais. A necessidade de adaptabilidade e aquisição contínua de habilidades tornam-se
imperativos, afetando não apenas a empregabilidade, mas também a identidade profissional e a percepção
individual de autossuficiência.
A psicologia aplicada ao trabalho desempenha um papel crucial na compreensão das implicações psicoló-
gicas da Divisão Social do Trabalho. Estratégias de gestão de carreira, desenvolvimento de habilidades emo-
cionais e promoção de ambientes de trabalho inclusivos são elementos essenciais para lidar com os desafios
que surgem nesse contexto. A ênfase na valorização de todas as contribuições, independentemente da posição
ocupada na hierarquia profissional, é fundamental para mitigar os impactos negativos na saúde mental e no
bem-estar dos trabalhadores.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


50
Em conclusão, a Divisão Social do Trabalho é um componente intrínseco ao papel estruturante do trabalho
na sociedade capitalista. Suas ramificações se estendem desde a esfera econômica até as interações sociais e
a psicologia individual. Compreender e abordar os desafios associados a essa divisão é crucial para promover
uma sociedade mais justa, equitativa e que valorize todas as formas de trabalho, reconhecendo a diversidade
de contribuições que moldam a complexa tapeçaria do mundo laboral contemporâneo.
— Divisão sociossexual e racial do trabalho
A divisão sociossexual do trabalho refere-se à distribuição diferenciada de funções e oportunidades laborais
entre homens e mulheres. Embora tenham ocorrido avanços significativos na busca pela igualdade de gênero,
persistem disparidades salariais, segregação ocupacional e obstáculos à ascensão profissional para as mulhe-
res. Essas disparidades refletem não apenas uma questão econômica, mas também uma construção social que
permeia as relações interpessoais e a percepção de valor associada a diferentes ocupações.
No âmbito racial, a divisão racial do trabalho é uma realidade palpável na sociedade capitalista, marcada por
desigualdades sistêmicas que afetam a distribuição de oportunidades e recompensas no mercado de trabalho.
Minorias étnicas muitas vezes enfrentam barreiras estruturais que limitam seu acesso a empregos bem remu-
nerados e oportunidades de crescimento profissional. Essa divisão racial do trabalho é um reflexo das comple-
xas interações entre história, cultura e estruturas institucionais que moldaram as relações raciais na sociedade.
A interseccionalidade entre a divisão sociossexual e racial do trabalho acrescenta outra camada de comple-
xidade à compreensão dessas questões. Mulheres de minorias étnicas, por exemplo, podem enfrentar desafios
únicos que combinam as disparidades de gênero e raça. A necessidade de abordar essas interseções torna-se
crucial para uma análise completa e eficaz das desigualdades presentes no ambiente de trabalho.
As implicações psicológicas da divisão sociossexual e racial do trabalho são vastas e impactam profunda-
mente a autoestima, a identidade profissional e o bem-estar dos indivíduos. A percepção de que certos grupos
são sistematicamente excluídos de oportunidades ou relegados a posições de menor prestígio pode criar um
ambiente psicossocial negativo. A internalização dessas desigualdades pode levar a questões de autoestima,
ansiedade e até mesmo impactar a saúde mental dos trabalhadores afetados.
A psicologia aplicada ao trabalho desempenha um papel crucial na abordagem dessas questões, promoven-
do ambientes de trabalho inclusivos e equitativos. Estratégias de conscientização, treinamento em diversidade
e inclusão, e a implementação de políticas organizacionais que visem à equidade são ferramentas fundamen-
tais para desafiar e reverter as desigualdades sociossexuais e raciais presentes no mundo laboral.
Na contemporaneidade, a conscientização sobre a importância de se lidar com essas divisões sociais do
trabalho tem aumentado. Movimentos sociais e pressões por mudanças sistêmicas estão impulsionando or-
ganizações e governos a adotarem medidas mais eficazes para enfrentar essas desigualdades. No entanto, é
um desafio contínuo que exige não apenas ações corretivas, mas uma reestruturação fundamental das normas
sociais e econômicas que perpetuam tais disparidades.
No entanto, a divisão sociossexual e racial do trabalho é uma manifestação intrínseca da estrutura ocupa-
cional na sociedade capitalista. Compreender e abordar essas disparidades não apenas fortalece a coesão
social, mas também contribui para um ambiente de trabalho mais justo, equitativo e enriquecedor para todos.
A integração de princípios da sociologia e psicologia aplicadas ao trabalho é essencial para criar mudanças
significativas e promover uma sociedade onde o valor e as oportunidades no trabalho são acessíveis a todos,
independentemente de gênero, raça ou origem étnica.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


51
Conceitos básicos e definições sobre Economia do Trabalho e mercado de trabalho:
População ocupada. Trabalho profissional e trabalho doméstico. Orientação, formação e
qualificação profissional. Atores no mercado de trabalho. Mercado de trabalho formal e
informal. Agentes econômicos. Trabalho e empresa
— População ocupada
A compreensão dos conceitos básicos e definições relacionados à Economia do Trabalho e ao Mercado de
Trabalho é fundamental para analisar as dinâmicas sociais, econômicas e psicológicas envolvidas no contexto
laboral. Neste contexto, um conceito-chave é o de “População Ocupada”, que desempenha um papel crucial na
compreensão da força de trabalho em uma sociedade.
A “População Ocupada” refere-se ao conjunto de indivíduos que estão atualmente empregados e desempe-
nhando atividades remuneradas. Essa definição inclui trabalhadores assalariados, autônomos, empresários e
qualquer pessoa envolvida em uma ocupação remunerada. A análise dessa população é essencial para avaliar
o estado da economia e compreender as tendências do mercado de trabalho.
No âmbito da Economia do Trabalho, o termo “mercado de trabalho” refere-se ao local onde ocorre a inte-
ração entre oferta e demanda por mão de obra. Esse mercado influencia diretamente a alocação de recursos
humanos e, consequentemente, determina os níveis de emprego e desemprego em uma sociedade. A dinâmica
do mercado de trabalho é afetada por fatores como mudanças tecnológicas, políticas econômicas e demandas
setoriais.
A compreensão da população ocupada vai além dos números absolutos e inclui uma análise mais profun-
da das características dessa força de trabalho. Aspectos como níveis de educação, qualificação profissional,
distribuição por setores econômicos e disparidades de gênero são cruciais para uma análise abrangente. A So-
ciologia do Trabalho contribui para essa compreensão, examinando as relações sociais dentro dos ambientes
laborais e como essas relações impactam a população ocupada.
No entanto, o conceito de população ocupada não está isento de desafios e debates. A informalidade no
trabalho, por exemplo, representa uma faceta complexa dessa população, uma vez que muitos trabalhadores
podem não estar incluídos nas estatísticas oficiais de emprego. Além disso, as mudanças na natureza do tra-
balho, como a ascensão do trabalho remoto, desafiam as definições tradicionais e demandam uma adaptação
dos conceitos existentes.
No âmbito da Psicologia Aplicada ao Trabalho, a análise da população ocupada também inclui uma avaliação
dos impactos psicológicos do trabalho na vida dos indivíduos. Fatores como estresse, satisfação profissional,
equilíbrio entre vida pessoal e profissional e o desenvolvimento de habilidades são cruciais para compreender
o bem-estar dos trabalhadores.
A população ocupada é, portanto, mais do que um conjunto de estatísticas; é um reflexo dinâmico das inte-
rações entre forças econômicas, sociais e psicológicas. A abordagem holística desses conceitos, incorporando
a análise sociológica e psicológica, é essencial para entender as complexidades do mundo do trabalho e para
informar políticas e práticas que promovam ambientes laborais saudáveis, equitativos e produtivos.
— Trabalho profissional e trabalho doméstico
O Trabalho Profissional refere-se às atividades desempenhadas no âmbito formal da economia, muitas ve-
zes envolvendo a troca de serviços ou produtos por remuneração. Essa categoria inclui uma ampla variedade
de ocupações, desde profissões tradicionais, como médicos e advogados, até trabalhadores em setores mais
recentes, como tecnologia da informação e design. O Mercado de Trabalho, por sua vez, é o espaço onde es-
sas atividades profissionais interagem, caracterizado pela oferta e demanda por força de trabalho.
A Sociologia do Trabalho contribui significativamente para a compreensão do Trabalho Profissional, explo-
rando as relações sociais, estruturas hierárquicas e dinâmicas de poder presentes nos ambientes laborais
formais. Questões como estratificação social, mobilidade ocupacional e a influência das instituições na confi-
guração das relações de trabalho são aspectos fundamentais que a Sociologia aborda ao analisar o Trabalho
Profissional.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


52
O Trabalho Doméstico, por sua vez, refere-se às atividades realizadas no ambiente doméstico, muitas vezes
relacionadas à manutenção do lar e cuidado de familiares. Essas atividades incluem tarefas como limpeza,
culinária, cuidado com crianças e idosos, entre outras. É um tipo de trabalho frequentemente invisível e subva-
lorizado, uma vez que, na maioria das vezes, não é remunerado e historicamente foi associado predominante-
mente às mulheres.
A análise sociológica do Trabalho Doméstico destaca as dinâmicas de gênero e poder presentes nessa es-
fera. A divisão tradicional de papéis, na qual as mulheres eram predominantemente responsáveis pelo trabalho
doméstico não remunerado, contribuiu para a perpetuação de desigualdades de gênero. A Sociologia examina
como as normas sociais e as estruturas familiares influenciam a distribuição desigual dessas responsabilidades.
Além disso, a psicologia aplicada ao Trabalho Doméstico se concentra nos impactos psicológicos dessa for-
ma de trabalho, destacando questões como carga mental, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e reconhe-
cimento do valor desse trabalho não remunerado. A percepção individual de autoestima e realização pessoal no
contexto do Trabalho Doméstico também é um componente crucial da análise psicológica.
A complexidade dessas esferas de trabalho se intensifica quando consideramos a interseccionalidade, ou
seja, como fatores como gênero, raça e classe influenciam as experiências laborais. Mulheres de diferentes
grupos étnicos podem enfrentar desafios únicos em suas realidades de Trabalho Profissional e Trabalho Do-
méstico, exigindo uma abordagem holística e sensível às diversidades.
Em síntese, os conceitos de Trabalho Profissional e Trabalho Doméstico são fundamentais para compreen-
der as nuances do mundo do trabalho. A abordagem interdisciplinar que integra a Sociologia e a Psicologia
Aplicada ao Trabalho proporciona uma compreensão mais abrangente das dinâmicas sociais, psicológicas e
econômicas que moldam essas formas de trabalho, contribuindo para a formulação de políticas e práticas mais
equitativas e sustentáveis.
— Orientação, formação e qualificação profissional
A Orientação Profissional refere-se ao processo que auxilia indivíduos na identificação e escolha de carreiras
alinhadas às suas habilidades, interesses e valores. Este aspecto é fundamental para uma transição escola-
-trabalho mais eficaz, proporcionando aos indivíduos uma compreensão mais clara de suas potencialidades e
das oportunidades disponíveis no mercado. A Sociologia, ao analisar a Orientação Profissional, destaca como
fatores sociais, culturais e econômicos influenciam as escolhas e aspirações profissionais, moldando trajetórias
de carreira.
A Formação Profissional compreende o conjunto de conhecimentos e habilidades adquiridos por meio de
cursos, treinamentos e educação formal, preparando os indivíduos para atuar em suas áreas de interesse. A
Psicologia Aplicada ao Trabalho se concentra nos aspectos psicológicos do processo formativo, explorando
como a aprendizagem, a motivação e a autoeficácia influenciam o desenvolvimento profissional. A formação
também é uma dimensão estudada pela Economia do Trabalho, que avalia como os investimentos em capital
humano impactam a produtividade e a empregabilidade.
A Qualificação Profissional refere-se ao conjunto de características e habilidades que tornam um indivíduo
apto a desempenhar determinada função no mercado de trabalho. A Sociologia destaca como as questões de
classe, gênero e raça podem influenciar o acesso à qualificação, contribuindo para desigualdades sociais. A
Psicologia, por sua vez, explora como a autoconfiança, a resiliência e a adaptabilidade são elementos-chave
para uma qualificação profissional eficaz.
No âmbito do Mercado de Trabalho, as dinâmicas da Orientação, Formação e Qualificação Profissional de-
sempenham um papel crucial. A oferta e a demanda por profissionais qualificados são influenciadas por fatores
macroeconômicos, como mudanças tecnológicas, globalização e políticas de emprego. A Sociologia do Traba-
lho analisa como esses elementos afetam a estratificação social e as oportunidades de ascensão profissional.
É importante considerar a evolução desses conceitos na contemporaneidade. As transformações tecnológi-
cas e a natureza dinâmica do mercado de trabalho exigem uma abordagem contínua de Orientação, Formação
e Qualificação Profissional. A Economia do Trabalho explora como as demandas por habilidades específicas
moldam as tendências de emprego, enquanto a Psicologia do Trabalho lida com as adaptações psicológicas
necessárias diante das mudanças constantes.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


53
As abordagens interdisciplinares que integram Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho proporcionam
uma compreensão mais holística dos desafios enfrentados pelos indivíduos ao ingressar e progredir no merca-
do de trabalho. A análise crítica das disparidades sociais e a promoção de políticas que incentivem a igualdade
de oportunidades são elementos essenciais para criar um ambiente laboral mais justo e inclusivo. Em resumo,
os conceitos de Orientação, Formação e Qualificação Profissional são fundamentais para navegar com suces-
so nas complexidades do mundo do trabalho contemporâneo.
– Atores no mercado de trabalho
O mercado de trabalho é um espaço complexo e dinâmico onde a interação entre oferta e demanda por
força de trabalho ocorre. Os atores nesse ambiente incluem tanto os trabalhadores quanto os empregadores.
Os trabalhadores, por um lado, são os fornecedores de mão de obra, enquanto os empregadores são aqueles
que demandam essa mão de obra para a produção de bens e serviços. A Economia do Trabalho analisa como
esses atores interagem, influenciando salários, condições de trabalho e níveis de emprego.
A Sociologia do Trabalho, por sua vez, explora as relações sociais que emergem no mercado de trabalho.
Ela analisa as estratificações sociais, as desigualdades e as formas de poder que permeiam as interações entre
os atores. Questões como classe social, gênero e raça são cruciais na compreensão das disparidades presen-
tes no mercado de trabalho. A forma como esses fatores influenciam as oportunidades de emprego, ascensão
profissional e remuneração é parte integrante da análise sociológica.
A Psicologia Aplicada ao Trabalho concentra-se nos aspectos psicológicos dos atores no mercado de tra-
balho. Ela examina as motivações, as expectativas, a satisfação no trabalho e o impacto psicológico das con-
dições laborais. A relação entre o indivíduo e o trabalho, os desafios enfrentados pelos trabalhadores e as
estratégias de enfrentamento são aspectos estudados pela psicologia para compreender como os atores no
mercado de trabalho lidam com as demandas laborais.
A globalização e as transformações tecnológicas na contemporaneidade adicionam complexidade ao cená-
rio do mercado de trabalho. A Economia do Trabalho explora como a globalização afeta a distribuição de empre-
gos, salários e condições de trabalho em escala global. Os atores, tanto empregadores quanto trabalhadores,
precisam adaptar-se a um ambiente em constante mudança, onde as fronteiras geográficas se tornam menos
definidas.
Além dos trabalhadores e empregadores, outros atores influenciam o mercado de trabalho. Os sindicatos,
por exemplo, representam coletivamente os interesses dos trabalhadores, buscando melhores condições e
negociação salarial. O governo também desempenha um papel regulador, estabelecendo políticas trabalhistas
e de emprego que impactam diretamente os atores no mercado de trabalho.
O mercado de trabalho é também influenciado pela educação e formação profissional. Instituições de ensino,
treinamento e capacitação desempenham um papel crucial na preparação dos trabalhadores para as deman-
das do mercado. A Economia do Trabalho explora como o investimento em capital humano, representado pelo
conhecimento e habilidades dos trabalhadores, influencia a produtividade e a empregabilidade.
No entanto, os atores no mercado de trabalho formam uma rede complexa de interações entre trabalhado-
res, empregadores, governo, sindicatos e instituições educacionais. A análise interdisciplinar desses atores,
considerando tanto as dimensões econômicas quanto as sociais e psicológicas, proporciona uma compreensão
mais abrangente das dinâmicas do mundo laboral. Nesse cenário em constante evolução, a capacidade de
adaptação e a compreensão das complexidades sociais e psicológicas são essenciais para o sucesso e bem-
-estar dos atores no mercado de trabalho.
— Mercado de trabalho formal e informal
O mercado de trabalho formal refere-se àquele que opera dentro das normas legais e regulamentações do
sistema econômico. Nesse cenário, as relações entre empregadores e trabalhadores são formalizadas por meio
de contratos de trabalho, os quais especificam condições de emprego, salários, benefícios e deveres. Este tipo
de mercado é caracterizado por sua organização estruturada, onde as transações laborais são transparentes e
sujeitas a padrões estabelecidos pela legislação trabalhista.
As vantagens do mercado de trabalho formal incluem maior estabilidade empregatícia, proteção legal aos
trabalhadores e acesso a benefícios sociais, como seguro-desemprego, aposentadoria e planos de saúde.
Além disso, a formalização contribui para a redução da informalidade e para o fortalecimento do tecido social,
promovendo a equidade e a segurança no emprego.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


54
Contrapondo-se ao mercado formal, o mercado de trabalho informal opera fora das regulamentações e
estruturas estabelecidas. Caracterizado pela ausência de contratos formais e pela informalidade nas transa-
ções laborais, esse mercado muitas vezes é marcado pela precariedade e pela falta de garantias trabalhistas.
Trabalhadores informais podem estar envolvidos em atividades autônomas, como vendedores ambulantes, ou
podem realizar trabalhos subalternos sem a devida proteção legal.
No mercado de trabalho informal, a insegurança empregatícia é uma característica proeminente, pois os
trabalhadores muitas vezes não têm garantias de salários mínimos, benefícios sociais ou condições de trabalho
adequadas. A falta de formalização também implica em uma maior dificuldade de acesso a serviços bancários,
crédito e outras oportunidades que dependem de histórico formal de emprego.
A economia do trabalho e a sociologia aplicada a esse contexto exploram as dinâmicas que permeiam tanto
o mercado formal quanto o informal. No mercado formal, as relações de poder entre empregadores e empre-
gados, a negociação coletiva e a eficácia das políticas trabalhistas são aspectos de interesse. Já no mercado
informal, as questões relacionadas à vulnerabilidade dos trabalhadores, a exploração e as estratégias de so-
brevivência são focos de análise.
A psicologia aplicada ao trabalho também desempenha um papel importante na compreensão das implica-
ções psicológicas desses diferentes contextos laborais. No mercado formal, a estabilidade pode contribuir para
um maior senso de segurança e satisfação no trabalho. No entanto, o estresse relacionado a pressões corpo-
rativas e a competição também pode ser uma realidade. No mercado informal, a falta de segurança pode gerar
ansiedade e instabilidade emocional, mas a autonomia e a flexibilidade podem ser aspectos positivos.
Na contemporaneidade, as transformações no mundo do trabalho têm impactado a dinâmica entre o mer-
cado formal e informal. A ascensão de formas de trabalho flexíveis e remotas, por exemplo, tem desafiado as
tradicionais categorias, exigindo uma reavaliação das políticas e práticas no âmbito laboral.
Em síntese, a distinção entre o mercado de trabalho formal e informal é uma dimensão crítica na análise
sociológica e psicológica aplicada ao trabalho. A compreensão das complexidades e das implicações desses
dois contextos é essencial para o desenvolvimento de políticas públicas, práticas de gestão e estratégias que
promovam um ambiente de trabalho mais equitativo, seguro e satisfatório para todos os atores envolvidos.
— Agentes econômicos
Os trabalhadores, também conhecidos como a força de trabalho, são fundamentais para a dinâmica do
mercado de trabalho. Representam os indivíduos que oferecem seus serviços e habilidades em troca de remu-
neração. Sua tomada de decisões, escolhas de carreira, mobilidade no mercado e busca por melhores condi-
ções de trabalho influenciam diretamente a economia do trabalho. A sociologia aplicada ao trabalho explora as
dinâmicas sociais que permeiam as relações entre os trabalhadores, considerando fatores como solidariedade,
competição e cooperação.
Por outro lado, os empregadores desempenham um papel central como os que demandam e organizam o
trabalho. Empresas, organizações e empreendedores são os responsáveis por criar oportunidades de empre-
go, definir condições de trabalho e determinar os requisitos para a inserção no mercado laboral. A economia
do trabalho analisa a influência dos empregadores na formação de salários, na criação de empregos e nas
políticas de recursos humanos.
O Estado, como agente regulador, exerce um papel crucial na configuração do ambiente de trabalho. Por
meio de políticas públicas, legislação trabalhista e intervenções econômicas, o Estado busca equilibrar as
relações entre trabalhadores e empregadores, garantindo direitos trabalhistas, promovendo a segurança no
trabalho e regulamentando aspectos como jornada e salário mínimo. A psicologia aplicada ao trabalho também
examina como as políticas governamentais afetam o bem-estar psicológico dos trabalhadores.
As instituições sindicais representam coletivamente os interesses dos trabalhadores. Os sindicatos desem-
penham um papel importante na negociação coletiva, na defesa dos direitos trabalhistas e na promoção de
condições de trabalho justas. A sociologia aplicada ao trabalho investiga as dinâmicas sindicais, analisando
como as organizações coletivas impactam as relações laborais e influenciam as políticas trabalhistas.
A dinâmica entre esses agentes econômicos é complexa e dinâmica, moldando a estrutura do mercado de
trabalho. Questões como negociações salariais, condições de trabalho, políticas de emprego e segurança no
trabalho são resultados das interações entre trabalhadores, empregadores, Estado e instituições sindicais.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


55
A economia do trabalho explora os aspectos macroeconômicos relacionados ao mercado de trabalho, como
a taxa de desemprego, a oferta e demanda por mão de obra e a mobilidade ocupacional. A sociologia aplicada
ao trabalho, por sua vez, se concentra nas relações sociais e nas dinâmicas culturais que influenciam as inte-
rações laborais.
A psicologia aplicada ao trabalho desempenha um papel vital ao analisar o impacto dessas dinâmicas nas
percepções individuais, na satisfação profissional e na saúde mental dos trabalhadores. Fatores como estres-
se, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e motivação são áreas de interesse da psicologia, que busca
promover ambientes de trabalho saudáveis e produtivos.
Entretanto, os agentes econômicos no contexto da Economia do Trabalho e do Mercado de Trabalho são
elementos essenciais para a compreensão das complexas interações que moldam as relações laborais. A aná-
lise desses agentes proporciona insights valiosos para o desenvolvimento de políticas, práticas de gestão e
estratégias que promovam um ambiente de trabalho equitativo, produtivo e saudável para todos os envolvidos.
— Trabalho e empresa
O trabalho, enquanto componente central nesse cenário, representa a atividade humana que visa à produ-
ção de bens e serviços. Além de sua dimensão econômica, o trabalho possui relevância social e psicológica,
influenciando a identidade e a realização pessoal dos indivíduos. Na perspectiva sociológica, o trabalho é um
fenômeno social que contribui para a estruturação das relações na sociedade. A psicologia, por sua vez, explora
as dimensões individuais do trabalho, examinando como ele afeta a saúde mental, a motivação e a satisfação
pessoal.
Ao adentrarmos o universo das empresas, encontramos organizações que desempenham um papel central
na dinâmica do mercado de trabalho. As empresas são entidades que agregam recursos, organizam o trabalho
e produzem bens ou serviços com o intuito de atender às demandas do mercado. No contexto da Economia do
Trabalho, as empresas representam não apenas locais de produção, mas também agentes econômicos que
moldam as relações laborais.
A relação entre trabalho e empresa é pautada por uma complexa interdependência. As empresas dependem
da força de trabalho para operar e alcançar seus objetivos organizacionais. Ao mesmo tempo, os trabalhadores
buscam nas empresas oportunidades de emprego, desenvolvimento profissional e sustento econômico. Essa
interação é mediada por questões econômicas, sociais e psicológicas, criando um ambiente laboral caracteri-
zado por negociações, expectativas e desafios.
No âmbito sociológico, a análise das relações de trabalho nas empresas considera fatores como hierarquia,
poder e cultura organizacional. A estrutura hierárquica nas empresas estabelece diferentes níveis de autorida-
de e responsabilidade, influenciando as dinâmicas sociais entre os trabalhadores. A cultura organizacional, por
sua vez, molda as normas, valores e práticas que orientam o comportamento dos indivíduos no ambiente de
trabalho.
A psicologia aplicada ao trabalho explora as implicações individuais dessa interação entre trabalho e empre-
sa. Questões como a satisfação no trabalho, o engajamento, o estresse ocupacional e o equilíbrio entre vida
pessoal e profissional são aspectos estudados pela psicologia no contexto empresarial. A compreensão desses
elementos é crucial para promover ambientes de trabalho saudáveis e estimulantes, que favoreçam o bem-es-
tar e o desenvolvimento pessoal dos colaboradores.
A Economia do Trabalho, ao analisar a dinâmica entre trabalho e empresa, considera fatores macroeconô-
micos que impactam o mercado de trabalho como um todo. A oferta e demanda por mão de obra, a mobilidade
ocupacional e as políticas econômicas influenciam a forma como as empresas interagem com os trabalhadores.
A sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho enriquecem essa análise, fornecendo insights sobre as rela-
ções sociais e psicológicas que permeiam as organizações.
A empresa, enquanto agente econômico, desempenha um papel ativo na criação de empregos, na definição
das condições de trabalho e na promoção do desenvolvimento profissional. As estratégias de gestão de pes-
soas, a liderança eficaz e o investimento em práticas de recursos humanos são aspectos fundamentais para o
sucesso e a sustentabilidade das empresas.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


56
Concluindo, a interação entre trabalho e empresa é uma dimensão fundamental na compreensão da dinâmi-
ca do mercado de trabalho. A Economia do Trabalho, a sociologia e a psicologia aplicadas ao trabalho conver-
gem para oferecer uma visão holística desse complexo cenário, proporcionando subsídios para a construção
de ambientes laborais mais produtivos, saudáveis e socialmente responsáveis.

Salário: Capital Humano e investimento na qualificação: educação, profissionalização


e treinamento; Discriminação no mercado de trabalho e políticas antidiscriminatórias.
Segmentação no mercado de trabalho. Custos não salariais

Prezado Candidato, o tema supracitado, já foi abordado na materia de Eixo Temático 1 - Gestão Governa-
mental e Governança pública
Não deixe de conferir!

Estruturas de mercado: concorrência perfeita, monopólio, oligopólio e monopsônio

A entrada no mercado e a permanência exigem o conhecimento da estrutura (ou regime) do mercado, para,
então, se utilizar o ferramental adequado de formação de preço. Vamos entender este tópico tendo em vista
que cada mercado é composto de dois lados: oferta e demanda.
As estruturas de mercado dependem essencialmente de três características:
- Número de empresas (fornecedores) e consumidores (vendedores) que compõem o mercado;
-Tipo de produto (grau de diferenciação);
- Existência de barreiras ao acesso de novas empresas nesse mercado.
Concorrência Perfeita
Mercado competitivo (em concorrência perfeita): Mercados perfeitamente competitivos são mercados ideali-
zados nos quais todas as empresas e todos os consumidores são pequenos demais para afetar o preço. Possui
muitos vendedores e compradores, de modo que nenhum comprador ou vendedor individualmente consiga
exercer um impacto significativo sobre os preços. Nesse mercado, pressupõe-se que os bens e serviços ofer-
tados sejam todos iguais (qualidade, marca, rótulo, etc.). Não há barreiras de acesso para esse mercado aos
novos empresários.
As forças da Oferta e da Demanda determina tanto a quantidade vendida quanto o preço de um bem.
Como compradores e vendedores em mercados perfeitamente competitivos devem aceitar o preço que o
mercado determina, diz-se que são tomadores de preço.
Competição perfeita é um mundo de tomadores de preço. Uma empresa perfeitamente competitiva vende
um produto homogêneo (um produto idêntico ao produto vendido por outros na indústria). Ela é tão pequena
em relação ao seu mercado que não consegue afetar o preço de mercado e simplesmente aceita o preço dado.
Exemplo – quando o fazendeiro João vende um produto homogêneo como o trigo, ele o vende a um grande
grupo de compradores pelo preço de mercado de $ 3 por hectare. Assim como os consumidores geralmente
precisam aceitar os preços cobrados pelos provedores de acesso à internet ou pelos cinemas, as empresas
competitivas também precisam aceitar os preços de mercado do trigo e do petróleo que produzem.
Concorrência perfeita? 15
Numa situação de concorrência perfeita nenhuma empresa pode, por si só, influenciar o mercado. O conjun-
to das empresas é quem determina a oferta de mercado, a qual interagindo com a demanda, determina o preço
de equilíbrio. Independentemente da quantidade que uma empresa produz, essa empresa terá obrigatoriamen-
te que vender a sua produção ao preço determinado pelo mercado.

15 http://www.carlosescossia.com/2009/09/o-que-e-concorrencia-perfeita.html

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


57
O preço de equilibro é determinado pela interação entre oferta e procura, sendo a oferta o resultado da pro-
dução do conjunto das empresas existentes nesse mercado concorrencial.
As principais características de um mercado de concorrência perfeita, são: grande números de empresas
ofertando produtos substituíveis; inexistência de economia de escala (produção em larga escala); nenhuma
empresa ou consumidor é suficientemente grande para impor preço, qualidade, tipo e outras condições - quem
dita a regra é a lei da oferta e da procura - o senhor da situação é o mercado; vendedores e compradores ficam
subordinados ao mercado.
Numa estrutura de concorrência perfeita, devem prevalecer as seguintes premissas: mercado atomizado
(composto de um grande número de empresas, como se fossem átomos); produtos homogêneos (não existe
diferença entre os produtos ofertados pelas empresas concorrente); transparência de mercado (todas as infor-
mações sobre lucros e preços são conhecidos por todos os participantes do mercado).
Atualmente não existe mercado tipicamente de concorrência perfeita. O mercado dos produtos hortifrutigran-
jeiros é o exemplo que mais e aproxima a esse tipo de mercado. O mercado da concorrência perfeita é o sonho
ideal de todo economista liberal.
Casos especiais de mercados competitivos
1- As regras gerais que se aplicam a oferta e demanda competitiva: sob a regra da demanda um aumento
na demanda por um bem – mantendo a curva da oferta inalterada- geralmente aumentará o preço do mesmo
e também a quantidade demandada. Uma diminuição na demanda terá o efeito oposto. Sob a regra da oferta,
um aumento na oferta de um bem – mantendo a curva de demanda constante- geralmente diminuirá o preço e
aumentará a quantidade vendida. Uma diminuição na oferta tem efeito contrário.
Análise dos mercados competitivos torna mais claro como organizar de forma eficiente a sociedade. Efici-
ência alocativa ocorre quando não há meio de reorganizar a produção e a distribuição de modo que melhore a
satisfação de todos. Falando de outra maneira, uma economia eficiente quando nenhum indivíduo pode estar
melhor sem fazer com que outro fique pior.
Guarde que em Mercado em Concorrência Perfeita:
-Existência de um grande número de vendedores e compradores;
-O produto transacionado é homogêneo:
-Há livre mobilidade de empresas no mercado (em termos técnicos isso significa que não existem barreiras
para entrada e saída de empresas no mercado).
-Pleno conhecimento (todos os agentes conhecem todas as condições do mercado todo o tempo).
Qualquer estrutura do mercado que não a de concorrência perfeita constitui uma forma de concorrência
“imperfeita”.
De um lado, produtos idênticos oferecidos por um grande número de empresas. Neste caso, a concorrência
entre os ofertantes é considerada perfeita. Do outro, um produto único, sem substitutos. Um único fornecedor.
Um monopólio, portanto.
Estes são os extremos no espectro das estruturas de mercado, sob as quais as empresas podem estar fun-
cionando. É claro que não podem ser consideradas as únicas estruturas de mercado predominantes no mundo
atual.
Todas as estruturas que não se encaixam em uma concorrência perfeita devem ser consideradas no âmbito
de uma concorrência imperfeita.
Concorrência Imperfeita16
A concorrência perfeita é muito procurada, porém raramente encontrada. Quando o consumidor compra
um automóvel Ford ou Toyota, hambúrgueres da McDonald’s ou da Burger King, computadores da IBM ou da
Apple, está a lidar com empresas suficientemente grandes para influenciarem o preço de mercado. Ou seja,
vivemos no o mundo da concorrência imperfeita.
Definição de Concorrência Imperfeita: Se uma empresa pode influenciar significativamente o preço de mer-
cado dos bens que produz, então a empresa é classificada com um “concorrente imperfeito”.
16 Rechtern, M. A. Monopólio.Oligopólio,concorrencia perfeita e imperfeita, 2013.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


58
A concorrência imperfeita verifica-se num setor de atividade sempre que existam vendedores individuais que
detenham alguma parcela do controlo sobre o preço da produção desse setor.
A concorrência imperfeita não implica que uma empresa tenha o controle absoluto sobre o preço dos seus
produtos. Considere o mercado das bebidas com cola, em que a Coca-Cola e a Pepsi em conjunto detêm gran-
de parte da quota de mercado e onde se verifica claramente a existência de concorrência imperfeita. Se o preço
médio das gasosas dos outros produtores do mercado for de 60 cêntimos, para a Pepsi é possível fixar o preço
em 55 ou 65 cêntimos e continuar a ser uma empresa viável. A empresa dificilmente poderá fixar o preço a 30
euros ou a 5 cêntimos a lata, pois com esses preços seria eliminada do setor. Vemos então que um concorrente
imperfeito tem algum poder discricionário sobre os seus preços, embora não se trate de um poder total.
O grau do poder discricionário sobre os preços varia de indústria para indústria. Em alguns setores de ativi-
dade imperfeitamente concorrenciais, o grau de poder de monopólio é muito pequeno. É importante reconhecer
que a concorrência imperfeita não elimina uma rivalidade intensa no mercado. Os concorrentes imperfeitos
lutam com frequência vigorosamente para aumentarem as suas quotas de mercado. A rivalidade engloba uma
ampla variedade de comportamentos, desde a publicidade, que tenta deslocar a curva da procura, até ao de-
senvolvimento da qualidade dos produtos.
Monopólio
Até que nível de imperfeição pode a concorrência imperfeita chegar? O caso extremo é o monopólio: um
único vendedor com o controle total sobre um ramo de atividade (que é designado por “monopolista”, a partir do
grego, mono “um” e polist, “vendedor”). É ele o único produtor na sua indústria, não existindo qualquer indústria
que produza um bem sucedâneo aproximado do seu produto.
Monopólio é a exploração sem concorrente de um negócio ou indústria, em virtude de um privilégio. É a pos-
se ou o direito em caráter exclusivo. Ter o monopólio é possuir ou desfrutar da exploração de maneira abusiva,
é vender um produto ou serviço sem concorrente, por altos preços.
Ter um monopólio é uma situação em que uma única empresa domina a oferta de determinado produto ou
serviço. É quando o mercado é dominado por uma estrutura monopolista e não pelas leis de mercado, garan-
tindo-lhe super lucro. A maioria dos países possui um conjunto de leis para impedir a formação de monopólio.
A existência do monopólio origina barreiras que impedem novas empresas de competirem, isso por que para
estas se inserirem no mercado, exige-se destas um elevado montante de investimentos a fim de concorrer,
pois se forem instaladas empresas pequenas, tão logo não conseguirão dar continuidade devido à concorrên-
cia desleal, é necessário que a competição seja igualitária, pois a empresa monopolista já está estabelecida
em grandes dimensões e tem condições de operar com baixos custos; outra barreira são as patentes, que são
protegidas pelo Estado, nenhuma empresa pode concorrer com outra sobre a proteção de sua patente; há um
controle sobre o fornecimento de matérias-primas-chaves, empresas estabelecidas podem estar protegidas da
entrada de novas empresas pelo seu controle de matérias-primas; a tradição no mercado que o produto já tem;
e o lobby político, que por influências políticas surge um monopólio.
Quanto a isso bem destaca Vasconcelos que uma hipótese no comportamento do monopolista é que ele
não acredita que os lucros elevados que obtém a curto prazo possam atrair concorrentes, ou que os preços
elevados possam afugentar os consumidores; ou seja, acredita que, mesmo a longo prazo, permanecerá como
monopolista. Evidentemente, para que esta estratégia viabilize-se, deve ser um tipo de mercadoria ou serviço
que não tem substitutos próximos.
Vamos então ver algumas características predominantes:
-único produtor
-demanda da firma=demanda de mercado
-produto sem substitutos próximos
-a empresa determina o preço
-existem barreiras ao acesso de novas firmas
-lucros extraordinários
-Ex.: exploração de recursos minerais; serviços de água; transporte.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


59
Monopólios surgem devido a características particulares de um determinado mercado, ou devido à regula-
mentação governamental. Sendo assim, temos dois tipos:
Monopólio puro ou natural: ocorre quando o mercado, por características próprias exige elevado volume de
capital. As empresas já instaladas operam com grandes plantas industriais, com elevadas economias de escala
e custos unitários bastante baixos, o que possibilita a cobrança de preços relativamente baixos por seu produto,
o que acaba sendo uma grande barreira para a entrada de novos concorrentes.
Monopólio institucional ou estatal: são considerados estratégicos ou de segurança nacional. É quando o
Estado é responsável pelo fornecimento de um bem ou serviço, a Petrobrás é um exemplo, mas pode ser rela-
cionado também à energia, comunicação, entre outros.
A situação de monopólio gera prejuízo principalmente para o consumidor que se vê sem saída em poder
escolher por marcas ou empresas diferentes para consumir. Mas, é o Estado responsável por mediar essas re-
lações, e ele pode fazer um controle econômico do monopólio, controlando preços e com políticas de taxação.
Os verdadeiros monopólios hoje em dia são raros. A maioria dos monopólios persistem em virtude de algu-
ma forma de regulação ou proteção estatal. Por exemplo, uma empresa farmacêutica que descobre um novo
medicamento fantástico pode ter garantida uma patente que lhe dê o controle monopolista sobre esse medica-
mento durante um certo número de anos. Outro exemplo é o caso de serviços locais de concessionárias, como
a empresa que distribui água até a casa de cada um. Nesses casos, existe de fato um único vendedor de um
serviço, sem substitutos próximos. Um dos poucos exemplos de monopólios sem permissão do governo é o da
Microsoft Windows, que conseguiu manter o seu monopólio por meio de grandes investimentos em pesquisa e
desenvolvimento e inovação rápida, economias de rede e táticas agressivas contra seus concorrentes.
Porém, mesmo os monopolistas tem que estar sempre alertas para os potenciais concorrentes. No longo
prazo, nenhum monopólio se encontra completamente livre de ser atacado por concorrentes.
Oligopólio
Enquanto no monopólio não existe concorrência, o oligopólio é caracterizado por um conjunto de empresas
que domina determinado setor da economia ou produto colocado no mercado. Em geral impõem preços abusi-
vos e elimina a possibilidade de concorrência, através da aquisição de pequenas empresas.
O termo oligopólio significa “pouco vendedores”. Poucos, neste contexto, podem ser 2, 5 ou 10 empresas. O
aspecto importante do oligopólio é o de que cada empresa, individualmente, pode influenciar o preço de mer-
cado. Os oligopolistas pertencem a duas categorias.
Em primeiro lugar, um oligopolista pode ser um dos poucos produtores que produzem um bem idêntico (ou
quase). Assim, se o aço de A, que abastece a área de São Paulo, é muito semelhante ao de B, então, a redução
dos preços de B fará com que os consumidores abandonem A e passem a comprar B. Nem A nem B poderão
chamar-se monopolistas. Contudo, se o número de vendedores for pequeno, cada um deles pode ter um efeito
considerável sobre o preço de mercado. Pensa-se que este primeiro tipo de oligopólio é comum em atividades
em que o produto é relativamente homogêneo e em que a dimensão das empresas é grande.
A segunda espécie de oligopólio é caracterizada pela existência de poucos vendedores que vendem pro-
dutos diferenciados. Por exemplo, a indústria automóvel é dominada, pode-se dizer, por três ou quatros pro-
dutores. Ford, os Chevrolet, os Toyota e os Honda são produtos de certo modo diferenciados, devendo ainda
suportar a concorrência de outras empresas menores, como a Fiat, a Chrysler e a Volvo.
Sendo assim, temos as seguintes características a destacar do oligopólio:
-existência de pequeno número de empresas dominando o mercado
-produtos substitutos próximos (diferenciados: Ex.: automóveis; ou homogêneos: Ex.: alumínio e cimento)
-preço fixada entre as empresas
-concorrência extra preço (propaganda, publicidade, promoções)
-existência de barreiras à entrada de novas firmas
-lucros extraordinários no longo prazo
Ex.: indústria automobilística, de bebidas.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


60
Exemplo introdutório e conceitual - Tendência do mercado de telecomunicações é de oligopólio. O Brasil
é um exemplo claro da tendência do mercado mundial de telecomunicações, cada vez mais concentrado nas
mãos de poucas empresas. Esse cenário de oligopólio limita a competição e as opções dos consumidores na
hora de escolher o seu provedor de banda larga.
“A oferta do acesso à banda larga17 é exageradamente concentrada, sobretudo considerando que a presta-
ção do serviço está sujeita ao regime de livre concorrência”, afirma estudo do Ipea de 2009.
Segundo dados da consultoria Teleco, que acompanha trimestralmente o mercado de banda larga no país,
92% das conexões são fornecidas por apenas quatro empresas: Oi, NET, Telefônica e GVT.
A falta de alternativas causada pelo oligopólio diminui a possibilidade de o consumidor barganhar para con-
seguir um negócio mais vantajoso. No caso da banda larga, o banco de investimentos J. P. Morgan demonstrou,
com dados de outubro de 2009, que, nas localidades onde a banda larga é oferecida apenas pelas empresas
que são concessionárias de telefonia fixa (Oi e Telefônica, principalmente), o preço médio cobrado é de R$ 118.
Esse valor cai pela metade (R$ 60) quando há a presença de outras duas concorrentes (geralmente a NET e
a GVT).

Some-se a isso o fato de que, no Brasil, além da grande concentração do mercado, a banda larga está dis-
ponível para poucos consumidores. Os pesquisadores do Ipea revelam que, dos municípios que têm acesso a
banda larga, somente 361 (14%) têm a prestadora dominante com menos de 80% do mercado e em apenas 15
cidades (0,5%) a participação da empresa dominante é inferior a 50%. Ou seja, mais que oligopólio, na maioria
dos locais se configura um monopólio, o que dá grande poder de mercado às empresas, inclusive para definir
os preços. Isso sem falar dos locais que nem sequer têm o serviço disponível.
“Não dá para imaginar que três ou quatro empresas possam, em termos de inovação, de dinâmica de mer-
cado, resolver todas as demandas de empresas e famílias em qualquer país”, afirmou o consultor legislativo do
Senado Igor Freitas.
A falta de inovação também é citada pelo presidente da Telebrás, Rogério Santanna, como consequência do
oligopólio. A causa seria a ausência de modelos de negócio para atender áreas e domicílios hoje excluídos do
mercado, seja pelos altos preços, seja pela indisponibilidade do serviço.
“O modelo atual está em crise pela inovação tecnológica. Mercados de cidades pequenas não são rentá-
veis porque essas empresas não consideram a inovação como recurso para encontrar negócio onde elas não
acham. Três mil municípios estão condenados à desconexão eterna pelo mercado. As empresas não têm inte-
resse em operar nessas cidades por não considerá-las rentáveis”, reclamou Santanna, no debate promovido
pela CCT em maio de 2010.
17 . Ipea de 2009.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


61
Em estudo de abril de 2010, o Ipea atesta que as características do mercado levam as operadoras a con-
centrar sua atuação nas cidades onde já existe infraestrutura de telecomunicações e em áreas onde os clientes
têm grande poder aquisitivo.
“As grandes cidades concentram a população com maior renda e, portanto, com maior disponibilidade de
pagar pelo serviço e, pela maior densidade demográfica, o custo para instalação da infraestrutura é menor que
numa pequena localidade do interior. Ao buscar maiores lucros e rentabilidade, as operadoras provocam uma
forte concentração de mercado, que somente pode ser vencida à custa de políticas de incentivo à massificação
nas áreas mal atendidas”, afirma o Ipea sobre a outra consequência do oligopólio.
Oligopólio com Conluio
O caso mais simples de oligopólio acontece quando todos os concorrentes vendem produtos similares e
reconhecem que estão todos no mesmo mercado. Neste caso, os oligopolistas reconhecerão facilmente a sua
“mútua interdependência” – acabando por concluir que têm de fixar os mesmos preços e que a vantagem inicial
que obtém ao reduzir os preços será perdida quando o outro é obrigado, por sua vez, a reduzir os seus preços.
Nesse caso as empresas podem procurar uma solução cooperativa, ou seja, um oligopólio de conluio. As-
sim, quando os oligopolistas podem estar em conluio completo ou quando têm em linha de conta a respectiva
interdependência, o preço e a quantidade produzida podem ser próximos dos de um monopólio. Na realidade,
há numerosos obstáculos ao conluio efetivo. Primeiro, o conluio é ilegal. Segundo, as empresas podem redu-
zem os seus preços a clientes selecionados aumentando deste modo a sua quota de mercado. Este resultado
verifica-se particularmente em mercados em que os preços não conhecidos publicamente, ou em que as mer-
cadorias são diferenciadas, ou em que o número de empresas é superior em algumas unidades, ou em que
a tecnologia está a transformar-se rapidamente. Além do mais, quando a confiança entre os concorrentes se
quebra é extraordinariamente difícil restabelecê-la, sendo possível que permaneça um comportamento de não
conluio.
Oligopólio de empresa dominante
Em mercados onde a maior empresa controla 60 a 80 por cento do mercado, ela dispões de diferentes estra-
tégias. A mais provável consiste simplesmente em ceder parte do mercado à franja concorrencial e então com-
portar-se como um monopolista relativamente aos 60 ou 80 por cento do mercado que controla. Tal mercado é
conhecido como “oligopólio de empresa dominante”.
Concorrência Monopolística
No outro extremo dos oligopólios de conluio está a concorrência monopolística. A concorrência monopolís-
tica assemelha-se concorrência perfeita em três aspectos: há muitos compradores e vendedores; são fáceis
a saída e a entrada no mercado, e as empresas consideram garantidos os preços das outras empresas. A
distinção é que em concorrência perfeita os produtos são iguais, enquanto que na concorrência monopolística
os produtos são diferenciados.
A concorrência monopolística é muito comum – pesquise nas prateleiras dos supermercados, e verá uma
estonteante variedade de diferentes marcas de cereais para pequeno-almoço, champô e alimentos congelados.
Para a nossa análise o ponto importante é que a diferenciação do produto significa que cada vendedor tem
alguma liberdade para aumentar ou baixar os preços, mais do que num mercado perfeitamente concorrencial.
A diferenciação do produto leva a uma inclinação negativa na curva da procura de cada vendedor.
O modelo de concorrência monopolística proporciona um importante esclarecimento: nos ramos de atividade
de concorrência imperfeita, a taxa de lucro será nula, no longo prazo, à medida que as empresas entrarem com
novos produtos diferenciados.
Esta análise tem um bom exemplo na indústria de computadores pessoais. A princípio, alguns fabricantes de
computadores, como a Apple e a Compaq, realizaram lucros elevados. Porém, verificou-se que a indústria de
computadores pessoais tinha fracas barreiras à entrada e numerosas pequenas empresas entraram no merca-
do. Atualmente, há dezenas de empresas, cada uma com uma pequena quota de mercado de computadores,
mas sem lucros que recompensem o seu esforço.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


62
Alguns críticos pensam que a concorrência monopolística é, por natureza, ineficiente, ainda que os lucros
tendam para zero no longo prazo. Argumentam que a concorrência monopolística faz surgir um número exces-
sivo de novos produtos e que a eliminação de produtos desnecessários poderia reduzir os custos e baixar os
preços.
A redução do número de concorrentes monopolísticos, ainda que fazendo diminuir os custos, poderia muito
bem reduzir o bem-estar do consumidor por diminuir a diversidade dos bens e serviços disponíveis. Os países
socialistas com planeamento central tentam uniformizar a produção num pequeno número de variedades, e
isso deixou os consumidores bastante insatisfeitos. As pessoas estão disposta a pagar uma boa quantia para
terem liberdade de escolha.
Na prática verifica-se uma sobreposição de todas estas diversas categorias de estruturas de mercado. Dis-
põem-se escalonadamente desde a concorrência perfeita, passando, em seguida, pelo caso de um grande
número de vendedores diferenciados e pelas duas espécies de oligopólio, até se chegar, finalmente, ao caso
limite do monopólio.
A relação entre inovação e o poder de mercado é complexa. O contributo substancial de muitas grandes
empresas para a investigação e para a inovação certamente dá que pensar aqueles que gostariam de acabar
com grandes empresas, ou que pretendem que a grande dimensão é uma imperfeição sem solução. Ao mesmo
tempo, as pequenas empresas e os indivíduos isolados fizeram algumas das descobertas mais revolucionárias.
Para promover a inovação rápida, uma nação deve conseguir adoptar uma grande variedade de abordagens e
de organizações. É necessário deixar florescer as ideias às centenas.
Associação Entre Empresas
Objetivo das associações entre empresas: domínio do mercado
Truste: O truste é uma modalidade de concentração em que, o empresário, orientado por interesses mono-
polísticos e utilizando práticas variadas, procura eliminar os concorrentes de sorte a que somente ele se torne
senhor da oferta.
Os trustes conferem ao empresário o privilégio de atuar no mercado de monopólio. Os trustes são proibidos
em todo o mundo, significando “abuso do poder econômico”, dominação dos mercados, eliminação da con-
corrência e aumento arbitrário de lucros, o que a legislação reprime nos termos do parágrafo 4º do Art. 171 da
Constituição de 1988 e Lei nº 8.884, de 11/06/64, conhecida como Lei Antitruste.
Holding
O que caracteriza a Holding é o fato de ser uma empresa típica de capitais. A holding não desenvolve ativi-
dades de produção; é uma empresa voltada exclusivamente para a detenção de capitais de outras empresas.
Cartéis
São acordos livres, formais ou informais, entre empresas do mesmo ramo, com o objetivo de dominar o
mercado e atenuar a concorrência. O mercado que facilita sua formação é o de Oligopólio. As empresas que
se cartelizam não perdem suas individualidades econômica e jurídica. O cartel determina a política de preços
para todas as firmas participantes.
É de se notar, ainda, que a concorrência imperfeita não está, necessariamente, limitada ao lado vendedor do
mercado, embora este seja o caso mais frequente. O mercado pode ter muitos vendedores, mas somente um
comprador, caracterizando-se, assim, o monopsônio. Também pode existir um mercado composto por muitos
vendedores, mas com poucos compradores, o que configura um oligopsônio.
Tome-se o caso, por exemplo, de uma ou duas indústrias que processam produtos agrícolas, como aquelas
que compram toda a produção de laranjas para extração do suco. Ou, ainda, o caso de granjas que comercia-
lizam seus produtos com um ou dois frigoríficos especializados no abate e exportação de frangos. No caso de
produtos industriais, quando o fabricante de aviões Boeing negocia com o fabricante de turbinas General Elec-
tric, temos o caso de um comprador cujas compras constituem uma grande fatia do mercado e, de outro lado,
um vendedor cujas vendas também são uma grande fatia do mercado.
O dilema básico do oligopólio pode enunciar-se e resumir-se em “competir ou cooperar?”. Por um lado, as
empresas oligopolísticas realizam mais lucros no seu todo (isto é, como se fossem um grupo ou uma só em-
presa monopolista) se cooperarem; por outro lado, individualmente consideradas, fazem mais lucro se aban-

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


63
donarem o grupo enquanto os outros mantêm a cooperação (isto é, quebram a ligação/acordo com o grupo e
passam a competir com ele). No primeiro caso, temos um comportamento cooperativo; no segundo caso, um
comportamento não cooperativo (ou competitivo).
A opção por um comportamento cooperativo ou competitivo depende das condições concretas do mercado
e dos incentivos existentes. Em termos gerais, podemos dizer que a tendência para a cooperação entre as
empresas é maior:
i) num mercado com poucas empresas, do que num mercado com muitas empresas;
ii) num mercado em que o produto tem um elevado grau de homogeneidade, do que num mercado onde o
produto é bastante diferenciado;
iii) num mercado em crescimento, do que num mercado em contracção;
iv) num mercado onde haja uma empresa dominante, do que num mercado onde haja um grupo de empre-
sas de equivalente dimensão;
v) num mercado em que a concorrência por outras formas que não o preço (publicidade, diferenciação do
produto, ...) é limitada, do que num mercado onde esse tipo de concorrência é usual;
vi) num mercado em que as barreiras à entrada de novas empresas sejam elevadas, do que num mercado
onde essas barreiras sejam praticamente inexistentes.

A intervenção governamental: Política salarial e políticas de emprego. Subsídios go-


vernamentais para investimentos em capital humano. Salário-mínimo

— Política Salarial e Políticas de Emprego


A interação entre Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho é vital na análise das complexidades envol-
vendo a intervenção governamental nas esferas de política salarial e políticas de emprego. Ao compreender
o papel do governo nesses domínios, é possível delinear estratégias que promovam ambientes laborais mais
equitativos e promissores para a população ocupada.
No âmbito da Sociologia do Trabalho, a intervenção governamental na política salarial é um ponto crucial de
análise. A definição de salários mínimos, por exemplo, representa uma medida destinada a assegurar que os
trabalhadores recebam uma remuneração digna, capaz de garantir condições básicas de vida. Essa interven-
ção busca atenuar desigualdades sociais, promovendo uma distribuição mais equitativa da riqueza gerada pelo
trabalho.
Além disso, a Sociologia explora como as políticas salariais podem impactar a estratificação social. A im-
plementação de políticas que buscam reduzir as disparidades salariais entre diferentes setores e níveis de
qualificação reflete o esforço governamental em mitigar desigualdades socioeconômicas. A análise sociológica
também abrange questões como a negociação coletiva, explorando como os sindicatos e as organizações de
trabalhadores influenciam as decisões salariais.
No que diz respeito à Psicologia Aplicada ao Trabalho, a intervenção governamental nas políticas salariais
é examinada em termos dos impactos psicológicos sobre os trabalhadores. A percepção de justiça salarial e a
equidade no reconhecimento financeiro estão entre os fatores que afetam diretamente o bem-estar psicológico
dos indivíduos no ambiente de trabalho. Portanto, a eficácia das políticas salariais também é avaliada pela sua
capacidade de promover um ambiente psicologicamente saudável.
No contexto das políticas de emprego, a Sociologia destaca a importância da intervenção governamental na
criação de oportunidades equitativas no mercado de trabalho. Iniciativas voltadas para a promoção da igualda-
de de gênero, raça e classe social são analisadas à luz de como influenciam a estrutura do emprego. A socio-
logia aplicada ao trabalho investiga como tais políticas moldam as relações sociais dentro das organizações,
promovendo diversidade e inclusão.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


64
A Psicologia Aplicada ao Trabalho, ao abordar políticas de emprego, concentra-se nos efeitos psicológicos
das estratégias governamentais. A criação de programas que visam a reinserção no mercado de trabalho para
grupos marginalizados, por exemplo, não apenas impacta a economia, mas também desencadeia mudanças
na percepção de autoeficácia e autoestima desses indivíduos. Portanto, a efetividade das políticas de emprego
também é medida pelo seu impacto na saúde mental e no desenvolvimento psicológico dos trabalhadores.
A interdisciplinaridade entre Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho se torna evidente na análise con-
junta das políticas salariais e de emprego. Ambas as disciplinas buscam compreender não apenas os aspectos
econômicos, mas também os sociais e psicológicos envolvidos nessas intervenções governamentais. A efe-
tividade dessas políticas é medida pela sua capacidade de não apenas equilibrar questões financeiras, mas
também promover relações sociais mais justas e ambientes de trabalho psicologicamente saudáveis.
— Subsídios governamentais para investimentos em capital humano
Sob a perspectiva sociológica, a concessão de subsídios para investimentos em capital humano é vista
como uma estratégia crucial para enfrentar desafios sociais relacionados à desigualdade de oportunidades. A
Sociologia do Trabalho examina como esses subsídios podem ser direcionados para áreas específicas, como
educação e treinamento, a fim de promover a igualdade de acesso ao desenvolvimento de habilidades. Essa
intervenção visa reduzir disparidades socioeconômicas, proporcionando a todos os estratos da sociedade a
capacidade de aprimorar seu capital humano.
Ao mesmo tempo, a Sociologia destaca a importância de avaliar o impacto desses subsídios na estrutura
social. A criação de oportunidades igualitárias no mercado de trabalho influencia não apenas a economia, mas
também a composição social das organizações. A promoção da diversidade e inclusão, fundamentada em sub-
sídios direcionados, pode alterar as relações sociais dentro das empresas, contribuindo para ambientes mais
equitativos e dinâmicos.
No domínio da Psicologia Aplicada ao Trabalho, a intervenção governamental por meio de subsídios para
investimentos em capital humano é analisada em termos dos impactos psicológicos nos trabalhadores. A ên-
fase recai na promoção do desenvolvimento pessoal e profissional, influenciando positivamente a autoestima,
motivação e satisfação no trabalho. A Psicologia procura entender como o acesso a oportunidades de capacita-
ção molda as percepções individuais sobre competência e realização, contribuindo para ambientes de trabalho
mais saudáveis e produtivos.
Além disso, a Psicologia Aplicada ao Trabalho explora o papel dos subsídios na gestão do estresse e na
promoção do bem-estar psicológico. O investimento em capital humano não se limita apenas ao desenvolvi-
mento de habilidades técnicas, mas também inclui aspectos ligados à inteligência emocional, gestão do tempo
e habilidades interpessoais. Dessa forma, os subsídios governamentais podem ser vistos como um catalisador
para a construção de ambientes de trabalho que não apenas demandam desempenho, mas também cuidam da
saúde mental e emocional dos colaboradores.
A interdisciplinaridade entre Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho é evidente na análise dos subsí-
dios governamentais para investimentos em capital humano. Ambas as disciplinas convergem na compreensão
de que a intervenção governamental, quando direcionada para o desenvolvimento humano, não apenas forta-
lece a economia, mas também nutre uma sociedade mais justa e trabalhadores mais realizados. A avaliação
conjunta dos aspectos sociais e psicológicos dessa intervenção oferece uma visão abrangente de como as
políticas podem moldar o futuro do trabalho.
— Salário-mínimo
Ao explorarmos o salário-mínimo sob essa dupla lente disciplinar que é a Sociologia e Psicologia Aplicada ao
Trabalho, somos capazes de compreender como as políticas governamentais moldam não apenas os aspectos
financeiros do trabalho, mas também as dinâmicas sociais e o bem-estar psicológico dos trabalhadores.
Desde uma perspectiva sociológica, o salário-mínimo é visto como uma ferramenta vital na mitigação das
disparidades sociais. Ao estabelecer um piso salarial, o governo busca assegurar que mesmo os trabalhado-
res menos qualificados ou inseridos em setores de baixa remuneração recebam um pagamento justo pelo seu
trabalho. Isso não apenas influencia diretamente a estrutura socioeconômica, mas também tem implicações
profundas na redução da desigualdade de renda, um tema crucial na Sociologia do Trabalho.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


65
Além disso, a Sociologia destaca como o salário-mínimo pode impactar as relações sociais dentro das orga-
nizações. A remuneração adequada não apenas eleva o padrão de vida dos trabalhadores, mas também pro-
move uma cultura de valorização mútua no ambiente de trabalho. A criação de um salário-mínimo justo contribui
para a construção de equipes mais coesas, reduzindo a tensão e a competição interna, elementos muitas vezes
associados a disparidades salariais.
Do ponto de vista da Psicologia Aplicada ao Trabalho, o salário-mínimo é examinado como um determinan-
te crucial do bem-estar psicológico dos indivíduos. A psicologia organizacional explora como a percepção de
justiça salarial está intrinsicamente ligada à satisfação no trabalho e à motivação dos funcionários. Quando os
trabalhadores percebem que recebem um salário digno, isso não apenas fortalece sua autoestima, mas tam-
bém contribui para um ambiente psicologicamente saudável.
Além disso, a Psicologia Aplicada ao Trabalho destaca como o salário-mínimo pode influenciar as dinâmicas
familiares e sociais dos trabalhadores. Ao garantir um pagamento mínimo, o governo está indiretamente con-
tribuindo para a estabilidade familiar e a redução do estresse financeiro, fatores que têm um impacto direto na
saúde mental e emocional dos indivíduos.
A análise conjunta dessas disciplinas revela que a intervenção governamental no estabelecimento do sa-
lário-mínimo não é apenas uma questão econômica, mas uma estratégia complexa para moldar as estruturas
sociais e psicológicas do trabalho. O salário-mínimo, quando bem concebido e implementado, não apenas
garante uma compensação justa, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais equitativa
e trabalhadores mais engajados e realizados. Nesse sentido, a interdisciplinaridade entre Sociologia e Psicolo-
gia oferece uma compreensão abrangente de como as políticas salariais podem influenciar a tessitura social e
psicológica do ambiente de trabalho.

Psicologia social e aplicação no trabalho: Relação entre indivíduo e sociedade

A visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental nas Ciências Sociais, e faz parte dos primór-
dios do desenvolvimento da Sociologia, que surgiu em meio a um crescente processo de industrialização inicia-
do ainda no século XVIII e que levou ao surgimento de inúmeros problemas sociais no início do século seguinte,
quando surgiu a disciplina. Podemos dizer que as transformações ocorreram pela transição de uma realidade
rural para um ambiente urbano e industrial. O advento de estruturas sociais mais complexas fez com que os
homens se vissem na necessidade de compreendê-las. Brota uma nova ciência que, partindo do instrumental
das ciências naturais e exatas, tenta explicar a realidade, estudando sistematicamente o comportamento social
dos grupos e as interações humanas.
Basicamente buscou-se compreender que todas as relações sociais estão conectadas, formando um todo
social, que chamamos de sociedade. A passagem de uma sociedade rural para uma sociedade urbana, com a
formação de grandes cidades, abriu novos espaços de sociabilidade, em que conviveram pessoas diferentes e
estranhas umas às outras, com objetivos e motivações distintas. Esses novos espaços substituíram os espa-
ços tradicionais de relações. Essa transição é essencial para compreender a sociologia. O rápido processo de
urbanização provocou a degradação do espaço urbano anterior, do meio ambiente, e a destruição dos valores
tradicionais. As indústrias atraíram as populações rurais para as cidades.
Conceitos de Sociedade
A sociedade, tal como passou a ser compreendida no início do século XIX, pressupunha um grupo relati-
vamente autônomo de pessoas que ocupavam um território comum, sendo, de certa forma, constituintes de
uma cultura comum. Além disso, predominava a ideia de que as pessoas compartilhavam uma identidade. As
relações sociais, não só referentes às pessoas, mas, inclusive, às instituições (família, escola, religião, política,
economia, mídia), moldavam as diversas sociedades. Assim, havendo uma enorme conexão entre essas rela-
ções, a mudança em uma acarretaria numa transformação em outra.
A sociedade é entendida, portanto, como algo dinâmico, em permanente processo de mudança, já que as
relações e instituições sociais acabam por dar continuidade à própria vida social. Torna-se claro, ademais, que
existe uma profunda e inevitável relação entre os indivíduos e a sociedade. As Ciências Sociais lidaram com

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


66
essa relação de diferentes modos, ora enfatizando a prevalência da sociedade sobre os indivíduos, ora consi-
derando certa autonomia nas ações individuais. Para o antropólogo Ralph Linton, por exemplo, a sociedade,
em vez do indivíduo, é a unidade principal, aquela onde os seres humanos vivem como membros de grupos
mais ou menos organizados.
Objeto de Estudo
A sociologia é o estudo científico da sociedade. Parte de métodos científicos (observação, análise, compara-
ção) e possui objetos de estudo específicos. Traz para o campo das ciências a figura do cientista social. Assim,
diferentes de outras ciências, a sociologia tem como parte integrante de seu objeto de estudo o próprio obser-
vador. Este, ao mesmo tempo em que observa o fenômeno, sofre influência e influencia seu objeto de estudo.
Essa realidade leva a uma discussão sobre a objetividade do trabalho científico e sobre a (im)possível neu-
tralidade do cientista social. Fato que não ocorre nas ciências físicas, por exemplo, o homem desempenha um
duplo papel nas ciências sociais: é ao mesmo tempo objeto e sujeito do conhecimento. Aquele que desempe-
nha as ações sociais e as interpreta. Por isso se busca tanto a objetividade nos casos estudados.
Weber X Durkheim
Dois dos principais mestres da sociologia clássica compreenderam de maneira diversa a relação entre indi-
víduos e sociedade.
Enquanto Emile Durkheim priorizou a sociedade na análise dos fenômenos sociais, considerando-a externa
aos indivíduos e determinadora de suas ações, Max Weber entendia ser preponderante o papel dos atores
sociais e as suas ações. Weber entendia a sociedade como o conjunto das interações sociais. A “ação social”,
objeto de estudo weberiano, toma este significado quando seu sentido é orientado pelo conjunto de pessoas
que constituem a sociedade.
Para Durkheim, os fatos sociais são anteriores e exteriores aos indivíduos, exercendo sobre eles um poder
coercitivo que se impõe sobre as vontades individuais. Num sentido oposto, Weber priorizou as ações indivi-
duais para compreender a sociedade, considerando-as como um componente universal e particular da vida so-
cial, fundamental para se conhecer o funcionamento das sociedades humanas, em que vigoram as interações
entre indivíduos e grupos sociais.

Intervenções psicossociais em comunidades e organizações

A interrelação entre Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho se revela de maneira notória ao investigar-
mos as intervenções psicossociais em comunidades e organizações. Esse domínio interdisciplinar visa com-
preender e aprimorar não apenas os elementos individuais, mas também os sistemas sociais e organizacionais
que influenciam a vivência humana no ambiente de trabalho. Ao analisarmos as intervenções psicossociais,
ressaltamos a função crucial que exercem na fomentação do bem-estar, na solução de conflitos e na edificação
de ambientes mais salutares e produtivos.
No âmbito das organizações, as intervenções psicossociais adotam diversas configurações, desde progra-
mas de desenvolvimento de liderança até estratégias de administração de conflitos. A Sociologia do Trabalho
contribui para essa compreensão ao investigar como as dinâmicas sociais internas impactam o desempenho
e a satisfação no trabalho. Frequentemente, as intervenções visam estabelecer culturas organizacionais mais
inclusivas, onde a diversidade é enaltecida e as relações interpessoais são saudáveis. Essa abordagem so-
ciológica procura compreender como as estruturas organizacionais podem ser configuradas para fomentar a
equidade e a cooperação.
Sob a perspectiva da Psicologia Aplicada ao Trabalho, as intervenções psicossociais focalizam o indivíduo
e os processos psicológicos que moldam o comportamento no ambiente de trabalho. Programas de coaching,
treinamento de habilidades interpessoais e iniciativas de gerenciamento do estresse são exemplos de interven-
ções que buscam aprimorar o bem-estar psicológico dos colaboradores. A Psicologia Organizacional, nesse
contexto, explora como as práticas de gestão e as intervenções psicossociais podem influenciar positivamente
a motivação, a satisfação no trabalho e, consequentemente, a produtividade.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


67
No contexto das comunidades, as intervenções psicossociais têm como meta fortalecer os vínculos sociais,
promover a resiliência e lidar com desafios específicos que afetam a coletividade. A Sociologia, ao analisar as
estruturas sociais, contribui para a compreensão das relações comunitárias e como intervenções podem ser
direcionadas para fortalecer os laços interpessoais e melhorar a qualidade de vida. Por exemplo, programas de
intervenção em comunidades podem abordar questões como pobreza, desemprego e isolamento social.
A Psicologia Comunitária, por sua vez, se destaca na concepção e implementação de estratégias para for-
talecer a coesão social e abordar questões específicas que afetam o bem-estar mental de uma comunidade.
Essas intervenções podem variar desde workshops de desenvolvimento pessoal até a criação de redes de
apoio para enfrentar desafios comuns.
Desse modo, as intervenções psicossociais em comunidades e organizações representam uma abordagem
abrangente para promover o bem-estar e a eficácia nos diversos contextos sociais e profissionais. A colabo-
ração entre Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho oferece uma perspectiva holística que contempla
não apenas os aspectos individuais, mas também as complexidades das interações sociais e organizacionais,
visando construir ambientes mais saudáveis, justos e produtivos. Essa interdisciplinaridade é crucial para abor-
dar as questões multifacetadas que permeiam a experiência humana em comunidades e organizações.

Psicologia social na saúde, educação, justiça e políticas públicas

A psicologia é usualmente definida como ciência do comportamento humano e a psicologia social como
aquele ramo dessa ciência que lida com a interação humana. Um dos maiores propósitos da ciência é o es-
tabelecimento de leis gerais por meio da observação sistemática. Para o psicólogo social, tais leis gerais são
desenvolvidas a fim de descrever e explicar a interação social. 18
Implicações para uma ciência histórica do comportamento social
Sob a luz dos presentes argumentos, a tentativa contínua de construir leis gerais do comportamento so-
cial parece mal direcionada, e a crença associada a ela de que o conhecimento da interação social pode ser
acumulado como nas ciências naturais revela-se injustificada. Em essência, o estudo em psicologia social é
fundamentalmente um empreendimento histórico. Estamos essencialmente engajados em incontáveis ques-
tões contemporâneas. Utilizamos metodologia científica, porém os resultados não são princípios científicos no
sentido tradicional. No futuro, historiadores poderão voltar-se para tais relatos do passado a fim de alcançar
uma melhor compreensão acerca da vida nos dias atuais. Entretanto, é provável que os psicólogos do futuro
encontrem pouco valor no conhecimento contemporâneo. Esses argumentos não são puramente acadêmicos e
não se limitam a uma simples redefinição de ciência. Aqui estão implicadas significantes alterações na atividade
de campo. Cinco dessas alterações merecem atenção.
Entre psicólogos acadêmicos encontra-se difundido um preconceito contra a pesquisa aplicada, um precon-
ceito que é evidenciado pelo enfoque dado à pesquisa pura pelos periódicos de prestígio e pela dependência de
promoção e manutenção de contribuições à pesquisa pura em oposição à pesquisa aplicada. Esse preconceito
baseia-se, em parte, na suposição de que a pesquisa aplicada é de valor transitório. Enquanto esta se limitaria
a resolver problemas imediatos, a pesquisa pura contribuiria para um conhecimento básico e duradouro. Do
ponto de vista atual, o solo no qual se assentam tais preconceitos não é merecedor de respeito. O conhecimen-
to que a pesquisa pura se dedica em estabelecer é também transitório; generalizações nessa área de pesqui-
sa geralmente não perduram. A tal ponto que, quando generalizações da pesquisa pura têm grande validade
transhistórica, podem estar refletindo processos de interesse periférico ou importantes para o funcionamento
da sociedade.
Psicólogos sociais são treinados para usar ferramentas de análise conceitual e metodologia científica a fim
de explicar a interação humana. No entanto, dada a esterilidade em aperfeiçoar os princípios gerais ao longo do
tempo, essas ferramentas mostram-se mais produtivas quando usadas na resolução de problemas de impor-
tância imediata para a sociedade. Isso não implica que tais pesquisas devam ser de alcance restrito. Um defeito
fundamental de grande parte das pesquisas aplicadas é que os termos usados para descrever e explicar são
relativamente concretos e específicos para o caso em mãos. Enquanto os comportamentos concretos estuda-
18 GERGEN, K. J. A psicologia social como história. Psicol. Soc.: Florianópolis, 2008.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


68
dos pelos psicólogos acadêmicos são frequentemente mais triviais, a linguagem explicativa é altamente geral,
e assim mais amplamente heurística. É assim que os argumentos presentes sugerem uma intensa focalização
em assuntos sociais contemporâneos, baseados na aplicação de métodos científicos e ferramentas conceituais
largamente generalizadas.
O objetivo central da psicologia é tradicionalmente encarado como a predição e o controle do comportamen-
to. Do nosso ponto de vista, esse objetivo é despropositado e oferece pouca justificativa para a pesquisa. Prin-
cípios do comportamento humano podem ter valor preditivo temporalmente limitado, e seu alto conhecimento
pode torná-los impotentes como ferramentas de controle social. Todavia, previsão e controle não precisam ser-
vir de pedras angulares do campo. A teoria psicológica pode desempenhar um papel excessivamente importan-
te enquanto dispositivo de sensibilização. Pode esclarecer-nos acerca da gama de fatores que potencialmente
influenciam o comportamento sob várias condições. A pesquisa pode também oferecer algumas estimativas da
importância desses valores num determinado momento. Seja no caso do domínio da política pública ou dos re-
lacionamentos pessoais, a psicologia social pode aguçar a sensibilidade de um indivíduo para influências sutis
e apontar suposições sobre o comportamento que não se mostraram úteis no passado.
Quando se pede um conselho ao psicólogo social sobre um provável comportamento em uma situação
concreta, a reação consiste em desculpar-se. É necessário explicar que o campo ainda não se encontra su-
ficientemente desenvolvido a ponto de que predições confiáveis possam ser feitas. Do nosso ponto de vista,
tais desculpas são inapropriadas. O campo pode raramente fornecer princípios para que predições confiáveis
possam ser feitas. Padrões de comportamento estão sob constante mudança. Contudo, o que o campo pode
e deve oferecer são pesquisas informando o inquiridor do número de possíveis ocorrências, ampliando assim
sua sensibilidade e preparando-o para uma acomodação mais rápida à modificação ambiental. Pode prover
ferramentas conceituais e metodológicas com as quais um número maior de juízos de discernimento pode ser
efetuado.
Psicólogos sociais evidenciam uma contínua preocupação com processos psicológicos básicos, ou seja,
processos que influenciam um vasto e variado conjunto de comportamentos sociais. Simulando a preocupação
de psicólogos experimentais com processos básicos, como visão em cores, aquisição da linguagem, memória
e assim por diante, psicólogos sociais detiveram-se em alguns processos, tais como dissonância cognitiva, ní-
vel de aspiração e atribuição causal. Entretanto, há uma profunda diferença entre os processos estudados nos
domínios da psicologia geral experimental e no domínio da psicologia social. No primeiro caso, os processos
estão frequentemente guardados biologicamente no organismo, não estão sujeitos a efeitos de esclarecimento
e não dependem de circunstâncias culturais. Ao contrário, a maioria dos processos de domínio social é depen-
dente de disposições sujeitas a modificação ao longo do tempo.
Assim sendo, é um erro considerar os processos em psicologia social como básicos no sentido das ciên-
cias naturais. Antes, podem ser largamente considerados a contrapartida psicológica de normas culturais. Da
mesma maneira que um sociólogo preocupa-se em medir preferências parciais ou padrões de mobilidade no
decurso do tempo, o psicólogo social poderia atentar para os padrões de mudança das disposições psicoló-
gicas e a sua relação com o comportamento social. Se a redução de dissonância é um processo importante,
então deveríamos estar aptos a medir a prevalência e a força de tal disposição no seio da sociedade ao longo
de tempo e os modos de redução de dissonância prediletos num dado momento. Se a elevação da estima pa-
rece influenciar a interação social, os amplos estudos culturais deveriam revelar a extensão dessa disposição,
sua força em várias subculturas, e a forma do comportamento social com a qual se encontra mais associada
a um dado momento. Embora experimentos em laboratório sejam adequados ao isolamento de disposições
particulares, são pobres indicadores da série e da significância dos processos da vida social contemporânea.
São extremamente necessárias metodologias que estabeleçam contato com a prevalência, força e forma das
disposições sociais no tempo. Com efeito, uma tecnologia dos indicadores sociais psicologicamente sensíveis
(Bauer, 1969) é desejada.
O fenômeno social pode variar consideravelmente na medida em que se submete à mudança histórica. Cer-
tos fenômenos podem ser mais estreitamente vinculados a dados fisiológicos. A pesquisa de Schachter sobre
estados emocionais parece ter uma forte base fisiológica, assim como o trabalho de Hess sobre afeto e constri-
ção pupilar. Embora disposições adquiridas possam vir a superar algumas tendências fisiológicas, tais tendên-
cias deveriam se reafirmar gradualmente. Outras propensões fisiológicas, ainda, podem ser irreversíveis. Pode
haver também disposições que são suficientemente poderosas para que nem o esclarecimento e nem mesmo
as mudanças históricas venham a causar-lhe algum impacto. Algumas pessoas geralmente evitarão estímulos

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


69
físicos dolorosos, apesar de suas sofisticações ou das normas correntes. Devemos pensar, então, em termos
de um contínuo de durabilidade histórica, com fenômenos altamente suscetíveis à influência histórica num ex-
tremo e processos mais estáveis no outro.
Assim, métodos de pesquisa habilitando-nos a discernir a durabilidade relativa do fenômeno social são
bastante necessários. Métodos interculturais poderiam ser empregados para esse fim. Embora a replicação
intercultural seja repleta de dificuldades, similaridade numa dada função entre culturas amplamente divergen-
tes atestaria fortemente sua durabilidade no tempo. Técnicas de análise de conteúdo poderiam também ser
empregadas no exame de períodos históricos recentes. Até agora, tais empreendimentos têm fornecido pouco
além de citações indicando que algum grande pensador pressentiu uma hipótese familiar. Temos ainda que tra-
var contato com a vasta quantidade de informações referentes aos padrões de interação nos últimos períodos.
Embora a progressiva sofisticação dos padrões de comportamento ao longo do espaço e do tempo fornecesse
valiosas compreensões referentes à durabilidade, alguns difíceis problemas apresentar-se-iam. Alguns padrões
de comportamento podem permanecer estáveis até uma observação minuciosa. Outros podem simplesmente
tornar-se disfuncionais com o passar do tempo. A confiança do homem num conceito de deidade tem uma lon-
ga história e é encontrada em numerosas culturas. Entretanto, muitos são céticos sobre o futuro desta crença.
Taxas de durabilidade teriam assim que contribuir para a estabilidade potencial tanto quanto atual do fenômeno.
Ainda que a pesquisa por disposições culturais mais duráveis seja extremamente valiosa, não deveríamos
daí concluir que seja mais útil ou desejável que estudar os padrões passados de comportamento. Grande parte
da variabilidade do comportamento social deve-se indubitavelmente a disposições historicamente dependen-
tes, e o desafio de capturar tais processos “em luta” e durante períodos preciosos da história é imenso.
Sustentou-se que a pesquisa em psicologia social é fundamentalmente o estudo sistemático da história con-
temporânea. Assim sendo, parece miopia manter a separação disciplinar (a) do estudo tradicional de história
e (b) de outras ciências historicamente fronteiriças (incluindo sociologia, ciência política e economia). As parti-
culares estratégias de pesquisa e a sensibilidade do historiador poderiam elevar a compreensão da psicologia
social, passada e presente. Particularmente útil seria a sensibilidade do historiador às sequências causais no
curso do tempo. Muitas pesquisas em psicologia social centram-se em segmentos momentâneos de processos
em andamento. Temos nos concentrado muito pouco na função desses segmentos dentro de seu contexto
histórico. Temos pouca teoria lidando com a inter-relação entre eventos dentro de longos períodos de tempo.
Da mesma feita, historiadores poderiam beneficiar-se das mais rigorosas metodologias empregadas pelos
psicólogos sociais tanto quanto de sua sensibilidade a variáveis psicológicas. Contudo, o estudo da história,
passada e presente, deveria ser empreendido da maneira mais ampla possível. Fatores políticos, econômicos
e institucionais são todos fatores necessários à compreensão numa perspectiva integrada. A concentração em
psicologia apenas oferece uma compreensão distorcida de nossa condição presente.
Psicologia social e saúde coletiva: reconstruindo identidades 19
A constituição da Psicologia como campo de conhecimento e profissão faz-se no entrelaçamento de diversos
saberes e acontecimentos de ordem social, política e econômica, como bem demonstra a história da psicologia.
Cruzamentos estes que foram produzindo diversos desdobramentos, gerando multiplicidade em termos de
teorias e de práticas, na tentativa de dar conta das diferentes demandas cotidianas.
O psicólogo, como profissional, no Brasil, tem uma história muito recente.
Apesar de o ensino da Psicologia ser feito desde os anos 1930, foi somente em 1962 que a psicologia pas-
sou a existir como profissão.
Assim, há três décadas os psicólogos garantiram um espaço institucionalizado de trabalho. Sabe-se que
com a regulamentação, o psicólogo passou a atuar em basicamente quatro áreas: clínica, escolar, industrial
e magistério, áreas que atualmente estão bastante ampliadas e que não correspondem mais ao universo de
atuação do psicólogo brasileiro. Segundo Dimenstein (1998), a própria pressão do mercado de trabalho pas-
sou a impulsionar os profissionais para outros campos de atuação. A assistência pública, dentre estas novas
áreas, foi para onde convergiu uma considerável parcela dos profissionais. “As quase três décadas desde que

19 AGUIAR, S. G.; RONZANI, T. M. Psicologia social e saúde coletiva: reconstruindo identidades. Psicol.
pesq.: Juiz de Fora, 2007.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


70
a profissão foi regulamentada foram acompanhadas de um alargamento dos campos de atuação do psicólogo,
forjado pelo próprio crescimento do contingente de profissionais assim como pelo maior conhecimento de sua
atividade e, consequentemente, pelo aumento da demanda por seus serviços”.
Um marco importante sobre a inserção do psicólogo nos serviços de saúde ocorreu em São Paulo a partir
de 1982, com a adoção de uma política explícita, por parte da Secretaria da Saúde, da desospitalização e da
extensão dos serviços de saúde mental à rede básica. A política adotada pela Coordenadoria de Saúde Mental
levou à criação de equipes de saúde mental integradas por equipes mínimas, das quais o psicólogo fazia parte,
que passariam a atuar nos centros de saúde. “Constituía-se, assim, uma rede de serviços teoricamente integra-
dos com atuação nos níveis primário, secundário e terciário”).
Yamamoto a respeito da situação profissional da psicologia no Brasil, comenta que o levantamento feito pelo
Conselho Federal de Psicologia evidencia duas tendências: “de uma parte a manutenção da hegemonia clínica
com relação às demais; de outra, uma ampliação das oportunidades profissionais, proporcionada pela abertura
de novos espaços de inserção social”. Sendo que um destes espaços é o campo da saúde. Como diz o autor:
“Um dos campos onde a psicologia tem mostrado maior inserção é o da saúde. (...) Os psicólogos ingressam no
campo da saúde através de duas formas: nas Unidades Básicas de Saúde, articulados aos demais profissionais
do campo, e nos Núcleos e Centros de Atenção
Psicossocial (NAPS/CAPS)”.
Silva afirma que: A psicologia clínica durante décadas foi pensada e planejada como disciplina autônoma.
É relativamente recente sua inserção em instituições de saúde pública, nas diferentes instâncias de serviços.
Com as modificações no sistema de saúde, a psicologia, bem como as demais profissões consideradas da área
de saúde, que praticamente só eram absorvidas em instituições ambulatoriais e hospitalares, passam a ser in-
corporadas às Unidades Básicas. Isto se torna possível a partir da VIII Conferência Nacional de Saúde (...) para
que se chegasse a um Sistema Único de Saúde que possibilitasse uma atenção integral à saúde.
Spink acrescenta ainda, em acordo com os autores anteriormente citados, que, até recentemente, o campo
da atuação da psicologia se resumia a duas principais dimensões: em primeiro lugar, as atividades exercidas
em consultórios particulares. Uma atividade exercida de forma autônoma, como profissional liberal e, de forma
geral, não inserida no contexto dos serviços de saúde. A segunda vertente compreendia as atividades exercidas
em hospital e ambulatórios de saúde mental.
No campo da saúde, a autora considera que importantes transformações ocorreram entre os anos 1970
e 1990 e possibilitaram a inclusão do psicólogo nas ações de saúde. Primeiro houve uma ressignificação da
causalidade na explicação da doença, passando a ser vista como um processo e, especialmente, como um fe-
nômeno complexo e transdisciplinar, que precisa ser abordado de forma integradora englobando as dimensões
biopsicossocial. A nova linguagem abriu espaço para ação e explicação de cunho psicológico. As mudanças
foram lentas, mas o espaço foi sendo conquistado, por exemplo, nos hospitais.
A psicologia, embora intimamente relacionada ao conceito de saúde (definida pela Organização Mundial de
Saúde como bem-estar físico, mental e social), como disciplina, chega tardiamente à área da saúde. Chega
tarde neste cenário e “chega miúda, tateando, buscando ainda definir seu campo de atuação, sua contribuição
teórica efetiva e as formas de incorporação do biológico e do social ao fator psicológico, procurando abandonar
os enfoques centrados em um indivíduo abstrato e a-histórico tão frequentes na psicologia clínica tradicional.
Mais recentemente, surgiu no cenário da psicologia a psicologia da saúde, que tem se orientado mais pelos
problemas vinculados ao desenvolvimento da saúde humana do que pela doença.
O desenvolvimento da psicologia da saúde estimulou o trabalho do psicólogo no âmbito da prevenção e da
promoção da saúde, assim como sua participação em equipes interdisciplinares, tanto em instituições de saúde
quanto em sua atuação no trabalho comunitário, tornando-se um espaço importante de prevenção e promoção
de saúde. O desenvolvimento de uma psicologia comunitária orientada pelo trabalho nas áreas de saúde, in-
dependentemente das orientações teóricas às quais se filia, na verdade representou um questionamento aos
estanques rígidos definidos nas pesquisas e nas práticas psicológicas.
Segundo Bock, o termo psicologia da Saúde aparece a partir do Seminário Internacional da Saúde realizado
em Cuba e relatado no Jornal do Psicólogo, nº 11/84. Esta expressão ‘psicologia da Saúde’ também é usada
por Spink como um novo campo do saber. Para Spink, falar da psicologia da saúde como novo campo do saber
parece ser, à primeira vista, uma temeridade. Afinal, os aspectos psicológicos da saúde/doença vêm sendo

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


71
discutidos desde longa data, e os psicólogos já há muito vêm marcando presença na área de saúde mental.
Entretanto, mudanças recentes na forma de inserção dos psicólogos na saúde e a abertura de novos campos
de atuação vêm introduzindo transformações qualitativas na prática que requerem, por sua vez, novas pers-
pectivas teóricas. É isto, pois, que nos permite afirmar que estamos nos defrontando com a emergência de um
novo saber.
Os fatores conjunturais (a maior aceitação da psicologia e o crescimento do número de profissionais), as-
sociados à postura crítica de certos segmentos da profissão, levaram à definição de novas áreas de atuação,
buscando estender os serviços psicológicos às camadas mais pobres da população e, neste afã, ampliar o re-
ferencial teórico de modo a focalizar os problemas sociais mais amplos subjacentes à problemática individual.
“Nesse processo, muitos psicólogos deslocaram suas atividades dos consultórios particulares, inserindo-se
diretamente na comunidade ou nas instituições voltadas ao atendimento das camadas desprivilegiadas da
população”. Num processo de revisão dessas práticas e a busca por melhores formas de responder às neces-
sidades dos diferentes locais de atuação, foi gerando novos campos de saber e ampliou sua inserção na saúde.

A Psicologia Social como alternativa para a nova prática

Na fomentação de uma nova política pública de saúde, abrem-se espaços de trabalho para a psicologia, que
passa a problematizar a aplicação das práticas tradicionais em novo cenário de atuação. Outras ferramentas
de intervenção – mais apropriadas para a efetiva inserção na área – devem ser construídas para o trabalho
na Saúde Pública, a fim de que possam contribuir com as transformações propostas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). A Psicologia Social da Saúde, que compreende, em seus pressupostos, uma intervenção mais
local e coletiva, tem sido um importante campo de conhecimento e prática para construir formas diferenciadas
de intervenção na saúde.
A psicologia social, tendo como arena de atuação a complexa relação entre a esfera individual e a social,
tem necessariamente uma vocação interdisciplinar, sendo suas fronteiras permeáveis às contribuições de uma
variedade de outras disciplinas afins. “Cabe à psicologia social recuperar o indivíduo na intersecção de sua
história com a sociedade. Abandonar, portanto, a dicotomia indivíduo sociedade”.
A psicologia (social) comunitária utiliza-se do enquadre da psicologia social, privilegiando o trabalho com os
grupos, buscando colaborar para a formação da consciência crítica e “para a construção de uma identidade
social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos”.
Segundo Ronzani & Rodrigues, “a psicologia comunitária constitui um importante campo teórico-prático para
o trabalho em APS, uma vez que pode possibilitar uma maior aproximação das questões de relevância social
das comunidades”. Costa e Lopez afirmam que é através da atuação da Psicologia Comunitária que programas
de saúde podem ser aplicados ao âmbito local de cada comunidade. A Psicologia da Saúde e a Psicologia
Comunitária estabeleceriam, assim, uma relação na qual esta última se converteria em um instrumento de
implementação dos programas que envolvem conceitos da primeira. Seria através da Psicologia Comunitária,
propõem Costa e López, que os programas de saúde se tornariam ágeis e integrados ao tecido social em que
os processos de saúde, adoecimento e morte se dão, e é justamente nesse nível que a intervenção preventiva
deveria ocorrer. Entretanto, o que se deve tentar obter da comunidade é que a mesma análise e modifique seus
comportamentos tentando torná-los favoráveis à saúde. Assim, a Psicologia Comunitária seria um ponto de
ligação entre o sistema de saúde e a comunidade, numa configuração dinâmica e móvel.
A Psicologia Social da Saúde configura-se como um campo de conhecimento e prática que trata das ques-
tões psicológicas com enfoque mais social, coletivo e comunitário voltado para a saúde. Segundo Marín, ca-
racteriza-se pela interlocução da Psicologia Social – com seus conhecimentos e técnicas – com o âmbito da
saúde e destaca a interação como ponto fundamental do processo saúde doença. A interação refere-se tanto
ao homem e seu ambiente quanto aos diversos atores sociais presentes no cuidado com saúde. O autor ainda
salienta que todas as atividades da Psicologia Social da Saúde centram-se mais na busca de uma saúde inte-
gral e não somente na saúde mental.
Para Spink, a psicologia social da saúde é como um campo ampliado de atuação do psicólogo nas insti-
tuições de saúde. Essa ampliação ocorreria, principalmente, em relação ao referencial de trabalho utilizado e
exercido, pois, segundo a autora, a intervenção deve ser contextualizada, ou seja, é importante compreender

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


72
toda a história e o contexto da instituição na qual será implementada uma ação, assim como as pessoas que
compõem essa instituição. Faz-se necessário compreender que cada organização tem sua realidade local, sua
cultura de relações e as histórias específicas das pessoas que recorrem a esses serviços.
A autora explica o que seria a Psicologia Social da Saúde: A primeira característica é o compromisso com os
direitos sociais pensado numa ótica coletiva. Foge, portanto, das perspectivas mais tradicionais da psicologia
voltadas à compreensão e processos individuais ou intraindividuais. Dialoga com teorias e autores que pensam
as formas de vida e de organização na sociedade brasileira contemporânea. Tende a pesquisar e atuar em
serviços de atenção primária, em contextos comunitários, em problemas de saúde em que pesam a prevenção
à doença e a promoção da saúde ou onde há necessidade de acompanhamento continuado (como as doenças
crônicas e a saúde mental). Tende ainda a atuar na esfera pública.
Ainda a mesma autora coloca que a Psicologia Social da Saúde tem como características principais a atua-
ção centrada em uma perspectiva coletiva e o comprometimento com os direitos sociais e com a cidadania.
Rompe, portanto, com enfoques mais tradicionais centrados no indivíduo. A atuação se dá principalmente nos
serviços de atenção primária à saúde, focaliza a prevenção da doença e a promoção da saúde, e com extrema
importância o incentivo dos atores sociais envolvidos para a geração de propostas de transformação do am-
biente em que vivem. Trata-se, portanto, de um processo de transformação crítica e democrática que potencia-
liza e fortalece a qualidade de vida.
A Psicologia Social da Saúde objetiva trabalhar dentro de um modelo mais integrado, reconhece a saúde
como um fenômeno multidimensional em que interagem aspectos biológicos, psicológicos e sociais e caminha
para uma compreensão mais holística do processo saúde-doença-cuidado. Dessa maneira sua inserção na
atenção primária pode ser útil para contribuir na transformação das práticas em saúde rumo à integralidade.
Traz conceitos potentes e propostas de ação que muito se aproximam aos pressupostos de trabalho da atenção
primária. Vemos que os dois discursos se organizam em torno de eixos que apostam na construção do fazer
conjunto, coletivo e valorizam a localidade e as interações dela decorrentes.
Os pressupostos da Psicologia Social da Saúde ecoam, nesse modo de organização do trabalho, à medida
que têm como ponto fundamental também a contextualidade e a interação com ações construídas coletivamen-
te a partir das imprevisibilidades do cotidiano. Assim, tanto a ESF (estratégia de saúde da família) como esse
campo da psicologia privilegiam o processo de produção de conhecimento e a construção das intervenções
a partir das práticas sociais, dos processos interativos e da cultura. A proposta, portanto, é a de que qualquer
entendimento do processo saúde-doença-cuidado possa ser analisado e referido a partir de seu contexto, ou
seja, a partir da compreensão de uma pessoa, pertencente à determinada família, inserida numa comunidade
específica, e assim por diante.
Assim, a Psicologia Social da Saúde viria ao encontro da Atenção Primária à Saúde (APS), especificamente
do Programa de Saúde da Família (PSF), no objetivo de construir um modelo de atenção à saúde pertinente à
realidade local e gerador de interlocuções entre equipe de saúde e comunidade. Nesse sentido, a parceria pode
ser útil para pensar discursos, na saúde, que propiciem a construção de espaços viabilizadores de acolhimento
e a construção do vínculo, contribuindo para a reflexão e a problematização dessas práticas que se propõem
coletivas.

A prática do psicólogo na atenção primária

Martinez Calvo coloca que a promoção de saúde se origina nas ciências que se ocupam do comportamento
social.
Se nas propostas da atenção primária objetiva-se trabalhar com promoção, o interesse para a psicologia é
evidente. As ações promocionais, segundo Calatayud, necessitam apoiar-se em conceitos puramente psico-
lógicos, tais como: hábitos, atitudes, motivação, interações pessoais e familiares e habilidades. Faz algumas
recomendações para o trabalho dos psicólogos:

1) identificar os problemas que requerem atenção prioritária;

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


73
2) para esta identificação, as informações sobre a comunidade são a fonte para a tomada de decisões;

3) trabalhar em equipe com profissionais de outras disciplinas, compartilhando conhecimentos;

4) estimular a participação dos membros da comunidade, levando em conta sua opinião na definição das
prioridades e as estratégias, tornando-os multiplicadores.
Segundo Calatayud, há um conjunto de temas que geralmente aparecem como prioritários para a psicologia
na atenção primária, “e este caráter prioritário se deve ao fato de que são temas que mais afetam o estado de
saúde das pessoas, os quais se recebem a correta atenção, podem conduzir a melhorias importantes na saúde
da população”.
Como veremos adiante, cada um destes temas relaciona-se com aspectos biológicos, sociais e psicológicos.
Estes últimos nos servirão de pauta para guiar o trabalho do psicólogo na atenção primária.

1) Saúde Reprodutiva
Alguns problemas que afetam a saúde reprodutiva e podem ser abordados pela psicologia:
- práticas sexuais que conduzem a gravidez indesejada, ou contágio de doenças sexualmente transmissí-
veis;
- gravidez na adolescência;
- aborto induzido;
- comportamento de risco para o bom desenvolvimento da gravidez (álcool, drogas, etc.);
- Preparação insuficiente da gestante e da família para os cuidados físicos e emocionais do recém-nascido;
- insuficiente conhecimento de comportamentos paternos que propiciem a satisfação das necessidades psi-
cológicas do bebê no primeiro ano de vida.
Segundo o autor, tais questões podem ser trabalhadas com grupos para adolescentes, gestantes, grupos
com familiares das gestantes, grupos com mães a respeito das necessidades do primeiro ano de vida da crian-
ça, entre outros.

2) Saúde das crianças


Alguns problemas frequentes que afetam as crianças e que podem ser abordados pela psicologia:
- ambiente doméstico prejudicial;
- maus-tratos à criança;
- dificuldades de aprendizagem.
Tais dificuldades podem ser abordadas, segundo Calatayud (1999), através de grupos com as crianças, para
que elas coloquem suas dificuldades, intervenção junto aos familiares, identificação de ambientes familiares
prejudiciais, entre outros.

3) Adolescentes
Os adolescentes constituem um grupo que abre espaço para várias possibilidades de trabalho. Podem ser
abordados os seguintes temas, através de grupos, palestras, ou, se necessário, individualmente: início da vida
sexual, gravidez indesejada, drogas, álcool, dificuldades familiares etc.
4) Idosos
Também os idosos são citados pelo autor como um grupo potencial de trabalho. Vários aspectos podem ser
abordados. Entre eles: distância dos familiares, solidão, morte do cônjuge ou amigos, aumento das limitações
físicas, tempo ocioso, diminuição da autoestima, depressão etc.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


74
Pelo que vimos até o momento, podemos considerar que existem diversos pontos em comum entre os
princípios norteadores do PSF e aqueles que devem também subsidiar o trabalho do psicólogo, como, por
exemplo, o atendimento da demanda de acordo com as necessidades dos indivíduos (e não de cima para bai-
xo); a busca do resgate da autonomia, da autoestima e da cidadania; a ênfase na criação de vínculo entre o
profissional e o cliente; a valorização dos saberes individuais e grupais; o respeito às diferenças; a relação de
compromisso e corresponsabilidade dos profissionais com os usuários; a visão do humano como ser integral
e não exclusivamente biológico; a valorização de ações de prevenção, promoção e manutenção da saúde, e
não somente cura e reabilitação; o enfoque centrado nas potencialidades para o crescimento e não apenas na
erradicação do sintoma ou da doença; a valorização do contexto social, histórico, cultural, ambiente familiar e
psicológico dos indivíduos, além da dimensão orgânica e fisiológica.
A finalidade do PSF, como já visto, é o acompanhamento da clientela, dentro do seu contexto sociocultural,
de forma a aproximar a família, a comunidade e os profissionais, com vistas principalmente à promoção da
saúde para melhoria da qualidade de vida da população. A inserção do psicólogo na equipe de saúde da família
também deve visar à promoção da saúde da população, no que concerne à atenção para os aspectos psicoló-
gicos, tanto em termos de prevenção quanto de promoção.
Cardoso aponta como objetivos gerais da atuação do psicólogo no PSF, independente da clientela atendida,
os de atuar junto à comunidade, fornecendo e difundindo informações sobre saúde mental; identificar pessoas
portadoras de doenças orgânicas crônicas com comprometimentos emocionais que demandem assistência
psicológica; possibilitar espaço terapêutico de trocas de experiências, com vistas ao desenvolvimento das po-
tencialidades das pessoas para atender às próprias necessidades, proporcionando, além da melhora do qua-
dro clínico, a da sua qualidade de vida; atuar junto aos profissionais da equipe do PSF, para integrar esforços,
estimular a reflexão e a troca de informações sobre a população atendida e facilitar a avaliação e a evolução
clínica.
O psicólogo pode abarcar ainda, além do atendimento individual, avaliação da demanda, estudos de caso e
o incentivo para facilitação da comunicação entre a comunidade e a equipe de saúde, já que muitas vezes os
pacientes revelam dados nem sempre acessíveis à equipe. O teatro informativo pode ser utilizado para forne-
cer informações sobre o que é a psicologia e o trabalho do psicólogo, tais como seus objetivos, a questão do
sigilo, a composição dos grupos, esclarecimento sobre as concepções errôneas a respeito da psicoterapia e
do psicólogo. A visita domiciliar é outra atividade que auxilia na divulgação do trabalho, ajuda a conhecer um
pouco da realidade das pessoas atendidas e, quando necessário, a prestar assistência psicológica a pacientes
impossibilitados de sair de sua residência.
Dentro desta mesma ideia, Ronzani acrescenta que: uma das funções do psicólogo pode ser o acolhimento
dos novos pacientes, fazendo encaminhamentos, quando necessário, intervenção psicossocial, desenvolven-
do oficinas terapêuticas, atendendo a pacientes graves, fazendo visitas domiciliares e proporcionando suporte
familiar, especialmente para aqueles portadores de transtornos mentais.
Duran-Gonzáles apontam que o profissional de APS deve estar capacitado para proporcionar mudanças
de atitudes da população; entrar em contato com indivíduos que possam influenciar diretamente nas práticas
de saúde da população. O psicólogo então se torna um ator importante na medida em que pode promover a
participação da comunidade no autocuidado e ainda ser o ponto de intersecção entre a população e a equipe
de saúde.

Da formação à ação
Pensar a atuação do psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde não é uma tarefa fácil. O tempo de inserção
destes profissionais é relativamente pequeno; há um contingente reduzido de profissionais atuando na área
— apesar de vir aumentando gradativamente — existem poucas pesquisas mais sistemáticas, tanto nacionais
quanto locais, sobre a atuação do psicólogo neste campo específico de trabalho.
Nas palavras de Dimenstein, é possível apontar que tais dificuldades encontradas pelos psicólogos para a
realização da Psicologia nas Unidades Básicas de Saúde no país advêm tanto da inadequação da sua forma-
ção acadêmica para o trabalho no setor, quanto seu limitado modelo de atuação, bem como as dificuldades de
adaptar-se às dinâmicas condições de perfil profissional.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


75
A inserção em instituições públicas ou na comunidade parece ser bastante problemática tanto no que se
refere às dificuldades externas, relativas à falta de recursos, quanto à ausência de modelos de atuação, apon-
tando aí carências de uma formação acadêmica mais voltada ao modelo clínico hegemônico.
O conhecimento e as técnicas dos quais lança mão a Psicologia da Saúde são frequentemente oriundos da
clínica e naturalmente passam por uma série de adaptações que se configuram em uma verdadeira recons-
trução da atividade e da identidade do psicólogo e da Psicologia. As implicações da atuação ou reinserção do
psicólogo no campo da saúde são de natureza complexa e envolvem desde um treinamento específico para
atuar neste campo — treinamento que não tem sido observado na grande maioria dos cursos de graduação
— até o equacionamento mais otimizado possível de uma resistência que é exercida por outros profissionais,
tradicionalmente atuantes na área, em frente da “a aparente inutilidade da atuação dos psicólogos no campo
da promoção da saúde e da alta demanda para a atuação no modelo clínico”.
Essa resistência não é pequena e também não parte exclusivamente dos profissionais já firmemente esta-
belecidos no campo da saúde, mas também do próprio psicólogo que não (re)conhece as possibilidades de sua
atividade.
As perguntas que se impõem são: Como se configura a prática deste campo? É possível uma atuação junto
à comunidade? Que papel terão as práticas usualmente utilizadas na Psicologia Clínica? Yamamoto (1996) faz
a mesma pergunta: O arsenal teórico-prático de que dispõe a Psicologia pode ser aplicado em novos campos
que a Psicologia desbrava? O autor nos assegura que as respostas a essas questões não são simples e ressal-
ta que não basta mudar de cliente; é importante que, além de mudar de cliente, o psicólogo realize uma revisão
daquilo que teoricamente embasa sua.
Considerando, então, que a formação básica do psicólogo privilegia a atuação clínica, centrada no indivíduo
e localizada no consultório, é comum a mera transferência do referencial teórico obtido na graduação, para o
contexto institucional.
Spink sustenta que a pratica em instituições requer uma expansão do referencial teórico utilizado em dois
sentidos:
a) expansão do referencial contextual, ou seja, a busca de dados que permitam melhor localizar o psicólogo
e outros atores envolvidos na dinâmica social e/ou institucional;
b) “expansão do referencial teórico, no sentido de conseguir trabalhar com alteridade, ou seja, com a pers-
pectiva de um “outro” definido culturalmente como diferente do eu”.
O que está em pauta no primeiro caso é a compreensão das determinações sociais mais amplas que afe-
tam a relação profissional do psicólogo e as pessoas ou grupos que recebem algum tipo de intervenção. Já no
segundo caso, o que está em pauta é a aceitação de uma realidade multiforme, cuja definição, ou mesmo a
percepção, é fruto de uma sociedade determinada e, dentro desta, de classes e segmentos sociais específicos.
Dessa forma acreditamos que, ainda hoje, os psicólogos buscam um modelo para “fazer psicologia” nos
serviços de saúde. Reconhecemos que o trabalho é complexo e requer do psicólogo um embasamento amplo
de várias áreas do conhecimento. É um modelo que está continuamente sendo feito, uma identidade sendo
formada:
Acreditamos que podemos ser mais úteis ao campo da assistência pública à saúde a partir do momento
que nossa cultura profissional passe a fornecer modelos mais ampliados de atuação, os quais não se revelem
como barreiras à troca de saberes com outros profissionais, e que o psicólogo possa se reconhecer como um
trabalhador da saúde, preocupado com a promoção do bem-estar da população.
Discutir a formação necessária para a inserção institucional do psicólogo na área da saúde exige um mo-
mento anterior de reflexão sobre as especificidades desta prática. Ao procurar entender e pensar a formação do
psicólogo para a prática em instituições, estamos, na verdade, buscando subsídios para a sua inserção em uma
organização. Entretanto, esta organização é sobre determinada por normas gerais, que estão intimamente liga-
das às representações coletivas que, com o passar dos anos, atingem o estatuto de normas universais ou leis.
A compreensão do processo de institucionalização destas normas e, portanto, a compreensão do pano de
fundo que formata o cenário no qual se desenvolve nossa prática é obviamente um ingrediente importante para
um desempenho profissional consciente e conscientizador.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


76
A inserção do psicólogo no campo da saúde tem se mostrado, nos diferentes estudos já realizados, difícil,
tanto por questões externas quanto por falta de modelos de atuação, o que se relaciona também com o modelo
da formação hegemônico mais voltado para a clínica.
A formação acadêmica está longe de contribuir com uma inserção inovadora e mais coerente com as práti-
cas sociais e com o SUS, mas há também incertezas e dúvidas diante das mudanças, da invenção. O Depar-
tamento de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em especial o Polo de Pesquisa em
Psicologia Social e Saúde Coletiva (POPS), vem há algum tempo se preocupando com a formação crítica e ino-
vadora na área de psicologia e saúde, proporcionando experiências junto aos serviços de APS de Juiz de Fora
e região, bem como produzindo pesquisas junto com alunos de graduação e pós-graduação. Alguns resultados
positivos já podem ser observados na formação dos alunos, aumentando a preocupação em desenvolver ações
contextualizadas e criativas junto aos problemas da população brasileira. Mas ainda há um longo caminho a
percorrer para uma consolidação ainda maior dessa área.
Objetivamos aqui demonstrar várias frentes de trabalho que podem ser assumidas pelo psicólogo no campo
da saúde coletiva. A psicologia social da saúde é apresentada como referência que não se esgota como ferra-
menta de compreensão e intervenção, mas é congruente com a demanda da atenção primária.

Promoção da mudança social e enfrentamento de problemas sociais

A convergência entre Sociologia e Psicologia aplicada ao trabalho oferece uma visão abrangente para com-
preender e fomentar mudanças sociais, além de enfrentar os desafios sociais que permeiam o cenário profis-
sional. Essas disciplinas complementares fornecem percepções valiosas sobre as dinâmicas sociais, comporta-
mentais e psicológicas que moldam as organizações e comunidades. Nesse contexto, a promoção da mudança
social e a abordagem de problemas sociais emergem como metas cruciais para estabelecer ambientes de
trabalho mais equitativos e saudáveis.
A Sociologia, ao examinar as estruturas sociais e as interações entre os indivíduos, oferece um arcabouço
teórico vital para entender as dinâmicas de poder e as disparidades presentes no mundo laboral. A hierarquia
organizacional, por exemplo, muitas vezes reflete estruturas sociais mais amplas, como gênero, raça e classe.
A compreensão dessas interações é essencial para promover mudanças sociais que busquem a igualdade e
justiça dentro das organizações.
A Psicologia aplicada ao trabalho contribui para esse entendimento ao analisar os aspectos individuais que
impactam o comportamento no ambiente profissional. As percepções, atitudes e motivações dos trabalhadores
desempenham um papel significativo na recepção e implementação de mudanças sociais. A promoção de uma
cultura organizacional saudável demanda uma compreensão aprofundada das necessidades psicológicas dos
colaboradores, incentivando a motivação intrínseca e promovendo o bem-estar mental.
No contexto da promoção da mudança social, estratégias embasadas em princípios sociológicos e psi-
cológicos podem ser adotadas. A diversidade e a inclusão, por exemplo, são elementos fundamentais para
estabelecer ambientes de trabalho mais representativos e equitativos. A Sociologia ressalta a importância de
identificar e desafiar estruturas de poder que perpetuam desigualdades, enquanto a Psicologia aplicada ao
trabalho fornece ferramentas para criar programas de treinamento e sensibilização, promovendo a aceitação e
valorização da diversidade.
No enfrentamento de problemas sociais, como assédio no local de trabalho, discriminação e disparidades
salariais, a abordagem interdisciplinar entre Sociologia e Psicologia é crucial. A Sociologia oferece uma análi-
se crítica das estruturas sociais que perpetuam esses problemas, enquanto a Psicologia aplicada ao trabalho
apresenta estratégias para alterar atitudes e comportamentos prejudiciais. Intervenções que visam conscienti-
zação, treinamento em habilidades interpessoais e políticas organizacionais inclusivas tornam-se instrumentos
poderosos para erradicar problemas sociais arraigados no ambiente profissional.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


77
Além disso, a promoção da mudança social e o enfrentamento de problemas sociais demandam uma abor-
dagem holística. Isso implica considerar não apenas as questões individuais, mas também as estruturas sis-
têmicas que perpetuam problemas sociais. A Sociologia e a Psicologia aplicada ao trabalho convergem para
enfatizar a importância de abordagens integradas, combinando conscientização individual com a transformação
organizacional e social.
Entretanto, a interação entre Sociologia e Psicologia aplicada ao trabalho oferece uma base sólida para
promover a mudança social e enfrentar problemas sociais no contexto profissional. Compreender as comple-
xidades das relações sociais, juntamente com os aspectos psicológicos individuais, é crucial para desenvolver
estratégias eficazes que promovam ambientes de trabalho mais justos, inclusivos e saudáveis. A integração
dessas disciplinas não apenas enriquece a compreensão do ambiente profissional, mas também fornece ferra-
mentas valiosas para a construção de sociedades mais equitativas e justas como um todo.

Identidade pessoal, social, pertencimento e processos de categorização social. Identi-


dade de gênero, etnia, nacionalidade, entre outras

A sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois indepen-
dentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos
seres humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo inerente, que se manifesta desde o mo-
mento do nascimento até a morte, de formas diferentes a cada etapa do desenvolvimento. Além disso, sendo a
sexualidade construída ao longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela história, cultura, ciência,
assim como pelos afetos e sentimentos, expressando-se então com singularidade em cada sujeito. Indissocia-
velmente ligado a valores, o estudo da sexualidade reúne contribuições de diversas áreas, como Antropologia,
História, Economia, Sociologia, Biologia, Medicina, Psicologia e outras mais. Se, por um lado, sexo é expres-
são biológica que define um conjunto de características anatômicas e funcionais (genitais e extrage-
nitais), a sexualidade é, de forma bem mais ampla, expressão cultural. Cada sociedade cria conjuntos
de regras que constituem parâmetros fundamentais para o comportamento sexual de cada indivíduo.
Nesse sentido, a proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade nas suas dimensões biológi-
ca, psíquica e sociocultural.
Sexualidade na Infância e na Adolescência20
Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as primeiras vivências de prazer. Essas primeiras
experiências sensuais de vida e de prazer não são essencialmente biológicas, mas constituirão o acervo psí-
quico do indivíduo, serão o embrião da vida mental no bebê. A sexualidade infantil se desenvolve desde os pri-
meiros dias de vida e segue se manifestando de forma diferente em cada momento da infância. A sua vivência
saudável é fundamental na medida em que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento global dos seres
humanos.
A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a partir das possibilidades individuais e de sua
interação com o meio e a cultura. Os adultos reagem, de uma forma ou de outra, aos primeiros movimentos
exploratórios que a criança faz em seu corpo e aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças recebem
então, desde muito cedo, uma qualificação ou “julgamento” do mundo adulto em que está imersa, permeado de
valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer, o que comporá a sua vida psíquica.
Nessa exploração do próprio corpo, na observação do corpo de outros, e a partir das relações familiares é
que a criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina. Preocupa-se então mais intensamente
com as diferenças entre os sexos, não só as anatômicas, mas também com todas as expressões que ca-
racterizam o homem e a mulher. A construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo tratamento
diferenciado para meninos e meninas, inclusive nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos
padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino. Esses padrões são oriundos das representações
sociais e culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos sexos e transmitidas pela educação, o que
atualmente recebe a denominação de relações de gênero. Essas representações absorvidas são referências
fundamentais para a constituição da identidade da criança.

20 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Orientação Sexual.


Portal MEC.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


78
As formulações conceituais sobre sexualidade infantil datam do começo deste século e ainda hoje não são
conhecidas ou aceitas por parte dos profissionais que se ocupam de crianças, inclusive educadores. Para
alguns, as crianças são seres “puros” e “inocentes” que não têm sexualidade a expressar, e as manifestações
da sexualidade infantil possuem a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se deve à má
influência de adultos. Entre outros educadores, no entanto, já se encontram bastante difundidas as noções da
existência e da importância da sexualidade para o desenvolvimento de crianças e jovens.
Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem alterações hormonais que, muitas vezes, provocam
estados de excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade masturbatória e instala-se a função ge-
nital. É a fase das descobertas e experimentações em relação à atração e às fantasias sexuais. A experimen-
tação dos vínculos tem relação com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de pares amorosos
entre os adolescentes.
É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de todos os profissionais da educação a postura a ser
adotada, dentro das escolas, em face das manifestações da sexualidade dos alunos.
Como dito anteriormente, sexo também é coisa de criança21. Tendo sempre em mente que cada criança é
uma criança, vamos pensar o desenvolvimento sexual da criança.
Tomando por base os modos de viver e expressar a dimensão humana, temos seis períodos distintos - pri-
meira infância, fase pré-escolar, segunda infância, adolescência, maturidade e terceira idade. Aqui vamos nos
ater apenas aos três primeiros: primeira infância (0 a 2 anos), fase pré-escolar (2 a 6 anos) e segunda infância
(6 a 10 anos).
Primeira Infância (0 a 2 anos)
“A educação sexual começa a partir das atitudes dos pais, no momento em que decidem ter filhos”.
As primeiras atitudes dos pais podem proporcionar ou um ambiente afetivo e amoroso, ou um ambiente rís-
pido e tumultuado. Esse ambiente será a primeira influência no desenvolvimento da criança. É “nos primeiros
anos de vida que se estabelecem as bases do comportamento erótico do adulto e se inicia a formação de uma
sexualidade saudável”.
Neste período (0 a 2 anos) a criança começa a explorar seu mundo através de seu corpo, de suas sensa-
ções. Será através do gosto, do cheiro, do toque, do olhar e do ouvir que a criança vai experimentar o prazer.
Essa relação com seu corpo e com os sentidos formará suas atitudes sexuais mais tarde.
A relação que essa criança tem com seus cuidadores também será definidor das suas atitudes relacionais.
Esse primeiro vínculo é um primeiro passo. Ele será fortalecido, ou não, no seu desenvolvimento.
É nessa fase que começamos a amar e sermos amados. A nossa capacidade de amar e de se relacionar
está diretamente ligada a esse aprendizado na infância.
Fase pré-escolar (2 a 6 anos)
Essa fase tem quatro momentos importantes:
1. Formação da Identidade de gênero
A identidade de gênero é a condição de pertencer a um sexo. Nesta fase a criança começa a definir-se como
menino ou menina. Os pais e educadores(as) devem, neste momento, favorecer o processo de identificação da
criança, através da brincadeira. Mostrar as diferenças e semelhanças entre ser menino e ser menina (evitar ao
máximo estereótipos!). Reforçar a visão de sexo da criança, sem nunca desvalorizar o sexo oposto. A questão
não é superioridade/inferioridade, mas sim diferenças.
2. Assimilação do papel sexual (social)
O papel sexual diz respeito ao comportamento que a criança terá diante sua identidade de gênero. Importan-
te evitar a manutenção de preconceitos de comportamentos tipicamente masculinos e/ou femininos.
3. Aprendizagem e controle dos esfíncteres
É a primeira oportunidade da criança de aprender e exercer o autocontrole, através do treinamento do
controle dos esfíncteres.

21 Colunista Portal Educação, 2013. http://www.portaleducacao.com.br.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


79
Segundo as considerações de Figueirêdo Netto, a aprendizagem do controle dos esfíncteres, no que se
refere ao desenvolvimento da sexualidade, tem fundamental importância, pois:
a) “As áreas genitais se encontram na mesma zona do corpo que intervém na excreção. Os músculos que
participam deste ato são exatamente os mesmos que posteriormente atuarão na resposta sexual.
b) O ato de reter e expulsar os excrementos (urina e fezes) produz prazer sensual, pela tensão e alívio ou
relaxamento, que acompanham estes comportamentos.
c) O controle voluntário desses músculos, assim como as sensações prazerosas deles resultantes, são as-
sociados à sexualidade”.
Para não adiantar nem atrasar esse processo da criança é preciso ter em mente que ele(a) poderá ter este
tipo de controle entre os dois e três anos de idade. Adiantar ou atrasar esse momento pode ser prejudicial ao
desenvolvimento da criança. Importante, ainda, salientar que pais e educadores devem evitar relacionar ques-
tões negativas (como sujo, feio, associar a castigos e chantagens), no decorrer do treinamento do controle dos
esfíncteres.
4. Interesses e curiosidades sexuais
É a conhecida fase dos porquês. Além das perguntas, as crianças querem ver e saber. Com tantas perguntas,
é um bom momento para ensinar às crianças os nomes corretos das partes de seu corpo.
Como parte de seu desenvolvimento a masturbação aparece como curiosidade natural da criança de seu
corpo e suas sensações. É um jogo exploratório de sensações. Não tem a mesma conotação da masturbação
na adolescência e no adulto. Assim, é um bom momento para ensinar às crianças sobre a intimidade. O público
e o privado. Não precisa problematizar a situação, apenas orientar. A repressão é indesejada.
Além de se tocarem, as crianças exploram também os outros. É a fase da conhecida “brincadeira de médi-
co”. Se a brincadeira for entre crianças da mesma idade não há razão para se preocupar, é conhecimento não
abuso.
Nessa fase o pensamento é mágico e fantasioso, por isso devem ser evitadas conversas como a da “cego-
nha” e da “sementinha”. As respostas devem ser claras e objetivas o suficiente para satisfazer a curiosidade
da criança. Ela quer saber do fato, a maldade está na cabeça do(a) adulto(a). Outro cuidado com as histórias
fantasiosas é que elas podem gerar fantasias negativas, temores e culpas. Desnecessário.
Segunda Infância (6 a 10 anos)
Período no qual a sexualidade entra em latência. Ou seja, entra em adormecimento para ser mais bem
elaborada. É um momento de sensualidade, pois as crianças estão aptas a experimentar as sensações. Por
isso, há muitos jogos sexuais nesta fase. O lúdico aparece na imitação de modelos. É um momento em que
pais e educadores(as) devem tomar cuidado com o que falam e com o que fazem. A criança está em constante
observação. Assim, é um bom momento para transmitir informações e valores (confiança, respeito, amor, ho-
nestidade, responsabilidade), as crianças estão prestando atenção.
É nesse período que se fortalece a identidade de gênero e prepara a criança para o próximo período, a
puberdade.
O que são jogos sexuais?
Definição: são brincadeiras que ajudam a satisfazer a curiosidade sexual.
Alguns tipos:
- Cócegas;
- Pegar nos próprios genitais e nos dos / das coleguinhas;
- Brincadeiras de médico;
- Brincadeiras de papai e mamãe.
Atenção: essas brincadeiras devem ser feitas com crianças da mesma idade. E de acordo com Suplicy “os
professores constataram que em geral os jogos sexuais são realizados na hora do recreio. As crianças escolhe-
rem um lugar protegido, fora da vista do adulto; não tiram a roupa e brincam de médico e de papai-e-mamãe.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


80
Se esses jogos forem observados, mas não atrapalharem nenhuma atividade, não precisam ser interrompidos,
pois fazem parte do desenvolvimento sexual da criança. O professor só deve estar atento para que não haja
coação nessas brincadeiras”.
Sexualidade e Escola: Um espaço de Intervenção22
Desde a antiguidade a sexualidade vem gerando polêmicas, mexendo com a sensação e fantasia das pes-
soas, associada a coisas feias, inconvenientes e impróprias. Apesar da revolução sexual, da globalização e dos
meios de comunicação terem contribuído para uma modificação nas atitudes morais e nas questões ligadas ao
sexo e sexualidade, esse assunto ainda assim continua sendo um tabu.
O estudo da sexualidade envolve o crescimento global do indivíduo, tanto intelectual, físico, afetivo-emocio-
nal e sexual propriamente dito. A maioria dos pais acham constrangedor conversar sobre sexo com seus filhos,
ora pela educação recebida de seus pais, ora pela repressão ou por não saberem como abordar o tema. Assim,
os filhos na maioria das vezes, ficam sem respostas para suas dúvidas, gerando conflitos ou acidentes inespe-
rados por terem informações errôneas ao consultar variadas fontes impróprias.
A maior parte dos adolescentes passam seu tempo na escola onde começam a se sociabilizar, aflorando sua
sexualidade devido ao desenvolvimento corporal gerado pelos hormônios. A escola é o ambiente onde a intera-
ção com o mundo ao redor e com as pessoas que o cercam acontece. Depois do ambiente familiar é a escola
que complementa a educação dada pela família onde são abordados temas mais complexos que no dia-a-dia
não são ensinados e aprendidos, tendo esta uma imensa responsabilidade na formação afetiva e emocional de
seus alunos. E quanto ao assunto sexo e sexualidade? Qual o papel da escola frente a esse tema? A escola
não deve nem vai tomar o lugar da família, mas cabe a ela possibilitar uma aprendizagem correta, já que essa
instituição visa o crescimento do indivíduo como um todo.
A educação sexual acontece no seio familiar. É uma experiência pessoal contida de valores e condutas
transmitidos pelos pais e por pessoas que o cercam desde bebê. Já a Orientação Sexual é dada pela escola
onde são feitas discussões e reflexões a respeito do tema de uma maneira formal e sistematizada que constitui
em uma proposta objetiva de intervenção por parte dos educadores.
O que nos cabe é refletir acerca da importância da Orientação Sexual na Escola para a construção da ci-
dadania, de uma sociedade livre de falso moralismo e mais feliz. O trabalho de Orientação Sexual tem como
objetivo principal as mudanças nos padrões de comportamento, levando-se em conta três aspectos fundamen-
tais: a transmissão de informações de maneira verdadeira; a eliminação do preconceito e a atuação na área
afetivo-emocional. Para se fazer um bom trabalho de Orientação Sexual dentro da escola é importante dar
atenção a alguns passos:
a) apresentar um projeto para a instituição com o objetivo do trabalho;
b) fazer uma reunião com os pais e professores para esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir ao
longo do trabalho e explicar o papel de ambos junto à escola neste projeto;
c) observar a demanda da escola para que se atinja a expectativa desta;
d) a partir das séries estabelecidas para o trabalho entrar em contato com elas para explicar como este será
administrado;
e) colher, por meio de “bilhetinhos sigilosos, ” dúvidas e curiosidades de cada aluno garantindo-lhes total
sigilo;
f) após levantar as dúvidas e curiosidades fazer uma estruturação do programa a ser cumprido em diferentes
séries (conteúdo, horário, encontros, local), para uma maior eficácia;
g) estabelecer um contrato (regras sugeridas pelo grupo);
h) garantir a ética do trabalho tanto para os alunos como para os professores;
i) garantir a liberdade de opinião e o respeito do grupo pelas dúvidas de seus colegas, sem monopólio da
verdade de ambas as partes.

22 BERALDO, F. N.de M. Sexualidade e escola: um espaço de intervenção. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) vol.7
no.1 Campinas, 2003.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


81
O primeiro conteúdo indispensável neste trabalho é a diferenciação de sexo e sexualidade e também de
Educação Sexual e Orientação Sexual, que são muito confundidos na maioria das vezes. O educador de
Orientação Sexual deve ser uma pessoa aberta, livre de mitos e preconceitos referentes à sexualidade para
melhor ministrar a turma sem causar problemas com a instituição, pais, alunos e professores, podendo abordar
os assuntos através de aulas expositivas, dinâmica de grupo, folhetos explicativos, filmes e outros materiais
referentes ao tema. O trabalho não envolve nota ou reprovação.
Para finalizar seguem dois lembretes essenciais: é necessário ressaltar a importância dos pais nesse pro-
cesso para que estes não se acomodem, julgando a escola responsável pelo processo da educação sexual de
seus filhos; não cabe ao professor de Orientação Sexual virar conselheiro ou confidente dos alunos. Deve, se
necessário, encaminhar para um profissional especializado.
Os Jovens e a Sexualidade23
Para realizar uma prática adequada de Orientação Sexual com jovens, é necessário que o profissional co-
nheça o público beneficiário de sua ação, ou seja, de quem e com quem falamos na condição de educadores.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei 8.069, de 13 de julho de 1.990 - Art. 2º) “consi-
dera-se criança, [...], a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito
anos de idade” (Brasil, 1990).
Muitos autores que se preocupam com a temática da infância e juventude afirmam que não é possível definir
o período que compreende a infância e a adolescência apenas pela faixa etária. Quando podemos afirmar que
uma criança deixou de sê-lo e passou a ser adolescente? Quais comportamentos são considerados infantis,
juvenis e/ou adultos? Estes são questionamentos complexos.
Em todos os questionamentos que formulamos a respeito dos seres humanos, devemos sempre conceber
o homem enquanto ser integral, biopsicossocial. Desta forma, precisamos considerar as dimensões biológica,
psicológica e social das pessoas, compreendendo que estas não são separadas, mas integradas na existência
humana.
Em relação à dimensão biológica, percebemos que uma criança começa a deixar de sê-lo quando ela vi-
vencia o período do desenvolvimento humano chamado de puberdade. Para esta discussão, tomaremos como
referência o trabalho de Gewandsznajder.
Na puberdade, o corpo do menino ou da menina passa por um processo de transformação, deixando de ser
um corpo infantil para se tornar um corpo adulto, ou seja, pronto para reprodução.
A faixa etária que corresponde a este período é variável. Em geral, a puberdade ocorre nos garotos entre
11 e 13 anos e nas garotas entre 10 e 12 anos. É necessário saber que estas idades não são fixas, podendo
variar de pessoa para pessoa.
Tanto em garotos quanto em garotas ocorre o chamado “estirão”, ou seja, um crescimento do corpo acentua-
do em um curto período de tempo. O “estirão” costuma iniciar mais cedo nas meninas que nos meninos, razão
pela qual as meninas por volta dos 12 anos de idade são frequentemente mais altas que os meninos. Também
tanto em garotos quanto em garotas ocorre o aparecimento de pêlos pubianos e axilares. A pele se torna mais
oleosa e o corpo, através do suor, passa a ter um cheiro característico de pessoa adulta, diferenciando-se da
criança.
Nos garotos ocorre o aparecimento da barba, e a laringe se alarga provocando a tendência da voz se tornar
mais grave. Também ocorre o aumento da massa muscular, com consequente ampliação da força física, e o
aumento do pênis e testículos.
Nas garotas ocorre o aumento dos seios, quadris, nádegas e coxas, dando ao corpo o aspecto de mulher em
fase adulta. A partir da puberdade a garota passa a menstruar, característica que sinaliza que seu organismo
está pronto para gerar filhos.
É preciso deixar claro que puberdade não é sinônimo de adolescência. Puberdade compreende as
transformações corporais que tornam o corpo humano adequado para a reprodução, deixando de ser um corpo
infantil para tornar-se um corpo adulto. A adolescência compreende um período mais extenso e significativo
que a puberdade, sendo esta etapa constituinte daquela.
23 BRANCO, M. A. O.; PINTO, M. J. C.; VIANNA, a. M. S. A. Orientação Sexual com Jovens: Construindo
um Exercício Responsável da Sexualidade. Simpósio Internacional de Educação Sexual da UEM, 2009.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


82
O termo adolescência vem do termo latino adolescere, que significa “crescer, engrossar, tornar maior”. Em
relação à dimensão psicológica, segundo Canosa Gonçalves et. al. e Tavares, as crianças que se tornam
adolescentes também passam por transformações. A principal delas é em relação à própria identidade. Neste
momento, o adolescente necessita se reconhecer num corpo transformado, que não é mais o corpo infantil que
ele tinha, e que agora é um corpo adulto, visivelmente modificado.
Outro passo importante é a consolidação de si próprio enquanto pessoa “independente”, sob o ponto de
vista da determinação de suas escolhas pessoais e da responsabilidade que elas trazem. É neste momento
que pode haver uma divergência, e até um questionamento, com as regras determinadas pela família e pela
sociedade.
Na adolescência é comum ocorrer uma identificação muito intensa do jovem com seu grupo de “iguais”, em
geral outros jovens. Não é raro este grupo (galera, turma, etc.) compartilhar um determinado modo de conver-
sar, de se vestir, enfim, de se comportar. Esta identificação com o grupo é importante na construção da própria
identidade (pessoal, sexual, social) do adolescente.
Em geral, nesta fase do desenvolvimento ocorrem as primeiras manifestações da sexualidade adulta, ou
seja, o primeiro beijo, o “ficar”, o namoro, as primeiras experiências eróticas. Trata-se de uma busca pelo outro
para um relacionamento afetivo-sexual. “A adolescência é uma fase de descobertas, de desafios e a sexualida-
de humana talvez seja, para a maioria dos jovens, o aspecto mais interessante desta jornada”.
Em relação à dimensão social, precisamos considerar que a adolescência enquanto processo de desenvol-
vimento humano não é universal, ou seja, não é igual para todos os jovens. Cada um vivenciará a sua adoles-
cência de acordo com suas condições de vida, o seu lugar de moradia, a dinâmica de sua família de origem, as
características de acesso à escola ou aos serviços de saúde, as modalidades de lazer a que tem acesso, dentre
outros condicionantes. Todas as transformações vivenciadas pelo jovem são construídas mediante as relações
sociais que eles estabelecem. Não existe um “padrão”. Cada indivíduo, a partir de sua realidade social, viven-
ciará sua juventude de forma particular.
Não devemos pensar a juventude como crise, mas como um processo do ciclo vital do jovem. Isto quer di-
zer que devemos compreender o jovem não enquanto um “problema” ou um “fardo”. Deve ser compreendido
sempre a partir da sua pessoa em condição peculiar de desenvolvimento inserida num determinado contexto
sociocultural.
Outro fator importante a ser abordado é o prolongamento da juventude. Atualmente vivenciamos uma clara
dificuldade em delimitar o término deste período. Não é raro encontrarmos pessoas que pretendem terminar
seus estudos, incluindo até cursos de mestrado e doutorado, antes de decidirem morar sozinhos ou casaram-
-se, e então deixar de morar com seus pais.
Partindo da premissa de todas estas transformações contemporâneas, é interessante tomarmos a definição
do Conselho Nacional da Juventude no que diz respeito a estender até os 29 anos a faixa etária das pessoas
que são consideradas jovens.
São estes jovens que constituem o público beneficiário da prática de Orientação Sexual, no enfoque deste
trabalho.
Orientação Sexual X Educação Sexual
Os autores que se preocupam atualmente com a temática da Orientação Sexual formulam questionamentos
a respeito do termo que deve ser utilizado para definir tais práticas. Quando falamos em Orientação Sexual e
em Educação Sexual, utilizamos a mesma definição para as duas expressões?
De acordo com Ribeiro falamos em Educação Sexual quando nos referimos aos “processos culturais con-
tínuos [...] que direcionam os indivíduos para diferentes atitudes e comportamentos ligados à manifestação de
sua sexualidade”. Nesta definição, podemos pensar que a educação sexual tem seu início no nascimento de
cada indivíduo, sendo que o processo educacional acontece através da relação deste indivíduo com seu meio
social. Então, as “atitudes e comportamentos ligados à manifestação da sexualidade” são construídos por cada
pessoa em contato com a sociedade, ou seja, amigos, grupos religiosos e/ou de convivência, meios de comuni-
cação e, principalmente, a família. Portanto, a sociedade pratica ações educativas em sexualidade em relação
aos indivíduos que a constituem. Porém, em grande parte das vezes, estas ações se tornam “deseducativas”,
na medida em que reproduzem e perpetuam tabus, desinformações e atitudes repressivas em relação à sexua-
lidade humana.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


83
Para Ribeiro, a Orientação Sexual pressupõe uma intervenção institucionalizada, sistematizada e realizada
por profissionais especialmente preparados para exercer esta função. Diferencia-se, portanto, da Educação
Sexual, que acontece durante toda a vida das pessoas, e que diz respeito ao processo educacional referente às
atitudes em relação à sexualidade. Desta forma, podemos pensar a Orientação Sexual enquanto prática inter-
ventiva na vida das pessoas, prática que intervém na Educação Sexual que todas elas receberam em contato
com a sociedade em que vivem.
Citando Suplicy et. al. “Orientação Sexual é um processo de intervenção sistemática na área de sexuali-
dade, realizado principalmente nas escolas e envolve o desenvolvimento sexual compreendido como: saúde
reprodutiva, relações interpessoais, afetividade, imagem corporal, autoestima e relações de gênero. Enfoca as
dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e espirituais da sexualidade, através do desenvolvimento das
áreas cognitiva, afetiva e comportamental, incluindo as habilidades para a comunicação e a tomada responsá-
vel de decisões”.

Percebemos a concordância de Suplicy et. al. com Ribeiro em afirmar que a Orientação Sexual é uma
prática interventiva sistemática na área da sexualidade. Suplicy et. al., na definição citada, enfatiza que
a Orientação Sexual deve ser pensada e executada a partir da consideração do orientando enquanto ser in-
tegral, ou seja, devem ser consideradas suas dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e espirituais
no exercício de sua sexualidade. Além disso, a Orientação Sexual deve contemplar diversos aspectos do de-
senvolvimento sexual dos indivíduos, ou seja, saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade, imagem
corporal, autoestima e relações de gênero. Compreende-se o ser humano enquanto ser sexuado inserido num
meio social, que continuamente se relaciona com outros seres humanos. Desta forma, amplia-se o enfoque da
Orientação Sexual no Brasil que, no início e meados do século XX priorizava a dimensão biológica da sexuali-
dade. No final do século XX e nos dias atuais, deve-se compreender a sexualidade enquanto manifestação hu-
mana, com desdobramentos além da mera reprodução e da possibilidade de contágio de doenças sexualmente
transmissíveis. Tais aspectos não devem ser descartados, mas deve-se somar a eles outros aspectos como o
prazer, as relações afetivas e os papéis sexuais na (re)definição de gênero.
Neste contexto, Santos e Bruns apontam que um dos objetivos da Orientação Sexual é levar o indivíduo a
valorizar o prazer, o respeito mútuo, possibilitando-lhe uma vivência mais íntegra e feliz.

Breve histórico da Orientação Sexual no Brasil


No Brasil, a sexualidade tem sido um aspecto polêmico do cotidiano das pessoas, desde a época da Colônia
do século XVI.
O homem brasileiro branco, nos primeiros anos da colonização, mantinha relações sexuais com várias ín-
dias, tendo com elas muitos filhos, caracterizando um comportamento sexual bastante promíscuo.
Com o advento da escravatura, os jovens homens filhos dos senhores de engenho eram incentivados a se
relacionar sexualmente com as escravas negras, para provar que eram “machos”. As mulheres brancas eram
dominadas e submetidas às regras de seus pais, inicialmente, e de seus maridos, após o casamento. Em ge-
ral, casavam ainda adolescentes com homens bem mais velhos que elas. Era-lhes exigido um comportamento
acanhado e humilde frente à sociedade.
Tal cenário brasileiro se mantém praticamente o mesmo durante os séculos XVII, XVIII e XIX. Neste período
da História do Brasil não há registros conhecidos de Orientação Sexual enquanto intervenção sistematizada.
A preocupação com a Orientação Sexual no Brasil, enquanto tema científico e pedagógico, data do início do
século XX. Neste momento da história brasileira registra-se a organização dos primeiros espaços urbanos, que
originaram as cidades brasileiras. Nestes locais a comunidade científica brasileira se organizava sofrendo forte
influência europeia.
Barroso e Bruschini afirmam que, no início do século XX, esta influência europeia manifesta-se no Brasil
através de algumas correntes médicas e higienistas de sucesso na Europa. Tais correntes pregavam a neces-
sidade de uma Educação Sexual eficaz no combate à masturbação e às doenças venéreas (termo utilizado na
época para referir-se às infecções sexualmente transmissíveis - IST´s) e que preparasse a mulher para desem-
penhar adequadamente seu “nobre papel de esposa e de mãe”. Notamos que, logo no início de suas atividades

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


84
no Brasil, a Orientação Sexual carrega uma característica de incitação do medo aos jovens (combate à mastur-
bação e às doenças sexualmente transmissíveis - IST´s), além de ser impregnada pela chamada ideologia de
gênero machista (preparar a mulher para desempenhar adequadamente seu papel de esposa e mãe).
Neste momento, emerge a produção de teses, livros e manuais que tratam da Orientação Sexual, todos ba-
seados no modelo médico higienista vigente. Referenciando este período, Chauí cita uma obra datada de 1938,
de autoria de Oswaldo Brandão da Silva, intitulada Iniciação Sexual-Educacional. Este livro, segundo consta,
tinha um conteúdo destinado somente aos “meninos de valor”. Segundo esta autora, o autor da obra não expli-
ca o significado do termo “valor”, mas fica claro que as meninas estavam proibidas de ler tal obra, pois deve-
riam manter-se inocentes e ser iniciadas na vida sexual apenas por seus maridos. Interessante ressaltar que,
do grupo de meninas excluídas do acesso ao conteúdo da obra, não fazem parte as prostitutas. Estas eram
consideradas uma tentação para os meninos enquanto aquelas eram chamadas de meninas de “boa família”.
Entre as décadas de 1920 e 1940, mesma época em que foi publicado o manual citado por Chauí, foram
publicados vários outros livros de orientação sexual cientificamente fundamentados, escritos por médicos, pro-
fessores e até sacerdotes. Assim foi criada a sexologia enquanto campo oficial do saber médico.
Concomitante à consolidação do conhecimento científico da época em relação à sexualidade, a Igreja Ca-
tólica imprime severa repressão às práticas sexuais da população brasileira. Desta forma, a década de 50 é
considerada pobre no sentido de não contar com nenhuma iniciativa no campo da Orientação Sexual.
Na década de 60 surgem as primeiras experiências de Orientação Sexual nas escolas dos estados de Minas
Gerais (Belo Horizonte, em 1963, no Grupo Escolar Barão do Rio Branco), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, em
1964, no Colégio Pedro Alcântara; em 1968, nos colégios Infante Dom Henrique, Orlando Rouças, André Mau-
rois e José Bonifácio) e São Paulo (São Paulo, de 1963 a 1968, no Colégio de Aplicação Fidelino Figueiredo;
de 1961 a 1969, nos Ginásios Vocacionais; de 1966 a 1969, no Ginásio Estadual Pluricurricular Experimental).
Estas experiências são realizadas com base na ênfase ao aspecto biológico da sexualidade humana, tal qual
era o tratamento dado a esta questão nos livros que possibilitaram o surgimento da sexologia enquanto área
do conhecimento da medicina. Além disso, estas experiências foram fortemente carregadas com as marcas da
repressão das manifestações da sexualidade.
Na época das primeiras experiências em Orientação Sexual nas escolas brasileiras, o país vivia seu período
histórico e político chamado de ditadura militar. Em 1964, a população assiste à chegada das forças armadas
ao poder da República Federativa do Brasil, através da imposição do Golpe de Estado. A partir daí o regime
militar reprime não só as manifestações políticas, mas também as manifestações sexuais e as implicações nos
padrões de comportamento delas decorrentes.
Em 1968, a deputada federal do Rio de Janeiro Júlia Steinbruk apresentou um projeto de lei que previa a
introdução obrigatória da Educação Sexual nas escolas brasileiras. Tal projeto de lei não foi transformado em
legislação porque o então Ministério da Educação e Cultura, através de sua Comissão Moral e Civismo, rejeitou
o projeto, demonstrando o severo receio por parte dos gestores da educação brasileira da época em relação ao
tratamento de questões sexuais com os estudantes.
Na década de 70, cresce a censura do governo militar e há um quase desaparecimento de projetos de Orien-
tação Sexual nas escolas brasileiras. Apenas em 1978, com a abertura política trazida pelo presidente Ernesto
Geisel, a Prefeitura Municipal de São Paulo implantou projetos de Orientação Sexual em três escolas, os quais,
posteriormente, foram ampliados para muitas escolas municipais, envolvendo orientadores educacionais e pro-
fessores de Ciências e Biologia. Em 1979, a rede pública estadual paulista iniciou um trabalho de informação
aos estudantes sobre os aspectos biológicos da reprodução, por intermédio da disciplina de Ciências e Progra-
mas de Saúde da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Ao fim da década de 70 e durante a década de 80, surgem novas ações no plano da Orientação Sexual,
como o aparecimento de serviços telefônicos, programas de rádio e de televisão, enciclopédias e fascículos,
congressos e encontros de professores. Proliferam as iniciativas na rede particular de ensino. Nasce nessa
época a SBRASH - Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana.
De 1989 a 1992, na cidade de São Paulo, foi desenvolvido um abrangente projeto de Orientação Sexual nas
escolas municipais, com a participação do renomado GTPOS (Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação
Sexual). Este projeto atingiu 30.000 alunos e foram capacitados 1.105 professores para oferecer ações de
orientação sexual nas escolas.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


85
Nota-se que, desde as primeiras experiências de projetos de Orientação Sexual na década de 1960, não
existiram ações continuadas, sendo que estes projetos historicamente ficaram atrelados às vontades político-
-partidárias de prefeitos ou governadores.
Ribeiro corrobora dizendo que, somente com a aprovação da LDB - Lei de Diretrizes e Bases em 1996 e o
estabelecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais em 1997 como linhas a serem seguidas para se con-
cretizar a meta da educação para o exercício da cidadania, a Orientação Sexual teve oficialmente reconhecida
sua necessidade e importância enquanto ação educativa escolar.

Os programas de Orientação Sexual

Podemos constatar na maioria dos programas de Orientação Sexual executados no Brasil, ainda nos dias
atuais, uma tendência de mostrar apenas os problemas e possíveis más consequências da sexualidade. Em
geral, no conteúdo destes programas são enfatizadas (quando não são exclusivas) as IST - Infecções Sexual-
mente Transmissíveis e as gravidezes precoces na adolescência, com maternidade e/ou paternidade indeseja-
das. Este conteúdo não sensibiliza os jovens para a discussão construtiva do tema sexualidade humana. Eles
costumam não se sentir à vontade para receber uma adequada Orientação Sexual, pois identificam claramente
a repressão sexual que experimentam em seu meio social, aqui também reproduzida pelos profissionais orien-
tadores sexuais.
Em contato com um conteúdo de Orientação Sexual que prioriza os problemas advindos de uma vivência
inadequada da sexualidade e não os aspectos afetivos, prazerosos, e de respeito às relações humanas, os
jovens costumam não perceber uma relação coerente entre o conteúdo abordado e suas próprias experiências
reais concretas. Comenta-se que o sexo traz problemas, mas a maioria dos jovens percebe suas experiências
sexuais como prazerosas, surgindo aí um paradoxo.
Desta forma, urge a necessidade da discussão de conteúdos adequados à realidade dos jovens para que
eles possam realmente tomar atitudes responsáveis na vivência de suas sexualidades. Assim, um programa
efetivo de Orientação Sexual deve reconhecer o exercício prazeroso da sexualidade, sem deixar de contemplar
as medidas de proteção à saúde e os métodos contraceptivos para tornar possível a emergência de materni-
dades e paternidades responsáveis, no momento de escolha consciente de cada pessoa que deseje ter filhos.
Nos dias atuais, percebe-se a crescente preocupação de alguns pais e educadores diante do número de
gestações na adolescência. Segundo o Ministério da Saúde, enquanto a taxa de fecundidade de mulheres
adultas tem caído nas últimas quatro décadas, entre as mulheres jovens existe uma relação inversamente pro-
porcional. “Desde os anos 90, a taxa de fecundidade entre adolescentes aumentou 26%.
Tal preocupação mobiliza e estimula o avanço das ações em orientação sexual, o que pode ser intensamen-
te benéfico para os jovens, visto que eles poderão ter maior acesso a programas desta natureza. No entanto,
cabe questionar se pais e educadores ainda mantêm seu foco sob uma concepção repressiva da sexualidade
humana, desejando que uma Orientação Sexual possa produzir uma atitude sexualmente abstinente dos jo-
vens brasileiros, desejo que se mostra absolutamente inalcançável e indesejável. De outro modo, a preocupa-
ção advinda dos pais e educadores quanto ao número de gestações na adolescência pode ser um ponto de
partida para propiciar espaços abertos de discussão, onde o jovem possa refletir sobre sua própria sexualidade,
no sentido de conscientemente poder efetuar escolhas para sua vida, que incluem ter ou não filhos. Para tal
escolha, o jovem, que num futuro próximo se tornará um adulto, deve ter conhecimento e autonomia sobre o
uso de métodos contraceptivos.
Outra preocupação de pais e educadores que mobiliza a execução de programas de Orientação Sexual são
as doenças sexualmente transmissíveis uma vez que, ao iniciar a vida sexual, muitos jovens, ainda que pos-
suam conhecimento de prevenção, não utilizam preservativo.
Infelizmente a maioria dos programas brasileiros de Orientação Sexual não é contínua. Caracterizam-se
muitas vezes pelo oferecimento de palestras pontuais sobre sexualidade. Este tipo de programa não atinge os
objetivos de propiciar elementos para uma construção adequada do exercício da sexualidade dos jovens. Para
trazer efetivos benefícios à juventude, o processo de educação precisa de continuidade, de vínculo, de tempo,
de reconhecimento.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


86
Orientação Sexual como Tema Transversal
O governo federal brasileiro, através do Ministério da Educação - MEC, em seus Parâmetros Curriculares
Nacionais (1997), estabelece a Orientação Sexual no Ensino Fundamental enquanto tema transversal, isto é,
um assunto a ser trabalhado em todas as disciplinas escolares, por quaisquer professores que se sintam mobi-
lizados, sempre que houver espaço na grade curricular ou em horários extraclasses.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, “propõe-se que a Orientação Sexual oferecida pela
escola aborde com as crianças e os jovens as repercussões das mensagens transmitidas pela mídia, pela fa-
mília e pelas demais instituições da sociedade. Trata-se de preencher lacunas nas informações que a criança
e o adolescente já possuem e, principalmente, criar a possibilidade de formar opinião a respeito do que lhes é
ou foi apresentado. A escola, ao propiciar informações atualizadas do ponto de vista científico e ao explicitar e
debater os diversos valores associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais existentes na sociedade,
possibilita ao aluno desenvolver atitudes coerentes com os valores que ele próprio eleger como seus”.

Percebemos o complexo dever atribuído à Orientação Sexual no âmbito escolar na medida em que é sua
função a reflexão contínua sobre as informações constantes recebidas pelos jovens em suas relações sociais.
Daí decorre a necessidade de que os profissionais que executam programas de Orientação Sexual tenham
conhecimentos científicos suficientes e adequados para abordar as demandas cotidianas da juventude em re-
lação à sexualidade. É preciso que, pela Orientação Sexual, os jovens possam formar suas opiniões a respeito
do tema para propiciar um pleno exercício de suas sexualidades.
Apesar da clara proposição dos PCN de conceber a Orientação Sexual no âmbito escolar enquanto tema
transversal extremamente importante para a formação de valores conscientes pelos jovens em relação à se-
xualidade, muitas dificuldades têm permanecido no exercício diário desta prática educacional. Como sexo é
um assunto intensamente repleto de repressões em nossa sociedade ocidental, muitos educadores não mani-
festam interesse sobre o tema, deixando de buscar formação adequada para o trabalho de Orientação Sexual
com a juventude.
Além dos profissionais diretamente em contato com os jovens, há uma grande parcela de educadores que
são dirigentes de estabelecimentos educacionais e, reproduzem as mesmas repressões sociais em relação à
sexualidade, não contribuindo positivamente para a execução de bons programas de Orientação Sexual, uma
vez que não acreditam que este tema seja importante para a comunidade estudantil ou acreditam que falar
sobre sexualidade com jovens estudantes pode induzi-los à prática precoce de relações sexuais.
A Orientação Sexual na escola ainda tem um extenso caminho a ser trilhado para que a sexualidade, pre-
sente na vida de todas as pessoas, possa ser tratada (e aprendida) pelos profissionais da educação e seus
respectivos educandos sem os massacrantes e silenciadores tabus e com respeito e propriedade, para inibir
práticas inadequadas e produzir práticas saudáveis do exercício da sexualidade.
O Educador/Orientador Sexual
Retomando a discussão sobre a definição dos termos “educação sexual” e “orientação sexual” presente no
item “Orientação Sexual X Educação Sexual” deste trabalho, encontramos com maior frequência na literatura
especializada o termo “educador sexual” referindo-se àquele profissional que exerce a prática educacional de
Orientação Sexual, enquanto prática institucionalizada e sistematizada. Desta forma, neste momento, utilizare-
mos o termo “educador sexual” para fazermos referência a este profissional especializado e não aos membros
da família e demais relações interpessoais dos jovens, que contribuem para a sua educação em um sentido
mais amplo, conforme Vitiello.
Segundo Canosa Gonçalves, o desenvolvimento psicossexual é um processo único e pessoal, que sofre
transformações ao longo do processo por diversos aspectos do comportamento sexual humano sendo eles:
constituição biológica do indivíduo (hereditariedade, níveis hormonais), relações familiares, padrão econômico,
características culturais, adoção da fé, entre outros.
Portanto, o educador sexual, ao realizar sua prática, está inserido neste complexo contexto do comporta-
mento humano e deve intervir nesta realidade. Os jovens com os quais o educador sexual trabalhará trazem
em suas histórias de vida diversas realidades, variadas construções biopsicossociais em um mesmo grupo

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


87
de jovens orientandos. Cabe ao educador sexual ter capacidade para perceber tais diferenças e pautar suas
ações de maneira a privilegiar a diversidade, num contexto de respeito às escolhas pessoais de cada jovem.
Ao educador sexual é requerida abertura intelectual, moral e afetiva para tornar possível a realização da Orien-
tação Sexual com jovens tão diversos.
A Orientação Sexual deve ser uma prática ofertada a todos os jovens, mas não uma prática arbitrária e uni-
dimensional, que reproduz os preconceitos repressivos de nossa sociedade. Assim, o educador sexual deve
ser flexível em relação às diversas orientações afetivo-sexuais, às religiosidades, enfim, diversas concepções
construídas sobre sexualidade na história pessoal de cada jovem. Orientação Sexual “se destina à pessoa hu-
mana, com a prerrogativa de igualdade entre os seres humanos, em primeiro lugar”.
O educador sexual deve apresentar adequação sexual, isto é, reconhecer-se enquanto pessoa sexuada,
com suas preferências e limites, e não influenciar as decisões dos jovens a partir destas preferências. Diferen-
ciar-se pessoalmente de quem orienta é imprescindível para que o educador sexual possa propiciar condições
para reflexão ao jovem para que este possa realizar suas próprias escolhas. Segundo Canosa Gonçalves um
bom educador sexual é “aquele que convive com os jovens no dia-a-dia, que os conhece e é reconheci-
do por eles, e que tem em sua prática profissional os pressupostos da educação”.
Desafiante para o trabalho do educador sexual com jovens é utilizar métodos e técnicas que prendam
a atenção deste público, que provoquem reflexão e que sejam capazes de fazer com que o jovem se
comprometa consigo próprio e com suas parcerias.
É imprescindível que o educador sexual possua conhecimentos científicos adequados sobre desenvolvimento
humano, constituição dos órgãos sexuais, saúde reprodutiva, métodos de prevenção às IST´s e/ou contracep-
tivos, relacionamentos interpessoais e relações de gênero. Não é necessário que o profissional detenha estes
conhecimentos em nível de especialista em sexualidade humana, mas deve continuar a buscar atualizar tais
saberes, afim de oferecer uma prática de qualidade em relação à Orientação Sexual.
Nesta realidade, o desafio proposto ao orientador sexual é que, através de seu trabalho, possa propiciar con-
dições para que os jovens reflitam a respeito de suas sexualidades e possam exercê-las de maneira saudável.
Segundo Vitiello educar é dar ao educando condições e meios para que cresça interiormente.

Mas afinal o que é diversidade sexual de gênero no ambiente escolar?


Gênero e Sexualidade: Diálogos e Conflitos
Marcas epistemológicas
O modo de compreender a diferença evoluiu no sentido de pensa-la junto com o seu duplo, seu contrário,
seu avesso, ou seja, ela é sempre relacional e dificilmente bipolarizada. Esse modo de compreensão aguça a
sensibilidade humana e sua condição de experimentar, de se (auto) inventar.
A relevância do debate crítico ancorado no domínio discursivo da heterossexualidade que, pretensiosamente
hegemônica e unificada em um modo de ser, desconsidera outras formas que não atendem às suas práticas
discursivas. Pensamos que essa situação se reflete diretamente nas práticas curriculares, prejudicando o en-
tendimento de diversas relações sociais e culturais presentes na escola, e mais amplamente, na sociedade.
Estamos entendendo como currículos as ações escolares, culturais e tecnológicas (arquitetura, livros didáticos,
vestimentas, músicas, conteúdos e dizeres científicos, meios midiáticos e outros) que, significadas na cultura,
ensinam e regulam o corpo, produzindo subjetividades e arquitetando formas e configurações de viver na so-
ciedade.
Os equívocos
Recorda-se que, no Brasil, a homossexualidade deixou de se configurar como doenças nos instrumentos
médicos (mais precisamente como desvio mental e transtorno sexual), em fevereiro de 1985. Essa alteração foi
fruto de uma intensa campanha, liderada pelo antropólogo Luiz Mott, junto com o Conselho Federal de Medicina
(CFM) que, por resolução, retirou a homossexualidade da lista de doença. Sendo importante lembrar que, já
em 1973, a American Psychiatric Association, afirmara que a homossexualidade não tinha ligação alguma com
qualquer tipo de patologia e propusera a sua retirada do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos
Mentais (DSM-IV). Já a Organização Mundial de Saúde (OMS), somente no dia 17 de maio de 1990, reuniu-se

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


88
em Assembleia Geral e retirou a homossexualidade de sua lista de doenças mentais, declarando que ela não
constituía um distúrbio, uma doença ou perversão. Assim, o que antes tinha sido classificado, estabelecido e
difundido como desvio e anormalidade, a partir dessa assembleia, seria considerado normal.
Se aceitarmos a sexualidade assim como a experiência estão condicionadas pela necessidade humana de
se construir nas interações sociais, culturais e históricas, aceitaremos também que não há uma única sexua-
lidade. A ausência de liberdade impede o movimento de busca pela completude, na qual a sexualidade, como
dimensão da humanidade, se constitui.
Existe um nexo entre a sexualidade, a vida e a curiosidade pelo saber. Esse movimento infinito em busca de
completude e em busca de conhecimento é fator que constitui o ser humano e seu desejo de liberdade.
No entanto, ainda que pareça contraditório, não confiamos no desejo como princípio, condição e direito de
liberdade. Não cremos, em absoluto, que haja desejo anterior a um conjunto de normas ou acordos sociais que
o faça livre. Nós o pensamos como criado singularmente, mas em redes de relações.
Sem dúvidas, a compreensão da sexualidade poderá contribuir, de modo significativo, para novas possibili-
dades de construção de conhecimentos e caminhos de busca do saber. Não se trata, portanto, de aprisioná-la
nos discursos sobre o ato sexual, mas de aproveitá-la em seu potencial epistemológico. Essa análise é espe-
cialmente oportuna e necessária à escola.
A Discussão na Escola
Na escola, as atitudes de hostilidade às identidades sexuais dissidentes são capazes de gerar inúmeras
situações de violências homofóbicas. Algumas, que não se encontram na esfera dos números e dados quanti-
tativos, são vivenciadas no silêncio e ocultadas na invisibilidade.
A discriminação afirma o “direito” dos que discriminam e a subalternidade dos que são discriminados. Nesse
sentido, ela é observada nos espaços-tempos escolares. As identidades vinculadas às expectativas de gênero
e/ou sexo biológico estão no interior das hierarquizações e classificações sociais, tanto quanto nos currículos
e, mais amplamente, nas ações e relações do cotidiano escolar.
A sexualidade, infelizmente, é algo temido e capaz de gerar tantos discursos na sociedade, na ciência e na
cultura. Sua estreita relação com o conhecimento amedronta os que se nutrem da arrogância, porque fragiliza
suas verdades e certezas.
Foucault24 nos ajuda a observar que é preciso fortalecer, aprofundar e prosseguir contra a dicotomia e lógica
binária, até que as oposições binárias deixem de ter sentido e se consolidem convivências solidárias, em con-
textos sem discriminações e violências. Como estratégia para fazer difuso o antigo jogo de poder que se instala
na relação entre opressor e oprimido, a proposta foucaultiana é a “proliferação” de saberes sobre os seres hu-
manos e as relações e de poder que os oprimem, de tal modo que o modelo jurídico de poder como opressão
e regulação deixe de ser hegemônico. Talvez, desse significado de “proliferação” de saberes, possamos retirar
as bases para “proliferar” inúmeras e ilimitadas formas de compreender os seres humanos, sem as violências,
já tantas vezes vivenciadas, e com tantas exterminações em massa, como na Segunda Guerra, devido à não
aceitação do “outro”, a quem se atribui dessemelhança e desigualdade, potencializando os efeitos destrutivos
da xenofobia que, em todas as suas manifestações, incluindo as homofóbicas, conduz e justifica a aversão, o
domínio ou a eliminação dos “estranhos”, que ameaçam e incomodam o exercício arbitrário do poder.
Diversidade e Educação: Apontamentos Sobre Sexualidade e Gênero na Escola
Desde as décadas de 1960 e 1970, expressivas mudanças socioculturais e históricas ocorreram, no que se
refere às perspectivas das relações de gênero e sexualidade. Essas mudanças se acentuaram de modo signi-
ficativo, a partir, não apenas da atuação de movimentos sociais, mas também da emergência da discussão da
AIDS nos anos 80.
Novas maneiras de entender e discutir as questões foram sendo consideradas, com desdobramentos na
esfera social e política (por meio de Organizações Não Governamentais/ONGs, de movimentos sociais e de
políticas públicas) e, na esfera acadêmica, com a efetivação de estudos em vários campos de conhecimento,
que têm direcionado seu foco para a sexualidade e as relações de gênero, como fenômenos a serem conheci-
dos de modo mais fundamentado, expandindo sua discussão para outros aspectos, como os das identidades e
seus fundamentos históricos e culturais.
24 FOUCAULT, M. História da sexualidade - A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


89
Sexo e sexualidade são frequentemente tomados como sinônimos; todavia, sexo admite uma compreensão
referida ao aspecto natural, biológico, da distinção física entre o homem e a mulher. No senso comum, o sentido
de sexo remete ao ato sexual. Já a sexualidade refere-se à esfera mais ampla, dos sentimentos, das interações
entre as pessoas.
Recorda-se e reafirma-se, portanto, que a sexualidade, como construção social, tem absorvido, historica-
mente, em seus significados, elementos das relações de gênero, frequentemente submetidas a prescrições de
como homens e mulheres devem vivenciá-las. Contudo, apesar da sexualidade estar imbricada, implícita ou
explicitamente às relações de gênero, essas não são consideradas sinônimas25. A vivência da sexualidade não
é determinada por normas padronizadas às quais homens e mulheres devem se adaptar. Esse é um dos prin-
cípios que motivam e sustentam significados, mas amplos da sexualidade e promovem a sua problematização,
que incorpora aportes como os que são revistos nas relações de gênero.
Problematização das Relações de Gênero: Revisão de Dados Históricos e Conceituais
O entendimento das relações de gênero implica a noção de que, no decorrer da vida, por intermédio das
mais díspares instituições e práticas sociais, os sujeitos se constituem como homens e mulheres, em uma ação
que não é unidimensional, coerente ou congruente e que também sempre estará inacabada ou incompleta.
Sendo assim, partindo desse pressuposto de incompletude, encontra-se fundamento para realçar a noção
de gênero na educação, já que essa disposição teórica expande socialmente a própria ideia de educação, po-
dendo-se entender que educar envolve um conjunto de forçasse de processos, em cuja dinâmica os sujeitos
aprendem a se aceitar como homens e mulheres, na esfera das sociedades e dos grupos que estão inseridos.
Essa é mais uma premissa que contribui para a desconstrução de estereótipos que limitam e reduzem a com-
preensão social, culturalmente contextualizada, de gênero.
Identidades Sexuais: Revisão de Perspectivas de Desconstrução de Estereótipos
É oportuno indagar se é plausível que a manifestação aparente de identidades sexuais não normativas
na escola colabore para desajustar dispositivo de rejeição ou, ao contrário, para realçá-lo, uma vez que a
construção da heterossexualidade e da homossexualidade tem configurado por meio de oposição recíproca.
No mesmo sentido, é apropriado indagar sobre o alcance político de transformação para uma escolarização
radicalmente não heterossexista e excludente, com base na visibilidade dessas identidades.
Dessa forma, enfatiza-se a relevância da efetivação de pesquisas sobre a presença de sexualidades não
normativas no espaço escolar como forma de ampliar vetores de análises dos processos educacionais pos-
sivelmente geradores de antagonismos e exclusão que se contrapõem a políticas que realçam o princípio da
autonomia na educação inclusiva e, nela, o respeito ao significado plural da diversidade, sem imposição de uma
única identidade central, padrão.
Contudo, o que se espera da escola, no interesse de ensinar e aprender, mais amplamente, sobre sexuali-
dade, encontra barreiras em processos de atitudes homofóbicas que ainda permanecem contaminando o seu
ambiente.
Ninguém Pode Calar a Homossexualidades e Homofobia na Escola
Recorda-se que, desde os anos 90, a preocupação com a prevenção da AIDS e da gravidez na adolescência
inseriu-se nas escolas de modo mais evidente e sistematizado. A ideia era a de que várias disciplinas agre-
gassem o assunto de modo conectado com outros temas. No entanto, o tratamento alicerçado em uma ótica
biologizante do sexo prosseguiu, sendo o debate sobre a diversidade de orientação sexual ainda incipiente ou,
na melhor das hipóteses, relegado a segundo plano.
Espera-se que a instituição escolar, como espaço de formação, local onde se formam cidadãos e se estudam
e consolidam direitos, reconheça o problema da discriminação gerada pela homofobia em suas salas de aula
e perceba a necessidade de enfrentá-lo, no interesse de que sejam superadas a intolerância e a violência, que
se multiplicam em sofrimento, silêncio, invisibilidade, medo e morte física e existencial.

25 LOURO, G.L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 2 ed., Petrópolis:
Vozes, 1998.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


90
Para Saber Mais...
A seguir alguns termos relevantes a serem considerados sobre a diversidade de gênero:
Assimetrias de Gênero: desigualdades de oportunidades, condições e direitos entre homens e mulheres,
gerando hierarquias. Por exemplo: no mercado de trabalho.
Binarismo: forma de pensamento que separa e opõe masculino e feminino, apoiando-se numa concepção
naturalizante dos corpos biológicos.
Bissexual: pessoa que tem desejos, práticas sexuais e relacionamento afetivo-sexual com pessoas de am-
bos os sexos;
Corpo: inclui além das potencialidades biológicas, todas as dimensões psicológicas, sociais e culturais do
aprendizado pelo qual as pessoas desenvolvem a percepção da própria vivência. Não existe um corpo humano
universal - mas sim corpos marcados por experiências específicas de classe, de etnia, de raça, de gênero, de
idade. Visto que os corpos são significados e alterados pelas diferentes culturas, pelos processos morais, pelos
hábitos, pelas distintas opções e possibilidades de desejo, além das diversas formas de intervenção e produção
tecnológica. Por isso, o corpo é uma produção histórica.
Foucault ao analisar instituições como escolas, prisões, hospitais psiquiátricos, fábricas, fala das manei-
ras como as diferentes disciplinas controlam, domesticam, normalizam os corpos. Sua preocupação é com
as práticas sociais, sendo que é no corpo que se dá o controle da sociedade sobre os indivíduos. Os corpos
apresentam as marcas do processo de passar ou não pela escola como o auto disciplinamento, o investimento
continuado e autônomo do sujeito sobre si mesmo.
Louro parte do pressuposto antropológico de que “os corpos são o que são na cultura”, isto é, que os corpos
adquirem seu significado apenas através dos discursos na cultura e na história. Essa vertente se afasta das
discussões teóricas nas quais o corpo é tido como “natural”, no qual o biológico determina o gênero.
Desigualdade: é um fenômeno social que produz uma hierarquização entre os indivíduos e/ou grupos que
não permite o tratamento igualitário (em termos de mercado de trabalho, de acesso a bens e recursos, para
todos e todas.
Essa desigualdade existe na divisão dos atributos entre homens e mulheres. Esse desnível se evidencia em
vários contextos: familiar, social, escolar, religioso, econômico, político, .... Dessa forma, fica claro que existem
fronteiras que separam atitudes e comportamentos tidos como apropriados, válidas e legítimas relacionadas ao
sexo masculino e ao feminino.
Diferença: indivíduos e/ou grupos possuem várias formas de distinção e de semelhanças (cor, sexo, idade,
nacionalidade). A desigualdade pauta-se por essas diferenças e semelhanças que constituem os indivíduos e/
ou grupos.
Direitos Sexuais: direitos que asseguram aos indivíduos a liberdade e a autonomia nas escolhas sexuais,
como a de exercer a orientação sexual sem sofrer discriminações ou violência. Os direitos sexuais englobam
múltiplas expressões legítimas da sexualidade, como por exemplo, o direito à saúde - direito de cada pessoa de
ver reconhecidos e respeitados o seu corpo (autonomia), o seu desejo e o seu direito de amar (reconhecimento
da diversidade sexual).
Discriminação: ação de discriminar, tratar diferente, excluir, marginalizar.
Estereótipo: é uma generalização de julgamentos subjetivos feitos a um grupo ou a um indivíduo. Pode
ser atribuindo valor negativo desqualificando-os e impondo-lhes um lugar inferior, ou simplesmente, reduzindo
determinado grupo ou indivíduo a algumas características e, assim, definindo lugares específicos a serem ocu-
pados.
Feminilidade: se refere às características e comportamentos considerados por uma determinada cultura
associados ou apropriados às mulheres.
Caracterizar os comportamentos como “masculinos” ou “femininos” é basear-se nas noções essencialistas
do binarismo mulher/homem, isto quer dizer que, atributos que muitas vezes são considerados femininos po-
dem estar baseados no biológico e nas diferenças físicas. Dessa forma, a feminilidade nos homens, bem como

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


91
a masculinidade nas mulheres, é considerada negativa por agir contra os papéis tradicionais da nossa cultura.
Um estereótipo comum para homens homossexuais é de que são efeminados porque utilizam ou exageram
comportamentos tidos como femininos, por exemplo.
Gênero: conceito formulado a partir das discussões trazidas do movimento feminista para expressar con-
traposição ao sexo biológico e aos termos “sexo” e “diferença sexual”, distinguindo a dimensão biológica da di-
mensão sexual e, acentuando através da linguagem, “o caráter fundamentalmente social das distinções basea-
das no sexo”. Não com a intenção de negar totalmente a biologia dos corpos, mas para enfatizar a construção
social e histórica produzida sobre as características biológicas. Dessa forma, gênero seria a construção social
do sexo anatômico demarcando que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência
da anatomia dos seus corpos.
Heteronormatividade: termo utilizado para expressar que existe uma norma social que está relacionada ao
comportamento heterossexual como padrão. Dessa forma, a ideia de que apenas o padrão de conduta hete-
rossexual é válido socialmente, colocando em desvantagem os sujeitos que possuem uma orientação sexual
diferente da heterossexual.
Heterossexismo: se refere à ideia de que a heterossexualidade é a orientação sexual “normal” e “natural”.
Considerar a heterossexualidade como “natural”, aponta para algo inato, instintivo e que não necessita de ser
ensinado ou aprendido. Ao considerar a heterossexualidade “normal”, contrapõe-se a ideia de que as outras
orientações sexuais (homossexualidade e bissexualidade, por exemplo) são um desvio à norma e reveladoras
de perturbação, não sendo encaradas como um dos aspectos possíveis na diversidade das expressões da
sexualidade humana. O heterossexismo funciona através de um sistema de negação e discriminação - a so-
ciedade tende a negar a existência da homossexualidade, tornando-a invisível (em quantos manuais escolares
existem referências neutras ou positivas à homossexualidade?) e tende a reprimir e discriminar todos aqueles
que se tornam visíveis.
Heterossexual: quem tem atração sexual por pessoas do sexo oposto ao seu, e relacionamento afetivo-se-
xual com elas. Heterossexuais não precisam, necessariamente, terem vivido experiências sexuais com pes-
soas do mesmo sexo ou do sexo oposto para se identificarem como tal.
Heterossexualidade Compulsória: sistema que acomoda e hierarquiza as relações de gênero, no qual o
homem é o modelo para todas as relações, inclusive aquelas em que ele não está presente.
Homoafetivo: é um termo utilizado para descrever relações entre pessoas do mesmo sexo e tem relação
com os aspectos emocionais e afetivos envolvidos na relação amorosa e sexual entre essas pessoas.
Homofobia: termo usado para descrever vários fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a discrimi-
nação e à violência contra os homossexuais (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação
sexual diferente do padrão heterossexual). O termo, no entanto, não se refere ao conceito tradicional de fobia,
facilmente associável à ideia de doença e tratados com terapias e antidepressivos. Atualmente, grupos lésbicos,
bissexuais e transgêneros, com o intuito de conferir maior visibilidade política à suas lutas e criticar normas e
valores postos pela dominação masculina, propõem, também, o uso dos termos lesbofobia, bifobia e transfobia.
Daniel Borrillo faz uma leitura epistemológica e política desse conceito, não para compreender a origem e
o funcionamento da homossexualidade, mas para “analisar a hostilidade provocada por essa forma específica
de orientação sexual”. Segundo este autor quando a homossexualidade requer publicamente sua expressão é
que se torna insuportável, pois rompe com a hierarquia da ordem sexual. Por isso, a tarefa pedagógica deve ser
questionar a heterossexualidade compulsória e mostrar que a hierarquia de sexualidades é tão insustentável
quanto a de sexos, bem como incluir a ideia de diversidade sexual em livros e apostilas escolares.
Homossexual: é a pessoa que tem atração sexual e afetiva por pessoas do mesmo gênero e relacionamen-
to com elas.
Homossexualidade: é a atração sexual e afetiva por pessoas do mesmo sexo. Cabe uma ressalva, não
é correto o uso do termo homossexualismo, porque reveste de conotação negativa, atribuindo-lhe significado
de doença e aberração. Por isso, devemos preferir a utilização dos termos homossexualidade, lesbianidade,
bissexualidade, travestilidade, transgeneridade e transexualidade.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


92
Identidade De Gênero: expressão utilizada primeiramente no campo médico-psiquiátrico para designar os
“transtornos de identidade de gênero”, isto é, o desconforto persistente criado pela divergência entre o sexo
atribuído ao corpo e a identificação subjetiva com o sexo oposto. Entretanto, atualmente, a identidade de gê-
nero corresponde à experiência de cada um, que pode ou não corresponder ao sexo do nascimento. Podemos
dizer que a identidade de gênero é a maneira como alguém se sente e se apresenta para si ou para os outros
na condição de homem ou de mulher, ou de ambos, sem que isso tenha necessariamente uma relação direta
com o sexo biológico. É composta e definida por relações sociais e moldadas pelas redes de poder de uma
sociedade. Os sujeitos têm identidades plurais, múltiplas, identidades que se transformam, que não são fixas
ou permanentes, que podem até ser contraditórias. Os sujeitos se identificam, social e historicamente, como
masculinos e femininos e assim constroem suas identidades de gênero.
Cabe enfatizar que a identidade de gênero se trata da forma que nos vemos e queremos ser vistos, reconhe-
cidos e respeitados, como homens ou mulheres, e não pode ser confundida com a orientação sexual (atração
sexual e afetiva pelo outro sexo, pelo mesmo sexo ou por ambos).
Identidade Sexual: identidades sexuais se constituem através das formas como vivemos nossa sexualida-
de, e refere-se a duas questões diferenciadas:

1) É o modo como a pessoa se percebe em termos de orientação sexual;

2) É o modo como ela torna pública (ou não) essa percepção de si em determinados ambientes ou situa-
ções. Quer dizer, corresponde ao posicionamento (nem sempre permanente) da pessoa como homossexual,
heterossexual, ou bissexual, e aos contextos em que essa orientação pode ser assumida pela pessoa e/ou
reconhecida em seu entorno.
Intersexual ou Intersex: a palavra intersexual é preferível ao termo hermafrodita e é um termo usado para
se referir a uma variedade de condições (genéticas e/ou somáticas) com que uma pessoa nasce, apresentando
uma anatomia reprodutiva e sexual que não se ajusta às definições de masculino e feminino, tendo parcial ou
completamente desenvolvidos ambos os órgãos sexuais, ou um predominando sobre o outro. A intersexuali-
dade, enquanto transgeneridade é uma condição e não uma orientação sexual. Portanto, as pessoas que se
autodenominam intersexuais podem se identificar como homossexuais, heterossexuais ou bissexuais.
Lesbofobia: termo usado para descrever vários fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a discrimi-
nação e à violência contra as lésbicas (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação sexual
diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
Machismo: é a crença de que os homens são superiores às mulheres. É uma construção cultural que definiu
que as características atribuídas aos homens, tem um valor maior. Se pensarmos na educação de meninos e
meninas, veremos que há um tratamento diferenciado que reproduz as manifestações de machismo nos me-
ninos, e às vezes, nas próprias meninas. Ao incentivar (infidelidade, violência doméstica, esporte, diferença de
direitos).
Masculinidade: faz oposição ao termo feminilidade e diz respeito a imagem estereotipada de tudo aquilo
que seria próprio dos indivíduos homens, ou seja, às características e comportamentos considerados por uma
determinada cultura como associados ou apropriados aos homens. Ver feminilidade, pois são conceitos relacio-
nais que não passíveis de serem entendidos separadamente.
Masculinidade Hegemônica: é um modelo construído socialmente que controla, domina e substima as
diversas formas de expressão de outras masculinidades, tornando-se um padrão de masculinidade.
Movimento Feminista: o movimento feminista surgiu para questionar a organização social, política, eco-
nômica, sexual e cultural de uma sociedade profundamente hierárquica, autoritária, masculina, branca e ex-
cludente. Sendo assim, o feminismo pode ser entendido como uma luta pela transformação da condição das
mulheres, que é pública e também privada. E que pode ser entendida, a partir de três eixos:

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


93
1) como movimento social e político;

2) como política social;

3) e como ciência, ampliando os debates teóricos e conceituais (derivando a categoria gênero como analítica
de sexo).
Essas vias se entrecruzam, por diversas vezes, para desestabilizar representações, questionar a divisão
sexual da sociedade, opor-se à hierarquização dos gêneros e, por isso, as teorias nem sempre podem disso-
ciar-se de suas ações políticas, e vice-versa.
Poder/Relações de Poder: nossas definições, crenças, convenções, identidades e comportamentos se-
xuais têm sido modeladas no interior de relações definidas de poder. Para Michel Foucault, o poder está em
toda parte; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares. O poder se exerce de diversas
formas: poder de produzir os corpos que controla, produz sujeitos, fabrica corpos dóceis, induz comportamen-
tos. Foucault propõe que observemos o poder como uma rede que, capilarmente, se distribui por toda a socie-
dade. Nas palavras dele: “lá onde há poder, há resistência e, no entanto (ou melhor, por si mesmo) esta nunca
se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder”.
Preconceito: é um pré-conceito uma opinião que se emite antecipadamente alimentada pelo estereótipo,
é um juízo preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discriminatória perante pessoas,
lugares ou tradições consideradas diferentes ou “estranhos”.
Racismo: conjunto de princípios que se baseia na superioridade de uma raça sobre a outra. A atitude racista
é aquela que atribui qualidades aos indivíduos conforme seu suposto pertencimento biológico a uma determi-
nada raça. Não é apenas uma reação ao outro, mas é uma forma de subordinação do outro.
Sexismo: atitude preconceituosa que difere homens de mulheres definindo características específicas para
cada um, subordinando o feminino ao masculino.
Sexo Biológico: é o conjunto de características fisiológicas, informações cromossômicas, órgãos genitais,
potencialidade individual para o exercício de qualquer função biológica que diferencia machos e fêmeas.
Entretanto, o sexo não é simplesmente algo que lhe foi dado pela biologia. Foucault analisa o sexo biológico
como um efeito discursivo. O poder cria o corpo ao anunciá-lo sexuado, ao fazer de sua constituição biológica
um fator natural que carrega características específicas e torna indiscutível a divisão dos humanos em dois
blocos distintos (homens e mulheres). Isto não significa que o corpo não exista de forma sexuada. O que
o poder cria é outra coisa: é a importância dada a esse fator corporal (biológico). O sexo produz, interdita,
possibilita e regula o corpo limitando certos tipos de escolhas para a produção de um corpo sexuado que seja
culturalmente aceitável e inteligível. Assim, o sexo é uma norma através da qual alguém se torna viável.
Sexualidade: é aprendida, ou melhor, é construída ao longo de toda a vida, de muitos e diferentes modos,
por todos os sujeitos por isso, é entendida como um conceito dinâmico que se modifica conforme as posições
do sujeito e suas disputas políticas. A sexualidade tem a ver tanto com o corpo, como também com os rituais, o
desejo, a fantasia, as palavras, as sensações, emoções, imagens e experiências. Ela não tem ligação somente
com a questão do sexo e dos atos sexuais, mas também com os prazeres e sua relação com o corpo e a cultura
compreendendo o erotismo, o desejo e o afeto; até questões relativas a reprodução, saúde sexual, utilização
de novas tecnologias.
Transexual: pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. Ho-
mens e mulheres transexuais podem manifestar o desejo de se submeterem a intervenções médico-cirúrgicas
para realizarem a adequação dos seus atributos físicos de nascença (inclusive genitais) à sua identidade de
gênero constituída.
Transfobia: termo usado para descrever vários fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a discrimi-
nação e à violência contra transexuais (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação sexual
diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
Transgêneros ou Trans: são termos utilizados para reunir, numa só categoria, travestis e transexuais como
sujeitos que realizam um trânsito entre um gênero e outro.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


94
Travesti: pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta
a seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade. Muitas travestis
modificam seus corpos através de hormonioterapias, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale
ressaltar que isso não é regra para todas (Definição adotada pelo Conferência Nacional LGBT em 2008).
Orientação Sexual: refere-se ao sexo das pessoas que elegemos para nos relacionar afetiva e sexualmen-
te. Atualmente temos três tipos de orientação sexual: heterossexual, homossexual e bissexual. Contrapõem a
OPÇÃO SEXUAL entendida como escolha deliberada e realizada de forma autônoma.
Violência De Gênero: é aquela oriunda do preconceito e da desigualdade entre homens e mulheres e
apoia-se no estigma da virilidade masculina (legítima defesa da honra) e da submissão feminina.
Quando as vítimas são crianças e adolescentes o Art. 245 do ECA, obriga os profissionais da saúde e educa-
dores e educadoras a comunicarem o fato aos órgãos competentes. Na escola a discriminação é manifestada
por meio de apelidos, exclusões, perseguição, agressão física.

Grupos e Dinâmicas de Grupo: Formação e desenvolvimento de grupos. Processos


de coesão e conflito em grupos

— Formação e desenvolvimento de grupos


Os estudos de Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho são fundamentais para compreender a dinâ-
mica dos grupos dentro do contexto organizacional. Grupos, por definição, são conjuntos de indivíduos que
interagem entre si, compartilhando objetivos comuns ou interesses similares. A formação e o desenvolvimento
desses grupos são processos intrincados que envolvem aspectos sociais, psicológicos e organizacionais, con-
tribuindo significativamente para a eficácia e o bem-estar no ambiente de trabalho.
No processo de formação de grupos, observamos a influência de fatores sociais, como a necessidade de
pertencimento e a busca por identificação com outros membros. A Sociologia, nesse contexto, destaca a im-
portância das relações interpessoais e da construção de laços sociais para a constituição de grupos coesos
e funcionais. A interação social é uma força motriz na formação de grupos, proporcionando uma base para o
desenvolvimento de relações mais profundas e colaborativas.
A Psicologia Aplicada ao Trabalho contribui analisando os aspectos psicológicos que permeiam a formação
de grupos. A motivação intrínseca dos indivíduos, suas expectativas e a busca por significado são elementos
psicológicos essenciais. A necessidade de compreensão e aceitação por parte dos colegas, aliada às expecta-
tivas individuais, influencia diretamente na formação de grupos coesos e produtivos.
À medida que os grupos se formam, inicia-se o processo de desenvolvimento, uma fase crucial para a efeti-
vidade do trabalho conjunto. A dinâmica de grupo, sob a perspectiva sociológica, reflete as relações de poder,
os papéis desempenhados pelos membros e as normas sociais estabelecidas. Aqui, a Sociologia destaca a im-
portância da cooperação e da resolução de conflitos para o desenvolvimento saudável dos grupos no ambiente
de trabalho.
Por outro lado, a Psicologia Aplicada ao Trabalho examina os aspectos individuais que contribuem para o
desenvolvimento do grupo. As dinâmicas interpessoais, a comunicação eficaz e a liderança são elementos
psicológicos essenciais que impactam diretamente na coesão e no desempenho do grupo. A compreensão das
necessidades individuais, aliada à promoção de um ambiente psicologicamente seguro, fomenta a colaboração
e a eficiência do grupo.
A diversidade dentro dos grupos é um aspecto relevante a ser considerado. A Sociologia destaca a impor-
tância de compreender e valorizar as diferentes perspectivas e experiências dos membros, evitando assim a
reprodução de desigualdades e favorecendo a inclusão. A Psicologia, por sua vez, examina como a diversidade
pode enriquecer as interações dentro do grupo, contribuindo para a criatividade e inovação.
O enfrentamento de desafios e a superação de conflitos são parte integrante do desenvolvimento de grupos.
A Sociologia ressalta a necessidade de abordagens estruturais para resolver conflitos, enquanto a Psicologia
Aplicada ao Trabalho oferece insights sobre a gestão emocional e o desenvolvimento de habilidades interpes-
soais para lidar com situações conflituosas.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


95
Desse modo, a formação e o desenvolvimento de grupos no ambiente de trabalho são processos multifa-
cetados que demandam uma compreensão profunda das dinâmicas sociais e psicológicas. A interação entre
Sociologia e Psicologia aplicada ao trabalho proporciona uma abordagem holística, promovendo a construção
de grupos coesos, eficientes e capazes de enfrentar os desafios inerentes ao ambiente organizacional. O
reconhecimento da importância dos grupos no contexto profissional contribui não apenas para a melhoria do
desempenho organizacional, mas também para o bem-estar e a satisfação dos colaboradores.
— Processos de coesão e conflito em grupos
A compreensão profunda das dinâmicas dos grupos no ambiente de trabalho é crucial para uma abordagem
eficaz nos contextos organizacionais. A interseção entre Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho propor-
ciona insights valiosos sobre os processos de formação, coesão e conflito em grupos, elementos fundamentais
para o dinamismo organizacional e o bem-estar dos colaboradores.
Na formação de grupos, a Sociologia destaca esse fenômeno como intrinsecamente social, impulsionado
pela necessidade humana de pertencimento e interação. No âmbito organizacional, fatores como afinidades,
objetivos comuns e identidade compartilhada influenciam a composição e a dinâmica dos grupos, sendo a hie-
rarquia organizacional muitas vezes um reflexo das estruturas sociais mais amplas.
A Psicologia Aplicada ao Trabalho entra em cena ao examinar os aspectos psicológicos envolvidos na forma-
ção e coesão de grupos. Motivação intrínseca, busca por aceitação e satisfação de necessidades psicológicas
fundamentais desempenham papéis cruciais. Compreender as motivações individuais e promover um ambiente
psicologicamente seguro são fundamentais para construir grupos coesos e colaborativos.
O desenvolvimento da coesão em grupos frequentemente envolve dinâmicas de poder e o estabelecimen-
to de normas sociais. A Sociologia destaca como as relações de poder podem influenciar a coesão ou gerar
conflitos, enquanto a compreensão das normas sociais é crucial para entender expectativas compartilhadas e
identificar possíveis fontes de conflitos baseados em desacordos sobre essas normas.
O conflito, inerente à dinâmica de qualquer grupo, exige uma gestão eficaz que combina as abordagens
estruturais da Sociologia, reconhecendo desigualdades e estruturas de poder, com os insights da Psicologia
sobre gestão emocional, comunicação eficaz e desenvolvimento de habilidades interpessoais para lidar cons-
trutivamente com conflitos.
A diversidade no ambiente de trabalho é uma realidade contemporânea e impacta significativamente os
grupos. A Sociologia destaca a importância de reconhecer e valorizar diferentes perspectivas, evitando a re-
produção de desigualdades, enquanto a Psicologia examina como a diversidade pode enriquecer as dinâmicas
grupais, promovendo criatividade e inovação.
Para a promoção de grupos eficientes, é necessária uma abordagem holística. A integração das perspecti-
vas sociológicas e psicológicas é essencial para compreender nuances tanto sociais quanto psicológicas nas
interações grupais. Estratégias que combinam conscientização individual com transformação organizacional
são cruciais para estabelecer ambientes de trabalho equitativos e colaborativos.
Em síntese, a compreensão das dinâmicas de grupos no ambiente de trabalho é um componente-chave para
o sucesso organizacional. A interação entre Sociologia e Psicologia Aplicada ao Trabalho oferece uma aborda-
gem abrangente, proporcionando insights que vão desde a formação inicial dos grupos até a gestão eficaz de
conflitos. Reconhecendo a complexidade desses processos, as organizações podem promover ambientes de
trabalho mais saudáveis, colaborativos e resilientes, beneficiando tanto o desempenho quanto o bem-estar dos
colaboradores.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


96
Liderança, poder e influência dentro de grupos

As organizações têm evoluído, sobretudo em termos estruturais e tecnológicos. As mudanças e o conheci-


mento são os novos paradigmas e têm vindo a exigir uma nova postura nos estilos pessoais e organizacionais,
voltados para uma realidade diferenciada e emergente. Neste contexto, a Liderança passa a ser a chave para o
sucesso organizacional, decorrendo de uma nova cultura e estrutura, na qual se privilegia o capital intelectual,
pois são as pessoas que proporcionam as condições essenciais ao desenvolvimento das organizações.
Ao longo dos tempos, a liderança tem sido alvo de interesse por parte das organizações e dos gestores, es-
tes começaram a perceber a importância que a mesma tem para o sucesso e o alcance dos objetivos traçados.
Os líderes devem procurar incrementar, um melhor relacionamento entre as pessoas, incentivando o tra-
balho em equipa, motivando os colaboradores e proporcionando um ambiente de trabalho saudável, seguro e
propício ao progresso e desenvolvimento das suas capacidades e talentos.
A Liderança é um tema muito atual e de importância estratégica para as organizações, como tal, deve ser
integrada na definição da estratégia organizacional. As organizações precisam das pessoas para atingirem os
seus objetivos e alcançar a sua visão e missão de futuro, assim como as pessoas necessitam das organizações
para atingirem as suas metas e realizações pessoais.
As pessoas têm sido uma preocupação constante da gestão das organizações, uma vez que uma boa ges-
tão das mesmas se traduz no diferencial que alavanca os bons resultados. Para trabalhar o capital humano de
modo a maximizar o seu desempenho, é necessário que os indivíduos se sintam motivados e satisfeitos com o
seu líder e com a forma como que a Liderança vem sendo exercida.
Os líderes têm a missão de atingir os resultados pretendidos pela organização através das pessoas que
lideram. Assim sendo, para que a gestão de pessoas seja eficaz, os líderes têm de ser os modelos sociais,
dando o exemplo, estando sempre na linha da frente, mostrando como se faz, fazendo.
A liderança é considerada como um processo dinâmico e que vem sofrendo alterações e adaptações aos
vários níveis, daí a necessidade de trabalhar algumas das suas principais características que permitem obter o
máximo de eficiência e eficácia.
Sejam quais forem as características pessoais e de personalidade do líder, estas afetam as relações com os
liderados e, consequentemente, o desempenho destes nas tarefas que executam nas organizações.
As diversas definições de liderança não são unânimes e estão longe de gerar consenso entre os autores.
Desta forma, tem sido muito difícil definir o que é ser líder e o que é a liderança, havendo inúmeras definições
para este conceito.
Segundo Yukl (1998, p.5), “A liderança é um processo através do qual um membro de um grupo ou organiza-
ção influencia a interpretação dos eventos pelos restantes membros, a escolha dos objectivos e estratégias, a
organização das actividades de trabalho, a motivação das pessoas para alcançar os objectivos, a manutenção
das relações de cooperação, o desenvolvimento das competências e confiança pelos membros, e a obtenção
de apoio e cooperação de pessoas exteriores ao grupo ou organização.”
A Liderança é uma tentativa de influência, de modo a conseguir dos seus liderados empenho e cooperação.
Nessa perspectiva, quando um chefe manipula ou exige obediência e cooperação de forma coerciva, não há
liderança.
Liderança X Gestão
A liderança e a gestão são vocábulos que por vezes são vistos por muitos como sinônimos, no entanto exis-
tem diferenças bem notórias entre ambos, além disso um bom líder pode não ser um bom chefe e vice-versa.
De acordo com Rost & Smith (1992), “A liderança é uma influência de relacionamento, ao passo que a ges-
tão é um relacionamento de autoridade. A liderança é levada a cabo com líderes seguidores, enquanto a gestão
é executada com gestores e subordinados.”

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


97
• Liderança
A liderança é um processo mais emocional, envolve o coração. Os líderes são dinâmicos, criativos, carismá-
ticos e inspiradores, são visionários, assumem os riscos e sabem lidar com a mudança.
Os líderes são criativos e têm estilos mais imprevisíveis, são mais intuitivos do que racionais. Em vez de se
adaptarem, tentam transformar o estado das coisas. Os líderes atuam proativamente formando ideias em vez
de lhes reagirem.
Um bom líder não é aquele que se preocupa em sê-lo, mas aquele que dá o exemplo mostrando como as
coisas devem ser feitas, que tem ética e se preocupa com as pessoas que o rodeiam, que envolve e motiva
toda a equipa. Deve focar-se no desenvolvimento das pessoas com quem trabalha para que se tornem mais
autónomas.
O líder tem a capacidade de gerir diferentes personalidades mobilizando-as para objetivos comuns. Liderar
é saber comunicar e conquistar a admiração e o respeito dos outros, fazendo com que todo o grupo se identifi-
que com o líder, o siga e execute as suas decisões.
Os líderes são inovadores e criativos, procuram agir sobre a situação em causa, as suas perspectivas e as-
pirações são a longo prazo, têm uma atitude proativa, são emocionais e empáticos e atraem fortes sentimentos
de identidade e diferenciação. As competências de liderança não podem ser ensinadas nem aprendidas são
inatas ao ser humano, estas vão sendo moldadas pelas experiências e conhecimentos adquiridos.
Para Monford e tal. (2000, p.24), “Os líderes não nascem nem são feitos; de facto, o seu potencial inato é
moldado pelas experiências que lhes permitem desenvolver as capacidades necessárias à resolução de pro-
blemas sociais significativas.
• Gestão
A gestão tem uma abrangência muito maior do que a liderança, envolve tanto os aspectos comportamentais
como os que estão diretamente ligados à sua gestão, tais como: planeamento, controlo e regulamentos internos
e externos. Os gestores são mais racionais, trabalham mais com a “cabeça” do que com o “coração”.
Segundo Bennis & Nanus (1995), “gerir consiste em provocar, realizar, assumir responsabilidades, coman-
dar. Diferentemente, liderar consiste em exercer influência, guiar, orientar. Os gestores são pessoas que sabem
o que devem fazer. Os líderes são as que sabem o que é necessário fazer.”
Os gestores são conservadores e analíticos, reagem e adaptam-se aos factos ao invés de transformá-los.
Tendem a adoptar atitudes impessoais, calculam as vantagens da competição, negoceiam e usam as recom-
pensas e as punições como formas de coação. Estes estão perfeitamente enquadrados na cultura organizacio-
nal e lutam pela optimização dos recursos de modo a alcançarem os resultados desejados.
Para que as organizações possam sobreviver num mercado globalizado e cada vez mais competitivo têm de
ter uma boa gestão. A gestão tem que ter a implementação da mudança através da visão do seu líder de forma
a alcançar os resultados previamente definidos. Sem uma boa gestão as organizações não conseguirão atingir
esses resultados e tornam-se pouco produtivas e competitivas.
Quer a gestão quer a liderança têm diferentes formas de gerir a sua equipa, através dos diferentes líderes.
Esta hipótese é bem acolhida por Rowe (2001), através de um modelo triangular cujos vértices são a liderança
gestionária, a liderança visionária e a liderança estratégica.
Tipos de liderança
• Líder Gestionário
O líder gestionário está mais virado para a estabilidade financeira a longo prazo e orientado para os com-
portamentos de curto prazo e baixo custo. O seu relacionamento com as pessoas está intimamente ligado com
os seus papéis no processo de decisão, mas raramente decide com base em valores. Não investe na inovação
que pode mudar a organização pois falta-lhe visão, iniciativa e criatividade. Normalmente é reativo e adapta
atitudes passivas perante os objetivos, estes centram-se nas necessidades sentidas e não nos desejosos ou
sonhos.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


98
• Líder Visionário
Já o líder visionário fomenta a mudança, a inovação e a criatividade. É proativo, muda o modo de as pesso-
as pensarem acerca daquilo que é desejável e necessário. Está orientado para o desenvolvimento das pessoas
e para o sucesso das organizações. Normalmente decide com base em valores e relaciona-se com as pessoas
de modo intuitivo e empático. Enfatiza a viabilidade de empresa a longo prazo mas os seus sonhos podem ser
destruidores da riqueza no curto prazo.
• Líder Estratégico
O líder estratégico combina as duas orientações, ou seja, combina as qualidades dos gestores com as dos
líderes. Acredita nas escolhas estratégicas que fazem a diferença na organização. Essas estratégias devem ter
impacto imediato, sendo que as responsabilidades serão a longo prazo. Fomenta o comportamento ético e as
decisões baseadas em valores. Tem elevadas expectativas acerca dos seus superiores, colaboradores e dele
próprio.
Podemos então concluir que a liderança estratégica resulta da conciliação da liderança visionária e gestio-
nária.
Alguns indivíduos terão mais aptidão para liderar e outros para gerir, enquanto outros conciliam as duas
vertentes.
No entanto, muitos líderes podem aprender a gerir e muitos gestores podem melhorar as suas capacidades
de liderança.
Estabelecendo a correspondência com a tese de Zaleznik, Rowe (2001) “ a liderança gestionária está para
os gestores como a liderança visionária está para os líderes. Ao contrário de Zaleznik “considera ainda que os
dois papéis são conciliáveis na figura do líder estratégico.”
A importância dos líderes
HARRIS (2001, p.394) “O Papel dos líderes é criar um ambiente em que as pessoas se sintam livres para
experimentar, exprimir-se com franqueza, tentar novas coisas. Ainda mais importante, o seu papel é o de (…)
construir o espaço, remover obstáculos e permitir que os empregados façam o seu trabalho. Um dos objetivos
primordiais dos líderes deveria ser o de libertar os talentos de cada pessoa para benefício delas próprias e da
empresa como um todo.”
Nas organizações é crucial que os líderes sejam pessoas idóneas e sejam um exemplo para toda a equipa,
pois sem um bom líder não haverá uma boa equipa. É fundamental que exista uma boa liderança por parte dos
líderes, somente assim a equipa será coesa e trabalhará afincadamente para o alcance das metas organizacio-
nais e dos objetivos conjuntos. Se o objetivo primordial de um líder é fazer com que os outros o sigam, então é
imprescindível que dê bons exemplos e lhes mostre o caminho a seguir.
A liderança é um tópico fundamental nas relações de trabalho, os líderes têm de trabalhar no sentido de
evitar conflitos laborais e proporcionar benefícios para todos.
Por vezes, as incompatibilidades pessoais e profissionais entre os líderes e os liderados, fazem com que
surjam conflitos difíceis de gerir, contribuindo para o insucesso das pessoas e o fracasso das organizações,
dificultando assim o alcance das metas traçadas.
Segundo Russo (2005) “a discussão se os líderes nascem líderes ou aprendem a sê-lo é longa. Contudo a
resposta diz Russo é simples e direta: as duas afirmações são verdadeiras.”
O líder deve ser capaz de criar um ambiente saudável, bem como interação e dinâmica com toda a equipa
de trabalho. É fundamental criar desafios e dar autonomia, para que em conjunto se implementem e tomem as
melhores decisões.
Estilos de liderança
As organizações, as equipas e as situações variam no tempo e no espaço, os líderes também, daí que é
bastante comum que o sucesso do líder e dos seus seguidores esteja diretamente relacionado com o estilo de
liderança adoptado.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


99
White & Lippit (1939) fizeram os primeiros estudos para verificar o impacto causado pelas diferentes formas
de liderar. Segundo eles existem essencialmente três estilos de liderança: liderança autoritária, liberal e demo-
crática.
• Liderança Autoritária
Em primeiro lugar aparece a liderança autoritária, “o líder fixa as diretrizes, sem qualquer participação do
grupo”, é ele que fixa todas as diretrizes e determina qual tarefa deve ser realizada, tudo tem que ser feito como
ele define. (CHIAVENATO, 2003)
Na liderança autoritária, autocrática ou diretiva o líder foca-se apenas nas tarefas e determina técnicas para
a execução das mesmas. O líder toma as decisões individualmente e não considera a opinião da equipe, orde-
na e impõe a sua vontade. Este tipo de liderança provoca tensão e frustração no grupo. O líder tem uma postura
essencialmente diretiva e não dá espaço à criatividade dos liderados. A sua postura por vezes é paternalista e
fica satisfeito por sentir que os outros dependem dele. É rápido na tomada de decisão e os seus objetivos são
o lucro e os resultados. Por norma, neste tipo de liderança as consequências são nefastas, existe ausência de
espontaneidade e de iniciativa e quando o líder abandona a organização as pessoas sentem-se completamente
perdidas pois não estavam habituadas a tomar decisões e a terem iniciativa própria.
O trabalho só se realiza na presença do líder, pois na sua ausência o grupo é pouco produtivo e indiscipli-
nado. O líder autoritário normalmente não delega tarefas, prefere ser ele a executá-las. A liderança autoritária
apresenta elevados níveis de produção, mas com evidentes sinais de frustração e agressividade.
• Liderança Liberal
A liderança liberal é totalmente inversa à autocrática, “há liberdade total para as decisões grupais ou indivi-
duais, e mínima participação do líder.” (CHIAVENATO, 2003)
Na liderança laissez faire ou liberal não há imposição de regras, parte-se do princípio que o grupo atingiu
a maturidade e não necessita do líder para o orientar e o supervisionar. Caracteriza-se pela total liberdade da
equipa o líder não interfere na divisão das tarefas nem na tomada de decisão, quem decide é o próprio grupo.
Este é considerado o pior estilo de liderança, uma vez que não há demarcação dos níveis hierárquicos instala-
-se a confusão, a desorganização, o desrespeito e a falta de um líder com poder e autoridade para resolver os
conflitos.
Na liderança liberal o líder só participa na tomada de decisão quando é solicitado pelo grupo, os níveis de
produtividade são insatisfatórios e existem fortes sinais de individualismo, insatisfação e desrespeito pelo líder.
• Liderança Democrática
No que respeita à liderança democrática, participativa ou consultiva, este estilo está voltado para as pes-
soas e há participação de toda a equipa no processo de decisão. É o grupo que define as técnicas para atingir
os objetivos, no entanto o líder tem a responsabilidade de alertar o grupo para as dificuldades existentes no
alcance desses mesmos objetivos.
Segundo, Chiavenato (2003, p.125), “As diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo, estimulado e as-
sistido pelo líder”.
O líder envolve todo grupo, pede sugestões e aceita opiniões, existe confiança mútua, relações amistosas
e muita compreensão. Este estilo de liderança está orientado para as tarefas e para as pessoas. Os grupos
submetidos à liderança democrática, apresentam elevados níveis de produtividade, quer em quantidade quer
em qualidade. Existe ainda, um clima de satisfação, integração e comprometimento das pessoas para com a
organização.
De acordo com Fachada (1998), “A diferença entre o estilo eficaz e ineficaz não depende unicamente do
comportamento do líder, mas da adequação desses comportamentos ao ambiente onde ele desempenha as
suas funções.”
O estilo de liderança a adoptar vai depender sobretudo da equipa a liderar e do seu tamanho. Deverá estar
adaptada a cada pessoa, à equipa e à tarefa a realizar, só assim se conseguirá a máxima eficácia na persecu-
ção dos objetivos.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


100
Teorias da liderança
Existem várias teorias de liderança e podem ser classificadas em quatro grupos: teorias de traços de perso-
nalidade (até aos anos 40), teorias sobre estilos de liderança/comportamento do líder (até aos anos 60), teorias
situacionais/contingências da liderança (desde os anos 50 até final da década de 70) e por último as teorias dos
traços e do carisma (últimas décadas).
• Teoria dos Estilos de Liderança
Na Teoria sobre os Estilos de Liderança a preocupação dominante nas várias teorias foi definir o comporta-
mento do líder mais eficaz. A abordagem dos estilos refere-se não ao que o indivíduo é mas ao que ele faz, ou
seja, o seu estilo de liderar. Aqui destacam-se as maneiras e estilos de comportamento adoptados pelo líder:
autocracia, liberalismo e democracia, bem como a liderança centrada nos resultados da tarefa e a liderança
centrada na preocupação com as pessoas.
Como instrumento de avaliação dos estilos de liderança Black e Mouton (1964), apresentam uma grelha
de gestão, que é uma tabela de dupla entrada, composta por dois eixos: o eixo vertical representa a “ênfase
nas pessoas” e o eixo horizontal representa a “ênfase na produção”. Nos quatro cantos e no centro da grelha
os autores colocaram os principais estilos de liderança, de acordo com a orientação para a tarefa ou para o
relacionamento. Segundo os autores, é muito importante que cada líder aprenda a observar o seu estilo de lide-
rança através da grelha, a fim de melhorar o seu desempenho, contribuindo assim, para o seu desenvolvimento
profissional, bem como para o desenvolvimento da organização.
Para Chiavenato (2003, p.124), “São teorias que estudam a liderança em termos de estilos de comporta-
mento do líder em relação aos seus subordinados. A abordagem dos estilos de liderança se refere àquilo que o
líder faz, isto é, o seu comportamento de liderar”.
• Teoria dos Traços e do Carisma
Nas últimas décadas os psicólogos organizacionais começam a interessar-se pela cultura organizacional e
pela mudança cultural. De acordo com o trabalho de Shein (1989) os líderes têm de ter capacidades específicas
como a paciência, persistência, contenção da ansiedade, garantir estabilidade e confiança emocional, etc. Da
análise de Shein resultam dois importantes conceitos: a liderança transformacional e a liderança transacional.
• Liderança Transformacional
Bass (1985), foi um dos pioneiros nos estudos da liderança transformacional e transacional, a considerar
que a liderança tanto envolve comportamentos transformacionais como transacionais. Alguns autores (Barling,
Slater e Kelloway, 2000; Judge e Bono, 2000) destacaram exclusivamente o papel da liderança transformacio-
nal.
A Liderança Transformacional é o tipo de liderança que resulta do processo de influenciar as grandes mu-
danças das atitudes e comportamentos dos membros da organização e o comprometimento com a missão e os
objetivos da organização.
Segundo Bass (1985), os líderes transformacionais têm “visão”, prendem-se às suas convicções internas,
têm vontade de encorajar e olhar os problemas de diferentes formas. Estes líderes são donos do seu próprio
destino e têm talento para atravessar os tempos de adversidade com sucesso.
Bass (1995) descobriu que as três principais características de um líder transformacional são o carisma,
reconhecimento e estímulo de cada seguidor como incentivo intelectual para que os seguidores examinem as
situações de acordo com novas perspectivas.
O mesmo autor (BASS, 2000, p.297) sustenta que “as qualidades dos líderes transformacionais são afeta-
das pelas experiências de infância (pais zelosos e que estabelecem objetivos desafiantes). Afirma mesmo que
causas hereditárias podem estar na sua origem.”
Um líder Transformacional consegue que os seus seguidores prossigam além dos seus próprios interesses
e altera ou transforma as suas metas em metas de todo o grupo ou da organização. Ele faz com que os segui-
dores se envolvam integralmente para que se atinjam os objetivos organizacionais.
Segundo Yukl (1999, p.46), “as teorias da liderança carismática e transformacional contribuem para o nosso
entendimento da eficácia de liderança, mas a sua singularidade e contributo foram exagerados.”

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


101
• Liderança Transacional
A Liderança Transacional baseia-se na relação do líder e do liderado. O líder conduz e motiva toda a equipa
na direção dos objetivos estabelecidos.
Segundo Bass (1995), a liderança transacional “envolve a atribuição de recompensas aos seguidores em
troca da sua obediência. O líder reconhece as necessidades e desejos dos seus colaboradores, clarificando-
-lhes como podem satisfazê-las em troca da execução das tarefas e do desempenho.”
Muitas situações de liderança são baseadas num entendimento entre o líder e os seus seguidores. Existe
um contrato social implícito indicando que se concordar com o que o líder deseja fazer, o seguidor terá certos
benefícios, tais como remuneração melhorada ou a não-demissão.
As transações construtivas resultam em consequências positivas, tais como a obtenção de uma promoção.
Essas promoções são vistas como mais eficazes e satisfatórias do que as transações corretivas, que trazem
consequências negativas, tais como uma humilhação.
Este tipo de liderança, a par da liderança carismática, constitui o estilo de liderança mais apropriado para a
mudança organizacional.
Não é a força da autoridade que os chefes possuem devido à sua posição privilegiada no organograma da
organização que lhes proporciona eficácia para liderar as pessoas, mas a percepção positiva desses seguido-
res que faz dele um verdadeiro líder.
Num mundo altamente dinâmico e instável onde o ambiente organizacional sofre continuamente profundas
alterações impulsionadas pelo processo de globalização, o mercado torna-se mais exigente e competitivo, exi-
gindo das organizações adaptações e respostas rápidas a estas mudanças e alterações sofridas. As empresas
necessitam de profissionais capazes de responderem de forma ajustada e em tempo útil aos novos desafios.
O alinhamento entre as Práticas de Liderança e a Cultura Organizacional é compreendido através dos con-
ceitos percebidos através da revisão bibliográfica. A revisão da literatura permitiu uma melhor compreensão dos
conceitos de Liderança e dos principais fatores que a influenciam.
A chave do sucesso para um elevado desempenho das organizações está na congruência entre os elemen-
tos da organização, principalmente entre a estratégia, a estrutura, as pessoas, a própria cultura e como não po-
dia deixar de ser a Liderança. Assim sendo, será crucial que a organização repense a forma como a Liderança
vem sendo exercida, só assim, conseguirá pessoas motivadas e felizes, contribuindo de forma decisiva para o
aumento da performance da organização.
Conclui-se, que diante das mudanças, o líder deve conciliar os interesses da organização com os da sua
equipa de trabalho, empenhando-se afincadamente para proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvi-
mento dos seus liderado, influenciando-os a alcançarem os objetivos comuns.
PODER
A noção mais abrangente do termo poder26 relaciona-se e é sinônimo do termo potência. Potência designa a
capacidade e/ou a possibilidade que um indivíduo, um grupo, uma instituição ou uma determinada organização
têm de realizar algo, ou seja, de agir. É sempre à disposição para cometer um ato.
É a energia acumulada que deve sustentar uma ação efetiva. Essa ação que é efetivada (o ato que ocorre)
pode ter ou não um sentido moral ou ser simplesmente uma realização de ordem extrema do particularismo.
Essa é a primeira implicação em uma reflexão científica sobre o poder.
Poder e influência constituem o núcleo sutil das organizações e, na verdade, de todas as interações. A in-
fluência é o processo pelo qual um indivíduo modifica as atitudes ou comportamento de outro. O poder é o que
o capacita a fazê-lo.
As organizações são formadas de um conjunto de padrões de influência através dos quais, indivíduos ou
grupos influenciam ou tentam influenciar outros a pensar ou agir de determinada forma. Se quisermos entender,
deveremos compreender a natureza do poder e da influência, pois são através deles, que as pessoas se ligam
aos objetivos principais das organizações.

26 Leda Maria da Silva Senra Costa. A Influência do Poder na Gestão Estratégica de Pessoas. IX Seget,
2012.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


102
Embora os níveis hierárquicos sejam fundamentais em grupos ou sociedades de qualquer natureza, o poder
e a influência determinam níveis de superioridade entre pessoas, o que de certa forma viola o livre-arbítrio de
um indivíduo sobre suas ações.
A liberdade individual completa é hoje desfrutada por um número muito reduzido de pessoas, pois a maioria
possui um contrato psicológico com qualquer grupo, família, empresa ou sociedade, em virtude da troca de
liberdade individual pelas recompensas financeiras de pertencer a tais grupos ou organizações.
Todas as interações profissionais ou não, envolvem uma troca de alguma coisa por outra. Mas seria possível
medir de quanta liberdade individual uma pessoa deveria abrir mão? Qual seria o modelo ideal em uma organi-
zação, para que a influência individual ou em grupo, não restringisse a liberdade individual de seus componen-
tes? É a verdadeira realidade da vida de uma organização.
O poder de influenciar é algo que a maioria das pessoas, no mundo moderno, gostaria de ter em maior
quantidade, embora muitos não desejem a responsabilidade emanada desse poder. Pesquisas indicam que as
pessoas gostariam de ter mais influência sobre seu trabalho e não sobre pessoas. Também os indivíduos que
exercem influência e desenvolvem melhor seu trabalho, são mais produtivos e muito mais envolvidos com os
objetivos de sua organização.
Porém, a responsabilidade da influência no indivíduo não preparado pode levar, em muitos casos, a desa-
justes psicológicos levando-o a até adquirir doenças.
Mas nem todos agem assim no dia a dia. Na verdade quando se fala de poder ou influência, estamos dizen-
do o quanto algumas pessoas têm o poder de influenciar.
Evidentemente, profundas mutações ocorreram no mercado de trabalho nos últimos anos, exigindo a ade-
quação dos profissionais à nova realidade e, com ela, a implementação da prática de trabalho em equipe, não
abordadas no passado, mas mantendo-se os velhos e bons fundamentos administrativos.
Sem dúvida nenhuma, hoje as organizações procuram profissionais éticos e honestos, reunindo pessoas
mais fortemente sintonizadas com dimensões como trabalho, honestidade, amizade, solidariedade, humildade,
romantismo, alegria e competência.
Não podemos designar ao poder um tipo de sentido privilegiadamente moral. As ações possuem finalidades
e estão de acordo com determinados modelos de racionalização, mas isso tampouco quer dizer que a razão
possua em seu centro uma moral determinada. A potência é, portanto, uma latência da força ou do poder; uma
latência do agir e da ação. É a dimensão de estados virtuais de uma ação, um poder acontecer de algo. Ela é
o momento antes do ato em si.
O ato é a realização da potência, o exercício mesmo da força (no sentido amplo da palavra) ou poder de agir
ou de se oferecer à ação de outrem. A ação propriamente dita é o momento, então, que o poder aparece como
tal, em exercício e em quantificação e qualificação da potência realizada. A ação é a materialização de uma das
possibilidades que estava em potência. Essa é uma das possibilidades de entendimento do que é o poder em
sua dupla dimensão de potência e de ação.
As teorias e disciplinas que tratam dessas questões abrangem os espectros de conhecimento da psicologia,
da filosofia, da antropologia, da ciência política, da sociologia, da filosofia política e da história.
Na atualidade, importantes teóricos da ação são Michel Foucault e Pierre Bourdieu (teorias das práticas),
Anthony Gidens e Richard Rorty (teorias da ação).
Essa concepção abrangente do poder revela um conceito de cultura do poder que permite entender essa
forma de relacionamento como uma dentre as relações desenvolvidas entre os seres humanos na vida em
sociedade. Os humanos, na qualidade de espécie social e falante, desenvolvem relações de significação. Eles
querem dar sentido ao mundo e a suas produções culturais. Os humanos, como seres que produzem artificial-
mente o mundo no qual vivem, são seres que desenvolvem relações de produção. Estas são os fundamentos
da vida e da organização econômica das sociedades.
É na qualidade de seres que agem e se posicionam, desenvolvem, então, as relações de poder. Essa
capacidade para agir e a ação efetiva foram se organizando e transformando o núcleo das relações de poder
em algo historicamente visível. Concretamente, essa realização da potência tomou formas organizadas e,

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


103
de empréstimo, passou a ter vínculo direto com a vida política. Portanto, temos que ter em conta que poder
não diz respeito apenas ao político, mas a toda enunciação que afirma direitos e compromissos (deveres,
responsabilidades) e possibilidades adicionais.
O que ocorre é que, nos termos da história social, a esfera política passou a ser aquela na qual as relações
de poder tornaram-se mais visíveis e mais ordenadas. O político é uma esfera mais especializada do poder e
refere-se especialmente a tudo o que diz respeito à vida comunal, em sociedade. A esfera política é a esfera
que se dirige à cidadania e, portanto, a um estatuto especial do indivíduo. O cidadão é uma forma particular
do indivíduo, como pode ser também parte integrante da constituição do modelo de pessoa humana, no que
dependerá do modo como cada sociedade monta sua própria cosmologia e sua explicação para o que são os
seres humanos.
O poder dirige-se ao sujeito, e o poder político dirige-se mais especificamente ao indivíduo e ao cidadão. Em
nossa própria cultura sociedade, o político diz respeito fundamentalmente à cidadania, ao governo e ao Estado,
bem como às disputas políticas (disputas de poder evocadas a partir de discursos político-partidários).
Devemos imaginar que potência e ação são os mecanismos fundamentais ao entendimento do poder e que
a ação é o que possuímos como fenômenos propriamente visíveis em termos sociais e nos quais serão explo-
rados todos os recursos e estratégias de ordem simbólica, em que os indivíduos, grupos e uma cultura irão ma-
nifestar e apresentar o seu entendimento do mundo e o modo como esse mundo se organiza hierarquicamente.
A importância dos estudos de poder encontra-se justamente no fato de que este se baseia nos mecanismos
de potência e de realização e que é na realização efetiva que encontramos os mecanismos que sustentam as
ordenações sociais e suas organizações. As interpretações sobre poder são múltiplas e, por vezes, divergen-
tes, não constituindo um sistema estável de significações. Haverá, sim, uma continuidade entre os diferentes
modelos. Mas os modelos nunca serão capazes de dar conta da realidade. Pois as próprias teorias do poder,
em parte, demonstram como o aspecto estratégico entra em jogo toda vez que falamos da ação social e os
acordos são contextualmente delimitados. Novas experiências e novos atores – as negociações entre atores-
-indivíduos em uma determinada realidade ordenada – estão sempre chegando à cena. Os modos como senti-
mos, percebemos, ordenamos e agimos no mundo não são eles mesmos estáveis. Portanto, a própria realidade
é trânsfuga.
A experiência é um ponto fundamental para as teorias contemporâneas do poder. A experiência, o indivíduo,
a negociação, a estratégia deverão assumir um papel preponderante nos nossos entendimentos das organi-
zações – sob pena de ficarmos com uma concepção rígida e não-flexível do que são as próprias sociedades
humanas.
Ressaltamos esse caráter de jogo e estratégia implicado no pensamento geral sobre o poder: Podemos
mesmo afirmar que não há pensamento sobre o poder sem um pensamento sobre a estratégia. Se, ao falarmos
de poder, estamos quase sempre, na contemporaneidade, acionando um pensamento sobre a estratégia, po-
demos afirmar que a trama das relações de poder é dependente de um jogo permanente de posicionamentos
estratégicos adotados pelos sujeitos. Isso equivale a pensar em um jogo, com certas regras, e nas tomadas
de posição dos jogadores. Cada rodada é um momento de avaliação. A estratégia coloca a potência do poder
no momento de avaliar o lance a ser dado. Assim, estratégias são formas permanentes de disputa, gerando
resistências, alianças, antagonismos e vizinhanças. Essas lutas ocorrem em diversos níveis de realidade e
têm objetivos mais ou menos localizados. Significa dizer que as lutas do poder podem ser imediatas e locais,
como a vitória momentânea sobre um colega de equipe, em uma disputa em relação ao funcionamento de um
maquinário, ou, ainda, uma disputa eleitoral. Para um maior entendimento dessas implicações de uma concep-
ção de poder ligada ao pensamento estratégico, devemos caminhar na direção inversa, voltando ao passado e
reconstituindo algumas das concepções de poder de relevância para os estudos humanísticos e sociais.
Concepções de poder
O Poder visto como transgressão e Regressão: O utilitarismo e o hedonismo modernos tratam espe-
cialmente do indivíduo como sujeito especial do poder. Assim, todas as concepções das relações humanas e
seus recursos, dentro dessa perspectiva devem estar fundamentadas no aspecto motivacional individual. Os
indivíduos devem ser motivados a agir pela busca da realização de seus interesses, dentro dos quais o maior
interesse é o sentido do prazer – dimensão egóica da realização do indivíduo. Os termos transgressão e regres-
são associados ao poder, são explicados do seguinte modo: de um lado, o indivíduo, na sua busca motivada
por prazer permanente transgride as regras sociais e as leis estabelecidas. Para que o prazer seja possível,

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


104
dentro de limites sociais, é preciso constituir um mecanismo regressivo do prazer. Isso é o que conhecemos, de
um certo modo como sendo a sublimação. Nessa regressão ordenada, o indivíduo é capaz de desenvolver um
senso altruísta, aprendendo a desejar o prazer do outro. Segundo Jeremy Tentham (1748-1832) as sociedades
são compostas por indivíduos. Os indivíduos possuem natureza egoísta e buscam a realização de prazeres.
As motivações para a ação, ou seja, o que existe em potência, fundamentando-a, são o interesse pessoal e o
prazer pessoal (que inclui o prazer de ver o outro e sentir prazer, o altruísmo envolvido no processo do desejo).
O Poder enquanto ciências técnicas: De acordo com Descartes o poder relaciona-se intimamente com o
desenvolvimento do conhecimento científico. O poder é uma determinação do saber científico e da tecnologia.
A maior resultante dessa concepção de poder encontra-se no que chamamos de modernidade. A positividade
observada pelo pensamento cartesiano e seus desdobramentos modernos é reposicionada crítica ou negativa-
mente por duas grandes vertentes do pensamento dos séculos XIX e XX. De um lado, o pensamento europeu
continental de Nietzsche e do pós-Nietzsche e, de outro, pela tradição pragmatista norte-americana. Em ambos
os casos, a crítica a essa concepção de poder dirige-se ao modo como, nas sociedades ocidentais, a ciência
e os meios técnicos transformaram o vocabulário do poder e passaram a funcionar como justificação objetiva
para a dominação. No campo do pensamento estratégico, a afirmação de Michel Foucault é de grande preci-
são analítica. O que o autor nos ensina é que o conhecimento é uma das estratégias no âmbito das relações
de poder. Assim, o seu uso visa a promover determinados modos de funcionamento dos grupos, de formas de
comunicação e de entendimento e do desenvolvimento de determinadas capacidades nos indivíduos.
O poder visto como uma perspectiva construtiva do desejo: Essa é uma temática deveras abrangente
e envolve os trabalhos de pensadores e ativistas sociais como Félix Guattari e Toni Negri. Esse conceito de po-
der envolve ainda um entendimento dos afetos e das afecções. Nesse âmbito, devemos considerar também a
presença de alguns dos elementos que irão caracterizar os processos do “empowerment”. Assim, poder-desejo
é o eixo transformacional constitutivo do empowerment – o “empoderamento”, o dar-se poder, fortalecimento,
reforçamento de poder.
Poder enquanto razão: De acordo com Hegel é associado ao desenvolvimento histórico e uma filosofia e
uma destinação da razão. A razão seria o princípio condutor de uma Filosofia Política e da formação de um
Estado-Nação esclarecido. O pensamento hegeliano, nesse sentido, tem como perspectiva do desenvolvi-
mento da racionalidade a figura dos Estados-Nação modernos. Sua abordagem figura o Príncipe Esclarecido,
tomando o modelo monárquico como afirmação concreta do poder bem solucionado. Suas discussões sobre
uma filosofia do processo histórico geraram obras famosas e deterministas sobre o “final da História” através da
constituição de um Grande Império Mundial, os Estados Unidos da América (Francis Fukuyama).
Poder como soberania (vontade geral): Definido por Rousseau como o poder que se constitui como vonta-
de geral. Ele se encontra como deseja da maioria e pode ou não ser mobilizado, manipulado ou simplesmente
deixado em seu próprio movimento massivo. A Assembleia Popular representaria um princípio de soberania do
povo.
Poder na história, como violência: Para Marx/Engels a perspectiva histórica também se apresenta no
pensamento marxista, relacionando o poder com o domínio da violência social e da violência de classe.
Poder legítimo: Para Weber o Estado deve construir mecanismos que forneçam e fortaleçam sua legitimi-
dade, transformando suas ações e políticas em conjuntos compartilhados de crenças.
Fontes de Poder
As Fontes de Poder são identificadas como cinco pelos autores John French e Bertram Ravem:
O Poder de Recompensa baseia-se numa pessoa (o influenciador) que tenha a capacidade de recom-
pensar outra (o influenciado) pelo cumprimento de ordens ou pela realização de outras exigências. Onde as
recompensas são melhor usadas para reforçar as ações desejáveis dos subordinados, e não como “suborno”
para realizar tarefas;
O Poder Coercitivo é o lado negativo do poder de recompensa, onde a punição pode ir desde pequenos
privilégios até a perda do emprego. Este poder geralmente é usado para manter um padrão mínimo de
desempenho ou de conformidade entre os subordinados;
O Poder Legítimo, este poder tanto pode ser de cima para baixo ou de baixo para cima, ou seja, o encarre-
gado de um setor exige que se cumpra um certo horário e concomitantemente, o vigia exige que o gerente use
o crachá para entrar na empresa;

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


105
O Poder de Competência é o que podemos chamar de conhecedor do assunto, pois nele temos total
confiança ao que ele nos recomenda, pois há especialidade, aptidões e conhecimento técnico do líder;
O Poder de Referência existe no colega de trabalho que nos atrai ao seu lado na hora das reuniões de
departamento pelo seu carisma e pelo seu nível de prestígio e admiração.
Em geral estas fontes de poder são adicionadas pelos administradores pela recompensa aos subordinados
através de dinheiro, privilégio ou promoções ou de puni-los retirando estas recompensas. Queremos pensar
que seja inerente ao cargo de um administrador e presume-se que eles tenham algum grau de competência.
Podemos ter vários exemplos de organizações, como a tendência de subordinados seguirem o modelo de exe-
cutivos mais experientes e bem sucedidos.
Reflexão das teorias acerca do poder
DAFT (1999) descreve que a teoria clássica do poder é, fundamentalmente, de caráter jurídico e encontra-se
realizada conceitualmente como operação contratual. Esse contrato pode ser em nome de uma vontade geral
ou de uma ordem geral, mas não perde sua característica de contrato traçado entre uma parte (o Estado) e
os demais (o povo, o cidadão, o indivíduo, conforme a abordagem teórica em questão). Esse contrato jurídico
sustenta o poder político. De outro modo, os pensadores de caráter marxista investigam as relações de poder
como formas funcionais do desenvolvimento classista da sociedade capitalistas e, portanto, como uma dimen-
são funcional da vida econômica (infraestrutura e determinante).
O poder é um regime ordenado sob a égide das classes e visa a sustentar a produtividade econômica e
a um modelo social de relações humanas. É a vida econômica que sustenta o poder político. De acordo com
Foucault (1999) se o poder fosse revisitado como relação de força que é, privilegiando o seu aspecto acional
indicaria uma saída para além ou para aquém das problemáticas contratuais (poder jurídico) e das problemáti-
cas funcionais (poder econômico).
Para esse teórico, o poder deve ser analisado sob os moldes do enfrentamento, do combate e da guerra. O
poder seria sempre um processo de “empoderamento”. A vida política não seria a ordem e a guerra, um estado
de exceção. A guerra seria o modelo prioritário e a política, uma exceção. É nesse sentido que encontramos na
afirmação foucautiana uma aproximação com as concepções “orientalizadas” do poder. Para os clássicos do
pensamento oriental, a guerra é o meio mais adequado para se refletir sobre a vida política e, em decorrência
disso, sobre a vida social e sua organização.
As relações de poder e do poder como teoria da ação e da ação estratégica deve ter em mente os seguintes
itens:
- os mecanismos de dominação;
- os operadores materiais;
- as formas da sujeição;
- as conexões e a utilização de sistemas locais de sujeição;
- os dispositivos do saber.
Em geral, estamos todos imersos nas formas do compromisso individualizado e sentimo-nos responsabi-
lizados e tomados como “relevantes, importantes” em nossas esferas profissionais. A ideia de nos tornarmos
gerentes de nós mesmos, agentes investidores de nossas próprias vidas tem sido tomada como verdade para o
momento atual das formas de poder. Suas estratégias são inúmeras. Mas sempre ocorrerão os contra-ataques.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


106
Psicossociologia do contrato de trabalho: Disciplina e saber operário

A psicossociologia do contrato de trabalho é uma área que se debruça sobre as complexas interações entre
os aspectos psicológicos e sociais presentes no ambiente laboral. Entender o contrato de trabalho não apenas
como um acordo formal, mas como um fenômeno psicossocial, proporciona insights valiosos para compreender
as dinâmicas organizacionais e a experiência individual do trabalhador.
No contexto da psicossociologia do contrato de trabalho, disciplina e saber operário emergem como con-
ceitos-chave. A disciplina no ambiente de trabalho não se resume apenas à obediência a regras e regulamen-
tos, mas também envolve a internalização de normas sociais e culturais que permeiam a organização. Essas
normas, muitas vezes invisíveis, moldam as relações interpessoais, as expectativas e as práticas cotidianas,
influenciando diretamente a psicologia do trabalhador.
A psicossociologia destaca a importância de compreender o saber operário, ou seja, o conhecimento prático
adquirido pelos trabalhadores ao longo de suas experiências laborais. Esse saber muitas vezes não é formal-
mente reconhecido, mas desempenha um papel crucial no desempenho e na adaptação dos trabalhadores ao
contexto organizacional. A relação entre a disciplina imposta pela organização e o saber operário pode gerar
tensões, uma vez que o reconhecimento desse conhecimento prático pode ser negligenciado.
A subjetividade do trabalhador no contexto do contrato laboral é um elemento central na psicossociologia. As
percepções individuais sobre a justiça, a equidade e o propósito do trabalho influenciam diretamente o engaja-
mento e a satisfação no ambiente profissional. A compreensão desses aspectos subjetivos é fundamental para
o desenvolvimento de práticas organizacionais que promovam um contrato de trabalho saudável e equitativo.
No entanto, a psicossociologia do contrato de trabalho também destaca os desafios associados à precariza-
ção do emprego e às transformações no mundo do trabalho. A instabilidade contratual, a falta de segurança no
emprego e a pressão por produtividade podem impactar negativamente a psicologia do trabalhador, gerando
ansiedade, estresse e desmotivação. Nesse sentido, a disciplina organizacional muitas vezes se choca com a
necessidade de segurança e reconhecimento por parte dos trabalhadores.
A combinação entre sociologia e psicologia no estudo da psicossociologia do contrato de trabalho permite
uma análise abrangente das relações laborais. A sociologia traz a compreensão das estruturas sociais que
moldam as organizações e os contratos de trabalho, enquanto a psicologia aprofunda a análise das emoções,
motivações e percepções individuais dos trabalhadores. Essa abordagem integrada é crucial para desenvolver
estratégias que promovam contratos de trabalho mais justos, equitativos e satisfatórios para todas as partes
envolvidas.
Portanto, a psicossociologia do contrato de trabalho oferece uma perspectiva enriquecedora sobre as dinâ-
micas laborais, indo além das formalidades contratuais para explorar as complexidades das relações humanas
no ambiente de trabalho. A disciplina e o saber operário tornam-se lentes poderosas para compreender as
tensões, desafios e oportunidades que permeiam o cenário profissional, contribuindo assim para o desenvolvi-
mento de ambientes laborais mais saudáveis e sustentáveis.

Trabalho, motivação, satisfação e alienação

— Motivação
A implantação da psicologia nas organizações nas últimas décadas concedeu aos gestores, as respostas
de certas lacunas sobre o trabalho humano, pois o homem é movido por uma força interior, mas, para que
seja satisfatória, e traga bem estar, é estimulada por fatores externos. No ponto econômico das organizações,
quando o colaborador trabalha com satisfação é sinal de mais resultado e mais rentabilidade para a empresa.
Motivação é um processo responsável por impulso no comportamento do ser humano para uma determina-
da ação, que o estimula para realizar suas tarefas de forma que o objetivo esperado seja alcançado de forma
satisfatória.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


107
De acordo com Robbins (2005) a motivação possui três propriedades que a regem, uma é a direção, o foco
da pessoa em sua meta e como realizar, outra é a intensidade, se o objetivo proposto é feito como algo que vai
lhe trazer satisfação ou será realizado por obrigação, e a permanência. “A motivação é específica. Uma pessoa
motivada para trabalhar pode não ter motivação para estudar ou vice-versa. Não há um estado geral de moti-
vação, que leve uma pessoa a sempre ter disposição para tudo.” (MAXIMILIANO, 2007, p.250).
“Motivação é ter um motivo para fazer determinada tarefa, agir com algum propósito ou razão. Ser feliz ou
estar feliz no período de execução da tarefa, auxiliado por fatores externos, mas principalmente pelos internos.
O sentir-se bem num ambiente holístico, ambientar pessoas e manter-se em paz e harmonia, com a soma dos
diversos papéis que encaramos neste teatro da vida chamado “sociedade”, resulta em uma parcialidade única
e que requer cuidados e atenção.” (KLAVA, 2010).
O que os gestores estão buscando são como manter sempre seus colaboradores satisfeitos, para que as-
sim possam exercer suas funções com o rendimento esperado pela organização, de modo que também, lhe
seja prazeroso e satisfatório. Por exemplo, além da remuneração, que já foi provado não ser o principal fator
motivacional do ser humano, existe os fatores de relações interpessoais, como ambiente de trabalho, o relacio-
namento com os demais colaboradores, são estímulos para que os funcionários se motivem ao trabalho.
A partir da análise do filme Invictus (2010) a liderança exercida com democracia revela o respeito das pes-
soas, sem forçá-las para que isso aconteça. E dessa forma as pessoas se sentem motivadas a realizarem seus
trabalhos sem uma pressão superior, dando-lhes bem estar em seu ambiente.
Com a compreensão desses pontos, sabemos de que forma uma pessoa pode sentir-se motivada dentro da
organização. Mas, por trás de tudo isso, tem a questão do poder, pois pela busca do bem estar no trabalho, há
também a ambição econômica e por status dentro das organizações, cabe aos gestores a complicada tarefa de
fazer dos seus colaboradores, aliados, de forma benéfica para todos da organização.
Teorias que abordam a motivação
De acordo com Zanelli (2004) ao longo do tempo foram surgindo conceitos e posteriormente teorias abor-
dando a motivação humana, diversos teóricos contribuíram para tal propósito, analisando o comportamento do
indivíduo e buscando entender o que o faz motivado, e como o processo da motivação ocorre na vida do ser
humano, dentre esses teóricos se destacaram alguns, que analisaram de forma a colocar essas teorias dentro
do contexto organizacional: Maslow, Herzberg, McGregor são alguns desses teóricos.
Pode-se observar que Maslow em sua teoria destaca que o comportamento do indivíduo está sujeito a uma
hierarquia de fatores, baseada nas necessidades humanas, o teórico afirma que o indivíduo só será motivado
a partir do momento que suas necessidades básicas forem supridas, colocando estas como sendo as neces-
sidades fisiológicas e de segurança, estando na base da pirâmide hierárquica de Maslow, o indivíduo conse-
guiria atingir uma nova necessidade a partir do momento que a anterior tiver sido satisfeita, as necessidades
superiores apresentam-se como motivadoras da conduta humana, ou seja, as necessidades sociais, estima e
auto-realização. Sobre esta mesma teoria Maximiano (2007, p.262), vai dizer:
Maslow desenvolveu a idéia de que as necessidades humanas dispõem-se numa hierarquia mais complexa
que a simples divisão em dois grandes grupos. Segundo Maslow, as necessidades humanas dividem-se em
cinco grupos, necessidades fisiológicas ou básicas, segurança, sociais, estima, auto-realização.
Segundo Robbins (2005), Herzberg, com a teoria dos dois fatores, traz que os estímulos de insatisfação se
eliminados podem apaziguar os colaboradores, mas não necessariamente trazem a satisfação. Desse modo o
contrário de satisfação é a não-satisfação; e da insatisfação é a não-satisfação. Pelo fato das pessoas não es-
tarem insatisfeitas, não quer dizer que estão satisfeitas. Os incentivos motivacionais que acercam as condições
de trabalho, Herzberg caracterizou como fatores higiênicos.
Ainda dentro da teoria de Herzberg, Chiavenato (2005), aborda dizendo que para Herzberg a motivação das
pessoas para o trabalho vai depender de dois fatores, sendo os higiênicos que correspondem ao contexto do
trabalho e os motivacionais que correspondem ao cargo, tarefas e atividades relacionadas com o cargo.
“As condições ambientais, no entanto, não são suficientes para induzir o estado de motivação para o tra-
balho. Para que haja motivação, de acordo com Herzberg, é preciso que a pessoa esteja sintonizada com seu
trabalho, que enxergue nele a possibilidade de exercitar suas habilidades ou desenvolver suas aptidões.” (MA-
XIMIANO, 2007 p.268-269).

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


108
Seguindo ainda a linha das teorias que aborda à motivação Zanelli (2004), apresenta a teoria X e Y, onde
McGregor abordou que o homem tem aversão ao trabalho, precisa ser controlado e punido, só se interessa
pela parte financeira que o trabalho irá lhe proporcionar, sendo está à teoria X, dentro da teoria Y, McGregor diz
que o desempenho do homem no trabalho é um fator mais de natureza gerencial do que motivacional. O autor
ainda acrescenta:
“A conclusão de McGregor foi a de que a prática gerencial apoiada na teoria X ignorava os estudos da mo-
tivação desenvolvidos por Maslow, que ressaltavam o quanto a motivação seria decorrente da emergência de
necessidades humanas dispostas hierarquicamente.” (ZANELLI, 2004 p.151-152).
Entende-se pois, que várias teorias foram criadas para abordar a motivação, cada uma com um enfoque,
mais aliadas a analisar de forma criteriosa a respeito do comportamento do indivíduo; de que formas são motiva-
dos, quais os mecanismos que poderão ser usados para que o processo motivacional aconteça de forma a trazer
êxodo tanto para o indivíduo quanto para a organização. Segundo Chiavenato (2005, p.247). “Não faltam teorias
sobre motivação. Nem pesquisas sobre o assunto. O fato é que o assunto é complexo”.
Processo motivacional
De acordo com Chiavenato (2005), a motivação vai estar atrelada com o comportamento humano, quando
este pretende alcançar algum objetivo, a uma variedade de fatores que poderão influenciar a motivação do in-
divíduo, quando o mesmo tem uma determinada necessidade, imediatamente busca mecanismos que faz com
que a satisfação seja suprida de forma a lhe garantir um conforto e realização, ainda segundo o autor:
“Os seres humanos são motivados por uma grande variedade de fatores. O processo motivacional pode
ser explicado da seguinte forma: as necessidades e carências provocam tensão e desconforto na pessoa e
desencadeiam um processo que busca reduzir ou eliminar a tensão. A pessoa escolhe um curso de ação para
satisfazer determinada necessidade ou carência. Se a pessoa consegue satisfazer a necessidade, o processo
motivacional é bem-sucedido. Essa avaliação do desempenho determina algum tipo de recompensa ou punição
à pessoa.” (CHIAVENATO, 2005 p. 273).
Essas considerações referentes à motivação nos levam a entender que o processo motivacional está intima-
mente ligado ao comportamento do indivíduo, ou seja, o que ele busca alcançar; é claro e faz se lembrar que o
ambiente é fator preponderante para a busca da realização das necessidades, vários fatores são responsáveis
pela motivação humana. Dentro do contexto organizacional entende-se, pois que o clima organizacional está
relacionado com a motivação, segundo Chiavenato (2005).
“O clima organizacional está intimamente relacionado com o grau de motivação de seus participantes.
Quando há elevada motivação entre os membros, o clima organizacional se eleva e traduz-se em relações de
satisfação, animação, interesse, colaboração irrestrita etc., todavia, quando a baixa motivação entre os mem-
bros, seja por frustração ou imposição de barreiras a satisfação, das necessidades, o clima organizacional
tende a baixar, caracterizando-se por estados de depressão, desinteresse, apatia, insatisfação etc., podendo
em casos extremos chegar ao estado de agressividade, tumulto, inconformismo etc., típicos de situação em
que os membros se defrontam abertamente com a organização, como nos casos de greves, piquetes etc.”
(CHIAVENATO, 2005 p. 269).
Portanto, os gestores devem compreender que o clima organizacional é fator de grande importância nas or-
ganizações, a partir do momento que a organização oferece um ambiente que seja propício para o colaborador
se sentir motivado, animado e interessado com o trabalho, a organização caminhará ao alcance dos resultados
positivos, colaborador que trabalha satisfeito a organização só tende a crescer, mas para isso é preciso que
haja condições; uma desta é favorecer um ambiente de trabalho agradável.
As relações das teorias motivacionais contemporâneas e as organizações
A expansão da globalização exige pessoas bem instruídas e qualificadas. As teorias contemporâneas ba-
seiam-se na necessidade de auto realização, a ambição por um bom cargo e status dos colaboradores, essas
teorias dão ênfase aos estímulos motivacionais principalmente no trabalho.
Clayton Alderfer, com a Teoria ERG (Existence, Relatedness, Growth), somou à Teoria das Necessidades
descrita por Maslow, informações das organizações contemporâneas, e propôs três grupos de motivação no
trabalho. O primeiro grupo foi o de existência, que está associado às necessidades básicas, como descritas
por Maslow nas necessidades fisiológicas e de segurança. O segundo, as necessidades de relacionamento,
desejo que os seres humanos têm em manter relações sociais. No último grupo, aparece a necessidade de

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


109
crescimento do colaborador, o desejo por cargos e status dentro da organização, realização pessoal dá ênfase
as necessidades de nível alto da teoria de Maslow. “Um desejo intrínseco de desenvolvimento pessoal. Isto
inclui os componentes intrínsecos da categoria estima de Maslow, bem como as características da necessidade
de auto realização”. (ROBBINS, 2005 p.136).
David McClelland e sua equipe deram ênfase a três necessidades: realização, poder e associação; que apa-
recem de forma diferenciada em cada pessoa, caracterizando-as. A necessidade de realização, a compulsão
por eficiência, o desejo de ser cada vez melhor, e suprir sua necessidade pessoal, os grandes realizadores se
destacam das outras pessoas pelo seu desejo de fazer melhor as coisas. As pessoas que gostam de estar no
comando, se caracteriza pela necessidade de poder, em estar liderando e preferem situações competitivas e
de status, tendem a se preocupar mais com o prestígio e a influência do que propriamente com o desempenho
eficaz. “Pessoas orientadas pela necessidade de associação buscam a amizade, preferem situações de coope-
ração em vez de competição e desejam relacionamentos que envolvam um alto grau de compreensão mútua.”
(ROBBINS, 2005 p.139)
As demais teorias, como, a teoria da fixação de objetivos, ênfase na produtividade; teoria do reforço, quali-
dade e volume de trabalho; teoria do planejamento do trabalho, produtividade, absenteísmo, satisfação e rotati-
vidade; teoria da equidade, ponto forte na previsão do absenteísmo e da rotatividade; e a teoria da expectativa,
o colaborador se sente motivado sabendo que a força exercida para objetivo terá o resultado esperado.
“O ambiente de trabalho moderno é, para dizer o mínimo, desafiador. O sucesso das organizações e das pessoas
que as fazem funcionar não vem fácil. Essa era de contrastes abre a porta para a criatividade na administração. Os ga-
nhos em produtividade, desempenho e lealdade do consumidor ficam à disposição daqueles que realmente respeitam
as necessidades dos trabalhadores, tanto no emprego quanto na vida pessoal.” (KLAVA apud SCHERMERHORN et
al, 2010).
As teorias motivacionais contemporâneas trouxeram uma nova roupagem, sobre a motivação do indivíduo,
adequando as teorias anteriores a um contexto organizacional moderno e desafiador, que as organizações
terão que enfrentar.

Exercícios

1. O que é enfatizado como o principal na evolução social no texto?


(A) Desenvolvimento científico.
(B) Binômio trabalho e progresso técnico.
(C) Inovação tecnológica.
(D) Organização comunitária.

2. Qual é a função crucial atribuída às atividades laborativas ao longo da história?


(A) Subsistência e organização comunitária.
(B) Desenvolvimento científico.
(C)Inovação tecnológica.
(D) Progresso social.

3 - O que a sociologia explora como fenômeno social em relação ao trabalho?


(A) Desenvolvimento social.
(B) Relações de trabalho.
(C)Inovação tecnológica.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


110
(D) Automatização.

4 - Qual é a perspectiva da psicologia do trabalho no que concerne às vivências individuais dos trabalhadores?
(A) Estudo do desenvolvimento social.
(B) Enfoque nas estruturas sociais.
(C)Investigação sobre a eficiência tecnológica.
(D) Direcionamento para as experiências individuais.

5 - O que o avanço técnico impacta diretamente na experiência psicológica dos trabalhadores, conforme o
texto?
(A) Estabilidade emocional.
(B) Bem-estar financeiro.
(C)Inovação tecnológica.
(D) Eficiência tecnológica.

6 - O que a automatização, como exemplo de progresso técnico, pode causar, de acordo com o texto?
(A) Aumento das desigualdades.
(B) Redução da eficiência.
(C) Desaceleração do progresso.
(D) Estagnação social.

7 - Quais são os desafios psicológicos enfrentados em ambientes onde a tecnologia desempenha papel
preponderante?
(A) Estabilidade emocional.
(B) Bem-estar financeiro.
(C)Adaptação rápida e receio da obsolescência profissional.
(D) Eficiência tecnológica.

8 - O que a sociologia aplicada ao trabalho explora em relação à introdução de tecnologias avançadas no


ambiente laboral?
(A) Impacto na saúde mental.
(B) Desenvolvimento social.
(C) Desigualdades socioeconômicas.
(D) Inovação tecnológica.

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


111
9 - O que é sublinhado como vital para fomentar uma evolução equitativa e sustentável da sociedade no
texto?
(A) Inovação tecnológica.
(B) Desenvolvimento social.
(C)Compreensão das dinâmicas sociais e psicológicas.
(D) Eficiência tecnológica.

10 - O que as disciplinas de sociologia e psicologia aplicadas ao trabalho realizam na sociedade, segundo


o texto?
(A) Papéis secundários.
(B) Funções essenciais na antecipação e gestão dos desafios.
(C) Contribuições mínimas.
(D) Desenvolvimento econômico.

11. Qual é o papel fundamental do processo de trabalho na compreensão das dinâmicas sociais, econômicas
e psicológicas?
(A) Meramente secundário
(B) Essencial e central
(C)Ocasional e dispensável
(D) Aleatório e insignificante

12. De que maneira a sociologia aplicada ao trabalho explora as relações laborais?


(A) Ignorando as relações laborais
(B) Analisando hierarquias organizacionais
(C)Enfocando apenas a divisão do trabalho
(D) Desconsiderando as estruturas sociais

13. Qual é o foco da psicologia aplicada ao trabalho no ambiente laboral?


(A) Aspectos puramente físicos
(B) Exclusivamente econômicos
(C) Apenas a divisão do trabalho
(D) Saúde mental, bem-estar emocional e desenvolvimento individual

14. O que a sociologia destaca em relação às mudanças na organização de trabalho ao longo da história?
(A) Irrelevância para as estruturas sociais
(B) Influência nas estruturas sociais
(C) Ausência de impacto nas estruturas sociais

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


112
(D) Desconhecimento das transformações

15. Qual é o papel da tecnologia na reconfiguração das estruturas sociais, conforme evidenciado na
sociologia?
(A) Sem relevância para as estruturas sociais
(B) Papel secundário nas estruturas sociais
(C) Desconsiderada nas análises sociológicas
(D) Reconfiguração das estruturas sociais

16. O que a psicologia aplicada ao trabalho investiga em relação às mudanças tecnológicas na organização
de trabalho?
(A) Impacto apenas econômico
(B) Efeitos psicológicos nas relações pessoais
(C) Adaptação dos trabalhadores e impacto psicológico
(D) Desconsidera os efeitos psicológicos

17. Quais são os temas críticos abordados pela sociologia aplicada ao trabalho no cenário contemporâneo?
(A) Exclusivamente questões políticas
(B) Desafios no acesso a oportunidades laborais, precarização do trabalho e mudanças nas formas de
emprego
(C) Nenhuma abordagem contemporânea
(D) Apenas aspectos econômicos

18. O que a psicologia busca ao enfrentar desafios contemporâneos na organização de trabalho?


(A) Ignorar a saúde mental
(B) Desconsiderar o bem-estar emocional
(C) Promover ambientes laborais saudáveis
(D) Aumentar a pressão no trabalho

19. No contexto das desigualdades sociais, como a sociologia aplicada destaca a organização de trabalho?
(A) Refletindo igualdade absoluta
(B) Ignorando desigualdades
(C)Reflexo e perpetuação de disparidades
(D) Sem impacto nas desigualdades

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


113
20. O que é essencial para moldar futuras práticas de trabalho mais justas, equitativas e humanas, segundo
os textos?
(A) Ignorar a sociologia
(B) Desconsiderar as transformações tecnológicas
(C) Compreensão das dinâmicas sociais e psicológicas
(D) Focar apenas nas exigências do trabalho

21. Como a sociologia aplicada ao trabalho aborda o trabalho escravizado?


(A) Ignorando as relações laborais
(B) Analisando hierarquias organizacionais
(C) Enfocando apenas a divisão do trabalho
(D) Desconsiderando as estruturas sociais

22. Qual é o papel da sociologia na análise do trabalho escravizado no contexto histórico?


(A) Irrelevância para as estruturas sociais
(B) Influência nas estruturas sociais
(C) Ausência de impacto nas estruturas sociais
(D) Desconhecimento das transformações

23. O que a psicologia aplicada ao trabalho investiga em relação às experiências individuais dos escravizados?
(A) Impacto apenas econômico
(B) Efeitos psicológicos nas relações pessoais
(C) Adaptação dos trabalhadores e impacto psicológico
(D) Desconsidera os efeitos psicológicos

24. Como o sistema feudal é descrito sob a perspectiva sociológica?


(A) Refletindo igualdade absoluta
(B) Ignorando desigualdades
(C) Reflexo e perpetuação de disparidades
(D)Sem impacto nas desigualdades

25. O que a psicologia do trabalho feudal destaca em relação à falta de reconhecimento do valor do trabalho?
(A) Aumento da pressão no trabalho
(B) Desconsideração do bem-estar emocional
(C)Adversidade nas relações pessoais
(D)Afeta a saúde mental dos trabalhadores

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


114
26. No contexto do trabalho livre desprotegido, como a sociologia aplicada ao trabalho analisa as relações
de poder?
(A) Ignorando as relações laborais
(B) Analisando hierarquias organizacionais
(C) Focando apenas na divisão do trabalho
(D) Desconsiderando as estruturas sociais

27. Qual é a preocupação central da psicologia aplicada ao trabalho no trabalho livre desprotegido?
(A) Ignorar a saúde mental
(B) Desconsiderar o bem-estar emocional
(C) Promover ambientes laborais saudáveis
(D) Aumentar a pressão no trabalho

28. Como a sociologia aplicada destaca a ausência de proteção no trabalho livre desprotegido?
(A) Reflexo de igualdade absoluta
(B) Ignorando desigualdades
(C) Reflexo e perpetuação de disparidades
(D) Sem impacto nas desigualdades

29. O que a psicologia aplicada ao trabalho examina no contexto do trabalho livre desprotegido?
(A) Impacto apenas econômico
(B) Efeitos psicológicos nas relações pessoais
(C) Adaptação dos trabalhadores e impacto psicológico
(D) Desconsidera os efeitos psicológicos

30. Como a sociologia e a psicologia aplicada ao trabalho contribuem para enfrentar as consequências do
trabalho escravizado?
(A) Ignorando as dimensões sociais e psicológicas
(B) Analisando apenas as estruturas sociais
(C) Desconsiderando os impactos psicológicos
(D) Oferecendo ferramentas para analisar e transformar as realidades

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


115
31 - O que representou o artesanato nas fases iniciais da industrialização?
(A)Uma forma tradicional de produção
(B) Uma tecnologia avançada
(C) Um precursor da automação
(D) Um método agrícola

32 - Como eram organizados os artesãos durante o período pré-industrial?


(A) Em grandes fábricas
(B) Em pequenas oficinas
(C) Em linhas de produção automatizadas
(D)Isolados em suas casas

33 - O que a transição para a industrialização trouxe para a estrutura do trabalho artesanal?


(A) Desaparecimento imediato
(B) Novas tecnologias para o artesanato
(C) Desafios e transformações
(D) Autonomia total para os artesãos

34 - Qual foi o papel da manufatura na Revolução Industrial?


(A) Produção artesanal
(B) Estágio intermediário
(C)Produção fabril plena
(D) Retorno ao artesanato

35 - O que caracterizou a manufatura em termos de organização do trabalho?


(A) Produção fabril em grande escala
(B) Uso intensivo de máquinas
(C)Escala intermediária e especialização
(D)Trabalho manual tradicional

36 - Como a manufatura influenciou as relações entre os trabalhadores?


(A) Tornou-as mais impessoais e hierárquicas
(B) Promoveu a igualdade
(C) Reduziu a divisão de classes

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


116
(D) Reforçou a autonomia individual

37 - Quais foram os desafios psicológicos para os trabalhadores na manufatura?


(A) Autonomia e padronização
b) Criatividade e identidade
(C) Isolamento e monotonia
(D) Estresse e jornadas curtas

38 - O que a maquinofatura introduziu nas estruturas sociais?


(A) Uso intensivo de máquinas
(B) Fragmentação do trabalho
(C) Transição para a produção artesanal
(D) Perda de identidade profissional

39 - Como a automação na maquinofatura afetou a identidade dos trabalhadores?


(A) Reforçou a autonomia
(B) Não teve impacto significativo
(C) Transformou-a devido à especialização
(D) Reduziu a fragmentação do trabalho

40 - O que a mecanização da produção desencadeou nas dimensões sociológicas e psicológicas do trabalho?


(A) Estagnação no desenvolvimento industrial
(B) Aumento da produção artesanal
(C) Mudanças radicais na estrutura social
(D) Minimização das relações entre empregadores e empregados

41 - Qual foi o século em que o movimento operário ganhou expressiva força como resposta às transformações
da Revolução Industrial?
(A) Século XVIII
(B) Século XIX
(C) Século XX
(D) Século XXI

42 - O que motivou a formação de sindicatos e movimentos coletivos durante o movimento operário?


(A) Busca por direitos civis
(B) Luta pela igualdade de gênero

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


117
(C) Melhorias nas condições de trabalho
(D) Inclusão social

43 - Qual perspectiva destaca as mudanças nas estruturas sociais causadas pela organização dos
trabalhadores?
(A) Psicologia aplicada
(B) Sociologia aplicada
(C) Ambas
(D)Nenhuma das opções

44 - O que o envolvimento em sindicatos e movimentos coletivos proporcionou aos trabalhadores, de acordo


com a psicologia aplicada?
(A)Solidariedade e pertencimento
(B) Alienção e isolamento
(C)Desmotivação e desinteresse
(D) Competitividade e individualismo

45 - Além das condições imediatas de trabalho, o movimento operário evoluiu para abordar quais outras
questões?
(A) Direitos civis e igualdade de gênero
(B) Inovações tecnológicas
(C)Sustentabilidade ambiental
(D)Igualdade de gênero, inclusão e justiça social

46 - O que a participação ativa no movimento operário proporcionou aos trabalhadores sob uma perspectiva
psicológica?
(A) Sentimento de impotência
(B) Sensação de alienação
(C) Senso de agência
(D)Desmotivação constante

47 - Como a sociologia aplicada ao trabalho contribui para a compreensão do movimento operário?


(A) Evidenciando o impacto psicológico nas lutas coletivas
(B) Explorando as condições imediatas de trabalho
(C)Destacando as alterações nas estruturas sociais
(D)Ignorando as complexidades das lutas coletivas

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


118
48 - O que fortalecia a autoestima e a autoeficácia dos trabalhadores durante o movimento operário, de
acordo com a psicologia aplicada?
(A) Jornadas extenuantes
(B) Condições precárias
(C) Envolvimento em protestos e negociações coletivas
(D) Ausência de regulamentação

49 - Qual é a importância destacada no texto para a compreensão holística da organização dos trabalhadores
e trabalhadoras?
(A) Condições de trabalho
(B) Relações sociais e construção de identidade
(C) Hierarquias tradicionais
(D) Expressiva força do movimento operário

50 - O que o movimento operário é considerado, de acordo com o texto?


(A) Um fenômeno exclusivamente do século XXI
(B) Um elemento crucial apenas na Revolução Industrial
(C) Um marco essencial na narrativa histórica do trabalho
(D) Uma resposta individual às condições adversas

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


119
Gabarito

1 B 26 B
2 A 27 C
3 B 28 C
4 D 29 C
5 C 30 D
6 A 31 A
7 C 32 B
8 C 33 C
9 C 34 B
10 B 35 C
11 B 36 A
12 B 37 C
13 D 38 B
14 B 39 C
15 D 40 C
16 C 41 B
17 B 42 C
18 C 43 B
19 C 44 A
20 C 45 D
21 B 46 C
22 B 47 C
23 C 48 C
24 C 49 B
25 D 50 C

Apostila gerada especialmente para: suane maria mafra couto 833.096.242-34


120

Você também pode gostar