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A AUTORA

Ana Jussara Silva do Nascimento


Olá! Meu nome é Ana Jussara. Sou formada em Ciências Econômicas,
mestre em Administração e em Meio Ambiente e Qualidade de Vida.
Tenho experiência como docente e pesquisadora em estudos voltados
às Políticas Sociais desde a graduação, na especialização em Economia
Política Regional e também em uma outra especialização em Sociologia,
na qual tive a oportunidade de discutir assuntos voltados à temática. Amo
o que faço e por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu
elenco de autores independentes. Estou muito feliz em contribuir nesta sua
fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Teoria Social .................................................................................................10
Fundamentos da Teoria Social ..............................................................................................10

Giddens e Durkheim: suas teorias sociológicas.....................................10

Contribuições de Marx: subjetividade da mercadoria e trabalho


socialmente necessário à produção............................................................... 13

Fundamentos da Política social ............................................................19


Ser social, sociedade e cultura.............................................................................................. 22

As questões sociais........................................................................................................................24

Classes e lutas sociais .............................................................................. 28


As divisões em classes sociais..............................................................................................28

A luta de classes .............................................................................................................................32

As classes sociais brasileiras...................................................................................................34

Capital Social..................................................................................................37
Capital social e desenvolvimento regional................................................................... 39

Capital social no Brasil ................................................................................................................42

O fluxo das informações nos relacionamentos: uma análise dos custos


de transação e capital social...................................................................................................43
Políticas Sociais 7

01
UNIDADE
8 Políticas Sociais

INTRODUÇÃO
Você sabia que o estudo acerca de temas relacionados às Políticas
sociais está em crescente ascensão? Isso mesmo! Diante da necessidade
do desenvolvimento de pesquisas e ações que possam acentuar as
desigualdades sociais, percebe-se maiores investimentos na área. Esse
crescimento reflete na demanda por profissionais que estejam qualificados
para o exercício profissional que possam aliar o conhecimento teórico ao
prático. Nessa unidade vamos entender os fundamentos das políticas
sociais e entender as teorias sociais por meio de grandes autores da
temática. Vamos mergulhar no entendimento do indivíduo enquanto ser
social, sua vida em sociedade e a influência da cultura em sua vida. Muito
do que vamos estudar vai parecer bem familiar a você! Outros temas
como a divisão da sociedade em classes, luta de classes e o capital
social também fazem parte do nosso assunto. Temos muito conteúdo
interessante e que contribuirá para a sua carreira.

Aproveite a leitura! Bons estudos!


Políticas Sociais 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 01. Nosso objetivo é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta
etapa de estudos:

1. Compreender a essência, a justificativa e as definições fundamentais da


teoria social, identificando sua aplicabilidade na política, na economia e em vários
outros aspectos da sociedade;

2. Discernir sobre os fundamentos da política social;

3. Identificar as classes e as respectivas lutas sociais, refletindo sobre sua


justificativa e motivação histórica;

4. Aplicar as variáveis mais significativas das políticas sociais ao conceito de


capital social, como a pobreza, a identidade e cultura.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao


trabalho!
10 Políticas Sociais

Teoria Social
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender as


classes e lutas sociais e seus reflexos históricos na pobreza,
na identidade e na cultura. Isto será fundamental para
o excelente exercício de sua profissão, ao deixá-lo apto
para o exercício de atividades ou pesquisas que envolvam
temas voltados as políticas sociais. E então, motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!

Fundamentos da Teoria Social


A teoria social busca entender os fenômenos sociais, as regras
e condutas individuais e em sociedade, as relações de poder, as
desigualdades sociais, a luta de classes, uma vez que estas são
contribuições que resultam na identificação, análise e interpretação do
comportamento social.

A teoria social contribui para a compreensão das questões do


mundo contemporâneo, tornando-se referência para o debate sobre o
entendimento do social, como também permite promover a compreensão
dos problemas que as abordagens políticas não conseguem alcançar. A
teoria social propôs análises significativas da política, da oposição entre a
teoria das elites e a teoria da sociedade de massas, entre outras (SANTOS,
2018).

Vamos conhecer a teoria social por meio das contribuições de


alguns autores. Dividimos suas contribuições em duas abordagens: uma
política e sociológica, com Anthony Giddens e Émile Durkheim e uma
segunda com Karl Marx, em uma perspectiva econômica.

Giddens e Durkheim: suas teorias sociológicas


O sistema capitalista é visto por Giddens como um modelo de
integração social, o qual orienta laços que vão além das fronteiras
Políticas Sociais 11

tradicionais das comunidades e nações, construindo um novo sentido de


organização social e política, desafiando as gerações atuais a repensarem
as raízes da experiência democrática. Este é o sentido da teoria social de
Giddens (SAUL, 2003).

Em um plano geral, observa-se o delineamento da tendência que


parece dominar a cena na atualidade, seria um novo ambiente sociológico,
induzido pelo mercado o qual domina como centro ético e político, por
meio do qual é processada uma ampla gama de redefinição de relações
sociais, políticas e econômicas no plano global e local (IBID. 2003).

Giddens contribuiu com suas abordagens para o entendimento


da construção da sociedade. Para o autor, o indivíduo constitui um
agente reflexivo, o “eu” implica no posicionamento individual enquanto
a sociedade organiza-se em um conjunto de interesses cruzados. Estes
seriam sistemas sociais e ao mesmo tempo, organizados pela interseção
de múltiplos sistemas sociais, que podem ser totalmente internos às
sociedades ou externos, permitindo a formação de uma diversidade de
conexões entre totalidades sociais e sistemas intersociais (LEITE, 2020).

Durkheim demonstra uma maior ênfase ao estudo dos fatos sociais,


sob a análise de questões metodológicas voltadas à sociedade. Para o
autor não é todo e qualquer fato que ocorre dentro da sociedade que pode
ser denominado assim, como as ações de comer, dormir e pensar, sendo
estas voltadas ao campo da biologia e da psicologia. Sua observação
considera que os fatos sociais existem fora da consciência individual de
cada um dos membros da sociedade e estes são carregados desde o
nascimento e independem da nossa vontade (SERRETTI, 2020).

O fato social envolve o modo de agir, pensar e sentir os quais


exercem força sobre os indivíduos e estes tinham por obrigação adaptar-
se às regras impostas para a convivência no local onde vivem. São
elencadas três características as quais identificam um fato social, sendo
elas: generalidade, coercitividade e exterioridade. Vejamos seus conceitos
no quadro seguinte:
12 Políticas Sociais

Quadro 1 – Características do fato social

CARACTERÍSTICA CONCEITO

Fatos sociais dizem respeito a uma sociedade.


Eles não existem para um indivíduo, mas sim para
Generalidade
um conjunto de indivíduos que compõem uma
sociedade.

Obriga os indivíduos inseridos em uma determinada


sociedade a seguir os determinados padrões para
convivência nela. Relacionada, geralmente, com
Coercitividade a imposição, com a força e o poder. Os padrões
culturais são os reais coordenadores das ações
dos indivíduos, sem quaisquer possibilidades de
mudança.

Ao nascimento do indivíduo, a sociedade já possui


uma organização estabelecida. Leis, padrões,
Exterioridade sistema monetário etc. Tudo está pronto e bastará
que o indivíduo aprenda como adentrar esse meio
social.
Fonte: Adaptado (BUNDE, 2020).

Essas forças teriam ação externa ao indivíduo, estariam dotadas de


poder de coerção sobre o mesmo indivíduo, independem de sua vontade
e são algo já existente na sociedade.

A instituição social, um outro conceito aprofundado por Durkheim,


consiste no mecanismo de organização da sociedade, são suas regras e
protocolos padronizados socialmente, aceitos pela sociedade, os quais
têm por objetivo manter a organização do grupo, resultando na satisfação
dos indivíduos que o compõem. Assim, as instituições são consideradas
conservadoras por essência e agem de encontro às mudanças, sejam elas
família, escola, governo, ou organizados de qualquer outra forma. Uma
sociedade sem regras claras (para o autor em “estado de anomia”), sem
limites, levaria os indivíduos à desordem e ao desespero (SEED, 2020).

A solidariedade entre os indivíduos e a sociedade está baseada


no princípio da semelhança entre eles, nesse sentido, existem práticas
ideais para o convívio, em que as práticas distantes desse modelo ideal
Políticas Sociais 13

resultariam na diminuição da solidariedade social, mais um conceito


abordado por Durkheim.

Dessa forma, se a solidariedade entre indivíduos e sociedade se


ampara no princípio da semelhança entre eles, isso implica que qualquer
prática que se afaste do ideal da coletividade provoca inevitavelmente
uma diminuição da solidariedade social. Assim, a observância da
consciência coletiva pode ser mais facilmente verificada em sociedades
ditas primitivas, regidas por costumes e crenças comuns (ARAÚJO, 2005).

Assim como afirma Durkheim (1995, 91), “a primeira condição para


que um todo seja coerente é que as partes que o compõem não se
choquem em movimentos discordantes. Mas esse acordo externo não
faz a sua coesão; ao contrário, a supõe”.

Nesse sentido, as regras demonstram o estado de consciência


comum e acabam por vincular o indivíduo a uma determinada sociedade.

A solidariedade mecânica consiste em sua fase primitiva, em


que a sociedade se organizava mediante suas semelhanças psíquicas
e sociais dos membros individuais, compartilhando os mesmos valores
sociais, por meio dessa correspondência de valores; a coesão social
estava segura. Há a solidariedade orgânica, que apresenta uma maior
diferenciação individual e social, comum nas sociedades ditas “modernas”
ou “complexas”. Nesse modelo, cada indivíduo desempenha uma função
e depende dos outros para sobreviver. Nesse ponto, das diferenças
sociais é que há a união entre os indivíduos, pois dependem da função de
cada um para o suprimento de suas necessidades. O indivíduo depende
dos demais e por isso se sente parte do todo (SEED, 2020).

Contribuições de Marx: subjetividade da mercadoria


e trabalho socialmente necessário à produção
O capitalismo é descrito por Marx, explicando a evolução das
relações econômicas das sociedades e o seu processo histórico, numa
concepção de que a sociedade vive constantemente numa luta de
classes entre poderosos e fracos. O materialismo histórico é uma outra
14 Políticas Sociais

teoria marxista que leva a explicar as sociedades humanas por meio de


fatos materiais, essencialmente econômicos e técnicos.
Figura 1: Karl Marx

Fonte: Wikimedia Commons

Ele relata a existência de uma superestrutura e uma estrutura,


constituindo uma pirâmide, com a inversão dessa realidade, colocando
a maioria que constitui a estrutura e é composta pelo proletariado,
destruindo desta forma, a sociedade capitalista, na qual tudo seria
controlado por todos, sem desigualdades e fortalecendo o socialismo.
Para Marx, com o capitalismo vem a injustiça social e considerando a
mais-valia como a lei fundamental do sistema.

Em uma de suas abordagens, Marx descreve o fetichismo da


mercadoria. O caráter fetichista da mercadoria não está relacionado ao seu
valor de uso, com as qualidades que ela detém, mas sim com a relação
que é feita entre os olhos, que é o órgão dos sentidos por onde os desejos
são atiçados, de onde a vontade de ter e a cobiça são despertados.
Políticas Sociais 15

Os olhos assumem uma função muito importante nessa relação de


segredo da mercadoria, ligando-se de forma física a um objetivo físico,
que é a mercadoria. No momento em que ambos se encontram, o que
prevalece é o desejo materializado na mercadoria e o “meu objeto” (o
desejo de consumo), sendo esquecidos todos os processos que foram
realizados durante a constituição daquilo que almejo. Os processos
produtivos, as diversas mãos dos que foram necessários durante a
divisão social do trabalho, na qual diversas pessoas utilizam a sua força
de trabalho, a qualificação que possuem com a finalidade de originar uma
mercadoria. Descreve Marx (1985):

A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as


características sociais do próprio trabalho dos homens,
apresentando-as como características materiais e
propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho;
por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhadores
individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la como
relação social existente, a margem deles, entre produtos do
seu próprio trabalho. (MARX, 1985, p.71)

Então, os trabalhos independentes ou individuais são percebidos


apenas na sua totalidade, quando se tornam mercadorias, fruto do
produto do trabalho. Daí a alusão à visão, visto que a mercadoria disfarça
aquilo que os olhos conseguem ver e o que não conseguem. É vista uma
satisfação materializada, mas não é enxergada como decorreu o processo
da matéria na sua forma primária até tornar-se mercadoria. Nesse sentido,
Marx (1985) acrescenta:

Aí, os produtos do cérebro humano parecem dotados de


vida própria, figuras autônomas que mantêm relações entre
si e com os seres humanos. É o que ocorre com os produtos
da mão humana, no mundo das mercadorias. Chamo a isso
de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos do
trabalho, quando são gerados com mercadorias. É inseparável
da produção de mercadorias. (MARX, 1985, p.71)

Nesse mistério que sonda a mercadoria, há contatos sociais entre


os produtores, na sua forma de trabalho individual. Um que vendeu a
16 Políticas Sociais

sua força de trabalho e recebeu por ela e uma outra força de trabalho
que foi vendida também. Então, parecem até a mesma afirmação, mas,
é diferenciada no momento em que uma recebeu por seu trabalho e vai
trocar por uma mercadoria que é fruto do trabalho de uma outra. São
trabalhos individuais que se juntam formando o todo do trabalho social.

É nesse momento da troca da mercadoria, que conseguiram atingir


um certo grau de utilidade, tornando-se permutáveis, surgindo o duplo
caráter social do trabalho. Dessa forma, a utilidade de uma determinada
mercadoria deve satisfazer as necessidades de certos indivíduos. Em
consequência, há a necessidade de sua produção e do trabalho social
que há nela. A troca é o único momento em que os trabalhos sociais são
igualados, as diferenças não são percebidas e são reduzidas a um caráter
comum nos produtos de seus trabalhos.

Nessa perspectiva, há a equiparação de seus trabalhos que são


diferentes, num momento em que seus objetos úteis são convertidos
numa linguagem totalmente social, visto que não o seria possível em
outras formas, já que os produtos de trabalho que cada um desenvolve
possui em si qualificações diferentes.

Quanto maior a qualificação da mão de obra maior será a sua


remuneração, sendo esta igualdade social devido a isto. O trabalho
humano é medido pelo dispêndio da força de trabalho simples, que
em média todo homem comum sem educação especial possui em seu
organismo, passando a ser considerado complexo ou qualificado no
momento em que o trabalho simples é potencializado ou multiplicado,
sendo a quantidade de trabalho qualificado superior à quantidade de
trabalho simples. São ambos trabalhos humanos, numa relação natureza/
trabalho, mas que se diferenciam em sua qualidade de acordo com
certa atividade que é desenvolvida. Dessa forma, do modo em que as
mercadorias têm valores de uso diferentes por sua qualidade, o trabalho
que dá origem à mercadoria é diferenciado qualitativamente.

Na prática, os produtores restringem o seu interesse a saber


quanto a sua mercadoria pode ser trocada em proporções por uma outra.
Considerando a troca na forma quantitativa, ou seja, uma certa quantidade
de trigo é igual a a uma certa quantidade, quantidade de arroz, que são
Políticas Sociais 17

manifestações não determinadas pelos que participam do processo de


troca de suas mercadorias. Eles não possuem o poder para determinar
quanto a sua mercadoria vale. Esse valor é imposto pelo tempo de
trabalho socialmente necessário à sua produção, o que vem a ser isso, o
tempo gasto por um trabalhador em condições e habilidade média para
a produção de uma determinada mercadoria, considerando também o
tempo médio, senão um trabalhador lento ou preguiçoso teria uma maior
valorização de sua mercadoria. Como descreve Marx (1985):

A determinação da quantidade de valor pelo tempo do trabalho


é, por isso, um segredo oculto sob os movimentos visíveis dos
valores relativos das mercadorias. Sua descoberta destrói a
aparência de casualidade que reveste a determinação das
quantidades de valor dos produtos do trabalho, mas não suprime
a forma material dessa determinação. (MARX, 1985, p.75)

Nessa análise, o que realmente vem a igualar a forma real dos


trabalhos individuais e o trabalho social total é o dinheiro, um equivalente
universal que deixa de lado trocas por meio de proporções quantitativas
das mercadorias, caracterizada por sua subjetividade, por uma nova
forma objetiva da produção das mercadorias, que é compatível à todas as
mercadorias e é nesta forma que é encontrada a forma direta.

SAIBA MAIS:

ACESSE o livro “História e Teoria Social” do autor Peter


Burke, que contempla uma análise mais detalhada da
Teoria Social. Disponível em: https://bit.ly/3pSVx24.
18 Políticas Sociais

RESUMINDO:

E então? Gostou do que aprendeu na segunda


competência? Aprendeu mesmo? Agora, só para termos
certeza de que você realmente entendeu o tema de
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos:
A teoria social busca entender os fenômenos sociais, as
regras e condutas individuais e em sociedade, as relações
de poder, as desigualdades sociais, a luta de classes que
são contribuições que resultam na identificação, análise
e interpretação do comportamento social. São discutidas
algumas contribuições de Giddens, Durkheim e Marx. O
sistema capitalista é visto por Giddens como um modelo
de integração social, o qual orienta laços que vão além
das fronteiras tradicionais das comunidades e nações,
construindo um novo sentido de organização social e
política, desafiando as gerações atuais a repensarem as
raízes da experiência democrática, sendo este é o sentido
da teoria social de Giddens. Durkheim apresenta os
conceitos de: fato social, instituição social, solidariedade
social, solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.
Por fim, o capitalismo é descrito por Marx, explicando a
evolução das relações econômicas das sociedades e o seu
processo histórico, numa concepção de que a sociedade
vive constantemente numa luta de classes entre poderosos
e fracos.
Políticas Sociais 19

Fundamentos da Política social


INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender as


classes e lutas sociais e seus reflexos históricos na pobreza,
na identidade e na cultura. Isto será fundamental para
o excelente exercício de sua profissão, ao deixá-lo apto
para o exercício de atividades ou pesquisas que envolvam
temas voltados às políticas sociais. E então, motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!

A Política social é reconhecida como um fenômeno associado


à constituição da sociedade burguesa, ou seja, específico do sistema
capitalista de produção, não aos seus primórdios, mas sim quando se
reconhece a questão social inerente às relações sociais nesse modo
de produção, no momento que os trabalhadores assumem um papel
político e até revolucionário. Esse momento em meados do século XIX, é
considerado um marco de acordo com muitos autores, conforme ressalta
Behring (2006, p.2):

Evidentemente que não desde os seus primórdios, mas


quando se tem um reconhecimento da questão social
inerente às relações sociais nesse modo de produção, vis
a vis ao momento em que os trabalhadores assumem um
papel político e até revolucionário. Tanto que existe certo
consenso em torno do final do século XIX como período de
criação e multiplicação das primeiras legislações e medidas
de proteção social, com destaque para a Alemanha e a
Inglaterra, após um intenso e polêmico debate entre liberais e
reformadores sociais humanistas. A generalização de medidas
de seguridade social no capitalismo, no entanto, se dará no
período pós Segunda Guerra Mundial.

Não é possível identificar com precisão o período das primeiras


iniciativas reconhecidas como políticas sociais, tendo em vista que, se
tratando de um processo social, elas surgiram entre os movimentos de
20 Políticas Sociais

ascensão do capitalismo e da Revolução Industrial, das lutas de classe e


do desenvolvimento da intervenção estatal. Algumas iniciativas pontuais,
anteriores à Revolução Industrial podem ser consideradas como forma de
políticas sociais, mencionadas por Behring e Boschetti (2017):

• Estatuto dos trabalhadores (1349);

• Estatuto dos artesãos (1563);

• Lei dos pobres elisabetana (1531 a 1601);

• Lei de domicílio (1662);

• Lei revisora da lei dos pobres ou Nova Lei dos Pobres (1834).

Consistiam em legislações coercitivas, de caráter punitivo e não


protetor, obrigando os trabalhadores a condições e remunerações de
trabalho não favoráveis. Nesse cenário, sugiram novas regulamentações
sociais e do trabalho implementadas pelo Estado, diante das lutas para
uma jornada de trabalho normal. As políticas sociais foram respostas às
questões sociais no capitalismo, cujos fundamentos situam-se na relação
de exploração do capital sobre o trabalho (BEHRING; BOSCHETTI, 2017).

Oliveira e Nascimento (2020) destacam que as primeiras ideias


acerca do que se configurou como sendo políticas sociais, estão associadas
ao crescimento do capitalismo, à luta de classes e à intervenção estatal;
e que os aspectos econômicos (voltadas ao lucro) e políticos (voltado
a legitimação das forças capitalistas) merecem ênfase no sentido das
políticas sociais dentro do viés capitalista.

Na segunda metade do Séc. XIX a força de trabalho reagia à


exploração, tanto sob os aspectos do tempo, do trabalho infantil, de
mulheres e dos idosos. Dessa forma, mediante o monopólio da força
e em meio a luta de classes, o Estado caminha em direção ao capital,
reprimindo duramente o trabalhador e iniciava a regulamentação fabril.
Nesse sentido, há o movimento de sujeitos políticos (as classes sociais).
Para Behring e Boschetti (2017) a essência das políticas sociais pode ser
retratada dessa forma:

É fundamental identificar as forças políticas que se organizam


no âmbito da sociedade civil e interferem na conformação
Políticas Sociais 21

da política social, de modo a identificar sujeitos coletivos de


apoio e/ou de resistência a determinada política social, bem
como sua vinculação a interesses de classe. Essas forças
sociais podem situar-se tanto no âmbito dos movimentos
sociais de defesa de trabalhadores, quanto no de defesa de
empregadores e empresariado, bem como de organizações
não governamentais, que muitas vezes se autoproclamam
“imparciais”, mas que, submetidas a uma análise mais
minuciosa, acabam revelando seus interesses de classe.
(BEHRING; BOSCHETTI, 2017, p. 45)

Trata-se da união de forças em prol de um mesmo objetivo. Da


variedade de relações entre as classes sociais e as condições econômicas
gerais, que resultam na interferência política e também econômica dos
governos. Sendo assim, uma ação conjunta de ideologias e movimentos
entre classes e não apenas o Estado como o protagonista principal.

Esse Estado, segundo muitos autores, foi responsável pela


construção de um modelo de cidadania e de regulação socioeconômica,
distinto das formas anteriores, denominado de Estado de Bem estar social.

DEFINIÇÃO:

Entende-se por Estado de bem-estar social, o dever do


governo em garantir aos indivíduos as condições mínimas
nas áreas de educação, saúde, habitação, seguridade
social, entre outras, os chamados direitos sociais. O Estado
deve intervir na economia em momentos de crise e de
desemprego, no intuito de garantir a manutenção da renda
e trabalho das pessoas prejudicadas com a situação do
país (NAGAMINE, 2020).

Esse modelo de Estado surgiu do crescimento da consciência do


proletariado, na condição de classe explorada e dos conflitos da classe
dominante, no momento que a questão social ganhou maior força exigindo
regulamentações tanto das forças de trabalho quanto das tensões sociais,
ocasionando um crescimento das mobilizações sociais (FELIPPE, 2017).
22 Políticas Sociais

ACESSE:

Não deixe de ler o livro “Política social - fundamentos


e história”, que contém de forma detalhada toda a
evolução histórica, fatos da época e explicações sobre
o surgimento das políticas sociais. Disponível para
download em: https://bit.ly/3kqQViF.

Ser social, sociedade e cultura


Todo indivíduo está inserido em um sistema social, organizado por
gerações anteriores atuando por meio de relações sociais, as quais vão
se efetivando entre “indivíduos e indivíduos, indivíduos e grupos, grupos
e grupos, indivíduo e organização, organização-organização que surgem
por meio de necessidades específicas, identificadas por cada um, de
acordo com seu interesse” (UNITINS, 2020, p.126).

Ao analisarmos o indivíduo vislumbramos que cada um diferencia-


se dos demais em seus pensamentos e comportamento, decorrentes
do contato que tem com o outro. Enquanto ser social, o indivíduo tem
características únicas, sejam físicas ou emocionais. Entretanto, há uma
necessidade da análise do meio no qual está inserido, que o influencia a
partir de padrões culturais diante da sociedade em que vive, pois a cultura
fornece normas específicas (IBID, 2020).

Santinello (2011) ressalta que a constituição da sociedade foi


baseada nas relações de poder e dominação, as quais perduram nos
dias atuais:

A sociedade, em se tratando de sua constituição, foi e conti-


nua sendo permeada por contrastes, paradoxos, paradigmas
estabelecidos para a legitimação de poder, bem como a he-
gemonia e a ideologia na relação entre as classes dominantes
e as dominadas, tendo em vista todas as formas de identifi-
cação e racionalização da consciência dos indivíduos (SANTI-
NELLO, 2011, p. 154).
Políticas Sociais 23

Como também ressalta, que o espaço e tempo em que o sujeito


está inserido atuam na construção da sua identidade, não sendo possível
mensurar os espaços de intervenções. A identidade do indivíduo é
construída mediante a necessidade de sobrevivência e as intrínsecas
variabilidades das relações sociais.

O que é um ser social? Todo indivíduo é um ser social?

O indivíduo, na condição de ser particular e social, desenvolve-


se em um ambiente com normas, valores, crenças e padrões muito
diferenciados, ou seja, em um contexto multicultural. A cultura torna-
se um processo de “intercâmbio” entre indivíduos, grupos e sociedades
(UNITINS, 2020).

De acordo com Savoia (1989), a personalidade do indivíduo é


decorrente do processo de socialização, no qual intervêm fatores inatos
(herança genética) e adquiridos (cultural) e este processo ocorre durante
toda a vida do indivíduo dividido em etapas, conforme figura seguinte:
Figura 2 – Etapas do processo de socialização do indivíduo

Fonte: Adaptado (SAVOIA, 1989).

A primeira etapa ao nascer, o primeiro contato, ocorre com a família:


primeiramente o contato materno pela necessidade dos cuidados físicos
e afetivos, paralelamente, com o pai e irmãos, a família transmite em suas
atitudes suas crenças e valores que influenciarão no desenvolvimento
psicossocial. Posteriormente, a interferência do ambiente escolar. Na
terceira etapa, os meios de comunicação em massa, considerados
agentes socializadores, diferente da família e da escola que mantém uma
relação didática, sua comunicação é direta e impessoal (UNITINS, 2020).

Tulman (2015) explica que a socialização compreende a assimilação


de hábitos característicos do grupo social ao qual o indivíduo está
inserido, consistindo em um processo contínuo, realizando-se por meio
24 Políticas Sociais

da comunicação, inicialmente pela “imitação”, no intuito de tornar-se


mais sociável. O processo de socialização inicia-se após o nascimento,
através do qual o indivíduo se integra no grupo em que nasceu adquirindo
seus costumes, crenças e valores característicos, desenvolvendo sua
personalidade e integração na sociedade. O processo de socialização
pode ser dividido nas seguintes etapas:
Figura 3 – Processo de socialização do indivíduo

Fonte: Adaptado (UNITINS, 2020).

As questões sociais
As questões sociais estão enraizadas na contradição capital versus
trabalho, ou seja, consiste em uma categoria que tem sua origem e
caracterização definidas no âmbito do sistema capitalista de produção.
Representa uma perspectiva de análise da sociedade, de modo a analisar
a situação na qual a maioria da população, que necessita vender sua força
de trabalho para subsistência, se encontra. Essa análise tem o intuito de
identificar as desigualdades e buscar meios de superá-las. Machado(1999)
acrescenta:
Políticas Sociais 25

Portanto, a questão social é uma categoria que expressa a


contradição fundamental do modo capitalista de produção.
Contradição, esta, fundada na produção e apropriação da
riqueza gerada socialmente: os trabalhadores produzem
a riqueza, os capitalistas se apropriam dela. É assim que
o trabalhador não usufrui das riquezas por ele produzidas.
(MACHADO, 1999, p.42)

Segundo Iamamoto e Carvalho (2012), a questão social seria a


expressão do processo de construção e desenvolvimento da classe
operária, como também sua inserção no cenário político da sociedade, de
modo a exigir seu reconhecimento como classe por parte do empresariado
e do Estado.

A questão social nada mais é, que a manifestação ou a materialização


da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir
formas de intervenção.

A questão social passa a ser vista no contexto do surgimento do


modo capitalista de produção e das decorrentes transformações no
mundo do trabalho, sendo dois pontos fundamentais necessários ao seu
entendimento (OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2020, p.3):

Para Machado (1999, p. 43) “as consequências da apropriação


desigual do produto social são as mais diversas: analfabetismo,
violência, desemprego, favelização, fome, analfabetismo político etc.”
Nesse cenário de contradições, a questão social também representa
o processo de resistência e luta dos trabalhadores, como também da
população excluída em busca de seus direitos econômicos, sociais,
políticos e culturais.
26 Políticas Sociais

Figura 4: Luta de classes

Fonte: Freepik

As transformações advindas da questão social foram também de


cunho histórico:

E é aí, também, que reside as transformações históricas da


concepção de questão social. O avanço das organizações
dos trabalhadores e das populações subalternizadas, coloca
em novos patamares a concepção de questão social (...) As
transformações no mundo do trabalho, seja com a substituição do
homem pela máquina, seja pela erosão dos direitos trabalhistas e
previdenciários, exigem, também, que se reatualize a concepção
de questão social. (MACHADO, 1999, p.44)

As causas da questão social podem ser explicadas sob duas


perspectivas (JUNIOR, SILVA, MEDEIROS, 2018):
Políticas Sociais 27

RESUMINDO:

E então? Gostou do que aprendeu na segunda


competência? Aprendeu mesmo? Agora, só para termos
certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos: A Política
social é reconhecida como um fenômeno específico do
sistema capitalista de produção, não aos seus primórdios,
mas sim quando se reconhece a questão social inerente
às relações sociais nesse modo de produção, no momento
que os trabalhadores assumem um papel político e até
revolucionário. As políticas sociais foram respostas às
questões sociais no capitalismo, cujos fundamentos
situam-se na relação de exploração do capital sobre o
trabalho. Trata-se da união de forças em prol de um mesmo
objetivo. Enquanto ser social, o indivíduo tem características
únicas, sejam físicas ou emocionais, ele está inserido em
um sistema social, organizado por gerações anteriores
atuando por meio de relações sociais. A construção da
personalidade do indivíduo é decorrente do processo
de socialização, no qual intervêm fatores inatos (herança
genética) e adquiridos (culturais). As etapas do processo
de socialização do indivíduo podem ser vistas de duas
formas: (i) Influenciadas pela família (primeira etapa), escola
(segunda etapa) e pelos meios de comunicação em massa
(terceira etapa) e (ii) Socialização primária, socialização
secundária e socialização terciária. Por fim, abordamos a
questão social que nada mais é do que a manifestação ou
a materialização da contradição entre o proletariado e a
burguesia, a qual passa a exigir formas de intervenção.
28 Políticas Sociais

Classes e lutas sociais


INTRODUÇÃO:

Ainda que de modo rudimentar, a partir do momento que


os indivíduos passaram a organizar-se em sociedade,
ocorreram as divisões em classes sociais, seja pela
organização por influência de poder, idade, direitos ou
obrigações. Na unidade 3, vamos entender como se deu
essa divisão e as razões pelas quais iniciaram as lutas
sociais, como também conceitos relevantes à temática.

As divisões em classes sociais


Desde que se organizou em sociedade, o ser humano passou a
dividir-se em classe social. Inicialmente a liberdade foi o fator constituinte
dessa divisão entre os homens livres e escravos. Posteriormente a riqueza,
entre os comerciantes e assim surgiu a classe rica. A terra e o surgimento
dos grandes proprietários de terras, os donos de latifúndios e assim
sucessivamente. A necessidade de governo orientou o aparecimento de
um rei e, juntamente com este, havia nobres que o cercavam. Vemos,
assim, que as classes sociais foram usando o poder político ou econômico
pela liberdade ou pelo sexo para diferenciar-se (CURADO, 2021).

A divisão de classes sociais foi apresentada em suas críticas


pelo filósofo e sociólogo alemão Karl Marx. Para o autor havia duas
classes: a burguesia (os donos dos meios de produção) e o proletariado
(trabalhadores explorados pela burguesia, os quais vendiam sua força de
trabalho). A burguesia usaria do cenário de miséria para usurpar a força de
trabalho das pessoas no intuito desses trabalhadores gerarem lucros para
o próprio burguês (PORFÍRIO, 2021).

Simplificando, Rodrigues (2021) descreve que as classes sociais


podem ser entendidas como um grupo de indivíduos que possuem em
comum o acesso aos meios de produção. É a condição material dos
indivíduos que determinaria os demais aspectos de sua vida.
Políticas Sociais 29

São assim, conforme Curado (2021) aquelas formadas por um


grupo pessoas com interesses comuns e paridade socioeconômicas.
Na sociedade podem ser identificadas várias classes sociais, mediante a
hierarquia entre ricos e pobres No entanto, podem surgir hierarquização
por castas, por conhecimento, entre outros.

Dessa forma, Porfírio (2021) descreve que praticamente não existia


mobilidade social alguma. Esses trabalhadores eram explorados e não
tinham perspectivas de ascensão social e seriam sempre explorados
durante a sua vida pela burguesia. Essa dinâmica de exploração do modo
de produção capitalista deu origem à teoria marxista, também conhecida
como materialismo histórico dialético ou socialismo científico.

Esse contexto de exploração das classes, para Marx seria suficiente


para justificar uma revolta do proletariado contra a burguesia. Essa revolta,
chamada de revolução do proletariado, foi defendida por Marx e seu
parceiro intelectual e escritor Friedrich Engels (PORFÍRIO, 2021).

Para os autores seriam as relações de produção que diferenciam


as pessoas dentro da sociedade, de um lado os detentores de capital
e de outro os trabalhadores enquanto força de trabalho. Na sociedade
capitalista esses dois grupos continuamente se enfrentam, em um
contexto de dominação que chegará ao fim apenas quando todos forem
iguais (CURADO, 2021).

REFLITA:

Você acredita que nas sociedades capitalistas é possível a


migração de uma classe social para outra? Um dos autores
que abordamos nesse primeiro momento, o Porfírio,
acredita ser muito difícil, mesmo se tratando de sociedades
que prezam pela meritocracia. Essas tendem a manter um
meio fechado de pessoas com poder econômico por meio
da herança, ocorrendo assim, uma transferência de riqueza
para herdeiros.
30 Políticas Sociais

Além do modelo de sociedade capitalista, temos a sociedade


socialista, na qual não há diferenciação pelo acúmulo de riqueza, cultura,
educação ou política.

Para Bezerra (2021) as diferenças mais significativas entre os


dois modelos giram em torno do papel da propriedade, do governo e
da economia. O capitalismo defende um Estado menor, enquanto o
socialismo se baseia na exploração comum dos bens e estes devem
ser monitorados pelo governo e seu lucro distribuído entre os membros
da sociedade. Vejamos as principais características dos dois modelos
conforme a autora:
Figura 5: Capitalismo X Socialismo

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


Políticas Sociais 31

As vantagens do capitalismo são: Poder de escolha do consumidor,


eficiência da economia, crescimento econômico e expansão. Enquanto
as vantagens do socialismo são: diminuição das desigualdades,
necessidades atendidas, mobilização de mercadoria e direitos humanos
básicos garantidos (Ibid., 2021). No tocante às diferenças entre os dois
modelos, podemos destacar as seguintes:
Quadro 2 – Diferença entre o capitalismo e socialismo.

SOCIALISMO
CAPITALISMO

Também pode coexistir


O capitalismo pode
com diferentes sistemas
coexistir com uma
políticos, porém a maioria
variedade de sistemas
dos socialistas defende a
Sistema políticos, incluindo
democracia participativa,
político ditadura, democracia
que garante a possibilidade
representativa,
de interferência direta dos
república ou monarquia
cidadãos em processos de
parlamentarista etc.
decisão do Estado.

As classes existem de
acordo com sua relação
com o capital. Os As distinções de classe são
capitalistas possuem diminuídas. Assim, o status
Estrutura
os meios de produção, deriva mais das distinções
social
recebendo os lucros políticas do que das
provenientes deste, já distinções de classe.
a classe trabalhadora
depende dos salários.

Defende que a religião seja


um assunto privado. Neste
sentido, cada indivíduo seria
Defende a liberdade de livre para professar qualquer
Religião
religião. religião, mas esta não teria
nenhuma subvenção do
Estado e seria totalmente
eliminada do regime.
32 Políticas Sociais

Com a proteção
do Estado, toda
propriedade é
transformada em
capital, que pode ser A propriedade é pública
utilizado de diversas (ou coletiva), incluindo os
Propriedade formas. Os direitos de meios de produção, que
privada propriedade funcionam pertencem ao Estado,
dentro de um sistema mas são controlados pelos
de propriedade trabalhadores.
formal, em que todas
as propriedades e
operações devem ser
registradas.

É o mercado que
determina as decisões
O socialismo depende de um
de investimento,
planejamento dirigido por
Coordenação produção e distribuição.
um Estado para determinar a
econômica Em menor medida, o
produção e como serão feitos
Estado também pode
os investimentos.
decidir para onde vai o
capital.
Fonte: Bezerra (2021).

O quadro apresenta algumas diferenças pontuais entre os dois


sistemas. O que podemos destacar, é a forte presença do Estado no
socialismo e da força do mercado no capitalismo, tendo em vista que o
lucro corresponde a um dos focos do modelo.

A luta de classes
A  luta de classes seria, portanto, o motor das mudanças sociais,
refletindo as diferenças materiais instauradas no meio social, que poderiam
ocorrer de forma gradativa ou, em casos extremos de desigualdade, por
meio de revoluções. Marx, em seus estudos, observou que os conflitos
sociais estavam sempre ligados à condição econômica das sociedades,
considerando assim que para Marx, a revolução do proletariado seria
inevitável (RODRIGUES, 2021).
Políticas Sociais 33

Para Haddad (1997) classe social seria um objeto próprio da


economia política e em uma categoria secundária, da sociologia ou da
ciência política, sendo este também o entendimento de Marx ao referir-
se às três grandes classes – a dos trabalhadores assalariados, a dos
capitalistas e a dos proprietários fundiários (apresentada como uma
terceira classe pelo autor). Embora utilize a mesma denominação quando
trata de outros grupos distintos aos três, demonstra que o interesse da
análise marxista se concentrava no estudo do comportamento daqueles
grupos imediatamente ligados ao processo de reprodução material da
sociedade. O autor acrescenta:

De resto, esta é a única posição compatível com um


materialismo histórico fundado no paradigma da produção.
Esse é o motivo pelo qual Marx, por exemplo, apesar de prever
(como veremos) o aumento numérico relativo dos serviçais
domésticos ou dos funcionários de Estado, não lhes dedica
atenção especial. Se a palavra “grande” da expressão “grandes
classes” dissesse respeito ao aspecto numérico da questão,
este grupo, decerto maior do que o grupo dos capitalistas ou
proprietários fundiários, mereceria uma maior consideração.
(HADDAD, 1997, p.98)

Uma sociedade quando dividida em classes sociais é chamada de


sociedade  estratificada. Caracterizada pela capacidade de mobilidade
social, ou seja, a possibilidade de ascensão de uma pessoa para uma outra
classe social. A essência da estratificação social é a razão da existência das
diferentes classes sociais e da desigualdade econômica (PORFÍRIO, 2021).

No Brasil, no final da década de 70 e durante a década de 80, ficou


marcado o crescimento do movimento operário, sindical e partidário
ligado à classe trabalhadora. As greves do ABC em São Paulo, a formação
do Partido dos Trabalhadores (PT), a campanha das diretas já e são um
processo de democratização política. São consideradas expressão
da luta política concreta, denominada conforme o modismo europeu
como “antigos movimentos sociais” ou “movimentos sociais tradicionais”
(AMORIM; WOLFF; RASLAN, 2011).
34 Políticas Sociais

As classes sociais brasileiras


no Brasil, em meados de 1994, foram iniciados esforços para a
redução da desigualdade de renda no país, acentuada ainda mais a partir
de 2002. Um aumento generalizado da renda foi percebido por cerca de
50% da população. Diante dessas mudanças, o governo passou a divulgar
o aumento da classe média no Brasil, chamada por alguns autores
de nova classe média. A pobreza, baseada em termos de renda, também
reduziu consideravelmente (RIBEIRO, 2014). Essa ideia foi contestada por
sociólogos e economistas, que não concordavam com medidas baseada
na renda, nesse sentido:

Uma longa tradição das ciências sociais sugere que classes


sociais devem ser definidas em termos das relações de
trabalho em que as pessoas se encontram, bem como de
certa identidade cultural e chances de vida também ligadas
a essas relações de trabalho. Nesse sentido, alguns trabalhos
criticaram fortemente a ideia de que houve uma enorme
melhora, e que o Brasil passou a ser uma sociedade de classe
média. (RIBEIRO, 2014, p. 182) 

O aumento da demanda por trabalhadores pouco qualificados,


pode ser visto como fator importante na elevação da renda. Entretanto,
não houve mudanças representativas quanto à qualidade dos empregos.
De acordo com publicações no período, foram concluídas que o país
estaria distante uma sociedade de classe média, no sentido que apenas
um terço da população se encontrava entre as três classes superiores
(IBID., 2014).

Além desses fatores, Ribeiro (2014) ressalta o nível educacional


da população brasileira como muito baixo e considera coerentes todos
os estudos apresentados a favor e confrontando a ideia da nova classe
média no Brasil.

No Brasil, as classes sociais são classificadas em classe alta, classe


baixa e classe média. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
desenvolveu um sistema de medição que abrange cinco estratos sociais,
sendo esses: as classes A, B, C, D e E, os quais seguem uma ordem
Políticas Sociais 35

decrescente em que “A” compreende a classe de maior poder aquisitivo e


concentração de renda e classe “E” a mais inferior. São considerados para
classificação, a quantidade de pessoas residentes no domicílio, tamanho
da moradia, escolaridade, água e esgoto, número de eletrodomésticos
e veículos (PORFÍRIO, 2021). A classificação baseada na faixa salarial das
famílias brasileiras está organizada da seguinte maneira:

Classe A: mais de 15 salários-mínimos;

Classe B: de 5 a 15 salários-mínimos;

Classe C: de 3 a 5 salários-mínimos;

Classe D: de 1 a 3 salários-mínimos;

Classe E: até 1 salário-mínimo.

As classes sociais agrupam pessoas que possuem a mesma


situação financeira, ou seja, recebem os mesmos valores monetários
mensalmente.

SAIBA MAIS:

Segundo dados da Agência Brasil, as 26 pessoas mais ricas


do mundo detêm a mesma riqueza dos 3,8 bilhões mais
pobres (isso corresponde a 50% da humanidade). Acesse
o conteúdo completo disponível em: https://bit.ly/2O9zzuI.
36 Políticas Sociais

RESUMINDO:

E então? Gostou do que aprendeu na segunda competência?


Aprendeu mesmo? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos: Desde que organizou-se
em sociedade, o ser humano passou a dividir-se em classes
sociais. A divisão de classes sociais foi apresentada em suas
críticas pelo filósofo e sociólogo alemão Karl Marx. Para o
autor, havia duas classes: a burguesia e o proletariado, na
qual praticamente não existia mobilidade social alguma.
Esse contexto de exploração das classes, para Marx, seria
suficiente para justificar uma revolta do proletariado contra a
burguesia. Além do modelo de sociedade capitalista, tem-
se a sociedade socialista, na qual não há diferenciação pelo
acúmulo de riqueza, cultura, educação ou  política. A  luta
de classes, pode ser vista como o motor das mudanças
sociais, refletindo as diferenças materiais instauradas no
meio social, que poderiam ocorrer de forma gradativa
ou, em casos extremos de desigualdade, por meio de
revoluções. Uma sociedade quando dividida em classes
sociais é chamada de sociedade  estratificada. No Brasil,
as classes sociais são classificadas em  classe alta,  classe
baixa  e  classe média e o sistema de medição adotado
abrange cinco estratos sociais, sendo esses: as classes A,
B, C, D e E.
Políticas Sociais 37

Capital Social
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender as


classes e lutas sociais e seus reflexos históricos na pobreza,
na identidade e na cultura. Isto será fundamental para o
excelente exercício de sua profissão, ao deixá-lo apto para
a atividades ou pesquisas que envolvam temas voltados às
políticas sociais. E então, motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

Nas últimas décadas, novas formas de espaços regionais e locais


fortalecidos por redes de confiança e solidariedade contribuíram para
a produção de instituições mais sólidas, promovendo uma melhoria na
qualidade de vida das pessoas, contemplando questões econômicas,
sociais, ambientais, culturais e educacionais (SAMPAIO, 2016).

As transformações também atingiram os espaços produtivos, nos


quais empresas passam a adotar ações coletivas em seus posicionamentos
estratégicos, partilhando habilidades e tecnologias, permitindo atingir
objetivos que sem esses relacionamentos, seriam inalcançáveis pelos
altos custos. Nesse sentido, quanto mais intenso for o grau de cooperação
e de confiança em espaços empresariais, menor será o custo de suas
transações, gerando um maior benefício coletivo e consequentemente
um maior nível de capital social (GOMES; BUENO; GOMES, 2018).

O conceito de capital social é uma construção coletiva, marcada por


relações mutuamente respeitosas que permitem a um grupo seguir suas
metas com maior eficiência. Depende do conjunto de relacionamentos
de um grupo social, marcado pela boa comunicação entre seus atores
sociais, partilha e participação de todos (GIDDENS, 2007), revelando
uma forte correlação positiva entre o desempenho institucional com
a natureza da vida cívica, não apenas pelos reflexos internos sobre os
indivíduos, mas também pelos seus reflexos externos sobre a sociedade.
Quanto ao ambiente interno, hábitos de cooperação, solidariedade, senso
de responsabilidade comum para com empreendimentos coletivos
38 Políticas Sociais

são incutidos pelas associações. No ambiente externo, a agregação


de interesses foi intensificada com uma densa rede de associações
secundárias (FERNANDES, 2002).

Segundo Putnam (1993, p.1), o:

[...] capital social refere-se a aspectos da organização social, tais


como redes, normas e confiança que facilita a coordenação e
cooperação para benefícios mútuos. Capital social aumenta os
benefícios de investimento em capital físico e capital humano.

Dessa forma, se constitui em um significativo papel na construção


de um entorno inovador para as empresas, conduzindo a um aprendizado
interativo que para sua formação, é necessário um ambiente propício à
participação social em que os interesses individuais de competitividade
são obtidos através da colaboração

Coleman (1988, p.98) considera capital social:

[...] uma variedade de diferentes entidades tendo duas


características em comum: elas todas consistem de alguns
aspectos da estrutura social, elas facilitam certas ações dos
atores – seja pessoas ou atores corporativos – dentro da
estrutura.

Isto torna possível certas realizações que na sua ausência não


seriam possíveis, tornando-se um recurso coletivo para quem integra
essa estrutura.

Assim, diante de um ambiente de cooperação, os atores sociais se


conectam a partir de trocas baseadas no capital social do grupo ou rede,
seja ela formal ou informal, que estas ligações baseadas em diferentes
tipos de relacionamentos geram fluxos de informações que facilitam os
processos previstos nas normas das empresas e permitem a obtenção
de informações vantajosas. São assim, relacionamentos informais que
influenciam em processos formais.

A sociedade se caracteriza por sistemas de intercâmbio e relações


sociais formais e informais, sendo essa interação pessoal, um meio
econômico e seguro de obter informações acerca da confiabilidade dos
Políticas Sociais 39

demais atores, que acreditam que essa confiança será retribuída e nas
suas relações no decorrer do tempo, esse intercâmbio costuma incentivar
e estabelecer uma regra de reciprocidade generalizada. Sendo assim,
a confiança social parte de regras de reciprocidade e dos sistemas de
participação cívica, conforme destaca Putnam (1996, s.p.):

Os sistemas de participação cívica são uma forma essencial de


capital social: quanto mais desenvolvidos forem esses sistemas
numa comunidade, maior será a probabilidade de que seus
cidadãos sejam capazes de cooperar em benefício mútuo. Por
outro lado, o capital social, assim como outras relações sociais,
multiplica-se com o uso e minguam com o desuso.

Nesse sentido, o capital social é o resultado das relações positivas


entre os indivíduos, permitindo o alcance de combinações e resultados
mais produtivos para a economia, tanto no mercado de trabalho
como para a produção. Significa uma economia política voltada para a
promoção de relacionamentos sociais eficientes, através da maximização
da competência comunicativa, gerando a capacidade de processar
efetivamente as informações e o conhecimento. Quanto mais intenso
for o estoque de capital social, maior o potencial de desenvolver ações
cooperativas ou coletivas. Essas relações associativas ganham maior
força no momento em que os interesses coletivos prevalecem sob os
interesses individuais e econômicos (GIDDENS, 2007; SAMPAIO, 2016).

Capital social e desenvolvimento regional


As redes sociais de negociação advindas do capital social podem
criar oportunidades de desenvolvimento. Mediante as oportunidades,
cada indivíduo consegue obter melhores desempenhos. Nesse sentido,
as estratégias adotadas de desenvolvimento dos países devem explorar
ações no sentido de criar um clima econômico, social, político e cultural
favorável para a população, o que interfere diretamente na qualidade de
vida da população (RIBEIRO, FERNANDES, RIBEIRO, 2012).

Para Rodrigues (2017), o capital social pode atuar como conformador


de ações coletivas e individuais eficazes e quanto maior sua presença
40 Políticas Sociais

em uma região, espera-se que maior também sejam os níveis de


desenvolvimento econômico.

Assim, percebe-se uma valorização dos recursos ambientais,


o que permite a otimização do seu potencial. O capital social pode ser
considerado um elemento que fomenta o desenvolvimento econômico
e este contribui na mobilização individual e coletiva para a realização
de objetivos comuns.  O capital social é assim, um fator de coletividade
construído pelo interesse dos indivíduos em cooperarem entre si, estando
propenso ao dilema da ação coletiva e ao oportunismo (XAVIER, 2012).

É necessário remover os entraves que limitam as escolhas e


oportunidades das pessoas, associando o capital físico, financeiro e o
capital social ao termo “desenvolvimento socioeconômico”. Os fatores
como capacidades, recursos intangíveis, confiança, cooperação,
conhecimento e compromissos tácitos tornam-se, cada vez mais
transcendentes (RIBEIRO, FERNANDES, RIBEIRO, 2012, p.23). Estes
acrescentam:

Desse modo, o capital social – assim como o capital


econômico, o humano e o natural – é mais um componente do
desenvolvimento a ser analisado e, a partir da sua observância,
torna-se possível promover trajetórias socioeconômicas
diversas, construir oportunidades de desenvolvimento por
meio de redes sociais de negociação, possibilitar maior relação
entre investimento econômico e social, redefinir o espaço
público local a partir da negociação entre variados interesses
e construir, por meio de projetos alternativos, uma ideia de
que as desigualdades devem ser condenadas e as iniciativas
locais de desenvolvimento estimuladas.

Percebe-se que o debate sobre a gestão local do desenvolvimento


e a busca por um novo modelo de desenvolvimento, no qual estejam
inclusas iniciativas e processos produtivos locais voltados à interpretação
das dinâmicas regionais de desenvolvimento e à implementação de
políticas públicas, ou seja, uma reflexão teórica sobre o desenvolvimento
contemporâneo está a cada dia mais em evidência. A capacidade das
sociedades locais de possuírem autonomia, liderança e assim conduzirem
Políticas Sociais 41

seus próprios destinos, usufruindo dos fatores produtivos locais, atuais e


potenciais é que vai determinar o grau de desenvolvimento endógeno de
cada território (MORAIS, 2008).

Diversos autores tratam o capital social como um recurso necessário


e imprescindível ao desenvolvimento sustentável, por sua capacidade de
promover a interação entre pessoas, estruturas e instituições. A ideia base
a este princípio é a de que, “havendo a agilização das redes sociais,
estimuladas pela confiança e cooperação, há um benefício direto em prol
do social, sendo que, ao invés, o não aproveitamento daquelas sinergias
conduz a uma condição social reducionista” (DUQUE, 2013, p. 1).

Nas últimas duas décadas, a relação entre capital social e pobreza


tem sido objeto de estudo, sobretudo entre sociólogos e economistas.
Estes estudos têm fortalecido a relação entre ambos, demonstrando a
contribuição para a redução da pobreza, conforme destacam:

Deste modo, a suavização da pobreza por meio da formação de


capital social é factível a partir dos chamados “laços fracos” – coesão entre
pessoas heterogêneas – estes laços devem ser encorajados no sentido
de promover uma maior diversificação e disseminação, sobretudo de
conhecimento e de informações. (RIBEIRO, ARAÚJO, 2018, p. 753)

Baseado na análise de dados obtidos em suas pesquisas, Ribeiro


e Araújo (2018, p. 750) afirmam que “além do capital social contribuir
positivamente com a renda, seu impacto é superior aos impactos
causados pelo emprego, casamento ou pelo fato do indivíduo
pertencer à raça branca”, percebe-se também o impacto do capital
social na geração de renda e, consequentemente, na redução da pobreza.

ACESSE:

Leia o artigo “Capital social e pobreza no Brasil”, que


contempla a pesquisa e os dados obtidos dos autores
quanto ao capital social e pobreza no Brasil. Disponível em:
https://bit.ly/3dRwFVV.
42 Políticas Sociais

Capital social no Brasil


Com o intuito de medir o capital social e suas conformações junto
ao processo de desenvolvimento humano, esforços internacionais foram
feitos. No intuito de identificar as relações de correspondência entre os
níveis de capital social e desenvolvimento humano no Brasil, Rodrigues
(2018) desenvolveu um índice para cálculo do Capital Social. O Índice de
Capital Social (ICS), busca agregar os determinantes do conceito. Por
meio da plotagem de mapas, observou o ICS nos municípios brasileiros,
utilizando em análises estatísticas as relações entre o capital social,
capital humano e níveis de desenvolvimento humano. O ICS proposto foi
composto em duas dimensões:

O ICS atua em uma escala de 0 a 1 e os resultados obtidos foram os


seguintes: A média municipal do Brasil é 0,25 (possui baixo capital social).
O Sul tem ICS de 0,35, o centro oeste de 0,24, o sudeste 0,23, nordeste
0,22 e o norte 0,21. Entre os municípios brasileiros que obtiveram ICS mais
elevado, 36 deles (67% do total) estão localizados na região Sul; na região
Sudeste 11%, na região Centro-Oeste 11%, na região Nordeste 8% e na
região Norte 3%.
Políticas Sociais 43

O fluxo das informações nos relacionamentos:


uma análise dos custos de transação e capital
social
Os custos de transação surgem em parte, pelo o fato dos agentes
não disporem de todas as informações necessárias para a tomada de
decisão e partem das possibilidades oferecidas a cada momento. Diante
da racionalidade limitada, os indivíduos são incapazes de prever e
estabelecer as medidas certas para os eventuais imprevistos futuros da
realização de uma transação, que mediante o comportamento oportunista
uma das partes, poderá aproveitar-se de informações que detém em
benefício próprio.

A ação coletiva ou a cooperação voluntária é possível quando há


um nível significativo de capital social em determinados grupos, visto que
o cooperativismo vem a restringir o comportamento humano, regulando e
minimizando os custos de transação, pois delimitam escolhas, diminuem o
grau de incerteza proveniente de comportamentos imprevisíveis, facilitam
a identificação de parceiros adequados para as transações e a elaboração
de contratos. Sendo assim, quanto maior o grau de cooperação e de
confiança numa comunidade, menor será o custo de transação para
alcançar uma solução e quanto maior o nível de capital social, menor o
estímulo ao oportunismo (GOMES; BUENO; GOMES, 2018).

O acesso à informação é um elemento-chave, tanto para o


desenvolvimento econômico como para o social em comunidades e
grupos sociais. A aquisição do capital social está condicionada a fatores
culturais, políticos e sociais e por se tratar de um capital, mesmo não
mercantil, investimentos para sua ampliação devem permitir retornos,
benefícios e gerar desenvolvimento.

O nível de confiança entre os indivíduos de uma rede ou grupo


está relacionado ao capital social cognitivo e influencia a ação coletiva do
grupo, que em parte relaciona-se ao acesso à informação em nível local,
mas também em nível mais geral, devido aos meios de comunicação e
outras fontes pessoais e impessoais. Dessa forma, o capital social depende
dos relacionamentos, da interação de pelo menos dois indivíduos e
44 Políticas Sociais

assim, torna-se evidente a estrutura de redes por trás do conceito de


capital social, que passa a ser um recurso do grupo construído pelas suas
redes de relações e através dessas redes que se constituem em canais
pelos quais passam informações e conhecimento (MARTELETO, SILVA,
2004). Segundo as contribuições de North (1990), o ambiente influencia
na capacidade de realizar escolhas e nos mecanismos de tomada de
decisão, influenciando na eficiência das diferentes sociedades.

A questão da confiança também é tratada por Coleman (1997),


considerando um componente do capital social que permite estreitar
relações e assim maximizar as oportunidades econômicas e sociais,
reduzindo os custos de transação, que também reduzem os riscos
do comportamento não cooperativo, sendo a confiança a base da
acumulação do capital social.

O capital social deve ser visto como um conjunto de redes e normas


que permitem a redução dos riscos decorrentes das relações entre
desconhecidos e os custos de transação, pois os fluxos de informação
e conhecimento que circulam pelos laços existentes entre os membros
da comunidade dependem de características culturais e políticas que
regulam a participação de cada indivíduo ao acesso dos benefícios e
das sanções para aqueles que não colaboram ou participam (SILVA,
FERREIRA, 2007).

Para Araújo (2003), o capital social facilita a cooperação espontânea e


minimiza os custos de transação, influenciando em iniciativas econômicas
que prosperaram e que estavam baseadas em princípios de reciprocidade
mútua e com sistema de participação cívica.
Políticas Sociais 45

RESUMINDO:

Neste capítulo, vimos a importância dos grupos sociais


e da ação coletiva é abordada por diversos autores e
diferentes áreas, o que reforça a sua contribuição para o
desenvolvimento da sociedade. Como produto dessa
interação tem-se o capital social que permite gerar benefício
direto aos indivíduos como também ao seu grupo, seja uma
comunidade ou empresa. Um papel importante atribuído ao
capital social consiste na sua contribuição para a redução
dos custos de transação. Esses relacionamentos reduzem
as incertezas diante da progressão dos níveis de confiança e
assim, influenciam no conjunto de escolhas dos indivíduos.
Estas favorecem os objetivos coletivos, ação contrária ao
oportunismo egoísta comum nas transações de mercado.
O capital social pode ser produzido ou destruído como
qualquer outro capital, tendo o governo uma contribuição
significativa para a sua acumulação através da elaboração
de políticas públicas incrementadas por investimentos.
46 Políticas Sociais

REFERÊNCIAS
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