Você está na página 1de 41

Analice Oliveira Fragoso

Educação
Infantil
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autor
ANALICE OLIVEIRA FRAGOSO
A AUTOR
Analice Oliveira Fragoso
Olá! Meu nome é Analice Oliveira Fragoso. Sou formada em
Pedagogia, especialista em Psicopedagogia, mestre e doutora em
Distúrbios do Desenvolvimento. Tenho experiência como professora no
ensino superior há mais de quatro anos, tanto no curso de graduação em
Pedagogia quanto no curso de especialização em Neuropsicopedagogia.
Sou apaixonada por educação, por isso há mais de sete anos realizo
pesquisas nessa área do conhecimento. É um grande privilégio transmitir
minha experiência àqueles que estão iniciando suas profissões. Agradeço
à Editora Telesapiens pelo convite para integrar seu elenco de autores
independentes e estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de
muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Criança como sujeito histórico-crítico.................................................10

A teoria histórico-cultural de Vygotsky............................................................................ 12

Contribuições dos estudiosos da educação................................................................ 13

Dimensão política sobre a educação da criança............................17

Aspectos legais que amparam a criança.......................................... 20

Aspectos legais................................................................................................................................ 20

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)..............................................................23

O direito da criança de brincar...............................................................................................29

Aspectos legais da Educação Infantil..................................................32


Educação Infantil 7

02
UNIDADE
8 Educação Infantil

INTRODUÇÃO
Neste tópico você irá conhecer os aspectos legais que amparam a
criança e os que regem a Educação Infantil.

Durante nossos estudos, você compreenderá que leis foram


estabelecidas com a finalidade de defender o direito das crianças,
reconhecendo-as como sujeitos de direitos. Essas iniciativas contribuíram
para a valorização da infância, promovendo uma mudança na forma como
a sociedade via e tratava as crianças e como as vê nos dias de hoje.

Veremos também os documentos legais que amparam a Educação


Infantil e como essa modalidade de ensino foi implantada e toma cada
vez mais visibilidade nos campos de estudo.
Educação Infantil 9

OBJETIVOS
Olá, seja muito bem-vindo à Unidade 2, nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Interpretar o panorama da posição da criança enquanto sujeito


histórico-crítico;

2. Explicar como se instituíram as políticas públicas em relação a


educação das crianças;

3. Classificar os aspectos legais que amparam à criança;

4. Apontar as legislações que regem a educação infantil.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Educação Infantil

Criança como sujeito histórico-crítico

INTRODUÇÃO:

Atualmente, nossas crianças já têm voz desde os seus


primeiros balbucios, porém, nem sempre foi assim. Da
mesma forma que a educação infantil tardou para se
debruçar sobre a necessidade de um olhar em formação,
a criança também passou por diferentes períodos até
alcançar sua visibilidade social e um pensamento crítico
que consolidasse os estudos da área. Neste capítulo,
vamos compreender o panorama da posição da criança
como um sujeito histórico-crítico.

Nos primórdios da história da infância, encontramos relatos


que nos apontam que as crianças eram vistas, mas não eram ouvidas.
Posicionamento este identificado, por exemplo, nos estudos ingleses que
se debruçaram em entender as bases da educação tradicional, refletido
em seus sistemas educativos e políticos.

Somente no final do século XIX, com a influência do construtivismo,


iniciam-se debates sobre a necessidade de se construir uma perspectiva
crítica acerca da temática, empreendidos pelos pedagogos, mas ainda
assim não suficiente. Pudemos perceber na trajetória da história da criança
e nas teorias da educação que o campo crítico de debate nesse contexto
tardou para se consolidar e na prática, mesmo nos dias atuais, ainda
encontramos muitas dificuldades para o debate no campo de estudo
(OLIVEIRA-FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2011).

Como vimos anteriormente, a infância não teve significado em seus


primórdios. As crianças eram expostas como adultos em miniaturas através
de suas roupas, eram tratadas como tal e não tinha um mundo próprio,
ou seja, não tinham uma posição social (ARIÈS, 1981). Alguns estudos
modernos contrapõem que, no mesmo período histórico, poderiam existir
práticas diferenciadas em relação à infância e criança (GOUVEA, 2008).
Educação Infantil 11

REFLITA:

Encontramos poucos registros da história da infância


relatados por estudiosos do tema. Mas será que não
existiram outras concepções? Outras culturas? Ou até
mesmo pequenas vilas e vilarejos da época que não
concordavam com esse tratamento e buscavam acolher
suas crianças de outras formas? Seriam pessoas de uma
classe social mais baixa? As repostas para essas perguntas
nunca teremos, mas podemos partir desse pressuposto
para levantar hipóteses sobre o início da mudança.

Com a modernidade, as mudanças surgiram: a educação das


crianças começou a ser motivo de preocupação para os pais que passaram
a acolher suas reais necessidades. Contudo, foi preciso criar e determinar
algumas regras para um comportamento social e assim passaram a ser
disciplinadas pela família e no meio em que viviam. Em consequência
disso, a escola se institui para adequar a criança ao seu convívio social,
visto que era um ser exposto a fragilidades e precisava se adaptar. Com o
tempo, as crianças puderam ser vistas como alunos e assim se configurou
o mundo da infância (BOTO, 2002).

No decorrer do século XX encontramos pesquisas sobre a infância


em ciências humanas e sociais, no campo da psicologia. A criança ficou
restrita a esses estudos, sem diálogo com as áreas da sociologia, história e
a antropologia e em consequência disso a criança passou a ser classificada
como um ser biopsicológico e ignorado como sujeitos sociais (SARMENTO;
GOUVÊA, 2008).

Hoje podemos notar que há, na história da infância, mais registros


epistemológicos e menos sociais e políticos. Porém, é importante
ressaltar que o psicólogo Vygotsky em seus estudos mostrou que para o
desenvolvimento intelectual da criança é necessário interagir com o meio
social (FREITAS; KUHLMANN JUNIOR, 2002).
12 Educação Infantil

A seguir, vamos estudar um pouco mais sobre a sua teoria


e compreender a criança como sujeito social no seu processo de
aprendizagem e desenvolvimento.

A teoria histórico-cultural de Vygotsky


Segundo Vygotsky, o sujeito se constitui através de interações
no seu meio social e com essa estrutura social as funções psicológicas
são construídas. Pode-se assim dizer que o processo de socialização
no qual a criança está inserida resulta em sua aprendizagem e seu
desenvolvimento. Durante esse processo, é importante destacar que o
brincar é um segmento primordial no desenvolvimento da criança, pois
é nesse momento que ela constrói suas brincadeiras simbólicas com
características do seu mundo real.

É no brincar que a zona de desenvolvimento proximal pode ser


ampliada no contexto da criança, pois há uma relação direta com a
aprendizagem, envolvendo outras funções como afetividade, memória,
linguagem, atenção, entre outras. Dessa forma, a construção de mundo da
criança acontece conforme ela vai praticando suas funções (VYGOTSKY,
1991; 1998).

Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): distância entre o que


a criança já sabe fazer sozinha para o que ela ainda está aprendendo
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

Outros aspectos importantes nos estudos desse teórico são a


emoção e a imaginação. A primeira funciona como um mediador interno
ligada ao estímulo externo. Já a imaginação desperta novas emoções
e estratégias mnemônicas, pois auxilia a criança a aprender a partir de
experiências. Junto a tudo isso temos a linguagem, a qual contribui para o
seu desenvolvimento oral, escrito e gestual.

Pode-se dizer que todos esses aspectos juntos: linguagem, emoção,


memória, imaginação e pensamento, contribuem para que a criança seja
um ser social que constrói sua relação com o mundo (VYGOTSKY, 1991;
1998).
Educação Infantil 13

O mnemônico está relacionado à memória e é caracterizado


como um conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de
memorização. Existem várias técnicas que podem te ajudar a não
esquecer de coisas durante o dia a dia, além de auxiliarem nos estudos.
Você pode criar uma técnica de acordo com suas necessidades.

ACESSE:

Visite os links a seguir e saiba mais sobre a técnica dos


mnemônicos http://bit.ly/3bTT8jX e https://bit.ly/3bQbvGm.

Vygotsky define funções elementares, ou meio biológico, como


um padrão biologicamente definido para todos os seres humanos.
Já as funções superiores, ou meio sociocultural, são os aspectos
comportamentais adquiridos nas relações sociais por meio da linguagem.

A criança, através de seu contexto social, sofre interferência no seu


comportamento com as vivências mediadas pela linguagem, isso aconte-
ce através da relação desses meios ou funções (VYGOTSKY, 1991; 1998).

Contribuições dos estudiosos da educação


Vygotsky foi, sem dúvida, um precursor com sua teoria, a qual
continua contribuindo para os estudos científicos e psicológicos até os
dias de hoje. Porém, outros estudiosos também desenvolveram suas
teorias que ajudaram na compreensão, desenvolvimento e formação das
crianças.

A contribuição de Émile Durkheim (1858-1917) foi fundamental para


a sociologia e além de influenciar políticos, sociólogos, pesquisadores e
suas ideias, influenciou os educadores. Durkheim entende a educação
como um poderoso instrumento para a construção contínua de uma
moral coletiva. Ele separa a solidariedade em mecânica e orgânica. Na
mecânica, os homens se juntam por meio de valores, cultura, religião ou
sentimento comum, assim esses indivíduos ainda não se diferem. Já a
orgânica é aquela em que os homens são diferentes entre si. A união deles
14 Educação Infantil

só acontece devido à necessidade de um com o outro para desenvolver


algum tipo de atividade social. Esses dois tipos de solidariedade
contribuem para o conceito de consciente coletivo (LUCENA, 2012).
Figura 1: Educadores que influenciaram a educação

Fonte: Wikimedia Commons

Outro teórico, John Dewey (1859-1952), acreditava que a formação


acontece no âmbito familiar, onde os mais novos aprendem com os mais
velhos sobre como pensar, agir e sentir, ou seja, um processo contínuo e de
renovação. Já a escola entra como um mediador para ampliar esse caminho,
acolhendo as dificuldades que acontecem nesse processo e possibilitando
condições para que seu aluno possa ser inserido no ambiente social.

Assim, podemos resumir que a criança recebe de seus pais e/ou


familiares os ensinamentos de suas experiências de vida, o que os prepara
para a sociedade, juntamente com a escola que dá continuidade a esse
processo. O pensamento de Dewey, nesse sentido, é estar em constante
atualização para reconstruir e renovar as experiências vividas e a forma de
pensar de acordo com as circunstâncias (COTRIM; PARISI, 1979).

William Heard Kilpatrick (1871-1965), discípulo de Dewey, defende


em sua teoria a importância de educar a sociedade para respeitar a
personalidade de cada indivíduo. Além disso, acreditava que a educação
busca melhorias durante a vida em relação a pensamentos e atitudes,
fazendo isso através do desenvolvimento contínuo, esse processo deve
Educação Infantil 15

começar na infância. Sua principal obra é A função social cultural docente


na escola (COTRIM; PARISI, 1979).

Para Ovide Decroly (1871-1932), a criança precisa ter um


conhecimento de si mesma em todos os aspectos: suas necessidades,
vontades, como é o funcionamento do seu corpo, por quê e quando
sente fome, frio e calor, por que ela pode sentir medo ou tristeza e em
que momentos fica feliz. Depois, ela precisa compreender o ambiente em
que vive e os indivíduos ao seu redor, o que pretende e quais trabalhos
realizam para atender as suas necessidades e desejos. Seu método se
fundamenta em três estágios:

• Observação: colocar a criança próxima a objetos, pessoas e fatos;

• Associação: interagir com ela mesma, objetos, questões temporais


de presente e passado, o que está perto e distante;

• Expressão: expor seu pensamento através da fala, escrita,


desenhos (COTRIM; PARISI, 1979).

Outra importante contribuição para o pensar sobre a criança,


encontramos em Maria Montessori. Ela apresenta relevante reflexão sobre
a necessidade de a criança ser incluída na vida social desde os primeiros
anos, conversando e deixando ela se expressar, explicando todas as
coisas que pertencem ao seu meio. Não se trata apenas de pensar sobre
esse impacto da inclusão no desenvolvimento da leitura e escrita, mas
também na sua vida social (LILLARD, 2017).

Edouard Claparede (1873-1940) escreve a Educação funcional


para refletir sobre o atender das necessidades e interesses das crianças.
É preciso conhecer a criança exatamente como ela é para ajudá-la a
satisfazer suas vontades. Além disso, acredita no dinamismo infantil como
o resultado da relação dos aspectos físicos e psíquicos. Sua Teoria do
Brinquedo influencia a construção do pensamento, pois no ato de brincar
existe a possibilidade do enfrentamento de problemas a serem resolvidos
de forma dinâmica através de soluções inteligentes (COTRIM; PARISI,
1979).
16 Educação Infantil

SAIBA MAIS:

Quer sabem mais sobre a Educação Infantil e o conceito de


Infância? Assista ao vídeo a seguir “Contexto da infância no
Brasil”, da TV Cultura, disponível em: https://bit.ly/2NuPFPy.

RESUMINDO:

Na teoria desenvolvida por Vygotsky, a linguagem é


o instrumento de mediação usado entre os sujeitos,
contribuindo para o aprendizado e desenvolvimento. Por
meio da linguagem, a criança em seu contexto social
descobre o mundo explorando e interagindo com ele.
Esse processo de compreensão e descoberta de mundo
encontra-se presente nas brincadeiras simbólicas, bem
como em outras funções psicológicas acompanhadas
com a linguagem, imaginação, memória e emoção.
Até aqui, conhecemos pensadores que influenciaram a
Educação Infantil.
Educação Infantil 17

Dimensão política sobre a educação da


criança

INTRODUÇÃO:

Neste capítulo vamos entender como se instituíram as


políticas públicas em relação à educação das crianças,
como foi a construção de leis e a institucionalização do
Ministério da Educação em nosso país.

Por quase dois séculos, a Companhia de Jesus comandou a


educação no Brasil com os padres Jesuítas no período de 1549 a 1759.
Com o tempo, a formação ficou restrita à classe dominante e não tinha
mais sentido para a vida prática da colônia.

No século XVIII, um novo período se instalava na educação do nosso


país: o iluminismo. Sua influência do por toda a Europa atinge Portugal e
consequentemente chega ao Brasil. Assim, Marquês de Pombal buscou
modernizar o ensino através das Ciências Experimentais e, mesmo após a
expulsão dos padres Jesuítas em 1759, houve muitas barreiras por conta da
forte estrutura deixada pela Companhia de Jesus (COTRIM; PARISI, 1979).

Por mais de um século, muitos acontecimentos desgastaram


esse processo de mudanças até a Proclamação da República, em 1889,
momento em que a esperança reacendeu no país diante do triste quadro
educacional. Porém, só em 1915 foi criada uma campanha para o processo
educacional, visando promover atividades para a escola primária e a
escola popular, liderado por Olavo Bilac (COTRIM; PARISI, 1979).

Com a propagação de escolas pelas cidades, educadores passaram


a observar que ao ensinar, as estratégias didáticas utilizadas não atendiam
a todas crianças. A partir daí, os educadores foram em busca de respostas
e perceberam que era preciso entender seus alunos no “momento de
aprender”, visando as questões do desenvolvimento. A criança passou a
ser estudada em suas condições biológica, psicológica e educativa por
meio de pesquisas em crescimento e adaptação social. Contudo, surge
18 Educação Infantil

uma desaprovação da pedagogia da imposição, pois é baseada em


medos e castigos, o que despertou uma pedagogia científica (COTRIM;
PARISI, 1979).

Com base nessa pedagogia, surge o movimento Escola Nova, para


reformar o ensino e implementar as ciências aplicadas, como a psicologia
e biologia, no campo da educação. Esse movimento aconteceu após 1920
e tinha como principais representantes Lourenço Filho, Anísio Teixeira e
Fernando de Azevedo que defendiam a escola pública, laica e obrigatória.
Apesar dos obstáculos encontrados por educações tradicionais, as suas
ideias continuaram a influenciar e disseminar a pedagogia contemporânea
(COTRIM; PARISI, 1979).

Com a Revolução de 1930, no governo de Getúlio Vargas, foi criado


o Ministério da Educação e Saúde com o objetivo de organizar a educação.
Com a constituição de 1934 e 1937, as ideias da Escola Nova influenciam
no direito de receber uma educação vinda da família e dos poderes
públicos. Com a queda de Vargas, foi aprovada a Constituição Liberal
de 1946, que influenciou a construção de um estatuto que estabeleceria
as diretrizes e bases do ensino no Brasil. Após 13 anos de discussões, o
projeto foi aprovado na Lei nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961 (COTRIM;
PARISI, 1979).

Foi em 1962 que a Lei de Diretrizes e Bases passou a vigorar,


estabelecendo o direito à educação. Assim, criando o Conselho Federal
de Educação:

TÍTULO II DO DIREITO À EDUCAÇÃO

Art. 2º A educação é direito de todos e será dada no lar e na


escola.

Parágrafo único. À família cabe escolher o gênero de educação


que deve dar aos seus filhos.

Art. 3º O direito à educação é assegurado:

I – pela obrigação do poder público e pela liberdade de iniciativa


particular de ministrarem o ensino em todos os graus, na forma
da lei em vigor;
Educação Infantil 19

II – pela obrigação do estado em fornecer recursos


indispensáveis para que a família e, na falta desta, os demais
membros da sociedade se desobriguem dos encargos da
educação, quando provada a insuficiência de meios, de
modo que sejam asseguradas iguais oportunidades a todos.
(COTRIM; PARISI, 1979, p. 272)

RESUMINDO:

Neste capítulo vimos como as políticas públicas em relação


à educação das crianças foram construídas ao longo da
história, bem como a instituição da Lei de Diretrizes e Bases.
20 Educação Infantil

Aspectos legais que amparam a criança

INTRODUÇÃO:

Nesse tópico, serão abordados os aspectos legais que


amparam a criança, compreendendo quais leis foram
estabelecidas com a finalidade de defender seus direitos,
reconhecendo-as como cidadãs que necessitam de
cuidado e atenção nesse período tão importante do
desenvolvimento. Essas iniciativas contribuíram para a
valorização da infância, promovendo uma mudança na
forma em que a sociedade via e tratava as crianças, bem
como a maneira como essa visão se modificou com o
passar do tempo.

Figura 2: Valorização da Infância

Fonte: Pixabay

Aspectos legais
Um documento considerado marco na história dos direitos humanos
é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, que
Educação Infantil 21

estabelece em seu Artigo 1º: “Todos os seres humanos nascem livres e


iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência,
devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.

Tal documento considera que a dignidade humana é inerente a


“TODOS” os membros da família humana. Contudo, isso é colocado de
uma forma muito generalizada.

ACESSE:

ACESSE o link a seguir e leia a “Declaração Universal dos


Direitos Humanos”: https://bit.ly/1vsw6aL.

Feita a leitura, você vai observar que o termo “criança” é citado no


documento apenas uma vez. É possível refletir, a partir do que aprendemos
na unidade anterior, sobre a motivação de alguns aspectos mencionados
na declaração e sobre a motivação para a criação de novos documentos,
como a garantia de alguns direitos de forma específica para as crianças,
conforme estudaremos adiante.

Nossa Constituição estabelece de forma mais clara e objetiva os


direitos da criança, considerando os princípios proclamados na carta da
Nações Unidas em 1945.

A carta das Nações Unidas foi motivada por uma necessidade


de defender a liberdade e os direitos humanos. Ela foi assinada com o
objetivo de acabar com o totalitarismo e os regimes militares.

Somente a partir do século XX é que a infância passou a ser


reconhecida legalmente, a partir da publicação do primeiro documento
internacional em defesa da criança, nomeado como a Declaração
Universal dos Direitos das Crianças (1959). Seu conteúdo teve como base
a Declaração de Genebra de 1924.

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos das Crianças,


estabelece-se como direitos da criança:
22 Educação Infantil

1. Igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade;

2. Proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social;

3. Um nome e uma nacionalidade;

4. Alimentação, moradia e assistência médica adequadas

5. Educação e cuidados especiais às crianças com deficiência;

6. Amor e compreensão por parte dos pais e da sociedade;

7. Educação gratuita e lazer infantil;

8. Serem socorridas em primeiro lugar, em caso de catástrofes;

9. Serem protegidas contra o abandono e a exploração no trabalho;

10. Crescerem dentro de um espírito de solidariedade, compreensão,


amizade e justiça entre os povos.

ACESSE:

ACESSE o link a seguir e leia na íntegra a “Declaração


Universal dos Direitos das Crianças” (UNICEF), de 20 de
novembro de 1959: https://bit.ly/1MDkd7v.

Ainda em 1979 foi decretada a Lei 6.697, que estabeleceu o Código


de menores. Esse documento defendia a doutrina da situação irregular,
ou seja, entendia as crianças menores de 18 anos de idade como um
objeto de medidas judiciais.

EXEMPLO: Crianças abandonadas, crianças marginalizadas, crian-


ças vítimas de alguma violência etc.

Diante dos documentos citados e considerando que a criança é um


sujeito que necessita de cuidados em decorrência de sua imaturidade
física e mental, foi necessário conferir o dever de assegurar às crianças
esses direitos à família e ao Estado, conforme o Artigo 227 da Constituição
Federal, o qual estabelece que:
Educação Infantil 23

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, a saúde, a educação, ao lazer, a profissionalização,
a cultura, a dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência
familiar e comunitária. Além de colocá-los a salvo de toda forma
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

TESTANDO:

Por que será que foram estabelecidos esses direitos de


proteção à criança? Faça uma breve recordação dos marcos
da história em relação a cada um desses itens assegurados
no Artigo 227 da Constituição Federal de 1988.

De forma geral, temos o conhecimento de algumas leis de uma forma


muito generalizada e não paramos para refletir sobre sua aplicabilidade
no dia a dia. Podemos ver um exemplo disso no Art. 5º da Constituição
Federal que diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade”.

Bem, agora que vimos os principais documentos de amparo às


crianças, vamos prosseguir com o estudo do principal documento voltado
à proteção das crianças no Brasil.

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)


O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi estabelecido
pela Lei 8.069/1990 e é considerado um marco na defesa dos direitos
das crianças (0-12 anos de idade) e adolescentes (12-18 anos de idade)
brasileiros.
24 Educação Infantil

Figura 3: Crianças e adolescentes

Fonte: Pixabay

Mas o que mais o ECA nos traz além do que consta nos documentos
citados anteriormente? E qual a diferença do Código de Menores?

O ECA revogou o Código de Menores de 1979, que defendia


a doutrina da situação irregular e trouxe um novo modelo baseado no
princípio da proteção integral, reconhecendo a criança e o adolescente
como sujeitos de direitos, além da garantia dos direitos das crianças e dos
adolescentes. Ele também estabelece os direitos e deveres do Estado e
da sociedade como responsáveis pelos mesmos, fundamentando-se no
Artigo 227 da Constituição Federal, já citada anteriormente, e isso se dá
independente de sua condição (regular ou irregular).

O objetivo do ECA é garantir à criança e ao adolescente todos


os direitos inerentes ao ser humano e específicos à sua condição,
independentemente de raça, crença, etnia, classe social e da condição
familiar, garantindo-lhes o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social.

REFLITA:

Como seria se não existissem leis que garantissem os


direitos e a proteção das crianças hoje?
Educação Infantil 25

Com essa reflexão, você irá compreender a criança como um sujeito


dependente de cuidados. Vamos usar como exemplo um bebê: para que
ele sobreviva, cresça e se desenvolva, é necessário que um adulto lhe dê
alimento, dedique cuidados com sua higiene e saúde, lhe dê estímulos
adequados para o seu bom desenvolvimento. Caso isso não aconteça,
ele não terá condições de ter esses cuidados por si mesmo e virá a óbito.

SAIBA MAIS:

Após a implantação do ECA, o Brasil reduziu o índice de


mortalidade infantil em 24%. Para saber mais, acesse a
notícia em: https://bit.ly/2MbXLLg.

Agora, vamos estudar alguns artigos contidos nesse documento.


Primeiramente você deve saber que o ECA é composto por 267 artigos
que estão divididos em dois livros.

O Artigo 1º dispões sobre a proteção integral à criança e ao


adolescente, e está fundamentado no Art. 227 da Constituição Federal.
Ele reconhece a criança e o adolescente como sujeitos de direito com
absoluta prioridade, respeitando a condição de desenvolvimento em que
se encontram.

Por que as crianças e adolescentes são tratados com absoluta


prioridade, não podendo ter as mesmas garantias de direitos dos adultos?

As crianças e os adolescentes são tratados com absoluta prioridade


porque a constituição os reconheceu como sendo credoras de atenção
especial por serem pessoas em desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social.

Os Artigos 7º e 8º abordam o cuidado assegurado a todas as


mulheres gestantes, garantindo nutrição e condições adequadas para
o parto, além de apoio psicológico no período pré e pós-natal e de
orientação sobre amamentação. Dessa forma, é possível observar o
cuidado e a proteção com a criança mesmo antes de seu nascimento.
26 Educação Infantil

No Artigo 9º, após o nascimento da criança é considerado dever do


poder público, das instituições e dos empregadores garantirem condições
adequadas para as mães e seus filhos no período de amamentação.
Figura 4: Amamentação

Fonte: Pixabay

O Artigo 13º menciona três documentos que garantem possibilidade


de proteger a criança de maus-tratos ou em caso de a mãe não querer
ficar com seu filho:

1. Conselho Tutelar: local para onde são encaminhadas as crianças


com suspeita ou confirmação de maus-tratos;

2. Justiça da Infância e da Juventude: local onde realiza-se


atendimento às mães que tenham interesse em doar seus filhos, seja qual
for a razão;

3. Centro de Referência Especializado de Assistência Social


(CREAS): local onde realiza-se acompanhamento terapêutico às crianças
na primeira infância, vítimas de violência.

Até aqui vimos um panorama sobre o direito à vida e à saúde das


crianças. A seguir, veremos de forma resumida o direito à liberdade, ao
respeito e à dignidade. Mas antes de iniciarmos, convido você a refletir
sobre o que é respeito e dignidade.
Educação Infantil 27

Respeito é um sentimento que leva alguém a tratar outra pessoa


com atenção e consideração. Dignidade é a consciência que temos de
nosso próprio valor.

A partir dessas definições, vamos pensar na realidade do nosso dia


a dia. Será que as crianças e adolescentes têm sido tratadas com respeito
e dignidade? Como isso pode ser feito?

SAIBA MAIS:

Leia o artigo “Dignidade e educação infantil: visão de pais e


educadores”. Disponível em: https://bit.ly/2YKsrVw.

Dessa forma, do Artigo 15º ao 18º o ECA garante direito:

• À liberdade: direito da criança de ir e vir, dar opinião, brincar,


ter uma religião, buscar orientação e participar da vida familiar e
comunitária;

• Ao respeito: proteger a integridade física, psíquica e moral das


crianças;

• À dignidade: sendo dever de todos zelar pela dignidade da


criança colocando-as a salvo de correção em forma de castigo
físico geralmente aplicados por pais e educadores.

Em 2014 foi estabelecida a lei da palmada (Lei nº 13.010/2014) que


proíbe o uso de castigos físicos como forma de disciplina.

Do artigo 19º ao 24º é descrita a importância da convivência familiar


e comunitária para o bom desenvolvimento da criança e do adolescente,
garantindo-lhes o direito de serem criados e educados por sua família
ou, na ausência ou falta desta, por uma família substituta. O documento
descreve as várias possibilidades de constituição familiar sendo: a família
natural, a família substituta, da guarda, da tutela e da adoção. Para enten-
der melhor cada uma delas, leia do artigo 25º ao 52º do ECA.
28 Educação Infantil

Figura 5: Família

Fonte: Pixabay

A educação ganha atenção especial nos artigos 53° a 59º, nos quais
é posto que todas as crianças e adolescentes têm direito à educação,
visando o pleno desenvolvimento como pessoa e o preparo para o
exercício da cidadania. Eles também devem ter acesso à escola pública e
gratuita, perto de suas residências.

O artigo 56º aborda uma realidade que deve ser respeitada e


combatida. A escola deve comunicar ao conselho tutelar casos de maus-
tratos, faltas injustificadas e evasão escolar.

Dentro do processo educacional, o artigo 58º diz que é preciso


respeitar os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto
social de cada criança e adolescente.

Cabe aos educadores proporcionar dinâmicas sobre diversidade


cultural em sala de aula, promovendo respeito entre os alunos.

ACESSE:

Não deixe de ler o artigo “5 maneiras eficientes para


trabalhar a diversidade na sala de aula”, disponível em:
https://bit.ly/2IdLBfZ.
Educação Infantil 29

Agora, vamos conhecer um pouco sobre o direito à profissionalização


e à proteção do trabalho, descritos do artigo 60º ao 69º.

Crianças até os 13 anos de idade são proibidas de exercer qualquer


tipo de trabalho.

É considerado trabalho infantil toda forma de trabalho remunerado,


ou não, que privam as crianças e adolescentes de experiências próprias
de suas idades, como estudar e brincar.

Dos 13 aos 16 anos de idade o trabalho é permitido apenas na


condição de aprendiz, onde o jovem frequenta a escola em um período
do dia e no outro realiza o ensino profissionalizante supervisionado.

Entre os 16 e 18 anos de idade o trabalho é permitido, porém o


jovem não pode trabalhar no período noturno e nem exercer tarefas
consideradas de risco. O trabalho infantil é um descumprimento desses
direitos, pois compromete o desenvolvimento físico e psicológico da
criança.

O ECA é considerado uma referência. Portanto, é importante


que você tenha conhecimento do seu conteúdo para refletir com seus
alunos sobre os direitos e as responsabilidades para o pleno exercício da
cidadania e ajude sua escola a construir um novo olhar sobre a infância.

O direito da criança de brincar


Um dos direitos específicos garantidos às crianças é o direito de
brincar. É curioso pensarmos, nos dias de hoje, que foi necessária a
criação de uma lei para garantir esse direito às crianças, não é mesmo?
30 Educação Infantil

Figura 6: Crianças brincando

Fonte: Pixabay

A Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) foi fortalecida


pela convenção dos Direitos da Criança (1989) para garantir o direito de
toda criança de brincar e divertir-se, sendo dever da sociedade e das
autoridades públicas garantirem esse direito.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 16º, também


assegura à criança o direito de brincar, mas esse direito foi ainda mais
fortalecido com a implantação da Lei nº 13.257/2016 sobre a primeira
infância. Essa lei garante às crianças de 0 a 6 anos de idade prioridade
no desenvolvimento de programas, na formação de profissionais e na
formulação de políticas públicas.

Foi a partir dessa lei que surgiram as organizações de espaços


lúdicos em todos os lugares públicos ou privados em que tenha circulação
de crianças.
Educação Infantil 31

ACESSE:

A professora Tizuko Morchida, da Faculdade de Educação


da USP, em entrevista a Tatiane Bertoni, discorreu acerca do
brincar a e das brincadeiras na infância, seus significados e sua
importância. Não deixe de conferir: https://bit.ly/2QumFEz.

Você precisa entender que o brincar é essencial para as crianças,


pois enquanto se divertem elas também desenvolvem aspectos físicos,
emocionais e cognitivos.

Por isso, é preciso garantir espaços lúdicos para que essas


brincadeiras aconteçam, pois eles promovem a diversão e o aprendizado
dessas crianças.

Vigotsky (1987) entende o brincar como uma atividade humana


criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção
de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas
crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com
outros sujeitos, crianças e adultos.

É por meio da brincadeira, imaginação, fantasias e questionamentos


que as crianças irão aprender e compreender o mundo ao mesmo tempo
que constroem sua identidade pessoal e coletiva.

Você acredita no brincar como o viver da infância ou acredita no


brincar como forma de aprendizado?

RESUMINDO:

Neste tópico, aprendemos sobre os documentos legais que


garantem os direitos das crianças e entendemos que elas
estão em um período de aprendizado constante. A seguir,
vamos conhecer as legislações que regem a educação
para esse público.
32 Educação Infantil

Aspectos legais da Educação Infantil

INTRODUÇÃO:

A Constituição reconhece que o Estado tem o dever de


garantir o direito das crianças de serem atendidas em
creches e pré-escolas e vincula esse atendimento à área
educacional. Neste capítulo, vamos estudar quais são os
aspectos legais da Educação Infantil.

Por que as creches e pré-escolas foram vinculadas a um


atendimento educacional?

Antes a Educação Infantil era vista como um ambiente de cuidado


e estava na esfera da ação social, ou seja, era um espaço que cuidava
das crianças no período em que seus pais ou responsáveis estavam
trabalhando.

Mas então, qual é a diferença de cuidar e educar?

Cuidar significa a ação de tomar conta de alguém e educar é


dar a alguém todos os cuidados e instruções necessárias para o pleno
desenvolvimento do ser humano.

Para cuidarmos de alguém não é necessário conhecimento


pedagógico, basta alimentar a criança, mantê-la limpa e segura. Essa ação
pode ser realizada em ambiente doméstico. Porém, se pensarmos em um
atendimento educacional podemos relacionar esses dois conceitos.

Quando uma cuidadora vai dar banho em um bebê, ela pode


durante esse processo cantar músicas nomeando as partes do corpo
enquanto lava-as. Essa simples ação estimula o desenvolvimento da
criança em seus aspectos físicos e cognitivos.
Educação Infantil 33

Figura 7: Cuidados com os bebês

Fonte: Pixabay

Portanto, a partir do cuidado eu posso também realizar uma ação


pedagógica.

A educação nada mais é do que um conjunto de processos


pedagógicos tendentes ao desenvolvimento geral do ser humano. Nesse
sentido, vamos compreender a implantação e o funcionamento da
Educação Infantil no Brasil.

A Educação Infantil foi regulamentada a partir da Lei de Diretrizes


e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996). Esse documento
define a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica,
tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de 0 a 6
anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade.

A Educação Básica está dividida em três etapas:

1. Educação Infantil;

2. Ensino Fundamental (I e II – Anos Iniciais e Anos Finais);

3. Ensino Médio.
34 Educação Infantil

Também foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para


Educação Infantil (Resolução CNE/CEB nº 1, de 07/04/1999). Nelas está
descrito que é dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil
pública, gratuita e sem critério de seleção. Ela deve ser oferecida por
creches e pré-escolas em espaços institucionais não domésticos que
constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados, que
educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade. Além disso, esse
documento estabelece a obrigatoriedade da matrícula das crianças de 4
a 6 anos de idade na Educação Infantil.

As propostas pedagógicas descritas nas Diretrizes Curriculares


Nacionais para Educação Infantil regem três princípios:

• Princípios éticos: da autonomia, da responsabilidade, da


solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e
às diferentes culturas, identidades e singularidades;

• Princípios políticos: garantir os direitos de cidadania dessa


criança, o exercício dessa cidadania e o respeito à democracia;

• Princípios estéticos: a valorização da sensibilidade, da


criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas
diferentes manifestações artísticas e culturais.
Figura 8: Brincando na escola

Fonte: Unsplash
Educação Infantil 35

O Programa Currículo em Movimento da Educação Básica nos traz


quatro eixos a serem trabalhados na Educação infantil: educar, cuidar,
brincar e interagir. Esses eixos são considerados indissociáveis.

Através dessas dimensões, vamos entender que o ato de alimentar,


cuidar e vestir pode ser utilizado para desenvolver o intelecto da criança,
propor atividades que haja envolvimento afetivo, psicológico e cognitivo.

Outro documento muito importante divulgado pelo Ministério da


Educação em 1990 é o Referencial Curricular Nacional para Educação
Infantil (RCNEI). Ele se fundamenta na orientação dos trabalhos a serem
desenvolvidos nas creches e pré-escolas, apresentando objetivos e
conteúdos a serem trabalhados nessa etapa educacional com orientações
didáticas, relativas à avaliação do desenvolvimento da criança.

Outros documentos foram publicados pelo Ministério da Educação


(MEC) com o objetivo de subsidiar as práticas presentes nas escolas de
Educação Infantil. A seguir, vamos comentar alguns deles:

• Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil:


tem como objetivo orientar o sistema de ensino com os padrões de
referência e organização, gestão e funcionamento de creches e pré-
escolas de todo país. Esse documento é considerado um norteador
para implementar e avaliar políticas públicas educacionais para
crianças de 0 até 5 anos de idade (BRASIL, 2006);

• Indicadores da Qualidade na Educação Infantil: esse documen-


to é um instrumento de autoavaliação institucional que visa o en-
volvimento de todos da comunidade escolar, objetivando a cons-
trução de uma escola de qualidade (BRASIL, 2009).

ACESSE:

A Cidade de Santos realizou uma experiência diferenciada,


ao avaliar a educação infantil “com a participação de 867
representantes de comunidades escolares das redes
municipal e conveniada de ensino”. De forma prática e
democrática, realizaram uma autoavaliação participativa,
demonstrando os indicadores da qualidade na Educação
Infantil. Assista agora: https://bit.ly/2Qx3euL.
36 Educação Infantil

• Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de


Educação Infantil: esse documento foi desenvolvido com o
objetivo de realizar adaptações dos espaços de Educação Infantil,
desenvolvendo projetos relacionados à qualidade dos ambientes
escolares (BRASIL, 2006);

• Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças


de 0 a 6 anos à educação: esse documento trabalha em prol das
políticas para Educação Infantil, contribuindo para um processo
mais democrático de implementação de políticas para crianças de
zero a seis anos de idade (BRASIL, 2006).I;

SAIBA MAIS:

Aprofunde seus conhecimentos realizando a leitura do


artigo “As políticas públicas no contexto da Educação
Infantil”. Disponível em: http://bit.ly/2OZCMx8.

Nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC): é considerado um


documento essencial para melhorar a qualidade de ensino. Seu conteúdo
detalha os objetivos de aprendizagem para Educação Infantil e Ensino
Fundamental. Sua última versão traz modificações significativas.

ACESSE:

E o que muda na Educação Infantil a partir da BNCC?


Confere aqui no bate papo da TC Cultura com a educadora
Beatriz Ferraz: https://bit.ly/2JHvUkb.
Educação Infantil 37

Figura 9: Direitos de aprendizagem e desenvolvimento

Fonte: Adaptado de Brasil (2017)

Como exemplo de participação no pensar a Educação Infantil,


encontramos experiências nas quais os profissionais participam da
construção de modelos práticos e contextualizados. Por exemplo, alguns
profissionais da gestão municipal de São Paulo elaboraram o Currículo da
Cidade – Educação Infantil publicado em 2019. Esse documento busca
integrar as experiências práticas das crianças dessa rede de ensino,
trazendo novas possibilidade e atuação na Educação Infantil.

ACESSE:

Visite o link a seguir e conheça mais sobre as propostas do


Currículo da Cidade para a Educação In fantil, da Cidade de
São Paulo: https://bit.ly/30MKPii.

A Educação Infantil se tornou alvo de interesse de muitas pesquisas,


abrangendo diversas temáticas relacionadas às práticas de educação e
aos cuidados das crianças.

A finalidade da Educação Infantil no Brasil é o desenvolvimento


integral da criança de 0 a 5 anos de idade em seus aspectos físicos,
intelectual, linguístico e social. É importante destacar que não é função só
da escola a educação infantil. Essa educação será complementada pela
educação que a criança tem em casa e na comunidade em que vive.
38 Educação Infantil

Será que com essa garantia de direitos todas as crianças de 0 a 5


anos de idade no Brasil frequentam a escola?

Mesmo com a iniciativa de tantas políticas garantindo a educação


dessa população, muitas crianças nessa faixa etária ainda estão fora das
creches e das pré-escolas, a principal razão desse cenário é muitas vezes
a falta de vagas.

RESUMINDO:

Chegamos ao final desta unidade. Aqui vocês viram


diversos documentos que subsidiam as práticas presentes
nas escolas de Educação Infantil, assim como garantem os
direitos dessas crianças.
Educação Infantil 39

REFERÊNCIAS
ARIÉS, F. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro:
LTC, 1981.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa


do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, Câmara dos


Deputados, Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/07/1990 –
ECA. Brasília, DF. Disponível em: https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.
br/wp-content/uploads/2017/06/LivroECA_2017_v05_INTERNET.pdf.
Acesso em: 11 mar. 2021.

BRASIL. Lei nº 9.394: Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional (LDB). Diário Oficial da União, Brasília, 2017. Disponível em:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/529732/lei_de_
diretrizes_e_bases_1ed.pdf. Acesso em: 11 mar. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano


Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: https://bit.ly/3lo7XOH

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação


Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil.
Brasília, 1991. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/
rcnei_vol1.pdf. Acesso em: 11 mar. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.


Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Brasília:
MEC/SAEB, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.


Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação
Infantil. Brasília: MEC/SAEB, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.


Indicadores de Qualidade na Educação Infantil. Brasília: MEC/SAEB, 2009.
40 Educação Infantil

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.


2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 11 mar. 2021.

BOTO, C. O desencantamento da criança: entre a Renascença e o


Século das Luzes. In: FREITAS, M. C. de; KUHLMANN JUNIOR, M. (orgs.).
Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002. p. 11-60.

COTRIM, G; PARISI, M. Fundamentos da educação: história e


filosofia da educação. São Paulo: Saraiva, 1979.

FREITAS, C. de F; KUHLMANN JUNIOR, M. Os intelectuais na


história da infância. São Paulo: Cortez, 2002.

GOUVEA, M. C. S. A escrita da história da infância: periodização e


fontes. In: SARMENTO. M. J; GOUVEA, M. C. S. (orgs.). Estudos da Infância:
educação e práticas sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p. 119-140.

LILLIARD, P. P. Método Montessori: uma introdução para pais e


professores. São Paulo: Manole, 2017.

LUCENA, C. O pensamento educacional de Émile Durkheim. Revista


HISTEDBR On-line, Campinas, SP, v. 10, n. 40, p. 295-305, ago. 2012.

OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; KISHIMOTO, T. M.; PINAZZA, M. A.


Pedagogia (s) da infância: dialogando com o passado, construindo o
futuro. Porto Alegre: Artmed, 2011.

SARMENTO. M. J; GOUVEA, M. C. S. Apresentação – Olhares sobre a


infância e a criança. In: SARMENTO. M. J; GOUVEA, M. C. S. (orgs.). Estudos
da Infância: educação e práticas sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p.
07-14.

VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins


Fontes, 1991.

VIGOTSKY, L. S. O desenvolvimento psicológico na infância. São


Paulo: Martins Fontes, 1998.
Analice Oliveira Fragoso

Educação
Infantil

Você também pode gostar