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Glória Freitas

Literatura
Infantojuvenil
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autora
GLÓRIA FREITAS
A AUTORA
Glória Freitas
Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou graduada em Pedagogia, com
mestrado e doutorado na área de educação, com diversas experiências
técnico-profissionais, na área de Educação, desde 1984, percorrendo
inicialmente pela Educação Básica (na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental I) em Escolas, posteriormente lecionando em formações
docentes em Organizações Governamentais e Não Governamentais
(ONG’s e OSCIPs), e a partir de 1990, lecionando os fundamentos e
metodologias de ensino, na Formação Docente Inicial e Pós-Graduação,
no Ensino Superior, em Universidades Públicas e Particulares, em São
Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço
e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando
em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Trajetória histórica da literatura infantojuvenil no mundo........ 12
Origem da palavra literatura na atual literatura infantojuvenil........................ 12

Origem indiana da literatura infantojuvenil ocidental............................................ 15

Origem da literatura infantojuvenil ocidental............................................................. 20

Trajetória histórica da literatura infantojuvenil no Brasil........... 24


A influência da colonização portuguesa na trajetória histórica da literatura
infantojuvenil ......................................................................................................................................24

Trajetória histórica da literatura infantojuvenil brasileira.................................... 30

Primeira fase: do final do século XIX ao início do século XX........ 31

Terceira fase: 1946 a 1960 - período democrático.............................. 36

Quarta fase: de 1970 até 1989 - da Ditadura Militar aos tempos de


redemocratização.........................................................................................................37

Função da literatura infantojuvenil...................................................... 42


Análise das obras infanto-juvenis a partir das teorias
estudadas........................................................................................................48
Literatura Infantojuvenil 9

01
UNIDADE

LIVRO DIDÁTICO DIGITAL


10 Literatura Infantojuvenil

INTRODUÇÃO
Olá. Seja muito bem-vindo (a) à disciplina Literatura Infantojuvenil.
Você estudará, nesta unidade 1, a origem e a função da literatura
infantojuvenil, a sua trajetória histórica, no Brasil e no mundo, desde
sua origem até os dias de hoje, conhecendo detalhes da importância
da literatura desde os tempos medievais. Aprenderemos sobre como
os colonizadores portugueses trouxeram ao Brasil antigas produções
medievais e que até hoje podem ser encontradas no nosso país. O
próximo passo é aprender e ser capaz de definir a função da Literatura
infantojuvenil, questionando os verdadeiros lugares que a literatura
destinada as crianças, adolescentes e jovens possuem na vida
contemporânea. Por fim, você entenderá elementos necessários para um
professor analisar obras infanto-juvenis, apoiando e aplicando as teorias
estudadas. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar
neste universo!
Literatura Infantojuvenil 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Identificar a trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde


sua origem até os dias de hoje, no mundo;

2. Identificar a trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde


sua origem até os dias de hoje, no Brasil;

3. Definir a função da Literatura infantojuvenil;

4. Analisar obras infanto-juvenis aplicando a teoria estudada.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
12 Literatura Infantojuvenil

Trajetória histórica da literatura


infantojuvenil no mundo
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de identificar a


trajetória histórica da literatura infantil desde a sua origem até
os dias de hoje, no mundo. E, ainda, será capaz de definir a
função da literatura infantojuvenil. Isto será fundamental para
a sua compreensão sobre o legado que a humanidade nos
ofereceu, com encantadoras obras para serem oferecidas as
crianças e aos jovens. E então? Motivado para desenvolver
esta competência? Então vamos lá. Avante!

Origem da palavra literatura na atual


literatura infantojuvenil
Você já conhece bem a palavra literatura? Já leu, provavelmente,
os livros recomendados pelos professores que preparam alunos para
o ENEM ou leu fragmentos, contos, poemas ou até resumos de alguns
famosos livros, pertencentes ao acervo fabuloso da literatura universal.
Pode ter lembranças de aulas de literatura, nos idos anos de sua formação
escolar. Poderá até afirmar que não gostava de ler até o momento em que
um determinado livro chegou às suas mãos, ou mais recentemente se
deparou em alguma Biblioteca Online e leu um e-Book que desencadeou
seu prazer com relação ao ato de ler.

É verídico afirmar que nós, os brasileiros ainda apresentam baixa


performance na leitura. Isso é revelado, na pesquisa realizada em 2016,
por ocasião da 4.ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil,
conduzida pelo Instituto Pró-Livro. Quando o esperado por tal instituto era
um ativo leitor que lesse a cada três meses um livro, eis que a realidade
imposta sobre o solo brasileiro revela que a média de leitura por habitante
Literatura Infantojuvenil 13

do nosso país é de 2,43 livros por ano. Qual é a sua média de leitura por
mês?

Estas e outras questões sobre a Leitura nos remete a pensar em


Literatura. Tratamos de ler e isso remete a palavra Literatura. Mas afinal o
que a etimologia desta palavra esclarece aos leitores? Na origem latina, da
palavra Literatura, encontramos “litteris” que significa “Letras”. É necessário
tomar um cuidado especial para não limitar o entendimento e vastidão do
que seja literatura, apoiado a origem latina desta palavra, apontada acima.
Não é coerente limitar a literatura ao que pode ser encontrado escrito ou
impresso. Não se deve esquecer que existe há milênios no mundo, em
diversos povos e diversificadas línguas produção vultuosa de literatura
oral, aquela que as pessoas decoram e recitam nos momentos de lazer e
que atingem as crianças que ainda não são capazes de ler.

Assim, na História da Literatura, modernamente, é possível afirmar


que a literatura é a ciência relacionada às letras, e diz respeito a uma
arte específica relacionadas aos atos de ler e escrever. Mas também aos
atos relativos a literatura oral. Está envolvido na resposta do que seria a
Literatura os elementos envolvidos nos atos de elaboração e exposição
de textos escritos ou orais, em uma vastidão que vai dos versos de uma
poesia aos textos em prosa, distanciados da métrica dos versos e mais
próximos das nossas naturais linguagens faladas ou escritas.

A língua é o material da literatura, como a pedra ou o bronze


são o da escultura, as tintas o da pintura, os sons o da música.
Devemos perceber, porém, que a língua não é mera matéria
inerte, como a pedra, mas é, ela própria, uma criação do
homem e, assim, carregada com a herança cultural de um
grupo linguístico. (WELLEK; WARREN, 2003, p. 14)

Quando você reflete sobre aqueles livros da literatura universal,


chamados de clássicos, carregados de representações sobre a época
em que forma escritos e potentes suficientemente para ser ao mesmo
tempo o retrato de um tempo e se perpetuar, com sua originalidade pelos
14 Literatura Infantojuvenil

tempos distintos daqueles em que foram escritos, traduzidos para diversas


línguas, lidos por muitas gerações e em muitas regiões do mundo.

Ao analisá-los você irá perceber que eles estão relacionados à


cultura letrada. Antes das nossas existências, de nossos avós, e ainda hoje
em muitas partes da Terra, são ainda pertencentes ao cotidiano dos que
possuem recursos materiais para adquirir tais obras, condicionalmente
acessível aos que sabem ler e escrever ou recebem ajuda de um familiar
ou da professora para ouvir atentamente a leitura.

NOTA:

“Nesse sentido, literatura está ligada ao poder e ao prestígio


das classes dominantes e é conservada na medida em que
expressa a visão do mundo e os interesses dessas camadas”
(PAIVA, 2014, p. 17).

Cercada destes imperativos econômicos, a literatura furou vários


cercos e sobreviveu através dos tempos, atravessando fronteiras, os
leitores memorizaram suas experiências com as leituras e compartilharam
com as novas gerações sobrevivendo aos momentos mais dramáticos
da história da humanidade, guerras e tratados de paz e ressurgindo
em momentos históricos tão diferenciados daqueles em que viveu ou
idealizou a pessoa que escreveu uma obra determinada de literatura.

O que significa aquilo que denominamos atualmente como


literatura infantojuvenil? É aquela literatura delimitada a um público
específico e que coincidentemente é o mesmo que conhece a literatura
em suas casas e nas escolas, em um período significativo das vidas de
crianças, adolescentes e jovens. A literatura feita ou que serve às crianças
faz parte da literatura geral, sendo focada para o público infantojuvenil,
estimuladoras do imaginário dos nossos pequenos filhos, netos ou
Literatura Infantojuvenil 15

alunos, potentes o suficiente para “auxiliar a compreensão e a resolução


de conflitos internos de cada indivíduo em particular” (SILVA, 2009, p.136).

Esta literatura infantojuvenil originalmente, tanto quanto nos dias


atuais, estava relacionada aos processos de formação de meninos
e meninas, que pode ocorrer em muitos equipamentos culturais e
bibliotecas, mas prioritariamente deverá estar relacionado ao espaço
escolar. O que não impede que os livros da literatura universal e
brasileira, estas belas páginas e verdadeiros tesouros da humanidade e
do povo brasileiro, graças ao intensivo progresso gráfico e ao mercado
editorial, possam habitar às mentes de inúmeras crianças e jovens. As
literaturas feitas para as infâncias e os jovens ao redor do mundo são,
concomitantemente, coniventes e aprisionadas do intricado processo
cultural encarregado em formar futuros e libertos leitores.

Figura 1: A magia na literatura

Fonte: Freepik

Origem indiana da literatura


infantojuvenil ocidental
É incontestável afirmar que a literatura produzida no ocidente
pode ser entendida como um todo harmônico. E o que representa o
lado ocidental da terra? Qual é a civilização ocidental? São todos países
da União Europeia, das Américas do Norte, central e Latina, do vasto
16 Literatura Infantojuvenil

continente africano é representado pela África do Sul, e ainda comporta a


Austrália e Nova Zelândia, do continente asiático.

Aquilo que é denominado como literatura ocidental é, forçadamente


e por conta de sua origem, relacionada e deve muito as literaturas grega e
romana e seus gigantescos legados. Mas é somente isso? Evidentemente
que não! É comprovado e igualmente incontestável que as experiências
de literatura infantojuvenil foram tocadas, como a literatura de modo
geral, nos tempos medievais e modernos por interessantes influências
não ocidentais, nitidamente orientais, entre as quais é possível destacar
a Bíblia sagrada.

Sobre as origens que ocidente e oriente comungam, envolvendo


a literatura, é bastante importante que você entenda que o papel
relevante evolutivo da literatura, através e em todos os tempos, a favor
da humanidade. Uma tarefa essencial é vasculhar as origens da Literatura
Infantil, reconhecida atualmente como clássica, a partir de seus ancestrais
ou de sua célula-máter: a Novelística Popular Medieval que, por sua vez,
tem suas raízes mais remotas em certas fontes orientais (Índia) ou, mais
precisamente, indo-europeias.

As famosas, e recorrentemente lidas, histórias que chamamos


de infantis ou dedicadas, na contemporaneidade às crianças, pelos
pais e professores, desde bem pequenas, até os dias atuais, aqueles
denominados clássicos infantis, os belos e encantadores contos de fada
ou contos maravilhosos de Perrault, Grimm ou Andersen, ou as fábulas de
La Fontaine, praticamente esquecemos (ou ignoramos) que esses nomes
não correspondem aos dos verdadeiros autores de tais narrativas.

E quem seriam originalmente os autores de tão recontadas obras


da literatura infantil, nos mais diversos tempos e nas mais distanciadas
culturas? É incansável e recorrente vê-los como autores de obras que as
crianças insistem em amar, geração após geração, desde o século XVII.
Se não são autores, qual o papel que eles desempenharam ao colocar em
livros tais velhos relatos da humanidade?

Hoje, já é de conhecimento que estes autores acima citados eram


interessados na literatura folclórica, obra primorosa dos povos de inúmeros
Literatura Infantojuvenil 17

países e colheram taus fantásticas histórias anônimas, vivas através do


boca-a-boca de diversas gerações de tantos povos, perpetuando-as
através da escrita, desde o apogeu da imprensa.

A chamada Idade Moderna, entre os anos 1453 e 1789, abarca o


período da invenção da Imprensa e de seus múltiplos desdobramentos
nas publicações.

Estes autores, exímios pesquisadores dos saberes orais populares à


época em que viveram, foram catalogando este rico acervo oral popular,
já antigo e compartilhado por muitas gerações e deram-lhes, a tais
saberes do povo, um destino importante e de caráter de preservação de
tais saberes, a escrita, em livros, as sensacionais coletâneas registradas
com seus nomes como autores, apesar de serem apenas recriadores,
exercendo um papel muito importante à humanidade, não deixar que
estas memórias literárias populares fossem apagadas com o tempo ou
restritas aos lugares e povos onde forma coletadas.

Estudiosos de todos os pontos da Terra e pertencentes às mais


diferentes áreas de pesquisa (Filologia, Linguística, Folclore,
Etnologia, Antropologia, Historia, Literatura, Pedagogia, etc.)
têm tentado descobrir os misteriosos caminhos seguidos por
essa Literatura Popular que, vinda da origem dos tempos,
chegou até́ nos. Mas esse fenômeno coloca problemas a
maioria das vezes insolúveis, tais como: Quando e Como teria
sido criada a literatura? Qual teria sido sua verdadeira forma
no momento em que foi inventada? Por que teria nascido e
resistido, através de tempos tão primitivos, até́ o momento em
que entra para a história, ao transformar sua fala em escritura?
(COELHO, 2010, p. 06)

Antes destes fabulosos compiladores de contos populares, os


estudiosos da Literatura reconhecem a existência daquilo que chamam
de Literatura Primordial. Tal literatura oral de diversos povos não era ainda
imortalizada nos livros, como passariam a ser a partir da Era Moderna,
mas potente o suficiente para transmitir as novas gerações antigas
18 Literatura Infantojuvenil

e maravilhosas histórias, por vários séculos. Tal potente conjunto de


histórias, hoje já é sabido, são narrativas orientais, tão antigas, anteriores
ao aparecimento de Cristo, seguiram firmes no futuro e constituído mundo
cristão, unicamente pela via da oralidade.

Aparentemente delicada e incerta, a palavra, relacionada a literatura


ou não, está presente na intenção humana de comunicação com os
seus semelhantes. Nós, os viventes, seja em que tempo for, precisamos
comunicar fatos e ideias e isso seria algo intrínseco a nossa humanidade.

O impulso de contar estórias deve ter nascido no homem no


momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros certa
experiência sua, que poderia ter significação para todos.

Pode surpreender que as historinhas contadas a você pelos seus


familiares e que ainda hoje encontram novas versões em nossa língua
Português do Brasil são originadas de narrativas primordiais orientais.
Aquelas histórias denominadas de europeias, que supostamente teriam
chegado com os portugueses, as famosas, ancestrais e populares
narrativas medievais. Aqui, no Brasil, chegaram e tomaram rumos na
literatura folclórica, ainda existente contemporaneamente no nordeste do
Brasil (literatura de cordel) e nas reconhecidas obras de:

[...] literatura infantil (através dos registros feitos por escritores


cultos, como Perrault, Grimm, etc.). Examinando-se esses
dois acervos literários (o folclórico e o infantil) em Portugal
e no Brasil, verifica-se que as versões folclóricas de certas
narrativas apresentam inúmeras variantes (dependendo das
regiões onde se arraigaram); enquanto as versões infantis se
reproduzem praticamente inalteradas, nas várias edições que
se sucedem. É a mobilidade da vida (resultante da transmissão
oral) contraposta à fixidez do texto literário, determinada pela
escrita. (COELHO, 2010, p. p.06)

Os pesquisadores da Literatura afirmam que chegou na Península


Ibérica, no decorrer do reinado de Afonso, filho do rei Fernando, na Espanha
do século XIII. Uma versão árabe chega a Europa medieval, via Espanha,
Literatura Infantojuvenil 19

e será matriz para uma importante produção de romance castelhano,


autorizado por El Rey Alfonso. Essa primitiva versão castelhana foi levada
fora da Espanha e inspirou uma outra publicação, feita na França, por
iniciativa do médico Raymundo de Béziers, seguindo orientação de Dona
Juana de Navarra, a mulher de Felipe, o Belo.

Ela não chegou a ver a obra finalizada em 1313 (século XIV) e


entregue ao rei. Esta interessante obra pode ser vista até hoje na Biblioteca
Nacional de Paris.

A narrativa que serviu de matriz para estas duas publicações foi


Calila e Dimna (Kalila wa-Dimna ou Kalila e Dimna) é uma interessante
coleção, com grande circulação e repleta de fábulas (composições
literárias curtas) orientais, oriundas da Índia, escritas na Língua antiga
sânscrita por volta do século III, ao que tudo indica.

Posteriormente foram traduzidas para o árabe, no século VIII, tendo


como autor desta tradução o célebre escritor árabe Ibn al-Muqaffa. Desta
tradução árabe surgiram muitas outras obras escritas em diversas línguas
europeias e orientais, entre os séculos X a XIV. Tal tradução árabe do
século VIII (por volta dos anos 600 a.C) influenciou as conhecidas fábulas
de la Fontaine.

Figura 2: Capa do livro traduzido do escritor árabe Ibn al-Muqaffa

Fonte: Amazon
20 Literatura Infantojuvenil

E do que trataria esta obra? Das questões da vida em sociedade e


dos príncipes e princesas e também de histórias envolvidas com o mundo
animal.

Este manuscrito muito conhecido, produzido no Egito por volta


de 1310, é, provavelmente, o mais velho dos quatro manuscritos árabes
Kalila wa-Dimna do século XIV. Um dos poucos textos em árabe a serem
ilustrados, este contém 73 miniaturas de alta qualidade artística e são,
portanto, um importante monumento de decoração de livro árabe.

SAIBA MAIS:

Para conhecer um pouco mais sobre esta importante obra


árabe, “Kalila e Dimna”, acesse o manuscrito do ano de 1310,
com 73 belas miniaturas artísticas, diretamente do acervo
digital da Biblioteca Digital Mundial, disponível no link: https://
bit.ly/2LYH1Vg.

Origem da literatura infantojuvenil


ocidental
Diante destes fatos históricos, não é possível desconsiderar
tais publicações anteriores, dedicadas aos adultos e aos seus filhos
conjuntamente. Seus desdobramentos na História seguinte da Literatura
infantil, que irá se desenvolver bastante no século XVIII, aliada a uma
mudança na visão sobre a infância.

A visão da criança na Idade Média brincando e convivendo


em espaços comuns aos adultos, ouvindo suas narrativas mudou
drasticamente. Na Idade Moderna, inicialmente as crianças serão muito
paparicadas por seus pais, e, posteriormente, serão levadas aos rígidos
colégios para aprender modos apropriados à vida social. A literatura
infantil deste século XVII terá uma ligação estreita com a Pedagogia,
Literatura Infantojuvenil 21

dessa forma, confunde-se muito seu caráter artístico com sua função
didático-pedagógica.

Já no século XV, Fénelon, evoluído escritor, foi o precursor da atual


literatura dedicada especialmente para as crianças, com a presença da
moral da história, com personagens bons e maus para a criança perceber
facilmente os comportamentos morais esperados. Bem poderia ter
recebido um destaque maior na história da literatura moderna, mas o
lugar de destaque foi dado ao Charles Perrault.

Figura 3: Histórias ou contos do passado, com moral, 1697

Fonte: Wikimedia
22 Literatura Infantojuvenil

Charles Perrault vivia França, no fim do século XVII, tendo publicado


o livro Os contos da Mãe Gansa. Perrault foi um hábil recolhedor dos
famosos contos populares, apresentando as suas morais das histórias.
Além da já citado Contos de Mão Gansa, este importante autor de
literatura infantil irá ouvir do povoe registrar na escrita os seguintes e
celebres contos e histórias, escritas para as crianças: Bela Adormecida,
Chapeuzinho Vermelho, Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira,
Henrique do Topete e O Pequeno Polegar.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à


seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Trajetória
da Literatura Infantil: Da origem Histórica e do Conceito
Mercadológico ao Caráter Pedagógico na Atualidade.
Acessível pelo link: https://bit.ly/2RUzmLK

A História da Literatura Infantil no Brasil e no mundo é repleta dos


legados de homens e mulheres que dedicaram os seus dias a escrever
para crianças, adolescentes e jovens. Alguns escritores coletaram
narrativas orais populares, deram uma escrita para os contos orais e,
assim, carregamos para a indústria cinematográfica e outras fontes as
antigas histórias populares, contadas nas horas vagas e para a totalidade
da população, crianças e adultos.

Estas práticas remotas, distantes, anteriores aos atuais estados de


popularização dos livros foram narradas por nossos avós que viveram em
distantes fazendas, no interior do Brasil. Estes antepassados contaram para
nossos avós que, na boquinha da noite, depois do jantar, todos sentavam
no terreiro da casa, parte da frente da casa e começavam a ouvir histórias
narradas por alguém hábil nesta arte e que mantinham todos calados e
atentos, em tempos sem televisão. Aprendidas e rememoradas de forma
Literatura Infantojuvenil 23

oral fizeram um papel fundamental na vida das pessoas, distantes das


práticas educativas e dos livros.

A Literatura infantil mundial não está dissociada a história das


famílias, da sociedade, dos costumes e da infância propriamente dita.

A origem da literatura infantil vincula-se às mudanças


estruturais que ocorreram na sociedade dos séculos XVII e
XVIII, momento em que se instalou o modelo burguês de família
unicelular, provocando uma alteração na forma de se visualizar
a infância e todas as instituições com ela relacionadas. Dessa
forma, explica-se o papel de aliada que a escola - e com ela a
produção de textos dirigidos às crianças passou a exercer para
a consecução dos objetivos e valores preconizados por essa
nova classe social emergente. (BECKER, 2001, p.35)

RESUMINDO:

Você fez um percurso sobre a extraordinária trajetória histórica


da literatura infantojuvenil desde sua origem e suas influências
nos dias atuais, no mundo. Você será capaz de refletir,
partindo dos dados lidos até aqui, que a literatura que ainda
hoje é oferecida às crianças, contidas nos livros, nas mentes
dos adultos que contam histórias, que aparecem em filmes
diversos chegaram na Europa, passando por uma tradução
árabe, de uma produção indiana. Será possível concluir que
estas produções europeias chegaram ao Brasil colonizado
pelos portugueses e que será o tema seguinte: a trajetória
histórica da leitura infantil desde sua origem até os dias de
hoje no Brasil. Vamos avançar na leitura?
24 Literatura Infantojuvenil

Trajetória histórica da literatura


infantojuvenil no Brasil

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de identificar a


trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde a sua
origem até os dias de hoje, no Brasil. Isto será fundamental
para a sua compreensão sobre o legado que a humanidade
nos ofereceu, com encantadoras obras para serem oferecidas
as crianças e aos jovens, no Brasil. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!

A influência da colonização portuguesa


na trajetória histórica da literatura
infantojuvenil
A colonização portuguesa trouxe ao Brasil, a partir do começo do
século XVI, o universo literário em pleno desenvolvimento em Portugal.
Esta influência vai desde as produções que tinham o livro Calila e Dimna
como protótipo, com as suas fábulas com príncipes e animais falantes
até os romances de amor, que encontraram na Europa alguns confrontos
com o moralismo cristão à época, no século XIV, e questionavam a
origem árabe ou indiana de tais produções. Tais produções do oriente
chegaram via Espanha e foram impondo, nestas famosas fábulas, desde
o seu aparecimento em solo europeu, predominantemente, uma aposta
utilitária, repassando conceitos de vida esperados para as crianças e
jovens incorporarem, neste intenso momento de transição entre os
tempos medievais e a Idade Moderna.

Para entender a literatura neste momento é preciso compreender


o processo de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna ocorrido
nos séculos XV e XVI e que teve como características fundamentais o
surgimento do movimento renascentista, a reforma religiosa protestante e
Literatura Infantojuvenil 25

a consolidação da economia burguesa. A Europa passou por um período


de organização política dos estados e deu início à época das Grandes
Navegações, que buscavam novas relações comerciais e terras a serem
conquistadas e exploradas. Isso, toca na nossa história brasileira!

O Extenso processo de civilização ocidental (do começo da Idade


Média ao fim do século XIX) reformulou os códigos de comportamento, era
necessário saber se vestir, ter bons modos, boas maneiras, cabendo aos
professores serem os promotores do que a literatura moderna chamava
de saber viver (savoir-vivre) e saber fazer (savoir-faire), destinado às elites,
além do aprender a ler para continuar sendo um leitor e escritor, pelo
resto da vida. Assim, foi possível dar conta das existências dos ricos, na
Idade Moderna, lendo os seus diários, suas autobiografias, com exaustivos
relatos da vida cotidiana.

Bakhtin (1993) lembra que as literaturas paródicas medievais são


literaturas recreativas, criadas durante os lazeres das festas com uma
atmosfera de licença e liberdade. Comenta que as recreações escolares e
universitárias foram impulsoras de tais paródias, ocorridas nas festas com
grande liberdade de rir e brincar. Distante dos regulamentos escolares
aos quais usavam como inspiração para criar suas brincadeiras jocosas. A
paródia medieval converte em jogo alegre e totalmente desregrado tudo
o que era considerado como sagrado e importante aos olhos da ideologia
oficial. E isso vai mudar drasticamente no decorrer da Idade Moderna.

Tal literatura renascentista (entre os séculos XIV e XVI) aglutina as


imagens do jogo, das profecias paródicas, dos enigmas e imagens das
festas populares, do carnaval e juntos contribuem para modificar a sombria
idade média, em festiva escrita, até que surjam os colégios para colocar
regras aos mais jovens. É a ousadia de humanizar o processo histórico,
produzindo um conhecimento lúcido e ousado dele, que vai marca este
período. Mas com o avanço da Idade Moderna e tantas influências dos
jesuítas (que já aparecem no Brasil no século XVI) ficará menos alegre e
carnavalesco ser jovem, nos colégios.

A palavra Infância vem da palavra Infans que significa sem voz.


Neste tempo as ideias avançadas determinavam a necessidade de
ensinar as novas gerações. O que deveria ser concluído até o 7.º ano de
26 Literatura Infantojuvenil

vida, na chegada da chamada Idade da Razão. A literatura moderna vai


trazer novos entendimentos, não bastará às crianças ensiná-las a falar,
serão imperativas as habilidades da ler e escrever. Infantil passa a ser tudo
relacionado ao iletrado.

Uma criança medieval era vista com o sentimento de linhagem,


pertencente a um clã e não dissociado dele. O que ela é por si própria,
sua singularidade, suas diferenças, típicos modos de agir e ser, ainda,
não interessavam em nada. Do fim da Idade Média até o século XIX,
atravessando a Idade Moderna e indo além dela, surgem novos modos
de sentir, perceber e conceituar a infância como uma categoria, os pais já
não aparecem como indiferentes aos filhos. A criança, na Modernidade,
será fruto de uma intenção e contenção de maus condutas. O caminho
percorrido foi sair dos excessivos castigos e intimidações para uma busca,
tão menos invasiva, de controlar internamente às mentes infantis. Natural
que a literatura infantil fosse atingida por este novo cenário e modo de
pensar a infância:

A partir do século XVII desenvolve-se uma preocupação com


as distinções para a educação das crianças – ou pelo menos
dos filhos dos burgueses e Aristocratas. A ótica individualista
e a constituição de novas sociabilidades favorecem o afeto
e o cuidado com a infância, que se expressa, por exemplo,
num maior empenho em planejar o futuro profissional dos
filhos seja para assumir cargos administrativos, para seguir
uma profissão autônoma ou continuar os negócios da família”.
(VEIGA, 2007, p. 38)

Esta literatura humanística (no século XVI, data da chegada no Brasil


dos portugueses) será muito lida e está repleta de dicas para diminuir a
paparicação com as crianças, que era, então, o sentimento dos adultos
relacionados à infância, surgindo um consistente conjunto de normas e
Literatura Infantojuvenil 27

padrões que os adultos deveriam seguir para ter filhos bem-educados.


Um caso destas dicas é o livro de Erasmo de Rotterdam, o De Pueris que
expressa como os humanistas não poupavam críticas aos excessivos
afagos, em detrimento de poucos esforços para educá-los.

Este universo medieval europeu, trazido em parte ao Brasil, dentro


das primeiras embarcações e pelos anos seguintes, principalmente no
decorrer da permanência no Nordeste, a partir de 1535, já em Pernambuco
era composta

Por uma copiosa literatura narrativa vinda de fontes distintas:


uma popular e outra culta. A de fonte popular é a prosa
narrativa “exemplar”, derivada das antiquíssimas fontes
orientais ou greco-romanas. A de origem culta é a prosa
aventuresca das novelas de cavalaria, de inspiração ocidental.
Nesta, são realçados um idealismo extremo e um mundo de
magia e de maravilhas completamente estranhas à vida real
e concreta do dia a dia. Naquela, afirmam-se os problemas
da vida cotidiana, os valores de comportamento ético-social
ou as “lições” advindas da sabedoria prática. (COELHO, 2010,
p. 25)

Foram os nossos colonizadores portugueses que trouxeram, a partir


do século XVII, a um conjunto vasto de novelística medieval espalhada
em todo o país, apesar de termos que esperar 1840 para vê-lo editado,
pela 1.ª vez no solo brasileiro, na língua portuguesa do colonizador.

Tal literatura teve grande repercussão, perpetuando-se na memória


popular e encantando também às crianças, certas novelas de cavalaria,
condensadas, perduram no acervo popular nordestino (enquanto em
Portugal já́ praticamente desapareceram).
28 Literatura Infantojuvenil

Figura 4: Romances ibéricos chegaram ao país com os colonizadores

Fonte: Kobo

ACESSE:

Leia a reportagem da BBC Brasil: Família nordestina guardou


séculos de romances medievais de mais de 700 anos na
memória, no link: https://bbc.in/2LX4GFU.

Lidos, memorizados e cantados romances ibéricos se entranharam


na cultura popular nordestina até hoje. Chegou ao Brasil emergente
estes romances que tratam originalmente das lutas dos árabes e que
permaneceram na Península Ibérica entre os séculos VI e XV, sendo os
ancestrais de alguns dos colonizadores, como é o caso dos primeiros
governantes da capitania de Pernambuco, liderados por Duarte Coelho
e Jerônimo de Albuquerque. Como nem todos sabiam ler, aprenderam a
cantar tais romances e que ainda hoje são cantados por muitas gerações
de brasileiros.

Coelho (2010) ressalta o trabalho de Luís da Câmara Cascudo,


folclorista do Rio Grande do Norte, que encontrou cinco novelas famosas,
Literatura Infantojuvenil 29

vindas do velho mundo e que persistiram vivas no século XX, entre elas
estavam a:

[...] Donzela Teodora; Roberto do Diabo; Princesa Magalona;


Imperatriz Porcina; História do Imperador Carlos Magno e
Os Doze Pares de Franca. Como diz o eminente folclorista:
São contos tradicionais pela persistência. Quase todos têm
versões poéticas, em quintilhas e sextilhas que são entoadas
pelos “cantadores” profissionais no Nordeste Brasileiro, talvez
a única região do mundo onde essa atividade se conserva
com caráter permanente e grande números de profissionais”.
(COELHO, 2010, p.41)

VOCÊ SABIA?

Até hoje são cantados versos que vieram para o Brasil com os
colonizadores Quer conhecer um dos dramas cantados ainda
em circulação no Brasil, em uma bem humorada encenação?
Grupo Quatro Ventos: Romance de Jorge e Juliana. Veja no
link: https://bit.ly/35pdI6a

Outra contribuição importante, na investigação deste legado,


deixado pelos colonizadores foi o trabalho preciso de Florestan Fernandes.
Ele estudou a relevância da cultura infantil e seu destacado papel mediador
e de transmissão folclórica, revelando, na ocasião de suas pesquisas, que
nas brincadeiras das crianças estavam elementos dos antigos romances,
as novelas de cavalaria, transformados em dramatizações infanto-juvenis.
As pesquisas acontecerão em São Paulo, entre 1942 e 1959, sendo uma
excelente contribuição sobre as inter-relações entre o folclore, na grande
diversidade cultural paulistana, formada por tantos migrantes e a cultura
popular, sendo que todos estes elementos são profundamente tocados
pelas intensas transformações pelas quais passavam a cidade e a sua
população, nas primeiras décadas do século XX.

Boa parte dos elementos constitutivos da cultura infantil são


restos de romances velhos, hoje transformados em jogos
30 Literatura Infantojuvenil

cênicos como “A Noiva”, “Organdão”, “Juliana”, etc.; ou antigas


danças coreográficas, como “A Canoa Virou”, o “Picoton”, “Passei
pela Barca”, “Ciranda a Roda”, etc. Todas essas composições
são antigas. Os romances velhos datam do século XVI, mas
há composições anteriores e outras mais recentes (danças
coreográficas) do século XVIII. (FERNANDES, 2004, P. 246)

Este reconhecido pesquisador da USP, Florestan Fernandes,


defendeu que as composições que encontrou nas ruas paulistanas, nas
horas de brincadeiras infantis, eram no passado circunscritos aos adultos e
com o passar dos tempos caíram nos interesses das crianças e as crianças
ensinavam umas às outras nas ruas. Da longínqua tradição ibérica aos
cantares e brincares infantis do século XX, na emergente capital paulista,
iam sendo preservadas. Este autor considerava tais antigos romances
trazidos pelos colonizadores, desaparecidos das vidas adultas tanto em
Portugal e no Brasil também e estarem sobrevivendo nas ruas e nas horas
do brincar infantil.

SAIBA MAIS:

Leia mais sobre o que é literatura e sobre a origem da literatura


no Brasil e no mundo. E ainda conheça uma discussão
contemporânea na área de literatura infantojuvenil no Brasil,
relacionada a Racismo, literatura infantil e a construção da
identidade de criança negra. No seguinte link: https://bit.
ly/2rMEVRu

Trajetória histórica da literatura


infantojuvenil brasileira
A literatura infantil brasileira foi guerreira! Enfrentou dificuldades
intensas e inúmeras até conquistar sua hegemonia e seu reconhecimento,
com sua pujante produção artística. Ao longo do tempo, nas batalhas
necessárias para ter seu lugar ao sol, percorreu-se um longo caminho,
Literatura Infantojuvenil 31

partindo da importação e tradução para o português dos textos tradicionais


até a sua consolidação atual:

No início, importaram-se os textos tradicionais e, com eles, o


mesmo caráter didático e redutor decorrente da associação
da literatura com os valores de um grupo social hegemônico.
Usou-se o texto infantil como difusor de preceitos e de
normas comportamentais, doutrinando-se as crianças. Uma
retrospectiva voltada para o surgimento do gênero no Brasil
permite estabelecer quatro fases, cada uma delas limitada
pelas concepções ideológicas que se evidenciaram nas
produções mais conhecidas.” (BECKER, 2001, p.35)

A literatura infantil brasileira foi impulsionada com a criação da


Imprensa Régia, no ano de 1808, possibilitando a publicação de nossos
primeiros livros, destacando-se a obra:

As aventuras pasmosas do Barão de Munchausen e, em


1818, a coletânea de José Saturnino contendo uma coleção
de histórias morais relativas aos defeitos ordinários às idades
tenras e um diálogo sobre geografia, cronologia, história de
Portugal e história natural. (LAJOLO; ZILBERMAM, 1986, p.23)

Becker aponta a existência as fases importantes da História da


Literatura Infantil Brasileira e que você verá agora:

Primeira fase: do final do século XIX ao início do


século XX
O foco neste período foram as primeiras tentativas de formação de
um público leitor infantil brasileiro. E isso foi planejado utilizando o caráter
norteador advindo da Europa. Isso já é visível em uma das primeiras
32 Literatura Infantojuvenil

publicações brasileiras que foi intitulada como Leitura para meninos. Era
uma coleção:

De histórias morais relativas aos defeitos ordinários às idades


tenras e um diálogo sobre geografia, cronologia, história de
Portugal e história natural. O compromisso pedagogizante, que
marca a produção dessa época, revela a posição assumida
pelos intelectuais, preocupados, nesse momento histórico,
com um projeto: a modernização do país. (BECKER, 2001, p. 36)

O foco era a defesa de que a escola seria um espaço para estimular


valores patrióticos entre os brasileiros, e a infância seria bom momento
de começar este trabalho. Neste caminho alguns autores brasileiros
poderiam facilitar este percurso nacionalista.

Citam-se, entre as produções de autores nacionais com essa


finalidade, Contos Pátrios e Através do Brasil (Olavo Bilac e
Coelho Neto), Era uma vez (Júlia Lopes de Almeida) e Saudade
(Tales de Andrade). Permeável às solicitações da sociedade,
a literatura infantil integrou-se aos esforços de instalação
da cultura nacional, vinculada à escola e à valorização do
nacionalismo”. (BECKER, 2001, p. 36)

ACESSE:

Conheça esta inaugural obra da Literatura Infantojuvenil ficada


no objetivo nacionalista: BILAC, Olavo & NETTO, Coelho.
Contos Pátrios. Francisco Alves, RJ, 1931, 27ª ed. (ilustrado por
Vasco Lima), no link: https://bit.ly/2YO5Cl7

E permaneciam as famosas traduções e adaptações de obras


estrangeiras realizadas por Carlos Janssen e Figueiredo Pimentel, no
século XIX. É considerado como o 1.º escritor de obra infantil no Brasil,
Alberto Figueiredo Pimentel, com o livro Contos da Carochinha, de 1896.
Levou alguns anos para acontecer a 1.ª publicação de literatura própria,
Literatura Infantojuvenil 33

não versão de obras estrangeiras, com a obra A filha da floresta, de autoria


de Thales Castanho de Andrade, em 1918.

Entre famosas obras, deste período do final do século XIX ao início


do século XX, estavam destacadas as seguintes obras:

Contos das Mil e uma noites, Viagens de Gulliver, Robinson


Crusoé, Contos, D. Quixote de La Mancha, Contos de Perrault,
Anderson e Irmãos Grimm, Contos da Carochinha, Histórias da
baratinha, entre outros. Tais obras foram feitas para o público
europeu, com precárias traduções e adaptações a realidade
brasileira, demonstrando a distância entre a realidade onde
foram escritas e a nossa realidade linguística, identidades
culturais e regionais, e nossas representações do mundo.
(BECKER, 2001, p. 36)

Figura 5: Capa do livro de Figueiredo Pimentel

Fonte: Acervo Puc Rio


34 Literatura Infantojuvenil

Segunda fase: de 1920 até 1945 - período de intensa movimentação


política, intelectual e artística brasileira

Fase bastante influenciada pelo modernismo (1.ª metade do


século XX). O modernismo foi marcado pela busca pelo moderno, pelas
originalidades e aberto ao polêmico, apreciando de forma extensa o
nacionalismo, a volta às origens, a valorização dos Povos Originários, os
indígenas e da língua falada espontaneamente pelo povo brasileiro, foram
marcantes neste período. A excluída cultura popular, as falas espontâneas
do povo brasileiro e o folclore serão do interesse de autores como Mario
de Andrade, famoso modernista paulista. E neste intenso e questionador
cenário, em 1921, de aturada movimentação histórica e cultural, aparece
Monteiro Lobato.

Quem foi Monteiro Lobato? O precursor da literatura infantil


brasileira?

José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, estado


de São Paulo, nasceu em 1882 foi um importante escritor brasileiro. Ele
editou e traduziu muitos livros. Este trabalho de edição e tradução já
era conhecido no brasil e realizado por Figueiredo Pimentel (“Contos da
Carochinha”).

Monteiro Lobato foi imortalizado por sua grande contribuição


à literatura infantil brasileira, que corresponde à metade de
suas publicações além de artigos, contos, crônicas críticas,
prefácios, livros não focados em temas da literatura infantil.
Popular entre as crianças e apreciado por sua escrita clara
e de fácil entendimento aos pequenos leitores. O público
brasileiro conhece a irreverente, falante e independente
boneca de pano, o menino Pedrinho, sua avó Dona Benta e a
irmã Narizinho. E quem não tem medo da Cuca?

Monteiro Lobato, o nosso precursor da literatura infantil brasileira,


foi notável em oferecer uma nova roupagem e impulsionar a produção de
livros infantojuvenil no Brasil. Incentivando a produção editorial dedicada
às novas gerações. Um escritor voltado para este público, um inovador
Literatura Infantojuvenil 35

de temáticas e narrativas, preocupado em aproximar a linguagem e


o tom cotidiano, as falas típicas brasileiras. O que se resultou deste
trabalho do autor foi a instauração de uma nova perspectiva, mudando
as mentalidades “em relação ao tipo de texto que se produzia para
crianças. A criação literária do autor paulista dirigida às crianças centrou-
se no receptor e, nessa trajetória, seguia os passos da elite artística, que
buscava uma identidade de tipos e de linguagem na produção literária.
(BECKER, 2001, p.36)

Impulsionados por este movimento foram adaptadas e ganharam


versões na nossa língua, das produções consideradas como clássicos da
literatura infantil, a valorização do folclore nacional foi considerada como
fonte de pesquisa para produções que ficaram perpetuadas nas mentes
brasileiras que leram Monteiro ou viram produções televisivas baseadas
em suas obras.

Mesmo com as inovações, observa-se, em algumas obras, a


permanência do caráter pedagógico, especialmente naquelas
que aproveitavam temas históricos. Situa-se nesse caso, por
exemplo, Aventuras de Hans Staden, de Monteiro Lobato, que
materializa a proposta educativa do autor. Com seu trabalho,
procurava arejar a metodologia da escola tradicional, buscando
espaço, dentro do contexto da narrativa, para a discussão de
pontos polêmicos relacionados com a História do Brasil. Com
a ética e com o comportamento humano. Monteiro Lobato
acreditava que a mudança de mentalidade das novas gerações
possibilitaria o avanço rumo ao tão desejado alinhamento do
Brasil com os países desenvolvidos. (BECKER, 2001, p. 37)

SAIBA MAIS:

Conheça um pouco mais sobre a vida e obra Monteiro Lobato,


a repercussão de tal obra na cultura brasileira, no século XX,
na Televisão. Documentário sobre Monteiro Lobato realizado
e produzido pela Cátedra UNESCO de Leitura e PUC-Rio.
Roteiro: Gilda Carvalho e Manoel Caetano, no seguinte link:
https://bit.ly/2rQkUtj.
36 Literatura Infantojuvenil

Terceira fase: 1946 a 1960 - período democrático


No momento da saída e superação dos horrores da Segunda Guerra
Mundial, encontra-se o cenário interno brasileiro vendo a derrocada do
autoritarismo de Getúlio Vargas, sob a égide de um tempo de democracia,
a geração de escritores, a partir de 1946, sobreviveu aos tempos de maior
bonança política.

Apesar de o cenário internacional ser marcado pela Guerra Fria


entre os Estados Unidos e antiga União Soviética, o Brasil era governado
por Juscelino Kubitschek. A literatura brasileira ganhará novo fôlego com
uma preocupação apurada com a forma literária, tanto na prosa quanto
na poesia, em um movimento de pesquisa e busca por novos conteúdos.

Desse período da história contemporânea de nossa literatura


brasileira, podemos destacar os seguintes nomes: Lúcia Machado de
Almeida, já notável com sua obra No Fundo do Mar, lançada 1943, lançará
Lendas da terra do ouro, em 1949. Outra reconhecida escritora é Maria
José Dupré, com a sua obra A Ilha Perdida, publicada em 1946, tais
escritoras são precursoras. Vinha surgindo um gênero ficção científica
brasileiro, além de romance policial, com o precursor Jerônimo Monteiro,
com a sua obra A Cidade Perdida, publicada em 1948.

Tratam perfeitamente sobre este momento histórico a obra de


Lajolo e Zilberman publicada em 1985 que:

[...] traduzem a ótica da classe burguesa, enriquecendo


com a modernização do país, mas identificada com valores
tradicionais, quais sejam, o culto à autoridade (legitimada pelo
pedagogismo das histórias) e ao passado. Por essa razão, as
personagens urbanas, oriundas de um meio rico, convivem
harmonicamente com o ambiente rural, efetuado entre grupos
tradicionais e grupos emergentes, assim como as regras que
estabelecem entre si. (BECKER, 2001, p. 40)

Lajolo e Zilberman (1985) refletem sobre a importância da década


de 1960 e multiplicam-se, nos anos 60, a criação de algumas relevantes
Literatura Infantojuvenil 37

instituições e valorosos programas relacionados à promoção da leitura


e ricas discussões a respeito da literatura infantil brasileira. São criações
desta importante época a Fundação do Livro Escolar (1966), a Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil (1968).

Quarta fase: de 1970 até 1989 - da Ditadura Militar


aos tempos de redemocratização
Lajolo e Zilberman (1985) destacam que, na década de 1970,
o Instituto Nacional do Livro, fundado em 1937, iniciou um trabalho de
coedição, desenvolvendo convênios e publicando inúmeras obras
infanto-juvenis, o que promoveu uma circulação significativa de obras
voltadas às escolas.

Nesta última fase e mais próximas dos dias atuais, a linguagem


usada por muitos escritores infanto-juvenis reencontram-se com os
movimentos do Modernismo de 1922 e de Monteiro Lobato.

Distanciando-se do padrão formal culto, privilegiou-se o


coloquialismo marcante da oralidade e registrou-se a presença
de gírias, dialetos e falares regionais. A narrativa infantil dessas
duas décadas produziu obras diversificadas, modernos contos
de fadas e de ficção científica, narrativas de cunho social e
policial. Além do abandono da postura didático-pedagógica, ao
mostrar personagens e enredos livres do estigma de modelos
exemplares, as produções inovaram pela representação
do protagonista: crianças desajustadas e/ou frustradas. O
ambiente urbano em que ocorrem as histórias revelou uma
sociedade marcada por problemas socioeconômicos, pobreza,
miséria, injustiça e marginalização. Discutiram-se as fontes e o
contexto dos valores que tradicionalmente caracterizaram as
histórias infantis. (BECKER, 2001, p. 41)

Lajolo e Zilberman pontuam que os livros infantis passam a ser


um pujante segmento editorial. Os autores e obras nacionais passam
a receber espaço considerável. Entre os anos 1975 e 1978 era possível
38 Literatura Infantojuvenil

contabilizar entre 1.890 títulos, era possível somar 46,6% de textos


exclusivamente nacionais. Esta quantidade era um avanço considerável,
comparativamente ao que informou, na década de 1940, o estudioso da
educação brasileira Lourenço Filho que as produções nacionais não iam
além 30%, sendo que as traduções ultrapassavam 70% do total.

São destaques desta produção brasileira contemporânea:

Marcelo, marmelo, martelo (Ruth Rocha), O soldado que não


era (Joel Rufino dos Santos), História meio ao contrário (Ana
Maria Machado), Chapeuzinho amarelo (Chico Buarque de
Holanda), Os colegas, A casa da madrinha, Corda bamba
(Ligia Bojunga Nunes) e Um dia toda azul (Marina Colasanti).
(BECKER, 2001, p.41)

Como chegamos ao século XXI com relação a literatura infantojuvenil


no Brasil? Muitos desafios precisarão ainda ser vencidos para que
consigamos promover futuros leitores entre as crianças e jovens que
estão nas escolas brasileiras. Transmitir, mais do que transmitir – mostrar
a verdade da literatura como ‘lugar’ de encontro, de aprendizado. Tornar o
Brasil um país de leitores, não só combatendo o analfabetismo.

Deverão ser profundos os compromissos dos governos brasileiros e


dos educadores na formação de leitores: formar-se como leitor é adquirir
cultura literária, definir preferências de gêneros literários, de autores, ousar
conhecer escritores desconhecidos, explorar temáticas inatuais, fazer um
catálogo de ‘clássicos pessoais’.

Magda Soares, reconhecida pesquisadora brasileira, trouxe


conhecidas contribuições inovadoras para o entendimento de temas
amplos sobre a alfabetização inicial. Esta autora reconhece a importância
do letramento literário. E o que seria letramento literário das crianças?
Letramento literário seria o processo de apropriação da literatura enquanto
uma importante linguagem. Este processo começa quando a criança ouve
Literatura Infantojuvenil 39

sua mãe cantar canções de ninar e que ouviu na infância dela e seguirá
pela vida da criança, nos equipamentos educacionais, sociais e culturais
em que passa.

É evidente que a escola brasileira vem assumindo um papel mais


preponderante deste o final do século XX, instituindo o Programa Nacional
Biblioteca na Escola (PNDE), objetivando principalmente a democratização
do acesso às obras de literatura infarto- juvenil, nacionais e estrangeiras.
Este programa ampliou o atendimento, levando às escolas publicações
para alunos da Educação Infantil ao ensino médio. Estas obras reúnem
incluem produções editorias de prosa (contos, novela, memórias,
biografias, crônicas e teatro), em verso (poemas, cantigas, advinhas,
parlendas), bem como produções de livros de imagens e histórias em
quadrinhos.

Este acervo diversificado de livros leva às escolas públicas brasileiras


a oportunidade de ter livros disponíveis e que poderão colaborar de
forma lúdica para a formação de futuros leitores brasileiros das crianças.
A partir de 2008 foi programada uma maior distribuição de livros para as
crianças que estavam matriculadas na Educação Infantil (antes dos seis
anos de idade) e nas séries iniciais (a partir dos seis anos de idade). Estas
conquistas brasileiras são muito significativas para um pais como o Brasil.

Nosso país é reconhecidamente um país com poucas e precárias


bibliotecas, não dispomos de um número considerável de livrarias. E os
livros são bem caros para a grande parte da população empobrecida.

Quais os caminhos da literatura infantil brasileira contemporânea, no


século XXI, baseados na nossa produção editorial infantil? Ainda representa
interesse intenso de muitos professores brasileiros de Educação Infantil e
de ensino fundamental, oferecer, nas suas escolhas para os seus alunos
livros de contos de fadas ou de animais, temas tradicionais e consagrados
como os que mais agradam às crianças. Antes que você fique indagando
se seriam somente estas as escolhas dos professores, é importante
destacar que existe, no Brasil, uma crescente produção “literária” para
40 Literatura Infantojuvenil

crianças, iniciada na última década do século XX, os temas transversais,


cada vez mais apreciados pelos professores e pela escola.

A produção editorial brasileira para crianças já é considerável


com sugestões interessantes com narrativas que apresentam como
conteúdos a serem ensinados às crianças, temas como ecologia, inclusão
social, preservação do meio ambiente, respeito às diferenças em geral,
entre tantos outros, maior a possibilidade de assimilação dos valores
pretendidos. E outra vertente em menor escala, mas existente, são
lançados livros com:

Temas que põem em relevo experiências cotidianas,


vivenciadas por qualquer ser humano, independente da idade,
como a morte, o medo, o abandono e a separação. É comum
designarmos esses temas como temas delicados quando
pensamos no público infantil e, com frequência, oferecermos
resistência em abordá-lós, especialmente no ambiente
escolar. (SOARES, 2004, p. 37)

SAIBA MAIS:

Conheça um pouco mais sobre as políticas públicas brasileiras


e Planos Nacionais de Livro Didático, do século XX aos dias
atuais, no relato da Prof.ª da USO, Circe Fernandes Bittencourt.
Disponível no seguinte link: https://bit.ly/2RTr86o.

RESUMINDO:

Você fez um percurso sobre a extraordinária trajetória histórica


da literatura infantojuvenil desde sua origem e suas influências
nos dias atuais, no Brasil. Você será capaz de refletir, partindo
dos dados lidos até aqui, que a literatura que ainda hoje é
oferecida às crianças, contidas nos livros, nas mentes dos
adultos que contam histórias, você percorreu os quatro mais
significativos momentos: Do final do século XIX ao
Literatura Infantojuvenil 41

RESUMINDO: (continuação)

início do século XX. Na Segunda fase, de 1920 até 1945, foi


possível entender um período de intensa movimentação
política, intelectual e artística brasileira. Em seguida,
chegou a você a Terceira fase: 1946 a 1960, um período
caracteristicamente democrático. E, por fim, percebeu
importantes fatos da Quarta fase: De 1970 até 1989, da Ditadura
Militar aos tempos de redemocratização. E, ainda foi possível
refletir como a literatura infantojuvenil chega ao século XXI, no
Brasil. Vamos avançar na leitura?
42 Literatura Infantojuvenil

Função da literatura infantojuvenil

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de definir a função


da Literatura infantojuvenil e refletir sobre os seus usos
devidos e indevidos na vida e na escola.

Existe uma correlação entre a natureza e a função da literatura. O


uso de qualquer literatura está intrinsicamente relacionado a sua natureza,
interessa aquilo que a literatura representa verdadeiramente, aquilo que
ela é. Mas a função de uma determinada literatura é essencial, se uma
determinada forma de literatura perder a sua função será destinada a um
valor e uso secundário. Para melhor entender, pense em antigos objetos
que tinham seu valor e função destacados e deixaram de tê-los e viraram
peças de um museu atualmente.

A literatura desenvolve um trabalho, possui um uso, permanece


a milênios e percorreu muitas diferentes épocas e povos. Possui o seu
valor singular, sua utilidade e seriedade na vida das pessoas, é uma forma
de conhecimento, carregando de obra a obra um grau especifico de
generalidade ou particularidade.

Este tema da função da literatura percorre longamente a vida de


muitos estudiosos ocidentais, desde Platão, na Grécia antiga aos dias
contemporâneos. Os que leem poesias estão mais preocupados com a
beleza dos poemas do que em buscar as razões em si mesmas. E esta
experiência estética contagia os leitores no seu contato com os mais
diversos poetas da literatura brasileira e universal. Regina Zilberman (2008)
defende que o “ensino pode mostrar-se mais agradável e interessante,
tanto para estudantes quanto para professores, se incluir um pouco mais
de poesia no cardápio”.

Os leitores não estão menos preocupados com os encantos que


sentem com os livros que caem às suas mãos do que com explicações
detalhadas e racionalistas sobre a literatura que os deixam maravilhados.
Literatura Infantojuvenil 43

São preocupações menos dos leitores e mais dos preocupados com


valores, arbitrariedades, utilidades e moralidades que podem estar
presentes nas discussões sobre as obras de literatura, em todos os tempos.
As indagações sobre o deleite do leitor deveriam ficam em segunda
plano? Uma resposta seria informar que a literatura possui inúmeras
funções possíveis. E entre elas e como a mais essencial e importante das
funções estaria a função de fidelidade à sua própria natureza.

Evidentemente para os adultos que educam as crianças e


adolescentes, em casa e nas escolas, deverá ficar claro que a literatura
infantojuvenil possui funções significativas ligadas a educação, instrução
e distração. Sendo que a fruição não pode ficar fora, o prazer de ler
não pode ser menosprezado pela fixação em fazer algo para crianças e
adolescentes lerem sobre as ideias que julgam que as novas gerações
devem absorver. Zilberman (2008) recomenda que não se aprende o que
não se gosta, de modo que dirige a ação pedagógica primeiramente para
a apreciação de textos literários, com os quais começa os ensinamentos.

Algo que não poderá ficar fora da experiência escolar com a


literatura infantojuvenil é a função lúdica intrínseca a ela. Ao propor
uma forma de leitura homogênea, são deixadas de lado outras formas
literárias que os alunos, nas escolas, já conhecem nas suas casas ou
comunidades, carregadas das variações linguísticas que possibilitam
sentidos de identidade, de pertencimento a uma cultura, de divertimento,
de ludicidade, e que por preconceitos linguísticos não deveriam ficar fora
das escolas para crianças, jovens e adolescentes.

É verdadeiro afirmar que o literário e o pedagógico estão


relacionados na literatura infantojuvenil a muitos tempos. É delicado,
nas escolas, uma escolha que determine a prioridade do didático em
prejuízo do lúdico em textos para crianças, transforma a leitura em função
44 Literatura Infantojuvenil

pedagógica. Entretanto, arte e educação podem ser parceiras na fruição


literária, se a escola fornecer às crianças os estímulos adequados à leitura.

É fator preponderante aos que escrevem ou escolhem um livro de


literatura infantojuvenil não perder de vista a expressão lúdica e artística.

O adjetivo infantil e mais recentemente o juvenil atrelados


à literatura caracterizam o público a que se destina essa
produção cultural: a criança e o jovem (adolescente). A
construção dessas fases da vida está diretamente relacionada
ao modelo burguês de família e à escola moderna. A função
que foi atribuída à literatura infantil e juvenil pode ser melhor
compreendida através da análise da forma como a relação
entre infância, e mais tarde adolescência, escola e literatura
foi sendo estabelecida. (PAIVA, 2004, P.69)

A função de instrução da literatura infantojuvenil é muito relevante,


sendo capaz de despertar o interesse pela leitura nas crianças e
adolescentes, acordando às mentes das novas gerações para a
curiosidade e descobertas interessantes, que não deixam de lado o prazer
de ler. A função de educação da literatura infantojuvenil deverá primar
pelo desenvolvimento da sensibilidade e do senso crítico dos pequenos
leitores. A literatura não deve ter por função facilitar ou pacificar, pelo
menos quando se fala em literatura ‘para valer’, e não nessa literatura de
escape, escamoteadora, de consumo rápido, que pode até emocionar,
mas até essa emoção é evasiva.

É necessário ter uma cautela antes de cobrar que a literatura


infantojuvenil tenha uma nítida e infalível função pedagógica e que haja
como inibidora de um acesso à arte, livremente. Zilberman afirma que a
literatura infantil continuaria a ser vista como uma colônia da pedagogia,
trazendo inúmeros prejuízos, não é aceita como arte, por ter uma finalidade
pragmática e a presença do objetivo didático faz com que ela participe de
uma atividade comprometida com a dominação da criança.

Seriam inúmeras as funções e até as razões de lermos livros para as


crianças e ofereceram aos adolescentes e jovens. De modo que nossas
Literatura Infantojuvenil 45

razões para ler são tão estranhas como nossas razões para viver. E a
ninguém se concedeu poder para nos pedir contas sobre essa intimidade.

Colomer (2017) entende que existem três funções da literatura feita


para as crianças e para os jovens:

a. Iniciação ao imaginário socialmente


compartilhado da sociedade onde vivem;

b. Desenvolvimento do domínio da linguagem


narrativas, poéticas e dramáticas do discurso literário;

c. Conhecimento de uma articulada representação do


mundo, capaz de ser um instrumento suficientemente
para a socialização deste específico público.

A escritora espanhola Colomer (2017) discute uma antiga mania


de trazer padrões de bom comportamento nas escritas para crianças ou
a certeza de que fazer as crianças lerem seria fator determinante para
que escrevam bem no futuro. Esta importante especialista espanhola
defende que não é necessário fixar as escolhas com o foco estritamente
em concepções utilitaristas.

Teresa Colomer (2017) defende a literatura infantojuvenil abre as


portas ao imaginário coletivo. E um conjunto potente de acessos as formas
poéticas, dramáticas e narrativas promoverão um considerável domínio
da linguagem, oportunizando aos mais jovens as reais possibilidades
de posicionamentos diante do mundo em que vivem, com consciência
da realidade ao redor deles e com capacidade de enxergar o outro e
suas diferenças (alteridade), com poderosos efeitos de promoção e
desenvolvimento da subjetividade. Uma atenção apropriada e aberta à
percepção ou capacidade leitora dos meninos e meninas é igualmente
importante.

Colomer ainda ressalta a questão sexista e os distintos papeis


destinados aos homens e mulheres. A literatura também possui uma
função socializante e pode ajudar a conservar ou questionar os modelos
femininos e masculinos na sociedade. E não podem ficar esquecidos
que existem na história da literatura extensos casos em que a literatura
46 Literatura Infantojuvenil

serviu para passar ideologias de manutenção de lugares privilegiados


aos homens em detrimentos das mulheres. Pode agora, neste instante da
história, realizar o contrário, socializar os seres humanos e questionar os
estereótipos para homens e mulheres.

É inegável que a literatura infantil seja fonte de estimulação da mente,


de percepção intensa do real e suas amplas significações, oportunizando
formas de consciência de alteridade e si mesmo, possibilitando inúmeras
leituras de mundo, abrindo caminhos para o conhecimento da língua que
já conhece desde que nascemos.

A literatura infantojuvenil desperta a imaginação dos seus leitores,


é promotora da criatividade, faz as novas gerações conhecerem o mundo
em que vivem e a vida humana, revelando a possibilidade de integração
entre o real e o imaginário.

Na busca pelas funções da literatura infantil-juvenil é sempre bom


ter em mente que a Literatura Infantojuvenil é incontestavelmente literatura
ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o
homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o
imaginário e o real, as ideias e sua possível\impossível realização.

SAIBA MAIS:

“Literatura nunca tem uma função didática”, diz a escritora Ana


Maria Machado: Veja o esclarecedor vídeo, no link: https://bit.
ly/2PTtaB4.

A literatura não deve ser vista como uma produção que carrega uma
obrigação com relação ao conhecimento, isso não quer expressar que não
promova novos conhecimentos. E a literatura ensina algo novo as crianças
e adolescentes? Ensina, já que oferece e traz tanto os conceitos morais
e as atitudes desejáveis, e ainda amplia a capacidade de conhecimento
do leitor, facilitando o acesso a novas experiências que poderão auxiliá-lo
Literatura Infantojuvenil 47

na elaboração de novas informações, ou ainda na reformulação do que


já possui.

RESUMINDO:

Você fez um percurso sobre a função da Literatura


infantojuvenil, e munido dos conceitos relacionados às funções
será capaz de refletir sobre os seus usos devidos e indevidos
na vida e na escola, a partir de funções significativas ligadas
a educação, instrução e distração. E, ainda, ao imaginário,
domínio da linguagem e representação do mundo.
48 Literatura Infantojuvenil

Análise das obras infanto-juvenis a partir


das teorias estudadas

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de analisar obras


infanto-juvenis a partir da aplicação das teorias estudadas, o
que representará uma importante estratégia para a formação
de um educador de crianças, adolescentes e jovens.

O futuro educador precisa entender que deverá ser um hábil


crítico de obras infantojuvenil, as quais serão oferecidas aos seus futuros
alunos. Já não mais vivemos em um tempo que somente os especialistas
em literatura para as novas gerações são capazes de analisar as obras
disponíveis no mundo editorial brasileiro. Neste momento atual, oferecer
obras infanto-juvenis às novas gerações requer pedagogos e professores,
suficientemente, capazes de realizar uma rigorosa análise das obras
disponíveis no mercado atual de publicações destinadas a este público.

Tudo começa com a própria especialização dos futuros mestres


como hábeis leitores, e bons conhecedores da nossa língua portuguesa,
falada e escrita no Brasil. É necessário um sério compromisso em formar
futuros, apoderados, críticos e autônomos leitores. E uma tarefa é
essencial e anterior: formar-se a si mesmo como um bom leitor.

A obra literária não é um mero reflexo das palavras do autor


reproduzidas na mente do leitor, mas o resultado de uma interação ao
mesmo tempo receptiva e criadora e profundamente dependente da
mediação da escola para auxiliar o leitor a preencher as lacunas deixadas
pelo autor, para auxiliá-lo a entrar no jogo do texto, a mergulhar no mundo
da imaginação e da ficção, a dominar a linguagem literária para reconstruir
Literatura Infantojuvenil 49

o universo simbólico contido nas palavras. (DALLA-BONA; FONSECA,


2018, p.45)

Evidentemente, as teorias aprendidas ao estudar literatura


infantojuvenil colaborarão para a formação de um educador de crianças
e adolescentes capaz de realizar apuradas analises de obras e não
um buscador de listas já prontas e acabadas que poderão não falar à
realidade de uma escola específica, encravada dentro de uma realidade
socioeconômica determinada. Cada educador deverá ser capaz de
compor a cada ano a sua atualizada lista de títulos, amplamente avaliados,
para serem oferecidos aos seus alunos.

Figura 6: Ilustração de Dom Quixote de la Mancha

Fonte: Freepik

As teorias aprendidas ao estudar sociologia e História da infância,


psicologia e literatura infantil auxiliaram aos professores, nas horas de
fazer a sua lista de livros para seus alunos lerem durante o ano letivo. Tais
leituras terão que consolidar e estar apoiada em uma ideia contemporânea
de infância e adolescência, firmemente na mente de educadores das
crianças e adolescentes, apoiados nestas certezas teóricas deverá ser
50 Literatura Infantojuvenil

examinada cada obra de literatura infantojuvenil, na hora de escolha de


livros para seus alunos lerem.

O educador deverá examinar as definições de infância e literatura


presentes em cada obra pesquisada. Isso exige o exame consistente dos
espaços em que formam estabelecidos os vínculos entre o ser da criança
e o que deverá ler, bem como as estratégias e as normas que os textos
propõem, as formas de acesso aos textos ou aos relatos, as relações que
estes estabelecem ou proporcionam com outros discursos e entre os
diferentes atores sociais.

Outros elementos consideráveis deverão entrar no cômputo geral,


na hora de escolha de um livro, para determinada criança. É importante
visualizar, apuradamente, o material usado na confecção da obra, o
formato de manuseio nas obras físicas e a acessibilidade nas obras
virtuais. O educador deverá entender um pouco sobre as impressões mais
favoráveis para a faixa etária que trabalha (é diferente escolher livros para
crianças pequenas da Educação Infantil e para os que estão concluindo
o Ensino Fundamental), observando a inteligibilidade sintática e lexical
do texto, a elaboração imagética das ilustrações em termos de cores e
formas, e outros tantos elementos em um mar de publicações.

Apoiando esta fina percepção das características do leitor para


a escolha de obras de literatura infantojuvenil, de forma muito bem-
humorada, o autor do celebre livro Alice no País das maravilhas, afirmou:

E agora, minha ambição (seria vã) é ser lido por Crianças


de 0 a 5 anos. Ser lido? Não, nem tanto! Mais justo é dizer:
ser manuseado, babado, ter as páginas dobradas, ser
amarfanhado, beijado por aqueles pequenos leitores,
desconhecedores da gramática, aqueles Queridos, cheios de
covinhas, que enchem de alegria o Quarto de feliz algazarra,
e o nosso coração de apaziguada alegria! (CARROL, 2015, p. 7)

Esta capacidade de fazer escolhas acertadas, baseadas em uma


formação teórica e consistente do docente, será essencial aos futuros
profissionais que irão trabalhar na educação infantil (contação de histórias
Literatura Infantojuvenil 51

pela professora) e no Ensino fundamental (formando leitores para a


autonomia para ler).

O formador de leitores e o contador de histórias, papeis essenciais


dos professores, nas escolas, na educação básica no Brasil, requerem
que eles sejam antes de tudo habilidoso leitor de muitas obras, deverão
conhecer os clássicos, antes de recomendá-los as crianças e aos
adolescentes.

O conhecimento destas obras ajudará nos seus usos em sala


de aula para atrair a curiosidade e o desejo de ler dos seus
futuros alunos. E, não desprivilegiar os livros atuais. Quando
perguntamos a uma pessoa se ela já leu um determinado livro
clássico e coincide com um livro que tenha apreciado é como
ouvir alguém falando de uma deliciosa comida que comia na
cozinha da sua avó, na infância. (MINUZZI, 2017, p.117)

Os futuros professores não deverão ficar atentos somente aos


aspectos de ampliação de vocabulário, assimilação de regras da boa
escrita e preparação para exames, ao desenvolver atividades de leitura de
obras literárias, nas escolas. E deverão ter o cuidado de evitar a substituição
da leitura como uma prática realmente significante por exercícios situados
em reconhecer informações, impedindo, assim, que os alunos participem
da descoberta do real que o poder imagético do texto desencadeia e do
prazer da exploração dos recursos da linguagem que todo texto estético
mobiliza.

Examinar as obras de literatura infantojuvenil exige dos professores


uma capacitação teórica que os habilitem para serem capazes de emitir
seus próprios julgamentos críticos. E, assim, evitaram fazer parte de um
grupo equivocado de professores que caminham no:

[...] modismo dos temas e adotam obras elaboradas por


encomenda de editoras, concebidas a partir de fórmulas e
modelos estereotipados, graficamente atraentes, em que o
mundo instituído e o tratamento da linguagem privilegiam o
52 Literatura Infantojuvenil

valor mercadológico em detrimento do estético. (SARAIVA,


2008, p.25)

A palavra literária precisa evocar as verdades e, ao agir assim,


consegue nos dissipar das tediosas existências, trazendo para o nosso
cotidiano os sentidos que buscamos.

De fato, o que levaria uma pessoa a criar ficção e poesia se não


fosse a sua profunda insatisfação com a vida, naquilo que ela tem de
informe, incompreensível, desumanizante? Rebeldia contra o próprio uso
inautêntico da palavra, no cotidiano?

Dessa forma, os educadores devem analisar as obras disponíveis


e recolher as que sejam mais necessárias aos seus pequenos leitores.
https://bit.ly/36A3fF4.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir
tudo o que vimos. Neste capítulo você fez um percurso
sobre os necessários atos de analisar obras infanto-juvenis
aplicando a teoria estudada, que deverão ser bem realizados
pelos professores que iniciam as novas gerações no gosto
pela literatura infantojuvenil. Antes, nesta mesma unidade
I, estudou a trajetória histórica da literatura infantojuvenil
desde sua origem e suas influências nos dias atuais, mundo,
e posteriormente, no Brasil. Depois analisou a função da
Literatura infantojuvenil, conheceu as funções significativas
relacionadas a educação, instrução e distração. E, ainda, ao
imaginário, domínio da linguagem e representação do mundo.
Literatura Infantojuvenil 53

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Glória Freitas

Literatura
Infantojuvenil

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