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Alfabetização e

Letramento
Unidade I
Alfabetização e letramento: uma
abordagem geral
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
IRIA HELENA DUARTE
MAURO JOSÉ KUMMER
AUTORIA
Iria Helena Duarte
Sou formada em Pedagogia, Especialista em Metodologia do
Ensino da Língua Portuguesa e Estrangeira com uma experiência técnico-
profissional na área de ensino híbrido há mais de 10 anos. Concluinte em
Psicopedagogia e especialização em Língua Espanhola. Iniciei minha
carreira como docente em diversas escolas do estado de São Paulo,
estado do Paraná e de Santa Catarina na área da Educação Infantil e Ensino
Fundamental I. Em 2008, fui convidada por uma empresa em expansão
em EAD a participar do departamento pedagógico como coordenadora
pedagógica em EAD e depois como professora conteudista na área
da Pedagogia e ensino de línguas. Também trabalhei para algumas
faculdades, para a elaboração de trabalhos e materiais didáticos e
preparatórios para, por exemplo, o ENADE. Atualmente sou sócia de uma
escola EAD de ensino de cursos técnicos, profissionalizantes e idiomas
e também atuo como mediadora do curso de Pedagogia e tutora virtual
da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Amo a minha profissão
e sou apaixonada pelo meu trabalho. Estou sempre em busca de novos
conhecimentos porque acredito no poder da educação e da reciclagem.
Adoro poder transmitir minha experiência para todos que estão iniciando
em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte sempre comigo!

Mauro José Kummer


Sou Mestre em educação pela PUCPR, Especialista em gestão da
qualidade aplicada à educação pela Organização dos Estados Americanos.
Trabalho na educação a distância como professor conteudista e professor
palestrante, além de tutor. Minha formação de base é em Engenharia de
Produção. Além de professor, também sou revisor de textos, atuou em
diversas instituições como UFPR, PUCPR, UniBrasil e Estácio. Professor
para pós-graduação em gestão da qualidade aplicada à educação.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de apresentar um
de uma nova novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Conceitos e definições sobre alfabetização e letramento......... 12
A alfabetização................................................................................................................................... 12

A língua falada e a língua escrita...................................................................... 15

O letramento........................................................................................................................................ 16

Definição de letramento........................................................................................... 18

Alfabetizado letrado................................................................................................... 19

Analfabetismo funcional......................................................................................... 20

Histórico e evolução das práticas de alfabetização..................... 21


A cartilha de Comenius................................................................................................................ 21

Emília Ferreiro..................................................................................................................................... 22

A sala de aula como ambiente de alfabetização..................................25

O papel do professor..................................................................................................25

Ana Teberosky....................................................................................................................................27

A psicogênese da língua escrita........................................................................27

A prática alfabetizadora e os processos de apropriação da


língua escrita................................................................................................. 31
A prática pedagógica do ensino da língua escrita.................................................. 31

Lev Semyonovich Vygotsky..................................................................................32

O papel do professor e do ambiente familiar na aquisição da língua


escrita.......................................................................................................................................................35

O letramento na aquisição da escrita...............................................................................37

Práticas para o letramento da língua escrita........................................... 38


Estratégias da leitura – crianças até 5 anos.....................................40
A leitura como instrumentação cultural......................................................................... 40

Aprendizagem coletiva.............................................................................................42

Monitorar a compreensão.......................................................................................43

Estrutura do enredo....................................................................................................43

Organizadores semânticos e gráficos............................................................43

Responder perguntas................................................................................................44

Resumo................................................................................................................................45
Alfabetização e Letramento 9

01
UNIDADE
10 Alfabetização e Letramento

INTRODUÇÃO
Ainda nos dias de hoje, quando falamos em Alfabetização, muitos têm a
ideia de um processo repleto de regras e práticas. Na verdade, o conceito real
é muito mais amplo e deve ser discutido com muito cuidado. Procure lembrar-
se de sua professora na primeira série do ensino fundamental. Você se lembra
das práticas que ela utilizou para alfabetizá-lo? Quais foram os recursos que
utilizou? Talvez ela tenha utilizado a famosa “Cartilha”, no qual você sempre
associava uma imagem a uma letra, até a formação das palavras? Ou usufruiu
de outros recursos no seu processo de alfabetização? Eu me recordo da minha
formação, de que a minha professora sempre utilizava o lúdico dentro da sala
de aula e era sempre muito divertido quando estávamos aprendendo a formar
as palavras porque ela utilizava muitos recursos visuais.

No processo de alfabetização, é tudo muito mágico para a criança,


porque elas percebem que as letras se tornam palavras, cada palavra
é um encontro, um encantamento, e quando conseguem ir além, o
descobrimento se torna real e parte integrante desse tão rico ambiente.
Porém, cabe ao professor alfabetizador instigar a criança ao novo, ser o
facilitador, o mediador de uma etapa única na vida de cada um.

Sempre fui muito grata aos teóricos e estudiosos da área porque, se não
fosse por eles e suas experiências de vida, não teríamos todo o conhecimento
que temos hoje. O que é ser alfabetizado para você? O que é ser letrado para
você? Esses questionamentos, gostaria que você os fizesse antes de iniciarmos
essa nova jornada. Anote em um papel o que você entende por alfabetização e
letramento e depois, no término deste e-book, convido-o a fazer uma releitura
do que escreveu e refletir sobre tudo o que aprendeu.

Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar nesse universo


de conhecimentos. Abordaremos a definição sobre o que é, de fato,
alfabetização e letramento. Convido-o a retornar ao passado um pouquinho
para que possa compreender todos os processos e os “porquês” de todos
os questionamentos atuais. Você estudará a importância das práticas da
alfabetização e também a introdução de estratégias de leitura. Bons estudos!
Alfabetização e Letramento 11

OBJETIVOS
Olá! Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1, e o nosso objetivo é
auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais
até o término desta etapa de estudos:

1. Identificar a definição da infância no curso do desenvolvimento.

2. Compreender a história da criança e seus principais marcos.

3. Discernir sobre as concepções da infância ao longo da história.

4. Contrastar as influências da história da educação para crianças de


0 a 5 anos, aplicando estratégias de leitura para esta faixa etária.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
12 Alfabetização e Letramento

Conceitos e definições sobre alfabetização


e letramento
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de identificar


a definição da infância no curso do desenvolvimento. E
então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Qual a definição concreta sobre alfabetização e letramento?


Existe alguma diferença entre os dois conceitos? Qual a importância
quando falamos em alfabetização e letramento? Ao longo desta aula,
discorreremos sobre todos esses questionamentos, com as definições
baseadas nas teorias dos maiores teóricos do assunto. Caso tenha
dúvidas, não se preocupe. Recorra ao fórum de dúvidas e discussões para
socializar seu conhecimento e esclarecer todas as suas dúvidas. Depois,
desenvolva as atividades e questões sugeridas. Nós estaremos a sua
disposição em caso de dificuldades!

A alfabetização
A alfabetização, em sua principal definição, é o processo de aquisição
da leitura e da escrita por meio do sistema alfabético e ortográfico.
Entendemos que esse processo não é simples, pois inclui muitos fatores
internos e externos. Felizmente, podemos afirmar que esse processo
vem sendo altamente discutido por profissionais da educação, pois há
muito tempo professores enfrentam diariamente problemas relacionados
à alfabetização, como as dificuldades de aprendizagem, o alto índice de
reprovação nas séries iniciais e também a evasão escolar.

O termo é amplo e não pode ser visto unicamente como um único


processo. Estamos falando de etapas multifacetadas, de uma grande
diversidade de fatores e não podemos nos ater somente a uma única
definição. É o que sugere Soares (2003):
Não parece apropriado nem etimológica nem
pedagogicamente que o termo alfabetização designe
Alfabetização e Letramento 13

tanto o processo de aquisição da língua quanto em seu


desenvolvimento: etimologicamente o termo alfabetização
não ultrapassa o significado de “levar a aquisição do
alfabeto” , ou seja, ensinar o código da língua escrita, ensinar
as habilidades de ler e escrever; pedagogicamente, atribuir
um significado muito amplo ao processo de alfabetização
seria negar-lhe a especificidade, com reflexos indesejáveis
na caracterização da sua natureza, na configuração das
habilidades básicas de leitura e escrita, na definição da
competência em alfabetizar. (SOARES, 2003, p.16)
Figura 1 - Alfabetização infantil

Fonte: Pixabay (2019).

Vivemos na era de muitas facilidades de comunicação. Ocorre


comunicação a qualquer hora e de diversas maneiras diferentes. As
pessoas têm acesso à informação de uma forma muito rápida. Em
contrapartida, ainda é muito comum observar escolas com métodos
de alfabetização antigos, que não se adequam aos dias de hoje e que
14 Alfabetização e Letramento

também não são compatíveis com as necessidades reais do dia a dia.


Sabemos que não existe uma metodologia perfeita, cada qual tem a
sua característica principal, porém também é certo afirmar que existem,
sim, muitos métodos de alfabetização que hoje funcionam e outros que
nem tanto. Infelizmente algumas escolas ainda tratam essa questão de
uma forma não muito articulada, com poucos recursos e arcaicos. Essa
defasagem conclui a incompetência institucional quando ela não procura
as múltiplas possibilidades de acesso na aquisição da fala, da leitura e da
escrita. Segundo Cagliari (1994, p. 9), “a falta de visão de muitos, associada
à ausência de conhecimentos linguísticos, tem atribuído o fracasso escolar
ora ao aluno visto como um ser incapaz, carente, cheio de deficiências,
ora ao professor”. Para ampliarmos essa reflexão, recorremos às reflexões
de Soares (2003, p. 15), que assim explica:
Sem dúvida não há como fugir, em se tratando de um
processo complexo, como a alfabetização, de uma
multiplicidade de perspectivas, resultante da colaboração
de diferentes áreas de conhecimento, e de uma pluralidade
de enfoques, exigida pela natureza do fenômeno, que
envolve atores (professores e alunos) e seus contextos
culturais, métodos, material e meios.

Entretanto, essa multiplicidade de perspectivas e essa


pluralidade de enfoques não trarão colaboração realmente
efetiva enquanto não se articularem em uma teoria
coerente de alfabetização que concilie resultados apenas
aparentemente incompatíveis, que articule análises
provenientes de diferentes áreas do conhecimento, que
integre estruturadamente estudos sobre cada um dos
componentes do processo. (SOARES, 2003, p.15)

Nesse sentido, é correto afirmar que o acesso ao processo


de aquisição de leitura e escrita modificou-se e não mais atende às
necessidades do passado. A leitura do mundo é outra. O que precisamos
compreender é que o processo de alfabetização, na sua complexidade,
interfere significativamente na vida educacional do indivíduo. A
alfabetização é, sem dúvida, o momento mais importante da formação
escolar de uma pessoa (CAGLIARI, 1994, p. 10).

É fato dizer que uma das principais etapas do processo de


alfabetização é a representação de fonemas em grafemas e grafemas
Alfabetização e Letramento 15

em fonemas, porém não podemos descartar a importância do código


da escrita por meio da compreensão. Essa expressão de significados
nos dá uma ideia mais ampla e diretiva, pois o processo não se destina
exclusivamente ao desenvolvimento dos códigos e fonemas da leitura e
da escrita. Ele rege outras etapas que não podem ser descartadas.

Segundo Magda Soares, uma das maiores pesquisadoras do país


sobre o tema, as etapas não são tão simples como podemos imaginar
e requerem muito cuidado. Nesse processo de aquisição de leitura e
escrita, o indivíduo deve participar ativamente, e não somente como um
indivíduo que recebe as informações.

A língua falada e a língua escrita


Pense na sua língua-mãe. Você acredita que a língua escrita
tem as mesmas características da língua falada? Ou seja, você escreve
exatamente como você fala? É óbvio que não!

O conceito de língua falada chega a ser até abstrato, pois existem


tantas diversidades que a compõem, e a cada dia ela vem se modificando.
Podemos dizer que é uma língua viva, que modifica e se adequa de
acordo com a sua necessidade.

A língua falada é viva e está em constante adaptação com o


seu meio social. É o que explica com mais ênfase Bagno (2001, p. 09):
“Temos de fazer um grande esforço para não incorrer no erro milenar dos
gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa morta,
sem levar em consideração as pessoas vivas que a falam”.

Nesse pressuposto, constata-se que a língua falada não se


enquadra nas regras da língua escrita, pois o processo de aquisição dessa
língua também é outro.

Nossa intenção é que você possa compreender a complexidade


de todo o processo, portanto, quando falamos em língua escrita, não
estamos falando apenas em regras gramaticais, pois ela não deve ser
vista apenas como um registro de fonemas da língua oral. Há também sua
importância sintática, semântica e morfológica. É o que explica Soares
16 Alfabetização e Letramento

(2003, p. 18):“[...] não se escreve como se fala, mesmo quando se escreve


em conceitos informais”.

Embora muitos ainda acreditem que o processo de alfabetização é


individual, não podemos esquecer que ele também é social. Pensemos
em duas escolas em regiões completamente diferentes uma da outra.
Supondo que uma escola está situada em uma região rural e a outra em
uma região central, você acredita que os processos de alfabetização das
duas escolas se dão da mesma maneira? Mesmo que ambas utilizem do
mesmo método alfabetizador, o desenvolvimento seria igual?

A sociedade tem um peso muito grande quando falamos sobre a


alfabetização, pois, em algumas sociedades, esse tema pode até parecer
algo não muito constante. Em algumas regiões, é muito comum as crianças
serem alfabetizadas a partir dos 4 anos de idade, em outras, a partir dos 7
anos. Isso difere muito de acordo com cada região e sua cultura.

Como você pode notar, alfabetizar uma criança vai muito além de
transmitir a informação à criança na aquisição de leitura e escrita. Depende
de muitos fatores, culturais, econômicos e tecnológicos.

O letramento
Você aprendeu que a alfabetização é a aquisição da língua (seja ela
oral ou escrita) por meio de um sistema alfabético, ortográfico e também
cultural. Também vimos que o processo de alfabetização é complexo
e exige muitos fatores. Não é somente ensinar a criança a formar as
palavras e depois partir para a leitura. O processo é lento, prático e exige
habilidades tanto da parte do professor quanto do aluno.

Você também aprendeu a importância da comunicação de forma


rápida e prática nos dias de hoje. O uso das tecnologias nos proporciona
acesso rápido às informações e, consequentemente, nossa comunicação
caminha no mesmo sentido. Aquele que hoje não acompanha toda essa
evolução tecnológica infelizmente não consegue ter o mesmo domínio
de comunicação.
Alfabetização e Letramento 17

Figura 2 - Leitura infantil

Fonte: Pixabay .

REFLITA:

Você, professor dentro da sala de aula, depara-se com um


aluno do 3º ano do ensino fundamental I com algumas
dificuldades na atividade de compreensão de texto. Na
atividade, você pede para o aluno responder as perguntas
simples sobre o texto que ele acabou de ler. O aluno faz
a leitura diversas vezes e, mesmo assim, não compreende
nenhuma das perguntas. Ele somente consegue responder
aquelas óbvias como: qual o nome do personagem
principal? Ou “onde se passa nossa história? Perguntas mais
complexas ele simplesmente não consegue responder. O
que você pensa sobre isso?
Reflita agora sobre uma outra situação:
Na sala de aula do 5º ano do ensino fundamental I, a
professora pede para os alunos fazerem uma redação
sobre o descobrimento do Brasil. No final da atividade, ela
percebe em um aluno a dificuldade em fazer a atividade
escrita. Ela então vai até esse aluno e nota que sua redação
é empobrecida, que o aluno não segue uma lógica textual
e que existem erros gramaticais e ortográficos gritantes.
Reflita, por que isso acontece?
Essas duas situações são muito comuns nos dias de hoje.
Infelizmente, conforme anteriormente dito, ainda existem
muitos problemas no processo de aquisição da leitura e
escrita, e aqueles que não atendem à demanda da rapidez
tecnológica e da comunicação na era da globalização
acabam sendo altamente prejudicados.
18 Alfabetização e Letramento

Segundo Soares, (2003, p. 20), “só recentemente passamos a


enfrentar essa nova realidade social em que não basta apenas ler e
escrever, é preciso também faze o uso do ler e escrever, saber responder
às exigências de leitura e escrita que a sociedade faz continuamente”.

O interlocutor deve ter não somente o domínio dos códigos, como


também uma visão ampliada, que seja capaz de compreender todo o
discurso, assim na interpretação de elementos históricos e científicos. Ele
deve dominar todos os elementos da textualidade que constituem o uso
discursivo oral e escrito, como os elementos de codificação (letras e sons).

Definição de letramento
Em meados do ano de 1980, a invenção de letramento se deu
no Brasil assim como simultaneamente em outros países. A ideia era
compreender os problemas enfrentados na aquisição da língua escrita e a
sua deficiência. Por que algumas crianças simplesmente não conseguiam
fazer uma simples interpretação de um texto ou até mesmo escrever um
texto comum? Nos países desenvolvidos, foi constada essa deficiência
de sua população, que, embora alfabetizada, não era competente o
suficiente para fazer uma simples redação ou leitura.

Segundo SOARES, (2000, p. 18), “letramento é, pois, o resultado da


ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição
que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-
se apropriado da escrita”.

Para ampliar ainda mais essas ideias, citamos as reflexões de Klein


(2000), que assim relata:
Não há dúvida que o letramento é, hoje, uma das
condições para a realização do cidadão: ela o insere num
círculo extremamente rico de informações, sem as quais,
ele, inclusive nem poderia exercer livre e conscientemente
sua vontade [...] o homem contemporâneo é afetado por
outros homens, fatos e processos por vezes tão distantes
de seu cotidiano que somente uma rede muito complexa
de informações pode dar conta de situá-lo, minimamente,
na teia de relações em que se encontra inserido. Neste
universo, tá mais vasto e complexo, a escrita assume
relevante função, registrando e colocando ao alcance
Alfabetização e Letramento 19

das informações que podem esclarecê-lo melhor. (KLEIN,


2000, p.11)

Nesse sentido, a definição de letramento é vasta e está


intrinsecamente interligada à alfabetização, apesar de ocorrerem
distinções entre os dois temas. Quando falamos de letramento, referimo-
nos às competências que o indivíduo deve possuir para construção
do entendimento de leitura e escrita. É uma visão mais ampla, mais
minuciosa e que exige do interlocutor um direcionamento mais preciso.
Além de possuir competências linguísticas, ele deve também adquirir
conhecimentos suficientes para a formação de novos conhecimentos,
sejam eles culturais, históricos, ideológicos e científicos.

De nada adianta saber apenas ler e escrever e não ter domínio


sobre a leitura e escrita. Não saber como escrever, como fazer uma
interpretação. É o domínio do uso da língua no seu sentido amplo, geral.

Alfabetizado letrado
Alfabetizado letrado é aquele que conhece o sistema e as regras
ortográficas e gramaticais e, ainda, coloca-se como um efetivo usuário da
língua em seu contexto social.
Figura 3 - Dúvida de leitura

Fonte: Pixabay .
20 Alfabetização e Letramento

Analfabetismo funcional
Analfabeto funcional é aquele que não consegue fazer o bom uso
da leitura e escrita nas atividades cotidianas. Ou seja, embora ele saiba ler
e escrever, não consegue fazer uma interpretação de um texto porque não
compreende toda a estrutura textual e também tem muitas dificuldades
em escrever.

Lembramos do nosso aluno do 3º ano do ensino fundamental citado


no início do tema. Ele não consegue fazer a interpretação do texto com
mais complexidade. Ele lê, mas não compreende. No segundo exemplo,
o outro aluno não consegue fazer a redação sobre o descobrimento do
Brasil porque não tem domínio sobre as palavras, simplesmente não
consegue fazer o bom uso da língua escrita.

REFLITA:

Faça uma reflexão prática sobre alfabetização e letramento.


Como você, como professor, lidaria com alunos iletrados?
Qual seria o maior desafio para você ao lidar com uma
situação dessas?

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir algo do que vimos. Estudamos que as
definições tanto de alfabetização como de letramento são
muito mais amplas, complexas e trabalhosas. Em síntese,
podemos concluir que:
Alfabetização é o processo de aquisição da língua (oral
e escrita) por meio do sistema alfabético, ortográfico e
cultural.
Letramento é o processo de desenvolvimento da língua
(oral e escrita). O desenvolvimento de habilidades de uso
da tecnologia.
Alfabetização e Letramento 21

Histórico e evolução das práticas de


alfabetização
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


a história da criança e seus principais marcos. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!

Vamos iniciar este capítulo com uma reflexão profunda sobre o


desenvolvimento histórico e sua influência nos dias atuais. Faremos uma análise
sobre Comenius e a sistematização da aprendizagem por meio da cartilha e dos
pensamentos de autores que influenciaram diretamente essa evolução.

A cartilha de Comenius
Tudo se iniciou com um pastor protestante chamado por Joao
Amós Comenius, mais conhecido por Comenius, considerado o pai da
pedagogia moderna. Em meados do século XVII, Comenius fundamentou
a escola que conhecemos até hoje, foi o precursor da organização do
trabalho pedagógico baseado em elementos manufatureiros, presentes
na sociedade da sua época.

Com a ideia de “ensinar tudo a todos”, Comenius deu ao professor


sua primeira definição e designou a ele o material didático pedagógico
como instrumento de trabalho. O livro didático, por sua vez, difere dos
livros científicos. A ideia era que o livro didático não fosse tão aprofundado
em fontes originais, mas que fosse um direcionador de conhecimentos.

Surge então um livro exclusivamente pedagógico que propõe


o ensinamento de ler e escrever por meio de figuras ou ilustrações ao
lado das palavras, das sílabas e do alfabeto. É o que conhecemos como
cartilha, que ainda hoje é utilizada em muitas instituições de ensino.

O objetivo era que as crianças pudessem fazer associação tanto


visual quanto motora das palavras. Note que, na cartilha que conhecemos,
a criança se depara com figuras referentes às iniciais da letra que está
22 Alfabetização e Letramento

sendo estudada. Por exemplo: na letra “I”, existe a figura de um ipê. Há essa
associação da palavra com a letra e depois a intenção de que a criança
possa internalizar por meio de expressões motoras, como contorno da
letra, realização de colagens sobre a letra, etc.

Outro fato bastante interessante é a classe heterogênea, ou mais


conhecida como instrução simultânea. Os alunos aprendiam ao mesmo
tempo em graus e atividades diferenciadas. Isso facilitaria a aquisição do
conhecimento e pouparia esforços. Colocaria em prática, então, a ideia de
ensinar “tudo a todos”.

Segundo Alves (2001),


Comenius está na origem da escola moderna. A ele, mais
do que nenhum outro, coube o mérito de concebê-la.
Nessa empreitada, foi impregnado pela clareza de que
o estabelecimento escolar deveria ser pensado como
uma oficina de homens; foi tomado pela convicção de
que a escola deveria fundar sua organização tendo como
parâmetro as artes. (ALVES, 2001, p.11)

Para Comenius, a didática deveria ser foco principal de experimentos


porque acreditava que o processo estava na prática, e o ensinamento
deveria fazer parte desse pensamento. Considerando que sua fervorosa
religiosidade subsidiou consideravelmente suas teorias, ele enfatizava o
ensino como algo que deveria ser atingido por todos e que as pessoas
deviam se capacitar para um novo conhecimento.

Foi um dos primeiros a defender a ideia da educação para crianças


pequenas, alocando-as em um ambiente em que elas fossem expostas a
todo o tipo de conhecimento. Podemos dizer que surge, assim, a ideia do
maternal. Ele acreditava que, por meio do conhecimento, o ser humano
podia alcançar sabedorias divinas. Por esse motivo, ele queria que todos
tivessem uma educação, porque, além dos conhecimentos terrenos, eles
também podiam adquirir uma ascensão aos céus.

Emilia Ferreiro
Nenhum nome teve mais influência no que diz respeito à
alfabetização do que Emília Ferreiro, uma psicolinguista argentina, aluna
Alfabetização e Letramento 23

e companheira de trabalho de Jean Piaget, que revolucionou a história


da alfabetização. Em meados de 1980, seus livros começaram a ser
divulgados no Brasil e causaram um grande impacto na concepção de
alfabetização.

Famosa pela obra Psicogênese da língua escrita, a autora não


apresenta, em seu livro, nenhuma metodologia pedagógica, apenas
processos de aprendizados nas crianças, colocando em questão os
métodos utilizados até então. Suas pesquisas revelam mecanismos
relacionados à leitura e à escrita e passam a discutir toda a sua teoria
baseada em métodos construtivistas.

Para Emília, a criança tem um papel totalmente ativo no processo


de alfabetização, pois ela constrói o próprio conhecimento. Calcada em
teorias e práticas construtivistas, avalia o conhecimento por meio de
experiências na prática. O aluno que é ativo no seu processo de formação
é mais exigente e também precisa ter o seu espaço único para que ocorra
o desenvolvimento. Por esse motivo, há uma grande preocupação pela
escola, pois ela deixa de ser somente fonte de informações e passa a
ser cenário de um processo prático de formação. Quando falamos em
alfabetização, para Emília, a criança deve apropriar-se de todo o ambiente
educacional, deve fazer parte de um todo, e o professor é o facilitador
desse processo.

Antes de sua chegada, havia apenas uma grande preocupação com


a aprendizagem quando a criança não conseguia aprender, porém Emília
nos trouxe uma visão contrária. A preocupação deveria acontecer desde
o início, entendendo quais fatores levavam aquela criança a aprender e
como era esse processo. O importante era a trajetória, e não o resultado
que se esperava.

Piaget outrora já tinha citado que os princípios do processo de


conhecimento deveriam ser graduais, pois cada conquista cognitiva
depende de uma assimilação e da acomodação desses processos, o que
levaria um tempo. As crianças não apenas repetem o que ouvem, mas
internalizam o aprendizado baseado nas experiências, sejam elas boas
ou ruins.
24 Alfabetização e Letramento

Para a alfabetização, isso foi um processo, pois até então os erros


eram vistos como algo a ser punido ou até mesmo escondido. Não havia
nenhum benefício no ato de fazer algo de errado. Para o construtivismo,
nada é mais desafiador para a mente do que os erros, pois eles deixam
em evidência a releitura do indivíduo com o mundo. O erro faz parte do
processo de conhecimento e é ponte para os futuros acertos.

Nesse pressuposto, Emília sempre criticou a posição tradicional


da alfabetização, porque não dá condições para a concreta aquisição da
leitura e da escrita. Na prática tradicional, a criança é exposta à escrita
por meio de avaliação de percepção e de motricidade. Nesse sentido, a
criança acaba por desenhar a letra, ao invés de apropriar-se da palavra. Os
métodos tradicionais propõem aos alunos leituras com palavras simples
e sonoras, como, por exemplo: “bebê”, “papa” etc. O contato da criança
com a organização da escrita é colocado após esse processo. Segundo
Ferreiro, a alfabetização é também uma maneira de se apropriar das
funções sociais da escrita. De acordo com suas reflexões, o acesso a
textos lidos e escritos desde os primeiros anos de vida influencia muito
mais do que simples processos pedagógicos repetitivos.
Figura 4 - Sala de aula rica em recursos visuais

Fonte: Pixabay .
Alfabetização e Letramento 25

A sala de aula como ambiente de alfabetização


Um dos marcos de Emília Ferreiro em nossas salas de aula foi o
extermínio do uso das cartilhas. Segundo ela, a compreensão social da
escrita deve ser instigada com o uso de livros e periódicos da atualidade,
e o uso da cartilha, além de não desafiar a criança para o conhecimento
do novo, também oferece uma instrução desinteressante e artificial.

O ambiente se torna alfabetizador quando ele concede à criança


todas as ferramentas de que ela precisa para usufruir daquele espaço.
Com o uso de livros e periódicos, a sala de aula passa a ser ambiente real
de alfabetização e estimula os alunos a conquistar novos conhecimentos.
O processo deve ser constituído por vários recursos, e não somente por
um único recurso, como, por exemplo, o uso da cartilha.

O papel do professor
Para Emília Ferreiro, o papel do professor é fundamental, pois ele é
o guia para que o aluno possa atingir seus conhecimentos. Ele deixa de
ser o principal agente no processo e passa a ser o mediador, aquele que
irá auxiliar a criança sem que ela perca sua individualidade.
Figura 5 – Papel do professor

Fonte: Freepik .
26 Alfabetização e Letramento

Ela também enfatiza em muitas entrevistas que o docente deve


estar sempre em processo de construção de conhecimentos por meio
da reciclagem. O novo se torna parte do desenvolvimento do docente.
Imagine que você tenha um professor que não está adaptado aos
conhecimentos de hoje e que ensinaria as crianças nos métodos antigos.

Nos dias de hoje, seria muito difícil lidar com docentes que não estão
atualizados, mesmo que eles tenham muitos conhecimentos, pois, se não
conseguirem transmiti-los de maneira que todos consigam compreender,
de nada valem tais conhecimentos.

REFLITA:

Pense em algumas situações e, baseado em todo o material


estudado até o momento, faça uma análise da situação.

Sabemos que muitos são os fatores que desencadeiam os


problemas da alfabetização e do letramento. Peço que você imagine dois
cenários completamente distintos um do outro:

1. Uma sala de aula com 32 alunos da 4ª série do ensino


fundamental apresenta muitos problemas, porém o que mais
preocupa a professora é que mais da metade dos seus alunos é
incapaz de fazer uma leitura de um texto de maneira que consiga
compreendê-lo. Essa professora utiliza métodos tradicionais para
instruí-los, e os alunos, para ela, devem ser receptores passivos. As
atividades que ela realiza geralmente não mudam, toda a semana
é sempre a mesma atividade. Na atividade de escrita, ela realiza o
ditado e também percebe que muitos alunos não se desenvolvem
adequadamente.

2. Na mesma escola, uma outra professora com a mesma experiência


da primeira citada também tem problemas parecidos com os
seus alunos, porém ela analisa caso a caso para que possa tentar
diminuir tantos analfabetos funcionais. Ela tem conhecimento de
que os alunos possuem essa deficiência e, quando está realizando
alguma atividade, sempre foca os alunos que mais precisam de
Alfabetização e Letramento 27

atenção. Utiliza a tecnologia em sala de aula sempre que pode


e permite que seus alunos sejam ativos no seu processo de
conhecimento por meio de debates e exercícios que estimulam
outras habilidades.

Você, como aluno, gostaria de ter a professora da primeira história


ou a professora da segunda história? Por quê?

O docente deve ser parte integrante na sala de aula, porém com o


papel de coadjuvante, pois o protagonista é o seu aluno. Não pense nele
como alguém que recebe as informações apenas, e sim como aquele que
deve aprender a fazer questionamentos, que pode errar e encontrar no
seu erro uma resposta, porque, por meio do erro, o aluno é direcionado ao
oculto, ou seja, errar também faz parte do processo. Quando ele erra, ele
aprende outras habilidades e procura todos os recursos para encontrar
um acerto. Ao contrário do aluno passivo, para ele, o erro é algo muito
ruim e pelo qual pode ser punido.

Ana Teberosky
Além de Emília Ferreiro, Ana Teberosky é uma das pesquisadoras
mais conceituadas quando falamos em alfabetização. Segundo Ana, a
responsabilidade do fracasso escolar no que diz respeito à alfabetização
é do próprio sistema, e não apenas do professor. Quando a escola acredita
que o processo de alfabetização se dá em etapas, ou seja, primeiro a
junção das letras e palavras para depois a concepção de escrita, ela mina
o poder do conhecimento. Se há a separação entre ler e escrever, depois
fica mais complicado fazer a ligação desses termos.

A psicogênese da língua escrita


Na década de 1970, Emília Ferreiro e Ana Teberosky desenvolveram,
por meio de experiências, o livro A Psicogênese da Língua Escrita. O livro
traz novos elementos para explicar o processo vivenciado pelo aluno que
está aprendendo a ler e escrever.

Passa a compreender a alfabetização não como um simples


método, mas como um processo complexo e multifacetado que ocorre
28 Alfabetização e Letramento

quando a criança faz a apropriação do sistema da escrita alfabética. Não


prescreve uma metodologia milagrosa. A criança internaliza e se apropria
do seu próprio conhecimento, pois, até então, o método tradicional
impunha à criança técnicas e ritmos de aprendizagem. A ideia é que a
criança internalize e tenha a sua escrita espontaneamente.

Para ambas pesquisadoras, a criança passa por várias hipóteses em


relação ao sistema da língua escrita antes mesmo de compreender, de
fato, o sistema alfabético. Todo o processo tem um início, um caminho a
ser seguido, em que a criança passa a ser leitora antes mesmo de ter o
domínio da leitura. Em seu aspecto construtivista, o indivíduo passa a ser
sujeito da história, e não objeto em sua própria aprendizagem.

Outra característica muito importante é a ideia de que a


aprendizagem da escrita não tem vínculos com a fala e mesmo que a
criança já tenha uma relação entre escrita e fala, essa relação não condiz
com nenhuma ligação.

O analfabetismo
Tanto o analfabetismo como o fracasso escolar não são problemas
individuais, e sim sociais. Enfatiza-se que a desigualdade social
tem influência direta nesses problemas e pode provocar ainda mais
desigualdades educacionais.

Portanto, para as pesquisadoras, esses problemas podem ser


melhorados por meio de outros métodos de ensino. A reprovação escolar
é um exemplo desse fracasso e não deve ser analisada apenas em um
contexto, mas em muitos. Existem soluções para o fracasso escolar e até
mesmo para a evasão. As autoras propõem uma nova reflexão e estudo
sobre o assunto e mudanças de comportamentos.

Todos os indivíduos, independentemente de classe ou meio social,


possuem capacidades suficientes para aprender, como explica Ferreiro:
Os filhos do analfabetismo são alfabetizáveis; não
constituem uma população com uma patologia específica,
que deve ser atendida por sistemas especializados
de educação; eles têm o direito a serem respeitados,
enquanto sujeitos capazes de aprender. (FERREIRO, 1986,
p.22)
Alfabetização e Letramento 29

ACESSE:

Veja aqui a entrevista de Emília Ferreiro, em que a psicolinguista


fala sobre a cisão entre alfabetização e letramento.

Muitos outros fatores aconteceram durante todo o processo


educativo e, é claro, as contribuições de estudiosos são inúmeras,
porém a ideia é que você tenha em mente que o processo evolutivo
da alfabetização se deu ao logo dos anos, por meio de muitas teorias e
também de experiências vividas. Não estamos julgando aqui o certo ou
o errado, apenas relatando marcos da história da alfabetização que nos
influenciam até hoje.

Cada profissional se adequa a um método, nisso não há nenhuma


discussão. O que você, como futuro professor, não pode esquecer é que,
segundo palavras de Magda Soares, a alfabetização é “multifacetada”, isto
é, não existe apenas um conceito, e sim diversos dentro desse universo
de conhecimentos tão rico e vasto.
30 Alfabetização e Letramento

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter visto como
compreender a história da criança e seus principais marcos,
Que a cartilha de Comenius foi proposta por Joao Amós
Comenius, sendo ela um livro exclusivamente pedagógico
que propõe o ensinamento de ler e escrever por meio de
figuras ou ilustrações ao lado das palavras, das sílabas e do
alfabeto, com a finalidade de que as crianças pudessem
fazer associação tanto visual quanto motora das palavras.
Estudamos também sobre Emília Ferreiro, que apresenta
processos de aprendizados nas crianças, colocando
em questão os métodos utilizados até então, para ela,
a criança tem um papel totalmente ativo no processo de
alfabetização, pois ela constrói o próprio conhecimento.
Diante dessa autora, podemos resumir que ela trouxe que
a compreensão social da escrita deve ser instigada com o
uso de livros e periódicos da atualidade, e o uso da cartilha,
além de não desafiar a criança para o conhecimento do
novo, também oferece uma instrução desinteressante e
artificial, estipulou que o papel do professor é fundamental,
pois ele é o guia para que o aluno possa atingir seus
conhecimentos. Em seguida estudamos sobre Ana
Teberosky que estabeleceu que a responsabilidade do
fracasso escolar no que diz respeito à alfabetização é do
próprio sistema, e não apenas do professor, trazendo a
psicogênese da língua escrita.
Alfabetização e Letramento 31

A prática alfabetizadora e os processos


de apropriação da língua escrita
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de discernir


sobre as concepções da infância ao longo da história. E
então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Neste capítulo, abordaremos práticas alfabetizadoras e todo os


processos que norteiam a aquisição da língua escrita. Iniciaremos com
a importância e complexidade da alfabetização, fatores e circunstâncias
que permeiam todo o desenvolvimento de linguagem escrita.

Já vimos que a aquisição da língua escrita se dá por diversos


conhecimentos, sejam eles internos ou externos.

A prática pedagógica do ensino da língua


escrita
No capítulo anterior, estudamos sobre alguns teóricos na área e
também algumas ressalvas que fizeram ao longo de anos de estudos e
de experiência na área. Quando falamos em prática, referimo-nos a toda
instrumentação utilizada para se obter um resultado final. Vimos que a
primeira prática pedagógica no processo de alfabetização foi o uso da
cartilha. O uso da cartilha, por sua vez, foi considerado por muitos um
processo limitador, pois excluía o ensino da língua escrita e as produções
textuais, ou seja, existe uma separação entre a metodologia utilizada pela
cartilha no ensino da língua escrita e, consequentemente, sua produção.

Segundo estudos de Emília Ferreiro, a criança aprende, de fato,


com a interação com o real, e não com o subjetivo. É um processo de
ação com a língua escrita na construção da fala e da escrita. Soares (1999)
nos traz a seguinte reflexão:
Consideremos a interferência desses dois fatores – a
influência da psicolinguística e a concepção psicogenética
32 Alfabetização e Letramento

da aprendizagem da escrita – em duas faces do processo


ensino e aprendizagem da língua escrita, aqui destacada
para fins de melhor clareza da exposição, já que não
representam momentos sucessivos, mas contemporâneos,
não são processos independentes, mas inseparáveis: uma
face é a aquisição do sistema da escrita [...]; a outra face é a
utilização do sistema de escrita para a interação social, isto
é, o desenvolvimento de habilidades de produzir textos.
(SOARES, 1999, p. 52)

Nesse sentido, a alfabetização é um processo estritamente


histórico, social e multidisciplinar. Não podemos menosprezar as ciências
linguísticas da aquisição, pois também fazem parte do processo. A
aquisição de leitura e escrita é ampla, e esse processo deve caminhar
com ambas as especificidades.

Lev Semyonovich Vygotsky


Vygotsky foi um psicólogo russo, protagonista do conceito de que o
desenvolvimento intelectual das crianças se dá pelo seu meio social, por
meio das interações sociais e das condições de vida.
Figura 6 – Vygotsky

Fonte: Wikimedia Commons .


Alfabetização e Letramento 33

Segundo seus estudos, as funções patológicas são bastante


complexas, por exemplo: o ato de respirar passa por muitos mecanismos e
adequações dependendo da sua situação real. Quem dirá quando falamos
sobre o desenvolvimento psicológico? E seria muito mais complexo ainda
pensarmos no homem em seu meio sociocultural.

Quando se trata do processo da aquisição da língua escrita, Vygotksy


afirma que é um fator social, de caráter histórico e que deve envolver
muita interatividade. A aprendizagem da escrita dá-se por um conjunto
de signos que são utilizados como instrumentos das necessidades
socioculturais. A escrita, então, deve ser considerada um produto cultural,
e não somente um instrumento de aprendizagem escolar.

Assim, Vygotsky teorizou que, por meio de signos, instrumentos e


sistemas de signos – como a linguagem –, constrói-se a estrutura cognitiva
dos indivíduos, o que permite o desenvolvimento de suas potencialidades.
Ademais, a construção das estruturas cognitivas se daria por intermédio
das relações sociais estabelecidas, ocorrendo no nível social primeiro e
depois no nível individual.

Vygotsky considera que a aprendizagem constitui um resultado


que possui uma natureza social, histórica e cultural, não sendo, assim,
uma representação da realidade, mas, sim, um mapeamento das ações e
das operações que comprovem as experiências do ser humano.

Sabemos que, em alguns casos, não é bem isso que acontece.


Algumas escolas ainda estão muito distantes dessa realidade e nelas
simplesmente não existe a funcionalidade da escrita. Vygotsky (1998)
menciona que:
Até agora a escrita ocupou um lugar muito estreito na
prática escolar, em relação ao papel fundamental que
ela desempenha no desenvolvimento cultural na criança.
Ensina-se as crianças a desenhar letras e a construir
palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita.
Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está
escrito que acaba se obscurecendo a linguagem como tal.
(VYGOTSKY, 1998, p. 139)

A escola, no entanto, precisa pensar o processo de alfabetização


como um processo dinâmico. Pode-se perceber que o desenvolvimento
34 Alfabetização e Letramento

da escrita na criança está relacionado a suas práticas do dia a dia. Oliveira


(1998) nos dá uma melhor posição sobre o assunto:
Por isso, é de fundamental importância que, desde o início,
a alfabetização se dê num contexto de interação pela
escrita. Por razoes idênticas, deveria ser banido da prática
da prática alfabetizadora todo e qualquer discurso (texto,
frase, palavra, “exercício”) que não esteja relacionado com
a vida real ou o imaginário das crianças, ou em outras
palavras, que não esteja por elas carregado de sentido.
(OLIVEIRA, 1998, p. 70-71)

Tendo em vista essa visão, é possível concluir que, na perspectiva


socioconstrutiva elaborada por Vygotsky, as funções dos seres humanos
possuem uma natureza cultural. Essa perspectiva sustenta, dessa forma,
que a aprendizagem e o desenvolvimento correspondem a instrumentos
da interação social, no entanto, esta só acontecerá se o indivíduo vier a
receber um suporte educacional adequado.

É através das práticas sociais e por meio delas que as funções


psicológicas do ser humano se desenvolvem, passando do plano social
para sua compreensão por meio do processo de internalização. No
processo de internalização as funções deixam a sua natureza biológica
passando a adquirir uma natureza cultural.

REFLITA:

Segundo Vygotsky, algumas escolas não ensinam, de


fato, à criança a “linguagem escrita”. O que elas fazem é
simplesmente ensinar as crianças a desenhar as letras e
a construção das palavras, mas, de fato, não ensinam sua
real funcionalidade.

Você teve alguma experiência parecida ou conheceu alguma


instituição que promovesse essa prática?
Alfabetização e Letramento 35

O papel do professor e do ambiente


familiar na aquisição da língua escrita
Você já estudou a importância do papel do docente em todo o
processo educacional, porém não falamos ainda sobre outro fator muito
importante, que é a participação do ambiente familiar.

Há alguns anos, quando falávamos de fracasso escolar, o problema


estava praticamente todo relacionado ao professor, ou seja, ele era o
grande responsável pelo bom ou mau andamento dos seus alunos. Com
o passar do tempo, vimos que são inúmeros os problemas que norteiam
essa situação, e não somente o despreparo ou a incompetência de um
professor. Sabemos que o docente pode ser um forte influenciador no
desenvolvimento da criança, mas não é o único norteador.

O professor é a peça principal nesse processo, cabe a ele ser o


norteador do ambiente de alfabetização, porém não podemos esquecer
do ambiente familiar, que é tão importante quanto o ambiente educacional.
Já foi a época em que se acreditava que a criança adquire conhecimentos
somente por meio da escola.

É fundamental que o professor evidencie seu interesse e prazer


em ler e escrever, que se mostre diante dos alunos como sujeito que lê
e escreve diariamente; que concorda em fazê-lo e obtém satisfação de
ambas as atividades. Porque, especialmente em regiões onde o professor
é um dos poucos sujeitos avançados no processo de alfabetização, com
o qual as crianças interagem, seria utópico supor que, se o professor lê e
escreve com moderação e desprazer, as crianças podem estabelecer um
vínculo com a leitura e escrita que é substancialmente diferente.

Também é desejável oferecer às crianças algumas referências


sobre o autor dos livros levados para a sala de aula. Assim, as crianças se
familiarizam com a autoria como características dos textos e conhecem
autores de diferentes épocas, de diferentes tipos de texto, de diferentes
estilos e correntes, ao mesmo tempo em que se constituem como
autores. O professor também pode levar o jornal do dia, comentar sobre
uma notícia que é importante e atraente para os alunos. Você, professor,
36 Alfabetização e Letramento

também pode exibir uma receita que você usou recentemente. Isto é, é
uma questão de compartilhar os atos do leitor de diferentes tipos de texto
e situações diferentes.

Algo semelhante acontece com a escrita: o professor pode mostrar


às crianças algum texto próprio, comentar e consultar sobre quaisquer
dúvidas que sua produção tenha despertado. Isto é feito, por um lado, para
que as crianças percebam que o professor escreve e, por outro, porque
elas podem fornecer alguma alternativa interessante para o próprio texto.

Algumas das possíveis intervenções do professor são:

• Coordenar (ajuda a relacionar dados diferentes e opiniões


diferentes).

• Informar.

• Interrogar: fazer perguntas de natureza exploratória e obter


justificativas.

• Abordar e motivar a criança a ler e escrever desde o primeiro dia.

• Criar um ambiente letrado, significativo e interessante, que


considere as experiências anteriores das crianças.

O ambiente familiar também tem caráter social e se dá também


pela interação, por isso a família também é responsável pelo melhor
desenvolvimento educacional da criança. Dentro do contexto social e
familiar da criança, podem ocorrer práticas da língua escrita de forma
natural e espontânea.
Alfabetização e Letramento 37

Figura 7 – Pai lendo para o filho

Fonte: Freepik .

Quando fazemos uma simples leitura de uma estória para


nossos filhos antes de dormir, não somente estamos estimulando o
desenvolvimento, como direcionando a criança ao seu aprendizado
natural. Lembra quando Emília Ferreiro disse que a criança se torna leitora
antes mesmo de ler? Isso mesmo, a leitura dentro do ambiente familiar
impulsiona a criança a ser um leitor antes de ser alfabetizado.

Outro fator importante no ambiente familiar é o estímulo aos


desenhos e suas representações ou até mesmo a prática de ensinar as
crianças a escreverem seus próprios nomes, ou até mesmo o conceito de
numerais. Todo esse conhecimento adquirido dentro de casa pode ser o
reflexo do que a criança irá aprender no ambiente escolar.

O letramento na aquisição da escrita


Se a prática da língua escrita é influenciada por diversos fatores, é
fato que o letramento decorre dessa participação, das práticas cotidianas,
das vivências e situações reais de leitura e escrita. Atos costumeiros, como
ler revistas ou jornais, escrever um bilhete, ler um livro, contribuem para
que as crianças possam aprender as diferentes formas do texto escrito.
Kleiman (1998) afirma que:
38 Alfabetização e Letramento

Assim, nesse contexto, o letramento é desenvolvido


mediante a participação da criança em eventos que
pressupõem o conhecimento da escrita e o valor do
livro como fonte fidedigna de informação e transmissão
de valores, aspectos esses que subjazem ao processo
de escolarização com vistas ao letramento acadêmico.
Note-se que para a criança cujo letramento se inicia no
lar, no processo de socialização primária, não procede
a preocupação sobre se ela aprenderá ou não, muito
presente, entretanto, nos pais de grupos marginalizados.
(KLEIMAN, 1998, p. 183)

Quando fazemos uma reflexão sobre o letramento na língua


escrita, podemos mencionar alguns fatores muito importantes que
podem contribuir para que a criança tenha o domínio do conteúdo e
da informação. Muitos pesquisadores sobre o assunto são unânimes
em dizer que, quando se trata da linguagem escrita, há, ainda, mais um
empobrecimento nos dias atuais. Devido ao uso abusivo da tecnologia,
muitos jovens são incapazes de redigir um texto porque não possuem
mais bases gramaticais suficientes para tal. A linguagem escrita entre
eles é escassa, e muitas crianças não conseguem nem ao menos fazer
uma simples redação. O problema é tão grande, que muitas crianças
não conseguem fazer a leitura de um livro, mas conseguem ler um texto
pequeno de uma revista de fofocas.

Práticas para o letramento da língua escrita


É claro que existem muitas práticas que favorecem a boa utilização
da língua escrita. Segundos alguns pesquisadores, as práticas mais
estimulantes são:

1. Leitura de um livro: embora essa prática infelizmente não esteja


enraizada em nossa cultura, essa é, sem dúvidas a melhor
maneira de aquisição de escrita, ou seja, quando lemos um livro,
apropriamo-nos de novas palavras, novos vocabulários e até
mesmo de regras ortográficas e gramaticais.

2. Leitura de periódicos: os jornais e revistas também são fontes de


muito conhecimento.
Alfabetização e Letramento 39

3. Escrever um e-mail: antigamente, as pessoas passavam horas


escrevendo cartas umas para as outras. Todo o processo era
muito prazeroso, pois criava-se uma expectativa desde o início.
Era muito comum as pessoas escreverem várias páginas. Hoje em
dia, sabemos que não é bem isso que acontece, e a comunicação
para quem está distante é por e-mail. Escrever um e-mail pode,
sim, estimular o desenvolvimento da língua escrita.

4. Escrever um bilhete: muitos professores ainda praticam com seus


alunos o uso do bilhete na sala de aula, porque, além da interação
que ele propõe entre os alunos, as crianças podem treinar técnicas
e vivenciar sua língua. Os bilhetes geralmente são mais objetivos
e, por isso, facilitam o desenvolvimento da escrita.

VOCÊ SABIA?

Em Nova Iorque, é muito comum as crianças passarem suas


férias dentro de uma biblioteca. A leitura é muito estimulada
em países desenvolvidos, por isso é muito comum espaços
destinados a públicos diferentes.
No Reino Unido e em alguns países da Europa, mais da
metade da população faz uso da leitura e lê mais de um
livro por mês.

ACESSE:

Quer se aprofundar nesse tema? Leia o artigo “Prática


pedagógica alfabetizadora: aquisição da língua escrita
como processo sociocultural” (BRITO, A. E.). Você pode
acessar o material aqui .

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter
compreendido como discernir sobre as concepções da
infância ao longo da história.
40 Alfabetização e Letramento

Estratégias da leitura – crianças até 5


anos
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de contrastar as


influências da história da educação para crianças de 0 a 5
anos, aplicando estratégias de leitura para esta faixa etária.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Vamos dar início a algumas técnicas ou regras que podem ser usadas
no uso da leitura dentro e fora da sala de aula ou até mesmo atividades
sugeridas que facilitarão o processo de formação. Vimos que a leitura
é importante para a formação do indivíduo e estimula também outros
conhecimentos. O bom leitor dispõe de muitos recursos e tem domínio
sobre algumas regras e normas que só a leitura pode proporcionar.

REFLITA:

Mesmo que nossa cultura não estimule o uso da leitura,


todos sabem quão importante ela é para nosso crescimento.
Nesse pressuposto, você se considera um leitor assíduo?
Pense e responda em seu caderno.

A leitura como instrumentação cultural


Sabemos que o ato de ler é um ato extremamente cultural. Quanto
mais somos motivados à leitura, maiores são as chances de nos tornarmos
leitores fervorosos. Infelizmente, a grande maioria dos brasileiros não
possui o hábito da leitura, e os que possuem muitas vezes não têm acesso
aos materiais, sejam livros ou periódicos.
Alfabetização e Letramento 41

Figura 8 – Leitura

Fonte: Freepik .

A leitura é um processo ativo e dinâmico, e quem faz o bom uso da


leitura está sujeito a muitas possibilidades e tem a maior capacidade de
criação. Quanto menos o indivíduo lê, menos ele é integrado ao mundo
letrado.

A compreensão da leitura é um processo que se inicia desde o


nascimento, com as histórias que nossos pais nos contam antes de dormir.
Esse processo não é automático e precisa ser ensinado e praticado
desde cedo. Ao longo de muitos anos, diversos pesquisadores da área
persistiram em dizer que a leitura era um processo individual, porém,
quando fazemos o uso da leitura em conjunto, o desenvolvimento pode
ser ainda maior.

No processo de leitura, é importante que os professores tenham


em mente que o ato de ler é eminentemente privado, é o contato com
o entendimento de tudo simbolizado no texto e requer um esforço da
família, da escola e do do ambiente sociocultural onde o indivíduo se
desenvolve. Aqui os meios de comunicação, as bibliotecas, os clubes
de leitura, os editores e os profissionais de ensino desempenham um
42 Alfabetização e Letramento

papel importante, fornecendo os elementos necessários que permitam


alcançar, por meio de um programa de abordagem construtivista, o
desenvolvimento de habilidades de promoção da leitura de uma maneira
eficaz e prazerosa na educação do nível básico de ensino. Dessa forma, o
professor e a formação recebida tornar-se-ão eixos de ação para executar
as estratégias metodológicas que levarão ao desenvolvimento efetivo
dos processos de leitura.

Existem estratégias que podem facilitar a compreensão de textos


nas crianças e também em alunos mais velhos. É válido pensar que todas
as abordagens de leitura são utilizáveis e que podemos, como professores,
fazer uma adaptação de cada uma delas de acordo com a nossa turma.

Com base no texto da Universidade de Londres e de Roger Beard,


faremos uma análise de algumas estratégias a seguir.

Aprendizagem coletiva
Todos os alunos fazem uma leitura coletiva e depois discutem
sobre a compreensão do texto. Nessa abordagem, os alunos participam
desde o início da leitura no seu modo coletivo.
Figura 9 - Aprendizagem coletiva

Fonte: Freepik .
Alfabetização e Letramento 43

Trabalhei em uma escola construtivista em que era muito comum


essa abordagem. Sentávamos todos no chão em círculo, e cada aluna fazia
a leitura de uma parte do texto. Após o término do capítulo, discutíamos
sobre a compreensão da história e dávamos início novamente à leitura.
Dessa maneira, os alunos participavam ativamente da história, e não havia
nenhum tipo de distração.

Monitorar a compreensão
O leitor deve fazer uma compreensão do texto enquanto realiza
a leitura. Ele pode fazer uma releitura para melhorar a compreensão do
texto.

No processo de monitoramento, o leitor faz uma análise central do


texto para depois usufruir, de fato, desse processo.

Estrutura do enredo
Nessa estratégia, o leitor é colocado em alguns posicionamentos
no qual deve responder ou perguntar:

• A quem?

• O quê?

• Onde?

• Quando?

• Por quê?

Após o leitor fazer a leitura do texto, ele usufrui desse processo de


forma mais regrada, ou seja, para a sua compreensão, ele deve, de fato,
responder as perguntas que ele mesmo indagou.

Não é muito comum essa abordagem nos dias de hoje porque


demanda muito tempo de compreensão.

Organizadores semânticos e gráficos


O professor pede ao aluno para representar o texto em forma de
figuras, sejam gráficos ou desenhos.
44 Alfabetização e Letramento

Figura 10 – Representação do texto

Fonte: Freepik .

Todas as formas de expressão são consideradas texto, até mesmo


figuras ou desenhos. Nessa abordagem, o aluno deve criar dentro do
contexto proposto pelo texto por meio da imagem que tiver em mente, ou
seja, ele fará uma representação do texto por meio de figuras. É um texto
em outra forma.

Responder perguntas
Essa é a pratica mais comum utilizada nas escolas. O aluno deve
responder as perguntas com base na compreensão do texto.

Muitas escolas ainda adotam esse único método de leitura.


Geralmente as perguntas são de fácil compreensão dentro do texto ou
muito óbvias.

Caso você queira também utilizar esse método com seus alunos,
faça perguntas que instiguem uma reflexão e para as quais o aluno tenha
que fazer uma releitura do texto.
Alfabetização e Letramento 45

Muitas universidades utilizam essa forma de interpretação, porém a


resposta está implícita no texto, e não exposta.

Resumo
Muito usual também nas escolas. Após a leitura, o leitor deve
colocar no papel as principais ideias contidas no texto.

O resumo serve para que o aluno faça uma releitura e aponte os


pontos principais do texto. Pode ser muito útil em muitos casos, porém
não podemos esquecer que muitos alunos se sentem desmotivados com
essa prática. Deve haver uma proposta diferente, uma inovação, só assim
haverá estímulo.

REFLITA:

Entre as abordagens de leitura, qual é a que você utilizaria


mais em sala de aula?

O uso da metodologia se dá pela forma como o docente passa a


informação ou atividade, portanto vale ressaltar que o que pode dar
certo em uma sala pode não dar certo em outra. Você, como professor,
deverá conhecer seus alunos e só assim poderá fazer uma separação
de abordagem. Algumas abordagens podem estimular alguns alunos,
enquanto outras podem simplesmente criar um pânico de leitura para eles.

Faça uma análise da turma, converse com eles, conte quais são
seus objetivos para tal posicionamento. Procure entendê-los e fazer com
que eles falem a “mesma língua” que você. Não adianta você escolher
uma abordagem muito criativa, mas com um livro que os desestimula.

Lembre-se de que você é aquela pessoa que dará o remo para eles
remarem. Você não pode remar por eles, deixe-os fazer isso sozinhos,
cada um a seu tempo e em sua individualidade.

É importante ressaltar que, para ler ou apreender o significado da


linguagem escrita, destaca-se uma série de aspectos que o leitor deve
aprender, entre eles:
46 Alfabetização e Letramento

• A língua que você vai ler.

• Reconhecer palavras impressas usando qualquer sinal.

• Saber que palavras impressas são sinais de palavras faladas e que


você pode obter um significado dessas palavras.

• Razão e pensamento sobre o que você lê.

• Desde o começo, ler da esquerda para a direita.

Ler é pensar. Sem pensar, a leitura seria nada mais que uma simples
atividade mecânica de reconhecimento de palavras. Para converter a
leitura em pensamento, o indivíduo deve ter agrupamentos de ideias
e experiências que levam à interpretação da avaliação de mensagens
escritas.
Figura 11 – O ato de ler

Fonte: Freepik .

Os estados modernos têm considerado a leitura e a escrita


como alternativas para dotar o cidadão desse valioso instrumento de
desenvolvimento, por meio do qual ele pode satisfazer, com limitações,
suas necessidades internas, e as exigências imperiosas e cada vez mais
complexas da vida contemporânea.
Alfabetização e Letramento 47

Mas, para alcançar esse objetivo, é essencial que os programas de


aprendizagem de leitura sejam desenvolvidos e estruturados em todos os
níveis de ensino, dando ao estudante oportunidades de se desenvolver
como um bom leitor. Para isso, deve haver objetivos e metas bem
definidos, em que a natureza da leitura é levada em consideração em
todos os níveis que o aluno oferece, por meio de avaliação contínua. Como
um processo, aumenta progressivamente a capacidade de leitura, o que
permite ler textos cada vez mais amplos e complexos, a fim de capturar
e assimilar melhor. Da mesma forma, o leitor deve aumentar a dificuldade
para ler progressivamente materiais de conteúdo mais complexo.

ACESSE:

Quer se aprofundar nesse tema? Recomendamos o acesso


à seguinte fonte de consulta e aprofundamento:
“Como estimular a leitura na alfabetização” (MANSANI, M.).
Você pode acessar o material aqui .

RESUMINDO:

Você estudou sobre letramento e alfabetização,


compreendeu que se trata de dois conceitos muito próximos
entre si e que, em algumas vezes, são confundidos. Vimos a
história das práticas de ensino desde a cartilha de Comenius
até os trabalhos de Emília Ferreiro a Ana Teberosky. Depois,
você passou para o socioconstrutivismo de Vygotsky e sua
interpretação quanto à formação para a leitura e os estudos
sobre as práticas socioconstrutivistas. Em seguida, viu as
estratégias e práticas para a leitura. O foco do estudo neste
capítulo foi as estratégias para leitura para as crianças
de até 5 anos de idade, deste modo, foi estudado que o
ato de ler é um ato extremamente cultural. Quanto mais
somos motivados à leitura, maiores são as chances de
nos tornarmos leitores fervorosos. Estudamos então como
se dá o processo da leitura e os meios para que essa
aprendizagem seja exercida, vendo, de forma aprofundada
sobre a aprendizagem coletiva, o monitoramento a
compreensão, a estrutura do enredo, os organizadores
semânticos e gráficos, a respostas a perguntas e o resumo.
48 Alfabetização e Letramento

REFERÊNCIAS
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione,
1994.

COMENIUS, J. A. Didática Magna: tratado da arte universal de


ensinar tudo a todos. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.

FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez,


1984.

SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto,


2003.

VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins


Fontes, 2001.

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