Você está na página 1de 51

Morfologia do

Português
Débora Luiza da Silva
Angela Francisca Mendez

Unidade 4

Morfossintaxe
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autor
DÉBORA LUIZA DA SILVA
ANGELA FRANCISCA MENDEZ
AS AUTORAS
Débora Luiza da Silva
Olá! Meu nome é Débora Luiza da Silva. Sou formada em Letras
(habilitação Português e suas respectivas literaturas) pela Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e Especialista em Educação a Distância:
Gestão e Docência, pela mesma instituição. Atualmente participo do
Programa de Educação Continuada do Mestrado em Educação, na linha
de Tecnologias Aplicadas à Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Tenho experiência técnico-profissional na área
da docência, bem como na elaboração de conteúdos pedagógicos para
cursos das modalidades presencial e a distância. Profissionalmente passei
por diferentes instituições, entre elas o Governo do Estado do Rio Grande do
Sul, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o Centro Universitário
Ritter dos Reis (UniRitter) e a Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande
do Sul (Fadergs), ambas do Grupo Laureate International Universities, nas
quais já atuei como analista acadêmica de EaD, professora-tutora, designer
educacional e docente. Atualmente sou professora de Língua Portuguesa
e Literatura da EJA EaD do Serviço Social da Indústria (SESI/RS). Sou
apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida,
bem como contribuir com o aprendizado daqueles que estão iniciando em
suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar
seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo e bons estudos!

Angela Francisca Mendez


Olá! Meu nome é Angela Francisca Mendez. Sou graduada em Letras
(habilitação em Português e Literaturas da Língua Portuguesa) pelo Centro
Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), e Mestre em Letras – Linguagem,
Interação e Processos de Aprendizagem (UniRitter), com ênfase na área
Discurso, Linguagem e Sociedade. No ensino superior, atuei como professora
na UniRitter – Laureate International Universities (40h), ministrando as disciplinas
de Morfologia; Literaturas da Língua Portuguesa; Leitura, Produção e Revisão
de Texto; Escrita Criativa; Literatura Brasileira e Memória Cultural; entre outras.
Tenho larga experiência no Ensino a Distância (EaD), tanto na produção de
conteúdo, quanto na coordenação de ensino. Estou muito feliz em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo e bons estudos!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Compreendendo a morfossintaxe dos substantivos.................... 12
Funções sintáticas dos substantivos................................................................................. 15

Identificando a morfossintaxe dos adjetivos................................... 22


Funções sintáticas dos adjetivos..........................................................................................24

Examinando as características dos verbos ......................................29


Verbos auxiliares.............................................................................................................................. 30

Verbos regulares, irregulares e defectivos................................................................... 31

Verbos impessoais..........................................................................................................................35

Conhecendo a transitividade dos verbos..........................................38


Verbos nocionais............................................................................................................................. 38

Verbos intransitivos.........................................................................................................................42

Verbos transitivos diretos........................................................................................42

Verbos transitivos indiretos..................................................................................43

Verbos transitivos diretos e indiretos.............................................................45

Verbos de ligação............................................................................................................................45
Morfologia do Português 9

04
UNIDADE

MORFOSSINTAXE
10 Morfologia do Português

INTRODUÇÃO
Chegamos ao fim desta disciplina, intitulada “Morfologia da língua
portuguesa”. Nesta unidade letiva nosso enfoque estará centrado na
morfossintaxe dos nomes (adjetivos e substantivos) e dos verbos, além
de conhecermos os padrões verbais. Você sabe o que a morfossintaxe
estuda? Como já sabemos, morfologia é a parte da gramática que estuda
a estrutura, a formação e a classificação das palavras, enquanto a sintaxe
se preocupa em estudar as palavras como elementos de uma frase, sua
disposição e possíveis combinações, capazes de transmitir significado
completo. Portanto, a morfossintaxe é a combinação entre o estudo da
morfologia e da sintaxe, cuja análise ocorre tanto na esfera da palavra,
quanto da frase, envolvendo sobretudo as classes gramaticais e as
funções sintáticas. Preparado para o estudo do nosso último tópico de
estudos? Aproveite e mergulhe neste universo! Desejamos bons estudos!
Morfologia do Português 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4 – Morfossintaxe. Nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Compreender a morfossintaxe dos substantivos.

2. Identificar a morfossintaxe dos adjetivos.

3. Examinar as características dos verbos.

4. Conhecer a transitividade dos verbos.

Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Vamos lá. Ao trabalho!
12 Morfologia do Português

Compreendendo a morfossintaxe dos


substantivos

OBJETIVO::

Nesta competência conheceremos as funções sintáticas


expressas pelos substantivos dentro das orações. Já
estudamos a morfologia dessa classe gramatical e agora
chegou a hora de compreendermos sobretudo as relações
de concordância, subordinação e ordem dessas palavras.

Sabemos que a Gramática é o conjunto das regras que determinam


as diferentes possibilidades de associação das palavras de uma língua
para a formação de enunciados concretos. Entre as áreas da gramática
estão a fonologia, a sintaxe e a morfologia.

Na Gramática da Língua Portuguesa, a sintaxe compreende o


estudo das combinações possíveis entre as palavras. Por isso, para
compreendermos melhor essas relações, basta pensarmos nas palavras
como peças de um quebra-cabeças, as quais precisam ser encaixadas em
um lugar certo, para que, ao fim, possamos ver uma imagem harmoniosa
e coerente.

Já a morfologia, trata-se do estudo da estrutura, da formação e da


classificação das palavras. Assim, a morfossintaxe é apreciação conjunta
da classificação morfológica e da função sintática das palavras nas
orações, sendo este o foco do nosso estudo.
Morfologia do Português 13

Figura 1 - Revisando o que já estudamos

Fonte: Pixabay

ACESSE:

Quer se aprofundar no estudo da sintaxe da língua


portuguesa? Recomendamos a leitura do livro-texto
disponível em: http://bit.ly/3aPG6kZ. Acesso em: 29 jun.
2020. Bons estudos e ótima leitura.

Revisando: Substantivos são termos responsáveis por nomear


seres, objetos, ações, lugares etc. Existem 9 tipos de substantivos:
comum, próprio, coletivo, abstrato, concreto, composto, simples,
derivado e primitivo. Eles são flexionados em gênero, número e grau.
Vamos relembrar a classificação:

•• Comuns: designam os seres da mesma espécie de forma genérica.

•• Próprios: sempre grafados em letra maiúscula, são palavras que


particularizam seres, entidades, países, cidades, estados da mesma
espécie.
14 Morfologia do Português

•• Concretos: designam as palavras reais, concretas – pessoas, objetos,


animais ou lugares.

•• Abstratos: são aqueles relacionados aos sentimentos, estados,


qualidades e ações.

•• Simples: são formados por apenas uma palavra.

•• Compostos: são formados por mais de uma palavra.

•• Primitivos: são aqueles que não derivam de outras palavras.

•• Derivados: são aquelas palavras que derivam de outras.

•• Coletivos: são aqueles que se referem a um conjunto ou grupo de


seres.

Figura 2 - Revisando o que já estudamos

Fonte: Pixabay

Na língua portuguesa, os substantivos podem desempenhar dentro


das orações diferentes funções sintáticas, sempre ligadas diretamente
aos verbos. Entre elas estão:
Morfologia do Português 15

•• Núcleo do sujeito;

•• Complementos verbais (objeto direto e indireto);

•• Agente da passiva;

•• Núcleo do complemento nominal;

•• Aposto;

•• Núcleo do predicativo do sujeito e do objeto;

•• Núcleo do vocativo.

Agora, veremos as características de cada uma dessas funções


sintáticas exercidas pelos substantivos dentro das orações e dos discursos.

Funções sintáticas dos substantivos


Sintaxe é a parte da gramática que tem por objetivo estudar a
disposição das palavras dentro das orações, incluindo sua relação
lógica, a fim de que as informações sejam transmitidas de maneira clara
e coerente. Por isso as funções sintáticas compreendem o papel que
determinadas palavras desempenham dentro das orações.

Vejamos em quais delas podemos encontrar substantivos.

a) Núcleo do sujeito

De acordo com CEGALLA (2009), o núcleo é a palavra-base do


sujeito (bem como de outras funções sintáticas). Em torno dele podem
aparecer palavras secundárias, tais como:

•• artigos,

•• adjetivos,

•• locuções adjetivas etc.

No entanto, são consideradas essenciais para a compreensão,


assim como o núcleo.
16 Morfologia do Português

Exemplo: Na oração “As rosas têm espinhos”, o sujeito da oração é


“as rosas”. Quanto ao núcleo, este é representado pelo substantivo “rosas”,
pois é o elemento mais importante do sujeito.

Assim, notamos que no sujeito podem aparecer outras palavras


ligadas a um substantivo, mas que são consideradas dispensáveis à
compreensão do interlocutor.

Segundo a Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de autoria


do linguista Domingos Paschoal Cegalla (2009), os sujeitos podem ser
classificados em:

•• simples - quando tem um só núcleo.

Exemplo: "Um bando de galinhas d'angola atravessa a rua em fila


indiana."

•• composto - quando tem mais de um núcleo.

Exemplo: "O burro e o cavalo nadavam ao lado da canoa."

•• oculto (ou elíptico) - quando está implícito, isto é, quando não está
expresso, mas se deduz do contexto.

Exemplo: Viajarei amanhã. [sujeito: eu, que se deduz da desinência


do verbo].

•• indeterminado - quando não se indica o agente da ação verbal.

Exemplo: Atropelaram uma senhora na esquina.

[Quem atropelou a senhora? Não se diz, não se sabe quem a


atropelou.]
Morfologia do Português 17

Figura 3 - Conhecendo as funções sintáticas dos substantivos

Fonte: Pixabay

b) Complementos verbais (objeto direto e indireto)

Alguns verbos da língua portuguesa não possuem sentido


completo, isto é, necessitam de complemento para que a informação
seja clara e concisa. Assim, admitem complementos, conhecidos como
objetos. Ainda nessa unidade letiva será possível conhecer os verbos de
acordo com sua transitividade. Fique atento!

•• Objeto direto: é o complemento dos verbos de predicação


incompleta, não regido de preposição.

Exemplo: Na oração “As plantas purificam o ar”, o verbo “purificam”


necessita de um complemento, ou seja, de um objeto, expresso neste
caso por artigo+substantivo = “o ar”.

•• Objeto indireto: é o complemento verbal regido de preposição


necessária, visto que complementa a informação de um verbo
transitivo indireto.
18 Morfologia do Português

Exemplo: Na oração “Obedeço ao regulamento”, o verbo “obedeço”


necessita de um complemento, ou seja, de um objeto, expresso neste
caso por preposição+substantivo = “ao regulamento”.

c) Agente da passiva

É o complemento de um verbo na voz passiva. Representa o ser


que pratica a ação expressa pelo verbo passivo. A voz passiva é uma
construção sintática em que um objeto direto passa a ocupar a posição
de sujeito, ou seja, é a maneira como o verbo se expressa em relação ao
sujeito, que, no caso da passiva, sofre a ação ao invés de praticá-la.

Vem regido comumente pela preposição “por” e, algumas vezes,


pela preposição “de”.

Exemplo: Na oração “Alfredo é estimado pelos colegas”, o termo


“pelos colegas” é classificado como o agente da passiva, expresso por
preposição+substantivo.

d) Núcleo do complemento nominal

Complemento nominal é o termo complementar reclamado pela


significação transitiva incompleta de alguns substantivos, adjetivos e
advérbios. Vem sempre regido de preposição. Como já abordamos,
consideramos como núcleo a palavra de maior importância em
determinadas funções sintáticas, pois transmitem as principais
informações para a compreensão de determinada oração e/ou discursos.

IMPORTANTE:

É muito comum confundir os complementos verbais e


nominais, no entanto, enquanto o complemento verbal
(objeto direto e indireto) completa a ação de um verbo,
o complemento nominal está sempre ligado a um nome
(substantivos, adjetivos e advérbios). Além disso, ambos
são regidos de preposição.
Morfologia do Português 19

Exemplo: Na frase “Nossa fé em Deus”, a expressão “em Deus”


está completando o sentido do substantivo “fé”, portanto o complemento
verbal é formado por preposição+substantivo. No entanto, o núcleo do
complemento é o substantivo próprio “Deus”.

Figura 4 - Estudando a diferença entre os complementos verbais e nominais

Fonte: Pixabay

e) Aposto

É uma palavra ou expressão que explica ou esclarece, desenvolve


ou resume outro termo da oração (CEGALLA, 2009). Esse elemento pode
aparecer antes ou depois do termo ao qual se refere, bem como ser
destacado ou não por sinais de pontuação, tais como vírgula, dois-pontos
ou travessão.

Exemplo: Na oração “Dom Pedro, imperador do Brasil, foi um


monarca sábio.”, a expressão “imperador do Brasil” é considerada um
aposto, pois está explicando um termo mencionado anteriormente, bem
como é formado por substantivos (imperador+Brasil).
20 Morfologia do Português

f) Núcleo do predicativo do sujeito e do objeto

Existem dois tipos de predicativo: do sujeito e do objeto. Vejamos


suas especificidades.

•• Predicativo do sujeito: é o termo que exprime um atributo, um estado


ou modo de ser do sujeito, ao qual se prende por um verbo de ligação
no predicado nominal.

Exemplo: Na oração “O menino foi meu aluno”, a expressão “meu


aluno” é classificada como o predicativo do sujeito, pois caracteriza o
sujeito e está conectada a um verbo de ligação (foi). Note que a palavra
“aluno” é um substantivo.

•• Predicativo do objeto: É o termo que se refere ao objeto de um verbo


transitivo, isto é, ao seu complemento.

Exemplo: Na oração “Ela adotou-o por filho”, o substantivo “filho” é,


portanto, classificado como predicativo do objeto.

g) Núcleo do vocativo

Para CEGALLA (2009, p. 366) “Vocativo [do latim vocare = chamar] é


o termo (nome, título, apelido) usado para chamar ou interpelar a pessoa,
o animal ou a coisa personificada a que nos dirigimos”.

O vocativo não possui relação sintática relacionada a outra expressão


da oração, isto é, não está relacionado com o sujeito ou com o predicado
– diferente do aposto, o qual estabelece relação com o restante da frase.
Esse elemento é muito comum em gêneros textuais como cartas, e-mails,
memorandos, circulares, entre outros. Por isso, em muitas situações, o
vocativo também aparece acompanhado de um pronome de tratamento
ou um adjetivo, por exemplo.

Exemplo: Na oração “Rafael, copie o texto”, o substantivo “Rafael” é


classificado como um vocativo.

Prezado editor
Morfologia do Português 21

Querido amigo

Caros pais

RESUMINDO:

Nessa competência, nosso enfoque foram as funções


sintáticas desempenhadas pelos substantivos. Ao longo de
nossos estudos, verificamos uma série de características
morfológicas dessa classe gramatical, assim foi possível
ampliarmos nosso aprendizado de maneira a analisar a
morfossintaxe dos substantivos. Ou seja, compreendemos
os aspectos relacionados à morfologia e à sintaxe dessas
palavras. Em suma, vimos que o substantivo pode se
apresentar nas orações com as seguintes funções
sintáticas: núcleo do sujeito; complementos verbais (objeto
direto e objeto indireto); agente da passiva; núcleo do
complemento nominal; aposto; núcleo do predicativo do
sujeito ou do objeto; núcleo do vocativo.
22 Morfologia do Português

Identificando a morfossintaxe dos


adjetivos

OBJETIVO::

Nesta competência, conheceremos as funções sintáticas


expressas pelos adjetivos dentro das orações. Já
estudamos a morfologia dessa classe gramatical e agora
chegou a hora de compreendermos, sobretudo, as
relações de concordância, subordinação e ordem dessas
palavras. Portanto, a partir de agora nosso enfoque será a
morfossintaxe dessa classe gramatical.

Assim como os substantivos, os adjetivos também podem


desempenhar funções distintas dentro das orações, as quais veremos a
seguir:

•• Predicativo do sujeito;

•• Predicativo do objeto;

•• Adjunto adnominal.

Neste sentido, além de se apresentar como classe gramatical, o


adjetivo ainda desempenha funções sintáticas distintas – as quais serão
investigadas a partir de agora.

Revisando: Como já estudamos nas unidades anteriores, os


adjetivos são palavras que expressam as qualidades ou características
dos seres. Portanto, estão geralmente ligados aos substantivos.

Alguns exemplos: velho, novo, azul-claro, brasileiro, luso-brasileiro


etc.
Morfologia do Português 23

Figura 5 - Estudando a morfossintaxe dos adjetivos

Fonte: Pixabay

Os adjetivos podem ser classificados em:

•• Adjetivos pátrios – os que designam a nacionalidade, o lugar de


origem de alguém ou de alguma coisa.

•• Adjetivos eruditos – significam que é "relativo a", "próprio de",


"semelhante a", "da cor de".

Quanto à sua estrutura:

•• Derivados: quando derivam de substantivos ou verbos.

•• Simples: quando são formados por um só elemento.

•• Compostos: quando são formados por mais de um elemento.

Ainda podem ser flexionados quanto ao gênero:

•• Uniformes: os que têm a mesma forma em ambos os gêneros.

•• Biformes: os que possuem duas formas, uma para o masculino e


outra para o feminino.
24 Morfologia do Português

Em número, pelo singular e plural, os adjetivos seguem as mesmas


regras da flexão numérica dos substantivos. Por isso geralmente quando
flexionados no plural, acrescenta-se a letra “s” em sua forma original.

Quanto ao grau, podem aparecer nas formas comparativo ou


superlativo.

Apresentam-se em grau comparativo para comparar qualidades


dos seres, podendo ser:

•• de igualdade;

•• de superioridade sintético;

•• de inferioridade.

Já o superlativo expressa qualidades num grau muito elevado


ou em grau máximo. O grau superlativo pode ser absoluto ou relativo e
apresenta as seguintes modalidades (CEGALLA, 2009):

•• Analítico;

•• Absoluto sintético.

Para retomar essas características, consulte o E-book da Unidade


letiva 3 – Morfologia dos substantivos e adjetivos.

Funções sintáticas dos adjetivos


Na língua portuguesa, os adjetivos desempenham as seguintes
funções sintáticas:

•• Predicativo do sujeito;

•• Predicativo do objeto;

•• Adjunto adnominal.
Morfologia do Português 25

a) Predicativo do sujeito: como já mencionamos, esse é o termo


que exprime um atributo, um estado ou modo de ser do sujeito, ao qual
se prende por um verbo de ligação no predicado nominal. No entanto,
de maneira mais comum, essa função sintática é desempenhada pelos
adjetivos.

Exemplo: Na oração “As moças eram encantadoras”, o adjetivo


“encantadoras” é classificado como o predicativo do sujeito.

Além dos adjetivos, das locuções adjetivas e dos substantivos, essa


função sintática pode ser desempenhada ainda por:

•• Um pronome:

Exemplos:

O responsável é ele.

Meu carro é este.

•• Um numeral:

Exemplos:

Somos trinta e cinco pessoas para almoçar.

Eles eram só quatro.

•• Uma oração substantiva predicativa:

Exemplos:

O bom é que ela sempre foi bem esforçada.

A dúvida era se seriam necessários mais auxiliares.

b) Predicativo do objeto: é o termo que se refere ao objeto de um


verbo transitivo (seja direto ou indireto), ou seja, do verbo que necessita de
um complemento, por não ter sentido completo por si próprio.
26 Morfologia do Português

Exemplo: Na oração “Eu acho Denise bonita”, o adjetivo “bonita”


está ligado ao complemento do verbo (acho), logo, exercendo a função
sintática de predicativo do objeto – visto que quem “acha” “acha” algo ou
alguma coisa.

c) Adjunto adnominal: é o termo que caracteriza ou determina os


substantivos, considerado como um elemento acessório das orações, isto
é, nem todas admitem um adjunto adnominal em sua estrutura.

Exemplo: Na oração “Meu irmão veste roupas vistosas”, o adjetivo


“vistosas” está ligado ao substantivo “roupas”, logo, é classificado como
um adjunto adnominal.

Há casos em que algumas palavras, pertencentes a outras


classes gramaticais, podem desempenhar a função de um adjetivo e
consequentemente cumprir a função sintática de adjunto adnominal.
Vejamos:

•• Representado por pronome adjetivo

Exemplo: Minhas amigas prepararam tudo para a festa.

•• Representado por numeral adjetivo

Exemplo: Vinte candidatos foram selecionados.

•• Representado por locução adjetiva

Exemplo: Picadas de abelha doem muito.

IMPORTANTE:

Na sintaxe, os elementos das orações são classificados de


acordo com a relação estabelecida com os demais termos.
Morfologia do Português 27

Estão divididos em:

•• Termos essenciais (sujeito e predicado): esses devem obrigatoriamente


aparecer nas orações. Mas, como já estudamos, muitas orações se
apresentam com sujeito inexistente.

•• Termos integrantes (complementos verbais, complemento nominal e


agente da passiva): estão ligados aos verbos e substantivos presentes
nas orações e são assim considerados porque integram o sentido
dessas palavras. Nem todas as orações apresentam termos integrantes
– isso, portanto, dependerá da combinação dos termos que a compõem.

•• Termos acessórios (adjunto adverbial, adjunto adnominal, aposto


e vocativo): considerados dessa forma, são dispensáveis para a
compreensão do discurso, isto é, não prejudicam as informações
transmitidas pelo interlocutor, caso não componham as orações.

Assim, o adjunto adnominal, em resumo, é considerado como


um termo acessório da oração, ou seja, é dispensável porque não
compromete as informações expressas pelos enunciados. Por isso, nem
sempre aparece nas orações.

Figura 6 - Estudando as funções sintáticas dos adjetivos

Fonte: Freepik
28 Morfologia do Português

RESUMINDO:

Nessa competência, nosso enfoque foram as funções


sintáticas desempenhadas pelos adjetivos, os quais são
responsáveis por caracterizar os substantivos, estudados
anteriormente.

Ao longo de nossos estudos, verificamos uma série de


características morfológicas dessa classe gramatical,
assim foi possível ampliarmos nosso aprendizado de
maneira a analisar a morfossintaxe dos adjetivos. Ou seja,
compreendemos os aspectos relacionados à morfologia
e à sintaxe dessas palavras. Dentro das orações, portanto,
os adjetivos exercem as seguintes funções sintáticas:
predicativo do sujeito; predicativo do objeto; adjunto
adnominal.
Morfologia do Português 29

Examinando as características dos verbos

OBJETIVO::

Nesta competência será possível retomarmos algumas


das características dos verbos. Como já abordamos
anteriormente, essa é a classe gramatical que mais
admite flexões, dentre as dez classes de palavras. Por isso
seguiremos com enfoque nas características que envolvem
os verbos da língua portuguesa.

Conforme já estudamos na Unidade letiva 2, os verbos podem


indicar circunstâncias diversas:

•• Ação: jogar, correr, partir.

•• Estado: ser, estar, permanecer.

•• Fato: amar, sofrer, mentir.

•• Fenômeno da natureza: chover, nevar, trovejar.

Figura 7 - Estudando os verbos

Fonte: Pixabay
30 Morfologia do Português

De acordo com o linguista CEGALLA (2009, p. 194), “Com efeito,


o verbo reveste diferentes formas para indicar a pessoa do discurso, o
número, o tempo, o modo e a voz”.

Verbos auxiliares
Verbos auxiliares são os que se juntam a uma forma nominal de
outro verbo para constituir a voz passiva, os tempos compostos e as
locuções verbais (CEGALLA, 2009).

Exemplos:

Somos castigados pelos nossos erros.

Tenho estudado muito esta semana.

Jacinto havia chegado naquele momento.

O mecânico estava consertando o carro.

O secretário vai anunciar os resultados.

Começava a escurecer na cidade de ltu.

Observe o Quadro 1.

Quadro 1 - Verbos auxiliares

Principais verbos auxiliares


Ter
Haver
Ser
Estar
Fonte: Elaborado pela autora (2019).

São formas nominais dos verbos:


Morfologia do Português 31

•• Infinitivo: nomeia uma ação ou um estado, porém se apresenta neutro


quanto às suas categorias gramaticais tradicionais, ou seja, não estão
flexionados em tempo, modo, aspecto, número, pessoa.

Exemplos: amar, sofrer, partir.

•• Particípio: é usado na formação de tempos verbais compostos. Indica


o estado da ação depois de finalizada, transmitindo, portanto, uma
noção de conclusão da ação verbal. A maioria dos verbos apresenta
um particípio regular, terminado em -ado na 1ª conjugação (-ar) e em
-ido na 2ª (-er) e na 3ª conjugação (-ir).

Exemplos: amado, sofrido, partido.

VOCÊ SABIA?

Além da forma regular, o particípio apresenta as formas


irregulares, ou reduzidas, que combinam com os verbos
auxiliares ser e estar. Assim, o particípio irregular é
geralmente utilizado na voz ativa. Exemplo: O trabalho seria
feito pelo grupo.

•• Gerúndio: indica o estado de uma ação prolongada, que ainda está


em curso, transmitindo, portanto, uma noção de continuidade da
ação verbal. No gerúndio, os verbos da 1ª conjugação (-ar) terminam
em -ando, os da 2ª conjugação (-er) terminam em -endo e os da 3ª
conjugação (-ir) terminam em -indo.

Exemplos: amando, sofrendo, partindo.

Verbos regulares, irregulares e defectivos


Os verbos são formados por um radical mais uma terminação. As
terminações são diferentes, conforme as flexões em número, pessoa,
modo e tempo verbal que apresentam.
32 Morfologia do Português

Quanto à conjugação (1ª, 2ª e 3ª):

•• A 1ª tem como vogal temática o ”a”:

Exemplos: cantar, pular, sonhar.

•• A 2ª tem como vogal temática o ”e”:

Exemplos: vender, comer, chover, sofrer.

•• A 3ª tem como vogal temática o ”i”:

Exemplos: partir, dividir, sorrir, abrir.

Os verbos se dividem em:

•• Regulares: os que seguem um paradigma ou modelo comum de


conjugação, mantendo o radical invariável, como vimos acima:

Exemplos: cantar, bater, partir etc.

Existem, contudo, verbos que não se encaixam nesses modelos


fixos de conjugação verbal, possuindo alterações nos radicais e nas
terminações quando conjugados. São chamados de verbos irregulares.

•• Irregulares: os que sofrem alterações no radical e/ou nas terminações,


afastando-se do paradigma:

Exemplos: dar, trazer, dizer, ir, ouvir etc.

VOCÊ SABIA?

Ser classificado como verbo irregular não significa que


todas as suas formas conjugadas sejam irregulares, sendo
possível que haja formas conjugadas de verbos irregulares
que se encaixam nos modelos de conjugação regular.
Morfologia do Português 33

Exemplos de verbos irregulares com alterações nos radicais

Verbo medir: eu meço (o radical é med-);

Verbo pedir: eu peço (o radical é ped-);

Verbo trazer: eu trago (o radical é traz-);

Verbo ouvir: eu ouço (o radical é ouv-).

Exemplos de verbos irregulares com alterações nas terminações

Verbo dar: eu dou (a terminação regular é -o);

Verbo estar: eu estou (a terminação regular é -o);

Verbo querer: ele quer (a terminação regular é -e);

Verbo dizer: ele diz (a terminação regular é -e);

Verbo fazer: ele faz (a terminação regular é -e).

•• Defectivos: os que não possuem a conjugação completa, não sendo


usados em certos modos, tempos ou pessoas.

Exemplos: abolir, demolir, reaver, precaver, soer etc.

VOCÊ SABIA?

Os verbos defectivos podem ser agrupados conforme


as formas verbais que não apresentam. A defectividade
verbal ocorre principalmente no presente do indicativo, no
presente do subjuntivo e no imperativo. Vejamos alguns
dos defectivos:

•• Verbos em que não se conjugam formas verbais terminadas em -a ou


-o depois do radical.

Verbo colorir;
34 Morfologia do Português

Verbo demolir;

Verbo banir;

Verbo abolir;

Verbo retorquir.

•• Verbos em que se conjugam apenas formas verbais terminadas em -i


depois do radical.

Verbo falir;

Verbo ressequir;

Verbo renhir;

Verbo empedernir;

Verbo aguerrir.

Sobre as causas das defectividades verbais, os “defeitos” que


apresentam alguns verbos, podemos considerar alguns fatores:

•• A defectividade verbal na língua portuguesa ocorre devido a fatores


fonéticos, semânticos ou morfológicos. Não são normalmente
conjugadas formas verbais que ocasionam sons “ruins”, cacofonia,
nem que promovam confusão com outra forma verbal predominante.

•• Habitualmente falham as formas rizotônicas dos verbos, ou seja, as


formas verbais que possuem a sílaba tônica no radical da palavra.

•• A defectividade verbal não é fixa, mas influenciada pelas mudanças


que ocorrem na língua (lembre que a língua é um organismo vivo
e mutável). Verbos anteriormente considerados defectivos já são
atualmente considerados regulares, e formas verbais usadas no
passado com frequência vêm perdendo seu uso na atualidade.
Morfologia do Português 35

•• As lacunas nas conjugações dos verbos defectivos costumam ser


preenchidas por formas verbais de verbos sinônimos, por locuções
verbais ou tempos compostos.

Exemplo de conjugação inexistente: Eu coloro.

Exemplos de possíveis substituições: Eu pinto. Eu estou colorindo.

Verbos impessoais
Os verbos haver, fazer (na indicação do tempo), passar de (na
indicação das horas), chover, nevar, trovejar, garoar e outros que
exprimem fenômenos meteorológicos ou da natureza, quando usados
como impessoais, ficam na 3ª pessoa do singular.

Figura 8 - Emprego dos verbos impessoais

Fonte: Pixabay

Exemplos:

"Não havia ali vizinhos naquele deserto." (Monteiro Lobato)


36 Morfologia do Português

"Havia já dois anos que nós não víamos." (Machado de Assis)

"Aqui, faz verões terríveis." (Camilo Castelo Branco)

"Faz hoje ao certo dois meses que morreu na forca o tal malvado..."
(Camilo Castelo Branco)

"Conhecera-o assim, fazia quase vinte anos." (Josué Montello)

Quando saí de casa, passava das oito horas.

"Chovera e nevara depois, durante muitos dias." (Camilo Castelo


Branco)

IMPORTANTE:

Verbos que indicam tempo não flexionam. Um erro


bastante comum ao usuário da língua é flexionar o verbo
fazer, por exemplo, para indicar tempo decorrido. Ora, se os
verbos impessoais são aqueles que não “possuem pessoa”,
se quem flexiona verbo são pessoas, logo “tempo” não
flexiona verbo.

Observe:

Errado: Fazem muitos tempos que não nos vemos.

Certo: Faz muito tempo que não nos vemos.

Errado: Fazem muitos anos que não como carne.

Certo: Faz muitos anos que não como carne.

Errado: Não encontro você fazem mais de cinco anos.

Certo: Não encontro você faz mais de cinco anos.

Atenção: O verbo ser, quando indica data, hora, distância, flexiona:

São cinco quilômetros até o município de Florianópolis.

A professora disse que já são cinco horas.


Morfologia do Português 37

RESUMINDO:

Nesta unidade letiva estudamos algumas características


importantes no que se refere aos verbos. Essa classe
gramatical é fundamental dentro das orações, pois,
conforme vimos, para que tenhamos a ocorrência de uma
oração obrigatoriamente temos que ter um verbo, em torno
do qual se organiza todo o período. E devido à infinidade de
verbos que compõem o léxico da língua portuguesa, ela
engloba uma série de regras que merecem muita atenção
dos falantes da nossa língua, sobretudo dos estudantes de
Letras e futuros docentes.
38 Morfologia do Português

Conhecendo a transitividade dos verbos

OBJETIVO::

Nesta competência daremos sequência ao estudo dos


verbos. Nosso enfoque serão as características referentes à
transitividade verbal, por isso ampliaremos a compreensão
da morfossintaxe dessa classe gramatical, visto que
precisaremos entender as relações de outros elementos
ligados aos verbos dentro das orações.

A transitividade verbal se refere ao tipo de relação que um verbo


transitivo estabelece com um complemento relacionado à predicação
verbal.

Antes de iniciarmos o estudo da transitividade dos verbos, cabe


ressaltar que eles, em geral, são divididos em:

•• Verbos nocionais: aqueles que indicam ação. Esses verbos são


classificados de acordo com a sua transitividade, isto é, as relações
de dependência entre eles e seus complementos.

•• Verbos de ligação: indicam estado, mudança ou permanência de


estado.

A seguir conheceremos as características desses dois tipos de


verbos, analisando-as para ampliar ainda mais nosso aprendizado sobre
essa classe gramatical, a qual requer um estudo bastante amplo e atento.

Verbos nocionais
Como já mencionamos, esses verbos indicam sempre uma ação,
sendo, portanto, considerados como o núcleo do predicado verbal, isto
é, a parte mais importante do predicado, que na oração apresenta as
informações sobre determinado sujeito.
Morfologia do Português 39

Figura 9 - Verbos que indicam ações

Fonte: Pixabay

Vejamos alguns exemplos de verbos nocionais: pensar; gostar;


querer; estudar; subir; dar; agradecer; perdoar; chorar; cozinhar; correr;
copiar; pintar; colorir; lavar; desenhar; cortar; quebrar; olhar; escutar;
mexer; fotografar e muitos outros.

IMPORTANTE:

Como já estudamos, é possível encontrarmos orações


que se apresentam sem sujeito, no entanto não é possível
ter uma oração sem predicado. Da mesma forma cabe
relembrarmos que uma frase é considerada oracional
quando apresentar um verbo. Caso não apresente um
verbo em sua estrutura, teremos uma frase, que não pode
ser considerada como oração.

Uma frase pode ser definida por sua intenção ou por seu propósito
comunicativo. Isso significa que frase é todo enunciado capaz de
transmitir, de traduzir sentidos completos em determinados contextos de
comunicação, de interação verbal.
40 Morfologia do Português

Vamos retomar os tipos de frases, as quais são identificadas de


acordo com a intenção em que são empregadas, a fim de facilitarmos sua
compreensão. Os tipos de frases são cinco: exclamativas, declarativas,
imperativas, interrogativas e optativas. A intencionalidade do discurso é
manifestada por meio dos diferentes tipos de frases. Para tanto, os sinais
de pontuação que as acompanham auxiliam para expressar o sentido de
cada uma delas.

•• Frases declarativas: dividem-se em afirmativas e negativas

Negativas

Exemplo: O final de semana não foi muito agradável.

Afirmativas

Exemplo: Hoje será um belo dia.

•• Interrogativas

Exemplo: Você não irá comigo à festa?

•• Exclamativas

Exemplo: Como a menina é estudiosa!

•• Imperativas

Exemplo: Vá já ao supermercado e traga-me a encomenda.

•• Optativas (usadas para exprimir um desejo)

Exemplo: Deus te acompanhe!

Percebe-se que em todos os exemplos temos frases oracionais,


pois todo o discurso está organizado em torno de um verbo. Contudo,
Morfologia do Português 41

temos casos em que as frases exprimem informações completas, mas


não apresentam verbos em sua estrutura.

Exemplo:

Bom dia!

Socorro!

Olá!

Bons sonhos!

A oração é considerada uma unidade sintática. Compreende um


enunciado linguístico cuja estrutura caracteriza-se obrigatoriamente pela
presença de um verbo. Como já ressaltamos, a oração se caracteriza
sintaticamente pela presença de um predicado, o qual apresenta
informações do sujeito e, portanto, deve conter um verbo. A oração
apresenta um sujeito, entre outros elementos conhecidos como termos
essenciais, integrantes ou acessórios.

O período também é considerado como uma unidade sintática.


Trata-se de um enunciado construído por uma ou mais orações e possui
sentido completo. Na fala, o início e o final do período são marcados pela
entonação, e na escrita são marcados pela letra maiúscula inicial e a
pontuação final específica que delimita sua extensão. Os períodos podem
ser simples ou compostos: simples quando apresentarem apenas um
verbo em sua estrutura, e compostos quando apresentarem dois ou mais
verbos em sua composição.

Exemplo: João foi ao mercado, comprou ovos, pagou a conta e foi


para casa.

No exemplo acima, temos um período composto por quatro


orações. Cada um dos verbos utilizados – “foi”, “comprou”, “pagou” e “foi” –
demarca as orações que o formam.

Visto isso, podemos seguir com a análise dos verbos nocionais, que
por sua vez são classificados de acordo com a sua transitividade verbal
em:
42 Morfologia do Português

•• Intransitivos,

•• Transitivos diretos,

•• Transitivos indiretos

•• Bitransitivos (transitivo direto e indireto ao mesmo tempo).

A seguir veremos o que os diferem.

Verbos intransitivos
Conforme CEGALLA (2009, p. 336), os verbos intransitivos “São os
que não precisam de complemento, pois têm sentido completo quando
expressos nas orações.

Exemplos:

"Três contos bastavam, insistiu ele." (Machado de Assis)

"Os guerreiros tabajaras dormem." (José de Alencar)

"A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia." (Marquês


de Maricá)

"As sovas de meu pai doíam por muito tempo." (Machado de Assis)

"Fui e parei diante dele." (Machado de Assis)

"O padre apareceu e logo o burburinho cessou." (Coelho Neto)

Como podemos notar, esses verbos por si só já trazem informações


completas, o que faz com que a oração e/ou o período sejam claros e
concisos ao interlocutor.

Verbos transitivos diretos


Os verbos transitivos diretos “são os que pedem um objeto direto,
isto é, um complemento sem preposição” (CEGALLA, 2009, p. 337), visto
que sozinhos não transmitem uma informação completa.
Morfologia do Português 43

Exemplos:

Comprei um terreno e construí a casa.

"Trabalho honesto produz riqueza honrada." (Marquês de Maricá)

"As poucas vezes que o visitei foi por motivo de doença dele." (Mário
de Alencar)

"Simão Bacamarte não o contrariou." (Machado de Assis)

Assim, o complemento verbal, isto é, o objeto direto, aparece ligado


diretamente ao verbo sem exigir uma preposição entre esses elementos.

Verbos transitivos indiretos


Os verbos transitivos indiretos são os que reclamam um
complemento regido de preposição, chamado objeto indireto. Da mesma
forma que os verbos transitivos diretos, sozinhos não são capazes de
passar uma informação clara e completa ao interlocutor.

Figura 10 - Estudo dos verbos

Fonte Pixabay
44 Morfologia do Português

Vejamos algumas orações que apresentam verbos transitivos


indiretos e, por consequência, objetos indiretos em sua estrutura.

“Ninguém perdoa ao quarentão que se apaixona por uma


adolescente.” (Ciro dos Anjos)

“Populares assistiam à cena aparentemente apáticos e neutros.”


(Érico Veríssimo)

“Nem nos sonhos cheguei a aspirar a tal emprego.” (Ciro dos Anjos)

“As coisas obedeciam ao seu tempo regular.” (Raquel de Queirós)

Na Unidade Letiva 2 estudamos as preposições. Essa classe


gramatical compreende algumas palavras que têm por objetivo ligar
elementos uns aos outros dentro das orações. Em alguns momentos as
preposições também se unem a outras palavras de classes gramaticais
diferentes, como os artigos. Vejamos os fenômenos causados nesses
casos:

•• Por combinação: ocorre quando a preposição, ao se unir a


outro vocábulo, não possui nenhum fonema omitido, mantendo
integralmente todos os seus sons.

Exemplos: Forma-se quando a preposição “a” se encontra com os


artigos “a”, “o”, “os” e “as”.

•• Por contração: ocorre quando a preposição, ao se unir a outro


vocábulo, sofre modificações fonéticas.

Exemplos: do, da, dos, das, num, numa, nuns, numas, disto, disso,
daquilo, naquele, naqueles, naquela, naquelas, pelo, pelos, pela, pelas.

As principais preposições da língua portuguesa são:

a; ante; após; até; com; contra; de; desde; em; entre; para; por;
perante; sem; sob; sobre; trás.
Morfologia do Português 45

Verbos transitivos diretos e indiretos


Esse tipo de verbos admite dois objetos, um direto e outro indireto,
concomitantemente, isto é, para que seu sentido seja completo, exige
dois complementos. Também são conhecidos pela nomenclatura verbos
bitransitivos.

Exemplos:

No inverno, Dona Cleia dava roupa aos pobres. (Quem doa doa algo
a alguém)

A empresa fornece comida aos trabalhadores. (Quem fornece


fornece algo a alguém)

Oferecemos flores à noiva. (Quem oferece oferece algo a alguém)

Ceda o lugar aos mais velhos. (Quem cede cede algo a alguém)

Perdoa-lhe tudo. [=perdoa tudo a ele] (Quem perdoa perdoa alguém


de algo).

IMPORTANTE:

Em algumas situações, alguns desses verbos não


apresentam dois complementos, ou seja, um objeto direto
e um objeto indireto. Isso depende, portanto, do contexto
em que o verbo está sendo empregado.

Verbos de ligação
São aqueles que ligam ao sujeito uma palavra ou expressão chamada
predicativo do sujeito, o qual se apresenta como uma informação ou
característica do sujeito. Esses verbos entram na formação do predicado
nominal e indicam estado, mudança ou permanência de estado.
46 Morfologia do Português

Exemplos:

A Terra é redonda.

A água está fria.

O moço anda (=está) triste.

Mário encontra-se doente.

A lua parecia um disco.

Observe o Quadro 2.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar mais sobre a morfologia dos verbos da


língua portuguesa? Recomendamos a leitura do artigo “A
aquisição da morfologia de verbos regulares no português
brasileiro: uma abordagem da linguística cognitiva”,
disponível em: http://bit.ly/3auktXl. Acesso em: 20 jan.
2020. Bons estudos e ótima leitura!

Quadro 2 - Verbos de ligação

Principais verbos de ligação da língua portuguesa


Ser
Estar
Permanecer
Parecer
Tornar-se
Ficar
Continuar
Andar
Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Como mencionado a anteriormente, os verbos de ligação


apresentam diferentes circunstâncias devido ao contexto no qual são
empregados. Vejamos.
Morfologia do Português 47

•• Estado permanente – representado geralmente pelos verbos ser,


viver.

Figura 11 - Circunstâncias expressas pelos verbos de ligação

Fonte: Pixabay

Exemplos:

André é estudioso. (Ele possui sempre essa característica)

Ana Maria vive alegre. (Idem à prerrogativa anterior)

•• Estado transitório – verbos estar, andar, achar-se, encontrar-se.

Exemplo: Minha irmã encontra-se doente. (Constatamos que se


trata de algo momentâneo, mas que irá passar)

•• Estado mutatório – verbos ficar, virar, tornar-se, fazer-se.

Exemplo: Joana ficou bonita, sem ao menos percebermos.


(Literalmente identificamos uma mudança advinda do próprio sujeito)
48 Morfologia do Português

Figura 12 - Chegando ao final da Unidade letiva

Fonte: Pixabay

•• Estado de continuidade – verbos continuar, permanecer.

Exemplo: Sabrina continua eufórica. (Aqui notamos que se trata de


algo ininterrupto)

•• Estado aparente – verbo parecer.

Exemplo: Você parece preocupada. (Revela-se pela impressão que


temos do próprio sujeito)
Morfologia do Português 49

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o conteúdo de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Nesta competência
verificamos as características dos verbos no que se refere
à sua transitividade, por isso nosso estudo teve como foco
reconhecer aspectos sintáticos dos verbos. Os verbos,
de acordo com sua transitividade, são classificados em
verbos intransitivos, quando não necessitam de nenhum
complemento por terem sentido completo; transitivos
diretos, quando necessitam de um complemento sem
a presença de preposição; transitivos indiretos, quando
admitem um complemento regido por preposição;
bitransitivos, quando apresentam dois complementos, um
deles sem preposição e outro com preposição; e ainda,
verificamos as características dos verbos de ligação, que
denotam estado, mudança ou permanência de estado.
50 Morfologia do Português

REFERÊNCIAS
BEZERRA, R. Nova gramática da língua portuguesa para
concursos. São Paulo: Método, 2013.

CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48. ed.


São Paulo: IBEP, 2009.

CIPRO NETO, P.; INFANTE, U. Gramática da língua portuguesa. 3.


ed. São Paulo: Scipione, 2014.

CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português


contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

GRAMÁTICA TRADICIONAL. Morfologia. Disponível em: http://bit.


ly/379uMOs. Acesso em: 17 nov. 2019.

LIMA, R.; KENEDY, E. Linguística II. v. 1. Rio de Janeiro: Fundação


CECIERJ, 2013.

LÍNGUA PORTUGUESA II. Morfologia I. Disponível em: http://bit.


ly/2GjCyJT. Acesso em: 17 nov. 2019.

SOUZA, A. L. E. de. A aquisição da morfologia de verbos regulares no


português brasileiro: uma abordagem da linguística cognitiva. Disponível
em: http://bit.ly/3auktXl. Acesso em: 16 dez. 2019.
Morfologia do Português

Débora Luiza da Silva


Angela Francisca Mendez

Você também pode gostar