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ÉTICA E CIDADANIA

Ética e Cidadania
Ana Lúcia Guimarães

Aula 01

Fundamentos
de Ética e
Cidadania
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
ANA LÚCIA GUIMARÃES
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
Autor
ANA LÚCIA GUIMARÃES

Olá, meu nome é Ana Lúcia. Sou doutora em Ciências Humanas e pos-
suo mais de vinte anos de atuação como professora na Educação Superior.
Além disso, tenho doze anos de militância como dirigente sindical da causa
dos professores, o que me agrega conhecimentos e experiências para loca-
lizar-me como autora nesta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da
educação, laica, democrática e de qualidade é mais que um princípio em mi-
nha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Por isso
fui convidada pela Editora TELESAPIENS a integrar seu elenco de autores
independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito
estudo e trabalho. Conte comigo!
Iconográficos
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto
gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de apren-
dizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado sobre o tema em
ou detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
Sumário
1. Fundamentos de Ética e Cidadania............................................................................ 8
1.1. Conceitos, Objetivos e Princípios da Ética e da Moral.................................8
1.2. Conceito de Cidadania..........................................................................................................12
1.3. A Ética Social e a Política.....................................................................................................18
1.4. A Ética e a Moral na Contemporaneidade...........................................................22
Viúva de banqueiro tem sala em sua homenagem
no Museo do Louvre..................................................................................................................24
Arrecadação à Catedral de Notre-Dame................................................................25
Introdução

Você sabia que estudar ética e cidadania possui uma importância sig-
nificativa nos tempos atuais? Isto porque os indivíduos estão cada vez mais
confusos em relação a construção de suas atitudes e pensamentos quanto
as rápidas e volumosas transformações de nossa sociedade.
Trata-se de entender como e de que forma devemos interagir com os
diferentes sujeitos sociais e seus diferentes pertencimentos culturais e po-
líticos. Enquanto a ética nos imprime uma ideia de valores e normas sociais
construídos historicamente de acordo com as diferentes demandas sociais
dos grupos que integram a sociedade, a ideia de cidadania nos remete ao
pertencimento a uma localidade e ao compartilhamento de valores e normas
sociais da mesma.
Portanto, tanto a questão da cidadania quanto a ideia da ética nos forne-
cem mapas referenciais para nossas ações e interações, com o objetivo de
identificar a qual conceito de moral estamos submetidos. Entendeu? Vamos
explorar mais este debate ao longo desta Unidade.
Trilha de Aprendizagem

Olá. Meu nome é Andréa César. Sou responsável pela direção editorial
deste livro didático e de todos os demais recursos relacionados com a sua
trilha de aprendizagem. Você está iniciando a Disciplona Ética e Cidadania,
e seja bem-vindo a nossa Unidade 1, e o nosso objetivo é auxiliar você para
o desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término
desta etapa de estudos:

1. Diferenciar os conceitos de ética e moral;

2. Identificar o conceito de cidadania;

3. Demonstrar o conceito de ética social e sua relação com a ética política;

4. Ilustrar a relação entre ética e moral em tempos contemporâneos.

Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
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1. Fundamentos de Ética e Cidadania


DEFINIÇÃO:
Diferenciar os conceitos de ética e moral.
Ao término deste capítulo você deverá estar dominando os
conceitos de ética e moral, sabendo diferenciá-los e identifi-
cando sua importância para a vida em sociedade.
Na atualidade, quando os indivíduos não sabem identificar
situações de caráter moral podem emitir julgamentos e agir
de forma que podem ser julgados negativamente pela ordem
social constituída.
Vamos lá?

1.1. Conceitos, Objetivos e Princípios


da Ética e da Moral
Iniciamos nossos estudos sobre ética e moral procurando entender a defi-
nição desses conceitos e a diferença entre eles.
Para Cortella (2009) a ética é o princípio orientador de nossa conduta em
sociedade, ela nos permite distinguir e definir nossas ações e pensamentos
em relação a diferentes experiências no mundo social. A ética está em nos-
so dia a dia. Em qualquer situação ou acontecimento vemos várias inferên-
cias dos moralistas a solicitar necessidade de afirmação ética. Realmente
há um desgaste em falar de ética em tempos atuais, mas ainda é muito
necessário entender o conceito e valorizar sua aplicação.
Pode-se ousar dizer que é impossível avançar no conceito de ética sem
abordar o conceito de valores. O que são valores então? Desde quando
nascemos somos ensinados sobre o que é certo e errado, a partir daí va-
mos direcionando nosso olhar e também disseminando valores impostos
pela sociedade. Se considerarmos que o valor moral é uma necessidade
para a sobrevivência em sociedade, estaremos começando a entender
mais sobre ética, moral e vida social, no sentido relacional – ou seja, de
interação de uns com os outros.
Por isso, Cortella (2009) afirma que a ética é compreendida no bojo dos
estudos da filosofia e tem relação com a construção da moralidade, pois a
partir dessa relação nasce a ideia de um “exercício de condutas.” Isto sig-
nificando, para o autor, que a partir da concepção ética espera-se de um
indivíduo que ele aja de uma forma previsível em uma determinada situ-
ação, pois entende-se que incorporou as regras morais para compor seu
comportamento social.
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Com esta definição podemos inferir que a ética é a vida pensada, isto é,
uma proposta de ação a partir do que a moral estabelece.
Nesse sentido, precisamos compreender que a ética está no centro da
construção de relações sociais harmônicas e benéficas para a preservação
do todo social, isso pois ela aponta a ideia de uma ação que leva em conta
o outro e que se fundamenta na forte presença dos valores morais.

DEFINIÇÃO:
ÉTICA: define-se como um modo de agir a partir de uma nor-
ma moral incorporada, refere-se à uma orientação de vida
que deve, supostamente, levar em consideração a preser-
vação positiva da vida em sociedade.

Ainda explorando o conceito de ética como parte da Filosofia, a qual fun-


damentalmente implica em entendimento do comportamento moral, veja-
mos de forma ágil como os clássicos filósofos consideravam este conceito.
Nos estudos de Chauí (2010) encontramos que, para os sofistas, a ética era
relativista pois em suas concepções não haviam normas universais de de-
finição para a vida social.
Sócrates, tanto quanto Kant, buscava o entendimento da ética a partir da
compreensão da alma humana, pois acreditava que nela residiria funda-
mentos da moral. Já nos ideais de Platão, vemos a separação entre corpo e
alma, para ele o corpo sujeito a paixões poderia desviar-se do bem, por isso
o homem só conseguiria desenvolver a ética para o bem comum na Pólis.
Ainda em Chauí (2010) vemos que, para os estóicos, a ética constituía uma
ideia de autocontrole que levava à uma aceitação da realidade, uma clara
noção de destino traçado sob a égide de uma razão universal, o que levava
à imperturbabilidade da alma. Por outro lado, os epicuristas ao falarem de
ética e imperturbabilidade da alma mostravam que esta era uma finalidade
da mesma.
Entretanto, estes adotavam quatro princípios para entendimento da ética: o
primeiro era que o homem não devia temer aos deuses; o segundo indicava
que o homem não devia temer a morte; o terceiro apontava que a felicida-
de era possível de ser alcançada; e finalmente, o quarto princípio dizia que
qualquer dor pode ser suportada.
Com estas ideias estes filósofos pretendiam afirmar que a ética enquan-
to bem fundamental é a defesa do prazer, não o prazer sexual, sobretudo
o prazer relacionado ao sentimento de amizade. Em Aristóteles veremos,
mais adiante, que a ética está relacionada a busca pela felicidade, que deve
ser encontrada no bem comum e na ação do homem na Pólis.
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1 - Figura: Conceito de Ética e Cidadania. | Fonte: Pixabay®

Falamos muito sobre o conceito de ética e não podemos deixar de nos


aprofundar sobre o conceito de moral. Portanto, o que é a moral? Podemos
inferir que a moral é um conjunto de regras, normas de uma sociedade ou
localidade, tornando-se relevante pela proporção do desrespeito das pes-
soas as leis. A moral funciona como um conjunto de condutas que devem
direcionar as diferentes formas de agir dos indivíduos.

DEFINIÇÃO:
MORAL - o conjunto de condutas e normas que os indi-
víduos costumam aceitar como válidas. Essas regras são
adquiridas na educação, através da cultura e das tradições
dos diferentes grupos sociais. Cada grupo tem suas regras
e concepções morais.

Para Chauí Kant (1921), que foi quem mais discutiu a ética formal, a moral do
comportamento reside na vontade e nos motivos do agente considerado.

IMPORTANTE:
É importante entender que aquilo que não é moral, pode ser:
IMORAL: tudo aquilo que se opõe a moral, por exemplo, o
questionamento da atuação dos políticos no Brasil.
AMORAL: um homem que se comporta de forma indepen-
dente dos juízos sobre o bem e o mal, ele não considera
qualquer parâmetro de moral para sua conduta.
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EXPLICANDO MELHOR:
A ética e a moral andam de mãos dadas, mas são essen-
cialmente conceitos diferentes. É preciso saber que a ética
é importante porque revela o respeito aos outros e a digni-
dade humana. Todos nós temos ética, só temos que desen-
volver e acreditar no bem, a ética orienta-nos e ajuda-nos
para que tenhamos uma vida boa.

Observe o quadro abaixo sobre as diferenças entre esses conceitos:

ÉTICA MORAL

Princípio teórico-reflexivo Regras de condutas específicas

Ética é temporal Moral é temporária

Ética é universal Moral é cultural

2 - Figura: Tabela: Ética e Moral: apontamentos diferentes. | Fonte: Autora, 2019.

Assim, a ética pode ser entendida como um parâmetro, a lei do que seja ato
moral, o controle de aplicação da moral. Ou seja, são os códigos de ética
que devem ser exercidos para os diferentes conjuntos de grupos dentro
do sistema social mais abrangente. Já a moral, por sua vez, de acordo com
Kant em Chauí (2010) “é tudo aquilo que precisa ser feito, independente-
mente das vantagens ou prejuízos que possa trazer”. Se praticarmos um ato
moral, podemos até sofrer consequências negativas, já que o que é moral
para uns pode ser amoral ou imoral para outros.

ÉTICA MORAL

Lida com o CERTO e o ERRADO Lida com o CERTO e o ERRADO

Modo social de agir: implica no consenso Modo pessoal de agir: é adquirida e


e na adesão da sociedade. formada ao longo da vida (experiências).

Norma e regras pessoais: é guiada pela Normas e regras pessoais: é guiada pela
cultura da sociedade. consciência.

Coletivo: se constrói a partir do


Individual: é o que fundamenta a ética.
consenso de várias morais.

3 - Figura: Tabela: Diferenças entre Ética e Moral. | Fonte: Editora TELESAPIENS.


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SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso ao
vídeo abaixo, o qual traz uma boa discussão sobre a diferença
entre ética e moral. Acesse no link: https://bit.ly/2Y86V1d

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu um pou-
co mais? Agora, só para termos certeza de que você real-
mente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos.
Você deve ter aprendido que ética e moral são conceitos
complementares, porém, diferentes em sua essência. Pro-
curamos marcar que ética é a reflexão e teoria da interna-
lização dos valores morais, que são específicos para cada
grupo ou sociedade. Cada grupo social possui suas normas
e orientações de conduta.
Ao escolhermos orientar nossa ação pensando na preserva-
ção positiva da interação social e no bem do outro, estamos
atuando de forma ética. Nem sempre, durante a história, a
ideia de ética foi pensada de forma ao conceito que hoje de-
vemos adotar.
A ética nos faz discernir entre certo e errado, mas com foco
na organização e preservação do social, da manutenção do
bem estar alheio.

1.2. Conceito de Cidadania


Pensar em um conceito de cidadania nos remete a um sentimento de per-
tencimento a um Estado, uma nação ou um Estado-nação. Devemos en-
tender que este conceito vem a ser um grande ponto de referência para
extrairmos a compreensão de direitos, obrigações e deveres de cada indi-
víduo mediante o todo social que, a partir de uma representação política,
pode direcionar ou não os interesses de um grupo de indivíduos em um
sistema político. Estes indivíduos podem, ou não, constituírem-se como ci-
dadãos. O que é ser cidadão? O que podemos entender sobre cidadania?
Para Carvalho (2002), o conceito de cidadania foi relacionado a um costu-
me de desdobrar a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. Nesse
olhar, segundo o autor, o cidadão pleno seria aquele que possuísse dos
três direitos. Mas ainda teríamos os cidadãos incompletos, cujos direitos se
resumiriam em alguns poucos, já aqueles que não tivessem direitos seriam
considerados não-cidadãos.
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Para ele, ao resumir o conceito de cidadania a posse e gozo de direitos


civis, políticos e sociais, também é preciso compreender o que significa
cada um desses direitos. Nesse sentido, de acordo com o autor, vemos que:
‰‰ Direito Civil: aquele que garante o ir e vir e também o agrupamento em
movimentos, como sindicatos, a realização de greve etc; possuir seus
próprios bens (propriedade privada); livre organização religiosa ou mes-
mo ideológica;
‰‰ Direito Político: realiza-se no ato de votar e ser votado, na participação
da vida política do país. O indivíduo pode ser candidato à representação
e também pode escolher quem quer que o represente;
‰‰ Direito Social: refere-se à ações governamentais e da sociedade civil
organizada em prover serviços ao cidadão, como: saúde, educação e
políticas sociais.

Política

SOCIAL CIVIL

DIREITOS E DEVERES

4 - Figura: Cidadania, e a relação com os Direitos. | Fonte: Wikimedia Commons.

Marshall (2002), ao desenvolver a discussão sobre o conceito de cidadania,


mostra que essa foi construída na Inglaterra antes da Revolução Industrial,
em contexto de necessidade de afirmação de direitos, uma vez que o reco-
nhecimento de direitos aos nobres, posteriormente aos burgueses e até à
classe trabalhadora, mostrou-se como uma tarefa primordial à organização
das relações de produção, que se consolidariam mais tarde na sociedade
Moderna.
Para o autor, a evolução da cidadania só se concretiza com a conquista de
direitos ao longo da história. A cidadania é pensada por ele considerando
aspectos civis, políticos e sociais.
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Então, se buscarmos a origem histórica do conceito, compreenderemos


que sua origem como palavra vem do latim “civitas”, que significa cidade.
Esta palavra, cidadania, era comumente utilizada no contexto da Roma an-
tiga para identificar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa
pessoa poderia usufruir.
Com esse histórico de debates e conceitos, vemos que a ideia de cidadania
não é algo estável, definido ou adquirido sem um entendimento de ação.
Com isso, destaca-se que não é a conquista de um direito que significa que
ele vá de fato ser efetivado. A cidadania é um exercício de saber e agir que
é preciso ser incluído e desejar participar da construção de novas relações
e consciências de efetivação de direitos.

SAIBA MAIS:
É muito comum acharmos que a ideia de cidadania pode
ser resolvida apenas com a efetivação de direitos para cada
indivíduo ou grupo social? Pois é, seria necessário destacar
que a cidadania envolve uma compreensão dos deveres de
cada um para com a sua cidade, estado ou localidade onde
habita. Ter deveres é assumir que há uma relação de troca
recíproca entre receber, obter ou conquistar direitos e prati-
car a realização de deveres. Exercitar o cumprimento de um
papel social que possui tarefas para continuamente fortale-
cer e ressignificar a vida social.

Direitos Civis Direitos Sociais Direitos Políticos Deveres


garantia de voto participar das
direto e secreto, eleições, escolhen-
direito à vida; educação;
com igual valor do e votando nos
para todos; seus candidatos;

direito a ser can- estar atento ao


direito à liberdade
saúde; didato a um cargo cumprimento das
de expressão;
nas eleições; leis do país;

pagar os impos-
liberdade de ir e vir; alimentação; _
tos devidos;

participar da es-
igualdade entre
trabalho; _ colha das políti-
homens e mulheres;
cas públicas;

proteção da intimida- respeitar os direitos


moradia; _
de e da vida privada; dos outros cidadãos;

liberdade para proteger o patri-


transporte; _
exercer sua profissão; mônio público;

proteger o meio
direito à propriedade; lazer; _
ambiente;
5 - Figura: Tabela: informações baseadas nos seguintes “dados”: https://bit.ly/2MKt9fb
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6 - Figura: Exemplo sobre Cidadania. | Fonte: Pixabay®

IMPORTANTE:
Com toda a discussão apresentada, é possível lembrar de
uma obra de Dimenstein (1994), “O Cidadão de Papel”, que
aborda o fato de que no Brasil a cidadania está no papel, mas
não existe de verdade.
Isso é perceptível uma vez que o autor destaca a violência
social e a juventude dos anos 90, a ausência de projetos de
educação, informação e a pobreza.
De lá pra cá muitas situações se atualizaram, mas de todo
modo esta obra nos faz refletir o quanto ainda temos por
conquistar com atitudes verdadeiramente de participação e
reclamação de nossos direitos.
Vale a pena conhecer mais esse debate.

DEFINIÇÃO:
CIDADANIA: refere-se a um conjunto de ações com caráter
de reivindicação que se volta para o interesse coletivo.
É em seu exercício que se aprimoram práticas de convivên-
cia melhores e tratam a qualidade de vida dos habitantes
da cidade.
É um conceito diretamente ligado a uma ideia de apren-
dizagem social, que busca a culminância do atendimento
de direitos e a compreensão de compromisso e deveres a
cumprir.
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SAIBA MAIS:
Saber que a possibilidades de debate para a compreensão
do conceito de cidadania e como podemos alcançá-lo é
um privilégio, vamos ler mais um pouco? Acesse este link:
https://bit.ly/2Yn8dR7

É muito importante entender também a relação entre o conceito de cidada-


nia e a educação. Pois com o processo educativo desenvolvem-se valores
e consciência da preocupação com o outro, além da questão da responsa-
bilidade para com a vida social.
Nesse sentido, no Brasil e na América Latina, a partir das décadas de 80
e 90, a discussão sobre cidadania, direitos humanos e democracia ganha
muito destaque, sobretudo nos exercícios da educação formal e informal.
Dessa forma, foram criados documentos formais para orientar a educação
para a formação da cidadania. Exemplos claros dessas iniciativas encon-
tram-se nos documentos listados abaixo:
‰‰ Constituição de 1988;
‰‰ Lei de Diretrizes e Bases-LDB - 1996;
‰‰ Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA 1990;
‰‰ Programa Nacional de Direitos Humanos 1996;
‰‰ Propostas de Políticas Educacionais.

É notável que existem sentimentos e valores educacionais que podem ser


desenvolvidos e aprendidos, na família ou na escola, na educação formal
ou informal, e que podem colaborar para o despertar da cidadania. São
eles: cooperação, perdão, respeito, sinceridade, diálogo, solidariedade,
combate à violência, bondade.
A princípio podem parecer valores presentes em nossa humanidade, mas
de fato o são, e quando bem trabalhados podem otimizar responsabilida-
des e aptidões para o fortalecimento de relações sociais pautadas na ga-
rantia recíproca de efetivação de direitos e deveres.

SAIBA MAIS:
Veja como a LDB 9394/96 direciona suas diretrizes para
uma educação voltada à formação de um sujeito cidadão
no link: https://bit.ly/2sH4L3R
Em seguida, assista ao vídeo sobre educação e formação
do cidadão no link: https://bit.ly/2Ya3LKc
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Sacristan (2000) infere que a distância entre os direitos no papel e a efetiva


cidadania só é possível quando os envolvidos tomam para si a atitude de
fomentar ideias práticas.
Almeida e Soares (2010) apontam que a ligação entre vida individual e co-
munitária só ocorre quando há um reconhecimento mútuo da relevância
recíproca entre os dois. Este, para os autores, é o verdadeiro sentido da
cidadania, sem exclusões sociais.
Sobre a relação cidadania e educação, Freire (2011) orienta que o homem
deve ser o sujeito da sua ação, criando e transformando o mundo. Em seu
olhar, a escola deve funcionar como um espaço que tende a oferecer ao
indivíduo exercício da cidadania e possibilidade de redefinição da realidade.

SAIBA MAIS:
Saiba mais sobre Cidadania no contexto escolar através do
seguinte link a seguir: https://bit.ly/2YccLP5

RESUMINDO:
E então? Como foi a experiência de aprendizagem com o
conceito de cidadania? Vamos resumir um pouquinho so-
bre o que vimos para que você realmente possa fixar mais
o estudo deste capítulo.
Você deve ter aprendido que é muito importante compre-
ender que cidadania é um conceito que articula nossos di-
reitos e deveres. Também, que o exercício da mesma torna
a coletividade ativa e integrada para uma harmonia social.
A cidadania destaca a liberdade e a convivência comuni-
tária muito mais do que qualquer questão de relações de
poder ou governo constituído.
Ser cidadão é participar de forma ativa da realidade social em
que se está inserido, protagonizando a busca de qualidade
de vida para seus membros, pela via da efetivação de direitos.
No entanto, não devemos esquecer que também possu-
ímos deveres com a nossa comunidade. Por fim, vimos o
importante papel que a educação ocupa na formação do
cidadão. Através da educação formal e informal é possível
transmitir os valores da formação à cidadania, oferecendo
liberdade e autonomia para os indivíduos atuarem na so-
ciedade de forma digna.
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1.3. A Ética Social e a Política


Iniciamos nossos estudos sobre a ética e a política considerando o pen-
samento de Arendt (2003) que nos mostra que política é ação e, portanto,
nenhuma questão política pode, segundo ela, estar submetida a subjeti-
vidade. Na visão desta autora, o entendimento da ideia de práxis é a mola
mestra para a compreensão de seu conceito de ética, que muito está rela-
cionado com o que já vimos aqui. Para ela, ética envolve-se com o cuidado
com o mundo, com o espaço das relações humanas e também com o local
que permite a vida e a singularidade humana.
Arendt (2003) preocupa-se não com a subjetividade do homem, mas sim
com os homens em pluralidade. Assim, percebemos que o conceito de éti-
ca social está direcionado para este olhar. Arendt (2003) nos aponta que as
atividades humanas são o resultado da produção desenvolvida no mundo
da vida ativa, é no mundo (na práxis) que o homem transita e desenvolve
atividades que ele condiciona sua existência. O cuidado com o mundo é,
por conseguinte, o cuidado com a singularidade humana, para a autora.
Permanecendo neste raciocínio, colabora para que nosso conhecimento
sobre a questão política, pois ela define que a política não deve se subme-
ter as questões morais. Ela se contrapõe ao pensamento de Maquiavel ao
afirmar que a política não deve ser guiada para atingir meios e fins. Como
sabemos,
Maquiavel, clássico da política, aponta que os fins justificam os meios. Já
Arendt (2003) acredita que se a praticidade é o agir, então a forma instru-
mentalizada que o autor traz de calcular formas para atingir objetivos em
política acabam por se configuram em pré-ação e teoria para controlar a
ação. Segundo ela, a política não deve seguir qualquer natureza ou espírito,
mas sim ter o compromisso com o “espírito correto”, algo que se define em
si mesmo, sem qualquer teleologia ou previsibilidade. A ação política infor-
ma a distinção articular de cada homem.
Ainda seguindo seu pensamento, a ética é a pluralidade humana constituti-
va do mundo, o que faz a ideia de uma ética social ser mais forte e presente
para que as relações humanas se processem de forma operativa. Visto des-
sa forma, Arendt (2003) mostra que a ética varia de acordo com o espaço
político. O agir é livre de qualquer determinação.
A discussão que trouxemos até aqui serve para evidenciar que a experi-
ência coletiva das pessoas e sua respectiva construção cultural têm em si
mesmas um valor significativo para a compreensão do conceito de ética
social. Isso pois ao abordarmos tal conceito estamos na verdade, no campo
de pensar o que pode ou não ser aceitável socialmente, isso se deve ao
próprio princípio que o conceito traz consigo: a ideia de que os membros de
uma comunidade precisam de cuidados de forma homogênea.
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DEFINIÇÃO:
ÉTICA SOCIAL: conjunto de regras e diretrizes que balizam
escolhas e comportamentos de uma sociedade que resol-
veu adotar aqueles padrões de conduta. Ela funciona como
um roteiro, um código de conduta.
Não há necessidade de dizer o que se deve ou não seguir,
apenas fundamentalmente seguir.

A Ética Social apresenta princípios que precisamos conhecer: a dignidade


da pessoa, o direito de propriedade, a primazia do trabalho, a primazia do
bem comum, a solidariedade e subsidiariedade.
Sá (2010) desenvolve a ideia de que existem hábitos dignos de louvor, isto é,
existe uma conduta virtuosa padrão que serve de referência quando pen-
samos no respeito a todos os seres humanos.
O autor busca em Aristóteles a lógica da virtude. Para ele, se um homem
adota uma conduta virtuosa em um local onde não há a prática comum
desta conduta, então este seria um homem virtuoso.
Em Aristóteles (1997) vemos também uma iniciativa em considerar que o
verdadeiro sentido da ética é voltar-se para a comunidade na amplitude da
mesma e no exercício da cidadania, objetivando a formação e organização
da consciência política humana. Para ele, “o homem é um animal político”.
Dessa forma, é possível traçar imediatamente uma relação entre a ética
social e a política.

7 - Figura: A Obra de Aristóteles. | Fonte: Pixabay®


Ética e Cidadania | 20

a ética social e a política. A política é o campo da busca do bem comum,


conforme Aristóteles demarca em seus estudos. Nesse sentido vale a ideia
de que ética e política devem caminhar lado a lado, uma vez que ambos os
conceitos apresentam um viés corporativo, aquele que conduz ao bem-es-
tar da comunidade, do coletivo, do social.
Dissecando sobre a palavra política, observamos que ela é originária do
grego pólis (politikós) e seu significado diz respeito ao urbano, ao civil, ao
que é da cidade (da pólis).
Weffort (1987) mostra que os clássicos da política podem nos guiar mui-
to mais sobre o conceito de política que consideramos fundamental para
sustentar a relação ética e política, já iniciada acima. Segundo o autor, para
Thomas Hobbes a humanidade vivia em estado de anarquia e ao criar a
sociedade, através do pacto social, criou conjuntamente a chamada so-
ciedade política. Segundo ele, os homens mediante seu estado de guerra
abriram mão de suas decisões e escolhas mais individuais para constituí-
rem o estado, soberano, que não permitiria a volta ao estado de natureza.
Tal movimento fez com que a representação política desses homens fosse
delegada ao soberano, que deveria garantir o grupo ao exercer seu poder
em favor do bem comum.
O autor também revela que em John Locke vemos que o estado de natu-
reza não teria significado caos, mas ordem e razão. Segundo ele, o Estado
surgiu para assegurar a lei natural, bem como para manter a harmonia entre
os homens. Locke não destaca que houve uma cessão dos direitos naturais
ao Estado, pelo contrário, acredita que a soberania é um valor e que deve
ser exercido pela maioria, assim como o respeito aos direitos à vida, à liber-
dade, à propriedade.
Weffort (1987) apresenta, ainda, a teoria de Jean Jacques Rousseau, que
parte do princípio de que houve um estado de natureza que não se cons-
tituía no caos de Hobbes e nem no mundo ordeiro e racional, como asse-
gurava John Locke. Os homens viviam em caráter de desigualdades, mas
eram livres e felizes.
A sociedade política surge, então, como um mal necessário para manter a
ordem e evitar o retorno das desigualdades.
Assim, na criação do Estado a partir do contrato social, o indivíduo cedeu
parte de seus direitos naturais para a criação de uma entidade detentora
de uma vontade geral, portanto, a soberania do Estado é a incorporação da
vontade geral de todos.
Os Clássicos da Política, John Locke, Thomas Hobbes e Jean Jacques Rou-
sseau integram os teóricos que discutem a criação do Estado a partir de um
pacto social, fomentado pelos homens. Para saber mais sobre tais teorias, leia:
WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. São Paulo: Editora ÁTICA, 1989.
Ética e Cidadania | 21

A questão é que todos esses pensadores falam de política como um lugar


de representação de todos e essa possibilidade de ação está diretamente
vinculada à concepção de ética social. Isso pois, quando se analisa a cria-
ção do contrato social, a organização da sociedade política e a soberania
da vontade geral, deve-se considerar o princípio de comando político com
referência da orientação ética, do governar para o outro.
Semelhante a como pensamos, a questão da ética social nas empresas na
atualidade, vemos que na sociedade empresarial existem comportamentos
de valorização e dimensionamento da preservação ambiental. Ideias e pro-
jetos ecológicos que, inclusive, fundem-se com perspectivas de responsa-
bilidade social, muitos líderes corporativos precisam, por normas éticas, doar
uma porcentagem dos lucros anuais para instituições de caridade.
Essa pode ser uma ação que está diretamente vinculada com a real neces-
sidade de ajuste para condutas que são aceitas, valorizadas e instituídas
socialmente.
Temos muitos padrões que fortalecem a ética social e que incluem-se nos
valores familiares, nas crenças religiosas, na moralidade e na integridade.

ECONOMIA IMIGRAÇÃO

POBREZA FOME

CLONAGEM HUMANA

8 - Figura: Problema para a Ética Social. | Fonte: Autora, 2019

Os desafios para a ética social, aliada a representação política, são desafios


do mundo atual. Com base neles, é preciso rever práticas e condutas de
gestão de comunidades, recursos e da própria concepção de coletividade
e bem comum.

SAIBA MAIS:
Para saber mais assista os vídeos a seguir:
‰‰ Provocações Sobre Ética, com Leandro Karnal, no link:
https://bit.ly/2YpOIHm
‰‰ Ética e Política, no link: https://bit.ly/2Ol4aoA
Ética e Cidadania | 22

SAIBA MAIS:
Entendeu um pouco da relação entre ética social e política?
Neste capítulo procuramos demonstrar como os concei-
tos de ética social e política devem estar associados para
a prática do bem comum. Pois reforçamos que a ética con-
siste em uma regra usada para focar na construção do rela-
cionamento com os outros.
O sentido e conceito de ética social foi desenvolvido como
um verdadeiro código de conduta que é aceito e praticado
pelos membros de um grupo social.
Falamos dos clássicos da política, Hobbes, Locke, Rousse-
au com o intuito de mostrar que em meio ao caos social os
homens criam a ordem, delegam sua concepção de repre-
sentação ao estado, acreditando que este pode gerir suas
vontades comuns.
Cada uma com sua teoria, mas no bojo conceitual, o princi-
pal é entender que a política deveria conduzir a sociedade
pela lente da ética, já que em sua originalidade conceitual,
elas podem voltar-se para o bem comum.

1.4. A Ética e a Moral na Contemporaneidade


Chegamos até uma reflexão que será muito importante para o olhar sobre di-
ferentes situações nos tempos atuais que vivemos. Devemos abordar a relação
ética e moral na sociedade contemporânea para que possamos entender mais
sobre diferentes posicionamentos em diferentes culturas e grupos sociais.
Vimos no tópico anterior que existem desafios impostos a nossa análise da
ética social, vinculada à política, mas a partir de agora precisamos pensar na
generalidade da concepção de ética e moral já aprendidas para o entendi-
mento de tais desafios.
Vamos iniciar escolhendo um dos grandes desafios da humanidade, cuja a
dimensão nos entristece: a fome mundial. A fome é uma questão social. Mas
observe que podemos eleger a relação que os países de primeiro mundo
tem em relação ao trato da questão. Você poderá entender melhor acionan-
do os conceitos de ética e moral para pensar sobre as reportagens abaixo.
‰‰ PRIMEIRA REPORTAGEM
Fome extrema atinge mais de 113 milhões no mundo:
África é o continente mais afetado, influenciado por conflitos armados.
Deutsche Welle
02.abr.2019 (terça-feira) - 18h32
Atualizado: 03.abr.2019 (quarta-feira) - 7h12
Ética e Cidadania | 23

Mais de 113 milhões de pessoas em 53 países sofreram “insegurança alimen-


tar aguda” em 2018, afirma um relatório global da ONU sobre a crise alimentar
divulgado nesta terça-feira (02/04).
O relatório apresentado pela União Europeia (UE), Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial
(PAM), entre outras organizações, destaca que o problema afeta principal-
mente o continente africano.
Os países que atravessaram as mais graves crises alimentares são: Iêmen,
República Democrática do Congo, Afeganistão, Etiópia, Síria, Sudão, Sudão
do Sul e o norte da Nigéria.
Dominique Burgeon, chefe de emergências da FAO, afirmou que os países
africanos são atingidos de forma “desproporcional” pela fome aguda, com
quase 72 milhões de pessoas afetadas. Segundo o documento, nos últimos
três anos, cerca de 50 países vivem dificuldades cada vez maiores para ali-
mentar a suas populações.
A principal causa da insegurança alimentar em todo mundo são as guerras.
Cerca de 74 milhões de pessoas, ou seja, dois terços da população que en-
frenta a fome aguda, estavam em 21 países ou territórios localizados em zo-
nas de conflito, assim como já havia ocorrido em 2017.
“Nesses países, até 80% das populações afetadas dependem da agricultura”,
afirmou Burgeon. “Estas pessoas precisam receber assistência humanitária de
emergência para poder se alimentar e condições para impulsionar a agricultura.”

Em 2018, o número total de pessoas que sofreram fome aguda apresentou


leve redução em comparação a 2017 (124 milhões). Isso pode ter ocorrido em
razão de alguns países estarem menos expostos a riscos climáticos violen-
tos, como secas, inundações ou chuvas.
“Este recuo no valor absoluto é um epifenômeno”, minimizou Burgeon. A re-
dução ocorreu “devido à ausência do fenômeno climático ‘El Nino’, que
afetou muito as culturas na África Austral e no Sudeste Asiático em 2017”.
“Por causa dos violentos ciclones e tempestades em Moçambique e no Ma-
lawi este ano, já sabemos que esses países estarão no relatório do ano que
vem”, observou.
José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, avalia que, apesar da ligeira
queda em 2018 no número de pessoas com insegurança alimentar aguda,
a forma mais extrema de fome, “o número ainda é alto demais”.
Ele diz que é preciso investimentos de grande porte para o desenvolvi-
mento, ajuda humanitária e na construção da paz “para a construção da
resiliência das populações afetadas e pessoas vulneráveis”, acrescentando
que “para salvar vidas, também temos que salvar os meios de subsistência”.
Ética e Cidadania | 24

O diretor-executivo do PAM, David Beasley, observou que para erradicar a


fome é necessário atacar suas causas fundamentais. “Conflitos, instabilida-
de, impacto dos choques climáticos. Rapazes e moças precisam ser bem
nutridos e educados, as mulheres precisam ser verdadeiramente fortale-
cidas, a infraestrutura rural deve ser fortalecida para conseguirmos esse
objetivo de fome zero”, destacou.
O relatório pede o fortalecimento da cooperação entre a prevenção, pre-
paração e reação no atendimento às necessidades humanitárias urgentes
e às causas profundas, que incluem as mudanças climáticas, choques eco-
nômicos, conflitos e deslocamentos.

‰‰ SEGUNDA REPORTAGEM
Saiba quem é a brasileira que doou R$ 88 milhões à Notre-Dame.
Jornal Correio
17.abr.2019 (quarta-feira) - 23h07
Fonte: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/
saiba-quem-e-a-brasileira-que-doou-r-88-milhoes-a-
-notre-dame/. Acesso em 25 de abril de 2019.

Viúva de banqueiro tem sala em sua homenagem no


Museo do Louvre
Uma brasileira está entre os bilionários que doaram grandes somas para a
reconstrução da Catedral de Notre-Dame, de Paris, atingida por um grande
incêndio na segunda-feira (15). Lily Safra, 81 anos, viúva do banqueiro Edmond
Safra, enviou para a campanha de reconstrução um cheque de 20 milhões
de euros - cerca de R$ 88 milhões. Segundo o Glamurama, ela tem fortuna
estimada em 1,3 bilhão de dólares (R$ 5,1 bilhões).
A bilionária atualmente se divide entre casas que tem na Europa - vive entre
Mônaco, Londres, Nova York e a própria Paris. Ela já recebeu uma Légion
d’Honneur, uma medalha de honra dada para pessoas que contribuíram
com a França. Uma sala no Museu do Louvre, a Galeria Edmond et Lily
Safre, é batizada em homenagem a ela e ao falecido marido. O ambiente é
todo decorado com mobiliário do século 18 doado pelo casal.
Um livro da jornalista canadense Isabel Vincent chama a bilionária de “Lily
Dourada”, nome da biografia. A escritora, que era na ocasião repórter do New
York Post, passou cerca de um ano no Brasil entrevistando pessoas sobre o
casal. A publicação traz detalhes sobre o suicídio do segundo marido de Lily,
o empresário Alfredo Monteverde. No almoço antes da morte, Lily e o mari-
do discutiram detalhes do divórcio. Quando ela saiu, ele tirou a própria vida.
O pai de Lily era um inglês do ramo de ferrovias que chegou ao Brasil no
início do século XX. Ela nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul.
Ética e Cidadania | 25

Seu primeiro marido, o argentino Mario Cohen, era um milionário fabricante


de meias de náilon. O casal viveu no Brasil, Argentina e Uruguai e teve três
filhos - o mais novo, Claudio, morreu em 1986 em um acidente de carro. A
relação com Monteverde veio depois - ela se divorciou para ir morar no Rio
com a nova paixão, que era empresário e foi fundador da rede Ponto Frio.
Monteverde tirou a própria vida em 1969. Eles tiveram dois filhos.
Depois, Lily se mudou para o Reino Unido, onde morou por 10 anos. Ela
chegou a casar em 1972 com um inglês, mas o casamento foi posterior-
mente anulado. Então conheceu Safra, na época o brasileiro mais rico do
mundo. Os dois se aproximaram durante uma disputa em um leilão, segun-
do a revista Joyce Pascowitch. Edmond, já quarentão, ganhou e comprou a
escultura, mas presenteou Lily com a obra. Libanês naturalizado brasileiro,
era um homem muito discreto. Viveram muitos anos em Nova York, em uma
cobertura repleta de pinturas e esculturas - arte era uma paixão de ambos.
O casamento durou 23 anos, até que em 1999 Safra morreu. Em Môna-
co, onde passavam temporadas, Edmond Safra foi vítima de um incêndio.
Seu corpo foi achado na banheira de uma suíte, próximo ao de sua enfer-
meira. O julgamento sobre o caso considerou culpado pelo incêndio um
de seus enfermeiros, Ted Mahrer, que teria ateado fogo a uma lixeira para
salvar o patrão, como herói, depois. Trancado no banheiro por seis horas, o
empresário morreu asfixiado pela fumaça. Safra lutou nos últimos anos de
vida contra o Mal de Parkinson e tinha acompanhamento especializado em
casa. Em 1998, ao revelar que sofria a doença, ele fez doação de 50 milhões
de dólares a uma instituição de pesquisa sobre o tema.
Desde a morte do marido, Lily passou a se desfazer de parte dos bens e se
envolver mais com ações filantrópicas, com a Fundação Edmond J. Safra.
Em 2004, ela doou 10 milhões de dólares à Universidade Harvard e o mes-
mo valor para uma entidade criada pelo ator Michael J. Fox para pesquisar a
origem do Mal de Parkinson. Em 2005, colocou à venda 800 peças de sua
coleção particular de arte pela casa de leilão Sotheby’s. “Minha vida e meus
interesses mudaram, e já não tenho tempo nem escala nas casas para
apreciar a coleção como fazíamos antes. Tive então que tomar uma deci-
são difícil: é hora de transferir aos outros o prazer de possuir estes tesouros”.

Arrecadação à Catedral de Notre-Dame


A campanha para reformar Notre-Dame arrecadou até agora quase 1 bilhão
de euros, e entre os doadores famosos está François-Henri Pinault, marido
da atriz Salma Hayek, do grupo Kering, que afirmou que vai contribuir com
100 milhões de euros. O grupo LVMH, da bilionária família Arnault, também
doou € 200 milhões (R$ 860 milhões). A empresa francesa de cosméticos,
L’Oréal, dará € 200 milhões. O Grupo LVMH dará € 200 milhões e a família
Pinault dará € 100 milhões pela Petrolífera TOTAL.
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O presidente francês Emmanuel Macron disse que a França iria contar com
ajuda de “talentos” para reconstruir a torre mais alta da construção, que
ficou destruída. Ela afirmou que em 5 anos o local estará totalmente reno-
vado e “ainda mais bonito”....

Vejamos agora possíveis análises para a questão da fome...


Sob a ética do bem comum, quando comparamos as duas reportagens,
logo nos vêm uma ideia de que a bilionária que doou milhões para a re-
construção da Catedral de Notre Dame, na França, não está apresentando
uma preocupação ética em relação aos números da fome africana, apre-
sentada na segunda reportagem.
Esse tipo de reflexão, na verdade, é importantíssimo para nossa compreen-
são sobre ética e moral. Pois vemos que devido a bilionária ter tanto dinhei-
ro e pensar na reconstrução de um patrimônio histórico da humanidade, a
Catedral de Notre Dame, poderíamos compreender que para a sua moral
(a moral que a formou e a cultura da qual pertence) há um sentido maior
de nobreza em tal atitude. No entanto, podemos conceber como imoral a
atitude dela em relação a não se disponibilizar para doar qualquer dinhei-
ro para o combate à fome na África. Esta é só uma forma de debatermos
questões contemporâneas com o olhar da ética e da moral.
Semelhante à esta reflexão, vemos também a situação da violência que
invade as Escolas no mundo inteiro. Há diversos casos de jovens e adultos
que cometeram atentados sem qualquer melindre fazendo alunos e alunas
inocentes vítimas fatais de suas ações. De forma que nos colocamos per-
plexos, sem palavras, transtornados e tristes diante destas notícias.
Tal fenômeno suscita nossas reflexões sobre a moralidade do contexto
em que ocorre, sobre nossas crenças éticas e sobre se é possível explicar
tais atitudes por uma suposta situação de violência, que o assassino tenha
sofrido na infância ou uma situação de bullying, por exemplo. Isto serviria
para explicar que as Escolas precisam estar atentas na formação de seus
alunos, fortalecendo valores morais de bem comum, de promoção pessoal
de cada aluno.
O importante em todas essas ideias e reflexões é compreender a relativida-
de das situações, além da profundidade e contextualização dos conceitos
de ética e moral. Com isso, não estamos aqui a defender assassinos, indiví-
duos negligentes com a questão social, estamos mostrando que matar não
é ético, mas a qual moral pertence aquele que o pratica.
Dessa forma, consideramos que na atualidade, com as situações desafia-
doras trazidas pela era da globalização, a crise das representações políti-
cas, a recessão econômica, a individualização, a tendência ao xenofobismo,
o avanço das tecnologias digitais e os estudos das possibilidades de muta-
Ética e Cidadania | 27

ções genéticas, vemos a grande importância da educação para a formação


da moralidade nos indivíduos.
Bencostta (2007) afirma que as instituições educacionais são fundamentais
para o aprendizado de conhecimentos específicos na formação de indiví-
duos autônomos capazes de interagir com as diferentes situações que po-
dem vivenciar no mundo contemporâneo. Vázquez (2003) nos lembra bem
que a função social da moral deve ser a de regulamentação das relações
entre os homens para contribuir na manutenção e garantia da sociedade.
Também Leite (2014) relembra que a ética é uma prática diretamente rela-
cionada à ação humana.
Bencostta (2017) fala do trabalho de Svitras (2017) que reforça que a ativi-
dade em sala deve ser capaz de desenvolver habilidades e competências
que colaborem, definam soluções para dilemas sociais. É na escola que se
pode criar um ambiente ideal para prática e aprendizado da ética e a forma-
ção do caráter, é possível falar de respeito, justiça, solidariedade e moral.
O autor relaciona propostas de trabalho para que isso aconteça na Escola:
‰‰ Trabalhar Conceitualmente: definir o conceito de ética e promover o de-
bate criativo. Aceitar e mediar as opiniões das turmas;
‰‰ Construir uma atividade relacional - fornecer desafio para que os alunos
e alunas convivam com a diferença;
‰‰ Incentivar a Tomada de Decisões: Levar alunos e alunas a pensar nas
situações concretas e como seria decidir pelo certo ou errado naquela
situação. Como exemplo, desde contar uma mentira para sair mais cedo
da escola até mesmo pensar a corrupção na política;
‰‰ Jogar com Situações Limítrofes: apresentar situações em que o aluno é
levado a pensar como se um familiar ou amigo estivesse na situação de
risco, por exemplo;
‰‰ Criação de Regras com a Turma: essa situação leva a debates quanto
ao que os alunos querem para suas rotinas em termos de normas de
conduta e o que realmente fazem, uma reflexão de pensamento e ação.

RESUMINDO:
Neste tópico fomos capazes de revisar nossos conceitos
de ética e moral, você percebeu? Pensando sobre situa-
ções do contexto contemporâneo, vimos que a ética está
sempre ligada a nossa formação moral.
Ética e moral são conceitos que devem ser trabalhados
na educação formal, na escola. Não se pode prescindir de
considerar que na crise de valores os indivíduos deixem de
agir desconsiderando a moral e a ética vigentes.
Ética e Cidadania | 28

Consideações Finais
SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar nos temas desta aula? Recomenda-
mos o acesso a fontes de consulta e de aprofundamento
que serão passadas pelo seu professor.

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM:
Pronto para consolidar seus conhecimentos? Leia aten-
tamente o enunciado de sua atividade de autoaprendiza-
gem proposta para esta aula. Se você está fazendo o seu
curso presencialmente, é só abrir o seu caderno de ativi-
dades. Se você estiver cursando na modalidade de EAD
(Educação a Distância), acesse a sua trilha de aprendiza-
gem no seu ambiente virtual e realize a atividade de modo
online. Você pode desenvolver esta atividade sozinho ou
em parceria com seus colegas de turma. Dificuldades?
Poste suas dúvidas no fórum de discussões em seu am-
biente virtual de aprendizagem. Concluiu a sua atividade?
Submeta o resultado em uma postagem diretamente em
seu ambiente virtual de aprendizagem e boa sorte!

TESTANDO:
Chegou a hora de você provar que aprendeu tudo o que
foi abordado ao longo desta aula. Para isto, leia e resolva
atentamente as questões do seu caderno de atividades.
Se você estiver fazendo este curso a distância, acesse o
QUIZ (Banco de Questões) em seu ambiente virtual de
aprendizagem.
Ética e Cidadania | 29

REFERÊNCIAS:

‰‰ ALMEIDA, Claudia Maria; SOARES, Keila Cristina Dambinski.


Pedagogo Escolar: As Funções Supervisora e Orientadora. Curitiba: Ibpex, 2010;
‰‰ ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena P.
Filosofando: Introdução à;
‰‰ ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Editora Forense. Rio de Janeiro, 2003;
‰‰ ARISTÓTELES. Política. 3 Ed. Brasília: UnB, 1997;
‰‰ BENCOSTTA, M. L. (Org.) Culturas Escolares, Saberes e Práticas Educativas: Itinerá-
rios Históricos. São Paulo: Cortez, 2007;
‰‰ CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O Longo Caminho. 11ª Ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008;
‰‰ CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010;
‰‰ CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra? Inquietações, propositivas sobre gestão, lide-
rança e ética. Petrópolis: Vozes, 2009;
‰‰ FREIRE. Paulo. Educação e Mudança. 2. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011;
‰‰ MARSHALL, T. H. Cidadania e Classe Social (Ed. atual trad. e rev. por EaD/CEE/
MCT), 2. Ed. Brasília: Senado Federal, Centro de Estudos Estratégicos, Ministério da
Ciência e Tecnologia, 2002;
‰‰ SÁ, A. L. de. Ética Profissional. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 2010.
‰‰ SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3 Ed.
Porto Alegre: ArtMed, 2000;
‰‰ VÁZQUEZ Sanchez, Adolfo, Ética / Adolfo Sanchez Vázquez;
tradução de João Dell’ Anna. Ed. 24ª Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

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