NO LIMIAR DA INDUSTRIALIZAÇÃO CAP III - ESTADO E INDUSTRIALIZAÇÃO (1930-1937): Por
volta dos anos 20 o processo de produção brasileiro, acumulou capital exportador o suficiente para iniciar-se um processo de produção de meios de produção, no qual o capital industrial ganhou autonomia para arcar com o processo de industrialização. É nesse contexto que as chamadas "indústrias artificiais”, assim chamadas por não seguirem a lógica do capital exportador, surgem. A crise de 29 demonstra o desenvolvimento dessa questão. O modelo capitalista mercantil-exportador pressupunha a acumulação e exportação ao mesmo tempo. O sistema se desenvolveu com sua máxima potencialidade e colapsou quando posto de frente às contradições imanentes. A tendência em economias capitalistas tardias é a perpetuação deste momento, porém no brasil foi possível a superação deste modelo, o que será tratado adiante. 1. A Industrialização Restringida: A partir de 1933 o processo de recuperação econômica se inicia com a Industrialização Restringida. Tal sistema se dá por um descompasso entre o capital da produção de meio de produção e de bens de consumo, que acaba por impor limites externos à indústria, o que obriga o estado a intervir na regulação de preços e salários a fim de manter o equilíbrio. A abordagem que pretende-se fazer a fim de entender o movimento do desenvolvimento do capitalismo no Brasil tem como objetivo entender que fatores levam a industrialização a ficar em um meio termo entre a estagnação e a independência. Apesar da conjuntura de desenvolvimento no brasil apresentar no momento referido fatores positivos para o desenvolvimento do capital industrial, a falta de base material não permitiu o desenvolvimento pleno no momento em que a organização capitalista se virava para o monopolismo. Em tal contexto o estado, de caráter industrializante, se viu “travado” não só por dificuldades materiais internas mas pelo interesse burguês em manter o sistema mercantil-exportador.
2. Estado e Classes: a metamorfose: A crise entre 30 e 37 foi determinante para o
desenvolvimento do estado capitalista brasileiro. Tal crise se deu como um desdobramento dos eventos em 29, que fizeram com que o estado brasileiro estivesse em uma situação na qual não havia hegemonia na dominância do aparelho estatal. Em tal momento, esta hegemonia era disputada por diferentes oligarquias regionais ainda presas ao sistema de capitalismo mercantil-exportador. Nesse contexto a burocracia estatal agia com certa autonomia e tendendo a atender os interesses específicos de certas oligarquias que se revezavam na tentativa de controle da máquina estatal. A abertura que tal situação gerou culminou em um processo que, se em certa medida, buscava atender os interesses das oligarquias regionais, foi também responsável por colocá-las em denominadores comuns que mudaram a forma de reprodução de classes no cenário nacional, criando divisões de diferentes “grupos sociais” com diferentes interesses que agora os discutiam entre si, antecipando e estimulando a formação da ideia de classe nacional. Um exemplo desta distinção de classes que se torna visível é a diferença de interesses da classe burguesa industrial quanto ao estabelecimento do salário mínimo.Em diferentes partes do país diversa formas de organização industrial pensavam a questão do salário mínimo de forma diferente umas das outras, mas a classe dos industriais como um todo fora contrária ao estabelecimento da medida e mesmo assim o governo a determinou como medida reguladora. A “novidade” que tal sistema traz é a consolidação de um debate nacional de toda uma fração de classe fomentado por formulações mediadas pelo estado. Ainda a fim de explicitar o duplo nível de atuação do estado (atender aos interesses específicos, mas regular e criar um denominador comum para as frações de classe) Às medidas tomadas para lidar com a burguesia cafeeira se mostram exemplos frutíferos. Por um lado, o estado atende aos interesses de toda a classe ao tomar medidas de proteção econômica e da regulação do valor do produto, por outro às medidas beneficiam mais a camada da burguesia cafeeira financeira e não a agrária. Esta diferenciação de benefícios acaba por naturalmente gerar distanciamento entre os dois setores que começam a se reconhecer como diferentes uns dos outros e consolidar o processo de diferenciação de frações de classe. De forma análoga a forma como o governo lidou com a questão siderurgia é capaz de explicitar a consolidação deste novo modelo capitalista que estava se desenvolvendo no Brasil. Uma série de fatores eram desmotivadores para as frações da classe burguesa que poderiam investirem de forma considerável na siderurgia sendo assim, foi por intermédio do estado que com órgãos reguladores e o desenvolver da segunda grande guerra investiu na indústria de siderurgia, se permitindo empreender de forma independente.
3. Repercussão e Política Econômica: Durante os primeiros anos do governo de Vargas a crise do
café era um dos pontos centrais de preocupação econômica. Na ocasião lidava-se com um superávit de produção e um estoque gigantesco de café decorrente da recessão da década de 20. A fim de lidar com a situação, o estado começou, já em 1930, políticas que aos poucos aumentaram o controle do governo federal em relação a compra e venda de café, buscando contornar a crise sem falir a máquina estatal no processo. O resultado veio em 1933, quando após uma série de medidas, às quais beneficiaram principalmente os bancos que haviam financiado produções das lavouras, o governo assumiu quase que por completo o controle da economia cafeeira. Ao longo deste processo o governo se via em um impasse, um “beco sem saída", no qual qualquer rota tomada resultaria em um desastre. Frente a tal situação a atuação escolhida foi um ”jogo de meios termos”, políticas direcionadas a contemplar parcialmente os diversos setores envolvidos na economia cafeeira ao mesmo tempo que contornava a possível repressão dos credores externos. Em resumo, o governo, em frente a tamanha crise, utilizou de uma estratégia e política monetária expansionista que atendia o interesse de todos os setores sem contemplar a nenhum integralmente. Foi apenas em 1932 que a recuperação começou a consolidar-se quando o governo aumentou os impostos de exportações e acelerou o processo de destruição de sacas a fim de regular o preço do produto. Tais estratégias somadas com políticas cada vez mais protecionistas, como o esforço para a valorização da moeda no mercado internacional foram capazes de reerguer aos poucos o mercado, mesmo que com certa insatisfação de alguns setores como a lavoura e sob déficit orçamental do governo federal. Em suma, a recuperação rápida em 1932 da economia brasileira se deu pela tomada de ações pelo estado por meio de políticas públicas que, por vez\es se mostram contraditórias e confusas a depender da abordagem dada, mas que como demonstrado ao longo do capítulo refletem a atuação contraditória de um estado lidando com uma situação de crise aberta de hegemonia.
4. Industrialização e Política Econômica: O crescimento percebido na produção industrial brasileira
entre 1933 e 1937 não é de difícil explicação. O mercado estava voltando a se fortalecer e as margens de capacidade ociosa enfrentadas durante os anos de crise estavam se preenchendo, retomando a lucratividade das empresas. Este fator, somado às mudanças de valores relativos gerados pela crise favoreceram o crescimento do setor de produção de bens leves. O crescimento constante da demanda e o apoio em bases de trabalho industrial do setor favoreceram sua manutenção e crescimento quase sustentado pelo próprio lucro gerado pela indústria. Em resumo, observa-se um novo modelo de acumulação de capital, no qual a maior taxa de acumulação de capital e empregos se encontra no setor de bens de produção. Dois fatores que influenciaram muito a industrialização galopante foi o excedente de capital resultado da recuperação econômica, bem como a abundância de mão de obra imigrante (nacionais e internacionais). Cabe dizer, também, que possivelmente o operariado naquele momento tinha um poder de negociação quase irrisório, o que favoreceu a formação do complexo industrial com altíssimo lucro. Um ponto em que, porém, que poderia ser gerador de dificuldades para este complexo industrial seria a dificuldade para importar. Tal dificuldade advém das modificações feitas ao longo dos anos da crise do café, a fim de proteger o mercado de afundar completamente internacionalmente que, porém, foi revertido com o passar dos anos, principalmente quando em 1935 assinou-se um acordo com os Estados Unidos da América. Em resumo, ficou provado que a política expansionista da década de 30 é a explicação para o processo de industrialização que parece paradoxal em primeiro momento, mas que em análise mais profunda se torna "coerentemente contraditório", no sentido de que a partir dos apontamentos do texto fica claro que a forma a partir da qual o governo interviu só fora possível por se encontrar em um cenário de crise aberta de hegemonia e nesse contexto estava sempre agindo em dois sentidos. No primeiro buscava atender mesmo que parcialmente os interesses de cada fração de classe e no segundo buscava criar um denominador comum para que os grupos sociais dentro da política pudessem discutir suas questões específicas em níveis nacionais e em comitês específicos mediados pelo governo federal. Como consequência dessa atuação do governo não só foi possível superar a crise da década de 30, decorrente da grande quebra em 1929, como também reformular o sistema capitalista brasileiro abrindo espaço para uma industrialização focada na produção de bens leves, que por mais que não tenha conseguido se desenvolver aos níveis dos países mais desenvolvidos, foi capaz de superar parcialmente o sistema mercantilista-exportador de acúmulo de capital.
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