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O Monstro Humano é uma figura que tem sua existência por si só como uma infração das
leis humanas e naturais. O monstro é a mistura do impossível com o proibido, uma
transgressão "jurídico-biológica". O monstro despotencializa a lei que infringe e não tem
como intenção contradizê-la, ou seja, o monstro é uma infração fora da lei que não pode ser
respondida pela lei pois foi causada pela natureza, mas será por alguma forma de
sentimento como a violência ou a piedade. O monstro é a representação das falhas, dos
desvios, da natureza que são maximizados. O monstro é uma figura auto-referente, que tem
como caráter sua própria afirmação visto que não pode se referir a natureza. O monstro
humano no cotidiano, normalizado e desvendado, dá origem a duas figuras, o anormal e o
indivíduo a ser corrigido. O indivíduo a ser corrigido é um indivíduo que destoa daquilo que
lhe é naturalmente atribuído pelas estruturas de poder vigentes e que diferente do monstro
é bem comum. Por ser comum torna-se difícil de ser explicitado pois é regular em
irregularidade, mesmo que seja identificado é difícil prová-lo em seu caráter incorrigível,
está a uma distância perfeita para cair no vão do indizível. Nesse ponto traça-se uma
disputa entre o incorrigível e o corrigível. O ser incorrigível posto no sistema de correção é o
"anormal".
Por fim uma terceira figura sobra: a do masturbador, que consiste numa figura que tem
como contexto não mais às estruturas do poder natural (transgressão de leis) ou da esfera
social (família, igreja etc) o romper com a norma da criança masturbadora é com o próprio
corpo, com o quarto, com alguma figura unitária. O sujeito masturbador é universal e ao
mesmo tempo secreto, ninguém verbaliza, mas todos praticam o ato masturbatório. O ato
masturbador é ligado às patologias e visto como um tabu.
O Anormal formado no século XIX é um descendente desses 3 indivíduos, o monstro, o
incorrigível e o masturbador. O anormal é transgressor, incorrigível, reprimido e é secreto
apesar de universal.
Ao longo dos séculos anteriores ao XIX essas 3 categorias foram separadas e tiveram seus
níveis de importância variados dependendo da época. Sendo inicialmente o monstruoso o
mais importante, trataremos dele nesse momento.
Voltemos especificamente ao tema do monstro. O monstro é uma noção jurídica e se
caracteriza como uma mistura entre 2 elementos distintos, animal e humano por exemplo,
porém apenas ser uma mistura, um deforme, não é suficiente para que um ente seja
monstruoso. Além de causar a ruptura das leis naturais, o monstro rompe as leis do direito,
o deforme é previsto pelo direito, mas o monstro transgride e escapa do domínio do
julgamento por vezes colocando as normas da legislação em cheque.
AULA 29 DE JANEIRO