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ANÁLISE DE ATIVIDADE

NOME: BRENO XAVIER

A atividade a ser analisada neste trabalho tem como intuito estimular a diferenciação
de certas palavras que representam objetos diferentes, porém possuem grafia parecida. Por
exemplo, na quarta linha espera-se que o aluno escreva “anel” no espaço da esquerda e
“pastel” no espaço da direita. Entretanto, com base nos conteúdos apreendidos no caderno 2 -
capacidades de alfabetização torna-se visível que tal atividade apresenta uma série de
problemas que a tornam ineficiente, quando não nociva ao desenvolvimento da apropriação
da escrita por parte do estudante que a realiza. Primeiramente vê-se que na atividade um dos
pontos centrais para o despertar do esforço do aluno em aprender a linguagem escrita não é
trabalhado, a saber, o “para quê escrever”. Não há mérito algum para o estudante em
despender esforço na realização de tal atividade uma vez que ela se encontra completamente
descontextualizada, sem conexão com a realidade sensível do estudante e sem a inserção em
um texto que junto do processo de apropriação da escrita trabalha o processo da apropriação
da leitura e o letramento. Em segundo lugar tem-se a dimensão gráfica da atividade, às
imagens escolhidas para representar os objetos que se contrapõe não são claras a respeito de
quais objetos estão sendo apresentados. Como exemplo temos a segunda coluna da primeira
linha e da segunda linha. As imagens apresentadas nessas coordenadas referem-se
respectivamente a “piolho” e “linha”, entretanto só se pode tirar tal conclusão a partir do
contexto não verbal que se encontra na atividade e que só é perceptível uma vez que se tem o
domínio da linha. Em outras palavras, só sou capaz de dizer que a imagem da segunda coluna
da primeira linha refere-se a um piolho pois sei que a atividade busca contrapor palavras que
têm grafia parecida e a primeira figura da primeira linha refere-se a "olho". Não se deve
supor que um aluno que está iniciando o processo de apropriação da língua seja capaz de
fazer tal suposição com tanta naturalidade quanto nos que já estamos inseridos no contexto
da língua. Nada impede que o aluno que ainda não se apropriou completamente da língua
escrita e da leitura veja “inseto”, “besouro” ou até “formiga”, antes de enxergar “piolho” na
dita imagem.
Até então temos o fato de que atividade além de descontextualizada, portanto pouco
potente no que tange a capacidade de impactar o processo de alfabetização e letramento do
aluno, têm uma formulação gráfica que pode gerar confusão e desvirtuar a atividade do
projeto anteriormente proposto. Entretanto para além destes dois grandes problemas um
terceiro se apresenta, a escolha de palavras de classes variadas, sem relação umas com as
outras e de grafia semelhante para a realização de um exercício de tal ordem pode vir a causar
mais um embaralhamento na mente do aluno que um esclarecimento, uma vez que o uso
indiscriminado de diferentes grupos de palavras com grafia fluida (hora semelhante, hora
dissonante) pode dificultar o estudante no desenvolvimento de sua faculdade de discernir
grupos de palavras que referem-se a diferentes categorias de entes, como levantam Emília
Ferreiro e Giovana Cristina Zen em seu artigo "Desenvolvimento da Escrita em Crianças
Brasileiras” (2022).
Cabe, por fim, ressaltar que habilidades da BNCC pretende-se trabalhar por meio de
tal atividade. Pode-se reconhecer nesta atividade resquícios de habilidades como "conhecer
usos e funções sociais da escrita", “conhecer usos da escrita na cultura escolar", “desenvolver
capacidades específicas para escrever”, “reconhecer unidades fonológicas como sílabas
rimas, terminações de palavras etc”, “dominar regularidades ortográficas” e “escrever
segundo o princípio alfabético e as regras ortográficas”. Todas, entretanto, trabalhadas de
forma vaga e difusa. Na realidade é necessário um trabalho quase que de extrapolação para
identificar qualquer uma destas capacidades sendo tratadas na atividade. Ao buscar de forma
descontextualizada estimular a fixação da grafia de palavras sem manter foco central em
nenhum dos eixos de habilidades e sem trabalhar de forma integrada com o processo de
apropriação do texto a atividade quase não é capaz de impactar o processo de apropriação
linguística do estudante.
Se por um lado o estímulo é tão incipiente e as disciplinas trabalhadas de forma difusa
fazem com que atividade pareça não desenvolver realmente nenhum dos eixos, por outro ela
exige que o aluno já esteja em um nível de desenvolvimento de seu processo de alfabetização
onde ele seja capaz de, como dito anteriormente, supor que palavras são necessárias para
preencher corretamente por meio de uma intertextualidade entre verbal e não verbal, grafar
corretamente palavras com escritas parecidas sem confundi-las e ter domínio de um léxico
extenso. Em conclusão pode-se dizer que a atividade se encontra em um descompasso entre o
desafio apresentado e os conhecimentos necessários para solucioná-lo. Se aplicada em alunos
que possuem o conhecimento para solucioná-la, ela não apresentará desafios, entretanto se
aplicada a estudantes que vissem nela algum nível de dificuldade, muito provavelmente eles
não teriam a bagagem para resolvê-la e mesmo que a resolvessem corretamente, não seriam
impactados em seu processo de alfabetização por ela. Em resumo, a atividade apresentada
perde potência e não é capaz de cumprir seu itinerário por não integrar de forma funcional os
cinco eixos da escrita, dando foco ao que aparenta ser seu objetivo central (a apropriação do
sistema de escrita), mas sem negligenciar os outros eixos como suporte e construção
contínua.

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